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História Resplandecente (em correção) - Histórias do Passado - Parte I


Escrita por: LadyDaenerys

Capítulo 16 - Histórias do Passado - Parte I


As batalhas haviam se encerrado e Daenerys sentiu um enorme alívio ao ver-se fora da arena. O clima estava mais leve, sem gritos e violência, preenchido apenas pelas vozes da cidade. A luz do sol colidia-se contra a planície viva e ilustrava o horizonte rico com odores da terra. O entardecer era um alaranjado escuro, quase vermelho, e as nuvens que o pincelavam estavam coloridas por um tom rosa pastel.

Naquela tarde, o clima estava frio. Uma cortina opaca cobria o ambiente em companhia ao vento gélido. O sopro calmo agitava levemente a grama, que dançava como as ondas do mar. Era uma paisagem bonita aos olhos de Daenerys, uma imagem pouco desbotada, no entanto, esse detalhe não ocultava a beleza extraordinária da natureza dos deuses.

Não apenas a paisagem, mas a vida dentro dela era bela; as criancinhas correndo alegres pela calçada, enquanto brincavam umas com as outras, as mães que surgiam na porta de suas casas e gritavam preocupadas por seus filhos. Olhando de fora, aquele não parecia ser um lugar violento. As aparências enganam, Daenerys, a garota de tranças repetiu para si mesma, observando as inocentes crianças que se converteriam a cruéis guerreiros quando se tornassem adultos. Bárbaros impiedosos que gostavam de matar escravos por diversão. Desde quando isso era um passatempo? Aquilo era horrível aos olhos dela. Queria muito fazer algo para mudar isso. Mas o que faria? Era apenas uma camponesa, uma criança, ela mesma se via assim.

Os plebeus desmontavam as tendas por conta da noite que logo cairia. Próximo ao Mercado Ocidental, as moscas ainda rodeavam a carne pendurada dos peixes e das ovelhas que pareciam estar lá há bastante tempo. Os insetos pousavam sobre a superfície rosada da carne crua e zumbiam com as asas transparentes. Os comerciantes recolhiam seus pertences e atiravam o restante dos ossos para os cachorros de rua que viviam soltos perto das tendas, grunhindo com a esperança de ganhar comida. Os cães rosnavam selvagens entre si enquanto roíam os ossos das ovelhas.

– Acho que nós ainda não fomos apresentados – de repente, uma voz manifestou-se aos ouvidos de Dany. O tom sábio e cômodo que arrastou-se sobre ela deslocou a garota de seus pensamentos. Daenerys olhou a face do mago e sorriu. – Meu nome é Gandalf, o Cinzento – ele se apresentou, calmamente, enquanto caminhava ao lado da garota. Os olhos de Gandalf focavam o horizonte de calçadas e tendas, analizando. – Então você é a Daenerys que tanto ouvi falar.

– É, sou eu... – Infelizmente, ela completou internamente e sorriu fraco. O desânimo era claramente visível para o mago. – O que ouviu sobre mim?

Lentamente, ela desviou o olhar do horizonte e encarou Gandalf. Estava aparentemente curiosa. O que disseram sobre ela? Ninguém a conhecia, além da Irmandade, e se fossem palavras vindas deles, certamente não eram nada boas, afinal, Daenerys não deixava de ser uma estranha entre eles.

– Escuto coisas sobre o nome Targaryen.

Daenerys abriu a boca para responder, no entanto, a fechou seguidamente sem saber ao certo o que falar. As histórias ocultas de seu passado e família não era algo que ela gostava de lembrar-se. Por mais memórias que o passado tivera, Targaryen era apenas um nome e sem mais significado. Era o que seu irmão lhe dizia, o que Dany cresceu ouvindo e aprendendo.

– Não acho que tenha sido coisas boas, suponho – ela retorquiu, pensativa. – Meu irmão me dizia que nada do que falam sobre nós é verdade, e que as coisas sobre nosso passado são apenas histórias antigas que há muito tempo estão apagadas – Dany sentiu um nó no estômago ao lembrar-se de Viserys. – E que hoje essas histórias passam a ser mal contadas pela boca do povo.

Gandalf analisou-a de canto.

– Você sabe alguma coisa sobre essas histórias?

– Um pouco – ela engoliu a saliva. – Eu sei de coisas que meu irmão me dizia, outras bem poucas que minha mãe contava... Mas isso já faz tanto tempo!

Mesmo na luz do dia, a garota sentia a escuridão das lembranças que vagavam em sua mente. Uma sombra lhe cobria o coração, embora Daenerys não soubesse o que temia. Talvez fosse apenas o fantasma de Viserys, como se já não bastasse os pesadelos com ele. Todavia, havia um cantinho livre na mente de Dany que ainda lhe pertencia, e a luz entrou por ele, como através de uma fenda no escuro, uma luz que vinha do passado.

– A Casa Targaryen foi uma casa real e governante há três séculos atrás – o velho mago pronunciou-se, serenamente. – Devia ter orgulho dela.

Daenerys acabou por sorrir junto de Gandalf. Nunca havia pensado muito sobre aquilo, mas era bom para ela poder ouvir a voz agradável do mago lhe contando aquelas coisas, lhe trazendo recordações que tinham partido com vento, com árvores, com sol e a grama, coisas desse tipo que estavam esquecidas.

– Eu também ouvi falar muito do senhor, Gandalf. – Depois de segundos de silêncio, a menina voltou a pronunciar-se e sorriu sincera antes de completar: – Os hobbits me falavam. Eles parecem gostar muito de você.

O mago cinzento sorriu em resposta após ajeitar os dedos sobre o cajado de madeira.

– Mas é claro! Você tem que ver os fogos de artifício! – Intrometeu-se Pippin, adentrando animado na conversa.

– Fogos de artifício? – A menina questionou e sorriu diante da animação do Tûk. Daenerys já estava acostumada com essas intromissões inesperadas por parte do pequeno hobbit.

– Sim – ele respondeu. – Os foguetes coloridos que explodiam no céu noturno imitando o voo de pássaros cintilantes e cantando com vozes doces – o pequenino explicou com os olhos brilhantes, recordando-se dos fogos de artifício que Gandalf explodia aos céus do Condado em formas coloridas e brilhantes.

– E sem se esquecer das árvores verdes com troncos de fumaça escura – disse Frodo, aproximando-se dos amigos.

– Como eram as árvores? – Daenerys perguntou curiosa e observou o Bolseiro que caminhava calmamente ao seu lado.

– Brilhantes – Frodo riu e contou como se fosse óbvio. – As folhas se abriam como uma primavera inteira que florescia em um segundo, e seus ramos brilhantes derrubavam flores de luz sobre todo o Condado – o garoto explicou. – Você ia gostar de conhecer o Condado. Talvez quando tudo isso acabar, se você quiser, está convidada para as próximas festas do meu tio Bilbo – ele disse com a voz leve como uma pena pairando sobre um lençol, e sorriu sincero.

– São lindas as suas descrições, Frodo – a garota respondeu, imaginando as luzes dos fogos piscando sob o céu como estrelinhas ao horizonte. – Seria uma honra ir visitar o Condado e participar de uma dessas festas. Eu ia adorar! – Ela sorriu, completando.

– Você vai gostar de um dia conhecer o Bilbo – disse Merry. – E de ouvir histórias sobre suas aventuras.

– E conhecer a Rosinha Villa – completou Sam. – Nada é mais belo do que vê-la dançar... Com um vestido de linho florido e fitas coloridas no cabelo – o gordinho sorriu envergonhado, um sorriso tímido e afeiçoado. Daenerys logo compreendeu, era fofo ouvir Sam falar daquela forma tão apaixonado.

Os quatro hobbits aproximaram-se mais de Daenerys para contar a ela um pouco mais sobre como era o Condado e como eram os hobbits. Sobre as histórias de trolls que Bilbo contava para as criancinhas e sobre as festas de aniversário que ocorriam no Condado todos os anos. Os pequeninos de pés peludos pareciam felizes demais, pois quando contavam todas as suas histórias, era como se sentissem novamente uma parte do lar que tanto sentiam saudades.

– Eu conversei com Yron, um velho amigo, e ele nos ofereceu sua estalagem por hoje – disse Gandalf ao aproximar-se de Aragorn. – Como uma cortesia para retribuir os favores passados que ofereci a ele.

– Ótimo, então vamos pegar nossas coisas para podermos nos estalar ao aposento – respondeu Aragorn.

Com a chegada de Gandalf, Passolargo sentia que as coisas finalmente estavam parecendo dar certo para o grupo. Até mesmo as brigas diminuíram.

– É tudo o que eu mais quero – colocou-se Boromir. – Estou cansado dessas conversas de trolls e fogos de artifício — disse sério. A indireta soou visível para todos.

– Eles só estão conversando, Boromir – retrucou Gandalf com um sorriso. – Acha isso ruim?  

– Prefiro não responder – o homem rebateu e se fechou em seu próprio mundo, enquanto focava a sua atenção no caminho.

– Também prefiro assim – respondeu Gandalf.

O restante do caminho pelos quarteirões foi silencioso, pelo menos para Gandalf, Aragorn, Legolas, Boromir e Gimli. No grupo, apenas os hobbits e a garota interagiam.

O sol tinha finalmente se posto e o entardecer pálido e fresco morreu dentro da noite. A lua crescente foi a primeira a se estampar no alto, acompanhada por algumas estrelas que brilhavam sobre o tapete azul escuro que cobria o céu da Terra-Média.

A estalagem era grande, havia mesas vazias dentro dela e um balcão de madeira que ocultava barris de cervejas atrás dele. Ao lado esquerdo, uma pequena porta guiava para a cozinha, e ao lado dela, uma escada comprida estendia-se ao segundo andar da casa. No chão da recepção, um enorme tapete de pele de urso se ressaltava, era marrom e limpo. Tudo ao redor estava organizado e isso dava um ar acolhedor para a localidade.

– Boas-vindas! – Uma mulher de cabelo branco sorriu ao dizer. Eliza, a esposa de Yron.

Daenerys foi praticamente arrastada para cima e forçada a entrar em uma banheira – o que para ela, não foi nada relutante. As aias mandadas pela senhora Eliza esfregavam-na com tanta força, que Dany sentia como se elas estivessem esfolando as suas costas com um par de buchas ásperas. Todavia, a menina não reclamou. A banheira era grande, a água escaldante e reconfortante, o corpo de Daenerys agradeceu imensamente por isso.

Minutos depois, as mulheres a presentearam com novas roupas, pois o antigo vestido estava completamente desgastado. Era uma fina camisola de pano que dormiria naquela noite, simples e bonita. O tecido era leve como água, tomado pela cor rosa pastel, quase branco. As mangas finas cobriam os delicados ombros e nelas um pequeno detalhe prateado realçava-se. Enquanto aos cabelos, Daenerys optou por deixá-los soltos, os fios prateados caiam-lhe delicadamente pelas costas, mediano a altura de sua cintura.

Havia apenas um quarto, onde toda a Sociedade do Anel teria de dividi-lo. Era um cômodo bastante espaçoso. Havia fileiras de camas beliches e pequenas redes de rendas que se prendiam no teto, enquanto uma enorme lareira acesa envolvia-se colada sobre uma parede próxima a uma das janelas que se encontrava fechada. No chão, um enorme tapete felpudo se incluía, era vermelho escuro e cobria quase todo o quarto.

A senhora Eliza dissera ao Gandalf que ele e os companheiros podiam guardar os pertences e mochilas dentro do armário que também havia no quarto, as prateleiras de madeira eram grandes e espaçosas, e sobre elas tinham inúmeros travesseiros, mantas e cobertores.  

– Minha neta nunca gostou dessas arenas, ao contrário do meu sobrinho – dizia Eliza, enquanto ajudava Daenerys a arrumar os últimos detalhes do pequeno vestido cor-de-rosa. – A minha Carellen sempre foi uma ótima dançarina. E também adora cantar lindamente – a mulher sorriu, orgulhosa. – Gosta de cantar, filha?

– Não, senhora – a menina respondeu simplesmente, mantendo os olhos presos sobre as chamas da lareira.

– Em tempos como este nós temos que nos distrair com afazeres o melhor possível, afinal, somos mulheres e precisamos estar submissas à sociedade – contou Eliza. Daenerys desviou os olhos da lareira e olhou a mulher discretamente. Todo aquele discurso estava dando-lhe náuseas. – Pronto, agora está parecendo uma lady, como tem que ser. Vamos descer, todos estão nos esperando para jantar!

Eliza sorriu.

– Vamos.

O jantar estava sendo servido quando Daenerys apareceu ao salão, completamente limpa e trajada.

Frodo, Sam, Merry e Pippin olhavam os alimentos admirados, com água na boca, estavam tão famintos que não se importavam com nada. A refeição era simples, mas nutritiva; pães frescos, ovos, carne de carneiro, purê de batata e cogumelos cozidos. Os pequeninos enchiam a colher e comiam tudo rapidamente. Dany sorriu ao observá-los, ambos limpos e bem vestidos.

A garota sentou-se em uma cadeira próxima dos hobbits, de frente aos dois humanos, ao anão e ao elfo, enquanto Gandalf mantinha-se na cadeira lateral na ponta da mesa.

Daenerys mordeu o lábio ao olhar Legolas discretamente. A luz do lustre caia sobre o rosto pálido do arqueiro, iluminando os detalhes. Ele estava muito bem vestido com uma camisa de linho, os botões dourados brilhavam sobre o colete bordado e mesclavam com os cabelos loiros. Legolas a encarou e Dany abaixou o olhar rapidamente. O que estava pensando, afinal?

– Espero que estejam se sentindo confortáveis! Sei que nossa estalagem não é uma das melhores e é tudo bem simples, mas é de bom grado – disse o senhor Yron com um sorriso nos lábios, segurando a mão de uma jovem moça. – Eu acho que ainda não lhes apresentei a minha netinha, essa é a Carellen, nossa adotiva. Ela sempre foi nossa única família, já que eu e Eliza nunca pudemos ter filhos.

O senhor Yron contava sua história, enquanto a senhora Eliza servia o restante dos pratos com as mãos trêmulas. Certamente por conta da idade. Pobre senhora!

– É um prazer – respondeu Carellen, animada demais. Ela possuía cabelos marrons escuros como os de Frodo, e olhos castanhos levemente esverdeados, o oposto das características de Yron e Eliza.

O casal de velhinhos contava um pouco mais sobre o seu casamento, sobre a neta de consideração e sobre o sobrinho que era um bárbaro e lutador de arena. Eles sorriam animados, enquanto relatavam as histórias. Os dois eram bastante simpáticos e pareciam ser muito felizes, e terem muito orgulho da Carellen.

Daenerys se mantinha em silêncio enquanto os homens da Comitiva trocavam diálogos discretos. Pippin fazia uma brincadeira vez ou outra e conversava com Merry aos cochichos. A garota parecia distraída, levando uma colher de sopa de cogumelos em direção aos lábios, quando sentiu algo felpudo tocar-lhe os pés. Ela assustou-se ao ver Fantasma debaixo da mesa. Como ele tinha entrado lá Dany não soube dizer. A senhora Eliza havia permitido que o lobo dormisse no jardim, não que ele entrasse na estalagem.

O lobo albino olhava a dona com um olhar suplico, ele estava faminto e isso era visível. Ela sorriu pensativa por alguns segundos, e ignorando os diálogos ao redor, Daenerys passou discretamente uma fatia de carne por baixo da mesa, entregando-a ao Fantasma. Faminto, o lobo tomou o alimento com os dentes.

– Você não pode alimentar cachorros na mesa, mocinha! – A senhora Eliza repreendeu. As feições estavam irritadas, mas a voz calma. As palavras dela chamaram atenção de todos, fazendo-os olhar Dany e buscar compreender o que acontecia.

– Fantasma não é um cachorro, ele é um lobo – a menina corrigiu enquanto sentia a língua áspera do lobo passar levemente por seus dedos engordurados, lambendo-os.

Eliza fungou e entortou os lábios.

– Mesmo assim, ele não pode ficar no meu salão – a mulher voltou a dizer autoritária. – Fora! – Ela exclamou ao Fantasma.

Eliza aproximou-se da porta com passos velozes e agarrou uma vassoura em mãos antes de se aproximar da mesa, enxotando o lobo com vassouradas. Fantasma correu pelo cômodo em direção da saída, todavia, antes de passar pela porta, tomou com os dentes uma fatia de carne do pequeno prato de porcelana que estava descongelando sobre o balcão e fugiu com o alimento na boca, derrubando o prato sobre o chão.

Daenerys teria gargalhado, se não fosse pelo olhar de fúria que Eliza lhe lançou.

– Como esse monstro abominável entrou aqui?

A Targaryen ficou em silêncio, nem ela própria sabia como responder. A sua mente trabalhava rapidamente em encontrar uma resposta, contudo, o olhar dos homens da Sociedade a preocupava. A expressão deles não era nada agradável. Dany não queria deixá-los novamente irritados. Ela engoliu em seco, mas antes que pudesse proferir suas palavras, Aragorn foi mais rápido com as desculpas.

– Peço desculpas em nome de todos, senhora – ele pronunciou-se com o intuito de acalmá-la, no entanto, ao mesmo tempo, era notável que o homem parecia conter o riso. – Daenerys, você precisa controlar melhor esse animal.

A menina abaixou o olhar, evitando rir para não piorar a situação.

– Eu sei. Peço desculpas, senhora! – Disse ela, e Eliza pareceu finalmente acalmar-se, ouvindo-a com atenção. – Fantasma nunca foi desobediente, ele só fez isso porque estava com fome! – Explicou.

– Tudo bem, mas a mesa não é lugar para um animal. Aliás, eu já havia dado a ele comida de cachorro.

Mas ele não é um cachorro, Daenerys quis dizer, ele é um lobo.

(...)

As chamas da lareira ondulavam e crepitavam, corroendo a madeira de cedro. No lado externo da estalagem fazia frio, estava escuro. Sentada sobre o tapete felpudo do quarto, Daenerys observava os ovos de dragão petrificados que se mantinham dentro do baú pousado ao chão em frente da lareira. Ela tinha uma imensa curiosidade para com aqueles estranhos objetos. Como será que foram encontrados? Aquela era uma dúvida que apenas sor Jorah poderia lhe retirar, afinal, os ovos estavam no porão da casa dele.

Dany suspirou enquanto tomava um deles em mãos, o ovo negro, analisando novamente os lindos detalhes que esse possuía. A garota mordeu o lábio, nervosa, ao olhar para a fogueira. Uma ideia passou por sua mente como um feixe de luz no fim do túnel. Ela esticou o braço lentamente e colocou o ovo nas chamas em um rápido movimento. Daenerys o observava concentrada, enquanto as chamas pareciam aumentar para abraçá-lo. Por um momento, ela achou ver um fio de luminosidade vermelha estender-se, cobrindo a superfície do ovo de dragão. Por um instante, mil gotículas de chamas escarlates nadaram perante seus olhos. Pestanejou, e elas desapareceram.

Pedra, a menina murmurou para si mesma, são apenas pedras. Até sor Jorah dissera, todos os dragões estão mortos. Deixou escapar um suspiro e tomou o ovo negro das chamas, segurando-o em sua palma, com os dedos suavemente abertos pela curva da casca. A pedra estava quente. Isso não devia queimá-la? Mas não queimava. O calor não a queimava.

Daenerys guardou novamente o ovo, fechando o baú, e engoliu em seco ao fitar as próprias palmas, onde não havia nem um rastro de queimadura.

Não demorou nada para toda a Sociedade acomodar-se ao quarto. Gandalf fumava um cachimbo, ele estava sentado em sua cama ao canto da janela que se encontrava pouco aberta, e Gimli conversava com Aragorn, enquanto Legolas e Boromir se mantinham calados.

A senhora Eliza havia sido novamente gentil e deixou um bule de chá na mesinha do quarto, servindo algumas xícaras para os convidados antes de retornar de novo ao seu quarto para dormir.

Frodo encontrava-se sentado em uma das almofadas no tapete felpudo, se aquecendo próximo as chamas da lareira. O pequenino parecia triste. Daenerys o observava, preocupada, como se a garota pudesse sentir todo o medo que se acumulava no coração dele. Ter de vê-lo assim lhe doía profundamente.

– Posso me sentar ao seu lado? – A jovem perguntou ao aproximar-se.

– Daenerys. Mas é claro! – O hobbit sorriu, gentil como sempre, mas seu olhar refletia tristeza.

Frodo afastou-se um pouco para o lado, dando espaço para que Daenerys se sentasse ao seu lado sobre a enorme almofada de plumas.

– Como está o seu braço? – Perguntou Dany, referindo-se ao ferimento que o galho havia causado no braço do hobbit, o pequeno corte que ela havia enfeixado quando estavam perdidos na floresta.

– Bem melhor, obrigado.

– Você parece triste – murmurou, apreensiva. – O que houve? Há algo que eu possa fazer para te ajudar?

– Não estou triste, só preocupado... – O pequenino suspirou. Dany apenas o olhava esperando que ele prosseguisse. – Eu... Eu tenho tanto medo, Daenerys. É tão difícil ter tantas escolhas sobre as minhas costas, se eu fizer algo errado, a Terra-Média estará condenada. Eu tenho medo, tenho medo de vacilar.

Ele abaixou os olhos.

Daenerys sentiu uma dor em seu coração. Ela queria tanto poder ajudá-lo, mas como? Não podia dizer que tudo ficaria bem, porque estaria garantindo algo no qual não tinha certeza. Definitivamente, aquela jornada não era para ser feita por hobbits, mas às vezes, o destino tem planos diferentes.

O destino sempre estava presente, como se risse e jogasse as peças em um cruel jogo de tabuleiro.

– E não irá! – A garota assegurou firme, tentando dar forças a ele. – Você não está sozinho, meu amigo, eu estou com você – ela segurou a mão de Frodo, fazendo-o olhá-la. – Todos aqui dariam a vida para protegê-lo. E eu... Eu confio em você.

Frodo sorriu perante as últimas palavras que ela dissera. Daenerys sentiu-se aliviada, ele parecia um pouquinho mais animado agora.

– Frodo, Daenerys! – Aproximou-se Pippin. – O que estão fazendo? – Perguntou ele, confuso, ajoelhando-se ao lado dos amigos.

– Pippin – a loira sorriu como se tivesse voltado para a realidade. – Estamos só conversando – respondeu calma. Pippin parecia inquieto, como se quisesse perguntar algo, mas não o fez. Daenerys sorriu de modo sereno. – Pode dizer se quiser. O que quer perguntar?

– É que, eu queria perguntar se... Quer dizer, eu queria saber... – O pequeno enrolou-se. – Eu queria perguntar e saber, se não se importaria em me contar uma história!

– Uma história?

– Sim!

– Que tipo de história? – Ela questionou, confusa, parecia pensativa.

– Eu não sei. Alguma que você conheça! – Tûk a olhou com brilho nos olhos. – Por favor, só uma historinha, não precisa ser tão longa!

– Tudo bem – respondeu ela, convencida. Era impossível negar algo para Pippin.

Tûk apenas sorriu animado e sentou-se na frente dela, acomodando-se.

– Ei, Merry! Sam! Venham até aqui, a Daenerys vai nos contar uma história!

Hã? Espera!

Daenerys pensou em abrir a boca para protestar, no entanto, não teve tempo para falar, apenas viu Sam e Merry sentarem-se no tapete ao lado de Pippin. Gandalf apenas os observava, enquanto fumava seu cachimbo e soprava fumaça em forma de círculos. Boromir encostou-se sobre a cabeceira da cama, esperando pela história, mesmo não admitindo a curiosidade. Aragorn e Gimli pausaram o diálogo, enquanto Legolas encordoava o próprio arco, com os ouvidos discretamente atentos para as palavras de Daenerys.

Eis então que, tudo ficou em silêncio, como se todo o quarto esperasse pelas palavras dela.

A garota limpou a garganta, observando os olhares curiosos sobre si.

– Bom... A minha história é sobre uma rainha... – Ela sorriu, tímida, recordando-se do inesquecível conto que ouvia todas as noites quando ainda era uma doce criança. Lembrava-se das firmes palavras descritas à tinta preta sobre as páginas velhas de um livro negro. Um dragão de escamas vermelhas ocupava a capa, e nela, o título Resplandecente” a pincelava com tinta dourada. – O seu nome era Rhaella, Rhaella Targaryen!


Notas Finais


No próximo capítulo teremos a história. Claro que a história criada pelo George R. R. Martin estará um pouquinho modificada para se encaixar no enredo. Nessa cena da lareira, eu tive uma pequena inspiração no último livro que li da Stephenie Meyer. Espero que tenham gostado!
➽ Estalagem do Yron e Eliza: https://bit.ly/2KLv9oI


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