POV ITZIAR
A máfia estava enfim reunida no restaurante. Senti-me mais do que a vontade entre eles, tínhamos uma conexão especial e poder jantar com meus companheiros sem a presença de Alvaro,era aliviante. Por um momento pensei no quão curioso era ser o bendito fruto entre os homens, e ri da constatação, mas no fim das contas, era com eles que me sentia confortável, dentre os colegas do estúdio.
Pedimos vinho como quem não fosse amanhecer e os pratos sugeridos por Juan foram além de prazerosos, mas um verdadeiro acalanto naquele dia tão conturbado. Comida, bebida e amigos, era realmente disso que eu precisava.
-Nao sabe a satisfação que me dá te ver alegre depois da cara triste que presenciei no estúdio...
Comentou Juan com um sorriso afetuoso e Mário complementou:
-Uma mafiosa como tu, cheia de vida, com o sorriso mais lindo que já vi...Se ficas triste, atinge a todos nós.
-Pois sabes que realmenre estava triste, mas graças a vocês, agora estou a mais pura felicidade!
-Estás é completamente bebada! (Gargalhou Mário)
-Achas que uma garrafa de vinho me deixa bebada? Uma garrafa de vinho só me faz despertar as coisas boas que a preocupação reprimia! E que comida,Juan!
-O que disse a ti?! Falei que esse era o melhor restaurante da redondeza. Fernando também o aprovou em outra ocasião.
-Fernando, a sugestão do vinho também foi espetacular! (Disse a ele com uma piscada)
-Para a máfia, só o melhor! (Ele riu avermelhado enquanto erguia a taça para oferecer um brinde)
Acho que esse momento merece um registro. (Sugeriu Mario)
-Querem que eu faça uma selfie? (Perguntei a ele estendendo os braços)
-Guapa, não nos leve a mal, mas não és tão boa fotógrafa assim. Que tal uma foto reta para variar?
Disse Mário rindo acompanhando dos meus colegas enquanto eu fingia total indignação, acompanhando-os às gargalhadas em seguida. Chamamos entao um garçom e pedimos que registrasse o momento com o celular de Juan, que conferiu a foto empolgado e nos mostrou. Digitou algo no aparelho e disse:
-Pronto. Confraternização compartilhada.
POV ÁLVARO
Enquanto Blanca colocava a mesa visivelmente animada, eu cortava alguns temperos para jogar no molho fervendo na panela. O celular vibrava com algumas mensagens que chegavam no grupo de WhatsApp e outras no Instagram. De vez em quando eu espichava os olhos e observava elas chegando.
“Esqueci de dizer… Gabriel ligou aqui pra casa. Alguma coisa sobre uma planilha que tu pedistes a ele”.
“Sim, sim. Com alguns fornecedores que estamos mapeando para quando inaugurarmos o Hangar 48”
“Ainda não vejo isto como uma boa ideia, Álvaro. Bar da trabalho!”
“Não é bar! É uma casa de eventos”.
“É um bar”. Ela retrucou. Ela era visivelmente contra que eu empreendesse em algo que me tirasse de casa por algumas noites. Reclamava que eu já me ausentava o suficiente durante o dia. Eu via aquilo como uma oportunidade de investimento e estava empolgado com a ideia de ter meu próprio bar… local de eventos noturnos.
“Tudo bem. Deixa pra lá… Não quero brigar”, ela veio por trás e me abraçou. Virei o rosto de relance para ela e sorri. Em seguida meus olhos voltaram a tela do celular onde uma notificação me chamou atenção: Na foto, Itziar estava bebendo muito à vontade com a tal “máfia” de atores que contracenavam com ela.
Meu corpo enrijeceu, meu humor mudou. “Que?”, ouvi Blanca perguntar. “Nada”, tentei disfarçar e esqueci o celular ali por um momento enquanto íamos sentar à mesa para o jantar.
Quando finalmente terminamos, me ofereci para também lavar a louça. Além de querer agradá-la, era um bom momento para ficar a sós a refletir. Que coisa, pensei, não se passou nem uma noite e já estou buscando desculpas para ficar sozinho. Blanca foi a casa de sua mãe buscar as crianças e eu terminei de colocar toda a louça na pia.
Peguei o celular e finalmente abri o grupo do WhatsApp. Voltei algumas mensagens e abri a tal foto que Juan havia mandado. Itziar rodeada dos colegas “policiais”. Os tais que se denominavam “a máfia”. Mário estava lá, grudado nela. Que porra de máfia era aquela? Por que ela tinha que se meter no meio deles?
Estavam bebendo, e eu tinha certeza quem se ofereceria para levá-la para casa no final da noite. Eu estava puto! Como homem, sabia muito bem que ela era uma presa no meio de caçadores… peguei o celular e enviei uma mensagem ao grupo.
QUE DESLOCADA PARECES ENTRE A MÁFIA, MINHA AMIGA… FALTAM MAIS MULHERES NA POLÍCIA.
Vi Juan digitando. Meus olhos não desgrudavam da tela e eu já esperava que Mário viesse com alguma merda de indireta direcionada a mim.
ESSA NOSSA QUERIDA AMIGA VEIO TRAZER BELEZA AO NOSSO GRUPO.
E como se adivinhasse, Mário veio a seguir.
UMA BELA MAFIOSA… e se isso não bastasse, acrescentou um emoji de diabinho ao lado que eu sabia muito bem o que significava.
Dali a pouco vi Itziar digitando. Demorava tanto para terminar de escrever que fiquei em dúvida se era a minha ansiedade alongando os minutos ou um grande texto que ela mandaria. No fundo eu sabia que ela apenas tinha uma falta de jeito peculiar de digitar. A resposta em uma linha me pegou de jeito.
NEM UM POUCO DESLOCADA E MUITO BEM ACOLHIDA. Colocou uma carinha feliz ao lado que aumentou minha necessidade de responder. E enquanto eu já preparava uma réplica, Pedro me chamou em uma janela privada.
PEDRO: Quantos anos tens? Doze?
ÁLVARO: Não percebes o que ta acontecendo ali?
PEDRO: Vou mudar a pergunta: quantos anos pensas que ela tem?
ÁLVARO: Pedro… acabamos de terminar e ela sai para beber com ele. Ela toca na ferida e parece que faz de propósito.
PEDRO: podes parar de pensar só no teu umbigo e ver que ela é dona do próprio nariz (e que nariz) e que trabalha com aqueles caras tanto quanto trabalha contigo.
Achei graça do comentário, mas voltei a fechar a cara lembrando que assim como eu, um daqueles caras queria mais que trabalhar com ela.
PEDRO: não fizestes o que sugeri? Não estás tentando salvar teu casamento?
ÁLVARO: Sim.
PEDRO: E então…?
ÁLVARO: Estou tentando…
Não entrei em detalhes sobre o desastre que foi fazer amor com minha mulher enquanto pensava naquela que me dava a mínima na companhia de outros. Ignorei os conselhos de Pedro, voltei ao grupo e comentei.
DA PRÓXIMA VEZ ME CHAMEM.
Alguns colegas levantaram dedinhos positivos, Itziar visualizou e nada disse, enquanto Mário comentou APENAS PARA MEMBROS DA MÁFIA e soltou uma risada seguida de um BRINCADEIRA que eu sabia bem que era a pura verdade sendo jogada na minha cara.
Pedro voltou a nossa conversa e emendou. BELA TENTATIVA IRMÃO! BELA TENTATIVA…
POV ITZIAR
Após o episodio lamentavel no grupo do whatsapp,a noite chegou ao fim e já estávamos exaustos, embora a exaustão fosse mais do que agradável. Mário me ofereceu sua fiel carona, que tantas vezes foi rejeitada por mim, mas que finalmente aceitei.
Entramos no carro num clima muito tranquilo e passamos o trajeto inteiro falando sobre música. Contei a ele sobre minha banda e falamos um pouco de nossas preferências musicais.
Quando enfim chegamos à frente de meu prédio, tirei uma mexa de cabelo do meu rosto e a coloquei detrás da orelha, mania que sabe Deus quando comecei a ter,mas que foi observada com total atenção de meu colega e quando notei seu olhar apenas indaguei.
-Que?
-Nem imaginas o quanto és sensual quando fazes isso, não?
Fiquei muda por um momento. Talvez realmente estivesse bêbada por fim. E então, Mário segurou minha nuca e me beijou. Seus lábios úmidos envolveram os meus com muita delicadeza, por alguns segundos. Mas não eram os lábios que eu desejava, então o afastei lentamente apertando os olhos e balançando a cabeça em negativo.
-Perdoa-me, meu amigo...É que...
-Nao te sentes assim em relação a mim.
Ele completou num tom de voz muito gentil, embora decepcionado, e se afastou com um suspiro.
-Nao tens que se desculpar, guapa...Gosto de ti e te admiro muito, jamais deixaria de admirar por causa de uma rejeição amorosa haha. Não sou boçal como algumas pessoas possam imaginar.
-Jamais imaginei isso de ti...Também tenho muito carinho por ti.
- Bem...Espero que essa atitude tola nao te afaste de mim.
-Jamais!
E dei um beijo em sua bochecha correspondendo à sua doçura, que admito ter me surpreendido, de certa forma.
- Bem, tenha uma boa noite de sono entao, e até amanhã.
-Obrigada pela carona. Até amanhã.
E caminhei até a entrada com certo alívio por ter esclarecido as coisas entre nós, principalmente porque tudo o que menos queria, era outro clima de tensão entre mim e mais um colega.
...
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