Caminhava devagar sentindo o calor escaldante abraçar seu corpo, a farda originalmente branca aquela altura jazia escura manchada pela poeira do chão avermelhado, seus olhos ardiam de tão secos e a cabeça doía pela quantidade de soldados que ainda precisaria organizar. Era mais um daqueles dias em que desejou que o mundo finalmente acabasse para que pudesse descansar, afinal ele não sabia o que era isso há muito tempo. Apesar de ser um pensamento muito egoísta de sua parte, ele não se importava muito, vivia há tanto tempo dentro de uma panela de pressão que sua vontade durante mais aquelas vinte e quatro horas era que ela explodisse de vez, pois mesmo sendo muito positivista o próprio sequer conseguia acreditar mais no fim de tudo aquilo. Pelo menos até aquele dia.
Há cinco anos o coronel Jung Hoseok em nome do governo sul-coreano comandava os ares da Coréia, devido à uma guerra que se instalou entre as três potências asiáticas. Ao ser nomeado para liderar um grupo da Aeronáutica sentiu-se verdadeiramente orgulhoso, claro que a situação em si não o deixava feliz, mas estar à frente de uma das operações diárias de guarda e proteção do ar era o que ele havia sonhado desde o primeiro dia na escola militar.
Mas estava cansado, não sabia mais como era poder abrir os olhos e enxergar o teto claro e límpido de seu quarto, se espreguiçar e pegar sua amada bicicleta saindo pelas ruas e sentindo a brisa fresca da maresia abraçar seu corpo, sua felicidade diária era retornar ao lar depois de um banho de mar e ouvir o som estridente do rock pesado que seu amado tanto gostava, este que soava completamente incoerente com a felicidade que ele ostentava em virar com toda a habilidade do mundo as panquecas que Hoseok amava. Sentia falta do beijo caloroso que recebia toda manhã e de todas às vezes que desligava a cafeteira ao retornar, já que o outro empolgava-se tanto em sua tarefa que esquecia que o equipamento não se desligava sozinho.
Durante esse tempo fora de casa acostumou-se com muito trabalho e quase nenhum descanso, sua manhã agora começava com barulho alto de caminhões, sua brisa fresca agora era a terra seca que subia e fazia seus pulmões implorarem por ar puro, o banho refrescante no mar fora substituído por alguns baldes de água para lavar-se precariamente e fazia tanto tempo que ele não sabia o que era receber um beijo de verdade que cogitou ter esquecido de como se fazia aquilo. Todos os seus pequenos momentos de felicidade foram reduzidos aquela rotina massante.
No começo de sua caminhada a distância entre o avião que acabara de pousar e a sua base não era muita, mas o calor incessante, o barulho de caminhões militares indo e voltando e soldados do exército treinando enquanto gritavam as frases que tanto se repetia na guerrilha, parecia fazer daquele caminho um corredor extenso e sem fim. Ouviu passos apressados atrás de si e pediu aos céus que não fosse mais uma missão, acabara de chegar, seu corpo estava cansado, seu estômago faminto e sua cabeça só queria cinco minutos de descanso.
Quando pensou ter se livrado da presença atrás de si sentiu uma mão apertar-lhe o ombro minimamente, estava pronto para virar-se impaciente e dizer que acabara de chegar, mas assim que seus olhos focalizaram na figura baixa de cabelos escuros e curtos em um undercut escondido pela boina marrom, com sua farda de tecido camuflado e seu sorriso gengival que para si era a coisa mais linda que já havia visto em toda a sua vida, seu corpo inteiro amoleceu.
Não considerava possível, mas todo o cansaço que sentia tivesse se esvaído só pelo tamanho do sorriso que abriu ao ver a pessoa que mais amava na sua vida tão lindo.
- Senhor Coronel Jung Hoseok - bateu continência sério. - É uma honra revê-lo. - sorriu mínimo mas os seus olhos denunciavam tamanha a felicidade que era vê-lo.
Naquele mês cansativo haviam se visto apenas uma vez, ambos em missões, enquanto Hoseok voava com o cargueiro para todos os lados, ora carregando soldados para os pontos estratégicos, ora levando mantimentos e trazendo os feridos, Min Yoongi estava no campo de batalha, expulsando a guarda japonesa que tomava a costa leste de Seul. Por dias se manteve lá sem descanso e com pouca comida, era de se notar pelo seu rosto mais magro porém não menos bonito.
Na viajem em que o mais velho foi deixado com seu grupo em sua base de ataque, Hoseok era o piloto escalado. Todas às vezes que ele levava os soldados tão jovens para o campo de batalha pedia silenciosamente que eles voltassem bem não só para base, mas também para seus pais, seus filhos, seus animais de estimação, enfim, sua lista era quase infinita. No entanto levar a pessoa que amava para o campo de batalha era ainda mais doloroso, em silêncio por diversas vezes se distraiu olhando para o céu, o que fez seu co-piloto perguntar se ele realmente estava bem ou tentar tranquilizá-lo ao confirmar que já havia feito contato com a torre de controle e nenhuma aeronave inimiga se aproximava, mal sabia seu companheiro que não era essa a preocupação do mais novo, e sim com aquele que estava todo tempo calado, enquanto os outros combatentes faziam algazarra.
Aquilo fez com que o seu coração fosse quebrado em mil partes, durante toda a guerra ele sequer uma vez teve medo de sua própria morte, mas temia a do mais velho que não escolheu estar aqui, que foi recrutado de última hora mesmo com Hoseok tendo mantido contato com todos os generais para que não chamassem, claro de forma discreta, afinal ninguém sabia do envolvimento de longos dez anos que eles tinham. Mas haviam coisas que não estavam em seu alcance, a Coréia do Sul precisava de todos os combatentes aptos para lutar, mesmo sendo um dos exércitos mais bem preparados do mundo seus soldados não eram blindados para tudo e naquela ocasião já haviam perdido homens demais, por isso que há alguns meses o homem que o esperava cheio de saudades agora também lutava ao seu lado.
Mediante o silêncio de Yoongi, naquele dia pela primeira vez na vida ele teve fé em qualquer coisa que fosse responsável pelo universo, não era um homem religioso, não acreditava em deuses ou demônios, anjos ou ceifadores, mas quando se tratava da pessoa mais importante para si ele se curvaria a qualquer autoridade divina para tê-lo vivo. Então no silêncio de sua mente e coração pediu para quem quer que fosse o responsável pela vida humana, que olhasse com carinho e protegesse aquele que apesar de mais velho ainda sim era o seu menino.
Então depois de tantos desencontros e ainda sem muitas notícias do grupo em que ele estava, finalmente o viu, e sentiu todo o sangue do seu corpo ir de vez para o seu coração que naquele ritmo mal conseguia bombear apropriadamente o líquido escuro, suas mãos formigavam de vontade de passá-las pelo corpo alheio só para conferir se ele estava mesmo inteiro para si, sua boca que já estava maltratada pela secura de um verão extremamente quente se tornou mais seca mas dessa vez era de saudade dos lábios finos, sua cabeça ainda doía mas era por causa da informação que seu coração ainda tinha dificuldade de processar.
Ele estava ali. Depois de tanto tempo ele havia voltado para si.
- Senhor? - os olhos curiosos o fitaram. - Está tudo bem?
- Você está aqui, é impossível que não esteja tudo bem. - admirou-se por ter dito aquilo sem gaguejar, tendo em vista o esforço que fez. - Eu queria tanto poder... - controlou com toda força sua mão que já se movia instintivamente para a cintura alheia.
- Sabe que aqui não pode. - piscou o olho rindo em seguida. - Eu estou com tanta saudade que sinto que vou morrer se não puder te abraçar. - disse de uma vez olhando para os lados rapidamente e conferindo se não havia alguém perto.
- Então me abrace, ou serei louco o suficiente para te agarrar aqui mesmo. - disse Hoseok sorrindo nervoso.
Era incrível como mesmo depois de tantos anos apenas a presença de Yoongi era capaz de desmontar a guarda do mais novo inteira.
- Você não é tão louco assim, pare com isso. - pisou discretamente no pé dele percebendo o quão inútil era aquela atitude, já que o calçado era grosso o suficiente para não causar nenhum impacto. - Se você estivesse descalço isso iria doer muito, que droga. - riu soprado. - Acho que nunca vou me acostumar com isso.
Um silêncio breve se instalou, apesar de Hoseok ter consciência de que naquele momento a frase que partiu da boca do mais baixo tinha a intenção de soar divertida, no fundo ele entendia perfeitamente a interpretação total nas entrelinhas.
"Acostumar-se."
Aquilo para si era dolorido partindo dos lábios do mais velho, pois sabia bem que naquele momento ele estava sendo obrigado à habituar-se a uma realidade que nunca quis, nunca desejou. Enquanto Hoseok sonhava com tanques militares desde menino, Yoongi se concentrava em levar a sério seu "trabalho" no restaurante renomado que utilizava da alta culinária a partir da areia fofa do parque onde sua mãe sempre o levava. Ou seja, diferente dele, Yoongi estava ali por pura obrigação com seu país, isso refletia de uma forma tão intensa que por vezes o viu se lamentar de tristeza, de saudades, talvez até de medo.
O pior de tudo isso era saber que não podia garantir-lhe nada, enquanto a guerra perdurasse ele teria que se manter ali.
A saudade que transbordava do peito de Hoseok encontrava abrigo no coração de Yoongi, que ao ver o mais novo pousar não conteve suas próprias pernas que o levaram automaticamente na direção daquele que tanto esperava, havia voltado do campo há dois dias e não tinha visto sequer um sinal de vida de Hoseok. Por isso naquele momento tão perto um do outro e ao mesmo tempo tão distantes ele se aproximou rapidamente e enlaçou o pescoço alheio com tanta força que teve que se controlar para não sufocá-lo, aspirou o cheiro másculo do mais alto misturado ao hidratante de erva doce que havia o presenteado, já que o Jung não costumava usar perfumes.
Dentro daquele abraço sentiu tantas sensações boas que poderia perfeitamente fazer um poema com tudo o que de bom Hoseok proporcionava no calor de seu corpo, era reconfortante como lar de mãe em um almoço de domingo. Se permitiria fechar os olhos e apreciar da companhia sempre tão maravilhosa do seu amor, mas logo lembrou-se de onde estavam e que a qualquer momento alguém poderia chegar, imediatamente se afastou do outro sentindo um enorme vazio ao fazê-lo.
- Por que fez isso? - Hoseok o olhava incrédulo. - Eu estava quase dormindo sabia? - botou as mãos na cintura numa falsa irritação.
- E quem disse que você vai dormir? - olhou-o com uma expressão sugestiva e quando percebeu que o outro havia entendido riu alto. - Não, não é isso. Tem uma missão pra você ainda hoje.
- Pelo visto só vou descansar quando morrer. - disse resmungando sem pensar.
- Não diga isso nem de brincadeira. - o mais velho o encarou sério. - O coronel Kim quer vê-lo o mais breve possível. Pediu para que eu o chamasse assim que pousasse.
- Mas somos de bases diferentes, porque ele mandaria você me chamar? - o olhou confuso. - Não me diga que...
- Não tire conclusões precipitadas, estou escalado na guarda geral da base, ele poderia ter chamado qualquer um, e ele não me pareceu sério ao passar a informação, apenas pediu que eu o levasse. - interrompeu. - Vamos andando antes que ele dê uma advertência pela demora. - riu fraco e espero que o mais novo andasse.
Seguiram juntos e dessa vez calados até a base do comando da aeronáutica, o mais velho atravessava as barreiras de guardas com facilidade, já que todos ali sabiam que se tratava de um dos generais do ar, já Yoongi era obrigado a mostrar autorização a cada pelo menos dez passos até alcançar a base. Apesar das forças aéreas, terrestres e marítimas trabalharem em conjunto, havia uma certa desconfiança quando se tratava de movimentação entre as bases, por isso apesar de unidas em batalha, se dividiam na concentração.
Essa e outras regras que ao ver do mais velho eram estúpidas, tendo em vista que qualquer um ali poderia estar auxiliando a base inimiga, fazia parte da extensa lista mental que ele mantinha sobre porque detestava estar ali.
Caminharam por mais alguns minutos até avistarem a maior base da concentração aérea, onde ficavam os alojamentos dos coronéis, generais e do comandante geral das forças armadas. O mais novo seguia em passos ritmados muito à frente de Yoongi, que pelas normas deveria fazer a guarda dele. Ninguém ali conseguia imaginar que fora dos macacões reforçados e das infinitas estrelas de honra que o mais novo carregava no peito, ele era o marido carinhoso que vivia completamente de joelhos pelo amor daquele que em termos militares era um simples soldado.
Ao chegar na base, viu o outro se despedir de acordo com as formalidades militares e sair depressa pois precisava voltar ao seu posto e dar de conta das inúmeras rondas do dia.
Suspirou tomando coragem e bateu levemente na porta sendo recebido por Kim Namjoon, estranhou em um primeiro momento já que se tratava de um dos coronéis do ar assim como ele, e as informações que havia recebido logo pela manhã era de que aquele assumiria as operações em seu descanso.
- Senhor Jung. - falou repentinamente dando espaço para que o outro entrasse.
Hoseok que já tinha o coração apertado, sentiu como se o órgão tivesse virado um grão de arroz quando avistou as demais pessoas ali. Na grande mesa disposta no meio da sala ampla estava o capitão de mar e guerra, Jeon Jungkook. Ao seu lado o contra-almirante também responsável pelas forças marítimas, Park Jimin. O coronel do exército, Kim Taehyung e o comandante geral das forças armadas Kim Seokjin.
Toda a elite militar reunida, com o adicional dele e Namjoon poderia dizer que todas as forças estavam ali, o que geralmente não acontecia, já que para evitar a sobrecarga os planos de ataque e montagem de defesa eram feitos individualmente e só reunidos através de um dos tenentes que ficavam responsáveis por espalhar as informações das outras bases aos demais oficiais superiores e subalternos. Era mais um dos procedimentos de segurança que servia para que se houvesse algum infiltrado na elite os demais rapidamente pudessem mudar a estratégia e pegar o espião desprevenido. Isso fazia com que o exército Sul Coreano fosse um dos mais bem preparados e dificilmente informações conseguiam ser vazadas dessa forma.
Esse foi mais um dos motivos que fizeram o coronel Jung desconfiar daquela que parecia ser uma reunião de emergência. Não era um homem supersticioso afinal, mas sua experiência dizia que algo ali não estava certo.
Se aproximou e curvou-se em um ângulo de 90 graus recebendo o mesmo cumprimento em um ângulo menor de todos ali, sentou-se e retirou o seu quepe colocando-o em cima da mesa assim como os demais.
- Sei que esse não é o nosso procedimento padrão, mas tendo em vista os acontecimentos recentes convoquei todos aqui de forma urgente. - começou Seokjin se levantando e tratando de apagar o quadro que continham algumas informações de formações de defesa antigas. - Antes de qualquer coisa quero perguntar algo. - pigarreou limpando a garganta e se virando. - Quem vocês podem perder lá fora?
- Senhor? - disse Taehyung levantando a mão. - Entendi a pergunta, mas não compreendo a necessidade.
- Simples. - cruzou os braços e encarou um à um. - Estamos em uma guerra, da mesma forma que não há garantias de que algum de nós voltemos vivos, também não há garantia alguma de que os que nos esperam em casa estejam vivos. - deu de ombros. - A partir do momento em que assumimos nossas posições tornamos nossa família, amigos e parentes próximos um alvo, e se tratando de guerra o pensamento inimigo é simples: se não pode atacar o corpo, ataque o coração.
Todos murmuraram baixo de certa forma indignados, aqueles que ali estavam tinham o mesmo tempo na guerrilha, haviam meses que não viam sua família, o máximo de contato permitido eram fotos e pequenos arquivos em vídeos disponíveis em pen drives. A saudade dos que ficaram era imensa, e tocar naquele assunto era o suficiente para desestabilizar qualquer um.
- Senhor Kim, peço que por favor seja mais claro em sua explicação. - dessa vez foi o coronel Hoseok. - Creio que todos aqui entendem os riscos que nossas famílias correm, mas com que propósito o senhor nos diz isso?
- Estou preocupado. - começou a caminhar em passos pesados pela sala. - Não temos tempo para muita conversa e receio o quanto essas paredes podem nos ouvir. - sentou-se finalmente e coçou o queixo. - Senhor Park, pode nos dizer o que recebeu essa manhã?
- Sim senhor. - abriu sua pasta escura e colocou na mesa algumas fotos apagando a luz e logo ligando o foco acoplado à mesma mesa. - Essas fotos são referentes à patrulha submarina da madrugada. - organizou as fotos observando os demais se levantarem para enxergar melhor. - Essa noite enquanto decidíamos de que forma aconteceria a ronda, o senhor Jeon sugeriu que fossemos um pouco além do que estamos acostumados e fora dos limites da costa coreana. Em um primeiro momento achei desnecessário, já que temos mais de mil quilômetros oceano a dentro até alcançarmos o além mar, que não pertence a nenhum país. - procurou por uma foto mais escondida. - No entanto por questões de segurança, achei melhor mandar um grupo para lá e achamos isso. - puxou a última foto do amontoado que segurava. - Um submarino nuclear instalado em alto mar.
- Como isso pode ser possível? - disse Hoseok. - Fizemos rondas aéreas além mar e não identificamos nenhuma alteração que pudesse indicar a presença de um submarino, mesmo submerso teríamos achado.
- Esse é o problema coronel. - Jimin se manifestou. - Ele não está boiando ou apoiado no fundo do mar, está praticamente cravado no terreno marítimo, basicamente enterrado.
- Senhores. - Jeon se levantou e trouxe consigo uma outra pasta. - Pedi para alguns mergulhadores observarem um pouco mais de perto. - retirou um relatório e mais fotos. - Não sou biólogo mas acho que o que temos aqui é suficiente para comprovar que ele está instalado ali há muito tempo. Observem como as algas marítimas criaram um jardim, há corais em volta dele, acima e perto do motor. Em algumas partes, segundo o relatório do mergulhador, há rodolitos, que são esponjas do mar criadas pela encrustação de muitas algas, uma acima da outra. Ele me informou que essas esponjas são levadas pela corrente marítima, mas mesmo assim demorariam meses para criar essa parte rochosa, já que elas se formam na costa e até chegar nessa parte tão distante leva-se um bom tempo. - parou um pouco e suspirou. - Nossa suspeita é de que ele esteja ali há pelo menos um ano.
- Temos que agir rápido então, vamos ter que desativá-lo o quanto antes. - Hoseok se afastou passando as mãos pelos fios negros. - Se eles ligarem esse reator a qualquer momento podemos ter uma grande destruição em massa, ou a nível radioativo se estivermos lidando com uma bomba biológica.
- Há motivos para crer que de fato seja uma bomba biológica. - Taehyung sentou-se. - Nas últimas tentativas de ataques terrestres, eles vem agindo sempre ao oeste da Coréia, isso tem feito com que muitas pessoas migrem para a costa assustadas com o que pode acontecer.
- Não se consegue precisar ao certo mas estima-se que cada ogiva desse submarino esteja entre 300 e 500 kg. - Seokjin disse lendo o relatório que Jeon o entregou. - Por mais que a profundidade aumente a densidade da água e diminua a velocidade do disparo ainda sim teríamos uma grande força devido à distância, suficiente para destruir toda a parte da costa norte e leste, justo para onde as pessoas estão vindo, e mesmo tentando impedir não somos oniscientes e algumas dessas pessoas acham que podem estar seguras perto de nós.
- Então uma bomba biológica seria muito mais eficaz. - Namjoon se pronunciou e Taehyung meneou positivamente. - Atingiria com efeitos permanentes pelo menos metade do território coreano, e a outra metade enfraqueceria assim teriam o controle total e a nossa rendição.
- Desgraçados. - bufou Hoseok impaciente. - Eles planejaram isso desde o começo e agora estamos à mercê da vontade deles, precisamos organizar as equipes rápido, não temos tempo disponível.
- Se acalme Jung. - Seokjin foi até a lousa. - Vamos montar uma estratégia eficaz e que não coloque em risco mais inocentes, segundo o relatório apresentado pelo senhor Jeon o submarino está direcionado à costa. - desenhou um esboço no quadro. - Isso quer dizer que qualquer um dos inimigos planeja como último recurso destruir tudo, qualquer movimento brusco e estaremos mortos antes que o verão termine.
- Os ataques do Japão e da China estão vindo pelo mesmo lado, não há como saber se a estratégia é semelhante ou ambos estão montando aliança. - Tae observou. - Fora que aqui diz que o número de série da embarcação não existe, foi propositalmente raspado, ou seja, qualquer maneira de identificação foi reduzida à zero.
- A única coisa que sabemos é que esse modelo é muito antigo, com certeza produzido na segunda guerra. - apontou Jimin. - Se analisarmos dessa forma podemos ter um bom palpite sobre quem os colocou lá.
- Ou estamos sendo induzidos à um erro. - apontou Hoseok. - Durante o último ano temos recebido ataques terrestres e aéreos diferenciados, a China vem montando um modelo de ataque aéreo mais frequentemente, enquanto o Japão que tem uma força área mais equilibrada vem atacando pelo mar. Se somarmos a quantidade de ataques marítimos ao fato de que o modelo é idêntico ao de segunda guerra, concluiríamos que o Japão poderia ser o responsável pelo submarino.
- E automaticamente colocaríamos ele como prioridade pelo fato de sermos um alvo direto. - Namjoon batucou na mesa. - Independente de qual força inimiga tenha colocado aquilo ali, com certeza foi para nos confundir, isso faria com que aumentássemos o poder de fogo diretamente para o país suspeito que por motivos óbvios revidariam na mesma intensidade. Ambos se destruiriam e teríamos um país praticamente ileso, ganhando a guerra sem esforço algum.
- E é por isso que eu trouxe vocês aqui, precisamos montar duas estratégias, já que temos a possibilidade de ataque direto e mais uma trazida pelo embaixador Dong Sun essa semana. - engoliu em seco. - Ele veio conversar comigo pessoalmente à respeito de um possível cessar fogo proposto pela China recentemente, de acordo com o que me foi passado o presidente chinês tem muito interesse em uma trégua, e segundo o embaixador isso pode ser motivado pelo fato da ajuda internacional que vinha recebendo estar sendo barrada pela ONU, já que um dos países que mantém relações comerciais com a China assinou um tratado que limita o fornecimento de armamento bélico.
- E isso nos leva a considerar essa hipótese a partir de agora. - o mais novo dos comandantes riu fraco recolhendo as fotos em sua pasta.
- Eu não concordei inicialmente, mas quando recebi todas essas informações tive que repensar sobre a hipótese. Com o cessar fogo ou não estamos em risco, por isso preciso de todas as mentes líderes aqui trabalhando em conjunto.
- Ainda temos força bélica o suficiente para continuarmos, achei que era uma hipótese praticamente remota. - Jungkook indagou.
- O problema é que estamos nas mãos de qualquer um dos dois lados inimigos. Eu não se sei você percebeu mas estamos com um míssil apontado para nossas famílias, para pessoas inocentes que podem não ter um futuro por uma escolha errada. - o mais velho bufou. - Eu sei de todos os códigos de honra que tivemos que repetir durante todos esses anos, eu conheço cada hino de guerra e cada grito que nos faz dizer aos quatro ventos o quanto somos orgulhosos e não podemos nos render, mas agora eu quero se dane tudo isso! - alterou o tom de voz. - Se tudo o que eu jurei defender com a minha própria vida for a custo da vida de adultos, crianças e idosos inocentes eu renuncio o meu cargo aqui e agora.
O mais velho de todos observou como gradativamente eles tomaram uma postura séria, os olhares carregados e cheios de determinação entregaram que naquele momento eles estavam prontos, até mesmo se fosse para decidir o seu próprio fim.
- Acalmem-se - Hoseok se levantou. - Discutir agora não nos levará a nada, porque nenhum dos dois lados está errado. Eu entendo perfeitamente o oficial Jeon, ainda temos poder bélico e ainda podemos desativar o submarino e continuar com isso, eu não confio nessa proposta de cessar fogo, porque pode muito bem ser uma emboscada. - soltou o ar de uma vez. - Mas ainda estamos a mercê do que pode acontecer, levaria um tempo considerável para desativar as ogivas e um passo errado acabaria destruindo boa parte da população do nosso país, então mesmo que desconfiados temos que levar a proposta do cessar fogo em conta.
- Estarei indo me encontrar com o embaixador em uma semana, e tenho que ter uma resposta e duas estratégias na minha mesa em pelo menos 2 dias. - disse o mais velho por fim.
- E o que você sugere que façamos agora? - Jimin cruzou os braços e encarou.
- Nesse exato momento? - perguntou retoricamente. - Escrevam para suas famílias. - pegou seu quepe e saiu.
...
- Descansar! - gritou o coronel Kim Taehyung, enquanto viu os rostos suados expressarem o total cansaço, bebeu um gole de água e se dirigiu até ao tenente que lhe auxiliava nos exercícios matinais. - Em fila.
Observou como rapidamente os soldados bem treinados se organizaram perfeitamente alinhados.
- Hoje é um dia de alegria para muitos e de desgraça para outros. - caminhou observando os rostos. - Os nomes que forem chamados deem um passo à frente. - parou na frente de Yoongi.
- Atenção. - o tenente auxiliar se aproximou. - Dong Dak-Ho, Kim Myung, Ha Young-Jae, Gyeong Sook, Lee In-Sun. - continuou chamando uma lista extensa de vinte e cinco nomes. - Ryu Whan, Min Yoongi.
Todos os soldados chamados se aproximaram de certa forma apreensivos, essas chamadas não eram regulares e todas às vezes que aconteciam era indicativo de falta cometida pelos combatentes. Aqueles homens mantinham a postura séria e não demonstravam medo ou receio, mas por dentro temiam o que podia acontecer, com atenção especial para Yoongi, que suava debaixo do sol escaldante mas tinha certeza que não era apenas pelo calor da manhã quente.
- Não tenho tempo para elogios e muito menos tenho a intenção de agraciar ego de nenhum marmanjo, aqui o tratamento é igualitário e as punições também. - andou encarando cada um daqueles rostos inexpressivos. - Mas como para vocês é o fim da linha, digo apenas que agradeço a colaboração. Arrumem suas coisas, voltarão para casa hoje à noite. - disse se retirando e dando uma última olhada em Yoongi, este que observou pela visão periférica o coronel tomar um ar de riso.
Em seu alojamento arrumava suas poucas roupas sem cor e sua farda sem muita vontade, de fato esperou sim sair dali o quanto antes, mas não sem a companhia do seu coronel, de alguma forma em sua mente era como se estivesse deixando-o no meio daquele inferno, isso o entristecia bastante. Organizando suas coisas achou o único objeto que se interessou em trazer de casa, a aliança de compromisso azul marinho que ganhara do mas novo assim que assumiram o relacionamento, esta já estava velha devido ao tempo e o material fundido tão simples, já que nenhum dos dois trabalhavam na época e não havia condições para adornos luxuosos.
Sorriu com a lembrança doce e fresca em sua mente, naquele dia Hoseok havia ido até sua casa a pé, com a farda da escola militar suada pelo caminho que percorreu e o calor que fazia naquela tarde. Chegou ofegante e pediu um copo de água para recuperar o fôlego, os olhos perdidos e tão nervoso que gaguejava sem parar ao dizer que o queria para sempre ao seu lado. Na época aceitou o pedido mesmo desconfiado do amor do outro, eram jovens, inconsequentes e ambos foram os primeiros namorados um do outro, apesar de feliz, Min não acreditava que fosse durar muito.
Pois é, ele havia se enganado tanto.
Colocou novamente a aliança em seu dedo e sorriu, observou como os outros soldados pareciam apressados para voltarem, sorriam muito. Alguns falavam que os pais estavam ansiosos para vê-los, que fariam uma surpresa aos filhos pequenos e um até disse que sua esposa ficaria muito contente pois recentemente descobriu a gravidez e o queria em casa.
Não pode deixar de ficar feliz por eles também, todos tinham para onde voltar, familiares e amigos os esperavam. Yoongi também tinha para onde voltar, mas os braços que eram o seu lar estava ficando ali, ele voltaria sozinho para a casa enorme, não encontraria o bagunceiro babando nas almofadas do sofá enquanto deixava Holly e Mickey devorarem o balde de pipoca amanteigada que ele sempre deixava no chão. Um lar para si era onde se podia encontrar uma família feliz vivendo nele, e quando colocasse os pés em casa encontraria parte de sua família, porém não viveria a felicidade de vê-la completa.
Queria vê-lo, abraçá-lo, beijá-lo e pedir para que ele voltasse logo para a casa, mas suas esperanças foram cortadas pelos soldados que montavam guarda em frente ao alojamento coletivo, afinal já que eles estavam indo embora não poderiam mais circular pela concentração, até o momento da partida eram obrigados a permanecerem ali.
Ele precisava se despedir de alguma forma, seu corpo clamava por isso e ele não conseguia saber exatamente o porquê, e isso o deixava com ainda mais medo de partir.
Mas mesmo com medo ele foi, sem um último adeus.
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