História Return - Prólogo.

BRIDGET HUNTER

ANTES

Retirei os scarpins sentindo um alívio enorme. Vinte e um anos, formada, desemprega e iludida. Quando naquela palestra – a última antes de me formar em marketing – eu conheci Gale, senti que era o rumo certo a seguir. Gale Scott é simplesmente um dos melhores no ramo de marketing e todos sabiam disso, todos que trabalham no ramo sabem. Seu trabalho é um dos melhores, se não o melhor de Detroit. Então ter a chance de trabalhar com o melhor sendo uma recém-formada pareceu atraente demais, simplesmente me deixei seduzir. Não por ele em si, mas pela oferta de trabalho.

Olhar para atrás apenas me faz ver o quanto fui ingênua e idiota.

Meu primeiro trabalho foi justamente na campanha da Ford Motor Company uma das maiores marcas da empresa automobilística, que é o mercado mais atuante em Detroit e foi fodidamente bom como aprendizado. Eu me esforcei e dei o melhor de mim, sempre tentando ter ideias cada vez mais inovadoras. Querendo sempre ser a melhor, dar o meu melhor. Porém não foi suficiente. Na verdade, era exatamente o que Gale queria antes de me chutar para fora.

Ter acabado de entregar a campanha perfeita nas mãos dele, no dia seguinte chegar ao trabalho e simplesmente receber um "desculpe, querida, você não trabalha mais aqui" foi extremamente ruim. Primeiro achei ser algum tipo de brincadeira e depois simplesmente não conseguia acreditar naquilo.

Ele não poderia estar fazendo aquilo comigo, eu fodi as minhas noites sem dormir pensando na porra da campanha que ele pegou e disse ser dele, minhas ideias passaram a serem dele, meus planejamentos serem dele.

Eu gritei, gritei e gritei. Então ele saiu da sua sala se sentindo o fuckingboss que Gale nunca será. Com um sorriso superior, ouvi as palavras saírem de sua boca "eu iria até te dar uma recomendação para uma empresa, mas vadias que gritam quando não são pedidas, não são boas vadias. Você tem duas horas para se retirar da minha empresa, não pense que terá testemunhas contra mim em um possível embate judicial, você me entregou suas ideias sem dar o seu nome a elas. Elas são minhas. Você poderia ter sido minha, seríamos ótimo juntos." Sentir uma de suas mãos acariciando meu rosto me fez sentir náuseas.

Fui escoltada até a saída. Eu estava ainda em estado de choque, "vadias que gritam quando não são pedidas" eu sabia o que ele queria dizer, ele quis me tocar e eu deixei claro que nada daquilo iria acontecer. Deixei claro que éramos profissionais. Gale parece não ter gostado daquilo.

Ele é que é uma vadia, vadia suja e sem moral alguma. Suspirei massageando meus pés, fazia oito meses. Ainda estou desempregada, Gale pareceu ter calado muita gente, fiz mais entrevistas de emprego do que dormi nos últimos meses. Pelo o que notei, todos eram apoiadores de Gale Scott. Aquele filho da puta. Deveria ter arrancando os seus olhos e dado para ele mesmo comer. Porém o choque foi tão grande que me deixei ser guiada por toda a situação suja que ele tinha criado.

Suspirei, saindo da vaga de estacionamento com o carro, acabei voltando a morar com os meus pais e depender deles. Não é uma situação confortável quando você estava com seu futuro todo planejado, quando sua vida está alavancando e querendo ganhar cada vez mais. Aí vem uma queda e as outras não tardam em chegar. Só espero que aquela coisa de “depois da tempestade vem o arco-íris” seja verdade, porque minha vida está extremamente preta e branca agora.

Dirigi calmamente até a casa dos meus pais, assim que estacionei em frente ao destino senti uma vontade enorme de chorar, porém respirei fundo e entrei em casa. Meu pai sempre com um sorriso encorajador no rosto. Eu queria ser positiva como ele, mas a vida não é um mar de rosas, as pétalas são nossas ilusões, a vida na verdade são os espinhos da rosa. Se você não tomar cuidado, pode se ferir.

— Briget! Conseguiu algum emprego? — Seu sorriso me fez querer desmoronar ainda mais, mas segurei firme as lágrimas.

— Não... As pessoas parecem não querer bater de frente com o fantástico Gale Scott — falei, deixando os ombros caírem em derrota.

— Oh, querida, você logo conseguirá algo, seu talento é incrível. — Papai veio finalmente ao meu encontro me dar um de seus abraços apertados. Deixei-me ser abraçada.

— Isso já se arrasta há seis meses, papai — falei com a voz sufocada. Novamente o sorriso brilhante estava lá.

— As coisas não são assim tão fáceis, mas nada é impossível. — Sem querer prolongar mais, apenas o segui em direção ao sofá me jogando no mesmo.

Nossa casa não era enorme e nem uma mansão, possui quatro quartos, dois banheiros, uma área de lazer incrível. Toda decorada a gosto de mamãe, em tons claros. Uma cozinha muito bem equipada, uma sala de estar maravilhosa. Cresci ali, brincando naquele carpete, derrubando alguns vasos sem querer. Eu e minha irmã sempre quebrávamos algo.

— Oh, já voltou. Pela sua cara não tem boas notícias!  — A voz da minha mãe demonstrava algo bem diferente do que meu pai quando cheguei.

Ela estava claramente me criticando. Deixando claro que a situação não a agradava.

— Não, não são boas — falei e ela apenas assentiu, vindo se sentar do meu lado esquerdo enquanto papai estava ao lado direito.

— Pois bem, falei com seu pai ontem à noite.

— Gabriela... — O tom do meu pai me fez ficar alerta, ele a estava repreendendo.

— Fique quieto, Alex — sua voz o cortou. — Falei com sua irmã, ela disse que não tem problemas você ir morar com ela.

— Gabriela!!

Simplesmente fiquei quieta encarando a senhora Gabriela, minha surpresa não foi tão grande em ela querer me mandar morar com a minha irmã. Porém a forma direta dela me surpreendeu.

— Morar com a Morgana? — Não consegui formular uma frase coerente de imediato.

— Sim! Ela disse inclusive que já tem um emprego para você, já havia falado com o Alex sobre isso, porém agora, depois de oito meses e sem emprego, acho-lhe uma ótima opção.

Estando cansada demais, com o psicológico ainda mais fodido, tanto para discordar ou concordar com ela, apenas me levantei seguindo em direção à pequena escada, respirei fundo e sentenciei:

— Tudo bem, irei morar com a Morgana.

Já tem um emprego para mim? Só espero que não seja nada no ramo da pornografia. Nada contra quem faz, porém não nasci para estrelar filmes pornôs. Minha irmã sendo dona da PleasureScreen, uma produtora de filmes pornôs, apenas penso no que isso tudo vai dar.

Meus pensamentos não são tão otimistas quanto deveria ser.