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História Reversível - Recaída


Escrita por: injunland

Notas do Autor


[LEIAM]
ei galera! bem, logo no início do capítulo vocês podem ver algo em itálico. essa parte é um sonho e este sonho é bem triste, então se não estiverem no seu melhor humor ou forem do tipo que se abalam facilmente, e acharem que não devem ler, não leiam. eu não acho que tenha algo que vá botar algum de vocês em uma crise ou algo do tipo, mas cada pessoa é diferente, e eu definitivamente não quero deixá-los mal.

fora isso, bem, eu juro que esse capítulo não vai terminar tão angst como começa :)

Capítulo 9 - Recaída


Me sentia em um inferno. Revivendo toda aquela situação. Ouvir a notícia de sua morte. Sentir meu peito queimar, minhas pernas fraquejarem, escutar o meu próprio grito cheio de dor e desilusão. Minha mãe igualmente angustiada, contudo, mais controlada; mesmo naquela situação teimava em querer ser meu porto segura, mas caralho mãe, não tem como eu me sentir melhor. 

Meu pai morreu. Eu não vou escutar sua voz de novo, ou o abraçar. Não o terei implicando incansavelmente comigo, ou me levando pra sair pra qualquer lugar. Não conversarei mais sobre meu passado ou presente ou, principalmente, futuro. Não jogarei mais basquete com ele, não tocarei mais suas músicas favoritas para ouvi-lo cantar, mesmo que ele não fosse o melhor cantor, não o ajudarei mais com as coisas da igreja. Não o fotografarei mais. Porque ele está morto. Simplesmente morto. 

Corri pra longe de tudo e todos, sem dar satisfação a ninguém: apenas corri até sentir com que meus pulmões queimassem com tudo, até que eu enfim pudesse gritar todo meu desespero sem com que fosse julgado naquela rua deserta. Sentia-me solitário, mas não queria companhia. Só se fosse a de meu pai. 

Corri mais, cai no chão. 

— Pai! — Chamei alto, me sentando tão rapidamente na minha cama que fiquei tonto. Estava completamente suado, mesmo que a madrugada não estivesse quente, meu rosto era uma confusão de lágrimas. Senti-me vazio por um longo tempo. Jaemin não dormiu durante aquela semana inteira ali, mas ali, naquele instante, gostaria muito, porque não estava em condições de ficar sozinho e acordar a minha mãe estava fora de cogitação. 

Chorei que nem um bebê. Não era comum eu chorar muito; normalmente não passava de olhos ardendo ou algumas poucas lágrimas debruçadas. No entanto, não foi o que aconteceu naquele momento. Chorei muito, lágrimas grossas que pareciam me cortar por dentro, soluçando, abraçando o meu próprio travesseiro numa tentativa de me acalmar, que falhava miseravelmente. 

Faziam meses que não chorava daquela forma. Sempre acontecia daquela forma: eu sonhava com o dia em que tudo aconteceu, me sentia lá de novo, desde o momento da despedida, desde o momento em que caí no chão e me ralei todo. 

Estava agoniado e me sentia sozinho e incapaz de fazer qualquer coisa. Como se magicamente todo o meu progresso, todos os meus pequenos passos dados bastassem apenas de uma maldita sequência de imagens para ser jogado com força a estaca zero. Como sempre.

Naquela madrugada não me acalmei. Eu dormi chorando.

[...] 

Ao acordar novamente algumas horas depois para ir ao colégio, me dei conta que dia 29 de abril estava próximo. Mais um dia 29. Seriam 9 meses que ele tinha partido. Quis faltar e chorar o dia inteiro, mesmo que a data em si ainda não tivesse chegado, mas a única coisa que fiz foi pegar dinheiro e deixar um bilhete avisando minha mãe que não retornaria para o almoço. Não queria ficar em casa. 

Eu estava em pedaços e até mesmo a minha aparência cansada poderia facilmente me entregar. Tinha olheiras de quem não dormiu bem, olhos vermelhos e cansados e uma feição nada feliz no rosto, e talvez por isso tantas pessoas me olhassem confusos, inclusive meus amigos. 

— O que aconteceu? — Donghyuck me perguntou baixinho, acariciando meus cabelos, quando eu me sentei em minha mesa, após ter deixado minha mochila no lugar de costume. Praguejei mentalmente, porque sabia que faltava pouco pra eu chorar de novo. 

— É por causa de domingo que vem? 

— É sim, Jaemin. E eu tive aquele pesadelo de novo. 

O Lee mais novo pareceu se situar em seguida. Ele se agachou para me encarar, já que tinha os olhos cravados no chão, e sorriu pequeno, tentando transparecer sua positividade. Apesar da boa tentativa, aquilo não tinha melhorado meu humor, mas ao menos soube que não precisava passar por aquilo sozinho, e foi justamente aquilo que ele me disse no momento. 

— Sabem que não sou muito de falar isso, mas eu amo vocês. — Falei. — Obrigado por me apoiarem mesmo já tendo passado tantos meses. 

— Nós vamos te apoiar mesmo que se passem anos, Jeno. — Donghyuck retornou a falar. — Por que não ficou em casa hoje? 

— Eu quis, mas acho que no final seria pior. Sabe, olhar pra todos os lugares e me lembrar de situações que já vivi com ele. Ver meu pai em todo canto de todas as formas. — Suspirei tão pesado quanto me sentia. Jaemin mesmo que desconfortavelmente, por conta da mesa que nos separava, me abraçou. 

Me senti inútil. Estava superando tão bem, seguindo em frente, pensando no que poderia voltar a fazer, para então ter aquele pesadelo. Aquele maldito pesadelo, culpado por sempre me derrubar, me destruir e por me fazer reviver aquele dia que mais gostaria de esquecer, do dia que faria questão de apagar, mesmo que então minha história tivesse alterações, mesmo que ela não fizesse mais sentido. Afinal, qualquer coisa é melhor do que se lembrar do momento de que você perdeu o seu lar. 

De reflexo via Huang Renjun me encarando, mas não o fiz de volta. Não tinha estabilidade para me mostrar tão quebrado para ninguém, ou dar satisfação para alguém que não devia, por mais rude que fosse. Queria ter o meu momento de luto, mesmo que fosse a milésima vez, em paz. 

Quando nosso professor de geografia entrou na sala, praguejei porque não tinha lembrado Jaemin de imprimir o trabalho como ele tinha me pedido, mas felizmente ele por si tinha o feito. Após ele recolher todos os trabalhos, pedi para ir ao banheiro, mesmo que fosse a primeira aula e isso fosse contra a regra da escola. Ele jamais deixaria, no entanto, o meu estado de derrota provavelmente o fez perceber que eu definitivamente não estava bem. 

Lavei o meu rosto, encarei o meu reflexo, me xinguei de todos os nomes possíveis. Me achei tão fraco e vulnerável que me odiei. Só queria que aquele dia se findasse. Os únicos lados positivos daquilo tudo era perceber que eu não era mais acostumado em ter dias com aqueles, porque a sensação de incomodo me torturava insanamente; e que meus amigos eram maravilhosos — mesmo que disso eu já soubesse. 

[...] 

Não desci para o intervalo. Não queria ver mais pessoa das que tinha visto. Queria apenas aproveitar a minha solidão, por mais negativa que ela fosse. Eu tinha a péssima mania em momentos de queda como aquela procurar ficar sozinho; aquilo de nada me ajudava, mas insistia com o pensamento que talvez assim pudesse organizar meus pensamentos para lidar melhor com aquilo. Não adiantava, minha cabeça ficava quebrando mais e mais coisas. 

— O que aconteceu, Lee Jeno? — Uma voz surgiu perto de mim, que estava com a cabeça deitada na mesa. Sabia a quem ela pertencia e que estava no lugar de Donghyuck. 

— Estou num dia ruim. — Respondi simplista, não queria comentar sobre o que fazia o meu dia ser do jeito que estava sendo. 

— Sabe. — Colocou a mão em meu braço e só então eu abri meus olhos para encarar Huang Renjun. Ele desajeitadamente acariciou-o com seu polegar. — Acho que hoje é um bom dia pra eu te pagar o seu café. Minha mãe sempre me diz pra eu tomar alguma coisa quentinha pra acalmar o meu coração quando eu estou triste. 

— Você sabe que café não serve exatamente pra acalmar alguém, certo? 

Ele sorriu levemente ao perceber a ironia da frase e do convite. Quase sorri junto, mas não o fiz. Ele recuou e eu mentalmente pedi para que ele voltasse com o toque, porque ele sim tinha acalmado o meu coração. 

Huang Renjun realmente tinha efeitos sobre mim. Aquilo era perigoso.

— É, parando pra pensar, isso foi meio idiota. Mas em toda cafeteria vende chocolate quente. E doces. 

— Obrigado, mas não quero te atrapalhar. 

— Eu não iria sugerir algo que fosse me atrapalhar. — Insistiu. — Vamos lá, eu estou vendo que você está com algum problema. Não estou pedindo pra contar o que é ou algo do tipo, só pra me deixar tentar te ajudar ou pouco. Ninguém merece ficar triste. 

Não consegui me segurar e sorri. Bem pequenininho e discreto, mas sorri. Ele era incrível. 

— Tá bom. Mas só se me prometer que quando estiver triste, vai me deixar te ajudar também. 

Tudo bem. 

[...] 

Quando chegamos na cafeteria escolhida, mandei uma mensagem para Jaemin avisando onde estava e com quem. Ele ficou um pouco enciumado e senti isso pelas respostas que me deu, provavelmente por eu ter negado ir para casa dele quando ele sugeriu aquilo, ainda na escola. 

Eu não tinha culpa, Renjun tinha sido mais rápido com o convite. 

Sentamos próxima a uma janela, o lugar estava meio vazio, talvez por não ser muito frequentado em horário de almoço, mas mais ao final de tarde. Olhamos o cardápio e fizemos nossos pedidos. Ficamos quietos. 

— Vai ser sempre assim? A gente começa olhando um pro outro sem dizer nada? — Sorriu, puxando o assunto. Retribui o gesto. — Sabe, eu acho que é um desperdício ir a uma cafeteria e pedir um Americano. 

— Por que? 

— É café diluído em água, sem açúcar nem nada. Com certeza dá pra fazer em casa. 

— E chá é o que? — Respondi, sorrindo pequeno, mas meio arteiro. — Ervas diluídas em água. A gente está pagando pela mesma coisa. 

— Mas tem chá de várias coisas que você não acha pra fazer no mercado, ou são extremamente caros. Café é café, se você quer um americano, é mais fácil fazer. — Rebateu e eu suspirei. — Renjun um. Jeno zero. 

Ri, negando com a cabeça. 

— Tá bom, senhor “eu estou certo”. Já entendi que chá é melhor que café pelos trinta e sete motivos diferentes, mas continuo preferindo ficar no meu americano, que é feito com expresso, então é mais difícil. — Ri. — Sinceramente, nunca vi um adolescente tão obcecado por chá como você Renjun. 

— Não tem bebida melhor que chá. — Sorriu. 

— Se você diz. — Dou de ombros. — O que mais gosta? Sabe, além de chá e desenhar? 

Parou pra pensar, seriamente, e me peguei analisando o quão bonito ele estava ali, naquele momento. O cabelo escuro um pouco grande, e sua franja querendo cair nos olhos, somado ao seu olhar perdido, que tentava buscar uma resposta. Me encarou de volta e bebericou sua bebida, antes de retornar a falar. 

— Andar. 

— Andar? 

— É, sabe, caminhar pela rua, sem ter nada pra fazer, ou um lugar pra ir. Gosto de fazer isso pra poder pensar, botar a cabeça no lugar, relaxar... Com música também é ótimo. — Comentava enquanto encarava a rua, através da janela, até que retornou o seu olhar pra mim, bruscamente, o que foi engraçado, mas não ri. — E de estudar. É estranho falar que gosto de estudar?  

— Pra mim? Um pouco. Não é como se eu odiasse, mas eu também não gosto. — Falei, antes de dar mais um gole no meu americano. — Digo, não chego em casa e vou estudar porque gosto. Estudo porque eu preciso. 

— Estudar me desvirtua da realidade. — Falou, um pouco reflexivo. Franzi o cenho, tentando chegar ao ponto em que ele queria. 

— Como assim? — Perguntei ao perceber que ele não falaria mais nada. 

— A realidade pode ser um cruel. Por exemplo, hoje você está triste, certo? Estudar me faz esquecer o motivo pelo qual estou triste, porque tenho que focar naquilo que estou aprendendo ou revisando... — Seu semblante se fechou um pouco.

Engoli seco. O clima ali estava ficando um pouco sombrio. Por um momento, quando vi o olhar de Huang Renjun normalmente neutros ficarem tristes, o notei vulnerável. Quis perguntar o que acontecia para o deixar assim, mas covardemente, apenas contornei o assunto. Aquilo também poderia se tornar contra mim, contra o motivo pelo qual estava tão mal naquele dia. 

— Acho que se eu quiser escapar de algo vou ir jogar basquete. Ou iria. É, é o que faria. — Sorri pequeno, tentando transmitir um pouco de segurança pra ele. 

— Oh! — Rapidamente seu olhar voltou para o costumeiro. — É verdade. Por que parou de jogar? 

— Como sabe que- 

— Eu posso ser bom em muitas matérias, mas definitivamente não em Educação Física. O professor sempre ficava falando no meu ouvido que eu deveria ser um pouquinho como você, que você era o exemplo da nossa sala... — Olhou para o copo, provavelmente já vazio, não saberia, afinal ele era de papel e tinha uma tampa de plástico colorida, não me permitindo observar o que tinha dentro. — Mas ele parou de falar sobre isso. Além de que você é Lee Jeno, o garoto que o time de basquete sonha em ter. 

— Não sabia que ligava pro time de basquete. 

— Não ligo. — Me encarou. 

Sorri pequeno, quis me controlar, mas não pude. 

— Entendi. Presta atenção em mim mesmo. 

Ele arregalou os olhos, levantando as mãos e sacudindo elas freneticamente, enquanto também balançava a cabeça para um lado e para o outro, negando, igualmente fez na minha casa uma vez. Com uma voz um pouco nervosa e constrangida disse: 

— Não! É que, tipo, o time de basquete é m-muito- 

— Ei. — Interrompi, ele ainda me olhava com os olhos um pouco assustados. — Eu estou brincando, Renjun. Me desculpa, foi um pouco de mau gosto, porém não consegui me controlar. 

— Ah. — Pareceu se acalmar, lentamente abrindo um sorrisinho. — Tudo bem. Eu que não peguei a brincadeira. 

Não sei por quanto tempo a mais ficamos naquele lugar. Sei que quando saímos, quis pagar e ele não deixou, se dizendo um garoto de palavra e coisas assim. Caminhamos um pouco pela rua, lentamente, até chegarmos no ponto em que precisaríamos ir por caminhos diferentes. 

Renjun parecia tão pequeno perto de mim, apesar de que eram apenas alguns centímetros de diferença. O fato de que ele era bem magro também contribuía com aquilo. Involuntariamente, ao me lembrar dos seus olhos tristes, senti vontade de protegê-lo. Reparei também no quanto ele era bonito, como de costume. Qualquer um poderia reparar naquilo sem nenhum esforço, era inegável: o Huang era absolutamente lindo. 

Desejei o abraçar, contudo me contive a apenas levar minha mão direita ao seu cabelo castanho escuro e que era tão macio quanto eu pensava. Ele se constrangeu, mas não impediu o meu toque até que eu mesmo o sessasse. Foi um momento curto, mas que me deixou com o coração um pouco aquecido. Ele sorriu após um tempo. 

— Obrigado. Por ter me pagado um café e me animado também. 

— Eu que agradeço, acho que precisava disso também. Não de café, porque chá é bem melhor, mas de companhia. 

Revirei os olhos, mas ri. Ele era bem implicante quando queria. 

— Até. 

Até. Porque Huang Renjun era imprevisível e dia ele estava aqui e no outro ele sumia, quase como se fosse invisível. Ele me retribuiu da mesma forma, e seguimos nossos caminhos agora solitários.

Não podia dizer que estava feliz. Aquilo definitivamente não me descrevia; a dor no meu coração ainda queimava. O que me denominava naquele momento era calmaria, e eu estava completamente grato pelo chinês mesmo não sendo tão próximo de mim ter se esforçado para melhorar mesmo que minimamente o meu dia.


Notas Finais


e aí, o que acharam?
espero que estejam gostando da fanfic, e bem... agora vocês tiveram uma palinha da amargura que o renjun sente, se é que isso seja algo da qual vocês estejam com vontade de ver k

até o próximo capítulo <3


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