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História Reviving Feelings - Por Amor


Escrita por: SatsukiMari

Notas do Autor


Hello pessoas lindas do meu core!
Como prometido, aqui estou eu com mais um capítulo, e agora de volta as atualizações semanais.
Não sei se todos lembram, mas há uns dez capítulos atrás eu prometi aqui que faria um especial dedicado unicamente ao Neji devido ao fato de ele ser um personagem bugado sentimentalmente e incompreendido hauhsauhsuahsa, pois bem, eu tinha a intenção de fazer uma one paralela, mas eventualmente mudei de ideia e acabei incluindo aqui mesmo, e é esse capítulo aqui!
Sim amores, um capítulo inteiro dedicado ao Neji, para explicar o lado dele hahahhah
Enfim, espero que gostem.
No mais, boa leitura!

Capítulo 30 - Por Amor


Neji lembrava-se vagamente da última vez que havia conversado com meu pai. Ele nunca fora ausente, pois sabia que o filho teria que lidar com a falta da mãe que nunca conheceu, mas que o amou até seu último suspiro de vida.

Pai e filho haviam combinado de jantar fora em comemoração pelas notas altas do garoto no colégio. Mas naquela noite, como em muitas outras, Hizashi teve uma emergência no hospital e precisou cancelar o compromisso. Neji não conseguiu dormir até que ele finalmente estivesse em casa, e isso aconteceu as três da manhã. Como de costume, Hizashi foi até o quarto do filho e se deparou com a visão mais triste que já presenciara: Neji se encontrava com os olhos inchados devido ao choro. Porém, quando o garoto viu a expressão de tristeza e remorso estampada no rosto de seu pai, ele sentiu uma vontade ainda maior de chorar.

Ele se desculpou e prometeu que compensaria o filho com um novo vídeo game e que no dia seguinte ele estaria de folga e passariam todo o dia juntos, e assim aconteceu. Neji e Hizashi fizeram tudo que o garoto desejava, comeram no restaurante que Neji escolheu, foram em um parque de diversões e ele ganhou o vídeo game que tanto desejava. No fim da tarde, Hizashi precisou retornar ao hospital, e mais uma vez ele se desculpou com o filho, dizendo que esses eram os deveres de um médico e que ele precisava salvar a vida de alguém, foi então que Neji, um tanto irritado, perguntou a seu pai.

– Eu odeio que você é um médico. Eu também vou ter que ser médico, papai? Porque eu não quero.

Hizashi apenas gargalhou antes de responder a pergunta da criança, e a resposta que recebera foi algo que Neji jamais esqueceu.

– Meu filho, em nossa família sempre tivemos essa tradição passada de pai para filho. Sua prima estuda desde nova para isso, já que ela é a principal herdeira. Mas eu nunca te obrigaria a fazer algo que não quisesse.

– Papai, por que o senhor quis ser médico se precisa trabalhar tanto? – Hizashi divertia-se com as perguntas inteligentes e elaboradas feitas por Neji, perguntas essas que acabavam sendo complexas demais para virem de uma criança da idade de seu filho.

– Nunca parei para pensar exatamente no que me fez ser médico filho, além das tradições familiares. Mas posso te dizer uma coisa, se eu sou o médico que sou hoje, é por amor.

Aquilo foi confuso para que uma criança – mesmo sendo tão inteligente como Neji era – pudesse entender naquela época, mas hoje ele finalmente entendia o significado das palavras de seu pai.

No dia seguinte, Hizashi precisou fazer uma viagem de trabalho juntamente com seu irmão e um de seus principais sócios, Namikaze Minato. Naquela noite, a forte tempestade acabou causando insônia no pequeno Neji, que só conseguia pensar em seu pai. No meio da madruga, uma grande agitação teve inicio na propriedade de Hizashi e Neji. E na manhã seguinte, aquela criança soube que nunca mais veria seu pai novamente.

Após tal tragédia, Neji que agora era órfão de pai e mãe, passou a viver sob a custódia de seu tio Hiashi. Quando ele deixou o hospital, decidiu confrontar o sobrinho e lhe pedir perdão por não ser capaz de salvar seu irmão, e prometeu que mesmo sendo incapaz de substituí-lo, ele daria o seu melhor para que Neji tivesse uma vida feliz. O garoto sequer reclamou ou contestou, ele sabia que tudo que havia acontecido não era culpa de seu tio e que ele cumpriria sua promessa, mas nada disso jamais sanaria a dor que sentia naquele momento.

Neji passou a conviver muito mais com suas duas primas, em especial Hinata, cuja diferença de idade entre os dois era de pouco mais de um ano. Ela possuía algo em especial que não agradava o garoto, porém, ele nunca soube explicar. Mas, foi quando a maturidade finalmente lhe atingiu, ele finalmente conseguiu compreender o sentimento que era responsável por todo o desprezo que sentia.

Durante sua infância, Neji sempre questionava seu pai sobre sua mãe, e estava acostumado a ouvir apenas coisas boas sobre a mesma, o que me proporcionava um sentimento de orgulho e satisfação em seu coração tão puro. Ele sempre dizia que mesmo não estando presente, ela o protegeria e o amaria, pois ela escolheu a vida de seu filho no lugar da sua sem pensar duas vezes. Quando sua tia, esposa de esposa de Hiashi se foi, ele sentiu seu coração se apertar ao ver que Hinata também seria uma criança órfã como ele.

Quando Neji perguntou ao pai sobre a forma que ela se sentiria, ele respondeu com um pouco de pesar, que seria um pouco mais difícil para ela do que havia sido para seu filho.

– Sabe Neji, infelizmente você nunca teve o privilegio de conhecer sua mãe, de abraçá-la ou ouvir sua voz, apesar de que eu acredito que dentro do seu coração você possa sentir todo o amor que ela tem por você, mesmo não estando mais entre nós. – Hizashi tocou o peito do filho com o dedo indicador enquanto sorria. – Mas para ela, que teve tudo isso, lidar com a perda será muito mais difícil e doloroso, pois ela já estava acostumada a ter sua mãe, ela a conhecia e pôde sentir seu amor de maneira presencial, o que tornará tudo mais difícil para ela. Hanabi se parece mais com você nesse aspecto.

– Eu sei o que é triste não ter a mamãe aqui, mas graças a você eu estou feliz, pois sempre me fez acreditar que ela me ama e sempre vai amar. – Neji abriu um pequeno sorriso, que provocou o mesmo em seu pai. – Será que a Hinata vai ficar bem, papai? Ela vai conseguir entender isso também?

– Não sei, meu filho. – A expressão de Hizashi se tornou um pouco mais triste. – Não vou negar, será muito difícil para ela, e também não sei como meu irmão lidará com isso, pois ele também está muito devastado, mas nós poderemos ajudar, não é mesmo?

– Eu acho que sim. – A criança abriu um largo sorriso. – Podemos animá-la se ela se sentir triste. Eu vou tentar ser amigo dela, papai.

– Eu tenho tanto orgulho de você, meu filho. – Hizashi abriu um sorriso orgulhoso, mas Neji pode sentir o quão próximo dos prantos seu pai estava. – Sei que não quer isso, mas com esse coração tão bondoso, aposto que poderia ser um bom médico.

– Não sei se quero fazer isso. – O garotinho fez uma careta engraçada, arrancando alguns risos de seu pai. – Mas eu gosto de fazer coisas em que eu sou bom, então talvez eu mude de ideia no futuro. – Em meio aos risos, Hizashi sorriu novamente com a determinação do filho.

Assim como havia dito a seu pai, Neji sempre gostou de fazer coisas no qual fosse bom, e por se esforçar e por ter ao seu lado um talento natural, sempre obteve sucesso em tudo que fazia, desde os estudos, aos esportes, até em suas habilidades médicas que desenvolveu durante a faculdade, o que o guiou até o sonho de se tornar um excelente neurocirurgião, assim como seu pai havia sido.

Os planos de Neji de se tornar amigo de Hinata não foram tão bem sucedidos como os outros objetivos que havia criado. Mesmo com a aproximação que tiveram após a morte da mãe da garota, a perda de seu pai foi algo realmente devastador para ele, que acabou se torando um garoto isolado e individualista. Mesmo recebendo o melhor tratamento possível de seu tio, Neji passou boa parte de sua vida tratando-o com formalidades e sempre evitava conversar sobre coisas íntimas, mesmo que em algumas situações Hiashi tentasse estreitar laços com o sobrinho. Em um momento de sua vida, ele se conformou com a forma que o garoto escolheu viver e passou a respeitar isso, mas nunca mudou seu tratamento carinhoso e paternal para com o mesmo.

Neji optou por viver em um casulo de maneira solitária, e tornar-se uma borboleta não era algo que fazia parte dos seus planos. Gostava da forma que havia escolhido para seguir sua vida e permaneceria em sua zona de conforto pelo tempo que achasse necessário. Mas seu coração não havia mudado muito, mesmo vivendo isolado, ele se perdia em alguns momentos observando suas primas. Hanabi crescia e se tornava uma garota alegre e cheia de energia, já Hinata, parecia ter optado por viver como ele, porém, ela sempre parecia mais triste e mais solitária, e essa solidão nunca pareceu proposital, como a dele.

Quando se perde uma pessoa no qual se tem um forte sentimento fraterno, a negação comumente é um dos primeiros sentimentos a virem à tona, e com Neji não foi diferente. Foram vários meses até que ele pudesse finalmente entender e aceitar que seu pai já não estaria mais ao seu lado, e aquilo foi muito mais doloroso do que se despedir de seu corpo. Hiashi fora a pessoa que mais o ajudou a entender e aceitar tudo o que havia acontecido em sua vida.

– Acho que eu não te ajudo muito tendo exatamente o mesmo rosto que o seu pai. – Ele abriu um sorriso triste. – Eu sinto muito por tornar as coisas mais difíceis para você, meu filho. Mas eu não poderia deixar que vivesse sozinho apenas por esse motivo.

– Tudo bem. – Neji suspirou pesadamente enquanto encarava a lua cheia que iluminava aquela noite. – Vocês podem ser iguais para algumas pessoas, mas eu sei reconhecer o que torna você e o papai pessoas diferentes, tio. – Ele soltou uma risadinha baixa ao ver a cara de espanto de seu tio. – Mas eu também não consigo confundir ou associar um ao outro, graças ao fato de que eu conheço bem a essência dos dois para saber que são pessoas completamente diferentes.

– Estou surpreso com o tamanho de sua maturidade, Neji. – Hiashi abriu um pequeno sorriso. – Meu irmão sempre mencionava orgulhoso como o filho era esperto e inteligente, mas só agora consigo ver que ele ainda era pouco modesto quando falava de você. – O mais velho abriu um sorriso acolhedor, e estendeu os braços pelo ombro do sobrinho, e sem diminuir a distancia entre seus corpos, o abraçou da maneira que conseguiu.

– Quero que saiba que eu estou aqui por você. Eu irei ser seu suporte quando as coisas forem difíceis ou quando precisar de algo. Jamais substituirei seu pai, e essa também não é minha intenção. Mas eu darei a você o amor que um pai pode dar a um filho, você será como o filho que nunca tive Neji, então não se chateie se em algum momento eu acabar sendo rude ou exigir muito de você, entenda que, tudo que fizer por você agora será pensando no seu bem e no seu futuro. Você será tratado e amado por mim assim como minhas filhas. – A partir daquele dia, Neji finalmente entendeu que seu pai não se faria mais presente em minha vida, mas mesmo partindo fisicamente, sua alma e seu amor continuariam presentes, cuidando dele através de outras pessoas.

O segundo sentimento que lhe tomou após a perda de seu pai fora a culpa. Neji queria culpar alguém, ele necessitava daquilo para acalmar seu coração que ainda sofria. E a vitima de meu sentimento de amargura fora uma pessoa que futuramente ele veria como a que menos era merecedora daquele fardo. Não que ele considerasse mais alguém para isso, mas ao analisar carinhosamente aquela que havia escolhido após conhecê-la melhor, toda aquela culpa se voltou para si, apenas por ter pensado tão mal de alguém que só lhe desejava o bem.

Tudo começou em um dos aniversários de Hinata, onde Hiashi decidiu realizar uma grande festa. Ele sempre fazia o mesmo pelo sobrinho e pela filha caçula, mas ver a prima tão feliz ao lado do pai causou uma imensa amargura em Neji.

Hizashi também estava naquele carro. Ele havia partido, juntamente com o pai do outro garoto que provavelmente estava sofrendo por não ter uma mãe como Neji e não ter irmãos ou outras pessoas importantes com quem comemorar seus aniversários. Hinata sempre teve muito mais do que Neji, e ainda assim seu pai havia sido o único privilegiado em sobreviver a tal tragédia. O garoto sentia raiva, amargura e inveja apenas por vê-la feliz ao lado de sua irmã e de seu pai, enquanto ele não possuía mais ninguém com que tivesse um laço tão forte.

Naquela noite, ele não conseguiu dormir, ele apenas se entregou aos prantos por se sentir alguém tão odioso por desejar algo de ruim a alguém de sua própria família. Hinata não era um ser humano pior nem melhor do que ele, ela também havia perdido alguém especial em sua vida e o fato de que ainda possuía pessoas importantes não significava que a sua dor fosse menor que a de Neji. Por isso, ele jurou a si mesmo que jamais a veria daquela forma outra vez, e assim o fez, mas o sentimento de arrependimento e vergonha que o inundou após o ocorrido acabou sendo o responsável pela barreira que o impedia de se aproximar da garota.

A aceitação veio logo em seguida, e essa criou o Neji dos dias atuais. Reservado, sério e bastante formal, respeitoso e um grande admirador de sua família. Assim como um dia seu tio havia lhe prometido ser como um pai, ele deu a si mesmo a responsabilidade se ser como um irmão para suas primas, mesmo que os sentimentos que acabara desenvolvendo por Hinata o impedisse de vê-la de tal forma.

Quando Hinata terminou o ensino fundamental, Hiashi tratou de transferi-la para o mesmo colégio em que Neji estudava. Como o mais velho pediu que o sobrinho cuidasse da prima durante a estadia dos dois na escola, consequentemente acabaram se tornando mais próximos, mesmo que a barreira que os afastava ainda existisse. Com a maturidade lhe atingindo, Hinata se tornava uma garota cada vez mais bonita aos olhos de todos, mas sua personalidade tímida, retraída e isolada parecia afastar as pessoas em sua volta, o que incluía Neji, que também não se esforçava muito para criar uma aproximação, mantendo apenas o contato que fosse necessário.

Isso acabou mudando radicalmente quando alguns garotos de sua classe mencionaram durante uma aula de educação física alguns boatos sobre um grupo de garotas ter decidido pregar uma “peça” na garota rica e convencida do primeiro ano. Eles diziam que aquilo era merecido, já que ela não falava com ninguém porque se sentia superior, apenas por ser herdeira de uma das famílias mais ricas do Japão, e por isso se sentia no direito de menosprezar os colegas de classe.

Para Neji, ouvir aquilo tudo havia sido exatamente como ser baleado no peito. Ele torcia para ser apenas um rumor maldoso, ou que se realmente fosse verdade, que a pessoa mencionada não fosse Hinata, mas um pressentimento ruim lhe tomava a cada segundo que ele pensava sobre as possibilidades. Por mais que aquela fosse uma escola frequentada por pessoas de classe alta, não havia muitas garotas que se enquadravam na mesma classe social de sua prima. E pela primeira vez em sua vida, Neji se viu forçado a usar força bruta com alguém, e agradeceu mentalmente a seu tio, por insistir que praticasse jiu-jitsu, modalidade na qual havia se saído muito e bem e que eventualmente, acabou recebendo o título de faixa preta, e isso havia acontecido mais rápido que os garotos que iniciaram no esporte ao seu lado. Infelizmente, para Neji e Hinata, ele acabou conseguindo a confirmação do que mais temia. E para proteger a prima da maldade de pessoas que sequer a conheciam de verdade e mesmo assim preferiram julgá-la tão mal, ele estava disposto a se arriscar e sacrificar sua integridade física e moral.

Como alguém poderia ser tão odioso ao ponto de achar que o comportamento de Hinata era causado por arrogância? As pessoas não poderiam ser tão estúpidas a tal ponto, o que logo o levou a concluir que tudo aquilo não passava de uma desculpa para despejar o ódio em alguém inocente, e tudo isso por uma razão que deixava Neji ainda mais revoltado com toda aquela situação: a inveja.  

Após ouvir os rumores de uma movimentação, ele correu desesperado pelo campus até o pátio do colégio, onde flagrou a cena. Um grupo de garotas intimidavam Hinata, e aquilo vinha chamando a atenção de muitas pessoas que estavam em volta, mas essas pareciam apenas se divertir assistindo. Era revoltante que, todas aquelas pessoas estavam se entretendo com o medo e o sofrimento de uma pessoa, e o que era pior, que isso era causado por um grupo de oito ou mais pessoas. Aquilo era covarde e doentio, e ver acontecer diante de seus olhos com alguém que considerava importante lhe enfurecia de uma forma que jamais havia se sentido antes.

Hinata estava caída no chão de cabeça baixa no cento do círculo de pessoas. De longe, ele conseguiu notar que havia alguns arranhões em suas pernas. Quando uma das garotas apoiou o pé sobre a cabeça se sua prima, que permanecia imóvel, ele sentiu seu sangue pulsar em suas veias e precisou respirar fundo para que se acalmasse e não acabasse fazendo nenhuma besteira, nenhuma pior do que a já pensava me fazer.

– Olha só para ela, toda convencida por causa desse cabelo bonito. O que acha de cortar isso, para ver se ao menos assim esse ego dela diminuí um pouco? – A garota falou. – Ela vai continuar sendo um lixo de pessoa e sempre vai olhar para nós de baixo, então é melhor que ela seja colocada no lugar dela desde já.

Uma garota que filmava tudo fez um sinal para que uma terceira garota vasculhasse sua mochila. De lá, retirou uma tesoura com ponta, do tipo que seria proibido nas dependências de qualquer escola. A mesma garota rapidamente tratou de entregar a tesoura para a garota que mantinha Hinata imóvel, e em seguida, mais duas rapidamente seguraram seus braços e pernas para que ela não se movesse. Mas aquilo não era necessário, pois ela não reagia, sequer parecia se importar com o que estava acontecendo. O quanto ela havia sofrido e Neji não havia notado? Há quanto tempo tudo aquilo estava acontecendo e ela se calou? Ele queria se manter no controle, agir de maneira sensata, mas ao ver a forma como Hinata estava sendo tratada, com tamanha covardia, fez com que todo o seu bom senso fosse mandado para o espaço. Ele só queria tirar sua prima dali e não estava mais ligando se seria necessário machucar alguém para isso.

Neji correu o mais rápido que conseguiu até o círculo de pessoas que estavam em volta de Hinata, afastando bruscamente algumas pessoas que pareciam querer impedir sua passagem, chegando ao ponto de socar dois ou três garotos que pareciam estar dando cobertura para o que estava acontecendo. Outros, ao notarem a violência com que o Hyuuga estava agindo, apenas optaram por se afastar livremente. Quando finalmente chegou ao centro do círculo e conseguiu ver mais de perto o estado em que Hinata se encontrava. Ele cerrou os punhos ao ponto de provocar leves cortes em sua própria pele com as unhas, tamanha a força que usava para conter sua raiva. Rapidamente, segurou ambas as garotas que imobilizavam sua prima e as afastou de maneira bastante brusca, ao ponto de fazer com que se desequilibrassem e fossem ao chão. Em seguida, agarrou com mais força o pulso da que comandava a situação, imobilizando sua mão que segurava a tesoura.

– Me larga! – A garota gritou enquanto se contorcia. E ao notar que estava perdendo o controle de sua raiva, e consequentemente de sua força, Neji retirou o objeto da mão da garota e a afastou. – Você ficou maluco? Olha só para o que fez com o meu pulso!

– E eu pareço me importar? – A expressão cheia de fúria nos olhos de Neji fez com que algumas pessoas no centro recuassem. – Muito hipócrita de sua parte iniciar uma situação como essa e agora se fazer de vitima, não acha?

– Hipócrita? – A garota sorriu debochada, aumentando ainda mais a raiva de Neji. – Essa garota precisa aprender o lugar dela. Se acha demais porque é a mais rica aqui. Mas acho que agora ela já entendeu onde deve ficar.

– Essa é a forma que você encontrou amenizar toda a inveja que sente da Hinata? – Neji esbravejou, assustando ainda mais todos que estavam em nossa volta. Algumas pessoas saíram e outras continuavam a assistir. – Se você está tão infeliz com a diferença social que existe entre vocês, porque não arruma um emprego ao invés de importunar as pessoas? Ou você se sente tão incapaz que tem medo de ser a criada dela no futuro? Ou você apenas não se conforma que sua família nunca será como a nossa? Pensa que não sei quem é você? É a herdeira da família que vem tratando a minha como concorrente no ramo hospitalar, mas pelo visto o fato de que vocês não são vistos nem mesmo como ameaça para nós tem deixado sua família bastante frustrada. Quem mandou você fazer isso? Foi o seu pai ou outra pessoa que achou que algo do tipo poderia atingir os Hyuuga? Ao menos passou pela sua cabeça que nada disso vai mudar a posição social que você e ela se encontram? – Neji respirou profundamente buscando me acalmar. Ignorou por alguns segundos a presença das outras pessoas para que pudesse fornecer suporte a Hinata, ajudando-a a ao menos conseguir se sentar, e foi quando ele se lembrou da segunda garota envolvida naquilo tudo.

Neji pediu para que Hinata esperasse até que ele resolvesse aquilo tudo. Voltou sua atenção para a garota que continuava a filmar, e então sentiu toda sua fúria chegar ao ápice. Caminhou em sua direção e arrancou o celular de sua mão, atirando-o contra o chão com toda força que possuía, fazendo-o se partir em mil pedaços. Garantiu que nada sobrasse pisoteando-o com ainda mais força. O grupo recuou um pouco mais, enquanto outras garotas socorriam a amiga agressora. Neji voltou sua atenção para Hinata, que permanecia imóvel. Acolheu-a em seus braços e então tratou de tirá-la dali, e enquanto caminhava para longe do círculo, ouviu uma nova provocação da agressora.

– Minha família pode nunca chegar a ser tão poderosa como a sua, mas quem é Hyuuga Neji nesse meio? Você por acaso é o herdeiro, ou só mais uma peça de xadrez que vai ser usada enquanto for conveniente? – Neji cessou os passos. – Será que quando não tiver mais utilidade para seu titio, ele também vai te mandar para a vala assim como fez com seu pai? – Neji precisou respirar fundo diversas vezes tentando manter a calma, mas tudo parecia ser em vão. Estava prestes a responder, mas quando sentiu os dedos pequenos de Hinta apertarem o tecido de seu uniforme, ele voltou a si.

– Por favor, Neji. – Ela dizia em tom de súplica. – Não responda, apenas me tire daqui, por favor.

Hinata implorou para que Neji não relatasse sobre o ocorrido para ninguém na escola, pois ela tinha medo da forma que seria vista pelos demais alunos e como isso poderia piorar sua situação ali. Ele consentiu a contragosto, mas ao menos estava disposto a fazer algo a seu favor.

Neji decidiu relatar todo o ocorrido para seu tio, e este sentiu uma imensa culpa por não se fazer presente o suficiente na vida de sua filha ao ponto de conhecer seus problemas na escola. Em consequência disso, ele também não conseguiu se aproximar de Hinata para que pudessem conversar sobre o ocorrido, e apenas pediu para que Neji cuidasse dela daquele dia em diante. Ele também realizou o desejo da filha de não envolver a direção da escola no ocorrido, mas Hiashi nunca fora do tipo piedoso para com aqueles que entrassem em seu caminho, mas ao mesmo tempo não era alguém corruptível e injusto. Por já desconfiar de algumas falhas criminosas envolvendo a família da garota agressora, que vinha a tempos tentando prejudica-los, mas que sempre eram frustrados e ao mesmo tempo ignorados por não representarem uma ameaça aos Hyuuga, ele decidiu iniciar uma investigação particular na empresa, buscando irregularidades que pudessem acabar com seus negócios. O resultado foi algo muito maior do que ele esperava, e aquilo fora o suficiente para colocar inúmeras pessoas na cadeia e fechar as portas de todos os hospitais que pertenciam a essa família.

Hiashi nunca conseguiu falar sobre aquilo com Hinata, mas aquela fora a forma que encontrou de ser solidário com a filha e também com Neji, que vinha sendo responsável por cuidar dela.

Aquela nunca seria a melhor forma que poderia ser usada, mas positivamente acabou torando Neji e Hinata mais próximos do que nunca. O mais velho passou a acompanhá-la e ajuda-la cada vez mais. E a relação dos dois evoluiu de algo girava em torno apenas de ajuda. Eles se tornaram amigos, cúmplices e confidentes. Hinata nunca se aproximou de mais ninguém na escola por medo do que aconteceria, em contrapartida, estar ao lado de Neji lhe proporcionava uma segurança imensa, ao ponto de sequer perceber o que acontecia em sua volta. Com o passar do tempo, os sentimentos se fortaleceram, amadureceram e ela finalmente concluiu que tudo que guardava em seu coração em relação ao mais velho se tratava de amor, mas não o amor fraternal que foram ensinados a sentir um pelo outro, era algo muito mais forte, mais intenso, e sem nenhuma ligação ao laço familiar que possuíam.

Mas era o laço que parecia corromper o sentimento que Hinata começava a entender e aceitar, era o laço que sua família havia criado que os afastava, que a fazia acreditar que aquele amor era tão errado. Neji havia sido praticamente criado por seu pai, e este repetia sempre que possível que o garoto era como um filho que nunca teve e assim o trataria por toda sua vida. Neji e Hinata nunca se enxergaram como irmãos, passaram toda a infância e boa parte da adolescência distantes, e quando finalmente se tornaram próximos, enxerga-lo de tal forma era algo que ela não conseguia mais, pois já era tarde. Ele havia ocupado um lugar em seu coração que um irmão jamais poderia ocupar.

Neji não era seu irmão, e ela nunca seria capaz de vê-lo de tal forma. Ela sentia mais, ela queria muito mais. Mas, ela também sabia que seu querer nunca seria suficiente, pois a irmandade ainda existia aos olhos de quem os criou, e aquele sentimento, se revelado e correspondido, seria completamente repudiado.

Por isso, Hinata decidiu se calar. Até o dia que se encontraram na praia.

Mas, o que Hinata nunca soube, era que assim como ela, os sentimentos de Neji também se desenvolveram da mesma forma.

Seu instinto protetor se tornou algo mais, até que ele também fosse capaz de reconhecer aquele sentimento como amor.

E assim como Hinata, ele também sabia sobre a realidade que aquele amor carregava, e as consequências que existia caso ele se revelasse e fosse correspondido.

Por isso, Neji decidiu se calar, e mesmo diante da confissão que tanto sonhou ouvir, mesmo após sentir seu coração arder em alegria por ser correspondido, ele ainda continuou calado.

O que mais lhe doía era saber como Hinata sofreria com a rejeição, e se fosse possível, ele sentiria toda a dor que ela estava sentindo por sua culpa, mas a esperança de que alguém pudesse fazer com que ela o esquecesse inundou seu coração, porque ele apenas desejava que ela estivesse feliz e segura, mesmo que ao lado de outra pessoa.

Por isso ele foi até Naruto quando viu a forma que ele olhava para Hinata. Neji se viu em Naruto, que parecia tão admirado e apaixonado. Mas havia algo naquele garoto que não o agradava, e por isso Neji decidiu confrontá-lo e revelar seus sentimentos, pois para ele seria uma boa forma de ajuda-lo a amadurecer.

E assim como havia planejado, as coisas aconteceram. E ver Hinata tão feliz e tão apaixonada nos braços de outro homem doeu muito mais do que ele poderia imaginar.

E lá estava o velho Neji egoísta, desejando que as coisas não dessem certo, que aquela relação não durasse muito e que Hinata reconhecesse que não gostava de Naruto o suficiente para levar aquilo adiante. Neji se sentiu a pior pessoa do mundo por pensar daquela forma. Ele sentia que estava traindo Hinata ao lhe desejar algo de ruim, sentiu também que estava traindo Tenten, sua namorada e também melhor amiga, que era a única pessoa com quem teve coragem de falar sobre seus sentimentos, além de Naruto – isso tudo antes de ingressarem em um relacionamento – e ainda assim levar a diante um namoro com uma pessoa que talvez nunca pudesse retribuir seus sentimentos da mesma forma que ela os oferecia.

Neji era capaz de reconhecer onde seus pensamentos poderiam o levar, e desejou nunca mais sentir algo parecido, pois a culpa que o tomou ao ver Hinata diante dele se entregando aos prantos foi algo que fez seu coração se rasgar em mil pedaços.

Hinata estava chorando em seus braços por outra pessoa que ela amava, assim como ele havia desejado que ela amasse, em seguida havia desejado que tudo acabasse. Neji se sentia culpado por isso, e ao mesmo tempo sofria por ver a mulher que amava declarar seu amor por outro. Mas, ela ainda precisava ser o Neji que havia salvado Hinata das pessoas que desejavam machuca-la. Ele precisava abandonar aqueles sentimentos e voltar a ser apenas o protetor que ela precisava.

**

Neji retornou da cozinha de sua casa com uma pequena bandeja, nela, havia algumas xícaras e um pequeno bule de chá. Sentou-se ao lado de Hinata na sacada de frente ao jardim, serviu uma das xícaras e a estendeu para Hinata. Ela abriu um sorriso agradecido e aceitou.

– Pelo visto se acalmou um pouco. – Ele a analisava enquanto apreciava seu chá. – Como se sente?

– Eu não sei bem... – Hinata disse em um tom quase inaudível enquanto analisava os próprios pés.

– Bom... – Neji suspirou pesadamente antes de bebericar um pouco de seu chá. – Se não se importar, eu ficarei aqui ao seu lado, então caso queria conversar sobre o que aconteceu com você, eu estou a disposição.

– Neji... – Ela disse ainda em um tom de voz baixo. – É que isso é tão complicado...

– O que é complicado? Falar sobre amor comigo? – Neji soltou um riso baixo. – Hinata, não existe nada de complicado nesse mundo, somos nós que complicamos tudo. Até alguns dias atrás não havia nada que não conversássemos, então não pense que por uma coisa ou outra que aconteceu isso vai mudar, ao menos para mim não. Se você se sentir confortável o suficiente, eu estarei sempre aqui para te ouvir.

– Independente do que acontece, você sempre torna tudo tão leve. Acho que não existe nenhuma pessoa nesse mundo que faz eu me sentir tão aberta ao diálogo como você. – Hinata abriu um sorriso gentil para o primo, que o retribuiu na mesma proporção.

– Então pode falar o que quiser, eu estarei aqui para te ouvir te ajudar no que for possível, e se for impossível, eu farei o que posso para tornar possível.

– Acho que as coisas ficaram meio confusas quando eu cheguei aos berros aqui dizendo que amo o Naruto. – Ela gargalhou baixo. – Acho que eu não sei como começar a explicar isso...

– Você pode começar da noite de ontem, que eu duvido muito que você tenha dormido na casa da Ino, certo? – Neji riu discretamente ao notar o rubor no rosto de Hinata, além de sua expressão de choque e constrangimento.

– N-não é nada disso Neji, as coisas não aconteceram assim! – Ela dizia um tanto exaltada, fazendo o rapaz rir ainda mais. – I-isso não estava nos meus planos...

– Hinata... – Ele a interrompeu, ainda aos risos. – Você é uma mulher adulta e tem o direito de fazer o que bem entender, então não tem que se preocupar em explicar como as coisas aconteceram, tudo bem? – Ele pigarreou para que pudesse se recompor. – Agora, voltando ao ocorrido; considerando que você esteve com o Naruto durante a noite, você deveria estar mais feliz que isso. Então, o que aconteceu para que ficasse assim?

– A Shion apareceu na casa dele hoje de manhã. – Hinata respirou fundo algumas vezes após proferir aquelas palavras. Seus punhos semicerrados pressionavam o tecido fino da saia que utilizava.

– Como é que é?! – Neji perguntou exaltado. – Isso significa que eles ainda estão juntos? O Naruto estava com vocês duas ao mesmo tempo?

– Não, não é nada disso! – Hinata tentou acalmar o primo. – Eles terminaram faz muito tempo, mas ela possuía uma cópia das chaves da casa dele, que nunca foram devolvidas. Hoje de manhã ela decidiu fazer uma surpresa para tentar reatar o namoro, mas eu estava lá.

– E o que o Naruto fez?

– Ele a mandou embora, me pediu perdão, mesmo que aquilo não fosse exatamente culpa dele, mas isso não resolveu meu problema.

– Mas qual é o seu problema?

– Insegurança, Neji. – Hinata mordeu o lábio na tentativa de conter o choro. – Eu estava tão deslumbrada com as coisas dando tão certo para nós, que esse detalhe sequer havia passado pela minha mente, mesmo depois que conversamos sobre isso. E hoje, quando as coisas pareciam mil vezes melhor do que antes, eu recebo esse balde de água fria na cabeça. Eu estou com tanto medo, tão assustada, que eu nem mesmo sei como agir perto do Naruto. Eu não sei se ele vai querer continuar com isso, se ele vai desistir de mim e tentar reatar com ela. Como eu posso competir com um relacionamento de tantos anos?

– Mas vocês não estão namorando? – Neji perguntou.

– Bem... – Hinata suspirou decepcionada. – Oficialmente, não. Quer dizer, nós estamos juntos já faz algum tempo, mas nunca conversamos sobre isso.

– E por isso você está se sentindo insegura com a relação que estão tendo, certo? – Hinata assentiu e Neji suspirou antes de continuar. – Olha Hinata, eu sei muito bem que nós fomos criados em meio a tradições muito rigorosas e o tio Hiashi preza muito em preservá-las, mesmo sendo bastante antiquadas nos dias de hoje. Só que, existem pessoas que sequer consideram coisas do tipo, você entende? É possível que, enquanto você espera o Naruto fazer um pedido formal para acreditar que estão mesmo namorando, na mente dele isso já esteja oficializado desde a primeira vez que se beijaram, então não há razão para se sentir insegura, não por isso. Em contrapartida...

– Eu estou com medo do que virá agora. – Hinata parecia assustada, mas Neji sabia que era importante que ela passasse por isso.

– O que o Naruto demonstra quanto aos seus sentimentos? Ele diz algo?

– Ele disse que me amava. Foi uma vez, mas eu senti que foi tão sincero, e aquilo me fez tão bem. – Hinata abriu um sorriso deslumbrado e aquilo partiu o coração de Neji em mil pedaços. Mas ele precisava suportar, era a escolha que havia feito. Engoliu em seco e fingiu um sorriso de alegria.

– Então não tem porque estar insegura. – Ele sorria de maneira consoladora. – Se você sentiu que as palavras dele foram sinceras, você deve se prender a isso. Não deixe que coisas do passado interfiram. Se algo te incomoda, não existe nada melhor do que conversar com ele sobre isso. Nós homens não somos tão espertos quando o assunto é amor, por mais inteligentes que possamos ser em outros aspectos da vida. – O tom descontraído que Neji utilizava provocou algumas gargalhadas em Hinata, e aquilo de certa forma aqueceu seu coração ferido. – Então não hesite em falar tudo que sente para ele, seja sempre sincera, não guarde nada para si. Isso vai fortalecer a relação de vocês, além de aumentar a confiança que possuem um no outro.

– Acho que eu sei por que toda vez que eu estou com algum problema me sufocando, eu sempre corro até você. – Hinata abriu um sorriso sereno. – Você sempre diz a coisa certa. Estou muito feliz que nada tenha mudado entre a gente.

– As coisas nunca vão mudar entre nós, Hinata. – Neji retribuiu o sorriso, enquanto acariciava o topo da cabeça de Hinata. – Eu sempre estarei aqui, e sempre serei o seu melhor amigo.


Notas Finais


Semana que vem volto com mais.
Um beijo e até quinta :*


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