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História Rewind - Segunda linha temporal


Escrita por: elyxionir

Notas do Autor


eu falei que nao ia atrasar nas atualizações, mas a culpa foi desse site que nao tava indo desde domingo, mas veio.

Capítulo 3 - Segunda linha temporal


  Senti como se tudo a minha volta fosse desaparecer, as árvores giravam e a ponta dos meus dedos formigavam, meu coração parecia afundar no peito, como se algo com garras grandes e afiadas o perfurasse.

Oh Sehun.

Sempre via esse nome na minha lista de contatos do meu celular, nunca mandava mensagem mesmo com a saudade me consumindo, acreditava que iria atrapalhar alguma coisa, por isso apenas pegava meu primeiro álbum de fotos e lembrava de nossa infância, enquanto pensava o quanto tudo era simples quando não sentia culpa.

Nos conhecemos no jardim de infância, ele era tímido, maior que eu e bem pálido, era bem difícil ouvir sua voz, fazia 3 horas que ele tinha chegado na sala e nem um sorriso eu tinha visto. O Baekhyun de 4 anos era uma criança agitada e alegre e não conseguia ver alguém desconfortável, fico feliz por levar essa essência ainda comigo, vendo o menininho no canto, fui falar com ele, que no início foi bem frio, mas acabei convencendo-o de ir brincar. Foi engraçado porque a primeira risada que ouvi de Sehun foi quando estávamos jogando futebol e eu levei uma bolada na cara e cai sentado no chão, lembro de meus olhos encherem de lágrimas e de ficar com o nariz dormente por causa da pancada, mas quando vi a imagem do menino rindo tudo passou e ri com ele, pela primeira vez Oh Sehun estendeu a mão para me ajudar a levantar.

Nossos pais se conheceram e confiavam um no outro, assim vivíamos na casa mutuamente, ganhamos nossas primeiras câmeras no mesmo dia, mesmo sendo um ano mais novo que eu, ele tinha entrado na escola adiantado, sempre foi mais alto e teve aparência de mais velho, que é o oposto de mim, que sempre fui baixo e pareço ser mais novo, isso era motivo de piadas vindo do Oh, mas nunca me importei muito. Também aprendemos a andar de bicicleta juntos, ele ralou o joelho várias vezes, enquanto eu na primeira tentativa consegui, na minha primeira visita ao campo de tiro com meu pai, Sehun foi junto, pois eu estava com medo, também foi com ele que comecei meu primeiro álbum de fotografias.

Quando me mudei aos 10 anos, nós fizemos copias das fotos para eu ficar com um álbum e ele com outro, queríamos ser fotógrafos profissionais, indo para eventos juntos, fazendo amizade com famosos, sempre sendo cogitados para premiações importantes e até quem sabe ir para a América, eu e Sehun tínhamos programado todo o nosso futuro, até que iríamos comprar apartamentos um ao lado do outro, com vista para a Academia de Artes de Seul, ele teria um Poodle e eu um Corgi, era tudo perfeito em nossas mentes, mas a notícia de ir para o interior matou isso.

Ao longo dos 8 anos em que morei no interior não voltei para a capital, assim só me comunicava com ele por mensagens. No primeiro ano afastados ele sempre estava ocupado, porque começara a fazer aulas de dança, no segundo, apenas nos falávamos a cada 3 meses, a partir do terceiro ano mandávamos mensagens de aniversário, quando chegou no 6, nem ao menos entrávamos no chat um do outro.

Kyungsoo e Luhan falavam que afastar-se de alguém por causa do tempo, sem brigas, apenas porque seus mundos são muito diferentes é normal, confesso que demorei um tempo para aceitar isso, Sehun me conhecia como ninguém, mas será que mesmo depois de 8 anos eu continuava sendo a mesma pessoa?

Sair com 10 anos e voltar com 18 era uma mudança imensa, quando cheguei em Seul, depois de todo esse tempo, ao lado de Kyungsoo, quis visitar meu antigo amigo para ver como ele estava, mas pensei em quanto mudei, talvez ele não me reconhecesse, talvez ficaria decepcionado e eu nem sabia se ele ainda morava no mesmo lugar.

Passou três meses e eu não ouvia falar de Oh Sehun, cheguei a pensar que poderia ter se mudado também, ele sempre quis ir para a China, poderia ter realizado esse sonho, mas descobrir que na verdade ele estava desaparecido por todo esse tempo foi como se uma parte de mim também estivesse sumido.

Pisquei os olhos e nem percebi que estava chorando, molhando a foto do meu amigo que tinha a mesma expressão firme de sempre, mas com o cabelo loiro e só as sobrancelhas pretas, suas feições estavam mais maduras, Sehun também deixou de ter 10 anos.

Passei a língua nos lábios molhados pelas lágrimas, dobrei o papel e guardei-o no bolso, minha cabeça começava a doer, passei a mão no rosto para limpá-lo, precisava me recuperar, por isso peguei o celular e comecei a digitar uma mensagem para Kyungsoo, indo em direção ao dormitório.

"Você não tem nada para almoçar né? Vamos na-"

Ouvi pneus contra o asfalto, em seguida uma porta sendo batida e vi alguém andando furioso para o meio da rua, uma buzina alta e o barulho do impacto do corpo sendo jogado por cima do carro ecoou, um grito ardeu em minha garganta e estendi a mão para impedir algo impossível.

Assim fiquei por 2 segundos, até tentar abaixar a mão e não conseguir, tentei andar e também não consegui, franzi as sobrancelhas, parecia uma paralisia do sono, olhei para a cena a minha frente, a pessoa tinha cabelo prata, era o rapaz de mais cedo, ele estava paralisado em cima do capo do carro preto, o motorista usava máscara e boné, não tinha como ver seu rosto e o pé do menino estava na frente da placa. Respirei fundo, pensei no que tinha aprendido com meditações aos 16 anos, por ser muito agitado tentei de várias maneiras me acalmar, fechei os olhos e foquei minha atenção em meu corpo, nos meus pelos, na minha pele contra a roupa, no ar a minha volta, que a propósito estava parado, foi quando uma corrente de ar bateu contra meu corpo, fazendo-me abrir os olhos em súbito, com o despertador tocando ao lado.

Era 6h50 da manhã.

Levantei um pouco confuso, olhei para minhas mãos, andei em volta pelo quarto, minha cabeça não doía mais, me sentia revigorado como se tivesse dormido todos os 20 anos que precisava para colocar o sono em dia, fui em direção ao espelho, nenhuma mudança. Por fim, tinha passado 5 minutos de auto análise e eu estava atrasado novamente.

Corri o máximo que consegui, mas acabei saindo às 07h05 de novo, fiz todo o percurso do mesmo jeito, quando cheguei na porta da sala me veio um questionamento "Foi um sonho ou realmente aconteceu?" seria estranho se fosse um sonho, tinha sido muito realista, levantei o punho para bater na porta, mas olhei para o mural no final do corredor, tinha um único papel preso por tachinhas. Fui até o quadro com passos lentos e pela primeira vez me importei com o que estava escrito ali, o papel estava meio amarelado, provando que estava preso a um tempo, era o panfleto de desaparecido de Sehun.

Quantas vezes tinha passado por aquele lugar e não notei o que estava escrito?

Fui até o corredor central e tinha 4 panfletos colados com fita na parede, como não tinha percebido isso?

Estava em todo lugar que Sehun estava desaparecido, por que só percebi quando o rapaz me entregou diretamente o papel? E além disso, quem era ele?

Corri para a frente da instituição, o coração acelerado e a pupila dilatada pulando de canto em canto no jardim para encontrar os fios cinza, por impulso, a imagem da moto branca apareceu em minha mente, corri para o estacionamento, quando cheguei, apoiei as mãos nos joelhos para respirar, tremia muito por causa do zero preparo físico, pisquei os olhos algumas vezes antes de me recompor, dando de cara com uma moto branca sendo estacionada e um rapaz de camisa xadrez tirar o capacete.

Tentei fingir que não estava desesperado, mas meu rosto vermelho entregava a correria, andei em sua direção calmamente e controlando o que iria falar. Cheguei a suas costas enquanto ele mexia no celular, coloquei a mão em seu ombro e o rapaz virou para mim, tudo o que tinha calculado foi por água abaixo.

— Como conhece o Sehun?— O cara arregalou os olhos e guardou o celular no bolso, mantendo sua atenção total em mim, o que me deixou nervoso.

— Ele é meu melhor amigo, por quê?— cruzou os braços longos a frente do peito.

— Ele também é meu melhor amigo— também cruzei os braços.

— Tem certeza?— arqueou uma sobrancelha, me desafiando, o que fez meu sangue ferver.

— É... Não vejo ele a um tempo, mas...— tentei procurar palavras— eu ia falar com ele.

— E por que não foi?— deu um passo para a frente, encolhi os ombros.

— Isso importa para você?— tentei minha melhor postura de desafiador, torcia para ter dado certo.

— Não, na verdade— recuou o passo que tinha dado e colocou as mãos no bolso da jaqueta— ele sentia sua falta Byun.

Franzi as sobrancelhas, como ele sabia meu nome? E se Sehun sentia minha falta, significava que ele falava de mim para o melhor amigo?

— Como você sabe meu nome?

— Como eu disse, sou o melhor amigo do Sehun— estufou o peito, o que particularmente achei ridículo, fiz minha melhor expressão de deboche, que foi  ignorada— depois de você.

— Engraçado, Sehun nunca me disse de você— arqueei uma sobrancelha.

— Ninguém nunca falou de mim para você porque eu pedi para ser assim— quem debochou agora foi ele.

— E por que faria isso?

— Por acaso você queria me conhecer?— não percebi quando tínhamos começado a nos aproximar, mas agora seu rosto estava a centímetros do meu, isso fez meu coração voltar a acelerar e meu estômago revirar.

— Como eu ia querer te conhecer se nem sabia da sua existência?— aproximei um pouquinho mais o rosto, o pior é que ele não recuou, me fazendo sentir sua respiração contra meu rosto.

Touché— Sorriu e voltou sua postura ao normal, já que estava curvado para ficar da minha altura— você é bom de briga mesmo, Sehun estava certo.

— Ele me conhecia bem— analisei o rapaz de cima para baixo, a postura alerta tinha sido abandonada, também não tinha a visão de melancolia, ele parecia bem e relaxado— então acho que já está na hora de saber seu nome não acha?

— Park—  riu, estendeu a mão e apertei-a— Chanyeol.

Senti que uma corrente elétrica passava por cada parte do meu corpo, cada átomo se agitando, as coisas a minha volta pareceram entrar em seu devido lugar,  pela primeira vez desde que tinha saído de Seul, senti que finalmente estava aonde devia estar e no lugar que devia, não sei se Chanyeol sentiu o mesmo, pois ficamos alguns segundos no aperto de mão, um olhando para o outro com a visão distante, sentia que ele via através de mim e que eu via através dele.

Soltamos as mãos e ele entortou rapidamente a cabeça para o lado, se não tivesse com os olhos grudados nele, talvez nem tinha percebido, eu ainda estava estático, foi a sensação mais estranha que senti na vida, até mais que voltar no tempo, que por hora, ainda não sabia ser capaz.

— Acho que você precisa saber algumas coisas— Chanyeol me trouxe para a realidade, assenti— vamos nos encontrar em algum lugar, eu levo o que tenho de Sehun e te conto o que aconteceu nesses 8 anos que você tirou folga, pode ser?

— Claro— passei a mão no cabelo, provável deixando a franja bagunçada, mas eu estava surtando, merecia um desconto— às 16h00, é quando eu saio da aula.

— Beleza— colocou a mão no bolso— te pego em algum lugar?

— O quê?— franzi as sobrancelhas e ele arregalou os olhos, em pânico, só depois de perceber o duplo sentido da frase.

— N-não desse jeito— começou a balançar as mãos na frente do corpo, negando e desesperado— de moto, com a moto, é.... Você entendeu— riu nervoso, enquanto eu ria muito.

— Entendi— limpei os olhos fingindo que chorava e Park me olhou com tédio, esperando meu show acabar— a gente se encontra aqui e depois vai para algum lugar, o que acha?

— Tudo bem— Chanyeol sorriu ainda um pouco vermelho de vergonha, olhou seu relógio de pulso— já acabou a primeira aula, preciso ir mesmo— colocou as mãos nos bolsos— foi legal te conhecer, Baekhyun— foi se afastando, andando de costas para ficar de frente para mim.

— Foi legal te conhecer também, Chanyeol— sorri, vi ele assentir e comprimir os lábios com timidez, se virou e saiu do estacionamento.

Quando algo assim acontece em nossas vidas nunca sabemos, não podemos dizer quem vai ser importante ou não no momento em que conhecemos, mas por algum motivo, eu sentia que Chanyeol iria ser importante, era estranho ele não querer que eu o conhecesse, mas mais estranho ainda é conhecê-lo e sentir que finalmente tudo daria certo, que eu estava no caminho certo, no momento agradeci a Deus por esse sentimento, mas depois de um tempo, soube que nenhum deus me deu o que eu tinha ganhado naquele dia, na verdade, nunca soube a quem agradecer, e depois de um tempo culpar, por ter salvado a vida de Park Chanyeol naquela manhã.

 

XX

 

  — Eu odeio vir aqui— entrávamos em um restaurante de comida japonesa, estava lotado e Kyungsoo não parava de reclamar— você gosta tanto assim de sushi?

— Amo— revirei os olhos e ele cruzou os braços.

— O que é tão importante que o senhor precisa me tirar do dormitório?

— Além da sua saúde? Acha que comer salgado da padaria vai te levar a algum lugar?

— Me leva a não morrer de fome— revirei os olhos e balancei a cabeça em negação— mas fala logo vai.

— Você conhece algum Chanyeol?— Kyung mudou o peso de um pé para o outro, era uma mania quando ele estava desconfortável.

— Por quê?— cruzou os braços.

— Conheci ele hoje— meu amigo arregalou os olhos e engoliu em seco, não entendi seu medo.

— A...— desviou o olhar— eu conheço sim.

— O quê?— franzi as sobrancelhas.

— Quando eu vinha para fazer o vestibular acumulativo— colocou a mão na nuca, ele mentiu por 3 anos— ele puxou assunto comigo porque estava muito nervoso e precisava conversar para distrair a cabeça, trocamos nossos números de telefone e nos falamos as vezes.

— Ele sabe que você mudou para cá?

— Sabe, fomos até tomar uma juntos— colocou as mãos no bolso traseiro da calça.

— E por que nunca me contou dele?

— Ele queria te conhecer pelo destino, não por terceiros.

— Mas o destino não é terceiros?

— Faz sentido— concordou e olhou em volta, pensando— de qualquer jeito, agora vocês se conhecem— deu de ombros.

— Vamos sair e falar sobre Sehun— soltei, por mais que uma parte de mim queria isso guardado, sem nenhum motivo aparente.

— Vão falar sobre o Sehun?— arregalou os olhos e colocou as mãos nos meus ombros— você é a primeira pessoa que faz ele dizer algo sobre isso nos últimos três meses.

— Acho que é a nossa única coisa em comum— dei de ombros, nem me importando com as barreiras mentais e emocionais de Chanyeol.

Do concordou e finalmente nossa vez de escolher uma mesa chegou, fiquei o almoço inteiro pensando se contaria sobre o súbito atropelamento, mas como explicar que vi alguém sendo atropelado e depois por algum sinal de alguma coisa, voltei mais de duas horas no tempo? Provável Kyungsoo acharia que falei com alguns dos caras que ficam no beco perto da faculdade.

O resto do dia procurei informações sobre o que poderia ter acontecido, na última aula do dia, sobre Óptica, olhava para o Sr. Kim já com os olhos vesgos de cansaço, só queria dormir e fingir que aquele dia foi em um universo paralelo. No meio de sua explicação, comecei a prestar atenção e peguei a frase no meio.

— ....Para isso é necessário estar posicionado da maneira correta, cada um tem sua própria visão de um evento, por isso nossa interpretação é tão relativa, na maioria das vezes distintas, por que vocês acham que existem tantas ideologias diferentes? Porque de acordo com cada ponto de vista o ser humano pensa de sua maneira. Por isso existem as teorias— apoiei meu queixo na mão para ficar mais atento— podemos ter dados concretos, os fatos e provas podem estar diante dos nossos olhos, mas o que determina a conclusão que chegaremos é nossa maneira de pensar, nosso ponto de vista, que é desenvolvido por nossa vivência, ensinamentos e costumes— ele levantou as mangas do agasalho de lã amarelo que usava desde manhã— eu, por exemplo, teria uma atitude diferente de vocês se visse um acidente de carro— ele não fez contato visual com ninguém específico, mas senti que dizia isso para mim— pois minha visão das coisas é diferente da perspectiva de vocês.

— O senhor tem mais experiência— Kyungsoo, que estava ao meu lado e só tinha me acompanhado a tarde, disse.

— Exatamente, Kyungsoo— se encostou na sua mesa e cruzou os braços— experiência é necessária para construir nossa concepção— olhou para mim, o que fez meu maxilar travar, não entendi exatamente o motivo de ter ficado tenso— por isso, quero um trabalho para semana que vem— houve um suspiro de reprovação coletivo— quero só uma redação, sobre ponto de vista, ou seja óptica, e o quanto isso influência em uma ação, pode ser uma narração, a escolha é de vocês, sem mais critérios de vestibular— o sinal tocou ao fundo, todos levantaram-se quase ao mesmo tempo.

Sai da sala um pouco atordoado, precisaria de um tempo para processar o que Senhor Kim disse, por isso tentei ignorar e focar em encontrar Chanyeol.

A porta da sala de dança foi aberta e alguém saiu rápido demais para ver o rosto e trombou em mim, o rapaz caiu e eu também, nos olhamos por segundos e vi seus olhos vermelhos e manchados de lágrimas, ele desviou o olhar para meu caderno no chão, pegou rápido e me entregou, encarando meu rosto, prendi a respiração, aquele garoto estava com algum problema e precisava de ajuda, murmurou um pedido de desculpas e saiu correndo.

Olhei para Kyung e ele estava estático, também viu a situação do menino, o pior que esse rapaz era Kim Jongin.

Me levantei e fiquei ao lado do meu amigo, parecia que estava acontecendo um conflito interno muito grande, mas eu sabia o que passava na cabeça dele, era o que sempre passava, de algum jeito, Kyungsoo queria ajudar Jongin, só não sabia como.

— Vai lá— disse, ele me olhou e parecia muito preocupado.

— Vou falar o que quando chegar lá?

— Pergunta se está tudo bem— Do suspirou e olhou para baixo— Soo você já viu alguém ajudando ele?— negou— então, você vai ser o primeiro, o Jongin precisa de ajuda— os olhos do meu amigo passavam insegurança, ele só precisava de um empurrão de coragem— Você precisa ajudar ele, se você não fizer, pode se arrepender pelo resto da vida.— xaque-mate.

Kyungsoo saiu sem se despedir, correu na mesma direção que Jongin, eu sorri, esperando que tudo desse certo e que tudo estivesse bem com o Kim.

Andei até o estacionamento com os olhos focados em meu par de tênis, queria muito voltar para meu quarto, me jogar na cama e pensar sobre aquela segunda-feira infinita, precisava analisar o que aconteceu de manhã, queria pesquisar na internet casos assim, pensava que era impossível ninguém ter vivido a mesma coisa e não ter perguntado no Yahoo, mas ao mesmo tempo estava com medo, foi tão estranho que não sabia se era algo bom ou ruim, mas considerando que tinha impedido uma morte, parecia ser bom, um dom.

Um dom.

Minhas crenças em seres superiores sempre foram fortalecidas por meus familiares, mas de qualquer jeito não parecia que alguém em específico quisesse que eu impedisse algo e por isso me daria algum "poder", anos se passaram e não sei como ou o motivo daquilo ter acontecido comigo.

Existe coisas que nem mesmo a religião ou a ciência podem explicar, eu era uma delas.

Encontrei Chanyeol escorado na moto, algo ainda me incomodava em relação a ela, era o mesmo modelo da visão, porém branca, algo parecia não se encaixar no meu sonho, poderia ser apenas um Déjà Vu? De certo não sabia, mas considerei no momento. Me aproximei e ele sorriu arrumando a postura.

— Você parece preocupado— me estendeu o capacete que estava no guidão.

— Aconteceu umas coisas que estão me deixando confuso— admiti para um estranho.

Sempre achei mais fácil falar da minha vida para pessoas estranhas, já que elas não tinham uma ideia formada sobre mim, assim não esperavam determinadas ações e também não precisava passar uma postura específica, mas com Chanyeol era diferente, ele era estranho, mas quando confessei minha confusão foi como se tivesse falando com um amigo próximo, não fazia sentido, pois conhecia ele a apenas algumas horas, mas naquele dia nada fez muito sentido.

— Quer conversar sobre isso?— apoiou as mãos entrelaçadas na frente das pernas.

Sua proposta foi tentadora, realmente queria ajuda para entender o que estava acontecendo, mas eu nem sabia como verbalizar o que aconteceu e além do mais, como falaria para Chanyeol que o vi morrer, depois tive uma pane e no final salvei ele com uma conversa fiada? Era muita informação para qualquer um.

— Por enquanto não— coloquei o capacete, esperei ele subir na moto para apoiar em seu ombro e sentar na garupa.

Estava tão desnorteado que nem perguntei para aonde iriamos, apenas curti o percurso com a viseira levantada, foi uns 40 minutos até nos afastarmos quase que completamente da cidade, indo para um bairro calmo, ser como uma outra cidade, Seul era grande demais para ter apenas um centro, aquele lugar era praticamente uma cidadezinha do interior, tinha tudo o que uma cidade independente teria, menos uma prefeitura.

Fomos até as principais ruas, julguei ser pelo menos, pois tinha alguns comércios e uma conveniência, na última rua tinha uma pequena galeria com dois andares, a fachada estava com tábuas e pedaços de plástico, mas era percebível que ali tinha uma vitrine, pendurei o capacete no guidão e fui até o local para tentar ver o que tinha dentro, me esforcei, mas estava tudo escuro, quando olhei para trás para falar com o maior ele tinha sumido, o que me fez ficar em alerta, dei dois passos em direção a rua e nada, só que me faltava um louco ter me levado para um lugar afastado para me sequestrar e depois vender meus órgãos "Os olhos com miopia com certeza não vão ser vendidos".

Quando voltei para a frente da loja, uma luz lá dentro ascendeu, fiquei na ponta dos pés para ver por cima de uma tábua, vi apenas o topo da cabeça de Chanyeol e sua mão me chamando para entrar, fiquei encarando a fachada por um tempo, como ele tinha entrado?

Pensei na minha antiga casa no interior, na qual minha família apenas entrava pela porta dos fundos, porque era mais perto da garagem, geralmente lojas tem portas dos fundos? Eu torci para que sim, contornei o prédio e quando cheguei na porta, olhei para trás e não tinha nada, apenas um campo gigante, era como se estivéssemos na beirada do mundo, com nada mais além daquele descampado, me senti completamente sozinho e insignificante no universo, a crise existencial seria certa de madrugada, ou quem sabe dali 15 minutos.

Girei a maçaneta e dei de cara com um corredor bem iluminado, segui até chegar em uma grande sala, tinha um balcão, parecido com aqueles de bares, com uma estante enorme e vazia no fundo, de frente para o balcão tinha uma escada em espiral que levava para o segundo andar, o piso era de madeira, o corrimão da escada era de metal, um dos poucos contrastes, pela vitrine entrava a luz da tarde que deixava o local parcialmente claro, tinha um leve cheiro de lavanda o lugar, era aconchegante de uma maneira um pouco solitária? Talvez se tivesse mais luz, fosse mais feliz o ambiente.

— Bem-vindo— Chanyeol estava ao pé da escada— a Utopia Library— sorriu e abriu os braços.

— É bonita— sorri.

— Eu e Sehun alugamos esse lugar no mês em que fiz 18 anos— veio até mim em passos lentos— ele queria ter um lugar para expor seus trabalhos pessoais e eu queria mostrar os meus também, como nós dois precisaríamos de dinheiro já que a arte é bem injustiçada, resolvemos que venderíamos livros também.

— E teriam um bar?— apoiei no balcão.

— Claro— ele apoiou suas costas ao meu lado na madeira tampo do balcão— não é só de dinheiro que vive o homem— sorriu e acompanhei-o, porém debochando.

— Não acredita no meu potencial e no de Oh Sehun? É isso mesmo que estou vendo aqui Byun Baekhyun?— apontou o dedo indicador acusatório a meu peito, fui obrigado a rir.

— Claro que não, confio no potencial de vocês— afastei sua mão— até quem sabe eu seria um sócio?

— Ai você teria que falar com a parte fotográfica da organização— colocou as mãos nos bolsos da blusa xadrez, suspirou e abaixou a cabeça, podia jurar que tinha fechado os olhos— eu sinto muita falta dele, Baekhyun.

Comprimi os lábios, eu também sentia, mas minha falta de Sehun era algo que fazia parte do meu ser e por isso tinha aprendido a conviver com esse vazio, mas Park teve meu amigo por 8 anos seguidos, acompanhou cada evolução e amadurecimento, ele sim tinha vivido com o Oh, eu não.

— Por muito tempo eu senti falta dele também— suspirei— Sehun foi meu melhor amigo desde sempre, não lembro da minha infância sem ele, quando me mudei foi como se uma parte minha tivesse ficado aqui— e realmente tinha ficado— Nós vamos achar ele, Chanyeol, estou com você nessa— seus olhos castanhos focaram nos meus, eles estavam tão tristes quanto quando me entregou o panfleto— Sabe, também quero reencontra-lo e dizer que sinto muito.

— Sente por quê?— pareceu focar em meus motivos e esquecer de seu vazio interno.

— Por ter me mudado, eu devia ter ficado com ele.

— Isso não foi escolha sua e Sehun sabe disso— trocou o peso de um pé para o outro— ele sentia sua falta, mas nunca te culpou por ter mudado e nem por terem se afastado— olhou para frente— sabia que a vida faz isso e estava tudo bem— suspirou— o tempo é cruel e não podemos fazer nada para impedi-lo de fazer o que bem entender com nossas vidas.

Nunca tinha visto o tempo dessa maneira, o tempo para mim sempre foi algo que fazia parte de nossas vidas e extremamente útil, pois sem ele não tinha exatidão nas coisas, mas é isso, o tempo não é algo tão bom, é assustador na verdade, não podemos fazer nada para manipulá-lo, ele é tão puro que é aquilo e ponto, sem flexibilidade ou reparos, apenas passa e somos submetidos a suas consequências.

Mas demorei um pouco para perceber o tempo assim, naquela tarde, por exemplo, apenas achei que o que rapaz disse era besteira e fiquei pensando em Sehun e me culpando, as vezes penso que eu devia ser mais como o Park, ele prestava atenção nos detalhes, sabia que éramos apenas pequenos pedacinhos no meio da confusão cósmica, Chanyeol tinha medo do tempo e talvez todos nós deveríamos ter.

Ele foi atrás do balcão e pegou um violão, me perguntei de onde tinha tirado aquilo, mas não cheguei a questioná-lo, olhava com curiosidade, enquanto ele afinava o instrumento e dobrava as pernas para sentar no meio do cômodo.

— Sabe, eu fazia faculdade de Engenharia da Computação— me sentei a sua frente— sempre fui bom em quase todas as matérias na escola, então entrar em qualquer curso não seria problema— dedilhou algumas notas para avaliar o violão— na verdade o que eu sempre quis fazer era música, mas minha família nunca aprovou, já que não daria dinheiro— fez o último ajuste— desde os 12 anos eu componho, no início eram bem ruins, depois só falavam de amor, depois ansiedade, hoje eu consigo escrever sobre qualquer coisa, literalmente— arrumou o instrumento no colo— mas meu tema favorito é sentimentos pessimistas, não como raiva ou impulsividade, mas como tristeza, solidão, melancolia, não sei o motivo, mas são os sentimentos que mais me inspiram.

— Acho que alguém famoso disse que a tristeza é poética.

— Mas é, grandes escritores e poetas escrevem sobre pessimismo, eu particularmente acho bem lírico— sorriu— Sehun sempre falou que eu devia escrever sobre coisas positivas, porque eu preciso de felicidade na minha vida e não tristeza.

— Ele está certo.

— Mas Baek, se eu não aceitar a tristeza, como posso ser feliz?— seus olhos brilhavam, era possível perceber que realmente gostava de arte, era lindo ver a felicidade nos olhos de Chanyeol.

— Tranquei a faculdade e resolvi investir, tudo isso no mês do meu aniversario, foi engraçado porque na maioridade foi quando eu fui a maior decepção da família— riu, mas era perceptível seu pesar— minha irmã se formou no mesmo ano que eu tranquei, ela fica com o sucesso, por mim tudo bem, prefiro fazer o que gosto do que ficar a vida toda com a cabeça em programações e sendo obrigado a acordar de manhã para ser preso por mais uma chatice que o tempo me submete a fazer.

— Você odeio muito o tempo.

— Não é ódio, tendemos a reprovar o que não entendemos, e sinceramente eu não entendo o tempo, mas tenho que confessar que as vezes ele faz muito bem, a puberdade está ai para provar.

Ri, eu era muito decadente por volta dos 14 anos, mesmo com 18 torcia para ela ainda agir e me dar bons resultados, de feio já bastava meus modos.

Dedilhou as mesmas notas de antes, parecia que estava com uma música na cabeça.

— Faz um tempo que eu escrevi um, era madrugada e Sehun estava dormindo em casa, ele tinha chorado até dormir por sua causa— o fato de Sehun chorar por mim aumentava ainda mais minha culpa— então eu peguei um dos meus cadernos e comecei a colocar todos os sentimentos que ele passava com o que dizia, linguagem corporal e o que não dizia, como eu falei, você é muito importante para ele, tenho certeza que sempre vai ser— suas palavras fez meu coração aquecer, eu não era muito expressivo, mas com aquilo pensei no valor que Sehun tinha para mim e conclui que mataria e morreria por ele— queria tocar, posso?

— Claro— achei que se ouvisse a letra poderia entender melhor meu amigo, mas Chanyeol não deixou essa ilusão ser alimentada, descobri uma das maiores qualidades do platinado, ele não gostava de ilusões.

— Lembre-se que é uma música escrita por mim e não por ele, eu posso ter interpretado alguma coisa errada, isso tem mais a ver com minha visão da situação do que com a dele, os fatos são os mesmos, mas os detalhes são completamente meus, tudo bem?— assenti, naquele dia óptica estava me perseguindo.

Park respirou fundo, fechou os olhos e dedilhou as mesmas notas que foram seguidas do primeiro verso.

"Remember the way you made me feel?"


Notas Finais


É gente esse é o final, eu tentei deixar meio tristinho pra no proximo chutar o balde total, e esse final é uma referencia a musica que me ajudou a ter as ideias pra fic lá em 2016, é até a musica do trailer alias, se vocês não viram ainda vou deixar o link aqui.
Mesmo com essa quarentena as atualizações vão ser a cada 15 dias mesmo, estou fazendo de tudo para escrever o maximo possivel, se eu terminar de escrever antes desse apocalipse acabar, eu atualizo toda semanas, mas ai depende da minha procrastinação k k.
Espero que vcs estejam gostando, isso aqui é uma partezinha de mim, divulgam pras suas amigas chanbaekas gamers, certeza que vão gostar, até daqui duas semanas, lavem as mãos e se vocês puderem ficar em casa, FIQUEM.

trailer: https://www.youtube.com/watch?v=TsrfuioXumw


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