Morgan P.O.V.
Não sei exatamente porquê aceitei conversar com Valentim sobre coisas passadas. Talvez, eu esteja mais curioso com o que ele vai dizer do que querendo resolver desavenças.
O dia estava gélido, então vesti uma calça preta, um sobretudo também preto - não muito grosso - e uma bota de cano longo, de verniz e solado vermelho.
- São sete e meia da manhã - Disse Jonathan, num tom sonolento - Por que tão cedo?
- As corridas, na maioria das vez, são pela manhã - Expliquei - Até você se levantar, tomar um banho e arrumar-se, vai demorar um século.
- Tá bom... - O mesmo se levantou de vagar e foi ao banheiro.
Saí do quarto e fui até o da minha vó. Ela estava entretida num livro, que pela capa, deduzi que falava sobre economia.
- Vó - Bati na porta, já aberta - Eu e Jonathan vamos a uma corrida de fórmula 1.
- Oh, mas que ótimo - A própria tirou os olhos do livro - Até iria com vocês, mas o dia está frio.
- Pois é. Então... só para avisar mesmo - Lhe dei um beijinho no rosto - Tchau.
Voltei ao quarto e Jonathan estava se enxugando.
- Tem em mente a roupa que vai? - Indaguei.
- Não.
- Tá, olha, vou tomar o café da manhã, ele já está pronto. Te espero na cozinha - Avisei, saindo do quarto, e encontrando Robert adormecido no sofá. O
Eu não queria acorda-lo, ele trabalha tanto. Talvez eu deva deixá-lo aí, tirando uma soneca. Não faz mal algum.
Sentei na bancada da cozinha, coloquei um pouco de suco de laranja num copo, peguei uma torrada e um pedaço do omelete que estava.
Quando eu estava quase terminado, Jonathan saiu do quarto, vestindo um moletom agasalho Nike Academy Tracksuit Dri-Fit e um tênis tênis Adidas NMD RUNNER .
- Tá brincando comigo! - Brandi revoltado - Nós vamos assistir a uma corrida e não caminhar na beira da praia. Está cheio de paparazzis lá!
- Se está preocupado com o que outros vão pensar de nós, fique tranquilo - Ele puxou a manga do casaco, mostrando o seu relógio Patek Philippe - Quando verem isso, vão saber que eu não qualquer um. Essa coisinha aqui, custa um apartamento. Acho que você sabe disso...
- Ok. Conseguiu me calar - Bufei.
- Você não pegou nenhum bacon? - Perguntou, estranhando.
- Não. Eu detesto bacon. Oleoso e gordurento. Eca! - Fiz cara de nojo.
- Achei que gostava de comida gordurenta - Falou, enfiando um inteiro na boca.
- Errou. Na verdade, gosto de comida gordurenta, quando eu estou... chateado.
- Ou seja, na sua TPM - Disse irônico.
- O que quis dizer com sua TPM? - Cerrei os olhos.
- Homens não tem TPM, mas você parece ter. Por isso enfatizei o sua - Explicou-se, bebendo um copo inteiro de suco de uma vez só.
- Tá, tá. O Robert tá quase morto ali no sofá, eu não quero acorda-lo. Podemos pegar o carro do meu avô, na garagem - Sugeri.
- Você tem um avô? Achei que ele tinha morrido já. Nem perguntei nada, com medo de ofender.
- Não, tudo bem. Ele está vivo - Ri, terminando de tomar o suco - Ele está fazendo uma viajem para a Escócia junto com o meu tio-avô.
- Pronto, terminei.
- Vamos escovar os dentes antes - Ordenei - E não se esqueça dos óculos escuros. Hoje está frio, mas o sol está a tona.
Peguei a chave do carro do vovô, e então descemos para a garagem.
- Ok. Onde está o carro. Eu vou dirigir - Exigiu Jonathan.
- Está ali - Apontei para o Aston Martin One-77 preto brilhante.
- Cacete! - Gritou o mesmo - É disso que eu gosto. Entra! - E eu o fiz.
- Agora são oito e quarenta e cinco, não faça barulho. Não acorde os vizinhos.
- Ah, mas foda-se os vizinhos! - Ele fez o motor rosnar alto - Quando se tem um belezinha dessa, tem que mostrar.
Jonathan arrancou com carro e saiu veloz. Meu coração quase literalmente saiu pela boca.
- Ui, socorro, Jonathan! - Gritei assustado - O cinto! Coloca o cinto.
- Bota pra mim. Tô concentrado aqui - Coloquei sem atrapalhar.
- Jonathan, é sério. Se você bater isso aqui, nós morremos na hora, e com certeza mataremos mais uns três. Sem contar, os dois milhões jogados fora - Tentei convencê-lo a diminuir a velocidade.
- Eu tô loco pra morrer! - Soltou, com um sorriso no rosto.
Olhei pela janela. Os prédios viraram um vulto praticamente transparente. Botei as mãos no rosto e pensei comigo mesmo o que caralhos tinha naquele bacon?
Em menos de dez minutos, já estávamos perto do local da corrida, que por sinal, era do outro lado da cidade.
- Ali, ali! - Apontei
Jonathan diminuiu a velocidade, entrando numa rua frente a uma construção grande e moderna. Freou de repente, parando em cima de uma tapete vermelho.
- Puta que pariu! Por que tantos repórteres?
- É uma corrida de fórmula 1. O que você esperava?
- O tal Valentim é famoso? - Perguntou.
- Aham - Balancei a cabeça com pesar - E torço para que os paparazzis não me reconheçam.
- Espera aí! - Exclamou - Como assim, do que está falando?
- Valentim não é qualquer um pra mídia. Ele é muito famoso, e como eu disse... já quase ficamos juntos - Contei - Mesmo que não estivéssemos tendo um caso, vivíamos juntos. Toda hora éramos fotografados juntos. Pesquise no Google: O corredor Valentim Dollavale e filho do empresário bilionário, Morgan Moore, estão namorando?
- Está de brincadeira comigo... - O mesmo pegou seu celular e digitou exatamente o que falei - Ah, eu não acredito. Olha isso, está cheio de matérias sobre vocês. Isso é foda!
- O que, hã? - Arregalei os olhos - V-Você achou legal?
- Sim, isso é fantástico! Vamos aparecer na TV?
- É-É, sim, mas...
- Já pensou se, todo mundo te reconhecer, mas ver que você está namorando alguém que não é o Valentim? Isso acaba com as especulações de anos atrás, Morgan!
Meus olhos se abriram, tudo fez sentido e tem uma solução. As hipóteses sobre um possível namoro entre mim e um dos filhos dos Dollavale, eram muito fortes. Era o que mais se falava em Monte Carlo, há dois anos atrás. Porém, tudo isso foi esquecido pela mídia, quando voltei para Los Angeles - nunca morei em outro lugar a não ser Los Angeles, mas passei muito tempo em outros lugares, por isso conheço tanta gente - ou melhor, eu desapareci da vida de Valentim.
- É, você tem razão - Falei convicto - E você ainda tem a chance de ficar famoso, porque rico você já é - Sorriu de canto.
Colocamos os óculos escuros para nos defender dos flash's e saímos do carro. Os paparazzis vieram para cima de nós e logo um motorista chegou para levar o nosso carro.
- Olha só, quem está aqui! - Disse um dos milhares dos repórteres - Se não é o filho do empresário mais rico de Los Angeles. Como foi sua volta a Monte Carlo?
- Foi ótima, obrigado. - Respondi direto, sem prolongas.
- O senhor lembra com certeza dos boatos que percorreram pelos jornais locais. Pode esclarecer para nós sua relação com o corredor mais notável de Monaco?
- Não há nada entre nós. Nunca houve, éramos só bons conhecidos - Enfatizei - Só viemos para ver a corrida.
- A propósito, quem é este garoto ao seu lado, ele é a sua companhia aqui na partida hoje? - Continuou - Ou será que é mais do que uma simples companhia?
- Sim - Dei um risadinha falsa - Estamos namorando.
- Oh! - Fomos cercados por mais paparazzis - Qual é o seu nome, meu jovem?
- Jonathan Kingston Martinez - Respondeu, em tom sublime.
- Vai me dizer que você é o herdeiro da Kingston Mobile parts?
- Exatamente - Afirmou com um sorriso.
- Pois é, parece que Valentim e Morgan nunca tiveram um caso, aliás, faz tempo que o angeleno não dá as caras por aqui. Mas não custa nada ver o que o astro da corrida vai dizer - O homem deixou câmera e olhou para nós - Ok. Muito obrigado, senhores - A multidão de entrevistadores correu ao próximo carro que chegava.
- Meu pai já foi entrevistado, mas eu nunca - Comentou Jonathan, todo animado - Eu poderia ficar o dia inteiro lá!
- Aí - Revirei os olhos - Não se esqueça que ainda estamos sendo filmados.
- Ah, pode deixar.
Saímos do cômodo da entrada e andamos até outro, que possuía uma mesa gigante no centro, com um grande vaso de flor em cima. Havia poucos repórteres ali, também tinha algumas pessoas de bens conversando.
- Eu fico tão grato que tenha vindo - Disse Valentim, surgindo de um dos corredores da sala - Pensei que não viesse.
- É, eu vim. Óbvio, estou aqui, não é? - Revirei os olhos - Então, seja breve. Vim apenas para assistir à luta.
- Então, o que eu queria dizer, é que... - Então ele percebeu a presença de Jonathan - Ah, ele veio? - Bufou - Não vão falar nada com ele ouvindo tudo.
- Tá, vamos ali no canto - Falei e olhei para Jonathan, que estava de braços cruzados - Fique aí, eu resolvo isso rapidinho.
- Ok. Vai lá - Fomos até o canto.
- Morgan, eu... - Valentim olhou para baixo - Eu sei que fui um idiota com você. Infelizmente, não percebi isso quando você estava aqui, tão perto de mim.
- É. É uma pena mesmo - Falei pensativo.
- V-Você acha? - O mesmo arregalou os olhos.
- Sim! Você foi um dos melhores que entrou na minha vida. Nós passávamos o dia inteiro juntos, lembra? - Um sorriso começou triste a se formar em meu rosto.
- Claro. É claro que eu lembro, Morgan - Valentim colocou sua mão em meu rosto, e eu acordei do transe de lembranças - A gente pode... sabe...
- Mas...
E então, paparazzis e entrevistadores, famintos por polêmicas, apareceram repentinamente, e nos cercaram com perguntas tendenciosas.
- Olha só o que temos aqui! Parece-me que vocês estão juntos mais uma vez.
- Ah, pois é - Valentim deu uma risada falsa e assumiu uma postura de fama- Estamos aqui, novamente.
- Nós pedimos para Morgan esclarecer, mas tem algo entre vocês ainda, um lance, que não foi explicado. Já não acha que está na hora de se admitirem? - O repórter piscou.
- É! - Ele balançou a cabeça, mordendo os lábios - Acho que devemos fazer isso.
Inconscientemente, olhei para Jonathan, que se encontrava atrás da multidão de paparazzis, com uma expressão um tanto tristonha e iludida.
- Não! - Disse em bom tom e convicto - Como já disse, não estamos juntos! Só estávamos conversando. E eu vim aqui, só para assistir à corrida, com o meu namorado, que não é o Valentim - Enfatizei, de novo.
- Morgan, o que está fazendo? - Cochichou e me cutucou.
- Valentim, eu adoro você - Me virei para ele, ficando de costas para as câmeras - Você errou comigo, mas eu te perdoo. Não vou guardar rancor. Quando precisar estarei aqui, pode contar comigo, mas você não é a pessoa que amo. Ele é! - Apontei para Jonathan, e algumas câmeras viraram para ele - Ele é o meu namorado.
Passei pelo amontoado de paparazzis e fui até Jonathan, e lhe dei a mão.
- Vamos? - Dei um beijinho em sua bochecha.
- Uau! Que corte, garoto.
Nós fomos até a arquibancada VIP e sentamos, faltava meia hora para a corrida começar.
- Você não achou que eu ia ficar com ele frente às câmeras, achou? - Indaguei.
- Achei - Ele soltou um riso nasal - Me perdoe, mas eu achei que você ia me largar.
- Jonathan, jamais! - Lhe dei um tapa.
- Aí! Eu pedi desculpa.
- Eu te desculpo - O beijei apaixonadamente.
Dei passagem com a língua, e o mesmo colocou sua mão em minha nuca.
- Eu adoro a sua boca - Comentou, apertando minha cintura.
- Aqui não - Falei, me afastando de sua boca.
- Tá bom, tá bom.
Senhoras e senhores, bem vindos a pista de corrida Circuito Di Monaco - Disse o auto-falante.
Os participantes entraram na pista.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.