31 de dezembro de 2018.
A vida não é justa.
Era somente nisso que Kirishima conseguia pensar, estava a dez minutos na urgência e emergência, pessoas comuns davam entrada com queimaduras de fogos, cortes de garrafas, batidas de carro. Ele estava no meio de uma sutura numa garotinha de 5 anos, segundo o pai, a menina sofria de TDAH, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, era muito comum. Geralmente começava nessa idade e se estendia para a vida adulta, com medicação era bem controlada. Ela tinha cortado a perna enquanto corria com os primos pelo quintal para ver os fogos, e caído em cacos de vidro, Eijirou prestava atenção na história que ela contava, sorrindo as vezes.
- Seu dente é bonito! - Ela apontou para a boca de Kirishima e bateu palminhas. - Meu primo tem um tubarão, pequeno assim oh: - Ela fez um gesto com as mãos, mostrando mais ou menos 45 centímetros de espaçamento. - Ele também tem dentes pontudinhos. Mas o seu é mais legal... - A menina loira com uma janelinha no sorriso e curativos pelo rosto disse feliz.
- Uau, Naomi, obrigado de verdade. - Kirishima limpou o sangueda sutura, e começou a se preparar para fazer o curativo ali.
- Doutor tubarão, você tá triste? - Ela perguntou tocando o ombro forte dele com sua mãozinha miúda. Estava tão escrito na sua cara?
- É Naomi, você me descobriu. - Eijirou colocou uma máscara, pegando algodão, álcool à 70%, soro fisiológico e esparadrapo, colocando tudo na bandeija estéril, jogou as luvas fora, pegando outras limpas. - Eu estava com um dodói bem ruim nas costas-
- Era muito grande? - Seus olhinhos azuis piscaram para o médico, e ela respirou fundo quando Eijirou fez careta concordando. - Doía muito?
- Um pouco... Daí eu fiquei muito triste, por que o dodói demorou 'pra sair, sabe? - Ele contava tudo com sinceridade e inocência, a menina concordou, como se soubesse exatamente do que ele estivesse falando.
- Meu papai Tamaki sempre diz que não importa a dor que você sofra, tudo fica bem se você acreditar... Em que eu não sei, mas ele sempre diz. - A menina sorriu fofa.
- Bom, seu pai está certo. - Não demorou para que ele limpasse toda a sutura e a fechasse com esparadrapo e gaze.
- Ah, filhota você está aí! - Um homem loiro muito parecido com a menina colocou a cabeça entre a cortina da enfermaria, provavelmente usando sua individualidade, pois ele parecia atravessar o tecido como um fantasma. - Seu pai ainda está surtando com sua Tia sabia? - Ele passou o corpo pela cortina, seu sorriso era leve, igual ao de Naomi. - Bom, doutor Kirishima Eijirou, muito obrigado. - Ele estendeu acenou para o ruivo.
- Eu fiz meu trabalho, nada mais. Mesmo assim, Naomi-chan é uma menina muito forte. - Eijirou abriu as cortinas, do outro lado tinha uma moça de cabelos azul claro, e outro homem, com orelhas pontudas, o homem loiro pegou a menina no colo e caminhou para o lado do moreno. - Bom... Vocês... São os heróis daquela agência nova, Lemillion, Suneater e Nejirechan! Eu os vi na luta contra o Overhaul, com aqueles outros pro heros... Vocês são incríveis. - Não podia evitar seu momento fanboy gritando, os heróis sorriram para ele, mesmo que Suneater parecesse extremamente tímido e nervoso.
- Sim, somos nós. Trabalhamos na agência Bakugou. - Lemillion disse abraçando sua filha e ninando-a no colo.
- Bakugou... Ground Zero não é, aquele cara é ótimo. - Kirishima pediu que os três o acompanhassem para o posto de enfermagem, onde pegou o prontuário e um bloco de receitas, retirando a touca por enquanto.
- Ele é um chefe meio surtado, isso sim. - Nejirechan sussurrou fazendo o médico rir.
- Dá pra imaginar... Enfim, eu receitei um antibiótico 'pra ela, e um analgésico em pomada, se tiver sinal de inflamação, já deixei receitado aqui, mas acho que só o antibiótico já dá conta do recado. - Entregou os papéis para Suneater, que agradeceu cordialmente guardando tudo na mochila rosa da menina. - Ouviu, Naomi Lemillion? Você vai ficar muito bem.
- Naomi Lemillion-Suneater! - Ela abraçou o moreno também, e Eijirou se deu conta que os heróis eram um casal. - Obrigada, doutor tubarão!
Mais agradecimentos e a família saía com a menininha no colo. Kirishima sorriu sentimental, trabalhar com crianças era renovador para ele, a pureza deles definitivamente era algo pela qual valia a pena. Pegando o prontuário, ele assinou a alta, e carimbou com seu nome. A noite seguia, os fogos eram ouvidos, até que sirenes de ambulância soaram longe, anunciando um novo ferido.
- Kirishima, quero você nesse caso, herói gravemente ferido, não sabemos o que podemos encontrar, vá se preparar. - Aizawa passou correndo para a sala de pequenos procedimentos com a enfermeira Mina, ambos já retirando os jalecos para substituir pelo capote descartável amarelo. Eijirou não perdeu tempo, fazendo o mesmo, ele amarrou os cabelos vermelhos longos e colocou uma máscara, correndo para a entrada de traumas. Os paramédicos da ambulância desciam com o corpo enrolado em diversas mantas grossas, era um caso delicado de fato.
- Múltiplas contusões na cabeça, ossos temporal direito e parietal direito comprometidos, com provável hematoma subdural. Está com muita equimose na face, calculamos que pelo menos tenha quebrado o osso orbicular do olho esquerdo, a maxila e o zigomatico. - Eijirou ouvia tudo com atenção, dando uma boa olhada por baixo das mantas ao ajudar na locomoção da maca. - Ele estava em cativeiro, então não tivemos tempo de investigar estas lesões graves, mas temos uma noção que as contusões foram feitas a mais ou menos duas horas.
- Duas horas? Porra, ele teve luta corporal? Qual a individualidade? - Já atravessando as enfermarias, Kirishima sinalizou para a equipe dentro da sala de pequenos procedimentos. Aizawa, Yaomomo, Mina e Denki estavam lá, avançando na maca.
O herói continuava preso na prancha dos primeiros socorros, algumas ataduras ensopadas de sangue no abdômen e na cabeça indicavam múltiplas hemorragias.
- Sinais de luta corporal, sim. Este é o pro hero Ground Zero, doutor. - O coração de Eijirou pareceu despencar quando ele ouviu o nome, engolindo a seco e tentando focar seus pensamentos.
- Tudo bem, podem ir, nós tomamos conta daqui 'pra frente. - Shouta agradeceu, firmando suas mãos nas bordas da prancha amarela ensanguentada. - Transferir em um tempo, na minha contagem! Erguer 1, 2, 3! - Os profissionais sabiam o que fazer, imitando os movimentos firmes do moreno.
- Eu quero a furadeira, abre uma caixa de craniotomia aqui! - Momo pediu para a enfermeira que estava auxiliando, ela fou direto para a cabeça do herói, segurando firme entre os dedos enluvados. Yaoyorozu Momo era Neurocirurgiã, a melhor no Hosu. - Chama um coluna, também.
- Não precisa, eu sou orto. - Eijirou se procunciou, pulando entre os fios das máquinas para ajudar a colega. Ela ergeu a cabeça de Ground Zero, e ele analisou as vértebras iniciais com cuidado, indo no tato. - Tudo bem até a C-7, pode movimentar. - Dito isso ela virou o pescoço do homem, e pegou a furadeira que estava preparada na mesa de auxílio ao lado.
- Vamos tentar retirar as roupas dele, já sabem como esses uniformes são, então cuidado. - Aizwa tinha conseguido desatar todos os feixes do cinto de proteção acoplados na prancha na velocidade da luz, o X laranja característico no peito do herói estava completamente respingado de sangue e uma substância roxa. - Não toquem no roxo, quero uma coleta desse material, chama a infecto! - Mais pessoas correndo dentro da sala minúscula, o suor escorrendo pelas testas dos médicos, Ashido Mina tentava entubar o rapaz enquato Momo realizava a descompressão craniana.
- Abriu o olho! - A neuro gritou, e Denki começou a preparar o local da injeção com cuidado, por ser uma medicação grossa na seringa de vidro, um supressor de individualidade potente. - Vai entrar em consciência em 1, 2, 3. - Ela retirou o tampo ósseo da cabeça do paciente, fazendo jorrar sangue, ele arregalou os olhos e tentou se mexer, sendo firmemente segurado pelos médicos. - Agora, Kaminari.
Ele colocou a agulha na veia já localizada, pressionando o embolo com rapidez e precisão, ele administrou a medicação ja puxando o garrote para fazer o sangue circular. Aquele supressor em específico tambem gerava uma sedação instantânea e analgesia, pois tinha um efeito de queimação intensa no local injetado. Kaminari gesticulou que sua parte estava completa.
- Kirishima, localize e informe para mim todos os ossos com possíveis lesões. Ashido, chame o Cardiotorax e um angiologista. - Aizawa designou, como sempre em tom de liderança. - Vamos virar ele para avaliação nas vértebras, tudo bem Yaomomo?
Ela sinalizou positivamente, concentrada em como segurar firme a cabeça do herói. Mais uma contagem e eles foram rápidos, com Shouta cortando o tecido do uniforme e Kirishima tateando os ossos desde a região sacra e coccixgea até as primeiras torácicas.
- Sem lesão da T-1 ao Cóccix, - Eles voltaram com Ground Zero a posição anatomica, dessa vez Aizawa cortou a parte frontal do uniforme, de baixo para cima, verticalmente. Logo puderam ver uma atadura camuflada por sangue amarrada no meio da barriga. - Chama um geral! - Mais uma vez ele seguiu a teosoura, tateado as costelas e os espaços intercostais no peitoral forte do herói. - Duas costelas verdadeiras esquerdas quebradas, risco de perfuração pulmonar. - Eles dois continuaram, os médicos solicitados chegavam aos montes, todos declarando quais cirurgias precisavam ser feitas de forma imediata.
- Ótimo, Eijirou, solicite um quarto de alta complexidade no CTI, Kaminari, veja quais os perigos essa individualidade em especial podem trazer se suprimida, e chame o Shinsou para caso ele acorde por um milagre divino. - O moreno chamou os seus dois alunos, retirando as luvas sujas de sangue e jogando no lixo junto do capote. - Nosso trabalho aqui em baixo acabou. - Ele disse saindo da sala, os dois rapazes se entre olharam, fazendo o mesmo.
Quando Kirishima saía em rumo ao telefone da enfermaria para fazer a ligação, teve que segurar um rapaz de cabelos verdes e fantasia de super herói que corria direto para a sala onde Ground Zero estava.
- KACCHAN! - O herói se debateu nos braços de Eijirou, com uma força sobre humana.
- Senhor, estamos cuidando dele, você não pode entrar, por favor. - Estava quase impossível mantê-lo no lugar, foi quando a figura conhecida do herói Shouto apareceu, também fardado.
- Izuku, Izuku! Fique calmo, não podemos entrar! - Ele abraçou o de verde, beijando sua testa carinhoso, seus olhos cheios de lágrimas deixava claro que havia alguma ligação entre os três.
- Ele está sendo bem cuidado, eu recomendo que se sentem ali... E... E se acalmem, logo voltaremos com notícias, tudo bem? - Eijirou fez questão de segurar no ombro dos dois, e falar com toda firmeza que conseguiu acumular em seu corpo nervoso.
- Obrigado, doutor, iremos esperar. - Shouto disse e agradeceu cordialmente sem soltar-se do abraço, Kirishima sorriu forçado, correndo para o telefone do prédio.
- Kirishima Eijirou na linha, eu quero um quarto de alta complexidade para daqui à 14 horas. - Ele disse rápido recebendo a confirmação da enfermeira no andar superior.
Suspirando, o ruivo afagou o próprio rosto e tirou os fios de cabelo vermelho grudados na testa. Ele precisava de um café bem forte para se concentrar.
- Vai me ajudar ou ficar aí parado? - Denki apareceu ao seu lado, com papéis e dois copos grandes da lanchonete, lhe entregando um. Os dois caminharam para fora da enfermaria, sentando no banco de pedra ao lado do hospital, a noite estrelada e cheia de fogos acalmou os ânimos de ambos médicos. - Feliz ano novo, bro...
- Feliz ano novo...
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