1. Spirit Fanfics >
  2. Rise of Jedi >
  3. Resistência - parte um

História Rise of Jedi - Resistência - parte um


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Oi, pessoal!!! Tudo bem?
Eu sei que o capítulo ficou um pouco curto, mas eu fui pega de surpresa com um evento desagradável, e precisei me mudar, então posto o capítulo aqui, mesmo que mais curto do que pretendia, para não descumprir com a palavra, ok? Assim, talvez o arco "Resistência" tenha três capítulos, ou a parte dois fique enorme, rs. Ainda não tenho certeza, vai depender do quanto escrever no capítulo dois.
Desde já obrigada a todo que leem, comentam, favoritam e recomendam. Vocês é que fazem essa fic existir!!!
Boa leitura!

Capítulo 22 - Resistência - parte um


Fanfic / Fanfiction Rise of Jedi - Resistência - parte um

            Quando desceu a rampa da White Command, Rey sentiu todo o seu corpo se tensionar ante o silêncio que se seguiu; reconheceu, à frente de todos, a General Organa, ladeada por duas Togrutas: a primeira, sabia pelos registros estudados sobre a Rebelião, Guerras Clônicas e pela estranha visão que tivera, tratava-se de Ahsoka Tano – embora já estivesse com cerca de setenta anos, parecia uma mulher de quarenta ou cinquenta, vestida com trajes marrons e cor de ferrugem, os olhos azuis cheios de desconfiança, estudando a humana. A segunda togruta tinha a pele branco-rósea bronzeada de alguns seres humanos, montrais brancos e azuis pouco desenvolvidos, como os de uma adolescente, embora fosse claramente adulta, o rosto marcado por tatuagens brancas similares às de Ahsoka. Seus olhos eram castanhos, sérios e cheios da mesma desconfiança... Observando os traços, não havia como negar serem mãe e filha. Ladeando o trio, alguns homens desconhecidos, e Finn no meio deles, junto a Chewie. Ninguém reagiu. Nenhum som, e a Jedi não sabia o que fazer: metade daquelas pessoas, no mínimo, desconfiava de si, e não sem motivo...

            O silêncio foi quebrado por uma voz jovem quando, descendo a rampa com um salto, Asala se esqueceu de toda formalidade ao correr em direção a Ahsoka Tano:

            - Vovó!

            Parecendo igualmente esquecida de tudo o mais, a togruta se abaixou e envolveu a neta nos braços, num abraço apertado; sem ligar para o fato de a garota já ser bem alta, e ter deixado de ser uma menininha, ergueu-a no colo sem soltar aquele enlace de seis anos de saudades.

            - Asie! Minha menininha! – colocou-a no chão, e foi a primeira vez que qualquer um ali viu Ahsoka Tano chorar, quando uma única lágrima de pura felicidade escorreu por seu rosto – tão crescida! Tão linda – correu os dedos pelo rosto da neta, olhando então para as roupas com o símbolo Jedi da criança, assim como o sabre de luz em seu cinto – e Padawan...

            - Sim! Padawan, como você foi, um dia! – respondeu a menina, eufórica e radiante ao ver o orgulho nos olhos da avó, olhando então para a Jedi, que timidamente avançava, tentando não parecer uma intrusa – graças à Rey. Ela é quem me protege, e mantém os Cavaleiros de Ren longe de mim. Ensinou-me a encontrar a Força em mim, e está me treinando. É a melhor mestra que eu poderia desejar, e amiga também!

            As palavras espontâneas da criança pareceram relaxar um pouco todo o grupo, que se dispersou um pouco. Menos tensa, Rey se adiantou e dirigiu-se primeiro a Leia, curvando levemente a cabeça:

            - General Organa, fico feliz em nos reencontrarmos.

            - Digo o mesmo, Rey. – havia felicidade verdadeira nos olhos da General, que estendeu a mão e segurou a da moça – tem feito um trabalho admirável, menina. Agora pode descansar: está a salvo e entre amigos, enquanto estiver aqui.

            - Mas... Por que me chamaram aqui? Quem são essas pessoas?

            - montamos aqui uma das bases daquilo que sobrou da Resistência – respondeu Ahsoka, mantendo a neta perto de si. Ao ver a humana se voltar em sua direção, saudou-a com deferência – Seja bem-vinda, Padawan Rey Solo. Ouvi muito a seu respeito, mas apenas agora sinto, ao vê-la, que as palavras correspondiam à verdade. – o semblante da mais velha se suavizou – esta é minha filha, Kena Jarrus – pousou a mão no ombro da togruta de montrais curtos – mãe de Asala, e esposa de Shakaar Ishlay, chefe do clã.

            - Fico honrada em conhecê-las – disse a humana, tentando soar polida. Diplomacia ainda não era seu forte, mas não queria ofender ninguém. Seus olhos buscavam a todo momento a figura de Finn, o qual também a observava, e isso não passou por despercebido a Ahsoka, ou Leia, a qual declarou:

            - Relaxe, menina. Mais apresentações podem ser feitas mais tarde, e explicaremos tudo com calma. Agora... – a General olhou para o ex-stormtrooper, que aguardava ansioso ao lado de Chewie – há duas pessoas ansiosas por revê-la. – e indicou displicentemente com a cabeça, aliviando a tensão do momento. Com um sorriso, Rey apenas deu um último olhar para Asala - a qual estava agarrada à avó e falava com a mãe - para logo depois correr para Finn, trocando com o amigo um abraço apertado, o qual falava infinitamente mais do que todas as palavras da galáxia.

 

*

 

            Rey e Finn estavam sentados numa rocha atrás dos alojamentos, a moça com a cabeça deitada no ombro do amigo, o qual acariciava fraternalmente sua cabeça. Havia mostrado à Jedi toda a pequena base na lua, desde os alojamentos até os campos de treinamento camuflados sob as árvores; um complexo criado em conjunto por Leia e Ahsoka, patrocinado por Kena Jarrus através de pequenos desvios feitos das finanças da cidade. Corrupção? Talvez, mas não maior do que se submeter à Primeira Ordem e permitir coisas como bases de contrabando, venda de escravos, depósitos de armas e ainda suportar as constantes humilhações dos oficiais que os tratavam com condescendência, como se os togrutas fossem de algum modo inferiores.

            - Eu ainda não entendo – disse Rey – Se Shilli está parcialmente ocupada, por que uma base aqui?

            - Uma base pequena. – respondeu Finn – o último lugar onde esperarão nos encontrar é exatamente sob seus narizes, então é o lugar mais seguro. Mas temos outras bases. Assim, nunca sabem onde realmente estamos; graças a Poe, treinamos alguns pilotos capazes de fazer barulho por uma esquadra inteira. – ele respirou fundo – mas as coisas estão... Estranhas. A Primeira Ordem está quieta, e tem deixado Shilli em paz. – o rapaz encarou a amiga – você tem algo a ver com isso?

            - Menos do que Eilenia Shan. Ela é a principal administradora e conselheira de relações interplanetárias. Mas estamos fazendo progressos.

            - Metade dos rebeldes a odiando por ser casada com Kylo Ren, e você sabotando o Império por dentro – riu-se o ex-stormtrooper.

            - Não estou sabotando o Império. – corrigiu a moça – estou tentando trazer paz e justiça. Transformar ocupações e repressão armada em negociações, aplacar os ânimos, mostrar a Ben que existem meios muito mais eficazes do que apenas o medo.

            - Então o está ajudando?

- Estou ajudando as pessoas, Finn. Indivíduos que não pediram para serem jogados no meio de uma nova guerra, sem poder para se defender, oprimidos por décadas de conflitos na galáxia. – a Jedi se esquivou do abraço do amigo – eu tive a chance de estudar, e o que eu vi... Regimes se levantam e caem, mas quem mais sofre não são os que ocupam o poder: é o povo. Pessoas que não têm ninguém por si, e acabam sendo escravizadas, abusadas, tendo seus mundos saqueados... Pessoas que não têm ninguém para falar por si. Leia fala pela República, a Primeira Ordem fala por um Império. Mas nenhum deles está olhando mais para baixo: para quem realmente sustenta ambos os sistemas, e é esmagado pelo peso de sustentar e prover com recursos cada novo embate, cada armada, esquadrão, exército...

- A General disse que você provavelmente agiria assim. – respondeu o moço, levantando-se. Estava admirado com as mudanças vistas em Rey, tão mais madura e consciente – ela a admira profundamente, sabia disso?

- A mim? – as palavras soaram com sincera surpresa. Leia Organa era uma princesa, ex-senadora, general... Como podia merecer admiração de tal mulher?

- No começo não era apenas o Chewie quem estava com raiva de você – explicou Finn. De fato, Chewbacca se ressentia muito por Rey estar casada com o homem que matara seu melhor amigo, e não dirigia a ela senão grunhidos malcriados – até eu estava. Achei que tinha se entregado, optado pela via mais fácil e se rendido, em vez de lutar... E então ela nos reuniu, disse tudo o que você teria de enfrentar lá dentro, e falou, dentro dos limites de segredos que guarda de todos, o que tem feito para nos auxiliar. Ressaltou os riscos a que se expôs, as vezes em que enfrentou Kylo Ren, especialmente na questão dos rebeldes infiltrados na Primeira Ordem. Acho que ela mesma atiraria em quem tentasse lhe fazer algum mal.

A Jedi sorriu, sem saber especificar a sensação: era boa, mas desconhecida, mistura de segurança, satisfação e um leve acanhamento; seu amigo não lhe deu muito tempo de silêncio antes de perguntar:

- Agora, está me devendo uma explicação: eu desmaio na neve, e quando nos vemos outra vez, você está detonando um hangar inteiro só com um sabre de luz! Passamos mais seis meses sem nos vermos, e virou uma Jedi? – ele apontou a trancinha que pendia atrás da orelha de Rey - Para não falar naquela coisa que você chama de Gea, e eu ainda acho que ela me quer no jantar! Tenho estado congelado em carbonita, para perder tanta coisa?

Rey gargalhou da espontaneidade de Finn, mais cômica ainda pela falta de intenção de humor; ficando em pé, puxou o amigo pela mão:

- A vida tem andado agitada, para mim. Não, você não ficou congelado em carbonita: a verdade é que, às vezes, nem eu sem o que está acontecendo antes de já ter acontecido. Como Gea. Foi totalmente não-planejado.

- a sorte tem um senso de humor estranho, em relação a você.

- a sorte eu duvido... Mas a Força? Se fosse uma pessoa, eu daria em sua cabeça com uma pedra. – e riu baixinho – mas tem sido interessante. Talvez interessante demais para quem passou tanto tempo na monotonia de Jakku. – ela tirou alguns fios de cabelo da frente do rosto, e o modo como o olhou... Foi naquele instante que Finn compreendeu ser a mesma Rey que conhecera. Mais sábia, mais madura, mas o olhar guardava a mesma intensidade e inocência, uma luz que sombra alguma poderia apagar. Isso o fez sorrir:

- Ainda é você. – a mulher não precisou perguntar do que ele falava; apenas assentiu.

- Sou. E não deixarei de ser. – abraçou o amigo com força, sentindo-o corresponder, e naquele instante sorriu como poucas vezes havia feito, nos últimos meses, totalmente descontraída e feliz, sem qualquer porém a atormentar sua alma. Ele tornou a sentar na rocha, ainda abraçando a Jedi, e ficaram juntos mais algum tempo, Rey com a cabeça deitada no ombro de Finn, ele com a cabeça pousada contra a dela, um contando ao outro sobre o que havia acontecido ao longo dos últimos seis meses. A moça não omitiu nada: não havia necessidade, com Finn. O ex-stormtrooper manifestou preocupação, indignação, revolta, felicidade... Cada fato contado lhe causava alguma reação diferente, e nada o divertiu tanto quanto ouvir sobre as trapaças de Rey ao acessar sistemas clandestinos para estudar livros "proibidos", o modo como manipulava os oficiais, na medida do possível, e mesmo chegava a dobrar Kylo Ren, algumas vezes.

Ele exultava de modo preocupado ante os relatos das batalhas de naves, satisfeito ao saber que a Primeira Ordem enfrentava dificuldades internas, pois isso significava que não haveria guerra, tão cedo, mas protestava com veemência ante os relatos de manobras quase suicidas da amiga, que apenas ria ainda mais. E finalmente, ficou muito interessado sobre a Tuk'ata Gea, que ora se deitava preguiçosamente sob uma árvore, sentindo o sol pela primeira vez em séculos. Ao ver isso, perguntou:

- eles não deveriam ser avessos à luz? Você disse que eram imbuídos do Lado Sombrio...

- bom, ela não é exatamente comum... Eu ainda estou tentando entendê-la, e o que realmente aconteceu para nos ligar dessa forma.

- um animal que deveria pertencer ao Lado Sombrio se ligou à pessoa mais cheia de luz da galáxia. A vida é cheia de coisas estranhas e maravilhosas. – havia ternura na voz do cadete da Resistência. Ambos ergueram o rosto, e Rey sorriu para o amigo com carinho, antes de perguntar:

- E você? Além das jogatinas com Poe e o resto dos pilotos, treinar com o Esquadrão Negro e viver como rebelde... Como está a situação com aquela mocinha? Rose, não é? - Rey podia jurar que Finn corara ao dizer:

- não sei do que está falando.

- não minta para mim! - riu a moça - está todo desconcertado só em falar dela!

- e você vai entrar na minha mente para descobrir meus pensamentos? - perguntou ele, fazendo troça. Rey fez cara de má e estendeu a mão aberta diante do rosto do amigo:

- diga-me seus segredos, rebelde!

- ah, não! - ele fingiu se esforçar para manter silêncio, antes de prosseguir - Poe ronca como um motor, e só durmo bem quando ele foge para o quarto de Kaydel!

- FINN! - protestou a menina - eu não queria saber dessa parte!

Gargalharam ambos, e parecia que até mesmo a loba de olhos vermelho-claros os observava com diversão. Gea claramente desfrutava da liberdade após tanto tempo de confinamento e, pela ligação com Rey, conseguia encontrar prazer em coisas que jamais valorizara, como o sol em seu corpo - algo antes até incômodo - o cheiro da grama, o frescor da brisa... A própria felicidade da Jedi, que contagiava sua guardiã e a fazia experimentar sensações puras através da conexão; sensações jamais vivenciadas com seu antigo mestre. A Tuk’ata sentia que estava se transformando, modificando, mas não lutaria contra isso: eram os desígnios da Força, e não havia sentido em evitar a mudança. Agora era a Tuk’ata de uma Jedi, e sua natureza simplesmente aceitava as consequências do fato; não era bom, nem ruim, apenas era. De qualquer modo, sentia-se incrivelmente satisfeita e feliz naquele momento e, como ditava sua natureza animal, não pensava no futuro, apenas vivia o agora.

O momento de descontração, porém, foi interrompido quando a figura de Ahsoka Tano se aproximou, ainda que esta tivesse um sorriso leve no rosto. O cadete e a Padawan se levantaram de imediato, saudando em uníssono:

- General Tano.

- Boa tarde, Finn, Rey. Bom ver que estão se divertindo; não gostaria de saber que esses tempos difíceis tiraram a capacidade de alguém de encontrar momentos de felicidade. - Ela se livrou displicentemente do manto marrom, descontraída, mas Rey percebeu o quão fluidos e calculados eram seus movimentos, como se seu corpo houvesse sido condicionado à precisão, a não desperdiçar a energia de um músculo sequer. Pela habilidade adquirida com os anos de avaliar as pessoas, Rey logo soube que Ahsoka era dotada de um nível de excelência em combate superior a tudo o que já vira. A Togruta se juntou aos jovens sentados na rocha e sorriu com gentileza para o cadete:

- Finn, eu sei que está com saudades de Rey, mas posso pedir alguns momentos sozinha com ela?

- Claro, General.

- Eu já falei que, fora das missões, é apenas Ahsoka. - Censurou com algum divertimento. O rapaz se levantou e prestou continência:

- Como quiser, General. - E se desviou rapidamente da pedrinha que Ahsoka lançou contra ele, sem força, saindo entre risos dali, enquanto a própria Rey sufocava uma risadinha ante o olhar travesso do amigo - até mais tarde, Rey!

- Esse garoto ama me importunar. – A mais veha revirou os olhos, divertida - Como se eu já não tivesse lidado com meninos atrevidos o bastante, na vida! - Parecia uma tentativa de iniciar uma conversa informal, e Rey se forçou a não se fechar em si mesma, como ainda era seu instinto diante de estranhos.

- Ele merece um pouco de diversão. - Comentou de volta - sofreu tanto, antes...

- Assim como você. - Ahsoka se virou de frente para a menina, serena e quase terna - Ouvi muito a seu respeito, Rey, de Jakku. Não apenas de pessoas, mas da Força.

- Anakin lhe disse que eu vinha, não foi? - Perguntou a mais jovem, lembrando-se de seu "sonho".

- Sim. Ele lhe contou isso?

- Não... Eu... Eu tive uma espécie de sonho... – a humana hesitou, pensando em como continuar – Não sei por que, mas... Vi o espírito dele lhe falando, e você... - Rey fitou o braço mecânico de Ahsoka - mutilar a si mesma, com um sabre de luz branco.

Os olhos da rebelde se arregalaram de surpresa por um breve segundo, antes de retomar à expressão serena:

- a Força é poderosa em você, Padawan, e lhe mostra coisas que precisa saber, mesmo sem que tenha recebido treinamento algum para obtê-las ou controlá-las. Apenas uma vez eu vi tanto poder em uma pessoa... - os olhos azuis da mais velha se perderam no horizonte, e Rey soube que ela pensava em Anakin. Queria falar algo para consolar a outra, mas não sabia o que, então apenas silenciou. Ainda assim, Ahsoka sentiu a emoção que emanava da jovem, e falou serenamente:

- É muito gentil, Rey. Como ele era. Cheia de compaixão, de vida, de luz... E de sombras. - e antes que a garota pudesse protestar – Não, não é uma crítica: todos temos luz e sombra dentro de nós mesmos, e precisamos ter. Controlar a Força trata-se de equilibrá-las dentro de nós, e tem feito isso de modo exemplar, especialmente com tudo o que enfrentou. Mas a ameaça da queda nas sombras nunca deixa de existir, e a arrogância de ignorar este risco é o que o torna tão grande, para os usuários da Força.

Rey não sabia ao certo o que dizer; a outra mulher parecia saber tudo a seu respeito, e provavelmente sabia a maior parte, já que ouvira os mestres da Força.

- Mestra Tano... Eu não sei o que...

- Apenas Ahsoka. - pediu a outra - Rey, temos muita coisa a conversar. Somos estranhas uma à outra, e nosso tempo é curto, mas preciso que vá contra tudo o que aprendeu, e confie em mim. Como eu irei contra tudo o que sempre fiz, e irei confiar em você. - Outro sorriso brotou nos lábios da Togruta - embora tudo o que Asala me contou seja, ainda mais do que as palavras dos Mestres da Força, algo que me tranquiliza e anima. A propósito, estou em débito para com você, por cuidar de minha neta e treiná-la, mesmo estando a lidar com problemas e desafios enormes.

- eu não sei o que dizer... - engasgou Rey, um pouco acanhada - ela precisava de mim. Como poderia dizer não? Quer dizer, eu ainda estou aprendendo, mas poderia ensinar o que já houvesse aprendido a ela, e protegê-la de usuários do Lado Sombrio. - ela respirou fundo - mas, a maior parte das vezes, ela me ensina muito mais do que o contrário - e havia um sorriso nos lábios da Padawan ao dizer isso.

- tem um coração bondoso, que nem mesmo a dureza de sua vida pôde tirar. Uma bondade rara até mesmo nos Jedi que conheci, que confundiam o desapego com frieza. - a questão era muito pessoal para Ahsoka, que sabia já estar envolvida naquilo de modo irreversível - sei que seu treinamento está incompleto, minha jovem, mas também sei que enfrenta dificuldades e batalhas como uma Cavaleira Jedi, e tem se mostrado exemplar com base apenas em seus instintos.

- tento fazer o certo... Mas nem sempre consigo, Ahsoka. - Rey baixou a cabeça, pensando em Brenwen - tenho os Mestres da Força, aprendi muito através das memórias de Ben Solo, mas... Às vezes sinto-me tão... Perdida. Com tanto medo de errar... - Rey não era do tipo que chorava, mas sufocar a vontade não fazia com que estivesse menos presente, e a mulher mais velha podia sentir isso.

- não poderia ser diferente. - havia muito tempo que não falava a estranhos sobre seus tempos de Jedi - parecia assustador para mim, quando eu era Padawan, sabe? E isso após dez anos de treinamento no Templo Jedi. Tinha medo de falhar, de fazer algo errado, e eram apenas missões muitas vezes supervisionadas por um Mestre ou Cavaleiro. Posso apenas imaginar o quão enorme e assustadora deve parecer a missão que assumiu, Rey, mas não está sozinha. - com um movimento sereno e firme, segurou a mão da garota, transmitindo a ela um pouco de sua serenidade e firmeza. - tenho uma pergunta, Padawan. - o olhar indagador de Rey a encorajou a prosseguir - os mestres me disseram para ajudá-la. Eu não sou uma Jedi, mas tive o treinamento completo. Se assim me permitir, e desejar, posso lhe passar o que sei. Posso treiná-la, preencher as lacunas e estender seus conhecimentos. - ela viu o espanto da moça - não me responda agora. Quero que pense, e diga não o que acha que os mestres querem, ou a Força. Quero que diga o que você, Rey Organa Solo, realmente sente que precisa. – Com essas palavras, ergueu os olhos para o céu do entardecer – e agora, acho que já ficou afastada tempo o suficiente. Finn já lhe mostrou as instalações?

- Sim. Apresentou-me alguns dos membros do Esquadrão Negro, também, como Poe e Rose, e um ou dois oficiais, como a Tenente Connix.

- Isso é bom. – Tano se levantou e estendeu a mão para seu manto, que veio até ela – Venha: você precisa se lavar e aprontar a tempo para o jantar; Leia irá querer aproveitar a ocasião para apresenta-la formalmente a todos os presentes. – olhou para Gea, que se levantara – Pode garantir que ela não representa perigo para ninguém?

- Só se a pessoa tentar me ferir. – garantiu a moça – senão, estão todos em segurança.

A Togruta fechou os olhos e sentiu a Força, concentrando-se na percepção do vínculo formado entre a Padawan e o lobo-Sith; firme e sólida, mas ainda se aprofundando, modificando, tornando-se gradualmente mais completa. Muito recente, mas ainda assim, poderosa. De Gea emanava um poder primitivo, selvagem e ancestral, um conhecimento de séculos, instintos agressivos e ferozmente protetores. De Rey, irradiava luz, racionalidade, vontade, compaixão... Essas energias se encontravam e fluíam de uma para a outra: os instintos e conhecimentos da loba aguçavam e aprimoravam os de Rey, enquanto a luz da Jedi tornava a fera mais branda em seu ímpeto destruidor e aplacava a raiva, tornando-a mais racional e compassiva... Ahsoka quase poderia dizer que, lenta e gradualmente, aquela ligação puxava o Tuk’ata das sombras para uma zona crepuscular, nem de luz, nem de trevas, misto de ambos. Ela já vira ligações com animais sencientes, e lembrou-se de Ezra e Dume... Sentia ali o mesmo tipo de vínculo formado, fortalecendo-se a cada segundo. Talvez a Padawan ainda não compreendesse o quão poderoso e valioso aquele elo haveria de se tornar, mas senti-lo era um privilégio, e serenou as preocupações da general.

- Uma ligação forte e magnífica, Rey. Aos poucos descobrirá quanto, à medida que o laço se consolidar. – a seguir, indicou o complexo com a cabeça – vamos?

- é claro. – ainda pensando sobre tudo o que ouvira, a Jedi apenas chamou Gea com um pensamento, e logo tinha sua loba ao seu lado, acompanhando-a quase colada a sua cintura, como se procurasse maior contato com aquela a quem fora ligada por obra da Força.

A general guiou ambas até os aposentos destinados a Rey, que ficou surpresa ao ver Asala arrumando suas coisas em um dos leitos. Antes que pudesse perguntar o que fosse, a criança lhe lançou um sorriso maroto:

- Não achou que ia se livrar de mim, achou?

- Nem de longe pensaria isso, Atrevida – riu-se a Jedi.

- Achamos que seria mais cômodo se ficassem juntas – disse Ahsoka, fitando a neta com um olhar de infinito amor, antes de tornar a encarar Rey – descanse. Finn virá busca-las para o jantar, em breve.

- Obrigada. – não foram necessárias palavras para a ex-Jedi compreender que o agradecimento abrangia tudo o que acontecera na última hora.

- Procure-me se precisar de qualquer coisa. – e para Asala – sem destruir nada, Asie! Por tudo o que é sagrado, mantenha esse sabre desativado!

- Prometido, vovó! – a pequena correu até Ahsoka e lhe deu um beijo estalado no rosto, abraçando-a com força ao sussurrar – eu te amo.

- Também amo você, meu raio de luar – respondeu a anciã, no mesmo tom, usando o apelido carinhoso que dera à neta desde que a segurara nos braços pela primeira vez. Recompondo-se, respirou fundo e declarou – vemo-nos em breve, meninas. – a porta se fechou atrás dela, e agora as duas Padawans estavam a sós, Gea deitada preguiçosamente no piso, o trio compartilhando um olhar misto de alegria e incredulidade.

- A Resistência é incrível! – começou a mais nova – Quero pilotar com o Esquadrão Negro, um dia! Conheci vários cadetes que o Comandante Poe está treinando, e ele me chamou para aprender a pilotar um X-Wing! Depois eu mostrei um pouco do que você me ensinou para vovó, e ela estava orgulhosa, disse que estamos fazendo um bom trabalho! Contei das negociações com os Nutt e... – a pequena falava sem parar, atropelando as palavras em sua empolgação enquanto contava o que fizera durante a tarde que Rey passara na companhia de Finn. Era engraçado e também gratificante vê-la agir como apenas uma criança extremamente feliz com os últimos acontecimentos. Finalmente, após uma longa lista de coisas que vira e fizera, opiniões sobre pessoas diversas e expectativas, ela se deixou cair de costas em seu leito com um enorme sorriso – estamos em casa, Rey! Em meio aos nossos!

- Sim, Asie. – sorriu a Jedi, embora parte de si a lembrasse de que também possuía um lar junto a Ben, Lena, Brenwen, os amigos que fizera dentro do Império. Mesmo partilhando os ideais da Resistência, não deixava de amar aqueles que a aguardavam na Regiões Desconhecidas. O que isso a tornava, afinal? Contudo, não manifestou seus pensamentos: não precisava acabar com a alegria esfuziante da pequena togruta.

- Rey – a menina se sentou na borda da cama – poderíamos trazer Brenwen e Lena para cá. Trabalhar com a Resistência!

A Jedi fechou os olhos: era exatamente o assunto no qual não queria tocar. Procurando as melhores palavras, sentou-se ao lado de Asala:

- Brenwen e Lena não são as única pessoas inocentes no Império, Asala. Mesmo se o Líder Supremo decidisse dissolver o Império amanhã, aconteceria guerra, e trilhões de inocentes iriam sofrer. Não podemos simplesmente sequestrar todos eles e levar para um lugar seguro, porque uma galáxia em guerra não tem lugares seguros. Além disso, tanto República quanto Império têm inúmeros problemas para lidar: corrupção, escravidão, ambição desmedida, as consequências de seguidos sistemas falidos. Planetas arrasados em que as pessoas vivem à míngua... Não é o tipo de coisa que se pode resolver com um sabre de luz, ou explodindo coisas com um X-Wing. – os olhos da pequena ficaram mais sérios e perderam um pouco da própria alegria. Ao ver isso, Rey continuou – escute: você está em casa. Sua avó pode concluir seu treinamento como Jedi. Vai estar segura, aqui, e poderá integrar o Esquadrão Negro, lutar junto à Resistência e ajudar a reeguer a República.

- Pode parar por aí mesmo! – protestou a mais nova – eu não vou te abandonar, Rey Solo! – havia indignação da menina, que ergueu as mãos num gesto de “pare”.

- Asie, eu não sou uma Jedi formada. Tenho muito a aprender, e as coisas devem se tornar cada vez mais perigosas. – a voz de Rey era pura preocupação. Sabia que não recebera nenhum preparo para ser mestra, e talvez fracassasse de modo retumbante nesse aspecto!

- mais um motivo para que fiquemos juntas. Não pode lutar sozinha: é uma galáxia grande demais. Precisa de amigos. Precisa de sua família. E eu não vou te deixar. Sim, num momento de euforia, eu quis me juntar à Resistência e lutar como uma pessoa normal, mas você agiu como uma boa mestra e me lembrou das responsabilidades que temos, por causa do que nos foi dado. Não somos pessoas normais, e não podemos ignorar a responsabilidade que isso traz. – havia determinação nos olhos da criança, e também um profundo afeto que enterneceu o coração de Rey – você não me deixou sozinha, quando precisei de você. Minha vez de retribuir. Vamos lutar, sim, mas juntas, e do jeito Jedi. – as mãos pálidas da menina seguraram com firmeza as bronzeadas da mestra – Eu prometo.

- Vai continuar se sacrificando, longe de sua família... – alertou a mais velha. Podia proteger a criança contra males físicos, até certo ponto, mas não contra coisas como saudade, solidão...

- Eu também tenho uma família no Império! Uma da qual você é parte! E um Jedi precisa colocar a paz e o bem acima de suas próprias necessidades pessoais, não é? Amar sem apego. As pessoas que eu deixar aqui, continuarei amando, e elas a mim, mas temos deveres para com tudo aquilo em que acreditamos. Eu aceitei isso no dia em que pedi para ser ensinada.

- Você é tão jovem, Asala... Esta é uma escolha para toda a vida!

- Não fui eu quem fez essa escolha, mestra: a Força me escolheu, por algum motivo, e não vou virar as costas a isso, como você não virou. – ela baixou a cabeça, não triste, mas um pouco envergonhada – desculpe por, no entusiasmo, ter me esquecido do dever de um Jedi. Foi apenas algo passageiro, mas farei de tudo para que esse vício não me tome, de novo. Jedis priorizam o que é certo, não o que é fácil.

Rey puxou a menina togruta para si num abraço, orgulhosa da pequena e, ao mesmo tempo, passando-lhe algum conforto, como se para afirmar que não a deixaria sozinha:

- Ainda nem completou doze anos-padrão, e já fala como uma adulta. Mal se tornou Padawan, e se compromete como se fosse uma Cavaleira. De onde tira tudo isso, Asie? Toda essa força, e toda essa vontade?

- Das histórias que eu ouvia. – respondeu a menina, com um sorriso sonhador – de quando vovó era Padawan. De cada palavra dela sobre a Força, e o que os Jedi eram, ou deveriam ter sido. Das coisas que Mestres Skywalker, Yoda, Obi-Wan e tantos outros lhe ensinaram: honra, desapego, coragem, humildade, altruísmo... Eu queria ser o que ela tinha sido. Depois, vieram as histórias de Eilenia, e eu quis mais do que nunca ter a chance de fazer algo, de lutar como Jedi para acabar com tanta injustiça e maldade. Essa vontade era – ela suspirou com felicidade – era um vulcão dentro de mim, quase uma necessidade. Então minhas habilidades saíram de controle, você surgiu... Ainda acredita em coincidências, Mestra? Eu, não. Agora, as histórias podem voltar a ser reais. Justiça, paz, honestidade... Tudo isso pode voltar a ter significado, mas não vai acontecer se pessoas que podem fazer a diferença olharem antes para suas necessidades do que para o que é certo!

Havia tanta paixão e certeza nas palavras da Padawan, que a própria Rey se sentiu motivada; não era boa com palavras, mas Asala era, e colocara em frases tudo aquilo em que a própria Jedi acreditava. Não, não ouvira histórias quando pequena, pelo menos não daquela forma, mas o último ano inflamara sua alma com o mesmo sentimento descrito pela pequena: o desejo de fazer a diferença, e a certeza de que, podendo fazer algo pelas mudanças, não tinha o direito de voltar as costas ao que lhe fora dado. Isso fez a humana sorrir e acariciar ternamente a bochecha da aprendiz:

- Ensina-me tanto ou mais do que eu a você, Asie. Fico feliz que a Força tenha juntado nossos caminhos.

- Eu também. – sorriu a pequena – quando saí de Shilli, eu não tinha irmãs. Ganhei uma em Brenwen, e outra em você. Estamos juntas nisso. Somos família, Rey.

A Jedi sorriu ante as palavras da menina: família. Não fora por isso que ela esperara durante quatorze anos, em Jakku? Agora tinha uma, por mais complicada que fosse, e esse pensamento aqueceu seu coração. Contudo, ainda estava confusa: por que Skywalker lhe dissera para ir até a base? Essa dúvida a incomodou durante as duas horas seguintes, enquanto se banhavam e trocavam para o jantar.

 

*

 

Como prometido, Finn viera buscar ambas; cumprimentara Rey com um abraço, e Asala com um aperto firme de mão, chamando-a de “cadete dourado”, em referência à cor do sabre de luz da menina. Ao que parecia, ele também estava animado para colocar a criança num X-Wing, e tal foi o assunto enquanto seguiam para o refeitório, acompanhados de perto por uma silenciosa Gea, a qual se movia tão discretamente que mais parecia uma sombra. A conversa sobre caças se animou, e logo os três estavam se desafiando para uma corrida!

- Ah, cadete, eu treinei em simuladores! – riu Rey – participei de batalhas no espaço! Voce não vai ganhar!

- Tenho treinado com o Esquadrão Negro, senhorita “sou um ás como piloto” – rebateu o rapaz – e já abati algumas naves de piratas, até mesmo alguns batedores imperiais!

- Ah, meu garotinho cresceu! – provocou a Jedi – vai provar isso num caça?

- Vocês dois vão comer poeira! – disse Asala – entrei num Wing e já aprendi os controles todos. Além disso, já copilotei para Rey, então sobrevivo a qualquer coisa! Quero ver me alcançarem.

- Hey, atrevida! – provocou Finn.

- Meu apelido – devolveu a jovem togruta, com um sorriso maroto – tudo bem, Finn, eu alivio e te dou um quase-empate, para não ficar feio na frente do seu comandante. Ou da Rose. – e riu baixinho. O cadete corou:

- Vocês duas podem mudar de assunto, por favor?

- Por enquanto – disseram mestra e padawan em uníssono, trocando um olhar cúmplice. O rebelde fechou a cara:

- Vamos logo. Não quero deixar a general esperando. – praticamente empurrou as duas moças pelo corredor até o grade espaço onde todos se reuniam para as refeições; um droide servia os presentes, e Rey ia se encaminhando para junto dos demais quando Finn e Asala seguraram sua camisa, puxando-a em direção à única mesa posta transversalmente às demais, colocada sobre um pequeno tablado que fazia qualquer coisa dita ali ser claramente ouvida em qualquer ponto do local. Ali estavam sentadas Leia, Ahsoka, Kena, Poe, Amilyn Holdo, Connix e algumas outras pessoas que Rey não reconheceu, como uma Twi’lek de pele verde e, ao seu lado, um homem de cabelos verdes que, pelos traços, era claramente seu filho. Contudo, ao lado de Leia havia uma cadeira vaga, e outra entre Ahsoka e Kena, para onde Asala se dirigiu. Contudo, a pessoa que estava do outro lado da cadeira à esquerda de Leia respondeu à dúvida persistente da jovem Jedi: Luke Skywalker.


Notas Finais


E aí? O que acharam? Leia, Ahsoka, Finn.. E Luke. O que será que ele tem a falar com Rey, e o que irá achar dessa inusitada ligação com Gea?
Quero muito saber a opinião de vocês e, mais uma vez, desculpem o capítulo ser mais curto do que o habitual.
Beijos enormes, e que a Força esteja com vocês! Próximo capítulo ainda esse mês, para os últimos dias.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...