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História Rising Tide - Ari-Anna


Escrita por: Orbis

Notas do Autor


Voltei mais cedo do que previsto - apesar de que não tinha nada previsto -qq - trazendo o capítulo 26 onde teremos três POVs queridos: Kristoff, Jack e Anna.
Eu não vou enrolar muito aqui, o capítulo tá curtinho SÓ QUE NÃO, tem muito coisa significativa aqui, eu espero que gostem e, ouso dizer, é um dos meus capítulos favoritos <3
O último POV é do Anna, nele terá alguns trechos inteiros em itálico, algumas pessoas ficam confusas, então já aviso de antemão que se tratam de LEMBRANÇAS, enquanto ela conversa com os rapazes e comenta vagamente.
Então, não vamos delongar mais...
Enjoy! ^^

Capítulo 26 - Ari-Anna


ARI-ANNA

 

POV Kristoff

- Ei, grandão!

Fosse qualquer outra pessoa, eu estaria surpreso ou até mesmo irritado pela forma a qual me cumprimentava. Exalava afinidade, coisa difícil de eu me permitir ter com qualquer um.

Mas se tratava de Merida. Quem consegue ficar irritado com Merida? E esse modo de tratamento vindo dela para comigo tornou-se um hábito nas últimas semanas, então...

- “O sol já vai se pôr.” – completei, ainda de olhos fechados, esperando que ela captasse a referência.

A risada animada dela denunciou isso. Referência entendida com sucesso.

- Será se temos um fã da Marvel aqui? – tentei manter-me sério, mas é meio difícil, ainda mais na companhia alegre dela. – Eu sabia! Vou passar a te chamar de Hulk a partir de hoje, pode? – pensei por um segundo, dando de ombros por fim. – Legal. Já to acostumada com seu jeitão monossilábico. Vamos conversar! – sentou-se ao meu lado.

- Ok.

- Como anda a vida?

- Tropeçando (?), e a sua?

- Paraplégica (??). – minha risada foi espontânea, o que acarretou risadas dela também. 

Eu estava deitado numa das partes mais distantes da concentração de pessoas no gramado de Oxford. A claridade em meu rosto era o radar caso alguém se aproximasse e formasse uma sombra, como aconteceu quando Meri chegou. Ela não se deitou ao meu lado, como nos outros dias. Manteve-se sentada, então sentei-me também para fazer companhia a ela.

Tive vontade de acender um cigarro, mas apenas contentei-me em apreciar o ar perfumado de abril, dado o desabrochar das flores no ápice da Primavera, o que irritava meu nariz vez ou outra.

- Quer? – me estendeu um saco cheio de guloseimas. Aceitei um chiclete e apenas isso. – Bom garoto (?). – sou um cachorro agora?

Tenho ficado mais próximo de Merida desde que Anna decidiu passar a agir de forma bem estranha em relação a mim. Porque, porra, o monossilábico da história deveria ser eu, né? E por mais que eu já tenha engolido meu orgulho e perguntado a Merida o que aconteceu, a ruiva só desconversava e dizia que não sabia. Também dizia que o melhor a se fazer é conversar com Anna.

Sem chance. Até parece que aquela mulher teimosa vai me dizer alguma coisa.

Suas atitudes evidenciavam o arrependimento que a consumia e eu cheguei a me odiar por ter sido tão impulsivo.

Sim. Eu agi num impulso absurdo. Mas... a forma deliciosa com a qual ela me correspondeu, por um momento, me levou a ideia errônea de que tudo ficaria bem. De que, mesmo no calor da raiva e do momento, eu havia feito a coisa certa.

Puta engano.

No dia seguinte, foi como se o jornal local tivesse feito toda uma cobertura da porra de um beijo entre universitários. Que merda. O assunto foi tão exageradamente comentado, que cheguei a me questionar se eu apenas a beijei ou na verdade havia arrancado suas roupas no meio do campus e trepado até o sol se pôr (?). O que não seria má ideia (??). Um assunto realmente digno de tanta repercussão desnecessária.

- Mas o que você esperava, Kris? – dizia a ruiva quando desesperadamente decidi conversar com ela num momento em que a poeira ainda estava alta. – Mesmo sendo membro do secret club mais cafajeste do campus, nunca vi você dar condição a ninguém, embora eu saiba que acontece. Você é o mais reservado dos phoenix, seu mistério incita interesse, não é à toa que vejo mulheres que só faltam jogar a pepeca na sua cara e você nem tchum (?). – revirei os olhos, dando de ombros. – Soube que você dispensou a Aurora, de Sociologia. Aquela dalilah belíssima.

- Tá louca? Dei uns pega nela sim. – ela parecia surpresa, mas sorriu maliciosa. – Sou reservado, mas não desprovido de bom senso (?).

Não mencionei os fatos por trás do meu envolvimento com Aurora – principalmente porque a mera menção à noite em que ficamos pela primeira vez é bem proibida, tanto pelos Phoenix quanto pelas Dalilahs.

- Os boatos nascem de alguma situação e esse diz que você a dispensou.

- Dispensei depois que ela achou que eu participaria de bom grado do exibicionismo barato das dalilahs. – exprimi um muxoxo, de certa forma, era verdade. Mas Merida não precisava saber de toda a verdade. – Essa parada de ficar de agarramento na frente de todo mundo, beijinho e abraço, não é comigo não. Tô fora.

- E no entanto, você beijou a Anna no meio de todo o campus. – concluiu com serenidade e eu a encarei perplexo. – Sim, Kris. Você quebrou suas próprias regras. E isso chamou atenção.

Aquela conversa foi bem esclarecedora.

Anna estava constrangida.

E arrependida.

Evidentemente.

Aquilo me machucava mais do que eu podia admitir.

Mal nos falávamos. Mal nos olhávamos. Nós não discutíamos mais. Sim, nem discussões!

Nenhum dos dois ousou falar sobre o que aconteceu, na verdade, depois que o assunto morreu, era como se nem tivesse acontecido.

O que mais me incomoda é que... O motivo para ela estar agindo assim comigo é justamente o que me tirou o sono nesses últimos dias.

Me intrometi demais nos assuntos dela. Me senti no direito de afastá-la de alguém que ela considerava amigo por conta de... Argh, me recuso a falar. Quem sou eu para ditar quem ela deve ou não conversar? O Hans pode ser um babaca. Mas eu não sou nada dela, caralho.

Esse pensamento me deprimi. Não estou surpreso.

Mas continuo a andar por aí com a postura indiferente de quem não dá a mínima.

Ninguém precisava saber que eu ainda conseguia sentir a sensação da sua boca na minha. Ninguém precisava saber que vê-la pelos corredores se tornou uma tortura particular e que resistir a ela era quase impossível agora que eu conhecia o gosto do seu beijo.

A filha da puta me dominou de uma forma tão covarde e sem fazer absolutamente porra nenhuma!

Isso me assusta. Pra caralho.

Grunhi irritado ao lembrar do dia em que quase admiti isso a Merida.

- Eu ein. Algo te incomoda? – e a voz dela se faz presente, estranhando o grunhido involuntário.

- Não.

- Talvez minha presença?

- Nunca.

- Tudo bem, pode voltar aos seus devaneios. – e enfiou o pirulito na boca novamente, satisfeita com minha resposta.

Era comum essas respostas cheias de sinceridade vindas de mim para Merida, é claro, quando o assunto não se tratava de Anna.

O comportamento esquivo dela já durava mais do que eu descobri ser capaz de lidar. Tanto que, assim que fiquei sabendo que ela cobriria o expediente de Elsa, eu não pestanejei em ir até a boate para... Vê-la? Não, seu imbecil. Você foi para beber, fazer companhia ao seu amigo Hiccup – já que Jack havia ido para um importante evento junto de seu pai e Flynn –, só isso, nada demais.

Aham, claro, claro. Nem fui para tentar consertar as coisas, claro que não (??).

Acontece que eu me conheço bem o suficiente para saber que “consertar as coisas” não era lá a minha especialidade. Afinal, eu diria o quê, sem parecer um idiota?

“Ô caralho, tá me tratando assim por quê?! O que que eu te fiz, mano?! Tá fugindo de mim só porque te beijei, porra?!” (???).

DEFINITIVAMENTE, NÃO! As chances de eu levar outro chute no saco subiriam para 98%, somando a margem de erro (??????).

Com a minha sorte, eu cheguei a esquecer que outras coisas piores poderiam acontecer.

E aconteceram.

Nunca admitira ter ficado irritado – e me sentindo traído sem porra de razão alguma – ao ver Hans lá no bar conversando com ela durante seu expediente. Fiquei irritado, sim. Principalmente porque fui parar naquela bosta de boate por causa dela, inferno. Queria puxar um assunto, mas que caralho é esse, eu puxando assunto?! Mas era o que eu pretendia, droga, não fosse aquele imbecil a sufocando novamente.

No fim, ainda pensei em vir para casa e parar de me torturar da mesma forma em que Hiccup estava se torturando ao observar atentamente Meri conversando de forma alegre e descontraída com Dagur.

Então nos juntamos. Uma dupla de patéticos. Secando duas mulheres, enquanto as mesmas dispunham toda a sua atenção para dois babacas. Vale ressaltar que um de nós tem namorada.

Eu perdi a paciência depois de poucos minutos e fui para casa na primeira oportunidade. Senti pena de Hiccup por ter de ficar lá a noite inteira... Mas logo passou.

Com base na situação de ultimamente, ao invés de ficar olhando de longe feito um otário, eu preferia fingir que nada aconteceu, se era isso o que ela queria. Simplesmente desisti. Lavei minhas mãos e decidi dar a ela a situação que ela quer.

Mantinha o semblante impassível, ao tempo que a minha mente babaca repassava o momento em que julguei ter sido feliz naquele fatídico dia no meio da faculdade.

- Tá sorrindo por quê? – fitei Meri alarmado, rapidamente dando fim ao sorriso involuntário. Ela sorriu sapeca. – Tá pensando em Anna, né?

Dei um muxoxo, emburrado. – Que Anna o quê.

- O lugar de vocês dois é um ao lado do outro.

- Bullshit. A gente se odeia.

- O amor e o ódio são duas faces da mesma moeda. Por mais que sejam dois cabeças duras, eu ainda tenho fortes esperanças de que vocês vão ficar juntos e serão muito felizes. – afirmou num tom sábio.

Bufei, fingindo indiferença. – Você e sua ingenuidade.

- Eu não sou ingênua, sou sábia. – colocou as mãos na cintura, com uma feição ofendida.

- Você é esperançosa demais, isso faz de você ingênua. – ela deu uma risada e anuiu, concordando comigo.

- Talvez eu seja muito esperançosa mesmo, você tem razão. – deu de ombros, distraída com seu pirulito. – Você sabia que quando eu era criança, sempre esperava pelo dia azul e ensolarado após uma noite de pesadelos, mesmo morando na cidade mais chuvosa da Escócia? – eu parei para prestar atenção no que ela dizia e ela logo notou minha feição intrigada. – Pois é. – riu descontraída. – Quando eu caía e ralava um joelho, esperava pelos carinhos da minha mãe, acompanhados de palavras de conforto e um band-aid, mesmo sabendo que ela nunca tinha tempo e que, provavelmente, eu só teria o band-aid. – deu um sorriso triste. – Sempre que brigava com as meninas, esperava pela parte dos abraços de reconciliação, mesmo sabendo a quão teimosa e orgulhosa todas elas eram, e até hoje são. – acrescentou baixinho. – Quando Hic foi embora lá de casa naquele dia... – ela engoliu em seco com a lembrança. – Eu esperei que ele voltasse. – deu uma pausa e seu semblante tornou-se apático. – Mesmo sabendo que ele não viria.

Eu sou uma pessoa que custa a demonstrar o que sente. Mas naquele momento, eu acabei me sensibilizando com as palavras dela.

- Eu esperava tanto dos momentos e das pessoas, que fui tachada de boba. – ela anuiu, reflexiva. – Eu cresci e continuo boba. E, se quer saber, eu não me importo com isso. Esse mundo é pobre de esperança. – deu uma lambida em seu pirulito e sorriu. – Pelo menos a minha, é a última que morre. – e deu uma piscadela marota, fazendo-me sorrir junto dela.

- Eu tenho muito o que aprender contigo. 

Ela riu. – Tá aí uma coisa que não é a primeira vez que escuto, todavia, não concordo.

Desde a morte dos seus pais a desilusão com o meu amigo idiota, eu nunca a vi fraquejar. Às vezes eu me perguntava... Como ela conseguia ser tão forte? Como ela conseguia evitar ser devorada por esse sentimento? Nossas histórias tinham profundas semelhanças e, no entanto, eu e Merida éramos muito diferentes. Na primeira oportunidade, me entreguei a revolta. Mas Merida? Porra.

Merida se mantinha firme diante de qualquer coisa.

- Como você consegue sorrir? – indaguei, sinceramente.

Há muito, eu queria saber como ela conseguia viver assim, de maneira tão plena, apesar da obscuridade de seu passado.

Achei que ela fosse estranhar pra caralho a pergunta, no entanto, ela só me olhou e sorriu.

- Ser dura comigo mesma não vai resolver meus problemas, só piorá-los, Kris. – respondeu, sincera. – Ao contrário do que as pessoas dizem, o universo não trabalha a nosso favor, nós fazemos nossa felicidade. Não pode se deixar abater nunca! – finalizou com seu sorriso maroto costumeiro. – O importante é viver a vida, pois, quando morrer a vida acaba (???). – o comentário dela me fez rir.

O sorriso que ela me lançava, no entanto, era falso.

Ela ria de todos, ria para todos. Espalhava sorrisos, mas não sorria por dentro. Andava estranhamente tristonha, embora continuasse a fazer todos rirem à sua volta, como sempre.

- Tá tudo bem, Meri. – ela não entendeu. – Não precisa fingir comigo. – foi a primeira vez que a vi tão séria e, por um momento, seus olhos marejaram. Repousei uma mão em seu ombro, o mais delicado que consegui ser. – Tá tudo bem.

Ela prendeu a respiração. E quando soltou, a ouvi soluçar...

- Tem sido difícil... – ela respirou fundo, lutando contra cada lágrima que teimava em tentar escapar. – Mas eu preciso continuar sendo forte, afinal... Eu já vivi dores piores, Kris. – ela comentou e respirou fundo.

- Para com isso, Merida. – tentei não soar rude. – Dor é dor, sem essa de pior ou não. Cada uma é intensa a sua maneira e você continua sendo a pessoa mais forte que já conheci. Permita-se jogar a toalha por um momento. Você não é de ferro, caralho.

Ela sorriu com ternura e fungou, limpando uma gotícula persistente que acabara de escapar.

- Eu não sei como lutar contra isso. Me sinto culpada a maioria das vezes por não estar... Simplesmente feliz por ele.

Eu a observei por longos segundos.

- Admiro você pra caralho, sabe disso... – ela me fitou com um sorriso triste, como quem dizia não ser merecedora de tal admiração, mas seus olhos prestavam atenção em cada palavra que eu dizia, sabendo que algo assim não era recorrente. – Então, não duvide quando digo que sinto muito por ter se apaixonado por alguém tão cego e que, por acaso, é meu amigo.

Ela sorriu e negou com a cabeça.

- Não se preocupe, Kris. Eu não duvido. Sinto que você é sempre sincero comigo. – respondeu e sorriu, daquela mesma forma tristonha. – Mas a vida é assim mesmo... Você gosta de uma pessoa, que gosta de outra pessoa. E a pessoa que ela gosta, gosta de outra pessoa... – dizia fazendo gestos com as mãos. – E assim todo mundo vai tomando no cu (?). – completou, e dessa vez eu gargalhei.

E fui acompanhado por ela que, a princípio, ria de maneira tímida, mas logo suas risadas tornaram-se constantes. Ela suspirou, expelindo um “ai ai”.

- Gosto dessa sensação. O ato de rir, em meio ao choro. – e sorriu, abaixando a cabeça.

Eu não soube o que dizer, pois nunca tive essa sensação...

Eu nem mesmo tentava conversar com o Hiccup. Ele tinha uma péssima mania de achar que estava certo o tempo todo e, devo admitir, a maçante maioria das vezes ele sempre esteve certo sim, mas pra outros assuntos ele ostentava o título de mais burro do planeta. O pior cego é aquele que se recusa a enxergar. E a cegueira dele chegava a me irritar, eu só não arriscava parar pra conversar com ele pois eu sabia que acabaríamos brigando.

E, diferente dos bate bocas dele e do Jack, a gente acabava trocando soco e a porra toda. Eu era uma das poucas pessoas que conseguia acabar com sua exorbitante paciência, enquanto ele sempre tem a proeza de me irritar profundamente com o seu mantra “sou da paz”.

Hm, sei. É só alguém tirar ele do sério, que não existe paz certa.

Outra pessoa que vive o irritando é seu primo, Dagur. Mas, diferente de mim, ele não costuma obter sucesso em suas tentativas – obter sucesso significa cair na porrada com Hiccup, coisa que custa a acontecer.

E de repente, eu tive uma dúvida...

- E quanto a Dagur?

Ela pareceu confusa. – O que tem ele?

- Vocês se dão muito bem... – eu queria saber sinceramente o que havia entre eles.

Hiccup podia ser um imbecil, otário, burro e cego, mas eu ainda queria vê-los juntos, porra. E tenho a leve impressão de que não sou o único.

- Ele é legal. Nós conversamos bastante.

- Só isso?

-Sim, ué. O que mais seria? – ela estreitou os olhos. – O que você está insinuando, Sr. Bjorgman?

Ergui as mãos. – Juro que não estou insinuando nada. Só estou curioso. – seu olhar abrandou-se. – Até admito que adoraria ver a reação de Hiccup caso você se relacionasse com o primo dele. – minha risada maldosa saiu automática.

Poderia até acontecer de Dagur, enfim, obter sucesso em tirá-lo do sério.

- Consegue imaginar? – indaguei a mim mesmo.

Meri pensou por uns segundos e, por fim, deu de ombros.

- Kris, obrigada por conversar comigo. – ela falou subitamente. – Eu precisava disso.

- Algo errado com suas amigas?

- Não, de maneira alguma. Elas são maravilhosas. Mas... Isso é bem... Incomum.

Eu a fitei. – Deveria tentar conversar com elas.

- Eu vou... Obrigada. – sorriu minimamente. – Agora eu tenho que ir... – se levantou, limpando a terra de sua roupa, enquanto eu me jogava novamente na grama, voltando a minha posição anterior a chegada dela.

De maneira despreocupada, coloquei um braço sobre os meus olhos, tampando o meu radar. Faltavam uns 40 min para o fim do intervalo. Talvez, agora eu tire um cochilo...

- Já me sinto péssima por não estar passando cada minuto junto da aniversariante do dia. – Meri ainda dizia.

- Hm, e quem seria?

- A Anna.

Senti o sague fugir de meu rosto. Em menos de um segundo, eu já estava sentado novamente.

- O quê?!

- Hoje é aniversário da Anna.

Coloquei as mãos nos cabelos. – Meu Deus do céu. Eu não sabia. – divaguei, em pânico por um momento.

- Ela não te contou?

Neguei com a cabeça, em resposta. – Se bem que nunca perguntei... – admiti e virei-me para Merida. – O que eu faço?! (?).

Ela me fitou assustada. – Tem certeza de que você quer um conselho meu? Pensa bem, olha a minha vida... (???).

Eu queria rir, mas estava meio... Irritado. É aniversário dela e nem sequer nos falamos. Não nos falamos porque ela decretou isso. É isso mesmo, porra. Tô me importando por causa de quê, se ela quis assim? Que se foda, também.

- Esquece, Meri... – murmurei e tornei a me deitar na grama, antes de apoiar meu braço sobre os olhos novamente, pude vê-la me fitar com a feição preocupada. – Nos falamos depois. – assegurei, e a ouvi concordar, seguindo com passos precisos para longe de mim, antes de minha mente ser tomada num caos de dúvidas.

 

POV Jack

O dia iniciou com notícias boas sobre a minha avó. Tooth ligara falando da melhora que ninguém esperava e sua voz esperançosa contagiara até a mim, que me via revoltado desde a proibição de meu pai de viajar para vê-la.

Fora isso, minha sexta à noite se resumia em um convite de Snotlout para uma choppada na cabana das Sluts, notas altas nos últimos testes de Hermenêutica Jurídica, uma possível festa surpresa, a melodia cadenciada de Sex on Fire do Kings of Leon ressoando dos fones em meus ouvidos e, no entanto, nada disso amenizava o mal humor que tomava conta do meu estado de espírito graças a uma discussão recorrente com Hiccup.

Meu celular não parava de tocar e isso, de alguma forma, me deixava ainda mais impaciente.

Agarrando o aparelho de maneira exasperada, fui à notificação que me chamara mais atenção justamente por ter uma única mensagem dela não lida.

Minha reação deveria ser, no mínimo, preocupação, devido as palavras que ela usara. Mas ao ler o remetente e saber que eu iria vê-la, foi automático o sorriso em meu rosto.

Me ajeitei rapidamente, peguei as chaves da moto, passei pelo Hiccup que tentava se distrair lendo um livro deitado no sofá e segui até o apartamento dela.

Eu não estava irritado com Hiccup. Estava preocupado com a situação dele.

Ao enfim decidir desabafar comigo depois de semanas, eu acabei entendendo sua decisão. Eu não iria julgá-lo, principalmente por não saber como é estar na posição dele e porque ele já vem sendo bastante depreciado – Kristoff quase não fala, mas também não poupa esforços na hora de ser irônico, ainda mais agora que tem estado bem mais próximo a Merida. Kristoff deixa mais que claro sua posição quanto ao namoro de Hiccup e Astrid, ele é irrefutavelmente contra. Porém, Hiccup, com suas respostas enfáticas e sua feição sempre tranquila que chega a irritar, apenas diz: Eu não pedi a sua benção.

Foram momentos tensos. Mas que eu logo descontraía, antes que se engalfinhassem feito dois primitivos (??).

Hiccup estava odiando isso. Por mais que ele não demonstrasse, essa situação o desgastava demais. Eu não queria piorar as coisas para ele. Por conta disso, eu só poderia ficar ali, como um bom ouvinte e aconselhando quando me fosse viável ou requisitado.

No elevador do prédio dela, eu decidia se deveria contar sobre essa conversa ou não. Qual seria sua reação, eu me perguntava. Ela entenderia como eu, ao menos, tentei entender?

No corredor que dava ao seu apartamento, bati ao invés de usar a campainha – ação que denunciava que era eu na porta –, ouvi um “pode entrar” logo em seguida.

Estava sentada numa poltrona lendo um livro de receitas. Ao me fitar, arqueou uma sobrancelha. Merda. Ela já percebeu que algo aconteceu.

Perguntei o porquê da urgência, esperando que ela esquecesse e não tocasse nesse assunto. Ela apenas respondeu que iria precisar de ajuda para os preparativos daqui a pouco.

- Está tudo bem? – indagou.

Apenas anuí com a cabeça. Eu tenho que aprender a disfarçar melhor, queria eu saber ser tão impassível quanto ela e Flynn.

Me joguei no sofá ao lado de sua poltrona, apoiando o pescoço ao topo do encosto. Com a cabeça tombada para trás, tudo o que eu conseguia ver era o teto do apartamento e mesmo assim, eu ainda conseguia sentir o olhar de Elsa sobre mim.

Não que isso me incomodasse, muito pelo contrário.

A única coisa que me preocupava eram as perguntas que eu sabia que ela iria fazer, mais cedo ou mais tarde.

Fechei os olhos, mantendo minha posição, e passei as mãos no rosto levando-as até meus cabelos.

No fundo, eu tinha medo de incomodá-la com meus problemas. Não queria dar mais motivos para ela querer se afastar. Neguei com a cabeça, me sentindo ridículo. Desde quando sou inseguro a esse ponto?

Dedos delicados em meus ombros me desconcentraram da questão, mas ainda assim mantive meus olhos fechados.

- Como eu suspeitava. – ouvi sua voz suave bem próxima. – Você está tenso. – concluiu e eu abri os olhos, fitando o seu rosto compenetrado enquanto ela me analisava de trás do sofá. Puta que pariu, Elsa. – Aconteceu alguma coisa? – ergueu uma sobrancelha e eu suspirei. Eis a pergunta.

- Não. – minha resposta foi direta, mas eu sabia que ela não estava convencida disso.

E então, para não ter que encarar seu olhar inquisidor, tornei a fechar os olhos.

Eu ainda pude ouvir uma risadinha curta, imaginei que ela estaria negando com a cabeça, dando aquele sorriso irônico que me quebra e, exatamente por isso, mantive meus olhos fechados.

Seus dedos moveram-se por meus ombros e subiram até meus cabelos, e foi aí que ela me surpreendeu com um beijo, que eu correspondi prontamente.

Ao afastar nossos lábios, eu ainda mantive os olhos fechados. A sensação da boca dela na minha sempre me deixava extasiado. Fitei seu rosto e ela sorria compreensiva para mim.

- Quando quiser conversar, estarei aqui, ok? – e acariciou meu rosto.

Porra.

A frase “eu sou um homem de sorte” formava-se em minha consciência em letras garrafais e em neon, ainda por cima (?).

Antes que ela se afastasse, me ergui no sofá e segurei sua cintura. Ela deu um gritinho agudo seguido de risadinhas quando a puxei para mim de tal modo, fazendo com que seu corpo deslizasse sobre o encosto do sofá e caísse sobre o meu. Ela ainda ria. E eu, apreciava o som da sua risada com um sorriso no rosto.

Mantive minhas mãos em sua cintura, enquanto deitava minha cabeça no braço do sofá. Contrariando minhas expectativas, ela apoiou a cabeça em meu peito e encaixou uma das pernas entre as minhas, enquanto rodava distraidamente os botões de minha jaqueta.

Mais uma vez senti aquela sensação entranha novamente.

Em cada uma das vezes em que Elsa passou por mim nos corredores alheios da vida, eu suspirei e repeti comigo mesmo: não tem jeito, é ela.

Eu estava certo. Pela primeira vez na vida, eu tive a convicção de que estava certo.

- Hm, Jack?

- Sim?

- Tooth falou algo contigo? – ela começou a desenhar círculos em minha camiseta com a ponta do indicador.

É a terceira vez essa semana em que ela me faz essa mesma pergunta.

A princípio, eu achei que ela se referia a notícias da minha avó. Mas uma vez que sua curiosidade e interesse em o que quer que Tooth tivesse a me dizer mantinha-se constante, concluí que se tratava de algo que ela já sabia.

Mas não queria me contar.

- Não, Elsa.

Ela se encolheu. – Tem certeza?

- Continuo tendo. – ela parou com os gestos sobre minha camiseta, pensativa. – E você, continua não podendo me dizer do que se trata?

- Não. – respondeu rapidamente.

- Tem certeza?

- Continuo tendo.

Suspirei. – Quando quiser conversar comigo, estarei aqui. – repeti sua frase, e senti um sorriso se formar em seu rosto contra o meu peito. – Cadê suas amigas? – indaguei só agora, ao notar o quão o apartamento estava silencioso.

- Merida foi ao mercado.

- Temari?

- Distraída na casa de Tuffnut. Ele a convidou para uma tarde de jogos, o que é apenas um pretexto para que ela fique lá enquanto ajeitamos as coisas.

- Salt?

- Foi com Merida. – e então, vi suas sobrancelhas franzirem, eu soube o porquê daquela reação. – Fico feliz que tenha se distraído e esquecido o episódio com a Sra. Millano naquela noite.

Elsa deu um audível suspiro. Ela havia me contado que Salt passara anos da sua vida acreditando que não era boa o suficiente. Acreditou, pois quem lhe afirmava tais palavras dia após dia era sua própria mãe. Demorou para ela perceber que era capaz de tudo, mas quando isso aconteceu, ninguém nunca mais teve a capacidade de fazê-la crer no contrário.

- Você convidou seus amigos, como te pedi?

Hesitei por um momento.

- Kristoff... não. – ela franziu o cenho e ajeitou a cabeça em meu peito para me fitar. – Parece que temos outro problema, garotinha. Kristoff anda muito mal-humorado...

Ela arqueou a sobrancelha, confusa.

- Achei que isso fosse o normal dele.

Dei uma risadinha. – É, mas é no mínimo estranho. Ele finalmente pegou a Anna de jeito... – ela crispou os olhos, incomodada com a forma como eu falava. – Ok. Ele finalmente concedeu-lhe um delicado e cavalheiresco beijo (?).

-  Não exagera.

-  Acho que as coisas pioraram, depois disso. O que deveria ser o contrário. – suspirei pesadamente.

E logo estranhei seu silêncio.

Semicerrei os olhos, desconfiado.

- Há algo que você queira me contar, garotinha?

- Hm. Não.

- Tá, vai. – arqueei uma sobrancelha. – Comigo não. Tô contigo há tempo suficiente para perceber quando você me conta uma mentira. Sei detectar.

Ela ruborizou por um instante, mas desviou o olhar e pareceu pensar por uns segundos.

- Eu também notei algo errado. Ela não quis falar sobre o que aconteceu.

- Isso vale para o rebelde sem causa. Nem com Flynn ele conversa. E eles são praticamente irmãos.

- Ultimamente ela não tem xingado Kristoff. – tamborilou os dedos nos lábios, pensativa. – E isso é bem incomum (?).

- Eu tenho certeza de que tem algo acontecendo, só não sei ao certo o quê e mais difícil que arrancar informações de Hiccup, é arrancar informações de Kristoff.

- Então, temos mais um caso a resolver. – ela concluiu e me fitou novamente.

Encarei seus olhos. – Juntos?

Ela sorriu. – Juntos. – se esticou e me surpreendeu novamente naquele dia com um rápido beijo.

Se levantou do sofá eu já sentia falta dela junto a mim.

Elsa ajeitava os cabelos na minha frente, refazendo seu coque, enquanto eu a admirava de cima a baixo, satisfeito pra caralho com a mulher que eu acreditava ter nas mãos.

Tudo nela me incitava desejo. Os gestos, as menções, o cheiro, o gosto, até sua voz...

A cada dia que passa, resistir a ela se tornara uma tarefa quase impossível. Mas eu prometi que iria devagar, e com isso assinei minha carta de tortura diária.

Os simples movimentos de seus dedos a ajeitar os próprios cabelos me faziam querer agarrá-la ali e me ater a pele exposta de seu pescoço, ansioso em ouvir um gemido seu.

E me lembrar dela sôfrega e manhosa, se contendo para não gemer meu nome quando eu a provocava, me fez pulsar. Sem perceber, eu a encarava com os olhos em fendas e o lábio entre os dentes.

Elsa me observou de cima e crispou os olhos.

- Sempre que me olha assim, sabemos como termina.

- Eu excitado e você me dispensando. – ela tentou conter o risinho e eu me sentei no sofá, indicando o meu colo com as mãos. – Vem. – exprimi com a voz rouca. – Senta.

Ela crispou o olhar, mas seu rosto tonalizara de tal forma, que não consegui evitar sorrir.

- Essa proposta me parece um tanto quanto perigosa, Sr. Frost.

- Tsc. – segurei seu pulso e a puxei, fazendo-a cair sentada em meu colo.

Apoiando-se em meus ombros, ela me encarou com os olhos azuis exasperados, então deslizei os dedos por sua nuca calando-a com um beijo antes mesmo que ela pudesse dizer qualquer coisa.

Prometi que iria devagar. Mas isso não me impede de provocá-la.

Minhas mãos desceram pelo seu corpo e ela suspirou quando agarrei sua coxa com vontade. Seus dedos embrenharam-se meus cabelos daquele jeito que me deixava perdido.

E o beijo tornou-se ainda mais necessitado, urgente e intenso.

Elsa se acomodara em meu colo, passando uma perna para o outro lado e me prendendo em seu meio. Porra. Eu nunca amei tanto um tecido tão fino quanto a seda daquele short.

Eu a puxei num ímpeto em senti-la mais perto, a fricção intensa fê-la arquejar contra meus lábios, extasiada em sentir meu tesão, meu desejo por ela.

Eu tô completamente viciado na Elsa. Ela me deixa dependente dela simplesmente fazendo nada.

Vê-la ofegante com as minhas atitudes era um êxtase. 

Senti-la morder meu lábio inferior quando agarrei seu quadril puxando-a para mim era um castigo.

A filha da puta me deixava excitado com uma facilidade absurda. Eu tô fodidamente na mão dela.

- O que você tá fazendo comigo? – exprimi num murmuro sôfrego contra seus lábios, firmando meus dedos na pele exposta entre seu short de seda e seu moletom cor-de-rosa, e de repente me vi surpreso.

Eu só percebi ter falado depois de ouvir minha própria voz.

Ela se afastou minimamente, apenas para fitar meus olhos de maneira intensa. Acariciou meu rosto e enroscou os dedos nos meus cabelos, puxando-os delicadamente. Mordi o lábio inferior involuntariamente, ainda atado ao olhar dela que dizia muita coisa, mas eu, como sempre, limitado e rústico, não soube decifrar o que vi.  

Com o polegar, ela acariciou a maçã de meu rosto. A sensação era... inquietante. Elsa se inclinou para mais perto e me deu um beijo carregado de ternura.

E eu me perguntei se alguma vez na minha vida já havia experimentado um beijo que me trazia essa paz.

- The truth stands in the eeeeeeend... – havia alguém cantando. Mano, que? – EITA, PORRA! – berrou Meri ao irromper da porta. Com os olhos arregalados, ela manteve-se estática. – Ai, eu sempre chego na hora errada, né? – disse, tapando os olhos com as mãos, mas mantendo uma grande brecha entre os dedos para espiar (???). – Eu posso voltar para o mercado, se quiserem. – Meri riu e Elsa parecia um pimentão de tão vermelha, mas revirou os olhos.

Ela deslizou de meu colo, sentando-se ao meu lado. Com as bochechas enrubescidas e tentando reprimir seu constrangimento.  

- Não estava acontecendo nada, Meri. – levantou-se para ajudá-la com as compras.

- Elsa, amiga. Se tem uma coisa que eu não sou, é cega. – ela entrou, fechando a porta atrás de si. – Tem alguma coisa acontecendo há muito tempo. – comentou de forma despreocupada, mas fitando Elsa com intensidade. – Olá, Pietro! Como está? – indagou alegre, mudando subitamente de tom.

- Melhor impossível. – foi uma resposta cheia de sinceridade.

- Tenho certeza que sim. – ela me piscou e sorriu, se virando para Elsa que levava uma sacola para a cozinha.

- Cadê a Punzie? – indagou minha garota.

- Atendendo um telefonema da Sra. Millano. – explicou Meri, antes de voltar-se para as compras. – Eu trouxe uma lata extra de creme de leite, morangos, mirtilo, licor de laranja, essência de baunilha, pão de ló, geleia de frutas vermelhas... – ia tirando as coisas das bolsas e mostrando a Elsa.

Eu fiquei meio confuso a princípio, pois pensei que fossem fazer só um bolo. Elas me explicaram que Anna não gosta de bolo, então resolveram, de última hora, fazer a sobremesa predileta dela.

- Convidamos poucas pessoas, então vou fazer umas 30 taças de trifle, algumas porções de fish and chips, etc.

- Vai ser algo simples, mas o importante é comer (?). – decretou Meri, por fim.

- Jack... – Elsa me chamou da cozinha. – Convide o Kristoff.

- O quê?! – eu e Meri indagamos em uníssono. – Você tem certeza, garotinha? – indaguei.

- Cê sabe que eles não estão se falando muito bem, né mana? – acrescentou Meri.

- Sei sim e é por isso mesmo que quero que ele venha. – ela me fitou e eu logo entendi.

- Tem razão, vou ligar para ele agora... – já sacava o celular do bolso.

- Não, pode deixar que eu mesma ligo. Você pode ir ajudando Elsa na cozinha, sim? – já discava o número de Kris. – Obrigada, Pietro... Hey, grandão! – e saiu, com o celular rente a orelha, deixando-me a sós com Elsa.

E ali começou minha estadia em sua cozinha. Percebi que ela era bem rigorosa quanto as suas receitas. O dorso de minha mão já estava vermelho devido aos inúmeros tapas que levei todas as vezes em que tentei pegar uma prova do chantilly recém-preparado.

- Garotinha, aqui diz que são amoras no lugar de mirtilo...

- Anna gosta com mirtilos. – ela dizia, enquanto batia uma consistente massa clara com o próprio braço. – Acha que ele virá?

Dei de ombros. – Talvez, se a Baunilha pedir com jeitinho... – respondi, enquanto enfeitava uma taça de trifle.

- Ah, então nesse caso, ele vem sim. – eu sorri. – Eu convidei o Flynn, mas não consegui falar com Hiccup.

- Tudo bem, eu falei com ele, no entanto... – engoli em seco, ao me lembrar de minha conversa com Hiccup.

- No entanto...? – incentivou, me fitando com os olhos cerrados.

- Pode ser que ele... traga a Astrid?

- Oh... – ela pareceu surpresa. – Bom... Da parte de Meri, creio que não haverá problema algum. Já da parte de Hiccup, ainda mais se tratando de quem Meri pretende trazer... – ela ponderou, tornando a bater a massa.

Arqueei uma sobrancelha.

- E quem seria?

Ela me fitou com um olhar incomum.

- Você verá. – voltou sua atenção ao seu trabalho. – Mas ele estará com Astrid, então, creio que terá com o que se distrair. – deu de ombros.

De repente, fiquei preocupado.

- Acho que meu amigo não está preparado para isso. – murmurei comigo mesmo.

- Ele fez por merecer. – comentou, dando de ombros.

Aquele comentário me surpreendeu.

Franzi o cenho.

- Você realmente acha isso? – ela me fitou de esguelha. – Mesmo não sabendo o que de fato aconteceu?

- Jack... – ela falou, se virando para mim, com a feição irônica. Crispei os olhos. – Sinceramente, não culpo a Meri.

- E eu não culpo o Hiccup.

Ela franziu o cenho.

- Está insinuando que Meri está errada?

- Não estou insinuando. Estou afirmando que não há culpados até que a gente saiba o que aconteceu. – ela desviou o olhar, emburrada. – Hiccup conversou comigo e eu poderia muito bem, com base no que eu sei, dizer que a Baunilha escolheu estar passando por isso. – Elsa me encarou enfurecida, pronta para me xingar. – Mas não vou tomar partido enquanto não souber os dois lados da história. Você deveria fazer o mesmo, garotinha. – concluí com toda tranquilidade do mundo, tornando a decorar meu trifle.

A minha calma pareceu desestabilizá-la e eu me senti imensamente satisfeito em estar na minha razão.

Contrariada, ela fez um biquinho emburrado, mas não disse nada. Suspirou, desviando o olhar de mim, abrandando sua feição.

- Você tem razão. Me desculpe, eu só... – suspirou e eu a encarei perplexo.

Tá decidido. Eu vou me casar com essa mulher.

- É difícil para mim ver Meri dessa forma. Me sinto impotente por não tê-la protegido, ela está tão magoada... embora, disfarce bem.

- Eu entendo, garotinha. Mas não teria como protegê-la disso pra sempre.

- Eu sei, mas... – massageou entre os olhos. – Gostaria que não tivesse sido com Hiccup. Ela realmente gosta muito dele. – ela ficou em silêncio por um longo segundo, pensativa. – Creio que até eu me decepcionei nessa história. – arqueei uma sobrancelha, confuso. Ela continuou. – Ficar com ela num dia e no outro já estar com outra mulher. Eu não esperava essa atitude logo dele.

 Anuí lentamente e crispei os olhos antes de encará-la certeiro.

- Tem alguém em especial que você espera algo assim?

Era uma dúvida cruel que me assolou naquele momento. Veio do nada e eu senti que se não perguntasse, não conseguiria dormir aquela noite.

Havia algo que eu temia. A resposta dela.

Ela engoliu em seco e desviou o olhar. Os pelos de minha nuca se eriçaram. Essa atitude denunciava que eu tinha altas chances de estar certo... Mas eu torcia para estar errado.

Eu sabia que havia alguém e eu fazia uma breve noção de quem era.

Na verdade, eu tinha certeza.

Ela não respondeu.

- Entendi. – murmurei por fim, voltando a decorar outra taça de trifle.

***

- Alô, cadê o pessoal dessa casa? – Salt irrompeu da porta. – Ferrugem? Albina? Alô, cadê vocês? Uh-uh... (?). – cantarolou, e Elsa passou por mim feito um foguete, fugindo do ambiente hostil e silencioso que se tornara aquela cozinha depois de minha questão.

- Estou aqui.

- Ah, oi amiga, nossa, já tem alguma coisa pronta? Eu tô com vontade de aloprar a dieta, porque aturar a esculhambação de minha mãe sem me permitir comer um docinho depois pra melhorar o humor, é dose, viu? – apareci no balcão da cozinha a tempo de vê-la se jogando ao sofá. – Olá, Jack.

- Barbie. Dia difícil?

- Ah, nem fala. – colocou uma mão sobre a testa. – Mas tá tudo bem, eu acredito num amanhã melhor... – suspirou, otimista. – Até porque, amanhã é sábado.

- Até que enfim tu chegou, Loira Xerox, a Elsa tá precisando de ajuda na cozinha porque o Jack só sabe comer as coisas. – dizia Merida, descendo as escadas e de repente me vi boquiaberto.

- Difamação e calúnia. – murmurei com os olhos crispados, Meri gargalhou junto de Punzie e as duas foram para a cozinha.

A sós novamente na sala, eu passei a observá-la. Ela estava calada durante todo esse tempo. Talvez pensando na resposta que eu sabia que não ia gostar de ouvir.

Suspirei. Definitivamente eu não posso culpá-la por pensar assim.

Fiz por merecer, afinal, e é desconcertantemente incomum a forma como me importo.

Embora Elsa sempre deixe claro que não dá a mínima.

***

Percebi que já estava quase na hora quando duas moças chegaram, cumprimentando Elsa, Rapunzel, Meri – uma delas, abraçando Elsa com ternura – e perguntando por Anna. As meninas ainda estavam ocupadas terminando os preparativos, então não fui apresentado as moças, mesmo que elas tenham me cumprimentado, eu não sabia quem eram.

Com Merida se arrumando no andar de cima, Rapunzel e Elsa terminando de limpar a cozinha, quem recebera Flynn e Kristoff acabou sendo eu.

- Já tá assim? Recebendo as visitas? – indagou Kristoff num tom zombeteiro.

- Já é da casa, ein? – Flynn sorriu, alfinetando-me.

- Não fode. – eu ri, enquanto eles passavam por mim. – Meu velho não vem?

- Ficou na boate resolvendo uns assuntos com o advogado dele. – respondeu um, enquanto outro cumprimentava as moças sentadas ao sofá.

Elsa subiu com Punzie para se arrumarem, deixando Merida para receber o resto do pessoal, então aproveitei para me juntar a Flynn e Kristoff, já que, mesmo que eu tenha tentado esquecer, aquela questão de mais cedo ainda me deixava inquieto.

A campainha tocou e, ao atender, Meri ficou estática ao ver Hiccup.

Junto de Astrid.

Mesmo de longe, era fácil notar a forma como se olhavam. Aquilo me intrigou.

Astrid cumprimentou Merida que, ao sair do transe, abriu seu melhor sorriso.

- Entrem, fiquem à vontade, Anna está quase chegando. – Astrid entrou, passando por Meri.

Hiccup apenas abaixou o olhar e seguiu atrás de sua namorada. O negar de minha cabeça foi automático.

Estava um ambiente bacana, apesar disso.

Hiccup conversava com Astrid, ela que falava mais que ele. Elsa conversava com as convidadas misteriosas. Flynn e Kristoff bebiam algo servido por Meri, vez ou outra falavam algo comigo, que eu só concordava.

Minha mente estava longe, então nem percebi quando Meri saiu do apartamento, indo buscar alguém lá embaixo e chegando com ninguém mais ninguém menos que Dagur.

Meus olhos correram a procura de Hiccup que, com o cenho franzido, assistia o mais novo convidado adentrando o apartamento ao lado de Meri, imersos em uma conversa alegre. Astrid não notou o desconforto dele e eu, que estava longe, notei. Eu, Flynn e Kristoff nos entreolhamos, mas ficamos quietos, até porque Hiccup manteve-se em seu lugar.

Suspirei. Anna precisa chegar logo.

A campainha soou novamente e Elsa atendeu.

- Gente, corre! – era Ruffnut junto de Eret. – Anna está subindo aí! Ela não nos viu, porque subimos pela escada!

Eles entraram e a euforia tomou a atmosfera. De repente, todos ficaram animados. Até eu, por um momento, esqueci o que me afligia.

Então nos preparamos, ansiosos para ver o sorriso de uma Anna surpresa.

 

POV Anna

Hoje, ao me levantar e olhar da janela, meu primeiro pensamento foi:

Que dia lindo pra nem sair de casa e não interagir com as pessoas, pra ele continuar lindo (???).

- Tive dalilahs pegando no meu pé o suficiente por esses dias. – eu resmungava dando uma bebericada no meu capuccino.

Hiccup me olhou de soslaio, os olhos verdes tomaram um tom malicioso abaixo dos cabelos castanhos.

- Pelo visto, Kristoff esqueceu de te deixar a par de sua multidão de idólatras.

Bufei em desagrado, principalmente com a ideia de... mulheres belíssimas... atrás de Kristoff. Grr.

- Maldito. – grunhi entredentes. – Você também poderia ter me falado.

- Mesmo conhecendo a natureza impulsiva dele, não achei que ele te beijaria no meio do campus, já que sempre fora bastante cauteloso com qualquer assunto ligado a você.

- Cauteloso ou não, você sabe, Haddock. – Hans comentava, dando algumas garfadas em sua salada caesar antes de encarar o moreno com uma sobrancelha arqueada. – É o Kristoff.

Hiccup ponderou antes de concordar, dando de ombros.

- Mas você também, né South. Um golpe baixo daqueles. – declarava Hic, mastigando uma batata frita. – Até eu no lugar dele, teria feito coisa pior.

Hans sorriu orgulhoso de sua própria maldade.

- Pois eu continuo não tendo culpa dele ter me beijado perante todos e nunca ter feito o mesmo com nenhuma dalilah. – o copo de capuccino começava a se amassar em minhas mãos com a simples ideia.

- É isso que elas alegam? – Hiccup indagou com uma sobrancelha arqueada. – Puta merda.

- Mas por que tudo se torna uma competição para essas garotas? – questionava Hans, indignado.

- Você é realmente um gav desinformado.

- Sabe que a importância que dou para essa coisa de secret club é o equivalente a nada.

- Pois bem. As dalilahs não estão acostumadas a terem concorrência, assim como os membros do Bullingdon Club nunca tiveram que dividir espaço com nenhum outro club até a ascensão dos Phoenix. – explicava Hic. – Não que isso justifique a atitude delas. Chega a ser infantil.

- Pois assim como os buller, elas vão ter que me engolir. – declarei, puta da vida.

E o silêncio reinou. Demorei uns segundos para perceber que Hans e Hic me encaravam boquiabertos e com um sorriso admirado nos lábios.

- Gosto da sua determinação, Arendelle. – sorriu Hans com malícia e eu desferi um soco em seu braço, mas ele esquivou pois estava acostumado com as minhas reações violentas.

Almoçar na presença dos dois na faculdade tornou-se um hábito.

Hans e eu desenvolvemos uma amizade prodigiosa a cada temporada na biblioteca. Sua monografia estava praticamente pronta, mas a gente fazia questão de se encontrar só para conversar.

Já Hiccup, a cada expediente que cobri de Elsa ficava mais que claro que ele era o chefe dos meus sonhos, como eu já havia suspeitado que seria desde o início. Uma afinidade incomum foi gerada entre nós, principalmente depois que o confrontei e o xinguei até sua quinta geração ao “flagrá-lo” com Astrid e descobrir que eles estavam namorando, um ímpeto em defender minha amiga mesmo sem saber o que estava acontecendo de fato.

Hiccup não me demitiu depois de ser agredido verbalmente – na frente de alguns funcionários, até.

E ele podia, na verdade, deveria.

Seria por justa causa e tudo.

Mas ao invés disso, ele preferiu conversar comigo e se explicar, coisa que eu deveria estar fazendo, né? Fosse qualquer outro emprego ou outro patrão.

Eu consegui compreender depois de ouvir seu lado da história, mas isso não significava que eu apoiava esse namoro entre ele e Astrid. Por mim, já tinham terminado. Por mim, nem deveriam ter começado nada, para início de conversa. Hiccup sabia, pois eu fazia questão de deixá-lo ciente.

No dia em que Hans pôs seu plano maquiavélico em ascensão – o qual deu muito certo, ou parcialmente – a primeira pessoa para quem corri depois foi Hiccup.

Kristoff ainda segurava-me pelos cabelos quando afastou-se de meus lábios e eu fiquei longos segundos de olhos fechados, ainda sem sentir o meu próprio corpo que aquela altura parecia estar em outro plano astral (?).

A única coisa que me mantinha atada ao mundo era o burburinho ao redor.

Mas eu estava tão tomada pela sensação gostosa de sua boca na minha que nem cheguei a me importar na hora.

Como eu iria imaginar que um beijo tão bom seria o motivo da minha dor de cabeça o resto da semana?

Hans ainda era acudido pelas pessoas por ter sido lançado contra a parede, coitado, e Kristoff foi imediatamente chamado pelo reitor sob acusação de agressão.

Agressão a uma figura de autoridade na faculdade, ainda por cima, porque o Hans é coordenador! Puta que pariu, Kristoff...

- Com todo respeito, ô soberania... – o desgraçado ainda tinha a audácia de ironizar perante o reitor. – Permita-me mostrá-lo o que é agressão. – e já fazia menção de avançar em Hans novamente, que sorriu com tranquilidade, quando eu o segurei.

Minha nossa.

- Sr. Bjorgman, suas atitudes primitivas não serão toleradas mais de uma vez. Minha sala. Agora. – o reitor falou, sua voz era um decreto, antes de se virar e seguir pelo corredor.

Kristoff grunhiu, conteve um palavrão e voltou-se para mim. Seu olhar enfurecido lançado ao reitor sumiu ao encontrar meus olhos.

Durante todo esse momento, eu estava calada, sem reação, ainda sob efeito do beijo dele.

Ele me olhou no fundo dos olhos.

- Vamos conversar sobre isso. – decretou com a voz grave e rouca, antes de seguir rumo a direção.

Nunca conversamos sobre isso.

Depois dali, corri para a ala de Exatas, atrás de Hiccup, pois convenientemente todas as minhas amigas estavam em aulas extras. Quando o encontrei, tive a impressão de que o assustei.

- E me assustou mesmo. – Hiccup riu, terminando sua batata frita. – Você parecia um fantasma de tão branca, estava com cara de quem havia acabado de ser desenterrada, sorrindo de orelha a orelha, mas sem acreditar no que quer que havia acontecido.

- Imbecil. – grunhi para ele, que riu.

Agora, Kristoff devia a vida ao Hans, uma vez que o mesmo interviu a favor do outro, alegando ter sido apenas um mal-entendido entre homens e que a reitoria não deveria se intrometer em assuntos pessoais entre ambos.

- Mas já que a situação foi tramada por mim, não fiz mais que minha obrigação. – Hans dava de ombros.

Conversas a parte, o assunto do nosso beijo finalmente caiu no esquecimento.

Geral.

Principalmente meu e dele.

Me doía constatar que ele não fez aquilo porque quis.

Fez aquilo para peitar e se impor contra o Hans. Mais um caso de rivalidade masculina desnecessária. Eu realmente me recuso em ser o cerne disso.

- Você realmente não entendeu nada. – exprimia Hans com um suspiro cansado, massageando entre os olhos. – Ele agiu no impulso. Deixa de ser cabeça dura!

- Hans, não foi só isso. – murmurei baixinho. – Eu... não consigo entendê-lo.

- E tudo bem. – Hiccup deu de ombros, dando umas garfadas em sua refeição. – Kristoff é como se fosse uma aberração da natureza. Uma ideia, um conceito, um estado fodido de espírito. Uma porra que ninguém entende, nem seus poucos amigos. Portanto, não se cobre tanto. – Hiccup dizia com tranquilidade.

- Mas mesmo não entendendo, é evidente que ele só fez o que fez pra confrontar Hans. – expus o que realmente me afligia.

- Ele estava evidentemente com ciúmes! – Hans exclamou.

- Isso eu tenho que concordar. – reforçou Hiccup, com o olhar compenetrado em mim. – Conheço Kristoff há anos. Sei o que estou dizendo.

- Mas foi necessária toda uma situação, toda uma intervenção de Hans! Se ele quisesse mesmo, ele... – suspirei exasperada.

O que eu estava dizendo?! Eu nem deveria estar me importando tanto com isso.

- Hans, eu sei que você queria... me ajudar. Nos ajudar. – desviei o olhar, eu me negava a fitar os dois, que me encaravam profundamente. – Mas essa situação nitidamente não me faz bem.

E então, ambos pareceram preocupados.

- Me desculpe. – dizia o ruivo, virando-se para mim atencioso. – Eu realmente não pensei muito nas consequências, eu...

- Você se ocupou mais se divertindo com a situação. – Hiccup crispou os olhos na direção de Hans, que franziu o cenho em resposta.

Mas ponderou depois de uns segundos e fez uma careta, tornando a me fitar.

- Me desculpe.

- Tudo bem, pare. – dei um suspiro. – Sei que no fim das contas você teve boas intenções.

Voltamos a conversar sobre outras coisas e Hiccup logo puxou um assunto que me deixava mais confortável.

Naruto.

Coisa que Hans só conhecia pelos jogos, o que achei um ultraje.

Terminamos de comer e eu levei sermão dos dois por ter almoçado nada mais nada menos que um copo de capuccino e um muffin.

Tuffnut se aproximou da nossa mesa. Cumprimentou seu irmão de club com um aperto de mãos específico e Hans com um aceno de cabeça.

- Anna, vamos?

- Para onde? – arqueei uma sobrancelha.

- Marcamos pra hoje, maluca.

Arregalei os olhos. – Eu havia me esquecido! – exprimi, sendo tomada pela animação, mas logo murchei. – Não vai dar, ainda tenho aula hoje...

- Pode ir. – Hans falou simplesmente, erguendo-se com sua bandeja. – Vou dar um jeito para que não computem suas faltas. – ele piscou e se despediu antes de seguir para fora da cantina.

Eu ainda estava admirada e mais animada ainda, só queria agarrar Hans num abraço, mas ele simplesmente saiu.

Hiccup ergueu um pacote na minha direção.

- O que é isso?

Ele deu de ombros. – O novo gaiden do mangá que você gosta. Achei numa banca e trouxe pra você.

- Tá brincando, Hiccup? – dei um pulo em seu pescoço, num abraço afoito. – Obrigada!

- Não foi nada.

Ele sorriu, trocou um olhar cúmplice com Tuffnut antes de se despedir e ir embora.

Com o passar das horas, me via cada vez mais satisfeita em não ter ficado em casa. Teria me arrependido, com certeza.

***

Eu só queria agarrar o Tuffnut num abraço apertado de tão agradecida que eu estava.

Não é segredo nenhum que sou uma eterna amante de jogos e quando o gamer mais fodão da sua faculdade te chama pra passar uma tarde na sua sala de games não há como negar.

Tuff pode ter essa cara de maconheiro hacker alienado – e de fato ele é – mas o maldito é podre de rico.

Tuff caga, transpira, sua, respira, planta, peida... Dinheiro (?).

Ele consegue uma pequena fortuna graças aos inúmeros jogos ao quais já programou.

Quando finalmente entrei num quarto que dava dois do meu, todo lotado de jogos, fliper, monitores, eu estava nitidamente boquiaberta. Lindsay, que estava junto de nós e eu descobri ser bastante amiga de Tuff, passou por mim e riu de minha feição.

- Eu fiz essa mesma cara quando vim aqui a primeira vez. – admitiu num sorriso.

Fitei Tuff, que gesticulava orgulhoso pra si próprio.

- Sabe seu contrabandista pessoal que atende pelo nome de Hans South? – ele me questionou e eu anuí. – Nós temos o mesmo contato nas produtoras. Mas... ele infelizmente tem mais moral que eu. – Tuff fez uma careta. – Inclusive, fui eu quem contei a ele que você queria muito o Cyberpunk.

- Mal posso prever seus movimentos! – Tuff deu uma risada.

Tuff e eu sempre tivemos muito assunto, principalmente quando se tratava de games. Então eu ansiava por um momento desses em sua companhia e, apesar de sermos amigos, nunca tivemos a famosa oportunidade.

Quando ele me convidou, fiquei super animada! E essa nem foi a melhor parte, pois nunca achei que a tão fodona sala de jogos que ele sempre mencionava em nossas conversas fosse tão... Fodona assim! Tinha coisa ali que nem sequer havia lançado! Meu santo Rikudou, eu quase achei que teria uma overdose (???).

Nós jogamos e conversamos o resto da tarde.

De Tuff, eu já esperava adorar sua companhia, já Lindsay... Ela era ótima!

Por mais que não se aprofundasse tanto em jogos quanto eu e Tuff, estava disposta a aprender e adorava jogar. Me ensinou inúmeros macetes que Tuffnut outrora ensinara a ela. Eu nunca pensei que me divertiria tanto ao lado de uma pessoa que eu mal conhecia.

Só notei o pôr do sol quando saímos da sala de jogos para fazer um lanche na cozinha – a sala de jogos não tinha janela, por isso eu nem notara o tempo passando, tampouco que já estava escurecendo.

Na hora de ir embora, tanto ele quanto a ruiva fizeram questão de me levar até a porta de meu apartamento, e eu não protestei pois estava mesmo adorando a companhia de ambos.

Ainda comentávamos alegremente sobre a tarde e Lindsay já marcava um novo dia para nos juntarmos novamente na casa de Tuffnut quando abri a porta...

Me ocorreu que o sobressalto fora geral, mas só eu levei um susto com a variedade de vozes que bradavam um “SURPRESA”.

Tantos sorrisos voltados para mim e eu não fazia noção de qual era a minha cara. Eu realmente estava surpresa. Minha santa mãe de Rikudou. Hoje é meu aniversário! Socorro, eu tinha esquecido (?).

Um sorriso brilhou em meus lábios. Agora tudo faz sentido...

O presente de Hiccup e o favor de Hans hoje mais cedo.

Antes disso, Elsa enchera minhas panquecas de manhã com geleia de morango, mesmo com a proibição decretada por ela pois sabe que eu exagero. Meri me deu o broche do Groot de sua mochila que eu vivia pedindo. Rapunzel me presenteou com o novo livro da minha atual saga favorita.

Antes das aulas, Jack me abordou para informar que eu estava de folga na boate sem razão nenhuma, além de me presentear com uma foto autografada do RDJ que ele mesmo havia fotografado numa première em LA há anos. Flynn me deu o mais clássico, raro, irado Game Boy que não é vendido em lugar nenhum justamente por ser uma relíquia, alegando que havia encontrado no meio de suas coisas e sabia que eu gostava de jogos. Ruffnut me deu um vale-tattoo sem limite de preço, vou poder escolher qualquer tatuagem de seu portfólio que ela irá fazer de graça. Eret compilou um CD com inúmeras músicas do Green Day e Muse num remix foda feito por ele mesmo, Eret sempre fora um DJ talentoso.

E eu nem percebi que todo mundo de alguma forma estava tentando me agradar durante o dia... Por ser meu aniversário! Ninguém havia me dado os parabéns hoje, pelo menos não até agora, e exatamente por isso eu esqueci (??).

O primeiro a me dar um abraço foi Tuffnut, que estava ao meu lado. Em seguida Lindsay, que eu aposto que também sabia dessa surpresa. Fui adentrando a sala enquanto ouvia os cumprimentos de todos os convidados. Por mais que eu odiasse ser o centro das atenções, eu estava me sentindo imensamente confortável ali, com aquelas pessoas.

Todos me desejaram feliz aniversário, seguido de um abraço apertado.

Todos, menos um, é claro.

Lá estava ele. Em toda a sua postura pertinente, trajando a jaqueta de couro que já era, por mim, considerado seu símbolo. Com o rosto rígido, as sobrancelhas levemente forçadas sobre os olhos junto dos fios loiros de seu cabelo bagunçado. Senti um frio incômodo no estômago quando o olhar dele me encontrou... Enquanto eu já o observava.

Fiz questão de desviar o olhar.

Se ele não falaria comigo, não seria eu quem falaria com ele.

Mas foi você quem se afastou, sua tonta (?). ME DEIXA EM PAZ, CONSCIÊNCIA! (??)

Mesmo que eu estivesse nervosa por ter Kristoff na minha sala, não entendo o porquê desse nervosismo tendo em vista que já o tive até no meu quarto, a felicidade em ver minhas mães ali amenizava isso.

Eu estava com tanta, mas tanta saudade delas, que mal acreditei quando as vi sentadas no sofá do meu apartamento. Ficamos abraçadas por minutos a fio! E, mesmo que volta e meia eu ainda observasse o outro de maneira discreta – que conversava distraidamente com Dagur e Merida –, minhas mães, ainda assim, perceberam.

Mas eu jamais admitiria.

Admitir ou demonstrar que estou pensativa, faria surgir perguntas curiosas, que eu odiaria ter que responder. Então, vamos optar por agir naturalmente.

- Minha filha, eu quero saber quem é aquele jovem que tá te olhando desde que você chegara.

Que merda. Não adiantou muito.

- E eu também quero saber, porque olha... Ele é um pão (?). – cochichou Lucy, soltando uma gíria dos anos 80.

Não consegui conter uma risada.

- Acho que chegou o famoso momento de parar, não acham? Estão todos me olhando, oras. Afinal, a aniversariante sou eu.

- Pode até ser que hoje a atenção seja toda sua, no entanto, filha, ele foi o único a qual você não deu atenção. – comentou minha mãe, me observando.

Engoli em seco.

Ela sorriu, trocando um olhar cúmplice com Lucy. – É ele. – afirmou a ela, que anuía prontamente, e eu franzi o cenho.

- É ele o que?

- Queremos conhecê-lo. – as duas afirmaram em uníssono, entrelaçando as mãos e exibindo um sorriso entusiasmado.

Não. Definitivamente não!

- P-por que... Por que querem conhecê-lo?

- Por que não?

- Mas por que ele?!

- Ué, qual o problema? – Lucy estreitou os olhos.

- Nenhum. – respondi de imediato.

Elas novamente trocaram olhares cúmplices. Meu amado Rikudou, é possível que minhas mães consigam ler minha alma? Pensar nisso me deixou um tanto desesperada.

Suspirei, aturdida. – Por que logo o Kristoff?

- Kristoff? Hm, que exótico. Amei! – berrou minha mãe, animadíssima. Colocou as mãos na cintura. – Bom, se não quer nos apresentar a ele, nós mesmas nos apresentamos.

- Mas nem por cima do meu cadáver! (??).

- Agora ela falou em cadáver, querida. – afirmou Lucy para minha mãe. – Devemos nos preocupar?

Minha mãe estapeou o vento. – Que nada, até parece que não conhece Anna. – fez pouco caso de minha indignação e Lucy riu.

Eu não tenho dúvidas de que a vida está me zoando (?). Elas não desistiriam.

Suspirei, derrotada, tomando coragem para dar os primeiros passos...

Enquanto me aproximava dele, com minhas mães em meu encalço, não conseguia parar de pensar nas últimas semanas em que eu tive certeza... De que algo estava acontecendo.

Era só ele chegar perto, que sensações estranhas percorriam meu corpo e minha mente repentinamente virava um grande conjunto de vários nada (?). Eu parava de raciocinar direito perto dele, minhas mãos suavam frio, meu coração acelerava... Só pode ser virose! (??????).

Eu evitava pensar em tudo. Pois sabia que corria o risco de me magoar com a verdade, que Hans jogara na minha cara antes de pôr em prática seu plano.

Mas quando ele me beijou... e o mundo inteiro sumiu ao redor... eu cheguei a acreditar que as coisas estavam se encaixando e que finalmente eu poderia ser sincera com ele, comigo mesma, com todos.

Grande equívoco.

O objetivo de Kristoff sempre fora esse, no fim das contas.

E ele estava conseguindo.

Então, como qualquer pessoa sensata, eu me afastei, pelo menos para poupar a mim mesma. Ele jamais saberia. Porque, manter-se perto dele com tudo isso acontecendo aqui dentro, agravaria a minha situação.

Até que aconteceu a mais sólida evidência.

Percebi que sentia sua falta.

Percebi que senti saudades de algo que experimentei uma única vez.

E senti falta de Kristoff. Puta merda, eu senti falta dele.

O que isso significava? As respostas eram desesperadoras.

Então, vê-lo ali foi um misto de medo, aflição, ansiedade junto de saudade, alívio e... Ouso dizer, felicidade.

Ele observava nos aproximar desde a hora em que notara que era em sua direção que estávamos indo. Meri ao nos perceber afastou-se junto de Dagur, deixando-nos ali.

- Você veio. – suspirei num fio de voz, ao parar a sua frente.

Mal percebi o tom a qual eu exprimi essas duas palavrinhas. Tinha muito da saudade que senti dele nessa pequena frase, espero que ele não tenha notado.

Ele estava mais sério que nunca. Mas não um sério irritado, parecia mais... chateado.

Seu olhar demorou em meus olhos só por alguns segundos, mas havia tanto ali que eu ansiava por decifrar, que pareceram horas.

Por fim, ele deu uma leve estreitada nos olhos antes de umedecer os lábios com a língua e indagar austero.

- Eu não deveria ter vindo?

Ok, ele estava irritado e eu não respondi.

Sei que há aquele ditado de “quem cala, consente” mas eu só me calei porque ainda dispunha toda a minha atenção nos lábios, agora úmidos, de Kristoff. Engoli em seco.

Um pigarro e nossos olhares, enfim, desviam-se um do outro. Oh, meu santo Goku, minhas mães ainda esperavam as minhas costas, socorro Thanos!

- Ah, sim, é, hm... Mãe, Lucy. – elas vieram para o meu lado, sorriam abertamente para Kristoff que as fitava confuso. – Esse é o Kristoff, ele é, hm, meu... amigo... da faculdade. – ele me fitou por míseros segundos e um sorriso de lado nasceu em seu rosto. – Kristoff, essa é minha mãe Caterine e sua noiva, que também é minha mãe, Lucy. – antes de cumprimenta-lo, Lucy lançou-me um sorriso satisfeito.

Ela sempre gostava quando eu a chamava de mãe.

Kristoff cumprimentou-as com aquele mesmo lindo e aberto sorriso que raramente dava o ar da graça em seu rosto (?).

- Senhoras. É um prazer conhecê-las. – falou com sua voz grave e gostosa, um tremendo tesão. Puta merda.

- O prazer é nosso, querido.

- Você é um jovem muito bonito. – afirmou minha mãe. Ai, caralho. – Educado, aparência amável e faz minha Anna ficar sem palavras por quase dois minutos...

- Sim, ela contou os segundos que vocês ficaram se olhando. – comentou Lucy entretida.

- Está mais que aprovado!

- Mãe!

- O que é? Estou dando minha benção, oras.

Kristoff sorriu. – Mesmo?

O fuzilei com os olhos. – Kristoff!

- Tem a minha benção também, viu filho.

- Pelo amor de Dante, Lucy!

- Já podemos nos casar, amor. – afirmou Kristoff, assim na lata, do nada, na minha cara

Corei violentamente na mesma hora. O suspirar sonhador e exagerado de minhas mães foi instantâneo. Minha mãe já até ameaçava chorar de emoção (?).

Fuzilei Kristoff com os olhos, que sorria divertido com a situação.

- Vai começar? Eu vou socar a sua cara (?). – expus, entredentes.

Ele me fitou com um sorriso arrogante nos lábios.

- Lide com isso. – murmurou. – Você me manteve longe por quase um mês. Não poderia deixar passar essa oportunidade. – e desviou o olhar, disfarçando.

- Quer dizer então que você contou os dias? – seu sorriso sumiu.

Ele virou lentamente o rosto para me fitar mais uma vez. Eu sorria imensamente feliz com essa reação.

- Hm, parece que alguém sentiu saudades. – soltei, entre um sorriso que exibia todos os meus dentes (?).

- Que saudade o quê. – ele grunhiu.

- Você foi na boate só pra curtir sua noite ou pra ficar me observando?

Ele franziu o cenho e me encarou subitamente, os olhos crispados.

- Então você...

- Sim, eu vi você.

- Caralho, Anna... (??) – grunhiu irritadiço. – Me lembrei porque eu não gosto de você.

- Oh, então você havia esquecido?

- O tempo faz a gente esquecer. – murmurou, puto. – Mas obrigado por lembrar o porquê de eu te odiar tanto. 

Franzi o cenho.

- Vá se foder.

- Educação mandou lembranças.

- E eu mandei você se foder!

- Você me viu e mesmo assim não falou comigo. Por quê?! – ele estava indignado.

Eu engoli em seco. – V-você também não falou comigo, oras...

- Ah, eu tenho um bom motivo. Você estava lá, toda animadinha conversando com aquele babaca do Hans. – ele franziu o cenho. – Eu sou um cara civilizado, polido e educado. Jamais teria a coragem de interromper sua importantíssima conversa com aquele merda. – o tom dele era regado a sarcasmo.

- Você já fez isso e bem a sua maneira, se bem me lembro.

Ele sorriu em deleite, plenamente maldoso.

- Então paramos de fingir que nada aconteceu?

- E-eu n-nunca... – perdi a compostura por meio segundo.

Não havia o que responder. Não havia como tentar negar.

Ele apenas anuiu em desgosto, dando de ombros.

- Não se preocupe, não tá mais aqui quem falou. – ele estava nitidamente incomodado.

- Para com isso! Você também não deu a mínima!

- Você só pode tá tirando com a minha cara. – exprimiu num murmuro rouco.

- Meu amor, eles estão tendo... Não sei, parece ser uma DR, melhor sairmos daqui. – cochichou Lucy para minha mãe.

- Sim, vamos. – e saíram de fininho.

Santo Hagoromo, minhas mães presenciaram todo o ocorrido. É nesses momentos que eu gostaria que a Terra fosse plana, pra eu pular pela borda.

Fitei Kristoff e ele observava minhas mães se afastarem.

- Satisfeito?

Ele me encarou, a princípio confuso, mas logo abriu aquele mesmo sorriso novamente.

- Você não faz ideia do quanto.

Suspirei, olhando em volta, tentando disfarçar as reações estranhas que eu tinha perto dele. Me perguntava se um dia isso passaria, se era só uma fase. Afinal, ele é o mesmo Kristoff odiável e irritante que quase me atropelou no primeiro dia na faculdade, não é? O que há comigo, então?

De esguelha, observei seu rosto, seus olhos concentrados nos convidados a nossa volta, distraído, as mãos aquecidas em seus bolsos, os ombros rígidos que, vez ou outra, ele estralava... Faziam um barulhinho abafado e gostoso de ouvir.

Eu preciso de ajuda.

Eu só queria que Galactus devorasse a Terra agora, isso resolveria meus problemas.

Eu não sei por que caralhos o coração tem que ser algo tão estúpido?! A um tempo atrás, eu odiava o Kristoff. E ainda odeio! Odeio sim, com todas as minhas forças, não importa o quão você diga o contrário, seu órgão-cujo-a-única-função-é-bombear-sangue-e-não-interferir-na-minha-vida! (??????).

O fitei novamente e ele me observava de esguelha com uma sobrancelha erguida, provavelmente estranhando as inúmeras expressões que fazia enquanto discutia comigo mesma.

- Perdeu alguma coisa? – indaguei, toda trabalhada na ofensa e na discórdia.

Ele crispou os olhos. – Sua grosseria não tem limites.

- E quem pediu sua opinião? – ele franziu o cenho e virou a cara.

Emburrada, cruzei os braços e fiz o mesmo.

E em meio a isso tudo, senti saudades de Tooth. Já tem uns dois dias que ela não dá notícias, ao menos eu soube por meio de Jack que a avó dela apresentou uma melhora, então eu estava bem aliviada quanto a isso.

Mas, observando o pessoal, não pude evitar sentir sua falta.

Dagur, Eret e Jack conversavam divertidos sobre algo que suspeitei ser engraçado pelas risadas estridentes. Rapunzel e Flynn se comiam com os olhos numa proximidade absurda, assistindo a algo juntos no celular que era o pretexto para estarem tão próximos. Elsa conversava com minha mãe e Lucy, provavelmente perguntando sobre a Tia Aldara e Tio Dante. Hiccup segurava a cintura de Astrid, que estava de frente para ele, conversavam casualmente e trocavam um sorriso sincero. Ruff e Meri, próximas à mesa, comiam as guloseimas e faziam caretas uma para outra com a boca cheia de comida (???). Tuff e Lindsay dividiam um trifle distraídos ao canto da sala.

Pensei em Hans, de alguma forma, senti-me triste por ele não poder vir. Elsa me falou que ele precisava terminar uns trabalhos na faculdade.

Então, olhando todas essas pessoas que me faziam sentir confortável, eu não conseguia abandonar a ideia de que estava faltando alguém... Que é a Tooth.

Queria que ela estivesse aqui, mesmo que isso signifique aturar seus olhares maliciosos pela proximidade entre mim e Kristoff.

Eu sorri... E meu celular apitou. Uma mensagem.

Te desejo parabéns por hoje e felicidade para a vida toda. Aproveite seu dia. Você merece.

Por mais que eu tenha ficado deveras surpresa ao ver que ser tratava de Phillip, sorri ao reler as palavras novamente. Foi uma mensagem pequena, mas cheia de significado. Quando eu estava digitando uma resposta, meu celular tocou, dessa vez uma chamada. Atendi imediatamente assim que li o nome que piscava na tela.

- TOOTH! EU ESTAVA PENSANDO EM VOCÊ AGORA! – berrei e olhei em volta.

Uma dúzia de pessoas me olhavam estranho. Dei um sorriso sem graça e me afastei.

Ela deu aquela risada do outro lado da linha.

- Ai, que amor! Vou chorar... – e começou a chorar mesmo, um choro em meio a uma risada louca. – Feliz aniversário, amiga!

- Tooth, não chora... Eu vou chorar também.

- Eu tô morrendo de saudade. Desculpa não estar aí hoje. Sinta-se abraçada.

- Tá tudo bem, poxa. Só falta você aqui. Mas eu compreendo. Também estou morrendo de saudades.

- Logo mais, voltarei. Minha avó apresentou melhoras. Eu estava muito sozinha por aqui, senti sua falta e das meninas. – ela contou, num suspiro. – Mas não se preocupe. Não estou mais sozinha. Tive visitas... – seu tom era complacente e eu quase conseguia imaginar o sorriso em seu rosto.

- Fico feliz, mana. Que visitas?

- Te conto quando eu voltar. – ela riu.

Eu sorria ao ouvir sua voz alegre, apesar do motivo de tê-la feito viajar.

Mas meu sorriso sumiu quando, no mesmo lugar onde o deixei parado em pé, estava Kristoff, um pouco mais distante, segurando um maço de Lucky Strike, pronto para pegar um cigarro.

- Tooth, preciso resolver uma coisa. Pode me ligar depois?

- Claro, amiga, sem problemas. – ela mandou um beijo e desligou.

Segui em direção a ele, com passos pesados e os olhos em fúria. Ele estava distraído, nem notara minha aproximação.

Parei a sua frente e ele me observou com o cenho franzido, confuso pela forma como eu o encarava.

- Poderia, por favor, não acender isso aqui? – meu tom saiu extremamente baixo.

Então sua feição mudou, para um modo como quem compreendera a situação, todavia, de maneira errada.

- Eu vou embora, se quiser.

- Não foi o que eu quis dizer.

Antes que ele pudesse responder, Jack nos interrompeu.

- A porta da varanda tá aberta, pode ir pra lá se quiser.

Kristoff fitou o lado de fora além das portas envidraçadas, agradeceu a Jack e se virou, sem nem mesmo me fitar.

Com o canto dos olhos notei Elsa, que estava do outro lado da sala, e Jack se comunicando por meio de sinais estranhos e olhares cúmplices, uma espécie de comunicação que só eles entendiam, então resolvi ignorar pois no momento estava muito irritada com certo alguém. Típico.

Eu não sei como consegui ser tão silenciosa, mas assim que coloquei os olhos na carteira que estava prestes a ser guardada no bolso interno de sua jaqueta, num movimento rápido, agarrei aquilo antes que ele pudesse perceber minha presença.

Ele suspirou.

- Devolve, Anna. – fui em direção a ponta da sacada e zuni aquela maldita carteira de cigarros longe.

Esperando por um tom irritado e já me preparando para este, me surpreendi quando, ao em vez disso, ouvi um audível suspiro. Ele massageava entre os olhos de maneira cansada.

- Eu acabei de comprar esse maço.

- Problema seu (?). Agora pode ficar aí sozinho imaginando que fim levou seus cigarros e... – me surpreendi ao sentir que a porta não abria. – Ué, quem trancou? – do outro lado, vi Jack e Elsa me dando um tchauzinho alegre enquanto se preparava para fechar as cortinas de dentro. – O que está fazendo? Não se atreva...

- O que está havendo? – indagou Kristoff, chegando ao meu lado ao perceber a situação.

- A porta emperrou... – de dentro, Jack respondeu, levantando as mãos como quem não podia fazer nada. – Vou tentar desemperrar... daqui a pouco.

Elsa me lançou uma piscadinha, que a princípio eu não entendi. Será que Elsa armou isso? Não, né?

- Não precisa fechar as corti- – ela fechou, na minha cara. Que vaca.

- Hm. – grunhiu Kristoff, voltando a sua posição inicial, escorado ao vidro da sacada.

Provavelmente olhando com pesar seu maço de cigarro sendo pisoteado lá embaixo (?).

Suspirei, aturdida. Agora eu estava presa na sacada do meu apartamento junto de um Kristoff que agia daquela mesma forma que me deixava nervosa, como na primeira vez em que nos vimos na ponte.

Para completar, Elsa fez o favor de me jogar aqui fora... Sem casaco.

A noite estava fria, muito fria. Daqui eu conseguia ver a fumaça que se formava com a respiração quente de Kristoff e ia se dissipando preguiçosamente. Sentei-me na poltrona próxima a mesinha de canto e esfreguei as mãos sobre os braços no intuito de me esquentar.

- Não mencionou que tinha duas mães. – ele comentou, ainda sem me fitar.

- Por que eu deveria? – soprei entre minhas mãos para aquecê-las. – Não é como se você mencionasse por aí, sem mais nem menos, que tem uma mãe e um pai.

- Mas eu não tenho. – ele torceu o nariz, arrependendo-se na mesma hora de seu deslize. – Não mais. – completou num murmuro e meu coração apertou.

- Eu sinto muito.

- Não sinta. – com o olhar concentrado nas luzes abaixo, ele suspirou. – Caralho, eu preciso de um cigarro.

- Não precisa, não. – falei hesitante. – Se distraia, pare de pensar no que te dá vontade de fumar... Conversa comigo. – falei essa última parte baixinho e ele me fitou com o canto dos olhos. – Uma hora, a vontade passa.

Ele desviou o olhar e tornou a fitar a sua frente.

Já não observava as ruas iluminadas lá embaixo. Agora, ele contemplava o céu.

A luz da lua minguante se esgueirava por entre as nuvens pesadas e banhava seu rosto. Me vi compenetrada naquela imagem linda, que daria uma magnífica tela.

Eu não estava falando do céu. Estava falando de Kristoff.

- Você não se parece com ela. – ele comentou, trazendo-me a realidade novamente.

- Com quem? – indaguei, depois de piscar continuamente ainda meio deslumbrada e surpresa com meus próprios pensamentos.

- Com a sua mãe. Pelo menos, não em aparência.

- Ah, é... – dei uma risada curta e nervosa. – Isso é porque... Eu puxei o meu pai.

Foi de meu pai que herdei os fios loiros-acobreados e escorridos, os olhos claros azulados. Talvez, até parte da personalidade. Minha mãe, que nada tinha a ver comigo, herdara de meu avô os cabelos ondulados e escuros, junto dos olhos avelã. Nem com a minha tia ela parecia, já que a mãe da Elsa herdara em tudo a aparência de minha avó, cabelos e olhos claros.

Ele franziu o cenho.

- O que houve com seu pai?

- Ah, ele foi embora quando eu era bem nova... – dei de ombros. – No entanto, ainda há momentos em que eu sinto as queimaduras de cigarro em minhas costas arder. – nem percebi o que eu havia acabado de confessar.

Ele crispou os olhos, virando-se em minha direção instintivamente, e se aproximou.

- O que ele fez com você? – indagou, temeroso.

- E-ele nunca me violentou, se é o que quer saber... – ele pareceu mais aliviado. – Mas quando bebia, se transformava em outra pessoa. Outra... coisa. Virava um sádico que sentia prazer em machucar mulheres, como minha mãe... e eu. – neguei com a cabeça, fechando os olhos com força, tentando esquecer as imagens que se esgueiravam em minha mente. – Acho que a melhor coisa que ele fez por nós foi nos abandonar.

- Eu sinto muito.

- Não sinta. – sorri minimamente. – Não fosse isso, minha mãe nunca teria conhecido Lucy, então... – eu dei de ombros. – Ela me criou com o carinho e o amor que meu pai foi incapaz de me dar.

Kristoff me fitou por longos segundos, parecia interessado na história. Eu sorri com aquilo.

- Como elas se conheceram?

- Ah, é uma longa história. – ele se sentou na poltrona a minha frente, mostrando que estava disposto a ouvir. Dei uma risadinha. – Bem... Resumindo, elas se conheceram na faculdade. Depois que meu pai já havia ido embora, minha mãe quis terminar o seu curso que, por ter engravidado de mim, ela teve que interromper. – pensei por uns segundos lembrando-me da época em que eu ficava na casa dos meus tios para que minha mãe fosse estudar. – Eu ficava na casa da Elsa enquanto minha mãe estava na faculdade, foi a partir dali que desenvolvemos uma grande amizade.

- E por que ela não terminou antes? Digo, sua mãe...

Torci o nariz, infeliz com a lembrança.

- Meu pai não gostava que ela estudasse. Achava que, como tornara-se mãe, deveria cuidar da casa e de mim.

Ele ergueu ambas as sobrancelhas, surpreso. E, no fundo, um tanto irritado.

- Por que sua mãe... Não largou o seu pai?  – murmurou, tentando compreender.

- Eu acho que ela tinha medo. Ou, acreditava que um dia ele iria voltar a ser o homem que era quando começaram a namorar. – eu ri sem humor. – Se conheceram tão novos, ele com 20 anos e ela com 16. Minha mãe engravidou cedo, eles viviam juntos, tudo é um mar de rosas no início, né? – dei uma risada curta. – Mas as pessoas, em sua grande maioria, crescem e mudam. O cara que antes era de família, atencioso, carinhoso sumiu e deu lugar a um “homem” que só se importava com dinheiro, drogas, bebidas e mulheres... – neguei com a cabeça. – Ela acreditava que aquele homem, dos primórdios de seu namoro, ainda residia ali. Minha mãe era uma tola. – dei um longo suspiro. – E ela faz parte da minoria, pois até hoje ela é a mesma menininha daquela época. Ela não mudou nada... – completei num murmuro. – Mas eu não tenho mais o que temer. Lucy nunca vai fazê-la sofrer. Eu as observei por muito tempo para poder afirmar isso convicta. – eu fitei Kristoff nos olhos, esperando que ele compreendesse o que eu estava prestes a dizer. – Basta observar. O sorriso mais bonito e sincero de minha mãe acontece sempre que ela está na companhia de Lucy.

E ficamos ali...

Nos encarando por segundos a fio, antes de ele afirmar.

- Sei bem o que é isso. – e sorriu de lado, desviando o olhar de meus olhos e fitando o chão.

Kristoff levantou-se pouco tempo depois, voltando ao seu lugar na ponta da sacada. Parecia pensativo. Preocupado. Talvez, até arrependido.

Não demorou muito para que ele se manifestasse sobre o que o incomodava. Eu gostei disso.

- É por isso, então, que você tem tanta aversão a cigarros? – ele indagou.

Foi a primeira vez que ouvi o timbre de sua voz tão... arrastada.

Anuí em concordância, decidida a não mentir para ele. Não mais.

Kristoff suspirou pesadamente.

- Me desculpe.

- Você não sabia.

Ele colocou as mãos no rosto.

Depois de longos segundos na mesma posição, enquanto eu ainda o olhava sem previsões para me cansar disso, ele finalmente disse.

- Eu posso ver?

Demorou um pouco para que eu, enfim, percebesse sobre o que ele estava falando. Ele virou-se minimamente para me fitar, dado o demorar de minha resposta. Respirei fundo e anuí, ele se aproximou enquanto eu me virava de costas para ele.

Um calafrio subiu minha espinha.

Ninguém antes, além das minhas amigas e minha família, havia visto minhas cicatrizes. Até na hora de nadar eu me certificava de que o maiô estava as cobrindo totalmente.

Puxei meus cabelos, que antes cascateavam as minhas costas, segurando os fios ao lado de meu rosto, rente ao meu pescoço. Kristoff já estava atrás de mim, apenas aguardando, então abaixei metade de minha blusa.

Senti minhas marcas expostas.

Eu sabia, por já ter memorizado o lugar de cada uma delas, que ele conseguia ver seis de nove marcas circulares mais escuras que meu tom de pele. Tive a certeza disso quando um de seus dedos deslizou por cima de cada uma delas.

Estremeci com seu toque. Um calafrio percorreu meu corpo e eu me arrepiei no mesmo instante.

Engoli em seco, fechando os olhos, tentando me acalmar, controlar minhas emoções, minhas reações, meu coração que ia acelerando a cada segundo.

Não é possível que isso seja tão mais forte que eu assim.

Eu apertava com força a gola de minha camisa a qual eu segurava desde que abaixei a parte que cobria meu ombro.

Minha respiração já pesava... Até que algo me surpreendeu e me aqueceu, repentinamente.

Abri os olhos, fitando sua jaqueta de couro que descansava sobre meus ombros e cobria praticamente todo o meu corpo.

Virei-me instintivamente para fitá-lo.

Ele já estava em seu lugar anterior, com as mãos nos cabelos e fitando as ruas abaixo... Eu me preocupei.

Caminhei até seu lado, escorando-me a sacada de frente para ele.

- Você está bem? – indaguei, num sussurro.

Mas ele não me fitava.

Minha mão levitou por míseros segundos acima de seu ombro, pronta para repousar ali num gesto de apoio. Mas no último instante, pensei bem e a retraí, trazendo-a junto a meu peito e a segurando ali para que esse deslize não fosse cometido novamente.

Ele se virou para mim, os olhos âmbares concentrados em meu rosto.

Mas foi quando notei ele se aproximar um passo que meu coração falhou uma batida, seguindo num acelerar pesado.

Temi que ele pudesse ouvir, dada a quase inexistente distância entre nós, pois ele já havia dado mais dois passos...

Parado a minha frente, ele demorou alguns segundos ainda a me observar. Curiosa e com a respiração entrecortada, eu buscava descobrir em sua feição o que ele pretendia, tendo que olhar para cima para fitar seus olhos, que se desviaram dos meus por um segundo quando ele observou meu corpo tão próximo ao seu.

Eu percebi, pelo subir e descer da proeminência em sua garganta, que ele engolira em seco.

Kristoff erguera lentamente um braço na direção de meu rosto e de repente tornou-se difícil respirar.

Sem sua jaqueta, eu pude notar as veias salientes em seu braço, quando ele deslizou os dedos pela minha nuca. Minhas pernas bambearam e eu prendi a respiração.

Com uma pressão moderada, ele puxou meu rosto para mais perto, encarando-me no fundo dos olhos, perscrutando cada traço de minha feição antes de cravar um olhar intenso em meus lábios entreabertos pela respiração embargada e sôfrega.

Ele se inclinou minimamente em direção a minha boca e meu coração disparou.

Mas Kristoff não avançou mais.

Eu não conseguia desviar meu olhar dele. Eu era simplesmente incapaz de não correspondê-lo.

Meu corpo respondia a sua presença e eu me via dominada por uma urgência em sentir seu cheiro, seu gosto, era muito mais forte que eu e antes que eu soubesse o que estava fazendo, segurei sua nuca com ambas as mãos findei a distância entre nossos lábios.

A mesma sensação daquele dia... Intensa. Poderosa. Brutal.

Me consumindo, me dominando, e eu simplesmente me entreguei, puxando-o para mim e aprofundando o beijo com vontade.

Seus lábios eram quentes e úmidos, ele me beijava de um jeito completamente diferente da nossa primeira vez. Muito mais calmo, mil vezes mais intenso. Kristoff enlaçou possessivamente minha cintura, puxando-me para mais perto e eu espontaneamente me desfiz em seus braços...

Meu coração era um turbilhão de emoções.

Minha pele era puro arrepio.

Em meu âmago, eu sentia que iria explodir, tamanha a intensidade de tudo, tudo o que sentia quando estava com ele.

Quando ele me toca.

Quando ele me beija.

Seus dedos se firmam em meu quadril quando ele me prensa contra a sacada, seu toque forte e certeiro me devasta em sensações avassaladoras.

Eu me sentia perdida e entregue. Prestes a transbordar os sentimentos intensos que me dominavam.

Eu me agarrava a Kristoff com uma ânsia e necessidade excessiva. E ele correspondia, agressivo e bruto, deliciosamente a sua maneira.

Seu beijo era puramente devastador.

Extinguia completamente minhas estruturas e destroçava qualquer sinal de resistência que eu tentasse inutilmente armar.

Droga. Ele venceu.

Eu estava completamente rendida.

Mesmo sem fôlego, nos negávamos a cessar o beijo, mas com muito, muito esforço... subjugamos essa névoa densa de desejo que nos rodeava e nos prendia um ao outro, ele mordeu meu lábio inferior antes de se afastar ínfimos centímetros, nossas testas rentes uma a outra, a ponta de seu nariz contra o meu.

- Feliz aniversário. – murmurou contra os meus lábios, entre um selinho e outro.  

E eu não consegui reprimir o sorriso feliz, ainda com os olhos fechados, inebriada com a sensação.

Com as mãos hesitantes, enlacei seu pescoço com os braços e o puxei para um abraço, apertando com toda a força que consegui.

E sendo prontamente correspondida.

Seu rosto na curva de meu pescoço enquanto eu suspirava profundamente seu cheiro.

Exprimi com plena franqueza.

- Obrigada.

*


Notas Finais


Curiosidades:
- Pesquisem RDJ no Google e vejam o que aparece - lembram da foto que o Jack deu pra Anna? Então, não é difícil adivinhar -qq

Eu ia postar esse capítulo sóooo mês que vem, ia deixa-lo aqui guardadinho até terminar o 27, porém, contudo, entretanto, todavia, devido as circunstâncias -qq, achei que vocês mereciam um capítulo novo nesse feriado ^^

Devo dizer que AMEI os comentários do capítulo passado, AMEEEEEEI! E ainda não respondi todos, mas não se preocupem, estarei fazendo isso agora mesmo, decidi postar primeiro para que vocês tivessem o resto do dia pra ler...

Então, gente, é aquilo... O capítulo 27 pode demorar pra sair, pois ainda tem poucas coisas prontas, no entantooooooo, lembrem que eu disse a mesma coisa do capítulo 26 e olha ele aqui -qqq. Então, vamos torcer pela minha inspiração, prq tudo depende dela \õ/ Já posso adiantar que... Terá POV da Merida.
E DO HICCUP. SOCORRO, THANOS! -QQQQQQ

Comentemmmmmm cheirosas! Eu amo, AMO, conversar com vocês <3

NOS VEMOS NO PRÓXIMO, UHUL! <3

[REVISADO: 03/02/2020]


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