- Nuckelavee! Como não pensei nisso antes? - Lydia perguntou enquanto colocava as mudas de roupa na pequena mala.
Desde a reunião com o pack após o funeral do treinador, aquilo não saíra da sua cabeça. Como não o reconhecera nas visões que tivera anteriormente? Ainda bem que decidira desenhar o monstro e Alec o reconhecera por conta de um jogo.
- Eu nem sabia que isso existia! - Stiles respondeu enquanto arrumava o quadro de evidência em seu quarto com as fotos das garotas desaparecidas.
- E o que isso faz exatamente? - perguntou Anna, que estava deitada de bruços na cama de Stiles e observava os amigos.
Lydia notou que, apesar do tom ainda não natural da amiga, ela estava mais próxima do seu normal.
- O Nuckelavee faz parte da mitologia escocesa. Ele é um ser que habita os mares e que raramente consegue sair de lá, porém, quando consegue, ele ataca as pessoas que vivem próximas ao oceano e principalmente, acaba com as plantações com o seu bafo tóxico. - Lydia explicou aos dois.
- Mas por que ele ataca? - a amiga perguntou.
- Por prazer! O Nuckelavee é uma criatura má! Seu único intuito com a matança é a diversão em dilacerar corpos!
Stiles piscou algumas vezes tentando disfarçar o desconforto, mas Lydia sabia que ele estava pensando no Treinador. Depois de alguns segundos ele balançou a cabeça como se tentasse esquecer o que estava em sua mente.
- Espera! - o rapaz falou franzindo levemente a testa. - Você disse que ele habita os mares. Então o que diabos ele faz aqui sendo que Beacon Hills nem fica perto da costa?
- Isso é o que está me intrigando! É como se alguém tivesse o guiado até aqui. - a banshee respondeu.
- A tal "Mãe"? - o namorado perguntou.
- Não acredito que tenha sido ela.
- E se a gente tentasse, não sei, encontrá-la? - Anna sugeriu.
- Isso! E temos dois amigos bem próximos da Escócia! - Lydia respondeu animada.
***
- Jackson! Oi, querido! Como você está? -Stiles observava a namorada falando animada com o amigo. Não queria que aquele mal estar se instalasse no seu estômago. Já haviam se passado anos e ele sabia que aquele sentimento era imaturo, mas toda vez que ouvia Lydia falando com aquela vozinha esganiçada com Jackson, lembrava-se da primeira vez em que chorou por vê-la nos braços do ex-namorado.
Mordiscou o lábio inferior e voltou a traçar a linha vermelha entre as fotos no quadro de evidências.
- Ele é bonito?
- Que? - ele olhou para Anna que o olhava curiosa.
- O tal do Jackson. Ele é bonito?
- Por que você quer saber?
- Sei lá! Talvez porque sua energia tenha mudado completamente desde que ela começou a falar com ele.
- Não tem nada demais com a minha energia, tá? - ele respondeu um pouco irritado. - Bem, talvez eu me sinta... Não sei. Acho que é porque de alguma forma eu queria ter sido a pessoa ao lado dela em alguns momentos quando erámos mais jovens.
- Tudo acontece quando tem que acontecer.
Stiles sorriu com as palavras da amiga.
- Me promete uma coisa?
- O que?
- Cuida dela por mim, tá? - ele pediu.
- Pode deixar comigo!
- Ele parte com o Ethan assim que possível! - Lydia falou animada interrompendo a conversa dos dois e guardando o celular.
- Perfeito! - Stiles respondeu voltando-se para o quadro agora completo. - O que você acha que aconteceu com elas? Digo, depois de ter visto o que você viu?
- Já ouviu falar em Elizabeth Bathory? - a ruiva perguntou séria.
- A condessa louca? - Anna perguntou.
- O que eu vi foi exatamente o tipo de coisa que ela fazia. Uma espécie de ritual de sangue!
***
- Se essa é a única forma!
- Temo que sim.
- Então vamos logo com isso! - a ruiva falou para a mulher cuja a face não conseguia enxergar
- Um sacríficio é muito mais forte na noite de hoje e ainda mais forte quando de bom grado. - a mulher falou colocando a adaga sobre a garganta da banshee.
- Apenas salve os meus amigos!
Lydia pode ouvir a mulher sussurrando algo e logo após um relâmpago cortou o céu.
- Está feito! Ao mar ele retornou.
- Ótimo!
- Agora, vamos ao que me interessa. Seu sangue!
A lâmina afiada passou pela sua garganta e ela sentia o líquido quente saindo do ferimento. A mulher colocou a mão sobre o local e a ruiva sentiu seu sangue sendo drenado para fora do corpo.
Estava ficando fraca.
A imagem de todos que amava passou sobre os seus olhos.
Ela o viu. Primeiro sorrindo, depois preocupado, e por fim dizendo que a amava.
"Stiles".
O nome dele foi seu último pensamento.
Lydia abriu os olhos assustada.
Olhou para o lado e ele dormia profundamente.
Estavam no quarto dela.
A luz da lua iluminava o ambiente e produzia sombras fantasmagóricas nas paredes.
Precisava lavar o rosto e refletir sobre o que vira.
Ela morreria.
Isso era certo.
Mas morreria salvando seus amigos o que lhe causava um alívio extremo.
Lembrou-se do que sentiu antes da "morte". O rosto de Stiles sendo a última coisa que vira. Os olhos arderam ao pensar no amado. Conseguiria pensar em uma forma para sobreviver e ao mesmo tempo manter seus amigos a salvo?
Olhou no espelho e viu o seu rosto pálido, o cabelo ruivo, as olheiras profundas. Estava péssima.
De repente algo se moveu atrás dela.
No reflexo ela pode ver a figura de uma senhora negra.
- Fique longe da minha neta. - a mulher falou em sua mente.
- O que? - Lydia perguntou confusa virando-se para a senhora.
- AFASTE-SE DA MINHA NETA! - a figura gritou furiosa lançando as duas mãos para o pescoço da banshee.
Ela era forte e Lydia começou a asfixiar conforme ela a estrangulava.
A mulher então a empurrou para a banheira cheia de água e afundou sua cabeça.
A garota lutava para se manter fora da água e tentar sorver algum ar. Queria gritar mas não conseguia.
De repente se deu conta de algo.
A banheira não fora usada anteriormente. Então como estava cheia?
"Não é real", a jovem pensou desistindo da luta, deixando-se ser empurrada para baixo.
Sentiu falta de ar e abriu os olhos.
Estava deitava novamente.
"Tive um sonho dentro de outro".
Sentou-se e olhou para o lado.
Estava sozinha.
Só então se deu conta de que não estava em seu quarto.
A mobília era antiga e refinada, o quarto era enorme e a cama de dossel estava enfeitada com tecido fino.
Levantou-se sentindo os pés frios ao tocarem o chão e correu até a penteadeira mais ao fundo.
O rosto que vira não era o de Lydia Martin.
Estava novamente vivendo a vida de Judith McCall.
- Judy? - Judith ouviu a voz calma e rouca que por tanto tempo fora seu refúgio. A voz do seu amado irmão.
- Julian? - ela virou-se à procura do irmão pelo quarto.
Ele estava em pé ao lado da sua cama. Suas roupas estavam molhadas e a expressão de dor em seu rosto a assustou.
- Julian! Oh, Julian! - a dor em seu peito tomou força quando compreendeu a visão que estava tendo. Ela sentiu seu peito rasgar como se tivesse sido atacada pelas garras de um felino selvagem. - Não! Não, não, não! - era tudo o que conseguia dizer. Suas pernas vacilaram e ela se viu curvada sobre o chão sentindo as lágrimas molharem seu rosto.
- Houve uma tempestade. O navio não suportou as ondas e...
Aquela era a maldição em ser uma banshee.
Ela sabia quando as pessoas morriam.
Porém, jamais imaginaria que veria o seu próprio irmão.
- Judy, eu preciso que me ajude. Digo, não a mim exatamente, mas Izabel. - ele falou se aproximando da irmã.
Ela levantou o rosto para encará-lo.
- Como assim?
- Izabel espera um filho meu, estou certo?
A garota assentiu afirmativamente.
- Ela virá atrás dele, Judy. Se ela souber que ele carrega meu sangue, ela virá atrás dele.
- Ela? Aibel?
- Sim!
=Julian, eu não sei o que fazer! Me diga o que fazer, por favor! - a garota implorou chorando.
- Seu amigo e a família dele estão de partida, certo?
Judith se lembrou do dia em que procurara Mek para dizer-lhe que não poderiam partir para a América juntos. A decepção no olhar dele a perseguia desde então. E o pior, ela sequer pudera lhe dizer o real motivo.
Naquele mesmo dia ele lhe dissera que ainda haveria uma última chance para eles. Ele partiria com a família em alguns dias para fugirem da Grande Fome e se ela o amasse de verdade, iria com eles.
- Sim. Eles partem amanhã. - ela respondeu com os olhos marejados.
- Izabel deve ir com eles. - ele falou. - Por favor, diga a ela que eu a amei e sempre amarei. E que dê o sobrenome da nossa família ao nosso filho.
Judith chorou copiosamente.
Por que?
Por que tinha que perder todos que amava?
Primeiro o amor de sua vida, agora seu irmão e até a única amiga que tivera!
Os dedos gelados de Julian tocaram seu rosto molhado.
- Nunca se esqueça que eu te amo, irmãzinha!
A dor em seu peito se tornou insuportável e ela não conseguiu mais encará-lo. A garota fechou os olhos tentando aguentar a angústia em sua garganta.
Quando os abriu novamente o irmão havia sumido.
Na porta do quarto estava o pai.
Ele a observava com os olhos molhados também.
Judith levantou-se e correu para os únicos braços que poderiam lhe trazer algum conforto.
***
Ela sentia os braços a confortarem e a voz suave em seu ouvido lhe dizia que tudo estava bem.
As grandes mãos dele afastaram o cabelo ruivo grudado em seu rosto suado e ela se viu encarando os olhos castanhos de Stiles.
- Está tudo bem! - ele disse segurando seu rosto. - Eu estou aqui, ok?
Ainda era noite e provavelmente ela o acordara com os seus grunhidos de sofrimento.
- O que você viu?
- Judith. Stiles... Eu a vi perder todos que amava! - a garota respondeu chorando.
Ela sentira todo o sofrimento da garota do passado. E a experiência terrível lhe dera uma nova perspectiva sobre o seu primeiro sonho. Não temeria mais a própria morte.
Preferia morrer a viver num mundo sem as pessoas que amava.
Se sua vida podia salvar a todos, então a daria de bom grado.
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