Anne sabia muito bem que segundo os registros do orfanato, aquela era a sua terra natal. Não exatamente Kingsport, pois tinha nascido em Bolingbroke, mais Nova Escócia em si.
Anne Shirley Cuthbert era uma escocesa.
Isso era algo empolgante, lhe dava uma pequena sensação de já fazer parte de alguma maneira daquele lugar.
De onde tinha vindo, os escoceses eram chamados de pessoas de "sangue azul" Roy Gardner lhe contara uma vez brincando.
Anne não se considerava alguém de sangue azul. Com a sorte que tinha, o seu deveria ser tão vermelho e comum como tudo nela, até mesmo o cabelo laranja. E certamente isso não era um privilégio de nascença.
Estava curiosa a respeito da gente local, e sem saber exatamente o que desejava encontrar, pusera o seu vestido mais bonito em amarelo pastel naquela manhã a fim de ir procurar sozinha a localização de Prissy conforme ela havia informado nas cartas que trocaram.
Assim, tinha uma desculpa para explorar a cidade mais a vontade. Kingsport era muito bonita.
Conforme deixava as praças e caminhava pelo trecho verde do charmoso parque a campo aberto, observou encantada que um ou outro indivíduo que ocasionalmente esbarrava possuía algo em comum.
Talvez parecesse uma estrangeira maluca, mas mal conseguia acreditar que pessoas ruivas eram tão comuns por alí.
Quase tão comuns quanto as loiras.
Anne sabia perfeitamente que nunca tinha sido a única, mas mesmo de lar em lar passando por diversos lugares, teve pouquíssimas oportunidades de ver alguém com tal característica. Havia um grupo adorável mais adiante, de cinco ou mais pessoas com suas toalhas quadriculadas estendidas no gramado. Algo como o fim de um piquenique em família.
Anne se aproximou devagarinho, fascinada com as criancinhas de cabelo vermelho e os rostinhos profundamente salpicados de pintinhas marrons, correndo em volta de um pai de vestimentas simples com aspecto cansado. Cujo o cabelo era de um tom mais escuro que o dos filhos e a esposa.
Foi então que se deu conta tristemente de que jamais tinha tido qualquer pista da aparência física do seu pai. Diferente da sua mãe biológica, tudo o que podia supor sobre ele era baseado na sua própria imaginação.
E no que Bertha havia escrito nas folhas soltas em branco do livro, segundo ela, Walter tinha sido um homem muito bonito.
Talvez essa descrição se devesse ao quanto ela estava apaixonada, mas Anne preferia pensar que era verdadeira.
Sem querer, piscou os olhos turvos demais e percebeu que tinha começado a chorar sem querer. Imediatamente tratou de limpar o rosto. No fim das contas, não podia reclamar.
Ela tinha nas mãos mais do que qualquer órfão poderia desejar. Sabia a sua origem, que não havia sido abandonada, e sim vítima de uma fatalidade da morte. Sabia o nome dos seus genitores e tinha até mesmo uma terra Natal embora soubesse pouco ou quase nada sobre ela.
Por fim, sorriu, respirou fundo, olhou para aquela linda família uma última vez e logo desviou a atenção indo embora a fim de não parecer inconveniente ou uma espécie de espiã.
Logo se via que os escoceses eram um tanto mais festeiros. Anne já havia perdido a conta do número de bares e tavernas que tinha visto nas ruas.
Durante o dia, esses locais pareciam funcionar como pontos de encontro comuns.
Por toda parte Kingsport tinha cor, pessoas com semblantes tranquilos e uma vegetação local com clima propício para flores e frutos que não se viam desabrochar nos campos da Ilha de Príncipe Edward.
Anne pensou que poderia se acostumar com isso.
Ao fim de certo tempo andando, o cansaço começava a cobrar seu preço. O endereço que carregava em mãos no envelope, tinha destino à Patty 's Place.
Que deveria ser o nome de uma propriedade não muito distante das redondezas.
Mas não havia nem mesmo um ponto de referência decente que pudesse usar e isso era desanimador.
Anne resolveu se sentar um instante enquanto se organizava. Talvez procurar o endereço sozinha houvesse sido uma má idéia. Talvez devesse ter esperado por Diana.
Mas ela já estava encarregada de outra tarefa mais simples que era levar os documentos de ambas à universidade até o fim do dia para efetuar as matrículas.
Então precisava de um plano.
Enquanto punha os miolos para funcionar, uma voz soou nos seus ouvidos como uma lâmpada acesa.
_ Anne?! Anne é você mesma!
Ela virou-se e colocou a mão sobre a aba do chapéu para proteger os olhos dos raios de sol.
Dessa forma, conseguiu enxergar quase sem acreditar Roy parado do outro lado da estreita rua acenando para si com uma pequena pasta de couro marrom.
Enfim, um amigo que aparecia em bom momento. Anne conseguia dizer que rever um nunca era demais. Principalmente depois de estar convivendo com tanta gente desconhecida ultimamente.
Sorrindo, esperou que ele viesse até ela, assim que a carruagem puxada por cavalos atravessasse o caminho entre os dois.
Roy havia cortado o cabelo recentemente, embora não se notasse muito pela forma como eram abundantes, lisos e escuros. Aquelas roupas eram novas e parecia ter ganhado um pouco mais de cor pelo sol. Alguém também deveria ter passado alguns dias à deriva, pensou. Ele estava, se possível, ainda mais bonito do que da última vez que o vira.
E quando chegou mais perto a envolveu num abraço apertado.
_ Roy Gardner! O que faz aqui nesse fim de mundo?
Anne brincou se afastando a uma distância agradável.
_ Ora, o que mais? O mesmo que você. Vim fazer minha matrícula em Redmond. Só aceitam até o fim da tarde, está sabendo?
_ Oh, sim! Diana foi levar a nossa. Preenchi a primeira ficha ainda a bordo do navio e dei os documentos para que ela terminasse por mim.
_ Entendo.
Roy sentou-se no banco de madeira lhe fazendo companhia.
_ E você? Quando chegou?
_ A uns dois dias. Sabe, é tão engraçado que tenha aparecido. Essas coincidências também não te assustam? Ainda pouco estava pensando em você!
Anne contou rindo de forma despretensiosa.
_ Estava?
Embora tivesse tentado esconder, um brilho de velha esperança cruzou os olhos do rapaz. Roy nunca tinha feito muita questão de negar, e ainda era caidinho por Anne como no dia em que se conhecerem.
Não era algo que havia escolhido, não estava nos planos de ninguém nutrir sentimentos por uma amiga querida. Esse era o seu dilema pessoal mais secreto.
E saber que ela havia pensado nele, ao menos uma vez, provocava uma pequena alegria.
_ Sim _ Anne confirmou. E Roy desejou que ela dissesse o que exatamente eram esses pensamentos.
Mal sabia ele que não era nada do que queria que fosse. Ao invés disso, ela apertou o envelope nas mãos brancas, parecendo um tanto nervosa.
_ O que foi, Anne? Parece que viu um fantasma.
_ Ah ,sim _ deu um sorriso amarelo _ Perdão. É só que estou com muita dificuldade em achar um endereço importante. Já perguntei a algumas pessoas, mas parece que ninguém consegue me ajudar direito.
Ao fim da explicação, Roy cerrou os lábios pensativo e pediu:
_ Me deixe ver esse endereço.
Anne, um tanto relutante, entregou a folha nas suas mãos e indicou o verso.
_ É este, é a casa de uma amiga.
Ele leu cuidadosamente e sorriu identificando o problema. Felizmente, por estar habituado a cidade a algum tempo, podia ajudá-la.
_ Acho que sua amiga estava equivocada. Nem mesmo equivocada...distraída talvez.
_ Mesmo? Por que?
Roy se endireitou no banco e apoiou o cotovelo no encosto.
_ Bom, digamos que esse lugar é conhecido aqui pelas redondezas por dois nomes completamente diferentes. Ela escreveu o nome verdadeiro do bairro, o que os carteiros usam, mas se esqueceu que as pessoas ainda chamam pelo apelido. É impossível pedir informações assim.
_ Puxa, eu não fazia ideia.
Ele deu um sorriso compreensivo, e ofereceu:
_ Se quiser, levo você. Não é muito longe.
_ Eu te deveria isso para o resto dos meus dias!
Anne se levantou novamente deixando as ondulações do vestido esconderem seus pés. Roy riu do singelo exagero da dívida eterna, e se preparou para pegarem a estrada.
Foram conversando por longos minutos a fio conforme ele lhe conduzia pelas ruas ou trilhas. Já era próximo do horário de almoço, então hora ou outra, sentiam aromas apetitosos escapando das chaminés das casas.
Em dado momento, Anne aproximou a mão do rosto para colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha, e Roy instintivamente teve a atenção atraída pelo reflexo do anel que brilhou no seu anelar esquerdo.
Não era uma jóia chamativa, mas muito notável.
Curioso, perguntou:
_ É novo?
_ O que disse?
_ Seu anel, é novo? É muito bonito.
Anne sorriu um pega desprevenida pelo elogio, e pareceu um pouco indecisa em contar. Mas na sua cabeça, ao que tudo indicava, a atração que Roy sentia por ela havia ficado no passado então tratou de dissipar qualquer sensação de imprudência ao fazer aquela afirmação:
_ Obrigada _ agradeceu._ é meu anel de noivado.
Ele empalideceu no mesmo segundo enquanto tentava calcular uma reação decente daquela informação. Procurou se acalmar.
Naqueles meses longe, era normal que estivessem desatualizados sobre a vida um do outro. Mesmo que os fatos recentes fossem um tanto desconcertantes.
_ Então você está noiva?!
Ela pareceu não notar como a sua voz havia saído uma oitava mais aguda e respondeu com uma alegria pura no olhar e uma postura orgulhosa:
_ Sim, estou.
Roy até podia imaginar de quem. A amargura ameaçou tomar conta do seu humor embora soubesse que não tinha o direito de demonstrá-la.
Engolindo o desgosto, forçou o seu melhor sorriso e a parabenizou. Anne o agradeceu mais uma vez e completaram o trajeto em silêncio.
Assim, foram parar num caminho cercado de arbustos e o chão repleto de cascalhos e pedras brancas.
A fachada de " Patty's Place" era a coisa mais adorável que Anne já havia visto na sua breve vida.
Fossem as cercas vivas coexistindo com a construída, ou o letreiro de madeira envernizada. O telhado de telhas laranjas, os sustentáculos de gesso elegantes da casa, a pequena horta ou a infinidade de espécies de flores.
O portãozinho de ferro forjado era frio ao toque, e de extremo bom gosto.
Ainda quieto, Roy o abriu com delicadeza e permitiu que ela passasse, entrando em seguida e fechando-o novamente atrás dos dois.
O jardim já havia conquistado seu coração e não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
Os parapeitos das janelas possuíam vasos de pedra com plantas semelhantes às que Marilla gostava de cultivar em Green Gables. Como tomilho, samambaias, e rosas rasteiras sem espinhos.
Anne focou em não admirar muito o lugar e pensar no objetivo da visita, dessa forma, se dirigiu a varanda e bateu encantada no antigo par de portas de madeira talhada.
Não tardou muito, vieram atender.
Uma moça loira, pouco mais velha com traços limpos e sérios abriu. Prissy Andrews não havia mudado absolutamente nada do tempo em que se viram pela última vez, ao menos não fisicamente.
Assim que Anne surgiu no seu campo de visão, a mesma abriu um enorme sorriso e se cumprimentaram de forma afetuosa.
_ Finalmente, você chegou! Como foi a viagem? E Diana onde está? Jane veio com vocês no navio? Creio que Billy deve ter se separado de todo mundo, estou certa? É bem a cara dele.
_ Bom..._ Anne deu uma risadinha _ É bom ver você novamente, Prissy. Temos muito o que conversar. Diana saiu cedo, estamos em uma hospedaria e não vimos mais seus irmãos desde o desembarque. Jane esteve com Josie Pye, creio que estão se arranjando juntas, mas não sei nada sobre Billy, sinto muito.
Terminou com um sorriso condescendente.
Ela balançou a cabeça e respondeu:
_ Não tem problema. Entre!
Anne ia aceitar o convite, mas então se lembrou que Roy continuava ali parado como um mero espectador do diálogo das duas:
_ Que cabeça a minha! Acho que não se conhecem, Roy não estudou no Queen 's conosco. Prissy, esse é o amigo da qual lhe falei. Roy essa é Priscilla Andrews, uma das minhas amigas de Avonlea.
Ele sorriu de forma simpática e trocaram um suave aperto de mão.
_ É um prazer.
_ O prazer é todo meu.
Em seguida, ele se virou e se despediu:
_ Eu adoraria ficar, mas preciso ir. Tenho um compromisso. Tenham uma ótima tarde meninas.
Prissy ainda insistiu gentilmente:
_ Tem certeza? Entre também. _ Convidou-o.
_ Obrigada. Mas eu preciso mesmo ir embora.
_ Nesse caso…
Anne o olhou com carinho e se despediu também:
_ Nos vemos em breve Roy, muito obrigada por ter me acompanhado.
_ Não há de que.
Ele respondeu automaticamente, e se foi.
Alguns bons minutos de caminhada, e dois armazéns depois, Roy chegava na sua casa. Não era a primeira vez que experimentava a sensação de morar completamente sozinho, mas a primeira que permanecia tanto tempo nessa condição.
Havia uma grande diferença entre ter empregados lhe rodeando e entrando no seu quarto, a pagar uma lavadeira ou comprar o próprio almoço.
Não era desconfortável, era na verdade prático e independente. No fim das contas descobriu que gostava muito assim também.
A confortável pensão onde residia, fazia caminho com outra, ambas justamente na mesma rua. Pertenciam ao mesmo senhorio, e abrigavam na sua grande maioria os alunos de Redmond que precisavam morar perto do campus para estudarem.
Assim que adentrou o prédio, não estranhou o aspecto vazio nem o eco dos próprios sapatos. Naquele horário a portaria costumava sair.
A senhora que cuidava dos registros dos inquilinos deveria ter ido almoçar em casa.
Roy andou mais um pouco, porém antes de chegar às escadas seus olhos custaram crer no que viam. No caso não o que, mas quem.
Nunca pensou que fosse topar novamente com aquele tipinho desajeitado e sonso. Àquelas roupas caretas e antiquadas.
Aquela cara boazinha e a constituição magra.
Gilbert Blythe era deveras irreplicável. Ele respirou fundo, sentindo seu instinto de rivalidade se rebelar dentro do peito ao lembrar do que havia descoberto mais cedo, e quase riu de escárnio para si mesmo quando viu as malas.
Não deveria ficar surpreso, ele certamente também deveria ter vindo a bordo do navio com os outros.
Roy só não fazia ideia do que estava fazendo ali, mas também não desejava saber e queria que tudo fosse, na verdade, um grande engano. Numa tentativa de passar despercebido, caminhou rapidamente para longe e começou a subir os degraus da escada, mas estagnou no caminho maldizendo em silêncio quando escutou ser chamado justamente por quem tentara despistar. E soube que tinha falhado:
_ Roy!
_ Desculpe?
_ Seu nome é esse não é?
Ele demorou um instante a se virar, e ainda com a mão no corrimão, olhou sobre o ombro enxergando Gilbert olhando diretamente para si nos pés da escada.
_ Sim. Olá! _ cumprimentou sem muito entusiasmo. _ É bom te ver, Gilbert.
Roy não parecia muito inclinado a continuar a conversa. Mas o outro rapaz parecia pensar o contrário.
_ Então se lembra de mim?! Eu pensei que houvesse esquecido, afinal nunca nos falamos de verdade. _ Ele sorriu de forma simpática._ Como vai?
_ Claro que me lembro, você e Anne estão noivos, não é? _ Roy usou de uma discreta ironia, mas o outro pareceu não notar e ele se perguntou de onde vinha tanta ingenuidade.
Gilbert deu um sorriso sem graça:
_ Poxa. Pelo visto as notícias correm rápido. Estamos sim, na verdade faz pouco tempo.
Ele revirou os olhos, a última coisa que queria era escutar mais sobre aquela droga de noivado. Então resolveu tentar encerrar mais uma vez o assunto com toda a elegância que possuía:
_ Meus parabéns. Como eu disse, é bom te ver Gilbert. Até mais.
Dessa forma, se virou e saltou mais três degraus. Mas foi impedido no último deles:
_ Ei! Espere por favor!
Não podendo ignorar, correndo o risco de parecer mal educado, Roy voltou alguns passos para trás já sentindo o desgaste daquela interação que lhe dava nos nervos.
_ Sim.
_ Será que pode me ajudar?
Gilbert pediu com um olhar perdido enxugando a testa com um lenço. Roy pensou, e resolveu ao menos saber qual era o problema.
_ Claro, o que houve?
Ele lhe explicou em poucas palavras que estava sem rumo. Gostaria de conseguir as chaves do seu quarto e apenas isso, talvez descansar e comer alguma coisa. Mas quando chegou, não havia absolutamente ninguém para recebê -lo ou para quem pudesse pedir qualquer informação.
Roy o escutou, mal acreditando na presepada que tinha se metido. Indiretamente, sentiu o fardo da obrigação de ter boas maneiras para com o noivo da garota que gostava. O cara que tinha atirado um balde de água fria nos seus planos e na sua vida amorosa sem se esforçar para isso.
Por alguns minutos ficou em conflito. Se agisse pela razão, ou pelas vias do rancor, viraria as costas e subiria sem olhar para trás. Mas a sua moral idiota o impedia de agir assim.
Com um longo suspiro, Roy esfregou a nuca organizando os pensamentos e disse:
_ Tudo bem, venha comigo.
Gilbert sorriu agradecido e se deixou ser conduzido até um grande corredor onde o rapaz entrou e saiu de uma pequena sala carregando um livro imenso e o abriu na escrivaninha vazia diante dos dois.
Anotou algumas coisas nas páginas e o fechou, em seguida, subiu as escadas.
Roy parou diante de uma porta conhecida sua e abriu. Gilbert entrou, sempre abraçado com a sua bagagem como se a mesma fosse escapar e observou o ambiente organizado de profundo bom gosto, tal qual estivesse entrando num mundo novo.
_ Onde estamos?
_ Essa é minha casa.
O outro respondeu pacientemente.
_ Oh, sim! Com licença, então.
_ Não tem problema, fique à vontade. Não saia daqui, vou procurar a Síndica. A senhora Townley costuma almoçar aqui perto, eu não demoro.
De alguma forma, Roy conseguiu falar aquilo fazendo com que Gilbert se sentisse como uma criança. Talvez fosse o tom usado, ou só uma impressão idiota, mas tinha a idéia de que tinham acabado de lhe dar uma ordem.
Aquilo o incomodou, mas estava longe de ser ingrato com as pessoas. Paranóico talvez, (Sebastian lhe dizia isso o tempo todo) mas ingrato ou grosseiro não.
Por isso, fez questão de passar os próximos minutos pacientemente sentado na cadeira reservada às visitas, reparando na decoração minimalista de Roy para passar o tempo.
Não demorou muito, o outro rapaz retornou dizendo que se quisesse, Gilbert já poderia conversar com a síndica e conseguir as chaves de um dos quartos vazios.
Mal terminou de falar, o mesmo ficou de pé rapidamente e com um simpático sorriso trocou com ele um aperto de mão que seria imensamente constrangedor recusar.
Roy balançou a cabeça enquanto Gilbert lhe agradecia e se despedia. Assim, esperou até que cruzasse porta a fora e enfim conseguiu ficar sozinho.
Mais tarde, pensando muito ao terminar algumas tarefas por fazer, se perguntou por que algumas pessoas se queriam melhor do que outras. E não obteve resposta. Algum amigo supersticioso talvez o dissesse que os repúdios gratuitos viessem de outras vidas.
Roy não se preocupava em saber, no fim tentou imaginar se algum dia ainda teria algum grande prejuízo em ser bom.
Gilbert desceu novamente naquele instante, e teve seu primeiro contato com a antes citada senhora Townley, a síndica. A princípio imaginou uma mulher imensamente séria, do tipo de pessoa que estava acostumada a fazer cobranças, como o aluguel por exemplo. E não uma senhora na casa dos setenta e poucos anos, bem humorada com uma paciência quase sonolenta. Seu cabelo grisalho lembrava folhas secas, e tinha o jeito de ser alguém bem vivida.
A mulher puxou assunto enquanto anotava seu nome no enorme livro que Roy havia deixado aberto sobre a escrivaninha. No que parecia ser páginas e páginas lotadas de inquilinos.
Em seguida tirou um chaveiro de bronze da gaveta com uma única chave do que seria o seu novo lar por um bom tempo.
Gilbert a agradeceu e subiu novamente, procurando o número da sua porta a passos inseguros, esperando que o seu quarto estivesse em tão boas condições como o de Roy.
Assim que encaixou a chave e não perdeu tempo em entrar, e sorriu aliviado ao avaliar por dentro.
Não era elegante, e certamente não tinha dinheiro para mudar a mobília ao seu gosto, mas estava satisfeito e poderia se virar com o que havia por ali.
Nem uma só infiltração ou madeira solta o qual tivesse que se preocupar.
O primeiro prazer do qual não se privou, foi fixar os poucos quadros que tinha na parede. Um deles era o seu velho diploma da escola, outro, um retrato do seu pai nos tempos da juventude e o último um quadro que havia ganhado de presente de um velho amigo.
Por fim, tirou o último porta retrato para o qual sorriu com o coração. Anne nem deveria imaginar que ainda guardava a sua única fotografia recente. Se não, a sua única fotografia na vida toda.
Enquanto esperava seu almoço chegar, se deitou na cama testando o colchão mais confortável que já tinha tido a oportunidade de encostar e tentou imaginar o que ela deveria estar fazendo naquele momento.
Anne encerrou o dia, se despedindo de Prissy imensamente satisfeita. Ao que parecia, faltava pouco para que ela e Diana viessem morar em Patty 's Place.
Se antes possuía dúvidas, agora tinha certeza de que sua amiga iria amar o lugar. Segundo tinha escutado, teriam somente que se ocupar dos afazeres domésticos, da horta, e dos poucos animais que haviam ali.
Pois não tinham empregados, e a não ser por uma governanta que as visitava uma vez por semana, e ajudavam- nas a organizar as contas a dispensa e todo o resto. Seu nome era Susan Baker, e Anne estava ansiosa por conhecê-la.
Fora isso, teriam liberdade para tocar o casarão como bem entendessem. O aluguel seria dividido de forma justa, conforme arranjassem alguma ocupação.
E o melhor, a vizinhança parecia adorável.
Pouco antes de dormir, na sua última noite na pousada, tendo como companhia apenas uma vela,( já que Diana estava entregue ao último sono) Anne encerrou suas orações tal qual Marilla havia lhe ensinado quando pequena. E pela primeira vez em muito tempo, tinha mais a agradecer do que a pedir.
Assim, uns conformados, outros felizes, uns pelo amor, outros pela dor. Adormeceram todos sob o mesmo céu estrelado, na noite mais fresca de julho.
I'm a phoenix in the water
A flish that's learned to fly
And I've always been a daughter
But feathers are meant for the sky
So I'm wishing, wishing further
For the excitement to arrive
It's just I'd rather be causing the chaos
Than laying at the sharp end of this knife
With every small disaster
I'll let the waters still
Take me away to some place real
'Cause they say home is where your heart is set in stone
Is where you go when you're alone
Is where you go to rest your bones
It's not just where you lay your head
It's not just where you make your bed
As long as we're together, does it matter where we go?
Sou uma fênix na água
Um peixe que aprendeu a voar
E sempre fui uma filha
Mas as penas são feitas para voar
Então estou desejando, desejando ainda mais
Que a animação venha
É só que eu preferiria estar causando o caos
A deitar-me sobre a ponta afiada desta faca
Com cada pequeno desastre
Deixarei as águas se acalmarem
Leve-me a algum lugar real
Porque dizem que lar é onde o coração se grava em pedra
É onde você vai quando está sozinho
É onde você vai para descansar seus ossos
Não é só onde você encosta sua cabeça
Não é só onde você faz a sua cama
Contanto que estejamos juntos, importa aonde vamos?
Home (tradução)
Gabrielle Aplin
( "Lar" )
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