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História Road of Avonlea - 7- Someone to you


Escrita por: CarolMirandaS2

Notas do Autor


Voltei com esse mini-conto sem nome em que o Cole é protagonista. Sempre quis escrever sobre ele. Ter uma folguinha Shilbert é bom de vez em quando.
E esse é meu segundo personagem favorito.

Se os capítulos ficaram bons, como sempre eu não tenho certeza. A play list vai estar disponível assim que eu conseguir mais algumas musiquinhas. Tomara que o Sprit não dê Ban no link do Spotify. Ando bem exigente com elas tento fazer com que entrem em sintonia com a história.
Como essa é a parte opcional e eu enrolo demais nas notas iniciais, fiquem com o de hoje. E boa leitura a todos! ❤

Capítulo 7 - 7- Someone to you



O relógio de pêndulo marcava sete e meia quando Cole terminou de fazer o laço borboleta da gravata. Era verdade o que Josephine Barry costumava dizer sobre o seu protegido, realmente ele demorava muito para se arrumar.  E mesmo não sendo fã de exageros, gostava de passar uma boa impressão.

Assim que saiu verificou as portas e as janelas.  E também fingiu não notar quando Peter parou de desfolhar uma margarida com os dedos para olhar para ele.

Os olhos do seu melhor amigo eram quentes e inquietantes, tinham alguma coisa quando caiam sobre si que lhe custava a compreensão.

_ Eu demorei muito? _ perguntou de forma educada.

_ Uma pequena eternidade. _ brincou o outro. 

Peter sorriu e Cole não pode deixar de reparar o quanto estava bonito num mais traje casual,  e por isso não se arrependeu de ter se esforçado para ficar a altura. 

Dessa forma, segurou-lhe a mão estendida e subiu na carroça onde deveriam fazer a viagem toda até Paty 's Place. Os pôneis inquietos se mexeram quando as rédeas foram puxadas como se estivessem cansados demais mesmo para o curto percurso que fariam. 

Os rapazes chegaram cedo a julgar pelas luzes da casa que já lançavam sombras no jardim frontal e na pequena horta. Apenas outras  duas carroças se viam em frente além das suas.

Desceram ambos sem pressa, e quando fincou novamente os pés no chão, Cole consultou seu relógio no bolso do colete verificando que eram exatamente oito horas.

Enquanto isso, Peter já havia amarrado os cavalos e tinha uma garrafa de vidro bem embrulhada nas mãos.

Assim que bateram, a pessoa a atender foi Anne que mesmo no escuro se fazia inconfundível pela forma única de recepcionar alguém.

Ela imediatamente o abraçou tão leve que conseguiria tirá-la do chão se quisesse, e com o mesmo cheiro de perfume que só usava em ocasiões especiais, um pouco mais forte que o normal. Cole a soltou e delicadamente, Anne  cumprimentou Peter com um pequeno aperto de mão e segurou a garrafa envolvida em um guardanapo branco como se estivesse testando seu peso.

_ Senhor Leroy, acho bom que seja esse o licor que prometeu.

Advertiu com uma expressão divertida.

O jovem violinista balançou a cabeça e riu de forma relaxada.

_ É esse mesmo, espero que gostem. E se permite um comentário, vocês fizeram um bom trabalho por aqui.

Ela fez um gesto lisonjeiro, sendo obrigada a concordar que duas horas de arrumação durante a tarde para deixar o casarão um brinco por dentro e por fora  haviam valido a pena. E nada que lírios em vasos não fizessem por uma decoração de última hora.

_ Muito obrigada. Mas os entusiastas da arte por aqui são vocês, deveria ver o que Cole é capaz de fazer organizando uma reunião elegante para dez pessoas.

_ Ah sim, eu não duvido.

 Peter concordou quase imediatamente como se estivesse lhe fazendo um formoso e indireto elogio, e Cole experimentou uma pequena alegria por isso.

Anne segurou as barras do seu lindo vestido amarelo e se colocou entre os dois, os conduzindo para a sala pelo braço como se fossem seus acompanhantes, :

_ Com licença senhores?

_ A vontade.

Assim que entrou onde rostos conhecidos se acomodavam lado a lado nos sofás espaçosos, Gilbert Blythe não parecia nem um pouco enciumado que sua noiva estivesse de braços dados com dois cavalheiros ao mesmo tempo. 

Ao invés disso, os cumprimentou e assim fizeram o mesmo, Ruby Gillis, Josie Pye, Charlie Solane e Diana Barry. 

E em seguida, Prissy Andrews que surgiu da cozinha com uma pequena bandeja de canapés nas mãos e fez questão de oferecê - los. 

  Sem que estivesse percebendo a si mesma, ela parecia estar disfarçando um estado de espírito perturbado. Tanto que Anne notou, mas ao invés de perguntar abertamente, a chamou de canto e juntas subiram as escadas.

Deixando assim, Cole e Peter sozinhos com a missão de socializarem por si mesmos.



Prissy nunca tinha parecido tão sombria para Anne como naquele dia. E seu coração se apertou de compaixão, pois embora a maior parte do tempo  fosse séria e reservada, ela não costumava ser exatamente triste.

_ Posso perguntar o que aconteceu?

Quis saber nos últimos degraus. 

A jovem se encostou no corrimão com um ar cansado e pela posição, visualmente parecia mais baixa que Anne embora fosse o contrário. 

_ É sobre Jane...eu...Não sei por onde começar.

_ Pelo começo. _ Anne a encorajou com um olhar compreensivo.

Prissy suspirou e com as mãos afastou um cacho de cabelo loiro que saiu do coque irrepreensível.

Então começou a contar:

_ Já deve ter reparado que minha irmã tem ideias um pouco erradas a respeito de um casamento. 

_ Na verdade..._ a outra analisou. _ Jane tem idéias parecidas com a da maioria das pessoas. Não digo que está certa, mas convenhamos que quase nunca alguém está, não é? 

_ Pois é. E é isso o que me desanima, ela tem expectativas materialistas demais em relação a um homem, Anne. Ela vê um casamento como um negócio vantajoso e não como um compromisso permanente de convivência entre duas pessoas que até então mal se conheciam a ponto de morarem juntas. 

Prissy desabafou num tom frustrado.

Anne abaixou a cabeça compreendendo muito bem o que ela dizia. Casamentos só eram permanentes "felizes para sempre" em contos de fadas. Tantas eram as histórias de pessoas que viviam infelizes para o resto das suas vidas por conta de uma escolha mal feita. Se ao menos a revogação ou o desmanche de um matrimônio não fosse tão mal visto pela sociedade, as coisas poderiam terminar melhor para os envolvidos. 

Daí a única pequena garantia de que tudo poderia dar certo era se casar por amor, mas mesmo o amor às vezes não era o suficiente, então o que dizer dos que se uniam por interesses? 

Pensar nisso poderia tê-la amedrontado a ficar noiva de Gilbert.  Mas a vida ensinara uma vez que fugir do amor por medo de ser infeliz era bobagem. Fora isso, acreditava que se amavam o suficiente e eram inteligentes o suficiente para resolverem seus próprios problemas.

E definitivamente não tinham pressa em "juntar os cabides". 

Talvez a Anne do passado, indignada e exaltada em relação às injustiças arcaicas e comportamentos estúpidos que vivia dentro de si, já houvesse brigado com Jane até a exaustão, tal qual fosse ela também uma irmã mais velha com plenos direitos de lhe dar uma bronca.

Mas felizmente, hoje entendia que não era capaz de mudar da noite para o dia a cabeça de alguém. E lhe restava desejar de coração que a amiga não viesse a se arrepender mais tarde.

Dessa forma, tentou acalmar Prissy da melhor maneira que encontrou:

_ Você já disse a ela o seu ponto de vista?

_ Sim. _ ela afirmou com um aceno de cabeça.

Anne a olhou nos olhos e concluiu com a voz firme: 

_ Então você já fez tudo o que podia. Jane pode ser mais nova que vocês, mas já tem idade para tomar as próprias decisões. 

Prissy encarou o assoalho reflexiva como se estivessem ali escritas as respostas para os seus conflitos. Então ergueu os olhos castanhos com uma expressão mais calma:

_ Você tem razão. Obrigada Anne.

_ Não há de que. Vamos?

_ Vamos.

As duas se precipitaram pelo corredor até a primeira porta onde o grande quarto  que denunciava presença feminina, possuía camas enfileiradas em frente as janelas e quatro guarda- roupas dispostos ao lado das cômodas.

Ocupando a única penteadeira e o único toucador disponível (que já tinha sido sério motivo de discussão), a caçula da família Andrews estava sentada, prendendo grampos de pérolas falsas no cabelo.

Seus olhos de oceano saltaram assim que as duas entraram e ela abriu um enorme sorriso orgulhoso.

_ E então? Como eu estou?

_ Estonteante e extraordinária!

 Anne ergueu o queixo exalando sinceridade. 

A garota riu e encolheu os ombros:

_ Não sei o que significa estonteante, mas se termina com extraordinária e Anne parece tão feliz vou acreditar que é algo bom.

A frase provocou o riso das outras duas e ela tratou de explicar o que significava "estonteante'' enquanto tomava a caixinha de grampos das mãos de Tillie que estava de pé ao lado do espelho quando chegaram.

E se pôs ela mesma  a terminar o penteado da amiga com capricho. 

Prissy sentou- se na cama ainda com a bandeja de guloseimas no colo e ofereceu:

_ Quer um?_ se referiu aos petiscos _ Os salgados tem presunto e os doces tem rodelas de pêssego. Você adorava pêssego quando éramos mais novas, lembra? Ainda gosta?

_ Obrigada eu ainda adoro, mas vou ter que recusar. Fiz um esforço enorme para caber nesse vestido hoje e pretendo comer o mínimo possível.

Respondeu ela alisando o espartilho que não tinha muito o que manter escondido nas curvas já tão magras.

A irmã, contudo, tentou esconder o olhar de frustração e dando de ombros encheu a boca com um generoso pedaço enquanto esperava. Anne terminou de ajudá-la e disse em voz alta:

_ Você é quem sabe. Agora, vamos descer, talvez esse seu convidado misterioso já tenha chegado e hoje que convenci Cole a se misturar conosco não quero perder um minuto. 

_ Ok.

As outras três saíram do quarto sob a promessa de lhe encontrarem pronta no andar de baixo em dois minutos. 



Peter Leroy se misturou e foi bem recebido com mais facilidade do que Cole jamais imaginaria. A julgar pelo que sabia do amigo por outro lado, não podia ser diferente.

Desde o instante em que se conheceram ficou claro que o outro possuía simpatia nata. 

Cole não sabia dizer se era verdade a teoria de que os opostos se atraem, mas talvez tivesse sido assim com eles a caráter de personalidade. 

Peter era semelhante a um imã, principalmente de atenção feminina. Embora travasse no momento uma conversa interessante com Gilbert Blythe, Josie Pye não desgrudava um minuto os olhos dele como se estivesse medindo algo silencioso sobre o convidado.

 Desejando ter qualquer coisa com o que se distrair, Cole se serviu de vários copos do que havia na sua frente e virou-os todos de uma vez até ficar tonto.

Logo, Jane desceu e se juntou a eles um pouco depois de Anne surgir e se sentar no braço da poltrona.

A noite seguiu seu curso e Roy Gardner foi um dos últimos a aparecer trazendo uma garrafa de vinho branco. Mais tarde  Billy Andrews confirmou uma ausência de última hora por meio de Moody Spurgeon que surgiu atrasado devido a uma roda solta na carroça.  Depois de muita conversa em que se atualizaram sobre a vida uns dos outros, um silêncio preguiçoso recaiu sobre os jovens e parecia que aquele havia sido o instante propício para o que veio a seguir.

Ruby bocejava quando um bater insistente na porta colocou Jane de pé e atraiu olhos curiosos para a soleira. 

_ Estamos sim. Eu atendo!

Jane se dirigiu para perto e espiou pelo olho mágico, em seguida sorriu e abriu a porta revelando um jovem de expressão perdida segurando um buquê de gerânios amassados, porém impecavelmente vestido.

Seu cabelo era loiro cuidadosamente penteado e seus cílios eram quase transparentes. Ele estendeu o buquê na sua direção e ela segurou-o de encontro ao nariz se mostrando muito agradecida.

Por consequência, o desconhecido ganhou um beijo na bochecha e foi convidado a entrar. 

Jane imediatamente arrastou-o consigo ciente de que a maioria dos seus amigos nem mesmo disfarçava o interesse. E finalmente o apresentou:

_ Quero que conheçam Ethan. Meu noivo.

Prissy arregalou os olhos e quase soltou a bandeja de doces no chão. Porém um único bolinho solitário com cobertura de creme rolou pelo piso de forma dramática manchando todo o carpete.

 

A hora seguinte foi dedicada a descobrirem mais sobre o tal Ethan que tinha se juntado a eles.  De onde tinha vindo uma vez que ninguém mais escutara falar sobre o mesmo nem em Redmond ou em lugar algum de Kingsport.

Embora Jane alegasse que havia o conhecido por perto. 

Era claro que Ethan não era natural das redondezas pois quando falava era entregue por um forte sotaque inglês.  

A sala estava cheia de conflitos existenciais interessantíssimos, a começar por Jane que havia acabado de empurrar goela abaixo um noivo surpresa vindo do nada à irmã, que já tinha saído estrategicamente para tomar um ar. Muito embora não fosse com Prissy que o caro Ethan devesse se preocupar e sim com Billy Andrews e o resto dos parentes que ficaram na ilha. Uma sogra parte das mães progressistas e um sogro patriarcal e conservador.

Josie Pye observou que infelizmente faltava vitamina ao menino para lidar com aquela família de extremos. E  teria que tomar ainda muito sol daquele lado do continente para dar conta dos Andrews.

Mas ele parecia ter o indispensável: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro.

Um dos gêmeos Pau's estava próximo a janela gozando a perpétua fossa de ter perdido Tillie Bouter para o irmão magricela, que por sua vez tinham decidido sair para ver as estrelas. 

Do seu lado, estava Cole Mackenzie prestes a ter um colapso nervoso enquanto seu amigo charmoso de natureza duvidosa tinha uma conversa acalorada sobre música com Diana Barry.

E foi do lado dele que Josie resolveu se sentar.

Alisando as saias lilases do seu vestido novo ela encarou de perto com a testa franzida o colega entornar um copinho minúsculo de líquido amargo.

_ Não acha que devia ir com calma?

Cole virou a cabeça sentindo que as têmporas latejavam para olhar para o seu antigo desafeto da escola que vinha opinar na sua vida mais uma vez. 

_ Vá embora.

Murmurou prestes a tossir, mais mau humorado que de costume. 

Ela arrancou uma das flores presas no cabelo e suspirou:

_ Ui, o esquisito é bem mal agradecido. Ou isso é parte da sua dor de cotovelo?

 _ Não sei do que está falando. 

_ O partido do ano está dando atenção a todas nós, ou vai negar isso também?

Josie lançou um olhar malicioso na direção de Peter fazendo com que Cole desejasse pela primeira vez na vida agredir uma pessoa do sexo feminino feito um verdadeiro canalha. 

_ Oh não! Não me olhe assim, eu não estou interessada. Se não se lembra, meu namorado estuda com Gilbert Blythe. Mas eu tenho que admitir que você tem bom gosto.

Ele enrijeceu subitamente assustado e não conseguiu dizer mais nada. Josie riu da sua expressão e chegou mais perto:

_ O que foi? Acha que não sei que é um invertido*? A tia de Diana não é uma solteirona, só não se casou com um homem. Vocês são iguaizinhos não são?

Cole por um momento se sentiu inseguro. Se ela havia percebido era um sinal de que não era tão discreto assim quanto pensava.

Josie Pye poderia ter crescido mas ainda era uma pessoa ardilosa e não o tolerava. Era muito capaz de divulgar aquilo como um anúncio apenas para constrangê-lo. 

Decidido a não deixar que ela o intimidasse, respondeu:

_ E se for? O que você tem a ver com isso?

Josie tornou a dar risada como se houvesse dito algo engraçado.

Cole estava prestes a se levantar para sair dali quando ela segurou-o pelo pulso obrigando a se sentar de novo.

E fez uma pergunta ainda mais direta:

_ Já beijou alguém, Cole? 

Ele ficou em silêncio, simplesmente por achar que esclarecer sua vida íntima a qualquer um era um absurdo.

_ Sim ou não? _ ela repetiu. _ Vamos lá, não é tão difícil! Beijou ou não?

Sem sequer um motivo lógico ele se sentiu envergonhado pela própria inexperiência. E Josie pareceu perceber, pois o soltou e riu tanto que se inclinou para trás:

_ Meu Deus, é pior do que eu pensava. Você não é um invertido!

Cole odiava aquela palavra, ao passo que não existia uma outra designação. Se sentia como um maluco que estava indo na contramão do resto das pessoas.

_ Eu repito que você não tem nada a ver com isso. Me deixe em paz!

_ Eu estava errada. Você nunca beijou ninguém. É impossível ser um se você nunca foi tocado por um homem. Você não é um invertido, Cole. É só um esquisito confuso. 

_ Já chega!

Ele teve a impressão de ter gritado alto demais, pois até mesmo Ethan olhou para ele de onde estava sentado. Atraindo mais atenção do que tinha desejado.

Anne se virou preocupada e quando viu Josie sentada ao lado do amigo, claramente alterada pelo vinho, notou o problema. Cole respirou fundo, exausto imaginando se sua vida seria sempre assim. 

Uma enorme perseguição. Fugindo de Avonlea, fugir da escola comum, da família...fugir e fugir.

Magoado, marchou até a poltrona, pegou o seu casaco e saiu sem dar explicações.



Mais tarde, Ruby se arrastou até o quarto munida de uma pequena lanterna a gás e avisou:

_ Já apaguei todas as luzes.

_ O que fez com a bagunça que deixamos?

Tillie quis saber curiosa.

_ Não se preocupe, acordamos mais cedo amanhã e arrumamos antes que a senhora Susan chegue.

Diana quis ter a mesma visão otimista mas não conseguiu.

De repente, vozes alteradas foram ouvidas no andar de baixo e as três foram até lá descobrir o que acontecia.

E ainda na escada, se depararam com uma discussão acalorada. Era a  primeira vez que viram Jane de praxe tão serena, parecer tão revoltada:

_ E qual é o problema?!

_ Eu te digo qual é o problema!  Largar a universidade em um mês? Você nem mesmo sabe me dizer onde fica a Inglaterra, nunca aprendeu a fazer contas direito, que dirá as domésticas. Como se sente preparada para casar?

Prissy estava falando num tom mais controlado, mas ainda transbordava irritação.

_ Eu me sinto pronta. E se quer saber não tem com o que se preocupar. Ethan é ótimo comigo, e eu serei uma ótima esposa para ele!

_ Ah, pois ele é outro problema. Como pode dizer que ele é ótimo se o conheceu a menos de um mês?

_ Intuição.

Nem mesmo Jane acreditava que tinha dado aquela resposta. Mas não se importou muito, pois tinha certeza que iria ser arduamente repreendida de qualquer forma.

_ A intuição ainda vai te transformar em uma grávida amarga com pés inchados e hematomas enormes! 

As outras que estavam escutando prudentemente a discussão em família em silêncio, se encolheram assustadas diante da capacidade até então desconhecida de Prissy de dizer frases duras. 

Jane se levantou na mesma hora, e elas temeram por uma briga física que não veio.

_ Você não pode prever o futuro. Não pode determinar o que vai acontecer comigo. Então não diga bobagens!

_ Tudo bem, você está certa. Eu não prevejo o futuro. Mas Billy já sabe que ficou noiva da noite para o dia? Como pretende falar com os nossos pais?

Ela desviou o olhar por um instante, mas respondeu cada uma das perguntas:

_ Não. Billy não sabe, mas ele não se importa conosco e também não se atreveria a criar problemas. E quanto ao papai e a nossa mãe, eu os aviso por correspondência. E eles virão nos visitar assim que puderem. 

Prissy notou a pequena insegurança dela ao dar as desculpas. E sem querer lembrou das palavras que Anne havia dito mais cedo, por isso resolveu acabar por hora com o assunto:

_ Isso tudo tem um motivo. Quando quiser falar sobre ele, eu vou ter prazer em escutar.

Jane ficou sozinha, quando ela subiu passando pelo resto das colegas como se fossem um móvel. E como se não houvesse reparado que estavam bisbilhotando tudo desde o início. 

Assim, esperou que elas fossem também para refletir. Havia sim alguma coisa por trás das camadas ambiciosas de personalidade que ela mostrava às pessoas. 

Mas nem que os céus caíssem lá fora iria dar razão à irmã algum dia. 


Anne nem sequer reparou nos eventos que se desenrolavam ali bem perto. E se não fosse por Diana que veio avisá-la, teria permanecido alheia olhando os galhos da árvore baterem no vidro da sua janela.

_ Anne? Está me ouvindo? Me ajude! Não sei como fazer elas pararem !

Ela respirou fundo e olhou para o rosto da amiga que parecia levemente irritada por estar sendo ignorada. 

_ Eu não sei Diana, não é sua missão por panos quentes em todos os conflitos do mundo…

_ Pode não ser, mas acordamos cedo amanhã! A senhora Susan ainda vem verificar que se não destruímos a casa. Se não limparmos tudo nunca mais vamos receber ninguém!

Anne ainda a escutou resmungar alguma coisa que não prestou atenção, enquanto sua mente voltava a ficar longe. Cole provavelmente tinha sido incomodado por Josie. 

Por mais que sóbria hoje em dia seu gênio ruim fosse controlável, alcoolizada tinha o costume de causar problemas e ofender qualquer um.  Muitas vezes sem nem se lembrar disso na manhã seguinte. 

Inclusive no momento, ela deveria estar em algum lugar da casa vomitando tudo o que havia comido.

Restava explicar isso ao seu amigo e com alguma sorte se desculpar em nome de Josie e do resto delas por tê-lo feito se sentir mal recebido. Peter Leroy por sorte, parecia ser um espírito afim admirável e Anne só ficou com o coração tranquilo depois que o mesmo prometeu encontrar Cole e ver se estava tudo bem.

Então gentilmente, se despediu de todos e foi atrás dele. 

Tirando isso, a noite não tinha sido de todo mal. O noivo de Jane era um pouquinho esquisito.

Ela olhou a capa do seu último livro de cabeceira, do gênero de terror e mistério que tinha tomado conhecimento recentemente. " O conde Drácula". Cujo o autor era cercado de rumores polêmicos.*

Que, Anne supunha, serem de gente maldosa. Afinal para alguém que tinha cometido tantos atos ilícitos ele tinha uma escrita genial.

O livro em si, tratava da história de um vampiro. Os vampiros não conheciam a luz do dia, eram mortos-vivos que não envelhecem e sugam o sangue humano para se alimentarem.

Sem querer, riu sozinha ao imaginar o pobre Ethan como um vampiro. Se bem que o rapaz cabia nos requisitos.

Embora imaginasse que a suas características albinas não fossem um motivo muito concreto para acusá-lo de "vampirismo". O que não queria dizer que as suas veias muito azuis no pulso com circulação quase inexistente não fossem suspeitas.

Deveria avisar Jane que ela talvez tivesse uma jugular em perigo? 

Ainda rindo feito tola sozinha, reparou que Diana tinha cruzado o quarto para colar o ouvido na porta. E então os seus  olhos se fecharam de alívio:

_ Veja. Não se ouve nada!_ Sussurrou._ O que será que aconteceu?

Anne encolheu os  ombros, como se dissesse "Não sei!". Então dividiu o cabelo para fazer as tranças que usava para dormir.

Nesse instante, Prissy abriu a porta, fazendo Diana recuar rapidamente e disfarçar a curiosidade imprudente a qualquer dama de verdade.

As outras entraram também ocupando suas camas discretamente.

Naquela noite, Patty 's Place adormeceu em profundo silêncio.




The kingdom come

The rise

The fall

The setting sun above it all

I just wanna be someboy to you 

I just wanna be somebody to you





O Reino vem, a ascensão, a queda

O pôr do Sol sobre tudo isso

Eu só quero ser alguém para você


Eu só quero ser alguém para alguém

 para alguém

Eu nunca tive ninguém, nem estradas até o lar

Eu quero ser alguém para alguém



( Someone to you - Banner's)












Notas Finais


* Na era vitoriana não se tinha uma designação para pessoas que se interessavam por outras do mesmo sexo. Fossem homens ou mulheres, nas rodas de conversa, se especula que o primeiro nome generalizando - os tenha sido esse. Por tanto eram chamados de "invertidos". Ou "aquele cuja a conduta não se pode pronunciar."

Enfim, tinha que se ter sangue frio pra viver nessa época 👌


* Segundo: O autor de Drácula é Braham Stocker, que segundo a sua biografia, entendemos muita coisa. Até por que existem mensagens subliminares g4ys mesmo nos livros de vampiro que ficaram bem famosos.
Se conta que Braham Stocker era homossexual e teve um relacionamento com o filho de um outro nobre, o pai desse sujeito ficou sabendo e o denunciou a igreja.
O autor foi condenado à prisão por perturbação da ordem pública e obscenidade, etc. Uma injustiça danada.
Mas era tudo verdade, pois havia até mesmo um quadro do jovem na casa dele na cidade.
Detalhe: Braham Stocker era casado e tinha filhos, talvez não fosse um segredo nem para a esposa, mas o caso virou um grande escândalo na época por causa de um sogro amargurado.
Os livros no entanto não foram afetados e continuam populares. Sendo o do Conde Drácula o mais famoso.


Espero que tenham gostado.
Até mais!


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