História ROCKSTAR - solangelo - Sim ou não?

                  NICO DI ANGELO

Hoje era dia de show. Na verdade, praticamente todos os dias eram. E isso não me incomodava, pelo contrário, gostava de não ter tanto tempo para pensar. 

Conversei com Reyna no começo da tarde, e ela mandou-me por mensagem o endereço do local. Jason insistiu bastante para ir comigo, usando o argumento de que precisava provar que quando ele estava nos shows, eu ficava mais nervoso, pois tinha um gay panic ao olhar para ele. 

Gosto de Jason e de sua imaginação fértil. Assim levamos nossa amizade, entre alfinetadas e discussões fúteis. Porém sei que sem ele, talvez não sentisse que fazia parte a algum lugar.

E eu fazia.

Eu fazia parte dos palcos e das multidões.

Os primeiros acordes de “Teenagers” saíram na minha guitarra. Meu corpo todo se retesou. Tudo pareceu virar um eco sem fim. As pessoas gritando, a bateria no fundo, o teclado fazendo a segunda base. 

Só existia eu, minha guitarra e a música.

 Todas minhas frustrações do dia de hoje foram deixadas naquelas cordas. Minha voz saia violenta, cuspindo as palavras que vinham acompanhadas de sentimento. Meus dedos deslizando pelos trastes e pelas cordas, minha voz delineando cada maldito verso. 

Meu sorriso se alarga quando o refrão chega.

 Foda-se todos eles.

Olho para frente, incentivando a multidão a cantar. Não é preciso de muito, já que já estavam tomados pela euforia, filmando com seus telefones. 

Eu sou uma lembrança.

 Eles querem se lembrar.

Troco as notas, começando o dedilhado de “Enter Sandman”. A multidão pula de acordo com a sequência de acordes. Meu dedos estão indo e saindo dos trastes, voando, gritando palavras não ditas. Meus olhos estão focadas na guitarra, mas meu corpo não.

 Ajoelho-me no palco quando chega minha hora de cantar. A guitarra pula conforme meus joelhos deslizam. 

Eu estou sorrindo.

Vejo as pessoas pularem, gritarem, e isso me faz explodir por dentro. Eu estou sendo consumido pela música. Deixo queimar pelas próximas duas horas.

                                ☠

Meu cabelo está grudando em minha testa e minha jaqueta preta já foi deixada em um canto qualquer. A blusa de botão preta que estou já está aberta nos quatro primeiros botões e eu posso sentir meus dedos latejarem.

 A sessão de fotografias e autógrafos acabou faz uns 10 minutos e Reyna já tinha ido buscar o carro, junto com Jason, que venceu nossa discussão idiota sobre o suposto gay panic. Ri sozinho ao lembrar da fala de Jason, tomando um gole de água e me dirigindo para a porta de saída. Por ser a porta que dá pros camarins, sou engolido pelos flashs das câmeras dos paparazzis. Pisco algumas vezes para me acostumar com a claridade repentina, pondo um sorriso no rosto.

-Olá, estavam me esperando? – Pergunto alto suficiente para que todos ouçam. Vários microfones estão apontados para meu rosto ao mesmo tempo, enquanto eu tento ir para a calçada.

-Pode responder algumas perguntas, senhor di angelo? – Uma das moças pergunta, com o microfone na minha cara. As câmeras focam em mim, quando eu balanço a cabeça positivamente.

-Poderia explicar como é sua relação com Reyna Ramirez? – Um homem pergunta. Me seguro para não revirar os olhos. Meu estômago dói. A dor psicológica refletindo no meu físico. Rio um pouco, mas sai mais como um engasgo.

-Somos amigos. Ela é minha assessora. Temos um bom relacionamento.

De alguma forma, sei que as perguntas não acabariam ali. Elas nunca acabam.

-Vocês pretendem ter algo algum dia? – Vários perguntam ao mesmo tempo. Respiro fundo, sentindo a raiva começar a me consumir. Tudo o que eu menos preciso é de um ataque de raiva agora. Aperto minhas mãos em punhos, temendo fazer alguma burrada.

-Não, não pretendemos. Somos amigos, ótimos amigos. – Meu rosto começa a ficar sério. Eles continuam perguntando a mesma coisa diversas vezes.

Antes de ser quem sou hoje, pensava que ser famoso seria uma das maiores dádivas que poderia ter. Pensei que poderia esfregar minha fama na cara de todos que diziam que eu não seria capaz, que eu não conseguiria. Pensei que todos que desdenharam de mim iriam me ver brilhar.

E eles veêm.

Eles me veêm brilhar. Mas não conseguem enxergar-me sangrando por dentro.

“Quando vão namorar?”, “Já pensaram em como isso vai refletir positivamente na carreira de vocês?”, “Vocês tem tanta química”, “Os fãs amariam os ver juntos”.

Minhas mãos tremem a cada sugestão, a cada insinuação. Eu estou perdendo a cabeça. Olho pra longe, ainda sentindo minhas entranhas se revirarem. Poucas pessoas estão passando pela rua aquele horário, concluo.

-Por quê vocês não namoram? É a única coisa que queremos saber! – Alguém grita. 

Perco a razão. 

-Sabe por quê eu e Reyna não namoramos? – Pergunto olhando diretamente para a câmera. Olho para o lado e vejo um garoto loiro passar com um sobretudo marrom e os cabelos loiros ao vento. – É por isso.

Perco o juízo.

Ando até o garoto com passos firmes. E na metade do caminho eu grito:

-Qual seu nome? – Sou a única pessoa indo em sua direção, olhando diretamente para suas íris azuis. Seu rosto possui sardas e sua cara de confuso o deixa adorável. Ele olha diretamente em meus olhos.

-William Solace e o seu? – Ele pergunta, parando de andar.

-Nico di angelo.

Não consigo ver sua reação. Não sei se ele sabe quem eu sou. E sinceramente, não importa. Pois quando chego perto o suficiente, possuindo visão clara de seus longos cílios e sentindo sua respiração em meu rosto, eu pergunto:

-Sim ou não, William Solace? – Seu olhar desce de meus olhos para minha boca. Ele prende o lábio inferior entre os dentes.

Perco o fôlego.