História Rodas-gigantes são para casais - Capítulo único

— Rodas gigantes são para casais, Hilda! – Era isso que nossa querida garota gritava para o espelho.

Não era estranho ela falar isso a cada três minutos. Pela primeira vez em seus dezesseis anos de idade, um garoto lhe chamou para “sair” — ou era isso que Hilda pensava.

Essa confusão aconteceu na tarde de quinta-feira, quando uma de suas amigas perguntou se Hilda soube do novo parque de diversões que abriu recentemente. Hilda é apaixonada por lugares cheio de atrações para se divertir, então quando soube da notícia, quase caiu de sua cadeira. Ela já planejava ir sozinha e estava pensando em chamar alguma amiga sua, mas o destino decidiu brincar com seu frágil e inexperiente coração.

“Quer ir para a roda gigante comigo?”

As simples palavras usadas pelo garoto de cabelos esverdeados da turma do terceiro ano lhe colocou em um poço sem fundo de sentimentos novos. Os três “sim” seguidos provou o quão nervosa Hilda ficou naquele momento. Não foi um convite para passear no parque, e sim apenas para a roda gigante. Isso complicou ainda mais a jovem mente da garota, pois não sabia se aquela pergunta significava algo a mais.

O culpado desse sentimento é N, um amigo de Hilda que está no terceiro ano do ensino médio, motivo para não se falarem tanto assim, já que Hilda é do primeiro ano e raramente tem tempo para ter uma conversa civilizada.

Por que “N”? Ele é bem conhecido por N pelo fato do seu nome ser “estranho” e ninguém ter saco para chamá-lo pelo nome completo, e Hilda acabou se acostumando a chamá-lo assim também.

Não que N fosse uma má pessoa, apenas estranhou a pergunta do esverdeado. Ele anda tão ocupado com seus anos finais que aparecer do nada e chamar a garota para “sair” deixou Hilda surpresa.

Suas amigas também não são boas conselheiras. Algumas comentaram que o garoto estava querendo melhorar a amizade, o que não foi tão impactante assim, já que eles mal se viam e seria uma ótima ideia para aproveitarem o final de semana. Mas outras lhe afirmavam que era paixão, que N estava descobrindo certos sentimentos e decidiu tomar uma iniciativa. Nossa protagonista não sabe agir a essa informação, até porque ela nunca beijou na vida, quem dirá namorar ou entender algo relacionado ao quesito namoro.

Bela juventude.

Por isso deixou o quarto de cabeça para baixo. Não sabia o que vestir, não sabia o que falar quando encontrar o famoso garoto, não fazia a mínima ideia de nada.

— Vê se pode uma coisa dessas! Eu nunca beijei na vida, é a primeira vez que um garoto me chama para ir a algum lugar, e pior, para uma roda gigante! O que isso significa, Panpour? Me diz!

Panpour era o macaco de pelúcia que Hilda possuía desde pequena, sendo um presente de seu pai.

— Jesus! Estou atrasada! — Hilda gritou ao olhar o relógio.

Pegou alguma roupa aleatória de seu armário e saiu correndo para o banheiro, deixando a pelúcia com sua cara de idiota em relação a atitude da garota.

[...]

Finalmente, o momento mais aguardado de sua vida – desde dois dias atrás – chegou.

Hilda estava esperando na entrada do parque de diversões. Sua perna direita não parava quieta, estava com medo de que N acabasse não vindo. Só que, também estava com medo de que o garoto viesse. Faz muito tempo que não via o esverdeado, e desde o convite para saírem juntos, ela realmente não sabe como agir com seu amigo. Se a segunda resposta das suas amigas estivesse certa, Hilda acabou de se meter na armadilha do amor, e isso é complicado demais para a garota.

Respirou fundo quando viu a figura alta destacada por seus cabelos verdes chegar. Era bem fácil descobrir quem era, seu amigo tinha as medidas certas.

— Boa noite! – respondeu ao se aproximar da garota.

Hilda ia retribuir o boa noite, quando foi abraçada sem esperar isso acontecer. Ficou vermelha de vergonha, não por ser abraçada por seu amigo, pois isso era confortável.

Quem passasse por ali perceberia a diferença de altura entre os dois. Enquanto N é alto, Hilda é muito baixinha, então o rosto da garota estava colado no torso do rapaz, motivo para estar toda vermelha. E quem disse que N percebeu? Estava feliz demais em rever sua amiga para ver a posição que Hilda se encontrava.

Quando o mesmo desfez o abraço, Hilda agiu como se nada tivesse acontecido, apenas mostrando um sorriso tímido e entrando no parque, logo sendo acompanhada pelo garoto.

[...]

A fila não era algo para se preocupar, como pegaram o horário do parque quase que na hora de abrir, não tinham muitas pessoas na frente, só foi preciso ter paciência para chegar a vez dos dois.

Nesse meio tempo, N contou para sua amiga o que anda tramando esses dias. Como está nos anos finais, passou muito tempo estudando, então não teve um dia para dedicar a si próprio. O mesmo quer ser veterinário, algo que não é surpresa para ninguém, pois o rapaz sempre deixou claro que ama animais.

Hilda, que deveria prestar atenção no que seu amigo estava lhe contando, acabou presa em seu mundo de pensamentos, apenas observando cada detalhe dos movimentos de N. Achava fofo quando o esverdeado se animava contando seus sonhos, seus objetivos de vida.

— Moça, poderia andar, por favor! – Apenas percebeu o lugar em que se encontrava quando N já estava lá na frente, enquanto estava parada impedindo as demais pessoas passarem.

— Desculpa! – correu envergonhada e voltou para perto do esverdeado. Se não tivesse dado um freio de emergência, quase teria derrubado as outras pessoas a sua frente.

Quando finalmente chegou a vez dos dois, ambos se acomodaram em seus cantos. Hilda ficou no meio, enquanto N preferiu ficar colado na janela, observando o brilho da noite. A roda gigante começou a se movimentar lentamente, deixando o esverdeado cada vez mais animado.

— A noite está bela, você não acha? – N não tirava os olhos do vidro, pelo visto, ele amava rodas gigantes.

— E não é que está mesmo? – Hilda decidiu se aproximar do esverdeado, olhando pelo mesmo ângulo que ele.

Mesmo que não falassem nada, estavam felizes. Era apenas um passeio entre amigos, então não tinha nada de errado. A noite estava belíssima, e pelo visto seria o destaque daquele dia. Hilda estava um pouco decepcionada por pensar coisas de N, mas era até que divertido observá-lo, mesmo que em silêncio.

— Olha! Tem alguém fantasiado de Pikachu, aquele bichinho de um desenho famoso!

— Deixa eu ver!

Hilda chegou mais perto do vidro, para perceber a figura amarela entretendo algumas crianças que passavam por ali.

Uma mão gentil foi colocá-la em seu ombro, fazendo cada fio de seu corpo arrepiar.

— Ele começou a dançar! Que maneiro!

No final das contas, quem acabou sendo o destaque foi o belo sorriso do esverdeado, que acabou contagiando a garota.

Uma simples roda gigante acompanhada de uma pessoa querida não foi tão ruim assim, pelo menos para Hilda.

— Eu agradeço por ter aceitado o passeio, eu estava realmente precisando de uma folga. Faz tempo que eu não vou para outros lugares sem ser a escola e a biblioteca. — virou-se em direção a garota, que ainda estava com seus olhos fixados no “dançarino” amarelo.

— Imagina. É legal sair com os amigos uma vez ou outra.

— Eu posso agradecer com alguma coisa? Uma pelúcia, talvez?

— Não! Não precisa! É um simples passeio. Faz tempo que não nos vemos, já é um presente maravilhoso estar aqui.

Hilda decidiu olhar para trás, apenas para seus olhos se encontrarem com os de N. Os olhos azuis meio esverdeados, uma cor que não era fácil descobrir, então era uma beleza única.

— Eu insisto, é um presente especial.

Queria ter dito algo para o esverdeado, mas desistiu quando recebeu um rápido, mas carinhoso, selar de lábios vindo do mais alto.

Nesse momento, a mente de Hilda simplesmente parou de funcionar. Pela primeira vez, foi convidada para sair com um garoto, passou vergonha na fila da roda gigante, viu um Pikachu dançante dentro da roda gigante, e…

Ganhou o primeiro beijo de sua vida.

Para uma garota que ainda era BV, foi totalmente um choque. Era uma sensação nova que contaminou seu corpo por completo. Era isso que suas amigas disseram? Era isso que as pessoas chamam de amor? Era estranho, mas ao mesmo tempo bom. Um sentimento que nunca sentiu antes, ainda mais por seu amigo causador de problemas psicológicos.

Quando terminou, não conseguia proferir uma letra sequer. Suas bochechas estavam descontroladamente vermelhas, mesmo que não quisesse. Seu corpo ainda estava reagindo a sensação nova, era irritantemente bom. Tentou olhar para o esverdeado, mas não conseguiu quando o mesmo estava com um sorriso tímido, o que lhe arrepiou ainda mais.

Quando conseguiu mover sua boca para dizer algo, a porta da cabine foi aberta pelo responsável em cuidar da atração.

— A vez de vocês dois acabaram. Por favor, saiam devagar e cuidado onde pisam.

O esverdeado foi o primeiro a se levantar, quando percebeu que Hilda não conseguiu se mover (ainda pelo choque), riu de leve e puxou a garota para fora da cabine.

— Ei! – Quase tropeçava quando colocou os pés para fora da atração.

— Desculpe-me, foi o impulso.

Hilda estava fazendo cara de birra, parecia uma criança. N desviou a cara, tentando esconder o riso que estava implorando para sair.

— Vem. — Segurou a mão da garota, quase que a deixando cair novamente — A noite mal começou, ainda tem a montanha russa.

O esverdeado saiu correndo, arrastando a garota junto, que não conseguia acompanhar o ritmo do mais velho.

“Espera, montanhas russas são para casais também?”

[...]

— Bela juventude — respondeu o homem que cuidava da roda gigante. — Parece que ele finalmente encontrou o amor...