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História Roleta Russa - I


Escrita por: KStefne

Notas do Autor


Saindo o primeiro capítulo!

Decidi postá-lo antes do previsto, ou seja, estou sendo uma alma bondosa.

Capítulo 2 - I


-Vim entregar.-Aponto para o pacote com o slogan da lanchonete em que trabalho há três anos.

-Olá, querida.-A voz esganiçada da Sra.Sukuma revela o quanto ela tenta transpareçer naturalidade por me ver ali, perçebo o olhar não refletir o seu sorriso forçado.-Por favor, entre.

Eu obedeço.

-Ele está no sotão.-Aponta para a porta que dava para o "ninho".

Assinto e saio o mais rápido possível dali.

-Oi.-Anuncio minha chegada, vejo o Theodore acenar em resposta enquanto digita furiosamente ao teclado, algumas gutículas de suor passeavam por sua testa oleosa.

-Pode deixar aí.-Aponta para um sofá velho ao meu lado. Assinto e coloco o pacote de tacos com molho de pimenta, tal como ele gosta, aonde ele manda.

-São doze pratas, Theo.-Informo, vou até ele e toco no seu ombro. Ele se retrai, tenta se esquivar mas eu o prendo.

-Haile, me solta.-Retruca, ignoro seu tom de voz e me permito massagear seus ombros tensos, ele relaxa um pouco e o sinto suspirar.

-Me desculpa.-Sussurro quebrando o silêncio que havia se instalado, Theo tinha razão de estar puto comigo.

-Tem dois meses que voçê não aparece aqui e não manda sequer um sinal de vida, uma porra de uma mensagem seria o suficiente. Sabe o quanto desesesperado fiquei?

Paro a massagem.

-Já pedi desculpa, Theo.

-E eu não a desculpei, sai daqui.-Ele se levanta, olho para a confusão de numeros binários no monitor em que ele estava focado.

-Voçê tem certeza?

-Tenho.-Ele pega o pacote do sofá e ruma de volta até o seu precioso PC.

Bufo

-Voçê está sendo um babaca sem motivo, já pedi desculpas porra, quer mais o quê?

-Quero que suma.

-Idiota, eu sei que voçê não quer que eu vá, para de mecher nisso e olha pra mim.

-Além de uma assasina de aluguel, agora voçê acha que manda em mim?-Sua voz é fria e me sinto como uma garotinho que está tentando fazer a barba imaginária e é pego pelo pai.

-Como...do que voçê está falando?

-Qualquer Hacker que se preze con segue barrar o seu sistema se segurança.-Percebo pelo canto do olho que ele agora me fita.-Descriptografei alguns ficheiros seus e achei um imenso banco de mensagens do seu email, e adivinha o conteúdo?

-Voçê não têm o direito de invadir a minha privacidade.-Murmuro entredentes.

-Foda-se.

-Voçê não entende.-Digo depois de um tempo.

Ouço ele dar uma risadinha de escánio.

-Claro, matar pessoas por alguns dólares é extremamente compriensível.-Diz.

-Olha...-Me sento no sofá velho e o encaro.-Eu parei de fazer isso logo depois de te conhecer. Voçê é o irmão mais novo que eu nunca tive, eu só queria te proteger.-Engulo seco.

-Não.

-O que?

-Eu não quero saber

-Foda-se.- Devolvo.-Voçê não sabe um terço do que passei, droga. Precisa ouvir antes de me julgar.

Ele se vira emburrado, encaro sua cabeleira que não via uma tesoura a algum tempo.

-Olha, eu fui criada numa cidadezinha no interior do Texas e desde bem pequena eu ajudava a minha mãe com o salão que ela havia montado, eu adorava, apesar de ser apenas nós duas lá em casa. Até que no meu sétimo aniversário o meu pai -até então eu não sabia de sua existência- apareceu, eu fiquei muito feliz na época. Deus sabe o quanto eu queria ser igual às garotas da minha escola, elas tinham um pai, eu também queria. Me lembro que no início ele me levava presentes, eu o amava, sabe?

Pigarreio com as lembranças que venho tentado apagar desde do dia em que fugi.

-Foi no inicio das férias de verão que tudo começou, eu tinha acabado de voltar da casa da Sra.Gowbery, a nossa vizinha. No entanto, havia algo errado, mamãe não estava na cozinha como era de costume, minha barriga roncava mas o cozido de panela nem ao menos estava pronto, eu estranhei. Me recordo que a encontrei no banheiro toda ensanguentada, eu fiquei desesperada, ela não acordava, eu pensei que ela havia morrido. Felizmente foram alguns ossos quebrados, um traumatismo e algumas hemorragias internas mas ela sobreviveu afinal. Uma semana depois, mamãe me contou que tinha sido o Charlie, o meu pai. Na época eu não pude acreditar, o único homem que eu confiava tinha feito aquilo? Eu era uma criança, não tinha ideia do que estava acontencendo até o dia que ele me estrupou.

Reparo que o Theo olha agora para o chão, seu olhar estava estranho.

-No início doia muito, ele dizia que ia passar. Então passou, ele tinha razão, não doía mais. Eram todos os dias ou quando ele estava com vontade, a minha mãe sabia. Ele a ameaçava, teve um dia que eles brigaram tanto que no outro dia o Charlie não veio me visitar á noite como era de costume. Foram muitos anos, até eu me aperceber que aquilo era errado, eu era errada, tudo estava errado. A minha adolescencia foi ainda pior, o Charlie me proibia de sair com o pessoal do colégio ou coisas do tipo, na verdade, eu era a vadia da escola, todos me chamavam disso. Porquê? Por que eles sabiam, todo mundo sabia, mas não faziam nada. Os garotos também queriam transar comigo, eu achava romântico, mas o Charlie falava que eu era apenas dele, até um dos garotos foi parar no hospital, acho que era Dexter o nome dele. A cidade inteira tinha nojo da gente. Os cochichos e as risadinhas eram as piores partes, eu odiava quando...

-Eu não quero mais ouvir isso.-Theo declara me interrompendo, seus punhos estavam cerrados.

Assinto e me levanto, eu não podia culpa-lo pela repulsa que deveria estar sentindo de mim, eu tambem sentia.

-Voçê está emagreçendo, vou falar com a Sra.Sakuma sobre isso.-Mudo de assunto tentando aliviar o clima que havia se instalado, embora a mãe do Theo me odiasse eu temia que ela soubesse de algo do meu passado e esteja tentando me afastar do seu filho de alguma forma, eu faria o mesmo no lugar dela.

Pego o meu capacete e me dirijo até as escadas do sotão.

-Depois voçê me paga, eu tenho que ir.

-Espera.

Recuso a me virar, paro no primeiro degrau e aperto o corrimão.

-Voçê matou ele, não foi?-Ouço.

-Quem?

-O Charlie.

-Não, mas eu vou.

▪▪▪

Enquanto estaciono a moto no estacionamento restrito para funcionários, constato que hoje particularmente, o Margot's Nacho's estava mais lotado que o habitual.

-Está atrasada.-Ouço a Claire, vulgo vaca, resmungar atrás do balcão, seu cabelo ruivo estava preso em uma trança lateral, dando-a um aspecto de menina fofa, coisa que ela não era.

Reviro os olhos e corro até a ala do vestiário, tiro as minhas roupas surradas e visto rapidamente o uniforme, faço um rabo de cavalo mal feito e ignoro a cara amassada que me encarava no reflexo do espelhinho que ficava ao lado do armário.

-Um homem veio procurar por voçê.

Dou um pulinho por conta do susto, puta merda.

Olho pra trás e vejo que é apenas o Alex, suspiro aliviada.

-Ah é?- Fingo desinteresse.- E o que ele queria?

Alex era um dos raros funcionários daqui que eu, sinceramente, não odiava.

-Não sei, ele disse que passava aqui mais tarde.-Diz, prendo atrás da orelha uma mecha de cabelo que havia se desprendido.

-Como ele era?

-Um cinquetão mal encarado.-Murmura, perçebo que seu cenho franze enquanto tenta se lembrar de mais algo.-E tinha uma tatuagem sinistra no pescoço.

Congelo.

-Filho da puta.-Sussurro.

-O que disse?

-Nada.-Me recomponho e passo por ele, bato em seu ombro e sorrio.-Obrigado, Alex.

Decido começar a atender algumas mesas, meus pensamentos giravam como engrenhagem enquanto eu anotava pedidos atrás de pedidos. Me recordo da minha conversa com o Theo logo mais cedo e decido que hoje definitivamente não era o meu dia, na verdade todos os dias nesses vinte e três anos.

As horas passaram rapidamente e dou graças aos céus e pergunto se o cara lá de cima já havia desistido de mim. Temo que a resposta seja sim.

-É impressão minha ou a sua sonsidão bateu recorde hoje, Haile?

Faço uma careta para o comentátio da ruiva insuportável, fingo que não a ouvi e contínuo limpando as mesas. O expediente estava acabando e o Charlie ainda não havia aparecido, me nego a criar expectativas e possibilidades de ser apenas um cliente do passado ou algo do tipo.

Isso só pode ser o meu karma, o universo sempre conspirando contra mim, penso.

Tenho certeza que é ele, pelas descrições que Alex havia dado não teria como não ser aquele desgraçado.

Após limpar a última mesa, olho para o meu relógio de pulso, eram 18:02, o que quer dizer que o meu expediente acabou, dou pulinhos internos e volto ao vestiário para me trocar.

Sinto o vento gelado bater no meu rosto após abrir às pressas a porta de vidro que dava para o estacionamento, apalpo o meu bolso traseiro e pego as chaves da moto. Tenho um sensação de estar sendo seguida, me viro mas não vejo nada, continuo olhando para os lados até chegar à minha Harley.

Voçê está ficando louca, Haile.

▪▪▪

O apartamento em que eu morava era situado a uns 40 minutos do Margot's Nacho's e não era um dos melhores, mas era o único que eu conseguia pagar com a merreca que recebia. Faço uma nota mental de pedir um aumento enquanto desco da moto e entro no prédio.

Subo as escadas, maldito elevador quebrado, praquejo mentalmente. Após um milhão de calórias queimadas eu chego ao meu andar, perçebo que a porta está aberta e me deparo com o homem que me faz ter pesadelos até hoje, tento não parecer surpresa e nem afetada.

Fecho a porta atrás de mim.

-Como conseguiu chegar primeiro que eu? O elevador está quebrado.

Depois de anos fugindo do Charlie, isso não era exatamente o que eu tinha em mente. Percebo seus olhos me analisando descaradamente, sinto ânsia e me controlo para não vomitar no meu carpete novo.

-Está mais curvilinea.-Decreta com aquela mesma voz asquerosa.

-O que faz aqui?- Jogo a minha bolsa no sofá e procuro o lugar mais longe o possível. Charlie está encostado na parede que separa a cozinha da sala, suas roupas impecáveis quebravam o aspecto sujo que ele emanava.

-Vim recordar os bons tempos, minha Roza

Estremeço ao ouvir o apelido que ele usava quando fazia suas visitas noturnas ao meu quarto.

-Não se atreva, filho da puta.

Ele ri, noto seu pomo de adão subir e descer durante o processo.

-Sua petulância me exita.-Noto pela primeira vez uma arma em sua mão, engulo em seco.

-Voçê é um doente.-Grito, pego a primeira coisa que vejo pela frente e ergo em defesa.

-Um abajur?.-Ele arqueia a sonbracelha se divertindo.

Me sinto patética e tenho vontade de chorar.

-Roza, abaixe isso.- Vejo ele se aproximar e ergo mais o objeto.

-Cale a boca, eu me chamo Haile.

-Abaixa.- Ele aponta a arma em minha direção.-Abaixa.

-Não.-Grito.

Charlie ri e põe o revolver no chão de propósito, depois ele levanta os braços em uma espécie de rendição.

-Não vou te matar, quero voçê bem viva.- Ele diz cauteloso, estranho o seu comportamento, mantenho abajur em mãos.

-Prefiro que me mate a me tocar novamente.-Decreto.

Seu olhar têm um brilho estranho que não é malícia, algo diferente e tenho medo disso.

-Vim te propor um acordo.

-Que tipo de acordo? Eu não vou compactuar de novo com voçê, desista.

-Desta vez tem muito dinheiro envolvido.-Ele especiona, pela primeira vez que cheguei ali, o meu apartamento.- Esse lugar não combina com voçê.

Ignoro seu comentário.

-Vai embora.

Ele sorri e se senta no sofá, me afasto mais até as minha costas baterem na parede.

-Não vou sai daqui, Roza.

-De que tipo de acordo voçê está falando?-Meu braços doem mas permaneço com o abajur erguido.

-Matar um mafioso e pegar uma coisa que eu quero muito.


Notas Finais


Próximo capítulo: 08/11

Até lá!


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