Segurei firme no banco estofado e minha outra mão foi parar na coxa de Todoroki enquanto o carro corria veloz pela estrada.
- Vai ficar tudo bem - Ele disse, tentando me assegurar com o olhar.
Olhei-o incrédulo. Não parecia que ia ficar tudo bem. Ainda dava para ouvir a sirene da polícia vindo ao longe.
O mascarado que estava dirigindo tirou a máscara exibindo seu rosto. Ele tinha a cabeça raspada e de repente, olhou para trás, verificando se estava sendo seguido. O outro mascarado no banco de passageiro também tirou sua máscara. Ele tinha cabelos claros e deu apenas para ver uma parte do seu rosto. Já o barman estava com as mãos amarradas numa corda e parecia amedrontado ao meu lado.
Após alguns instantes, o som da sirene da polícia pareceu diminuir, significando que estávamos ficando longe da lei.
Todoroki colocou os fones que estavam por dentro de seu casaco e começou a falar com alguém:
- Já pegamos ele - houve uma pausa. - A polícia tá na nossa cola, cara. Não vai dar para chegar aí na hora que você quer - e então ele tirou os fones.
- E aí? - O cara da cabeça raspada perguntou. - Tudo certo?
- Até agora sim - respondeu o bicolor.
- Para onde estamos indo? - Perguntei.
- Encontrar com o chefe - o cara no banco do passageiro respondeu.
- Relaxa. Não vou deixar nada acontecer com você - Todoroki disse, apertando minha coxa de leve.
Assenti, notando que não havia nenhum som da polícia atrás de nós.
Momentos depois, paramos no semáforo e após ter ido para o sinal verde, enquanto viravamos a encruzilhada, o carro da polícia surgiu na outra rua, brecando à nossa frente.
Imediatamente o cara de cabeça raspada girou o volante, tentando dar ré e acabamos batendo a traseira do carro em um veículo que estava atrás de nós. Minha cabeça bateu no banco da frente com o baque.
- Vai rápido, imbecil! - Todoroki gritou, por cima dos xingamentos. - Tudo bem? - Ele se voltou para mim, puxando meu rosto para analisá-lo.
- Não... - falei, sentindo minha cabeça latejar.
- Sai daí - Ele puxou o motorista para fora do volante. - Você é muito mole!
- Eu tô encurralado, cara! - O cara de cabeça raspada gritou assim que Todoroki dominou o volante.
O som da polícia gritava atrás de nós e eu praticamente me via atrás das grades.
Shouto conseguiu finalmente entrar na outra mão, desviando bruscamente dos carros. Porém, isso não serviu para despistar a polícia. Eles vinham atrás de nós parecendo zangados, abrindo caminho como se fossem os donos da rua e, junto com toda aquela loucura, meu coração estava prestes a sair pela boca.
Por pouco não batemos em um carro à nossa frente, mas eu jurei ter visto faíscas enquanto Todoroki raspava o veículo no outro. Corríamos há não sei quantos quilômetros por hora e eu temia em acontecer um grave acidente em que não nos veríamos nunca mais.
Todoroki virou à direita e logo à frente havia uma faixa de pedestres com um cara atravessando. Gritei, temendo o pior e o bicolor buzinou a toda, fazendo o homem correr rapidamente para fora da estrada.
A sirene da polícia zumbia em meu ouvido e eu olhei para trás, vendo alguns carros atrás de nós, mas não consegui visualizar o da polícia.
- Midoriya - Todoroki chamou. - É melhor você segurar firme.
- O que você vai fazer? - Perguntei, com a voz entrecortada.
- Aguenta firme. Vamos conseguir - disse, acelerando o carro ainda mais.
Cravei minhas unhas curtas no banco em que ele estava e fechei os olhos, pedindo a Deus para que ficássemos bem.
Não ousei abrir os olhos enquanto o carro voava pela estrada. Eu apenas ouvia os pneus gritando no asfalto e sentia meu corpo sendo jogado para tudo que era lado quando virávamos em alguma rua.
- Acho que conseguimos - um dos caras disse depois do que pareceu uma eternidade.
Permiti-me abrir os olhos e me vi em uma rua escura, sem carros ou pessoas. Parecia deserta. Sem nenhum som.
- Tudo bem? - Ele me perguntou, olhando para trás rapidamente.
Olhei ao redor, enfrentando os olhares de todos em mim e só então, me endireitei no banco.
- ... Acho que sim - respondi.
- Estamos chegando - Ele anunciou.
Mais ou menos uns cinco minutos depois, Todoroki parou o carro em frente a um depósito que parecia ocupar toda a extensa calçada. Logo, ele saiu do carro e o cara de cabelos claros desceu, abrindo a porta de trás e puxando o barman abruptamente para fora. O outro também saiu e a porta ao meu lado se abriu de repente.
- Viu só como foi tudo bem? - Todoroki disse, me puxando para fora do carro.
Não respondi. Eu ainda continuava assustado, sem contar que minhas pernas estavam bambas.
A rua em que estávamos era completamente deserta. Não se via nenhuma alma ali, a não ser nós cinco. O lugar era escuro, pouco iluminado pelos postes da frente.
- Você parece assustado - o bicolor constatou, me observando.
- E estou - confirmei.
- O pior já passou - disse.
- Como tem tanta certeza? - Perguntei, o encarando.
Ele me olhou e sorriu de lado. Aquele sorriso torto que encantava qualquer mulher.
- Não tenho. Mas pelo menos, não sou pessimista - disse.
- Não, você é louco - falei.
Ele alargou ainda mais o sorriso e então, a porta de ferro do depósito rangeu ao ser erguida por um dos caras.
Todoroki pegou na minha mão e fomos entrando naquele lugar estranho. O local era iluminado por algumas luzes amarelas e tinha mais dois caras lá dentro. O que significava aquilo?
Quando os caras levaram o barman para um outro cômodo, uma porta no canto se abriu e de lá saiu ele. Mark. Ou Palocci para ser mais específico. Ele caminhou até nós, olhando curioso na minha direção.
- O que este garoto está fazendo aqui? - Perguntou, com seu jeito petulante.
- Estou mostrando o seu mundinho a ele - Todoroki respondeu.
Palocci o encarou, desafiando-o com o olhar.
- Não abuse da sorte - ele se aproximou um pouco mais. - Você sabe do que sou capaz.
Shouto o encarou na mesma intensidade e por fim, disse:
- Acho que não tenho mais nada para fazer aqui.
Palocci riu.
- Bom, hoje não. Mas muito em breve sim.
Todoroki o olhou com indiferença.
- Você sabe onde me encontar - disse.
- Com certeza. E a seu namorado também - disse Palocci.
De repente, Todoroki soltou minha mão, se aproximando dele.
- Se você ousar chegar a um centímetro perto dele, eu acabo com você - Todoroki rosnou, parecendo que ia avançar no Palocci a qualquer momento.
- Acho que não antes de eu destruir a sua vida - Palocci disse.
- Experimenta - Todoroki o ameaçou.
Os dois ficaram se encarando por alguns segundos e então, Palocci soltou uma sonora gargalhada.
- Relaxa, rapaz. Só estou brincando, você não tem senso de humor?
- Não acho graça de certos palhaços - Shouto retrucou sem medo.
Palocci voltou a ficar sério e disse:
- Bom, espero que saiba que estou olho em você. Uma falha e seu mundo vira de ponta cabeça.
Após ouvir isso, Todoroki deu as costas a ele e agarrou minha mão, fazendo eu ir atrás dele. Passamos pelo portão de ferro e o meio a meio soltou minha mão, para abaixá-lo com tanta força que o portão fez um estrondo ao tocar no chão. Ele parecia possesso de raiva.
- Tudo bem? - Perguntei, assim que ele se virou para mim.
Ele assentiu e então, disse:
- Você não sabe o ódio que tenho desse cara.
- Eu imagino - falei.
Ele olhou para mim por uns instantes e começou a tirar o seu casaco. Após ter feito isso, tirou minha mochila do ombro e colocou seu casaco em mim, numa tentativa carinhosa de não me deixar passar frio.
- Vamos ter que andar um pouco até achar um ponto de ônibus - disse, colocando uma alça da minha mochila no ombro.
- Sem problemas - sorri, pegando seu rosto com as mãos, aproximando o meu para beijá-lo.
No momento em que nossos lábios se tocaram, Todoroki recuou o rosto como se estivesse fazendo algo errado. Olhei-o, incrédulo.
- Precisamos conversar sobre isso - disse.
- Conversar? Por quê? - Perguntei.
Ele respirou fundo e disse:
- Você beijou aquele cara lembra?
Quase fiquei sem fala.
- ... Eu estava bêbado. Não sabia o que estava fazendo.
- Claro que sabia, anjo. Sabia muito bem.
- Eu... você beijou a Kendall. Como acha que eu...
- Não beijei a Kendall - ele me interrompeu. - Se eu quissesse beijar ela, eu já teria feito isso, pois oportunidade não faltou.
Não gostei do que ele disse.
- Então, vocês andavam se encontrando? - Perguntei.
- Ela andava me encontrando - disse, dando ênfase no ela.
Soltei um suspiro.
- Eu estava nervoso, ok? A Ken e eu brigamos aquele dia e eu acabei não pensando direito...
- E para se vingar, resolveu beijar um idiota qualquer? - Ele me olhava, parecendo chateado.
- Desculpa - falei. - Eu não sei o que deu em mim.
Ele assentiu.
- Você me desculpa? - Perguntei.
- E por que não? - Ele disse.
Abri um sorriso e quando fui beijá-lo novamente, ele colocou o dedo nos meus lábios, me impedindo.
- Ainda não terminamos - disse.
- O que foi? - Perguntei, ancioso.
- Pensei muito sobre isso, e sei que você vai me odiar, mas preciso de um tempo - disse, sem rodeios.
Um tempo?
- O quê? Você... Por que? Você quer terminar?
- Não quero terminar, se eu quisesse já teria falado. Só preciso de um tempo, nada mais.
Senti vontade de chorar.
- Você está confuso dos seus sentimentos por mim? - Perguntei.
- Não. Ao contrário. Eu te amo - disse, olhando nos meus olhos. - Mas estou confuso do que você sente por mim.
Fiquei boquiaberto.
- Todoroki, eu amo você mais do que qualquer coisa nesse mundo, como acha que eu...
- Porque você beijou outro cara - ele me interrompeu.
- Já disse que estava com raiva.
- Isso não justifica nada.
Aí sim eu fiquei sem fala.
Respirei fundo e o encarei.
- Se é assim, por que você não termina logo de uma vez?! Melhor do que ficar iludindo o idiota aqui! - Dito isso, eu lhe dei as costas, deixando-o para trás e segurando as lágrimas que desafiavam escapar.
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