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História Rosa Azul - Hyunsung - A violência


Escrita por: geniusbang

Notas do Autor


Alguns avisos antes

1- Esse cap contém cena de violência. Então já sabem, se tem risco de te deixar desconfortável e decidir ler, está por sua conta

2- Pelo amor de deus na cena da cachoeira (vcs vão saber na hora), escutem a música "you're so creepy" de ghost town, a tradução tem tudo a ver com o momento

boa leitura :)

Capítulo 37 - A violência




— Pode me lembrar o que raios estamos fazendo aqui? — disse Bang enquanto caminhava ao lado da feiticeira. — Tem muita gente por aqui que me odeia, só nos últimos dez minutos já avisei umas quatro.

— E tem sorte de nenhuma delas terem te visto de volta, já que você parece um palito de fósforo de longe — criticou Ryujin subindo o olhar para os fios vermelhos. — Que tipo de fugitivo é você que tem uma cor de cabelo tão chamativa?

— É de propósito — deu um sorriso convencido. — Pra mostrar que não conseguem me capturar nem tendo uma placa neon na cabeça.

Ela limitou-se a revirar os olhos. 

— Tá, mas essa tática genial de criança que ama brincar de polícia e ladrão não cola comigo. Só preciso achar alguma coisa pra dar um jeito nessa cor, espera só um segundo — eles pararam atrás de uma casa para a feiticeira começar a revirar a bolsa que havia trazido. Christopher bufou, pegou a Dama Vermelha e começou a rabiscar com a ponta, fazendo desenhos aleatórios no piso enquanto esperava.

Até que sua audição aprimorada o fez franzir o cenho ao reconhecer uma voz mais afastada de onde estavam. Com a espada ainda no chão, se virou minimamente na direção do som. E realmente, seus sentidos não estavam errados. 

Ele pensou que a garota fosse desmaiar ali mesmo quando os olhos dela esbarraram nos seus. O kitsune ergueu uma sobrancelha, voltando rapidamente para atrás da parede com um sorriso enorme.

— Ora, mas que mundo pequeno.

— Como assim? —  A outra perguntou enquanto ainda procurava o que precisava.

— Eu vi a cachinhos dourados. 

Ela parou de fazer o que fazia no mesmo segundo, erguendo os paranoicos olhos cinzas arregalados para o maior.

— E ela te viu? 

— Ô se viu — gracejou ele. — Precisava ter visto a cara del...

Ryujin o cortou o puxando rapidamente dali, o levando discretamente para um canto mais afastado dali até pararem em um beco.

— Porra, o que foi?

— Você ainda pergunta, seu idiota? Como deixa ela te ver assim? Se ela abrir a boca e os serafins descobrirem que estamos no território deles, já era. Como escapou do Jisung por tanto tempo com esse cérebro minúsculo?

— Sendo tão neurótico só quando é necessário, para começar — alfinetou ele. — Relaxa, ela não é nem louca de falar alguma coisa, até porque foi muito rápido. Ah, aquele medo naquela carinha frágil foi tão adorável… deixa eu assustar ela mais uma vez, deixa? 

Perguntou cutucando o ombro dela como uma criança pedindo o doce preferido para a mãe. 

— Não. Vê se para de graça e mantenha o foco. Agora, vem cá — a garota levou o rosto dele para baixo, pingando uma gota do líquido preto do frasco na cabeça dele, e dentro de alguns segundos sua cabeleira se tornou do mesmo tom. — Pronto, discreto.

— E no que exatamente eu tenho que focar mesmo? 

— Precisamos de uma poção bem complexa para tirar a Soyeon do estado de controle mental, e um dos principais ingredientes é a água da cachoeira que tem aqui. Esse é um artefato sagrado pra eles, então se nos pegarem, estamos ferrados — enquanto explicava, ela pingava o mesmo líquido no cabelo, a única diferença era que a cor que escolheu foi loiro, lhe dando uma aparência mais inocente. — Por isso, temos que nos passar por seres puros.

— E como abismos isso seria possível? 

— Não agindo como assassinos violentos que odeiam todo mundo. 

— Mas nós não agimos, nós somos assassinos violentos que odeiam todo mundo. 

— Hoje não. Agora, eu sou uma feiticeira branca qualquer apenas vivendo um dia como qualquer outro — gesticulou para si mesma, e no mesmo instante uma fumaça de sombras saiu de suas mãos e cobriram toda sua vestimenta até sumir completamente o visual de mulher perigosa e letal, sobrando a imagem de uma moça doce e gentil num vestido longo verde claro de organza, um tecido com leve transparência e um brilho que se valorizava muito na luz.

— Pra onde foram suas outras roupas?

— Ainda estão aqui, mas com outra aparência graças à projeção de ilusão. E você… hm, o que posso fazer com você?

— Se colocar essas florzinhas ridículas que colocou no seu cabelo, juro que te incinero. 

Ela riu levemente enquanto batia a unha na bochecha num ar pensativo. 

— Quer saber? Você não precisa parar de agir como um assassino, exigiria tempo e paciência demais tentar te fazer agir como se fosse um amor. Você pode ser um arcanjo. 

— Há! Esse desafio eu aceito — declarou com empolgação. 

— Tá, mas vai com calma. Primeiro, suas armas não podem ter aparência demoníaca. Então, se me dá licença… — ela movimentou a mão direita na direção dele, vendo as lâminas em volta de seu corpo pouco a pouco ganhando aparência celestial. Tudo bem, todas ganharam um visual tolerável. 

Até olhar para sua katana.

— Mas que porra? — Sibilou erguendo o objeto com uma feição de horror direcionada à coloração dourada que o mesmo ganhou. — O que fez com a minha filha?!

— A maioria dos seres daqui não te conhecem pelo rosto, e sim pela aparência da Dama Vermelha. Ela é quem exigiu a mudança mais drástica. — O garoto bufou, aceitando apesar da revolta. — E agora que sabemos que a cachinhos dourados está aqui, o cuidado tem que ser redobrado. Tinha mais alguém com ela?

— A bruxinha e mais um cara que eu não faço ideia de quem seja. 

— Hm, ok. — Deu uma última conferida no vestido e no cabelo pelo espelho pequeno que trouxe, até notar que o outro a observava com os lábios encolhidos para não rir. — Que foi? 

— Você está uma gracinha — zombou.

— Ah, vai à merda — disse empurrando o ombro dele, que riu sonoramente.

— Só cuidado pra não ficar nostálgica com essa versão de bruxinha boa, hm? 

— E você, cuidado pra não tropeçar e cair no pau de uma sereia ou de um íncubo.

— Uuuuh — murmurou enquanto começava a caminhar junto dela. — Essa foi boa. Juro que queria ser uma mosca às vezes pra ver o que está rolando entre o Hyunjin e o precioso anjinho dele. 

— Infelizmente não soube mais nada do Felix além do que contou pra gente do evento da sala de treinamento, até porque ele nem está mais lá na escola.

— Não?

— Não. Ele e o urubuzinho fizeram as pazes e estão por aí numa espécie de lua de mel sobre rodas. Parece que o seu conselho foi útil, hein — falou formando um sorriso enquanto cutucava seu braço com o cotovelo. 

— Nem me lembre disso, tudo culpa daquela poção idiota. 

— Você não me deu escolha, raposinha. Me fez duvidar da sua lealdade. E eu só acreditei que o soro da verdade estava realmente funcionando por você ter admitido que tem medo do...

— Não. Se. Atreva. — Pronunciou pausadamente impedindo-a de terminar a frase, e o que ela fez foi sorrir maliciosamente e continuar a andar. E a cada passo que dava, a expressão de repulsa aumentava. — Ugh, esse lugar é tão… fru-fru. Por que estamos perdendo tempo tentando salvá-lo mesmo?

— Não estamos fazendo isso por altruísmo, estamos fazendo isso por nós — lembrou ela. — Mas de quebra, vai que os serafins acabam nos dando créditos de heroísmo? Seria ótimo ter pessoas tão poderosas devendo pra gente.

— Hm… pensando por esse lado… — considerou. — Mas você sabe que não vai mudar tanta coisa quando você "desipnotizar" a Soyeon, não é? Tipo, há grandes chances de ela ainda querer te matar. 

— Eu sei, mas pelo menos vou estar acertando as contas com o meu antigo amor, e não com o cachorrinho do Ethan. 

— Tá, é justo. E a propósito, você faz a menor ideia onde essa tal cachoeira fica?

— Não — respondeu simplista. — Mas já vamos descobrir.

Ela parou de andar subitamente e apontou com o queixo para uma casa, cujo quintal estava ocupado por uma mulher que se entretia cuidando de suas diversas flores.

— Apenas observe — declarou antes de lançar uma piscadela e sair andando, balançando seu quadril para um lado e para o outro como um perfeito gato. — Por Rosel, eu adorei seu jardim! 

Bang se assustou imediatamente. O tom de voz da mulher tinha ficado mil vezes mais leve e açucarado, como o de uma garota boazinha demais para machucar uma uma mísera mosca. A mulher ergueu a cabeça e olhou para Ryujin por trás da cabeleira cacheada loira com pontas rosas, abrindo um sorriso brilhante como se ela fosse sua melhor amiga. 

— Você gostou?

— Adorei. Pela mão boa com a jardinagem, presumo que estou diante de uma ninfa dríade, não?

— É, acertou — anunciou batendo as mãos enluvadas e em seguida tirando os objetos enquanto se levantava, exibindo as mãos lisas e tão delicadas que Christopher imediatamente ficou com vontade de quebrar aqueles dedos. — E pela bolsa de poções, devo estar falando com uma feiticeira.

Ryujin sorriu e deu de ombros em resposta. E quando ela sorriu mais uma vez de volta, ele a odiou imediatamente. A voz dela era fina, alegre e irritante demais. 

— Sou Cammie — apresentou-se estendendo a mão, e a outra a apertou e sacudiu. 

— Lilly, é um prazer — Chris gostou do nome escolhido. Era quase o nome da mãe dela. — Adorei seu cabelo.

— E eu adorei seus olhos — elogiou de volta, dando um riso fraco. Bang se segurou para não revirar os olhos até ver seu cérebro. Aquilo não era um ser, era uma daquelas bonequinhas Barbies felizes o tempo todo.

Poderia citar muitas dessas que já tinham recebido visitas de sua katana, são um dos tipos mais divertidos de matar. Era engraçado o fato que a maioria delas quando gritava por piedade parecia estar tendo um orgasmo falso de uma atriz pornô de tão superficial que eram suas vozes. 

— Obrigada. Bem, indo ao que interessa… preciso muito de sua ajuda agora.

— Claro, o que foi? 

— Então, somos novos aqui, eu e meu noivo. Chris, venha cá! — Pelo menos não se deu o trabalho de inventar algum nome pra ele e só chamou por seu nome real encurtado. — Desculpe, ele é meio tímido, sabe?

— Ah sim, arcanjos — concluiu com um sorrisinho presunçoso. O kitsune engoliu toda sua vontade de cometer um crime bem ali e caminhou até as outras duas, parando de braços cruzados do lado da feiticeira.

— Tivemos que nos mudar pra cá, porque sabe, se relacionamentos dentro de sua espécie já não são bem visto na cidade dele, imagina um com de espécie diferente — explicou deitando a cabeça carinhosamente no ombro dele, abraçando e acariciando seu outro braço. Bang resistiu o impulso de recuar, odiava afeto físico. 

— Ah, sim. São bem rigorosos com isso.

— Pois é. Estamos conhecendo a área ainda, e estamos mais do que doidos para conhecer a cachoeira tão famigerada, mas não sabemos onde é. Será que você podia…

— Com certeza, eu levo vocês lá — prometeu sorrindo mais uma vez. Minha nossa senhora, as bochechas dela não doíam? Era a terceira ou quarta vez só no último minuto. 

— Fabuloso — comemorou a suposta Lilly enquanto batia palminhas.

Não pôde deixar de se surpreender com a facilidade de ela ter aceitado ser a guia deles tão fácil. Se fosse com Chris, só pra começar ignoraria completamente o sujeito que fosse falar com ele. Mas caso falasse, tudo que diria era "E eu tenho cara de mapa, porra? Se vira." 

— Então, como os pombinhos se conheceram? — Perguntou ela enquanto conduzia os dois para o lugar pedido. 

— Ele me salvou de um demônio horrível que tentou me machucar. 

— Ah, não! — Ela exclamou colocando a mão no peito. Sério, seria tão fácil cortar a garganta dela e dar tranquilidade para seus ouvidos daquela voz insuportável. Foda-se se não estava conseguindo matar, naquela ocasião faria questão de recuperar o gosto por sangue. — Mas você se feriu gravemente? 

— Não, graças ao meu herói aqui — dedicou um sorriso para o mais alto, abraçando seu braço. Bang sentiu vontade de rir com ela agindo toda melosa daquele jeito. 

— Demônios são terríveis. Nunca cruzei com um, mas… 

— Uh, nunca? Tem certeza? — Inquiriu ele, falando pela primeira vez na conversa. 

— Acho que não. Mas ouvi dizer que são criaturas imensuravelmente cruéis, lhe admiro bastante por enfrentá-los todos os dias. 

— Ah, você nem faz ideia. São bem piores do que pensa. E tem uma facilidade imensa para enganar pessoas, então cuidado. Um dia desses pode ter um diante de você e você nem imagina.

— Prometo ficar atenta — declarou sorrindo mais uma vez antes de continuar a caminhar mais à frente da dupla, que se entreolharam por vários segundos e usaram todo o autocontrole para não cair na gargalhada. Presa bobinha. — Aliás, já que você é um arcanjo, queria te perguntar uma coisa. 

— O que? 

— Você conhece Han Jisung? Ah… dãã, que pergunta idiota. É claro que conhece ele, todo mundo conhece. 

Por ironia do destino, as bochechas que doeram foram as de Christopher por tão largo que foi o sorriso que deu. 

— Sim, eu conheço o Jisung. Muito bem. — "Tão bem que já tentamos nos matar diversas vezes." 

— Ele é tão inalcançável como dizem mesmo? — Bang levantou a sobrancelha sugestivamente com a pergunta.

— Por que? Está interessada? 

— Ah… não, não desse jeito. Até porque estou esperando uma sementinha do meu amor — contou levando a mão para a barriga. 

Agora foi a vez dele sorrir demais. Aquilo o trouxe uma bela lembrança de uma aventura que já teve com uma grávida e um garoto que era amigo da mesma que decidiu falar de forma ousada demais com ele.


           




— Eu sou uma aberração, então… Mas por que? — O Bang questionou sarcasticamente com a Dama Vermelha em mãos, tratando de arrastá-la pelo chão enquanto caminhava na direção do garoto. Parou em frente ao moreno, o analisando de cima a baixo. — Perdão, mas foi você quem foi indelicado demais comigo. 

Abriu um sorriso ladino e tombou sua cabeça para o lado.

 — Você é corajoso, moleque... Ou só é muito burro. Ainda não consegui decifrar. — Formou uma expressão confusa e estalou a língua no céu da boca. — Que merda achou que fosse ganhar com isso, hm? Minha compaixão em dizer: "Oh, tem razão… acho que vou ter que ajoelhar agora e pedir clemência por meus pecados." 

Atuou uma expressão de lástima junto com um barulho de choro falso, até rir arrastadamente e voltar para sua postura diabólica de sempre.

Deu as costas para o garoto, indo novamente na direção da mulher acorrentada, passando a rondar a mesma. Ainda se era possível escutar a garota clamar em sussurros por ajuda. E Bang havia decidido que aquela era a hora. 

— Sabe, não gostei muito do jeito que falou comigo… — Balançava a katana de um lado para o outro enquanto rodeava a gestante. — Já que se importa tanto com o sofrimento alheio...O que acha de acabar com o dela?

Lançou um olhar malicioso para ele, e com isso, o desespero da mulher se tornou palpável. 

— P-por favor...não! Me leve... mas salve minha garotinha, eu te imploro! — A mulher se debatia, tentando a todo custo se libertar, mesmo sabendo que era inútil.  

O kitsune se direcionou ao garoto novamente, parando ao seu lado e agarrando seus fios de cabelo, o arrastando até a mulher e o fazendo se ajoelhar na frente da mesma. 

— Olhe bem para ela. Está vendo? Tudo que vai acontecer agora com ela é culpa sua. Tudo culpa sua. — Praticamente cuspia tais palavras. — Tente salvá-la agora.

Sussurrou as últimas palavras apenas para ele e saiu de seu lado. Se direcionou para o fundo da sala, até então, aparentando manter a situação mais calma.

— Vamos, está esperando o que? Desamarre-a. — Declarou e o outro mais do que depressa foi como um raio nas direções das correntes, tentando soltá-las e após longos minutos, libertou-a. 

A mulher assim, o encarou com alívio jogada a seus pés, e sussurrou um "Obrigada" por fim, abrindo um pequeno sorriso. 

Isso até voltar o rosto para frente na direção do amigo e a felicidade sumir de seu rosto quando teve em um movimento rápido a espada fincada no meio de seu corpo, acertando em cheio seu bebê e os gritos dos outros dois no ambiente se misturaram e preencheram o recinto.

O golpe não era o suficiente para matá-la, mas sua herdeira…

— Está vendo? Você matou essa pobre criança — ditou enquanto escutava o choro de desespero dela ecoar pela sala. — Peça desculpas a ela.

Parou ao lado do garoto e o derrubou, pressionando seu peito com um dos pés.

— Peça desculpas! — Gritou, por fim. 

O sangue escorria pelo círculo de pedras e manchava o chão com um vermelho vivo. O kitsune admirava aquela cena assim como um amante da arte admirava obras em museus. 

Aquela era a verdadeira arte de Christopher.

— Uma lição, querido. A última que vai aprender na vida — se ajoelhou e olhou no fundo dos olhos dele. — Na minha história, os mocinhos nunca vencem. 

Então desceu a Dama Vermelha na direção de seu coração. 







Ele acabou se perdendo na cena o suficiente para suspirar em nostalgia. Bons tempos...

Até voltar para a realidade de retornar a atenção para o discurso de Cammie.

— Sou só um dos vários fãs que ele tem por aqui. Sabe, muitos admiram a garra e coragem do dono do poderoso Cicatriz do Amanhã. — "Ah sim, conheço bem essa maldita arma. Quer dar uma olhada na marca que ela me deixou?" — Ele é praticamente uma lenda viva. 

"Olha, que fofo. Será que essa é a hora que conto que o idolozinho de vocês é tão bondoso que tem uma paixão imensurável em torturar suas vítimas e arrancar a vida delas gotinha por gotinha e saboreá-las bem devagar? Uh, e já mencionei que ele só não é parte demônio como está todo rendido por um?" 

— Enfim, se voltar a vê-lo, diga que tem minha admiração. 

— Claro, passarei a mensagem — disse num sorrisinho falso. E quando olhou de relance para Ryujin, viu que ela ainda se segurava para não rir. 

— Chegamos. — Anunciou parando os passos. — A cachoeira fica atrás dessa cortina de cipós. 

Ela apontou para o local citado. Christopher olhou em volta, percebendo que o lugar estava completamente deserto. Tão propício…

— Obrigada por sua ajuda, Cammie — agradeceu Ryujin num tom doce.

— De nada, espero que aproveitem — pronunciou dando uma piscadela antes de dar meia volta e começar a traçar o caminho de volta pra casa.

Chris observava de forma agonizante a cada segundo que ela se afastava. Não sentia aquela tentação já fazia tanto tempo… 

— Nem pense nisso. — Avisou a feiticeira, lendo seus pensamentos. — Se ferirmos um ser puro em pleno território dos serafins e descobrirem…

— Exatamente. Se descobrirem.

— Foco, Christopher — disse puxando o rapaz pelo pulso até passarem pela cortina, e a revolta que ficou foi distraída imediatamente quando cravou os olhos na imagem à sua frente. 

A água que caía da grande cachoeira era tão cristalina que chegava a ofuscar a visão com a luz do dia. Por alguma explicação mágica e sem lógica racional, a água não caía em linha vertical como qualquer outra, mas saia da rocha do topo em formato aspiral, parecendo um grande tobogã até alcançar o majestoso lago abaixo. 

— Ok, tenho que admitir. Essa parte do lado puro é bem interessante — confessou ele.

— É mesmo — concordou, admirando junto. — Enfim, um frasco dessa água é o suficiente. Depois damos o fora. 

Ela ajoelhou na beira e a partir do momento que sua mão tocou o lago, a projeção de ilusão e as poções capilares que usavam para seus disfarces evaporaram de um segundo para outro, trazendo de volta a aparência digna de demônios de elite.

— Mas o que… — Chris balbuciou.

— É a força celestial da água, elimina qualquer impureza que a toca. Droga, esqueci desse pequeno detalhe. Só deixe eu pegar a amostra e já faço os feitiços de novo.

Ela preencheu o recipiente de vidro, o erguendo na altura do rosto para conferir se a medida estava correta. 

— Pronto — declarou guardando com cuidado o frasco de volta na bolsa e se levantando, olhando fixamente para o lago. — Que tentador tirar só mais um tempinho para dar um mergulho. 

— Nem me fale. 

— Bom, é isso. Vamos ind-

— Ei, gente! Quase esqueci — aquela voz irritante soou atrás deles de novo, fazendo ambos arregalarem os olhos. — Já que você amou tanto meu jardim, pensei em dar um buquê com algumas pra vocês. Considerem como presente de casamen… 

Sua voz baixou quando ela atravessou a cortina de cipós, a cor de seu rosto perfeitinho sumindo após ver a nova aparência dos dois. E pela sua expressão de horror, sua ficha caiu na hora. Hm, não era tão burra quanto parecia. 

— P-Por Rosel… — a ninfa murmurou levando a mão trêmula em frente à boca, os olhos automaticamente começando a ficar encharcados, observando lentamente os legítimos filhos dos dois diabos virarem o rosto para ela e sorrirem maquiavelicamente em sincronia.

— Ah, Cammie… — Lamentou Ryujin, balançando a cabeça negativamente enquanto estava a língua repetidas vezes. — Devia ter esperado lá fora...

O desespero em suas feições tornou-se mais presente conforme assistiu a dupla caminhar lentamente na direção dela. 

— N-Não… por favor… — Típica frase. Já estava começando a enjoar. — Eu não vou  contar, não vi nada… eu juro que não vi nada! 

— Nunca mais vai ver, princesinha. — Decretou Chris, os olhos brilhando pela oportunidade de ouro que caiu em seu colo por pura ironia do destino e da estupidez que a bondade da ninfa causou. 

— Não… e-eu… estou esperando um bebê — mencionou de novo, como se aquilo fosse um bilhete de passagem para a piedade dos dois. — Por favor, por fav- 

Ela gritou quando sua cabeleira loira foi puxada pela feiticeira, sendo arrastada na direção do lago. 

— Não, me solta! — Pediu, tendo a genial ideia de começar a berrar. — SOCORRO! SOC- 

Sua voz foi cortada quando chegaram próximas da água o suficiente para a feiticeira submergir o rosto dela, segurando bem sua cabeça enquanto ela se debatia. Christopher entendeu aquilo como sua deixa, sacando uma de suas adagas enquanto entrava na água e ia até as duas. 

— Tenta gritar de novo. Só tenta — sibilou a Shin no ouvido da loira quando a puxou de volta, fazendo Bang sorrir largo com a cena. Aquela sim, era a mulher atroz que conhecia. 

Ela foi empurrada totalmente para o lago, e o kitsune se apressou em segurar seu pescoço e imobilizá-la. E pela água transparente, conseguiu ver claramente a expressão de agonia dela enquanto tentava subir e buscar por oxigênio. Pelo inferno, como sentiu falta daquilo. 

Quando terminou de contar mentalmente os segundos para não matá-la afogada, a trouxe de novo para a superfície, prendendo-a de costas para ele. 

— Uma pena mesmo, mamãe do ano. Deveria aprender a ser menos ingênua, não se deve andar por aí sozinha com dois estranhos — ele ergueu a adaga sinalizando com o olhar para a mulher, que entendeu o recado e tapou a boca da loira quando Christopher enfiou a lâmina atrás de seu ombro e a torcendo, só para o divertir e causar "um pouquinho" de agonia. 

Bem vindo de volta, prazer em matar. Você fez falta. 

Ele não deixou de pensar porque raios ela não usava seus poderes, mas aí lembrou que não tinha nenhuma árvore por perto. Ninfas dríades tinham total controle pelos galhos e podiam usá-los como armas mortais. Mas que azar… 

— Eu avisei que demônios eram cruéis e traiçoeiros — cochichou para ela antes de sacar suas garras e enfim cravá-las na jugular da ninfa, calando-a de uma vez por todas. 

— Shhh — murmurou Ryujin pressionando com mais força os lábios dela quando ela começou a se mexer demais em busca de livramento, o líquido vermelho virando a segunda cachoeira do local. — Você perdeu, fadinha. Quanto mais cedo aceitar e parar de se debater, mais fácil vai ser pra você e pra gente. 

Até estava afim de recitar mais alguma coisa, algo talvez sobre Jisung, mas se perdeu completamente na visão diante de si. A feiticeira segurando com força o maxilar dela, olhando no fundo nos olhos de Cammie com aquelas esferas prateadas cintilando perversidade demoníaca enquanto ela se afogava no próprio sangue, o sorrisinho sutil em seus lábios pintados com o batom vermelho, aqueles lábios que pareciam bem mais deliciosos agora…

Sua apreciação por morte se misturando com tesão com certeza não daria um bom resultado.

A admiração se prolongou até sentir o corpo da ninfa relaxar e seu peso cair sobre Chris. Checou sua pulsação no lado não ensanguentado do pescoço dela, erguendo o rosto para o rapaz e afirmando brevemente com a cabeça.

Estava feito. 

Retirou as unhas e a adaga dela, deixando seu corpo encostado no lago. Uma hora ia se desintegrar, e a água faria o próprio trabalho de se manter limpa e sumir com todo o sangue. Aquele símbolo tão forte de pureza, agora se misturando com o vermelho graças ao kitsune e a feiticeira. 

— É isso aí — declarou em comemoração num suspiro de euforia. — Estou de volta. 

Ele girou o corpo por um momento para deixar a adaga na grama e quando se virou de volta, notou que Ryujin o observava fixamente da mesma forma que a observou enquanto findavam a vida da ninfa. Não foi preciso muito para interpretar seu olhar. 

E foi aí que avançaram um no outro e uniram seus lábios numa atitude sedenta. Suas línguas imediatamente começaram a brigar por espaço bucal, e Chris a puxou fortemente pela cintura enquanto a conduzia até estarem do outro lado do lago, perto da beira. 

Existem vários tipos de linguagens indiretas para dizer que você estava interessado em alguém. Toque, presentes, palavras… bom, os dois haviam acabado de criar uma linguagem nova. Violência.

Suas mãos passaram a apalpar cada parte do corpo dela, tendo ofegos como incentivo. 

— Se rasgar minha roupa de novo, mato você. — Chris riu contra seu pescoço antes de começar a beijar ali, e teve uma descoberta surpreendente quando chegou os toques no ouvido dela. 

Por um instante, pensou ter ouvido errado. Até fazer de novo e ter certeza que não estava imaginando coisas. A mulher estava… ronronando

— Nem vem — cortou quando viu o olhar dele caindo sobre ela. — É involuntário.

— Peculiar — comentou. — Mas eu gostei. 

Começou a chupar e puxar levemente o lóbulo dela enquanto a mesma se remexia e misturava os gemidos baixos com o som felino que vibrava em sua garganta.  

Enquanto isso, desceu uma das mãos que não estava em volta da cintura dela para a perna direita, agarrando com vontade. Queria mesmo era dar um tapa, mas dentro da água era meio complicado.

Aquilo foi a atitude que Ryujin parecia estar esperando, já que ela sorriu radiantemente antes de conduzir a destra para a mão do kitsune em sua coxa, subindo-a até a pousar entre suas pernas. 

— Apressadinha — silabou em seu ouvido, vendo ela morder o lábio inferior sem desmanchar o sorriso. O ruivo prosseguiu o toque movimentando o dedo anelar e médio por cima do tecido encharcado, a fazendo suspirar freneticamente e lançar o quadril seguidamente para frente. 

Antes de descer os lábios de sua orelha, deu uma última mordida no lóbulo e voltou para seu pescoço, até chegar na clavícula e então seu decote. Passou a língua entre os seios alheios e deu uma mordida leve no bico por cima da roupa, fazendo Ryujin contorcer as costas e agarrar os fios vermelhos úmidos. 

Pelo diabo, como aquilo era errado. Invadiram o território puro, mataram um deles, roubaram um pouco do local sagrado dali e ainda estavam prestes a "batizar" o mesmo. 

Aquilo definitivamente não poderia ser mais perfeito. A cara dos dois, poderia se dizer. 

A feiticeira deu um último gemido e se afastou subitamente, encarando Chris de repente com as feições tão tensas como se ele fosse a pior pessoa do mundo.

— Que foi? 

Ela não falou nada, o enchendo de dúvidas até esticar a mão e lançar um fio de sombra para o lado direito na direção de algo além deles. Chris virou o rosto, erguendo as sobrancelhas no instante seguinte após ver o que estava vendo. 

Pelo jeito, hoje era oficialmente o dia de presas fáceis caírem de bandeja na frente dos dois. 

— Ora, ora — ressoou o kitsune, saindo da água e Shin fez o mesmo em seguida, ambos andando até a nova presença que tentou sair de fininho do local após ver a cena horrorizante, impedida pelas sombras que enlaçaram seu corpo. Christopher nem havia a notado. Dessa vez, foi a audição felina de Ryujin que foi útil. — Quanto tempo, cachinhos dourados. 

O rapaz passou levemente o indicador nos fios claros, vendo o ritmo respiratório da anjo se tornar mais veloz com o pânico por aquele simples ato. 

— Que coisa resolver buscar água bem agora, tsc — comentou Ryujin. 

— Eu não estava louca… — Balbuciou, e unindo forças por baixo do amedrontamento para perguntar: — O que vocês em nome de Elijah fazem aqui?! O que fizeram com aquela pobre ninfa? 

— Epa, calma aí — Ryujin ergueu o dedo indicador livre na direção dela. — Primeiro, abaixa esse tom, querida. Segundo, por que não fazemos um joguinho de imitação, hm? Eu falo, você repete. Um pouquinho mais calma dessa vez, pode ser? 

Quando não teve respostas, o que saiu de sua garganta foi um grunhido de dor quando a feiticeira apertou mais a corda sombria contra seu corpo.

Pode ser? — Falou engrossando a voz, erguendo a sobrancelha ameaçadoramente. 

— Ela fez uma pergunta, loirinha. Tá com merda no ouvido ou o quê? — Interferiu Christopher, sacando outra lâmina. — Se não vai falar, vai nos obrigar a te fazer falar…

Raspou levemente a ponta da faca no estômago dela, no exato ponto em que foi atingida certa vez. Mina engoliu o seco.

— Tá… tá bom. — Cedeu por fim.

— Ok, vamos lá —  feiticeira aqueceu a garganta. — Eu fui idiota de estar no lugar errado na hora errada. 

A Myoui ofegou mais um pouco por conta do desespero antes de falar a mesma coisa com a voz trêmula.

— Mas eu não vou gritar, não vou sequer ousar em tentar usar meus poderes pra fugir e contar o que eu vi — recitou a mulher, vendo a outra imitar suas palavras. — Porque se eu fazer isso, meu amigo peixinho vai morrer. 

A anjo esbugalhou os olhos com a menção, os lábios trêmulos só em visualizar o cenário citado.

— Repita. 

— P-Porque se eu fazer isso, meu… 

— Hm? Continue.

— Meu amigo peixinho vai… morrer.

— Então eu não vou ser dedo duro e vou ficar de boca bem caladinha.

— Eu… não vou ser dedo duro e vou ficar de boca bem caladinha.

Ryujin sorriu em falso afeto, acariciando a cabeça loira dela como se fosse um cachorro antes de erguer seu queixo para cima e obrigar a encará-la.

— Boa garota. 

Bang apenas assistia tudo de braços cruzados como um telespectador vendo seu programa favorito. Porra, que mulher.

— Não que eu não tenha gostado do show, mas… — ele resolveu falar. — Ela também viu demais. Por que não matamos também? 

— Por três motivos. Primeiro, ela nós podemos controlar porque o peixinho ainda está na nossa área. — Christopher ergueu a sobrancelha com a informação. Nem ele sabia disso, e pela expressão de Mina, ela também não sabia que Ryujin sabia. — Segundo, ela apareceu num momento muito útil. Vai nos poupar muito tempo.

— E porque ela seria útil pra nós? 

A feiticeira sorriu ladina, voltando a atenção para a anjo.

— Ajoelha, meu bem. 

Mina suspirou fundo em contradição, mas optou por obedecer. Sábia escolha. E assim que alcançou o chão, as sombras da feiticeira prenderam seu corpo ali.

— Agora mostre as asas, borboletinha. 

O pedido apavorou a garota.

— O q-que vão fazer com as minhas… — Sua pergunta sumiu quando a lâmina de Bang encostou em seu pescoço.

— Tá afim de acabar como ela? — Indagou sinalizando com a cabeça para o corpo de Cammie, vendo Myoui fechar fortemente os olhos e fazer que não com a cabeça. — Ótimo. Então só faz, não questiona. 

Ryujin olhou na direção do kitsune enquanto via as asas celestiais se revelarem das costas dela, lançando um beijinho no ar em agradecimento.

— E o terceiro motivo: temos coisas mais importantes para fazer — disse sugestivamente, e Bang devolveu o sorriso malicioso. — Agora, se me dá licença, lindinha…

— Ai! — Reclamou a loira quando teve uma pena arrancada, e foi aí que o outro demônio entendeu. Uma pena celestial fazia parte da receita da poção. 

— Prontinho, viu? Não foi nada de sete cabeças. — Ela deu de ombros, caminhando até a bolsa na beira do lago e a pegando de volta, guardando a pena na mesma. — Não se preocupa, as sombras vão sumir sozinhas quando já estivermos longe daqui. Sei que é chato ter que assistir o cadáver da ninfa se desintegrando, mas… é só fechar os olhos, hm?

Deu uma piscadela antes de caminhar desfilando como sempre até a cortina de cipós, passando pela mesma. Christopher permaneceu com expressão de paisagem por alguns segundos, alternando o olhar entre a saída e a anjo por um tempo até dizer:

— Ok, eu sei que ela te assusta pra caralho, mas admita que no fundinho até você pegari...

Seu pequeno "desabafo" para Mina foi interrompido pela voz da feiticeira ecoando do lado de fora:

— Chris! 

— Tô indo, patroa!  — Declarou saindo mais do que depressa do ambiente, deixando um corpo e uma traumatizada e confusa anjo para trás.

— Me chamou do que? — Ryujin questionou enquanto andavam e ela fazia as projeções de ilusão de novo inclusive para esconder o sangue nas roupas, como se nada tivesse acontecido. Bang balançou os ombros.

— Você definitivamente ganhou meu respeito depois do que aconteceu naquela cachoeira. 

— E eu já não o tinha antes?

— Nhá, mais ou menos — ela ergueu as sobrancelhas em indignação, vendo Chris rir curtamente.

— Bom, já você… — Disse puxando a gola da vestimenta dele, sorrindo antes de o dar um selar estalado e longo. — Vai ganhar uma outra coisinha depois. 

Bang passou a língua nos lábios em ansiedade, não deixando ela se afastar e a puxando para mais um beijo, a empurrando entre as risadas de ambos até encostar as costas dela na parede de um beco próximo, não resistindo à vontade contínua de beijá-la mais por vários minutos a fio.

— Eu podia te comer aqui mesmo… — retiniu, transparecendo todo o desejo que queimava dentro dele. 

— Tentador — respondeu dando mais um beijo curto e barulhento. — Mas alguém pode aparecer lá na cachoeira e as coisas complicarem pra gente. 

— Argh, merda — xingou ele. — Tem razão. 

— Nesse caso… vamos logo. 

Ela puxou a mão dele pela cidade na direção que dava para a ponte de vidro. Os dois foram andando em passos apressados como se a vida dependesse do objetivo de atravessar a maldita cidade. Até que Ryujin acabou desacelerando o ritmo, até parar. 

— Espera um pouco — pediu, abrindo a abertura dos sapatos — Esses saltos estão me matando e… uepa! 

Ela se interrompeu quando foi subitamente erguida pelo kitsune, que passou a carregá-la no estilo noiva.

— Melhor? 

— Porra — murmurou num riso baixo. — Se soubesse que você ia virar esse príncipe, teria matado alguém com você há tempos atrás. 

— Se eu soubesse que você fica uma gostosa matando, também teria matado alguém com você há tempos atrás — devolveu a fala enquanto caminhava com o peso da mulher em seus braços, o que equivalia a praticamente nada pra ele. — E me explica, como é que você tem remorso de matar uma criança mas um feto não? 

— O feto não era um ser ainda — argumentou dando de ombros. — E não matei ninguém de graça. Foi necessário.

— Hmmm, ok. E como você sabe que a pequena sereia ainda está do lado negro?

— Tenho meus meios — disse num ar malicioso. — Digamos que ele junto com a pombinha invadiram a casa de uma amiga minha. 

— Realmente, é um mundo pequeno.

— Pois é.

— E também, como que sua magia funciona aqui e a minha não?

— Ah, deve ser pelo fato de que eu já fui um ser puro, sei lá.

— Talvez. Bem, e retomando minha frase de mais cedo…

— O que? 

Christopher intensificou o olhar enquanto uma linha fina e lúgubre se repuxava em um canto só da boca.

— Nós realmente somos dois assassinos violentos que odeiam todo mundo.








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Mina estava aos prantos. Presa ao chão e impedida de se levantar ou voar, ela suava frio e sua cabeça pesava junto com seu peito cada vez que cedia ao impulso de olhar na direção da garota no lago. Seus olhos esverdeados agora sem brilho algum, a marca dos dedos que seguraram sua boca ainda presentes em sua bochecha, os quatro furos em sua garganta que a silenciaram para sempre. Como ela havia acabado assim? 

Fechava os olhos e tentava ignorar o nó em seu estômago, se perguntando como havia caído naquela situação de um minuto para outro. Num instante, estava tudo bem, apenas estava no caminho para buscar um pouco de água da cachoeira como fazia todos os dias, e de repente estava amarrada com um cadáver a poucos metros dela. 

Estava surpresa por não ter vomitado ainda. Talvez o trauma que sofreu com uma facada no estômago a fez ficar mais forte. 

Mas o enjoo estava presente, principalmente depois que sua mente passou a se concentrar e trabalhar em inúmeras situações com Jeongin. Ele ainda estava lá, e sabe os deuses que perigos tinha sido exposto ou ainda iria ser, principalmente agora que estava na mira do casal diabólico e nem fazia ideia. 

Talvez não aconteça nada, ou aconteça tudo. Talvez eles o matem mesmo sem Mina falar nada, apenas por achar que ela tenha falado ou porque estavam afim. Talvez lhe dêem o mesmo fim que deram à ninfa, ou pior. Ou…

Talvez o tritão já estivesse morto e Mina estivesse esperando alguém que nunca iria chegar. 

A anjo teve que se segurar para não gritar pelas visões que seu cérebro havia imaginado. Se perdeu no tempo, talvez tenha passado minutos ou horas antes de as sombras em volta dela sumirem, a fazendo se levantar e caminhar devagar para a beira do lago.

Não fazia ideia do porquê, nem conhecia a moça, mas sentiu que não devia a deixar naquele estado, largada como lixo. 

Foi um grande trabalho para a puxar de volta para a grama. Teve que trazer a parte superior do corpo segurando debaixo dos dois braços, e a parte inferior teve que entrar na água e levantar suas pernas, fazendo força até ela ficar deitada na grama. Também a incomodou bastante o fato de seus olhos ainda estarem abertos, por isso os fechou. 

— Pronto, agora você está só dormindo — disse num sorriso leve, acariciando os cabelos loiros. 

Até que a realidade foi caindo pouco a pouco como uma bigorna em seus ombros. Tinha tentado suavizar tudo para ver se aquela dor era amenizada, mas não amenizou. Porque ela até podia estar dormindo, mas nunca mais iria acordar.

Seus sorriso foi sumindo ao mesmo tempo que seus olhos foram embaçando com as lágrimas, a fazendo piscar algumas vezes até franzir as sobrancelhas ao analisar melhor o corpo da garota. Mais especificamente, o local abaixo de seu umbigo. Estava com um sutil volume, imperceptível se você não olhar com atenção.

— Não. — murmurou. — Por favor, não… 

Desejou profundamente estar errada conforme levava a mão até lá. Quando pressionou e sentiu uma saliência inconfundível em seu interior, sua expressão de terror aumentou ainda mais e as lágrimas caíram por seu rosto de vez. 

— Sinto muito. Pelos céus, sinto muito… — lamentou no meio do choro enquanto se abaixava e beijava a testa gelada da garota. — Você não merecia isso. Nem você, nem o seu bebê…

Aquilo fez a fúria queimar sobre sua pele enquanto lembrava do que Tzuyu disse certa vez em Flora. Não era justo. Tantos que ainda tinham muito pra viver, outros que nem sequer tiveram essa chance… massacrados a sangue frio por filhos da puta que continuaram suas vidas plenas e perturbadas, sendo felizes por seus próprios meios sádicos e macabros enquanto tanta gente inocente apodrecia.

Era doentio. Uma mulher morta injustamente junto com seu bebê enquanto Ryujin e Christopher estavam prestes a fazer o deles.

 Isso a fez trazer uma lembrança cruel também. Não era a primeira vez que chorava diante de um corpo de um ninfa por causa do kitsune. Ela o odiava. Por Elijah, como o odiava. Se fosse possível o mundo pegar uma doença terminal, uma delas era Bang. 

Mesmo depois que fugiram e tudo acabou, ainda assim tiveram que lidar com danos colaterais do que passaram naquele porão. Ainda não tinha acabado. Jisung ainda estava lá, Minho e Jeongin também, Mina se revirando de preocupação dia e noite com seu irmão, e Tzuyu saiu com o peso de um luto para lidar. 

Sem contar que ainda tentavam esquecer todos os jogos que foram forçados a jogar. Jisung com facas no corpo, Minho com uma bala no peito e hematomas preocupantes depois de praticamente ter sido linchado, Jeongin quase perdendo a língua...

Incrível que não tinha sido nem Christopher a lançar faca nela no jogo, mas tinha mais raiva dele do que do próprio atirador. Porque foi ele quem decidiu a deixar agonizando e sangrando por pura diversão, e ainda tentou matá-la depois só porque sentiu vontade. 

A questão era que ainda estavam convivendo com todos os danos que os demônios causaram, enquanto eles… estavam seguindo suas vidinhas miseráveis da melhor forma possível como se nada tivesse acontecido. Christopher, Ryujin, Felix, Changbin, Hyunjin, todos eles. Com todas as manchas vermelhas que têm em suas contas, a última coisa que mereciam era serem felizes. 

Se bem que… talvez, só talvez o íncubo esteja fora dessa lista. Analisando meticulosamente, ele foi o menos pior, mesmo sendo o único sem sentimentos. Chegava até ser irônico. 

Mina sabia que ele não era um santo, que devia saber como ser cruel. Mas se sabia não exibiu isso, não pra ela pelo menos. Desde que apareceu, tudo que fez foi ignorar a existência dela e seus amigos e se concentrar em conseguir o corpo de Jisung desnudo em sua cama. Preocupava bastante pensar se havia conseguido ou não, mas essa era outra história. 

De qualquer forma, o máximo de danos que causou foi uma pequena tortura psicológica com Jeongin, mas não era praticamente nada colocando na balança dos feitos do resto dos demônios de elite. Sem contar que foi graças ao seu jogo que fugiram, tudo bem que Hyunjin propôs aquilo com intenções desviadas de empatia, mas independente disso, talvez ainda estivessem enfiados naquele buraco se não fosse por isso.

Além disso, todos ali tiveram uma decisão a tomar em sua vida. Um passado difícil não era desculpa para se tornar um filha da puta. A bagagem de mágoa que a anjo sofreu em sua outra vida era bem grande, mas não foi por isso que resolveu apodrecer sua alma. 

Mas Hyunjin, nem alma tinha. No fundo, Mina tinha pena dele. Ela não fazia a menor ideia de como seria sua vida sem poder sentir nada por aqueles que a amam. 

E Changbin pode até não ter escolhido ser o que é também, mas também não tinha justificativa para fazer um jogo de roleta russa e obrigar um garoto a quase matar o rapaz que é apaixonado. Só queria ver se alguém tivesse feito a mesma coisa com ele e o obrigado a ferir Felix.

No fim de tudo, quem sabe se Hyunjin recuperasse a humanidade, exista a possibilidade de confiar nele. Mas por enquanto, a ideia de Jisung preso com ele vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, não a agradava nem um pouco. 

Depois de assistir dolorosamente o corpo da ninfa se desintegrar, Mina a recolheu e pensou em qual poderia ser o lugar mais apropriado para deixá-la. Decidiu que o melhor seria caminhar até achar a árvore mais próxima, onde espalhou as cinzas nas raízes grossas e deu um último suspiro fundo antes de percorrer o caminho de volta pra casa.

Não estava nem frio, mas mesmo assim abraçava a si mesma, talvez num ato de auto conforto depois do que aconteceu. 

— Mina! Até que enfim — anunciou Tzuyu assim que a loira atravessou a porta de entrada. — Você demorou uma eternidade e… mas o que houve com você? 

"Nada demais, só esbarrei com o assassino do seu melhor amigo."

— E onde está a água que você ia busc... espera, isso é sangue?

Ela nem havia pensado no estado que estava. E sinceramente, não se importava. Não tinha energia para fazer qualquer coisa, seja para pensar, para mentir, ou para falar direito. Por isso, a única resposta que deu foi:

— Preciso deitar, estou cansada. 

— Mas...

Ela passou pela feiticeira antes que fizesse mais perguntas, parando na soleira da porta do quarto por um momento.

— Tzuyu. 

— Hm? — Ela estranhou. Raramente era chamada de "Tzuyu" em vez de "Tzu".

— Precisamos ir para o lado negro o mais rápido possível — a feiticeira reparou que sua voz estava apagada, tão sem vida comparada à seu tom calmo e reconfortante como seda. — Não sei mais quanto tempo vou aguentar longe do Jeongin. 

Ela enfim adentrou seu quarto e a primeira coisa que fez foi tirar aquelas roupas que com certeza nunca mais usaria e tomar um banho bem demorado. E só pra se torturar um pouco mais, o moletom que usou pertencia ao tritão. O aroma impregnado no tecido, um cheiro reconfortante de água do mar que usou para se lembrar de como era abraçar o amigo. 

E assim que deitou em sua cama, permaneceu durante longos minutos na mesma posição, com os braços abraçando as canelas e o rosto enterrado no joelho. E cada vez que fechava os olhos, seu subconsciente insistia em repassar a cena da cachoeira. 

Como será que seria a criança dela? Teria a personalidade com traços mais fortes em inteligência e liderança como Jisung? Ou a coragem como Minho? Talvez a lealdade como Tzuyu? A gentileza como Jeongin? Ou a compaixão como ela?

Seria uma garota ou um garoto? Ou os dois? Ou nenhum dos dois?

Seria mais parecido com a mãe, ou com o pai? Será que puxaria o cabelo esbelto da ninfa ou seus olhos esverdeados? 

Ninguém nunca saberia.

Foi aí que seu estômago decidiu enfraquecer. Correu de volta para o banheiro, despejando todo o efeito físico que as lembranças causaram. E escutou batidas na porta logo depois enquanto enxaguava a boca.

— Mina? — Escutou a voz de Kyan do lado de fora. — Posso entrar? Tzu me falou que você não está muito bem, então trouxe algumas coisas que podem ajudar.

A anjo se esforçou para parecer o menos destruída possível quando abriu uma fresta da porta.

— Saudades dele? — Palpitou, e a loira apenas olhou pra baixo sem dizer nada. — Bem, eu tenho um remédio que pode te ajudar a dormir um pouco e…

— Obrigada — ela esticou a mão para pegar o medicamento, mas seus dedos travaram quando pensou melhor. Se dormir, poderia ter pesadelos imensuráveis que não ajudariam em nada. A única solução seria dopar seu cérebro, então… — Kyan.

— Hm? 

— Vocês tem "plantas especiais" em Flora, não tem?

— Como assim?

— Você me entendeu. 

Realmente não tinha entendido nos primeiros segundos, até erguer as sobrancelhas após compreender ao que ela se referia. 

— An… sim, mas… usamos mais para ocasiões necessárias em vez de lazer, e…

— Ah, por favor — ela formou um sorrisinho irônico. — Não é segredo pra ninguém.

O feiticeiro semicerrou os olhos e olhou na direção de Tzuyu que estava mais atrás, que estava tão perplexa quanto ele. 

— Se quer mais um motivo para desgostar de celestiais, aqui vai: vocês tem fama de chapados entre a gente. Por isso muitos de nós não levam vocês a sério. — Os dois seres da natureza arregalaram os olhos e piscaram algumas vezes, fazendo Myoui dar uma risadinha fraca. — Eu sei que você tem. Preciso disso agora e quanto menos perguntas fizer, melhor.

Um silêncio constrangedor se arrastou pelo ambiente, com os feiticeiros ponderando se valia a pena convencer a anjo do contrário. Até a Chou suspirar em desistência e só dar de ombros. 

— Que se dane, então. Dê pra ela — decretou cruzando os braços, e ele pareceu relutante por mais um tempo até comprimir os lábios e sair do cômodo, voltando pouco depois com o que Mina havia pedido junto de um isqueiro. 

— Tem certeza disso? Quer dizer, v...

— Eu sei como me drogar, Kyan — cortou, esquecendo de medir a grosseria em seu tom. — Valeu. 

Foi a última coisa que disse antes de fechar a porta de volta, trancando-a dessa vez. 

Desesperada para parar de pensar, varreu toda sua bússola moral junto com a realidade do mundo de merda que a cercava quando sentou no chão de sua varanda, prendeu a ponta entre os dentes e acendeu o fogo. 

























Notas Finais


juro que quero fazer uma despedida digna mas tô com sono KKKKK

é isso, comentem e comentem, beijinhos


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