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História Rosa Azul - Hyunsung - O rei do inferno


Escrita por: geniusbang

Notas do Autor


olá piticos

tirei tempo do rabo pra escrever isso aqui porque esse período pré-vestibular tá foda, não quero mais não.

Enfim, se preparem. Apenas isso que tenho a dizer.
Boa leitura🖤

Capítulo 48 - O rei do inferno









Sua respiração se encontrava frenética, os dentes estavam trincados e seus punhos fechados com força, chegando a tremerem enquanto encarava o demônio em sua frente. Impaciente por seu silêncio, ele repetiu:

— Me responda! — Exigiu. — Por que mentiu sobre a merda da minha cicatriz? 

— Olha, eu sei que você está com raiva e tal — falou finalmente. — Mas tem a remota chance da gente adiar essa conversa?

Perguntou mirando o olhar na cama por um momento, visivelmente angustiado pelo seu clímax interrompido. 

— Porra, eu estava quase lá… 

Mas um milésimo depois de sua fala, ele teve que se abaixar para desviar de uma lâmina lançada na direção de seu rosto e fazendo-a fincar na parede, deixando a resposta bem clara. Ele suspirou.

— Ok, parece que vou ter que encarar essa discussão de pau duro. 

— Você é inacreditável — esbravejou indo até seu armário, pegando uma nova muda de roupas. Era bom ter em seu corpo peças que não eram de Hyunjin, para variar. — Qual é a porra do seu problema? Vai dizer que ela magicamente não estava ali antes, é isso? 

Seu tom de voz já estava alterado, e ele poderia até ver como alívio cômico o fato de estar se vestindo enquanto o xingava, mas estava possesso demais para isso. 

— Eu pedi pra você checar justamente porque sabia que seria a única pessoa que não mentiria para mim para me proteger. Então por que mentiu? — Intimou enquanto vestia a camiseta. — Pra me deixar ter a ilusão que eu me livrei da culpa, para depois eu descobrir sozinho e me torturar em dobro? 

Ele nem olhava para o íncubo, tanto por não querer quanto por estar ocupado distribuindo suas armas pelo corpo. 

— Isso não faz sentido, achei que você só perturbava pessoas com motivos. Realmente é tão sádico assim? — Ele suspirou enquanto pegava seu sobretudo e o deslizava para cima nos braços finalmente fitando o mais velho, este que havia se vestido apenas da cintura para baixo. — Essa é a única explicação. A menos que tenha feito isso porque…

No segundo seguinte, se arrependeu de sequer cogitar aquilo. Então deixou sua voz morrer, cruzando os braços e desviando o olhar novamente. Pensar aquilo era uma completa estupidez, sabia disso.

Mas para sua infelicidade, Hyunjin sorriu ladino e tomou a liberdade de completar a frase.

— Porque eu me importo? — lndagou com deboche. — Você bem que gostaria disso, não é? 

Sua respiração falhou diante daquele tom irritante de quem já sabia de tudo. De sua confusão mental, de seus sentimentos, tudo. Ele sabia. Mas como ele sabia? 

— Depois de quatrocentos anos aturando isso, a gente aprende a identificar quando uma presa se apega demais. Mesmo ela escondendo — ele aumentou o sorriso de ironia maldosa. — Engraçado, há pouco tempo atrás você pediu pra eu te machucar pra que conseguisse voltar a me odiar pra se obrigar a matar esse sentimento. Acha mesmo que não percebi? 

Ele fechou os olhos, passando a língua nos lábios. A culpa era sua. 

Por que? Por tantas pessoas que já se apaixonaram pelo arcanjo, por que teve que sentir algo justo por ele? 

— E você disse que tinha funcionado. E logo depois, o que aconteceu? Oh, Hyunjin… por favor, eu quero você… — gesticulou em falsos gemidos, imitando a voz de Jisung antes de dar um riso curto. — O amor é hilário, nem mesmo eu te machucando foi o suficiente para te fazer cair na real. Mas talvez isso faça. 

Ele tombou a cabeça para o lado, dando um passo para perto do mais baixo. 

— Se eu não fosse um ator tão bom, teria gargalhado com aquilo. Hyunjin, por favor, pode ficar um pouco comigo e me abraçar porque você é a única pessoa que eu tenho agora porque meu melhor amigo nem deve conseguir olhar pra mim? — Ele voltou com sua imitação, com uma atuada expressão triste. — Hyunjin, você é mais humano do que pensa. Hyunjin, seus olhos são tão lindos como a própria noite, seu sorriso é formidável… Uh, olha, ossos! Olha, órgãos! Uh, um coração! 

Ele riu mais alto, enquanto o Han permanecia inexpressivo com o olhar baixo. 

— Então foi tudo fingimento? O abraço, as mãos dadas, a confusão e a timidez que demonstrou, a pulsação rápida…

— É claro que foi. — Despejou sem delongas. — O que você esperava, anjinho estúpido? 

Exatamente. "O que você esperava, Jisung?" — repetiu mentalmente. 

— Por favor, Hyunjin, me deixe mostrar que você é mais humano do que acredita para assim eu ter uma chama de esperança que você não é tão desalmado. Eu sei que você não sente nada por mim por agora, mas talvez assim eu me sinta melhor, sinta que comigo vai ser diferente, que eu sou especial e não só mais um brinquedinho seu.

Ele voltou com aquela voz irritante de imitação. 

— Eu imploro, me deixe ter um momento de afeto com você pra eu me sentir menos patético por te amar. Demonstre que se importa comigo, porque eu sou só um gatinho abandonado desesperado por afeto que se apaixonou pela primeira pessoa que não me fez sentir tão solitário nessa minha vida horrível.

Ele caiu na risada de vez, e Jisung talvez devesse estar sentindo raiva. Mas era só… mágoa. A mágoa de saber que quando outras pessoas falavam coisas para te machucar, era da boca para fora.

Mas Hyunjin não tinha sentimentos o suficiente para isso. O que mais feria não eram suas palavras, era o fato de você saber que era a verdade nua e crua. Era o fato de você saber que ia ter que lidar sozinho com essas palavras para sempre, porque ele nunca iria se arrepender.

O demônio era bem pior do que pensava. Ele podia apenas destruir sua vítima, mas não. 

Antes de destruir, ele humilhava. 

— Com toda aquela ceninha e todo aquele discursinho, tudo que eu ouvia por trás era só uma coisa. Me ame!

Ele lançou a última afirmação elevando seu tom de repente ao mesmo tempo que avançou seu rosto na direção dele, o fazendo dar um sobressalto involuntário de susto.

— Me ame, me ame! Hyunjin, por favor, me ame! — Ele ressoava freneticamente com desespero, juntando as mãos com os olhos chegando a lacrimejar com o fingimento. E tudo ficou pior quando ele caiu de joelhos em sua frente, atingindo ainda mais a integridade do arcanjo que ainda restava. — Me ame, me ame, me ame! Hyunjin, por favor, me ame!

Pelos deuses, aquilo ultrapassava todos os níveis de constrangedor. Como havia se colocado naquela situação de um minuto para outro?

E de repente ele parou, fechando a cara enquanto se levantava de novo. 

— E sua resposta é não, Jisung. Eu não te amo. Não importa o quanto esse coraçãozinho triste deseje, eu nunca te amarei. 

Era exatamente isso que temia, se machucar daquele jeito. Ele devia ter se ouvido desde o início, não ignorado aquela voz racional desde o maldito momento que o beijou pela primeira vez. O que mais doía era que tudo isso era esperado de acontecer, mas ele ignorou. Se deixou levar pelos momentos e olha no que deu.

Nunca existiu outro caminho. 

— Eu costumava te ver como meu cordeirinho de ouro por achar que você era a pessoa mais forte que eu já conheci. Mas eu estava enganado — ele ergueu seu rosto pelo queixo, obrigando a fitá-lo. E só para piorar ainda mais a situação para Jisung, ele sentiu raiva de si mesmo por ter deixado aquelas emoções de rejeição se espalharem por seu corpo sem controle, o que ocasionou uma coisa que pela primeira vez em muito tempo não conseguiu conter: as lágrimas. — Own, ele vai chorar? Tsc, é pior do que pensei. 

Ele chegou ainda mais perto, até que conseguisse sentir o hálito dele contra o seu. 

E depois de suas próximas palavras, ele conseguiu. A raiva finalmente veio com tudo, explodindo à sua volta como mortais fogos de artifício.

— Talvez cinco chicotadas não tenham sido o suficiente para você aprender a parar de ser tão fraco. 

Seu olhar se contorceu completamente em pura raiva, então ele agiu. O demônio deu passos desajeitados para trás, esbarrando na cômoda e chegando a quebrar a madeira graças ao impacto do tapa no rosto que recebeu. E depois disso, finalmente conseguiu encontrar a voz para revidar. 

— Você é um tremendo de um hipócrita em acreditar que eu sou o subordinado aqui — falou enquanto se aproximava a passos lentos dele. — Oh, Jisung, você é tão interessante! Por favor, me permita te seguir como uma cadelinha para todo canto para conseguir qualquer migalha do que eu quero de você, porque é só isso que eu sei fazer. Por favor, me dê só um beijo para eu suprir esse vazio que foi colocado em mim injustamente. 

Agora foi sua vez de imitar, formando uma expressão falsa de sofrimento. 

— Por favor, me ajude a esquecer que eu queria muito minha humanidade mas sou covarde demais para lutar mais por ela, porque tenho receio do que posso lidar se eu conseguir, então vou apenas continuar sendo um insensível miserável para sempre, porque é só nisso que eu sou bom.

Ele pegou o rosto de Hwang, o acariciando e sorrindo matreiramente exatamente como o mesmo fazia. 

— Por isso, eu vou ter que me esforçar e trabalhar duro para conseguir arrancar uma esmolinha sua. Mas pra você me ter, basta você estalar os dedos que eu vou vir correndo, como a cadelinha que eu sou.

No calor do momento, mais um tapa do outro lado de sua face foi dado, o fazendo tropicar de novo. E dessa vez foi com tanta força que a marca vermelha dos dedos do arcanjo chegaram a ficar em sua bochecha. 

Depois disso, sua próxima ação foi puxar seus fios escuros. E ficou muito bem satisfeito em ouvir seu resmungo de dor enquanto o Han conduzia sua cabeça para trás até que ele estivesse no chão. 

— Olha, que bichinho esperto. Sabe até sentar — disse em falsa doçura, se agachando e pegando sua mão direita enquanto sorria com simpatia. E um instante depois, o sorriso sumiu e um grunhido de sofrimento saiu da boca do demônio quando Jisung a esmagou até seus ossos quebrarem. — E sabe dar a patinha também. 

Largou sua destra, se levantando de novo.

— Agora, por que não rola? — Perguntou retoricamente antes de chutar agressivamente o abdômen alheio, fazendo ele girar no chão com o impulso.

E apenas assistiu enquanto Hyunjin respirava freneticamente, com a mão machucada encolhida e a outra acariciando a marca em seu rosto, que ardia sem piedade. Com isso, uma risadinha sardônica vibrou na garganta do arcanjo. 

— Por que está achando ruim, querido? 

Ele puxou seus cabelos de novo, fazendo o rosto do demônio virar em sua direção.

— Achei que era assim que cadelinhas gostassem de ser tratadas. 

Silêncio. Mais silêncio. E quando viu aquele sorriso arrogante e impassível começando a se formar no rosto dele, aquele sorriso de quem não havia se afetado nada, Jisung decidiu que não suportaria olhar para a cara dele nem por mais um segundo. 

Após o largar sem gentileza o fazendo cair no piso de vez, não olhou para ele uma última vez antes de sair e fazer a porta fechar atrás de si com força. Porra, estava com tanta raiva que podia esmurrar o primeiro que aparecesse em sua frente. 

Mas assim que saiu de sua moradia, a tal primeira pessoa que apareceu era a última que socaria. Ele estava ofegante, como se tivesse corrido sem descanso até ali. Na mesma hora, a raiva se dissipou de seu rosto e foi substituída por surpresa junto com um aperto de culpa no peito.

— Minho?! 

— Sung… eu… — ergueu o indicador antes de se apoiar nas coxas para respirar um pouco. Mas o Han não deixou ele terminar antes que dissesse o que precisava.

— Minho, eu sinto muito pelo que houve. Eu não quis...

— Não temos tempo pra isso. — Cortou ele. — Eu vim te avisar.

— Avisar o que?

— Jisung, eles sabem.

Agora foi o nervosismo que tomou sua face, fazendo seu estômago congelar enquanto pensava se ele estava dizendo o que achava o que estava dizendo. 

— Sabem… do que?

— De você, Hyunjin… tudo. Eles sabem e estão te procurando por traição. Estão vindo pra cá.

Porra, será que não tinha um mísero minuto de paz? 

Mais uma coisa que já sabia que era provável de acontecer. É claro, o arcanjo na boate, a sensação de que estava sendo observado aquela vez quando Hyunjin o usava como boneca de salão de beleza. Tantos sinais que ignorou… merda! Não deveria ter se distraído tanto com o íncubo e ouvido sua intuição.

E agora sua vida estava acabada. 

— Quando?

— Agora. Siwoo está comandando pessoalmente a busca. Você precisa sumir, vou tentar distraí-los. Depois podemos nos encontrar para tentar pensar em algum plano decente, tem ideia de onde se esconder? 

Han hesitou por alguns segundos, olhando na direção de sua casa. Se os arcanjos já estavam chegando, iriam encontrar Hyunjin lá e Siwoo com certeza não pouparia esforços para tentar arrancar informações do demônio. Ele iria sofrer. 

— Jisung, ei. Ouviu o que eu disse? — Chamou o Lee, fazendo o outro virar o rosto novamente. E bastou alguns segundos de reflexão para tomar sua decisão.

Que Hyunjin se foda na mão daquele desgraçado. Nunca mais iria mover um dedo para protegê-lo. 

— Sim, sei onde posso me esconder. 

Ele falou o local que tinha em mente, e Minho afirmou com a cabeça em concordância. Era bom vê-lo de novo e saber que o amigo ainda se importava com Jisung para tentar livrar sua pele. Não tinha o perdido afinal, mesmo depois de trocá-lo por alguém que não devia.

— Minho. — Chamou uma última vez. Mesmo que perca segundos cruciais, precisava lembrá-lo disso. — Eu amo você. 

O outro arcanjo sorriu em resposta, o puxando para um abraço apertado. 

— Eu também, seu idiota. Amo você e sempre vou amar.

Jisung se derramou em alívio ao ouvir aquilo. Era o curativo que precisava receber nas feridas do coração que Hyunjin causou. Nem acreditava que precisou daquilo para passar a dar valor à pessoa certa. Ele sim, merecia seu amor. 

— E por isso vou sempre querer o melhor para você. — Disse após se separar, e os dois trocaram um último olhar afetuoso antes de Jisung disparar com pressa pela cidade de Speculo. 

E sim, precisava ir para o local que havia indicado à Minho. Mas precisava resolver uma coisinha antes, e essa coisinha se localizava no lado negro. Mais especificamente dois reféns que havia feito, tudo para salvar o couro do íncubo. Devia ter deixado que aqueles dois chegassem até Ryujin e assistir de camarote com um saco de pipoca enquanto ela o despedaçava. 

Seus passos eram determinados conforme atravessava a ponte e chegava até o outro lado da cidade, não deixando de ouvir as conversas paralelas enquanto andava pela calçada. Uma notícia que havia chocado o mundo sobrenatural inteiro, ninguém falava sobre outra coisa.

Bom, aquela informação iria ser ótima para usar para o que ia fazer. 

Enfim entrou no colégio, reprimindo cada lembrança que quis se manifestar no caminho até o porão com as celas, este que parecia ter sido mantido preso há um milhão de anos atrás. 

Seu passar pelas escadas acordou o rapaz do outro lado das grades, este que acompanhou Jisung com um olhar hostil até ele estar em sua frente. 

— Veio me deixar semimorto também? 

— Não. — Falou tomando a chave em seu bolso, esta que anteriormente havia deixado escondida em uma das salas de treinamento. 

O ghoul ergueu as sobrancelhas em descrença quando encaixou o objeto na fechadura, abriu a porta e passou por ele, indo até Felix desacordado no chão e puxando a lâmina dourada de seu abdômen.

No segundo seguinte, o garoto arregalou os olhos enquanto consumia o ar e o devolvia de volta como se tivesse acabado de sair de um tanque de água, erguendo o tronco num solavanco. 

— Tá, vou ser breve. Não tenho muito tempo. O que aconteceu foi que a gente lutou, eu fiz você desmaiar e usei um dos poderes únicos do meu Cicatriz do Amanhã para você não acordar.

Ele exibiu a arma, a girando nos dedos. 

— Quando eu cravo ele em um corpo desacordado, isso faz com que esse corpo se mantenha nem morto, nem vivo. Um coma, basicamente. Não causou cicatriz por você não ter sentido dor por estar inconsciente, mas tinha uma regra: só eu podia tirar a faca. Porque se Changbin tivesse tirado, você acordaria, sentiria toda a dor e aí sim ficaria com cicatriz. Então mantive vocês aqui por alguns dias, com seu namoradinho cuidando de você sem encostar na arma até eu decidir o que faria.

Ele contava tudo aquilo com uma naturalidade absurda, com Felix tentando processar o que houve antes de olhar para Changbin, que confirmou a história com um aceno de cabeça.

— E por que não nos matou de uma vez? — Lee perguntou por fim. — Você teve essa chance.

Jisung deu de ombros. 

— Acho que foi por saber que eu me arrependeria de ter protegido Hyunjin. E foi o que aconteceu. 

Com sua revelação, o casal trocou sorrisos maliciosos antes de voltar a atenção para o arcanjo. 

— A gente tentou avisar, arari-

— Tá, tá. Foda-se, isso é problema meu. Você tem um bem maior para se preocupar agora. 

Felix franziu o cenho, gesticulando para que ele continuasse.

— Você provavelmente está com raiva pelo que eu fiz, mas tem duas opções. Ou a gente resolve isso, o que não vai levar à porra nenhuma, ou economiza essa raiva para tomar uma atitude em relação aos boatos que eu soube enquanto vinha pra cá.

— Que boatos?

Jisung deu uma pausa para respirar, se preparando para dizer. Nunca era fácil dar uma notícia daquela.

— Ryujin está morta. 

O acastanhado o olhou com cara de paisagem por um tempo e até chegou a dar um riso nasal, pensando que era algum tipo de piada de mal gosto. Mas Jisung se manteve sério.

Quando percebeu que não se tratava de uma brincadeira, Felix piscou algumas vezes enquanto sua respiração falhava. Se levantou do chão devagar, mas seu passar se atrapalhou e seu corpo amoleceu, só não caindo novamente por causa de Changbin que o segurou, tão atônito quanto o outro. 

— H-Hyunjin? — Gaguejou ele, e o Han balançou a cabeça negativamente.

— Christopher. 

Felix arregalou os olhos, perdendo o equilíbrio de vez. Vendo ele despencar nos braços de Changbin, foi difícil acreditar que o mesmo sociopata que cometeu um genocídio contra sua espécie e que o torturou era aquele mesmo homem completamente desnorteado por uma perda. 

— Faça o que quiser com essa informação. — Foi sua última declaração antes de guardar o Cicatriz do Amanhã e sair, deixando os dois sozinhos. 

Lee se afastou devagar, cambaleando enquanto cobria a boca com a mão, inspirando e expirando como um corredor. 

— Lix… 

— Não. — Interrompeu com a voz baixa. — Agora não. 

O ghoul o deu espaço, deixando ele ir até a sala da feiticeira do lado do porão. E como sempre, aquele sentimento que o dominava em qualquer situação, veio. A raiva. 

Como deixou aquilo acontecer? Por que Ryujin não contou nada antes que fosse tarde? Ele tinha a incentivado a se aproximar dele, confiou naquela raposa traiçoeira…

— Puta que pariu! — Gritou antes de pegar um dos frascos que havia na sala e atirar na parede, fazendo-o se espatifar no chão. Como pôde ser tão idiota? Como…

— Se acalme, cabeça de escama. Vai quebrar minha sala inteira. 

Felix se assustou e se virou, olhando para os cantos pensando ter imaginado a voz dela falando com ele. E quando estava quase convencido disso, a figura saiu da sombra da outra entrada, o fazendo esbugalhar os olhos.  

— Mas o que? Você… você não estava…

— Morta? Ah, eu estou. Que lástima, não é? — Fez em um falso biquinho de tristeza. — Para todo mundo, inclusive Ethan, eu estou. É melhor que ele pense que saí de cena por enquanto. 

Ela se sentou no sofá e contou tudo sobre o plano do feiticeiro, os detalhes de como os dois o enganaram com a ilusão, sobre Soyeon, o que planejavam para pará-lo, tudo. E quando terminou, Felix a encarava como se ela estivesse falando árabe. 

— E eu preciso da sua ajuda. Seus poderes serão bem úteis — ela sorriu com empolgação. — Então, topa? 

 Lee permaneceu a fitando sem dizer nada por um tempo, até soltar um riso enfeitado de deboche. 

— Podia ter me contado antes, ia me poupar desse susto. 

— Não queria contar da Soyeon antes porque nem eu tinha aceitado ainda que ela estava de volta, e isso com o Chris foi uma bagunça total. Tudo aconteceu muito rápido, eu não tive tempo. Mas vim te falar assim que pôde pra te mostrar que eu estou bem. 

— Ah, jura? Que fofa — ironizou cruzando os braços. — Me parece que você só veio me contar tudo porque precisa de mim. 

— É assim que você trata sua irmãzinha recém-ressuscitada, Felix? — Falou erguendo uma sobrancelha com um sorriso linear, fazendo-o revirar os olhos.

— Quer saber? Se realmente desse a mínima pra mim, você estaria aqui em vez de usar esse teatrinho de somb...

Sua fala foi cortada com ela de repente lançando as costas da mão na direção da maçã de seu rosto, o dando um tapa e calando a boca do meio irmão.

— O que dizia? — Indagou presunçosamente, o fazendo encolher os lábios antes de dar um sorriso sem graça.

— Nada não.

Ela esperava que ele a xingasse mais, revidasse o tapa ou coisa parecida, mas ele fez a última coisa pra qual estava preparada: a puxou para um abraço.

— Que isso? — Perguntou com estranhamento, mantendo os braços parados em choque enquanto os dele estavam ao redor de seu pescoço. 

— Por um momento achei que tinha te perdido, Malévola falsificada — desabafou, fazendo um sorriso espalhar em seu rosto antes de ela retribuir o contato. Seu pai podia ser um filho da puta, mas se ele acertou em dar aquele escamoso idiota para sua vida, ele acertou. 

— Mas ué? — Ouviram Changbin dizer quando entrou na sala, fazendo ambos se afastarem em um pulo. 

— Então, é… explico depois. Mas tô viva.

— É, notei — falou o ghoul num riso baixo enquanto Ryujin foi até uma das paredes rochosas, emitindo um brilho prata das mãos e fazendo uma abertura surgir na mesma, revelando dois pequenos compartimentos dourados guardados. 

— Essa é a poção que vai trazer Soyeon de volta, e a outra é de reserva. Para uma emergência. Sua função vai ser trazê-las para a Ignis Island, e preciso de mais uma coisinha.

— O que?

— Os Cálices da Quatro Estações. 

— Mas eles não tinham…

— Sido destruídos? É o que o povo de Flora quer que a gente pense. Mas eles existem, e serão úteis para nossa missão. E vocês dois que vão ficar encarregados de pegar da atual Guardiã. Sabe, por livre e espontânea pressão. — Ela sorriu perversamente junto com o casal, que pareceu curtir a ideia.

 — E caso ela seja osso duro de roer? — Changbin perguntou, fazendo o sorriso dela aumentar. 

— Ela tem um irmão. 

— Uh, delícia — comemorou Felix enquanto estalava o pescoço. — Eu bem que estava com saudade de causar um medinho básico.

— Só não o mate. Já temos dor de cabeça demais pra lidar com Flora putassa com a gente. 

— Vou pensar. — Ryujin riu diante da expressão de criança prestes a aprontar do irmão, balançando a cabeça negativamente.

— E então? — Indagou entregando os dois fracos para ele. — Está comigo? 

Felix alternou o olhar para o rosto da mais velha e as mãos dela, pegando os objetos para si por fim.

— Só se eu puder arrancar cabeças à vontade. 

— Fechado. — Felix soltou um "Yey!" em comemoração enquanto dava pulinhos. E os dois estavam prontos para saírem, mas a voz dela os fizeram pararem de novo. — Er… tem mais um detalhe. Eu meio que vou ter que trazer Lúcifer de volta. 

— Agora é piada, né? — Falou Lee antes de passar a língua na bochecha interna. 

— Não. Eu descobri que manter a alma dele aprisionada é o que está atrasando a recuperação dos meus poderes, então, fazendo isso eu fico mais forte e teremos mais um aliado. Dois coelhos em uma cajadada. Que pessoa melhor pra matá-lo do que seu maior inimigo? 

— Nem pensar. — Decretou rapidamente, fazendo a Shin suspirar. — Se for pra ficar olhando pra cara dele, eu tô fora.

— Ah, qual é. Eu também não gosto da ideia. Você não vai precisar falar com ele, ok? Como eu o aprisionei, vou tê-lo sobre total controle. Não vou deixar ele machucar nenhum de nós dois, eu prometo. 

Felix bufou, mas acabou balançando os ombros num sinal que havia cedido. 

— Tá liberado pra eu socar gostoso a cara dele?

— Depois, com certeza. 

— Então eu topo. E quando planeja trazer ele de volta?

Ela pegou o pote de sua coleção, olhando para o mais novo com receio.

— Agora.

— Agora?! 

— Quanto antes resolver isso, melhor.

Felix perdeu a fala, mordendo os lábios com nervosismo. Nem teve tempo de se preparar e…

— Sabe que não precisa ficar se não quiser — tranquilizou Changbin colocando a mão no seu ombro, e o Lee tomou ar de novo enquanto mudava sua postura para uma determinada. 

— Quer saber? Vou ficar sim. Não quero que ele pense por um momento que é importante o suficiente pra eu evitá-lo. 

— Certo. — Declarou a feiticeira antes de remexer os dedos contra o vidro, encolhendo os lábios. Ela também estava nervosa. 

Tomou fôlego uma última vez, fechando os olhos e deixando uma luz cinza se espalhar em volta do pote até deixar cair e quebrá-lo no chão. O trio se afastou quando a resplandecência começou a crescer, sendo obrigados a colocar o braço na frente dos olhos quando se tornou tão forte a ponto de assumir o risco de ferir suas visões.

Quando enfim sentiram segurança para olhar de novo, os dois irmãos não conseguiram evitar de engolir o seco com o corpo do homem ao chão começando a se remexer enquanto abria os olhos devagar, levantando o tronco enquanto espreguiçava os braços como se tivesse saído de um sono profundo. 

Depois que focou a visão para as três presenças à sua volta reconhecendo os dois filhos, um sorriso largo tomou seu rosto antes de anunciar:

— Reunião de família? 

E assim que seu olhar pousou em Felix, teve a certeza de sua dúvida. Definitivamente não dava para lidar com aquilo.

Mesmo parado, os sinais foram bem claros. Encarava fixamente o ex-arcanjo deixando explícita sua raiva tanto tempo reprimida, sua pulsação começando a acelerar mesmo sem se mexer, a adrenalina tomando conta de seus músculos e os fazendo estremecer, o maxilar trincado e aquele olhar…

— Felix. — Chamou Ryujin em repreensão, mas as palavras não chegaram aos seus ouvidos.

Uma tensão se instalou no ambiente e assim que seu ritmo respiratório se tornou sonoro, dava para notar Changbin dando passos cautelosos na direção do Lee enquanto erguia os braços de modo lento, se preparando para o que sabia perfeitamente o que viria. 

Um grunhido raivoso foi tudo o que conseguiu ser ouvido na sala antes do garoto voar na direção de Lúcifer, suas mãos sedentas por violência parando a milímetros do rosto alheio antes de ser segurado com força pelo ghoul. 

— Epa! — Ressou Lúcifer antes de andar alguns centímetros para trás. Ryujin suspirou como se já esperasse aquilo, olhando para o meio irmão com complacência enquanto Changbin firmava os braços em torno de seu tronco.

Ele se debatia compulsivamente, suas feições contorcidas em ódio enquanto repetia "Me solta!" com sua voz ainda mais grave que o normal. 

— Tire-o daqui — pediu a feiticeira calmamente para o Seo, que afirmou enquanto tentava puxar o namorado com cuidado para fora, este que ainda relutava sem descanso. 

— Amor, por favor — pediu ele com a voz paciente contra o ouvido alheio, como se estivesse falando com uma criança. — Não quero acabar te machucando. Vamos sair daqui. 

Depois de mais um tempo ainda tentando se livrar dos braços robustos do outro, caiu a ficha que não valia a pena. Então acabou se deixando ser conduzido para fora, dando um último olhar letal para Lúcifer antes disso. 

Ele subia as escadas a passos tão pesados que podia fazer o chão tremer, andando até a sala de treinamento em cima do porão com Changbin o levando pelos ombros até o sentar na cadeira.

Foi ali que deixou tudo sair. O ghoul esperou ele tentar controlar a respiração e a tremedeira para falar qualquer coisa. A emoção foi tanta que lágrimas de raiva acabaram escapando.

— Não consigo. — Dizia ofegante, passando a mão na bochecha molhada para limpá-la. — Achei que podia fazer isso… mas não dá. 

— Está tudo bem. 

— Não, não está! — Pronunciou chutando a mesa ao seu lado, fazendo o móvel deslizar agressivamente e causando estalo alto do mesmo se chocando contra a parede. — Eu achei que estava conseguindo lidar com isso. Por que eu não consigo me controlar?! 

— Porque ele te machucou. — Explicou pegando as mãos do acastanhado e as acariciando. — Você tem motivos de sobra para estar magoado. 

— Eu sei, mas Ryujin sofreu bem mais na mão dele e lá está ela plena conseguindo conversar com ele. Por que eu não consigo ter maturidade pra fazer isso?

— Ei, ei. Nem pense nisso — agora falou com o tom de voz mais firme, segurando o rosto do Lee. — Não é culpa sua. Nunca se sinta culpado por sentir alguma coisa, entendeu? Nunca. 

Ele acariciava a face dele com os polegares, se inclinando para deixá-lo um beijo na testa. Até que tirou uma das mãos para apoiá-la na coxa dele, fazendo a mesma parar de quicar sem intervalo. 

— Entendeu? — Repetiu e Felix sorriu fraco antes de afirmar com a cabeça. — Você evoluiu sim, nem se atreva a pensar o contrário. Se fosse o Felix de antes, me daria um soco na cara por segurar você, tacaria o foda-se para tudo e o estrangularia. Mas você se conteve o suficiente para me deixar te tirar dali. Tá vendo? É um grande passo. 

Ele fechou os olhos enquanto absorvia as palavras, aproveitando a massagem facial do dedo dele. 

— Desculpa por te fazer lidar com isso.

— Desculpa é meu pau. Eu prometi que estaríamos juntos nessa, então eu vou sim estar aqui pra você quantas vezes for necessário. Ponto final. 

Ele abriu os olhos de novo no meio de um sorriso, finalmente abrindo os pulsos que antes fechava com tanta força que os nós dos dedos chegaram a ficar brancos, levando as mãos agora mais relaxadas para os braços dele com o plano de puxá-lo para perto, e Changbin não hesitou em fazê-lo. 

Um beijo iniciou, suas línguas roçando lentamente enquanto Felix desencostou da cadeira para aprofundar ainda mais o contato, passando as mãos nas costas do ghoul enquanto as dele permaneciam em seu rosto. Pelo inferno, como amava aquele cara. 

Ele viu ele de afastar, fazendo Felix suspirar pesado em frustração antes de Changbin voltar para perto com um taco de madeira nas mãos. 

— Aqui. Pega isso, vai para o pátio e bate nas árvores até derrubar cada uma. Vai se sentir melhor.

Os olhos dele brilharam com a proposta, olhando afetuosamente para o namorado enquanto pegava a arma.

— Você me conhece tão bem.

O ghoul deu um sorriso convencido junto de uma piscadela enquanto Felix mandou um beijinho no ar e foi a passos empolgados para fora. Em seguida, Changbin desceu as escadas e voltou para a sala novamente. A primeira coisa que fez foi interromper o diálogo de pai e filha metendo um soco bem no meio do abdômen de Lúcifer, o fazendo perder o fôlego na hora e arquear o tronco.

— Isso é pelo mal que fez ao Lix. Obrigada, de nada.

Ele levou um certo tempo para recuperar a respiração e para endireitar a coluna para responder qualquer coisa, puxando o ar e soltando pela boca. Ryujin encolheu os lábios para conter o riso.

— Cacete, você é fortinho hein? — Observou com as mãos no abdômen. — Então você é o meu querido genrinho, eu presumo.

— É. Perdoe-me se Felix não comentou com você, acho que estava ocupado demais estar perdendo toda a vida dele por tê-lo abandonado. 

Ele parecia prestes a abrir a boca para retrucar, mas a voz da primogênita chegou antes.

— Eu queria que tivéssemos tempo pra isso, mas não temos. Recapitulando: você vai nos ajudar a destruir o Ethan de vez. Mas se fizer qualquer gracinha, te aprisiono de novo sem previsão para voltar.

— Uh, você querendo matar o Ethan? Da última vez que nos vimos, você estava bem aliada dele e… uepa, se acalma, garota. Abaixe essa mãozinha. Foi só uma piada para quebrar o gelo, cruzes.

Ryujin ergueu uma sobrancelha apagando o vapor prateado em suas mãos, colocando-as na cintura. 

— Bom, se o plano é massacrar o Ethan, então contem comigo — declarou com um sorriso, vendo o rosto da feiticeira ganhar um ar malicioso.

— Só cuidado pra não ficar nostálgico e acabar essa briga na cama com ele.

— Ha, ha — riu ironicamente. — Enfim, antes de embarcarmos na guerra, uma pobre alma em abstinência recém libertada pode degustar uma bebida? 









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Cólera. Não existia palavra melhor que resumia aquela batalha. As espadas dos dois adversários dançavam uma contra a outra sem descanso, e nenhum havia conseguido causar um ferimento grave no outro. Era emocionante de assistir, tanto ao ponto de todos os demônios pararem de se enfrentar para não perder nenhum detalhe. 

— Ah, voltei na hora certa — anunciou Felix já recuperado, sorrindo enquanto via mais à distância Lúcifer e Ethan perambulando pelo espaço, investindo um contra o outro e desviando quando requisitado. — Tem pipoca aí? 

Perguntou para uma demônio qualquer que estava ao seu lado, fazendo ela franzir o cenho. O Lee deu de ombros descontraidamente, voltando a atenção para o duelo. 

— Que tal assim — falou Lúcifer no meio do tilintar fino das lâminas. — Cada um paga uma mamada pro outro pra resolver as desavenças e estamos quites.

Mas Ethan não estava para brincadeira, obrigando o outro a dar um pulo para escapar do corte nas canelas, e mal deu tempo de ele firmar os pés no chão de novo antes de ser derrubado com uma rasteira. Foi obrigado a largar a espada e usar as duas mãos para segurar o antebraço do oponente quando o mesmo se abaixou e avançou a sua na diagonal, impedindo que a parte lateral da espada cortasse seu pescoço. 

Se não fosse um contexto tão mortal, aquela cena seria um tanto quanto sugestiva. O feiticeiro se encontrava em cima do ex-arcanjo, este que estava com as pernas abertas enquanto uma das de Ethan estava entre suas coxas, o joelho apoiado no chão. Mesmo com a arma cada vez mais perto de sua pele, Lúcifer não pôde evitar de sorrir perversamente com a posição.

— Como nos velhos tempos?

Ethan deu um riso com deboche, forçando ainda mais a lâmina.

— Nunca leva nada a sério, não é? — Pronunciou entredentes, vendo uma sobrancelha alheia se erguer em flerte.

— Ah, para com isso. Não finja que não sentiu saudade… 

Em um ato ousado, ele reuniu toda sua força para dar um impulso para frente, colocando a espada longe da zona de perigo para avançar o rosto na direção dele, roubando um selar e fazendo os olhos de Ethan arregalarem. 

Aquela foi a distração perfeita para empurrá-lo de vez para longe, se pondo em pé e pegando sua espada de novo. O feiticeiro tentou rolar para o lado para escapar do ataque, mas não conseguiu fugir de um corte na costela que o fez gemer baixo de dor. E um segundo depois, lá estava sua espada a metros de distância após ser chutada por Lúcifer, com a ponta da sua apontada para sua jugular. 

— É, mesmo "não levando nada a sério", parece que ainda luto melhor que você — declarou com um sorriso vitorioso, fazendo Ethan suspirar.

— Talvez. Mas eu agradeço — o sorriso sumiu, fazendo-o franzir as sobrancelhas.

— Pelo que?

— Por isso. — Disse exibindo a chave da coleira que na teoria era para estar no seu bolso, fazendo Lúcifer esbugalhar os olhos e até tentar fazer algo para impedir, mas o "clic'" do colar se abrindo e uma fumaça espessa vermelha pegando seu corpo e o lançando para longe veio bem antes. — Agora deixa eu só… 

Gesticulou se levantando e tirando a coleira de vez, fazendo os telespectadores se alarmarem e entrarem em posição de ataque. Aquilo não era nada bom.

— Bem melhor — declarou com alívio, jogando a coleira longe antes de estalar o pescoço elevando a cabeça para os dois lados. — Então, onde estávamos? Ah, é. Numa disputa mortal de poder. 

Ele foi dando passos de ré, um sorriso radiantemente sádico tomando conta dos lábios. 

— Acabou o recreio, crianças. Então, vocês querem ver poder? 

Os olhos dele brilharam numa sede de sangue imensa, o vermelho vivo nas suas íris igualmente proporcional ao círculo de chamas que começou a crescer diante dele.

— É poder que terão. 

Quando sua figura virou fogo e começou a aumentar num nível preocupante, os outros recuaram alguns passos enquanto seus rostos acompanharam a silhueta cada vez mais enorme, até tomar a altura de pelo pelos sessenta metros. Talvez até mais.

E quando a chama passou e conseguiram ver claramente o que teriam que enfrentar, o ar do grupo fugiu completamente. 

— Puta… — Começou Ryujin.

— Que… — Continuou Christopher.

— Pariu. — Terminou Felix. 

— Agora… — Changbin iniciou de novo.

— Fodeu de vez. — Lúcifer finalizou por ele. — Ei, virar um dragão gigante é trapaça! 

Gritou cruzando os braços como uma criança emburrada, congelando quando a criatura olhou na sua direção.

— Ele já tinha feito isso alguma vez? — Perguntou Ryujin, ainda estática.

— Não, essa é a primeira — respondeu Bang, contorcendo o rosto em pavor quando ele tomou fôlego. — Salve-se quem puder!

 O jato de fogo disparou para todos os lados, queimando as árvores e também alguns corpos que não conseguiram correr a tempo. Inclusive Lúcifer, que caiu no chão xingando alto com a perna carbonizada. 

Ryujin se escondeu em uma das árvores, olhando na direção da casa. Precisava chegar lá para salvar a outra pessoa que faltava com a poção. Ela pegou o outro frasco que achou no chão da floresta, enquanto ainda estava na forma de tigresa depois da luta com Christopher. Segurou o recipiente fortemente, tomando fôlego de coragem por alguns segundos. 

Tirou os saltos para facilitar, correndo o mais rápido que conseguia em direção a porta. Estava de costas para Ethan, então talvez ele não a veja. Mas seus olhos saltaram para fora das órbitas quando a cauda escamosa voou a toda potência em sua direção. Não tinha espaço para deslizar, e era alta demais para pular. Então não teve tantas opções a não ser ter o corpo lançado para trás até bater as costas contra uma das árvores, amaldiçoando mentalmente. 

Tinha que dar um jeito de confundi-lo por um tempo para que ninguém se machucasse demais, por isso usou boa parte de sua magia para lançar o feitiço de ilusão por um perímetro que cobria todas as presenças ali, fazendo as mesmas sumirem aos olhos de Ethan. Embora não fosse durar tanto, já era alguma coisa. 

Ela acelerou o passo de novo, conseguindo entrar na moradia e subindo as escadas para o quarto de Christopher, vendo quem procurava totalmente amarrada contra a parede com aquele olhar vazio de sempre. 

Ryujin foi até ela rapidamente, abrindo sua boca e despejando o líquido goela abaixo, se afastando em seguida. 

Assistiu ela fechar os olhos antes de começar a se contorcer graças ao efeito, balançando a cabeça como se estivesse um animal pequeno em cima dela. A alma dela já havia sido libertada pela feiticeira antes mesmo de virem para a ilha, então não tinha erro. 

Até que a serafim ergueu a cabeça, piscando algumas vezes até sua visão focar na mulher à sua frente, a fazendo mexer as mãos nervosamente.

— Soyeon…? 

Ela ficou em silêncio por mais um período torturante, até a voz dela finalmente chegar aos seus ouvidos depois de séculos. 

— Ryujin? — Disse desorientada e a outra garota respirou fundo, conseguindo dar um sorriso mínimo. — O que… o que aconteceu?

— Um filho da puta te ressuscitou e usou você como uma marionete, e eu acabei de te libertar. De nada. 

A serafim a encarou com uma expressão vaga, olhando em volta enquanto remexia as mãos como se estivesse conferindo que aquilo tudo era real. Era bom vê-la de novo, no fim das contas.

— Por que? — Acabou perguntando, fazendo-a hesitar na resposta.

— Se for pra ter você de volta, prefiro como uma ex rancorosa do que como uma arma de um maluco — disse se aproximando lentamente. — Eu vou te soltar agora. Não vai tentar me matar? 

A Jeon deu um sorriso tranquilizante com a pergunta.

— Fui eu que brinquei com seus sentimentos para tentar te matar. Quem deveria estar com raiva é você. — Ela sorriu de volta, mexendo a mão e fazendo as cordas se soltarem apenas com aquele simples movimento. — Um soco de cada uma e estamos quites? 

— Feito. — Logo após ela declarar aquilo, deixou que a serafim avançasse o punho contra seu rosto, e depois disso foi sua vez. — Ótimo, agora pode nos ajudar a matar um dragão assassino que por sinal é o filho da puta que te controlou?

— Fechado.

As duas correram para fora da casa, e Ryujin logo depois de passar pela porta foi obrigada a formar um escudo de sombras em cima da dupla quando um turbilhão de chamas veio na direção das duas. 

— Minha nossa — ofegou Soyeon ao encarar a criatura, sentindo um tremor tomar sua espinha. 

— Aí, Ryujin! — Chamou Felix à distância. — Não podia ter escolhido um sogro melhor não?! 

Soyeon ergueu as sobrancelhas com a informação, olhando para a feiticeira à espera de explicações, esta que deu um sorriso nervoso enquanto balançava os ombros.

— Longa história. Fica para depois — disse desmanchando o escudo quando o fogo acabou, tapando os ouvidos assim como o resto quando o dragão rugiu em sua direção, furioso por ter sua Guerreira de Ouro libertada. — Se a gente sobreviver. 

Elas correram para longe da linha de fogo, vendo Changbin, Felix, Christopher e o resto do exército que sobrou tentando fazer algum efeito em Ethan com suas armas. Sim, os demônios podiam até estar ali por servir ao trono do inferno, independente de quem estivesse sentado nele. Mas agora as coisas mudaram. O feiticeiro iria matar qualquer um que pudesse, pouco se fodendo se estavam do seu lado ou não. Foi questão de sobrevivência. 

Mais à frente, conseguiu ver Lúcifer ainda agonizando de dor. Ela foi até ele, agachando ao seu lado.

— Você não tinha regeneração?

— E tenho. Mas as chamas dele são encantadas para atrasar essa habilidade.

— Desagraçado… — retiniu baixo, chegando mais perto do rapaz. — Pai, você o conhece melhor que ninguém. Se tem alguém pode ter a menor ideia de como vencer aquela coisa, é você.

— Não há como vencer — falou abaixando o olhar, deixando as memórias aflorarem em sua cabeça. — Ele já se transformou uma vez. O exército inimigo tentou de tudo, Ryujin. Mas nenhum sobreviveu para contar a história. Nessa forma dele, nada pode pará-lo. 

A feiticeira fechou os olhos, visivelmente com medo. Não era o plano sair dali sem alguém ou até mesmo ninguém sair.

— A menos que vocês tenham outra criatura mística escondida no bolso que possa ter a menor chance de competir com ele, estamos todos ferrados. 

— Talvez tenha. — Afirmou uma outra voz de repente, fazendo os três virarem para Felix que veio sabe lá de onde parado atrás deles. — Sabe, tem outros poderes meus que eu não mostrei além de presas… 

Ryujin o olhou de cima a baixo com desconfiança enquanto se levantava, andando até ele. 

— O que vai fazer?

— Resolver as coisas da mesma forma que resolveu com Christopher. De fera para fera. 

Ela viu um brilho familiar em seus olhos, um que chegou a assustá-la. Só havia visto aquele olhar macabro e homicida uma vez: quando incinerou metade de Aurum. 

— Esperei anos pela oportunidade de usar isso. — Declarou virando as costas, começando a correr em direção à floresta.

— Aonde vai? — Perguntou alto. 

— Confia, vou precisar de espaço. 

Mesmo sem entender nada, Ryujin acabou dando um último olhar a Lúcifer, tão perdido quanto ela.

— Não olhe pra mim. Você o conhece melhor que eu. 

— Olha, detesto interromper... mas não deveríamos estar lá ajudando o resto? — Sugeriu Soyeon e Ryujin afirmou antes de retornarem ao campo de batalha, fazendo seu coração disparar em pânico ao ver a cena que viu.

Ethan arrastava Christopher com suas garras na sua direção, vendo o mesmo se debater tentando se livrar. 

— Não! 

Ela não pensou, apenas agiu. Correu desesperadamente na direção deles, mesmo que nem tivesse certeza do que fosse fazer. Só sabia que precisava impedir aquilo. 

— Ryu! — Chamou Soyeon no meio do caminho, a dando um por cento a mais de chance ao lançar uma de suas flechas celestiais na sua direção. E logo após agarrá-la, teve que usar todas as suas habilidades de mira com o arco que achou no chão e posicionar a flecha o mais rápido possível enquanto Ethan tomava fôlego, pronto para transformar o filho em cinzas.

Ela disparou, acertando em cheio no meio do peito e fazendo-o perder o ar que puxou.  

Seu plano era pegar Christopher e ir para longe dali, mas não foi o que aconteceu. Ela soltou o arco, reverberando alto e sentindo seu couro cabeludo queimar ao ser puxada para cima pelos fios pelo feiticeiro. 

Só parou quando estava na altura do rosto dele, encarando os assustadores olhos vermelhos. A soltou por um momento, a jogando para cima para fechar os dedos em torno dela. E apertou, apertou dolorosamente até não conseguir respirar.

— Ethan, para! — Exigiu Christopher, quem estava também aprisionado pela garra esquerda. — Sua briga é comigo, deixa ela em paz! Seu covarde de merda! 

Ele tentava libertar pelo menos o braço para alcançar a espada, mas de nada adiantava. O kitsune sabia perfeitamente o que ele estava fazendo, olhando presunçosamente para o ruivo enquanto sufocava a feiticeira. Estava o obrigando a assistir de camarote enquanto ele a matava. 

Seu desespero aumentou quando Ryujin fechou os olhos com força enquanto um grito torturante para sua audição saiu dela junto com um estalo alto, indicando que suas costelas haviam sido quebradas.

— Por favor, não faz isso… — implorou baixo enquanto xingava o fato do karma não ter podido ser mais filho da puta com ele. 

"Por favor, não!", "O que você quer?", "Fique longe de mim!, "Eu faço o que quiser!" Pfff, todos falam a mesma coisa. Que chatice. — Se lembrava perfeitamente do momento que debochou de Jeongin quando quase o matou. E lá estava ele agora, com o mesmo olhar apavorado de suas vítimas sentindo sua visão ficar embaçada pelas lágrimas enquanto via a mulher sofrendo daquela forma sem poder fazer absolutamente nada. 

Agora sim, Christopher entendia perfeitamente o mal que havia causado. Seria esse seu castigo divino por toda a dor que causou a inocentes? Perder a garota com quem teve sua segunda chance bem diante de seus olhos? Se a resposta fosse sim, o destino não podia ter sido mais cruelmente justo. 

Mas aquele ainda não era seu veredito final. 

Ethan olhou na mesma direção que o restante dos demônios quando escutaram a mesma coisa. Um soar alto, arrastado e constante, capaz de causar calafrios em qualquer um. Um som inconfundível. 

O som de uma serpente. 

A primeira coisa que viram foi um ameaçador par de olhos grandes alaranjados, que estavam cada vez mais próximos. O corpo grosso e esbelto se arrastava no chão calmamente, até que o animal se ergueu e se revelou, atingido a altitude de um prédio de pelo menos vinte andares. 

— Não. Brinca. — Christopher pronunciou com o queixo caído.

— Porra, era disso que eu estava falando! — Comemorou Lúcifer, sua perna finalmente decente o suficiente para andar. 

A mamba negra não deu muito tempo para admirações, e nem para Ethan para ele processar o que acontecia. Ele chiou alto lançando sua cauda nos braços dele, os chicoteando e fazendo-o rosnar enquanto soltava os dois com o impacto. 

Antes que enfrentassem uma queda considerável para causar estragos, com a mesma cauda, Felix os pegou e os enrolou gentilmente, colocando ambos em segurança no chão. A primeira coisa que Bang fez foi ir até Ryujin, que no momento via estrelas de tanta dor. 

— Aquele é… — Changbin tropeçou nas palavras, estático com o que estava vendo.

— É. — Confirmou o kitsune com um sorriso. — Agora sim, Ethan vai ter um oponente que vai fazê-lo suar. 

A serpente olhou maliciosamente para o Ethan, usando a ponta de seu corpo para chamá-lo em provocação. Ele trincou o maxilar e começou a inspirar ar, mas seu plano de soltar mais fogo foi inexplicavelmente barrado com ele ofegando e começando a engasgar, como se estivesse sendo enforcado. 

Agora quem não entendeu nada foi Christopher, mas Changbin logo esclareceu. 

— Usamos o Cálice Estival para ele tomar o poder do elemento de Escarlate, o ar. — Explicou olhando para o réptil, sorrindo com admiração. — Acho que acabei de me apaixonar de novo.

Felix avançou, dando o bote num piscar e cravando as presas no pescoço da criatura. Se o veneno de suas mambas negras pequenas já desamparava por um tempo considerável, imagina agora. 

O outro animal rugiu alto, agarrando a serpente e tentando afastá-la, mas ele resistiu muito bem. Até fincar as garras em suas escamas, o fazendo se afastar em um silvo. 

Após empurrá-lo, o dragão abriu suas asas e as bateu na direção dele, causando uma ventania tão forte que fez todos ao redor voarem. Inclusive Felix, que caiu de costas na casa e destruindo boa parte da construção. Fez força para levantar novamente, o que era um pouco difícil com um pedaço do telhado enfiado nele.

Depois de usar sua cauda para tirar o pedaço intruso em seu organismo fazendo o sangue escorrer por lá com abundância, olhou para Ethan com ainda mais ódio e investiu de novo, dessa vez enrolando o corpo flexível em torno do pescoço alheio e apertando violentamente. 

Ele se debateu, tentando se livrar enquanto Felix intensificava o sufocamento ainda mais ao mesmo tempo que o puxava para trás, afastando-o dos outros. 

Até que finalmente conseguiu agarrá-lo, e um chiado alto de agonia soou da serpente quando as garras foram tão fundo que chegaram a rasgar suas escamas junto com a carne, atingindo os ossos.

Aquilo o obrigou a se desenrolar do pescoço de Ethan, o barulho retumbante dele despencando com o corpo mole e caindo no chão sendo tão forte que os que estavam perto chegaram a desequilibrar com o tremor da grama. Estava gravemente ferido, sem forças nem para respirar direito. 

Mas felizmente isso não o colocou em risco por enquanto, já que o adversário estava começando a sentir o efeito do veneno. Mas não era para sempre. Ele precisava se reerguer. 

Changbin se aproximou da mamba negra, acariciando uma parte de seu rosto enquanto aquelas duas íris verticais expressavam puro sofrimento. 

— Vamos, amor — incentivou baixo. — Levanta. 

Ele tentou obedecer, mas mal conseguiu tirar o rosto do chão antes que despencasse de novo. Estava sem energia, os ferimentos haviam sido profundos demais. Felix apertou as pálpebras, balançando a cabeça negativamente como se dissesse: "Não dá."

— Você consegue, cabeça de escama — afirmou Ryujin, andando com cautela já que ainda não estava cem por cento curada das costelas esmagadas. — Levanta e mostra para aquele lagarto idiota quem é que manda. 

Pela segunda vez tentou seguir o comando, mas tendo o mesmo sucesso. Uma expressão de pavor tomou o rosto de Changbin com o misto da visão de Ethan se recuperando mais a cada segundo e com a percepção que a serpente já não estava mais tão enorme quanto antes, voltando para a forma humana involuntariamente pelos hematomas letais. 

Sem sua versão de serpente e com o feiticeiro logo em bom estado de novo, tudo estaria perdido. Precisava de um gatilho rápido, um que incentivasse Felix e cutucasse seu ego a ponto de ele passar por cima de qualquer ferida. 

E já sabia perfeitamente que gatilho seria esse.

— Então, é isso mesmo que estou vendo? — Lançou em um sorriso provocativo. — Lee Felix está com medinho? 

E assim que ele abriu os olhos novamente com as pupilas queimando, sabia que havia funcionado. Voilá.

Mas havia um porém…

Aqueles olhos começaram a acender demais. Ele queria dizer alguma coisa. Será o que estava pensando? Felix iria mesmo…

Assim que ele foi se levantando novamente com aquele olhar cravado no ghoul, teve sua certeza. Sim, ele iria.

Changbin se virou, avisando alto o suficiente para todos os outros demônios, mas baixo o suficiente para que não chegasse aos ouvidos de Ethan.

Cubram os olhos!

Ele não precisou explicar mais nada para que todos atendessem ao comando, passando a acompanhar a luta apenas com a audição. E partir dali, Changbin só conseguiu captar quatro sons. 

O primeiro: Felix se arrastando novamente na direção de Ethan.

Segundo: o guincho alto de uma chiada determinada dele. 

Terceiro: um último rugido da outra fera. 

E o quarto: o estrondo potente capaz de despertar um cemitério de algo pesado e endurecido desmoronando no chão. 

Só depois de vários minutos que sentiram segurança para espiar após não escutarem mais nenhum sinal nem do dragão nem da serpente, e não havia nenhuma boca que não tivesse virado um perfeito "O" após enxergarem o que Felix havia feito. 

O corpo petrificado de Ethan Bang. 

Ele havia morrido na forma mística, mas ainda não havia sinal de Lee. Mas após mais alguns segundos olhando com atenção, puderam ver o dito cujo parado na frente do rosto da nova estátua. 

Estava na forma humana de novo, provavelmente por ter usado seus dois poderes que mais exigiam seu empenho de uma vez só. E Changbin acertou quando chegaram até ele, vendo um olhar cansado em seu rosto.

— Lix, você conseguiu — anunciou o ghoul num misto de contentamento e orgulho.

— Então… acabou? — Christopher balbuciou, perdendo mais o ar cada vez que se aproximava mais do progenitor paralisado. 

— Ainda não. — Avisou Ryujin. — O feitiço em torno da árvore pura que ele colocou ainda está se espalhando. Mas eu posso resolver isso. 

A próxima a chegar perto foi Soyeon, que deu um grito de raiva e chutando agressivamente a garra dele várias vezes.

— Isso é por me usar como boneca de caça, arrombadinho. 

A ação causou o riso dos que assistiam, e a serafim continuou dando os golpes com o pé até várias lascas saírem, suspirando e colocando as mãos na cintura e mirando a atenção em Christopher e Ryujin, alternando o olhar entre ambos. Era óbvio que já tinha entendido, o que fez os dois trocarem olhares tensos. 

— Então, é ele meu substituto? — Indagou com um sorriso zombeteiro. 

— Mais ou menos. Depois que você tentou me matar, me apaixonei por um pinheirinho gótico que por sinal é um traste, me traiu e também tentou me matar. E depois veio a raposinha raivosa aqui.

— Ei! 

— O apelido pegou, querido. Vá se acostumando — gracejou Shin para Bang, que revirou os olhos. 

— Quanta sorte, hein? — A Jeon disse com sarcasmo. — A doença do dedo podre veio com tudo. 

Ela chegou a abrir a boca para responder, mas sua voz morreu assim como a de todas as presenças assim que o último que faltava foi caminhando lentamente na direção de Ethan. Lúcifer. 

O mesmo parou perto da lateral do rosto do feiticeiro, com um olhar vago que expressava um "O que eu faço agora?"

— Eu nem consegui me despedir. — Surpreendentemente, suas palavras não vieram acompanhadas de ironia. Ele parecia abalado de verdade. — Adeus, mi amore. Dessa vez pra sempre.

Ele deu tapinhas fracos na pele endurecida, se virando para Felix que estava completamente jogado nos braços de Changbin por exaustão. Quem diria que o filho para quem havia virado as costas seria aquele que mataria seu maior inimigo. 

— Mandou bem, garoto. — Elogiou num ar sincero. Mas Lee não retribuiu, desviando o olhar para a floresta num dar de ombros como se falasse "Não ligo para sua aprovação, babaca."

Mas apesar de sua atitude, Lúcifer conseguiu ver. Felix havia segurado um sorriso.

— Que caras de choque são essas? — Lee interrogou para os outros demônios, que olhavam de forma atônita para o ex-arcanjo. E após alguns segundos trocando palavras silenciosas de contato visual, o acastanhado deu um riso nasal de deboche pronunciando um baixo um "Ah, dá um tempo" quando eles começaram a apoiar um dos joelhos no chão e se curvar. — Claro, óbvio que tinham que celebrar seu triunfal retorno. 

Lúcifer o olhou de novo, dessa vez com um sorriso que foi um tanto quanto enigmático para o filho mais novo. 

— Felix, não é pra mim. 

Agora sim que não estava entendendo porra nenhuma. 

— Mas…

— Lix, você sabe como o sistema hereditário da coroa do inferno funciona? — Perguntou Christopher, com o mesmo sorriso malicioso que se encontrava nos lábios de seu pai. 

— Ué, a prioridade é do herdeiro do rei atual. E se ele não quiser ou morrer antes do progenitor, o antigo governante assume. Não é? — Respondeu em um tom óbvio, se virando para Changbin em busca de apoio. Mas ele estranhamente também estava o olhando da mesma maneira que os outros. Saber de menos já estava o irritando. — Alguém pode me explicar que merda está acontecendo aqui?! 

— Sim, é assim que funciona normalmente. Mas tem uma lei que sobrepõe todas essas. — A meia-irmã esclareceu. Está aí uma coisa que não sabia. Ele não havia sido criado no inferno como ela e Christopher, não sabia tão a fundo como as coisas funcionavam. — A prioridade absoluta da posse do trono infernal…

— É daquele que conseguir tirar a vida do atual soberano. — Finalizou Lúcifer. 

O mundo de Felix pareceu cair. A informação veio aos poucos em sua cabeça, fazendo a mesma explodir assim que absorveu. Mas ainda assim, não parecia verdade. 

— Tá de sacanagem. — Gesticulou num ofegar, seus olhos esbugalhando em descrença quando voltou o rosto para o ghoul, o vendo aumentar o sorriso e assim como os outros demônios, se ajoelhou no chão e abaixou o tronco. 

Ele perdeu a fala, girando a cabeça de novo e seu estômago pareceu queimar mais quando viu Christopher e Ryujin fazendo o mesmo. Aquilo não fazia o menor sentido. Os dois que haviam sido criados para governar, não ele. 

E quando seu olhar pousou em Lúcifer, foi que sentiu que desmaiaria de vez pelo tanto que sua cabeça girava. Está aí uma visão que jamais pensou que teria nem em seus sonhos, seu pai se curvando diante dele e declarando:

— Às suas ordens, Vossa Majestade. 

Ele não parecia irritado ao dizer aquilo. Mas não foi ele quem massacrou o próprio amor para ter aquele trono? Como podia estar expressando aquele orgulho todo no olhar com seu filho renegado assumindo seu legado?

Era muito para processar, e o rapaz teve que alternar os olhares por toda aquela gente submetida à ele para aquele fato ser aceito por completo em sua mente. 

Era mesmo real. Estava decretado.


Lee Felix era o novo rei do inferno.














Notas Finais


Katchau
eu falei pra se prepararkk
Churrasquinho na minha casa amanhã pra comemorar a morte do filho da puta hein galera

E sim, esse é o antepenúltimo cap. Mas fiquem espertos mais pro final do mês que duas novidades vem aí viu.

Divulguem e deixem seu feedback aqui nos comentários, eu pago

Bom fim de semana e até o próximo cap <3


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