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História Royals - Mudança de rumo


Escrita por: ShewantsCamz e gamedinas

Notas do Autor


Olá, meus amores.

Quem é vivo sempre aparece né? E como prometido, voltamos com Royals! Sei que demoramos uma vida, mas tivemos motivos para isso. Enfim, o importante é que agora voltamos com a fanfic, e vamos nos organizar da melhor maneira para postar com frequência. Quero agradecer a compreensão de todos os leitores, que souberam esperar e ainda estão aqui para continuar com a gente até o final. Estamos com muitas coisas programadas daqui pra frente, então espero que aproveitem bastante!

Sem mais papos, vamos ao que interessa.

Capítulo 20 - Mudança de rumo


- Lauren, não seja precipitada!

- Eu não estou fazendo nada, Normani. – murmurei para a mulher que logo se aproximou.

- Você quer falar para a garota que está ficando que seria capaz de desistir dela? Se viesse falar isso para mim, te largaria antes mesmo de tentar se explicar.

Soltei um riso nasal, enquanto minha melhor amiga tagarelava sobre os pontos negativos de minha atual idéia.

- É o correto a se fazer.

- Se você diz, não vou me opor, conhece Camila melhor do que eu.

- Exatamente! – exclamei de forma convincente antes de me levantar.

A idéia não era de todo mal, seria como tirar um peso das costas da princesa. Eu sabia que lidar com toda a pressão da monarquia, e de sua família, era trabalhoso demais. Então, estaria disposta a facilitar, se fosse o melhor caminho a seguir. Eu a amava, e seu bem estar era uma de minhas prioridades.

- O que vai fazer? Ligar para ela?

Escorei-me na cômoda de madeira, enquanto tateava meus bolsos em busca de meu celular. Capturei o aparelho, e pensei por alguns instantes antes de resolver procurar seu numero em minha agenda.

- Vou pedir para vê-la. Esse não é o tipo de assunto que quero conversar por um telefone.

- Pelo menos nisso concordamos.

Encarei seu olhar repreensivo, e dei de ombros. Normani pela primeira vez tinha realmente se apegado a uma de minhas “namoradas”, não que ela tivesse reprovado as outras, mas com Camila parecia diferente, ela se importava se estávamos juntas ou não.

- Você pode ficar aqui comigo hoje? Eu estou tão atarefada, e realmente estou precisando de uma ajudinha.

- Mani... – hesitei.

- Por favor, Laur! Só por hoje, preciso organizar as coisas por aqui, e sozinha não dou conta. – encarei seu rosto, que carregava uma expressão triste, como aqueles gatos chantagistas.

- Tudo bem, eu fico. – me rendi com um suspiro. - Ajudo no que precisar, mas deixe-me fazer uma ligação antes.

- Fica mesmo?

- Fico, Mani.

Normani soltou um gritinho animado em comemoração, fazendo-me rir de sua reação aliviada. Caminhei para a varanda daquela sala, deixando a morena afundada em todas aquelas papeladas sobre sua mesa. Procurei pelo numero de Camila, e fiquei por alguns instantes fitando a tela do aparelho em minhas mãos assim que encontrei seu nome em minha agenda telefônica. A princesa havia trocado a foto de seu contato, agora havia uma selfie da ultima vez que nos encontramos. Estava linda, com os cabelos soltos, virados para um só lado, enquanto um sorriso estampava seu rosto tão bonito. Toquei suavemente sobre a foto, como se pudesse tocar sua pele, sentindo aquela sensação boa tomar conta de mim. Um suspiro deixou meus lábios, fazendo-me despertar daqueles pensamentos, e iniciar a ligação para a mesma.

Depois de alguns segundos de chamada, a voz da princesa se fez presente.

“Hey, aqui quem fala é Camila Cabello, eu não posso falar no momento, mas deixe seu recado, e eu prometo retornar depois!”

- Ahm...Oi princesa. – murmurei um tanto acanhada. – Como você está? Eu espero que bem! Bom, eu só estou ligando para dizer que queria conversar com você, então quando tiver um tempo, me liga? Já sinto sua falta. Vou ficar o dia todo com Normani hoje, mas se ouvir esse recado, pode me retornar. Se cuida, eu te amo.”

O restante do dia pareceu se arrastar, em minutos lentos e torturantes, que pareciam me massacrar diante de todo trabalho que eu tinha para resolver ao lado de Normani. Administrar aquele lugar não era uma tarefa fácil, e depois de um único dia, eu tinha o dever de parabenizar minha melhor amiga pelo trabalho excepcional que ela fazia pela Tiger Tiger. Terminei de atualizar todas as planilhas de custos e lucros, enquanto Normani fazia todos os pagamentos necessários pelo banco virtual.

- Ok, acho que terminei. – exclamei exausta.

- Sério? Todas essas pastas?

- Sim, todas.

- Uau! Vou contratá-la como auxiliar administrativo. – zombou.

- Nem morta! Literalmente, eu não nasci para isso.

- Por que não?

- Eu nasci para cantar, por todos os lugares possíveis desse mundo. Ficar dentro de uma sala, no meio de papeis e planilhas não é o meu forte. – murmurei enquanto me levanta.

Ergui os braços, espreguiçando-me por completo, sentindo minhas costas doerem por ter ficado tanto tempo jogada naquele sofá.

- Bom, eu também terminei. – exclamou ela ao desligar seu computador. – você quer jantar?

- Ah, não. Eu só preciso ir para casa.

- Certeza? Depois não reclame, estou tentando lhe pagar pelo dia com um ótimo jantar. – disse ela me fazendo rir.

- Tenho certeza sim, eu só preciso de um banho e minha cama.

- Então tudo bem, vamos para casa.

O caminho de volta foi totalmente tranqüilo, Normani me acompanhou por uma boa parte do caminho, já que estava sem carro aquela noite, e após deixá-la em seu prédio, segui para o conforto do meu. Assim que entrei em meu apartamento, joguei as chaves sobre a cômoda de madeira no canto da parede, enquanto me livrava do casaco grosso que pus no cabideiro ao lado da porta.

- Finalmente em casa.

Caminhei até o centro da sala, enquanto verificava as ultimas notificações em meu celular, havia muitas, mas nem uma delas era de quem eu mais precisava. Camila não havia dado sinal de vida o dia todo, o que me deixava verdadeiramente preocupada. Da ultima vez que deixou meu apartamento foi por ordem severa de sua mãe, que, como sempre, não parecia estar de bom humor. Retornei a mensagem de Selena, que falava animada sobre as porcentagens positivas informada pelos médicos em seu tratamento, aquilo realmente era uma noticia maravilhosa. A doença de minha ex-esposa foi um choque repentino, mas saber que ela estava obtendo melhora em seu quadro me dava certo alivio. Olhei o restante das mensagens, e nada de Camila. Por alguns instantes pensei em ligar outra vez, mas se ela não havia retornado meu recado, e nem minhas mensagens, era sinal de que realmente não poderia me atender. Acoplei meu celular a caixa de som na estante, e procurei uma de minhas playlists, optando pela que me lembrava Camila.

A voz marcante de Troye Sivan cortou o ambiente, enquanto iniciava as primeiras estrofes de “For him”. Era uma de minhas musicas favoritas, tanto pela melodia, quanto pela letra, que me recordava à princesa. Aumentei o volume da caixa de som e cantei junto dele a primeira parte, enquanto caminha até a cozinha a procura de algo para tomar. Me servi do vinho tinto suave que compramos em nosso ultimo jantar, e assim que provei do primeiro gole do liquido escuro, ouvi minha campainha soar ao fundo.

- Já estou indo! – exclamei ao largar a taça sobre o balcão e correr até a porta de entrada.

Por alguns instantes me perguntei se havia marcado algo com alguém, ou se poderia ser Selena com Nicholas, estaria ele com algum problema? Meneei com a cabeça em um sinal negativo, e destranquei a porta, abrindo para quem me esperava.

- Você... – soltei surpresa.

- Oi, Lauren. – Camila murmurou com um sorriso de canto.

Um sorriso nasceu em meus lábios assim que a encarei parada diante a minha porta, estava um tanto acanhada, mas ainda sim, com uma presença vibrante.

- Não esperava ver você aqui, quer dizer, assim do nada.

Ela mordeu o lábio inferior, em um sinal de nervosismo, e pousou seus olhos sobre os meus, como se estivesse se preparando para me dizer algo.

- Bom...desculpe aparecer sem avisar, eu realmente não tive como. – ela suspirou, e em seguida sorriu nervosa. – queria saber se posso ficar um pouco com você. – disse ela ao puxar uma mala mediana para junto de si.

Encarei seu rosto, e em seguida sua mala. Ok, talvez por alguns instantes meu cérebro tenha parado para processar, mas logo me pus a funcionar.

- O que? Claro! Oh, céus, entre! – falei rapidamente, dando passagem para que ela adentrasse em meu apartamento.

Camila delicadamente puxou sua mala branca com rodinhas, e caminhou graciosamente para o interior de meu apartamento. Fechei a porta, e tranquei como havia feito há minutos atrás, antes de virar e encarar a princesa.

- Deve está um tanto surpresa, confusa talvez. – murmurou ao parar no meio do caminho. – mas eu tenho uma perfeita explicação para lhe dar.

Joguei as chaves no lugar de costume, e me aproximei da morena. Ela estava linda, como sempre. Usava um vestido simples, preto, com duas listras brancas em sua saia, as alças eram relativamente finas, oferecendo um decote discreto à peça. Por cima, ela usava um sobretudo preto, deixando-a ainda mais elegante, como se fosse preciso, Camila era a própria elegância.

- Eu realmente estou confusa, e surpresa, mas muito feliz por tê-la aqui. – murmurei ao me aproximar.

Toquei em seus ombros delicadamente, antes de subir com ambas às mãos até seu pescoço, próximas a nuca. Um sorriso suave enfeitou seus lábios pintados por um batom claro, ela inclinou seu rosto para frente, permitindo que meus lábios fossem de encontro aos seus.

- Senti sua falta. – ela suspirou, quase que em alivio.

Deslizei o polegar sobre as maçãs de seu rosto suavemente, enquanto mirava seus olhos castanhos, que pareciam tão felizes em me ver.

- Eu senti a sua também, princesa.

Mesmo sem entender inicialmente o porquê da vinda de Camila, não deixei que minha curiosidade viesse à tona. Esperaria que ela se sentisse confortável o suficiente para finalmente me contar o que havia acontecido, e aquele momento não demorou a chegar. Depois de nosso jantar, encomendado as pressas, ficamos juntas em meu sofá, como sempre fazíamos, enquanto ouvíamos musica de nossa preferência. Ela se manteve quieta, enquanto tamborilava com os dedos sobre minha pele de forma sutil.

- Quer me contar o que aconteceu? – sussurrei, enquanto continuava a afagar suas madeixas escuras.

Ouvi um suspiro pesado, e por alguns segundos julguei-me por ter perguntando, mas tão logo ela interrompeu meus pensamentos, e me fitou.

- Só estou cansada.

Camila se afastou de meus braços, e se sentou, fazendo-me assumir a mesma posição. Apoiei meu braço no encosto do sofá, enquanto me colocava de frente para ela. Meu silencio foi como uma deixa para que ela continuasse a me contar.

- Depois de sair do seu apartamento aquela noite, eu tive uma briga intensa com a rainha, quer dizer, com a minha mãe. A cada dia que passa, as cobranças ficam cada vez maiores. Meus deveres são enfatizados como o ponto principal de minha existência, como se Deus tivesse me colocado no mundo unicamente para isso, para ser uma princesa, e uma futura rainha. Nunca se coloca em questão se é isso que eu realmente quero, se é isso que eu preciso, ou se é isso que me faz feliz. Eu apenas nasci assim, e de acordo com todos naquele lugar, não há nada que eu possa fazer.

Camila abaixou a cabeça, com um sorriso melancólico nos lábios. De repente, a conversa que tive com Normani há horas atrás havia perdido totalmente o sentido, como se falar sobre abrir mão de nós fosse assumir a mesma posição como a daqueles que ela se queixava agora. Estiquei a mão, e segurei a dela, entrelaçando meus dedos aos seus em uma espécie de apoio. Camila olhou para o nosso contato por alguns instantes, e logo em seguida me encarou.

- Eu só preciso disso... – disse ela ao encarar nossas mãos entrelaçadas novamente. – só preciso estar com alguém que eu amo, que desejo ficar, e não com alguém escolhido pela coroa. Eu só queria ter um emprego que deixe me satisfeita, um apartamento simples, uma vida comum. Eu queria poder viajar por todos os lugares do mundo, sem ter uma equipe de seguranças ou fotógrafos no meu rastro. Queria se tratada como uma pessoa normal, Lauren. Para muitos, ou melhor, para a maioria da população mundial, isto é um privilegio, sonho de consumo, mas não para mim. A coroa não é um privilégio, é um fardo. E eu não vou carregá-lo.

As palavras de Camila eram proferidas com uma carga de intensidade tão grande, que mesmo não sendo a própria atingida pela situação, sentia-me sufocada. Eu respirei fundo, franzindo o cenho em certa confusão.

- O que quer dizer com isso? Que não vai carregá-lo?

Ela se calou momentaneamente, e em seguida encarou meus olhos com um semblante firme.

- Eu quero deixar a realeza para trás. Não quero mais ser uma princesa, e muito menos uma rainha. Eu quero ser apenas a Camila.

- Você sabe que uma decisão como essa muda totalmente o rumo da sua vida, não sabe?

- É exatamente por isso que eu quero, Lauren.

Eu compreendia o dilema da vida de Camila, sabia todas as suas limitações, e sofria por isso também. Querendo ou não, eu também era atingida pelo fardo que a princesa carregava. Mas vê-la abrir mão de uma vida segura, para um futuro totalmente inesperado, era assustador. Não era uma escolha minha, era dela, mas eu sabia que tinha influencia sobre isso.

- Olha... – ela começou a falar em meio a meu silencio. – eu sei que tudo isso é grande demais para você, e eu sinto muito. Admito que foi egoísta de minha parte deixar que nos envolvêssemos, sabendo de todas as minhas limitações, mas eu não pude me controlar, não pude evitar. Todo esse sentimento tomou conta de mim, e me fez tão bem que não pude voltar atrás.

Camila ergueu uma de suas mãos até meu rosto, onde acariciou levemente com a ponta de seus dedos. 

- Durante todos esses anos, você foi à melhor coisa que me aconteceu. Pela primeira vez na vida, eu me senti verdadeiramente bem. Livre, entende? Você foi à única pessoa que me enxergou de verdade, que me viu por completo, e que me fez sentir bem por ser assim, ou pensar assim. Você me fez enxergar a liberdade, Lauren. – ela sorriu. – E não se preocupe, eu não estou colocando todas as expectativas da minha vida sobre você, sou uma mulher consciente, sei do que estou abrindo mão e para onde estou caminhando. E eu garanto a você, eu quero, eu necessito.

Juntei a minha mão a dela, e segurei firme. Camila olhou para nossas mãos, e em seguida para meu rosto. Deixei que um suspiro pesado deixasse minha boca, seguido por minhas palavras.

- Eu quero que você esteja totalmente certa do que está fazendo, Camila. Não estamos falando sobre mudar de emprego, ou abandonar um curso na faculdade. Nós estamos falando sobre abrir mão de todos os deveres para o qual foi destinada pelos seus pais, pela sua família. Você está se aproximando do momento que mudará o rumo de muitas coisas, não só de sua vida, ou da minha, mas de um reino inteiro. Eu quero que saiba, que independente da sua escolha, eu vou te apoiar, mas somente se for feito com o coração, e com toda sua vontade.

Camila permaneceu em silêncio, fitando-me de forma séria, absorvendo tudo que eu tinha para lhe dizer.

- Não quero que se arrependa nunca de suas escolhas, e nem dos motivos para tê-las tomado. Eu admiro você, pela sua força, persistência e ainda mais pelos seus ideais, e se está disposta a abrir mão da monarquia, eu estarei do seu lado, para o que der e vier, porque eu te amo.

Um sorriso sincero nasceu em seus lábios, trazendo outro aos meus. Ela ergueu seu corpo, e me envolveu com seus braços em um abraço apertado.

- Obrigada... – ela sussurrou aliviada, enquanto me apertava contra si. – por tudo.

Interrompi nosso abraço e repousei minhas mãos sobre a lateral de sua cabeça, trazendo-a para mais perto de mim. Camila encostou a testa na minha, enquanto me presenteava com um lindo sorriso. Nós permanecemos em silêncio por alguns instantes, que me fizeram sentir plena somente por tê-la ali em meus braços. A britânica inclinou a cabeça sutilmente, e selou seus lábios nos meus, dando-me a oportunidade de sentir a maciez de sua língua sobre a minha assim que ela me ofereceu abertura para isso. Camila provoca-me um misto de sensações, desde a ansiedade por mais, até a satisfação pelo que já tinha. Suas mãos delicadas pousaram sobre a lateral de meu rosto, e seguiram até minha nuca, enquanto sua boca usufruía da minha com mais volúpia. Um suspiro surpreso escapou de seus lábios no exato instante em que segurei em sua cintura, expondo minhas vontades por tê-la tão entregue. Ela sorriu contra meus lábios, interrompendo nosso beijo mais intenso.

- Melhor a gente ir para o quarto. – murmurei naturalmente, até me dar conta do que aquilo poderia parecer. – quer dizer, para você arrumar suas coisas, não pense que eu estou falando que é para...

- Você fica ainda mais linda nervosa, Jauregui. – zombou ao depositar um beijo rápido em meus lábios.

Segui a britânica que caminhava graciosamente sobre seus saltos até o interior de meu quarto.  Confesso que me sentia um pouco nervosa com a idéia de tê-la em minha casa por alguns dias, não por falta de vontade, mas pelo que eu tinha a oferecer. Camila morava em um palácio, estava acostumada ao luxo exacerbado desde os primeiros dias de vida, era um tanto frustrante não poder oferecer mais do que um simples apartamento no centro da cidade.

- Bom, sei que aqui não chega nem aos pés do seu palácio, mas prometo que pode ser legal dividir um apartamento comigo. – murmurei ao me sentar na cama desarrumada.

Camila parou no meio do caminhou, lançando-me um sorriso tranqüilizante. Ela nunca me pareceu exigente, pelo contrario, para uma princesa britânica, ela tinha hábitos até simples demais.

- Você tem tudo que eu preciso, não tenho do que me queixar. Pelo contrario... – ela deu alguns passos a frente, parando perto de mim. – tenho que agradecer por me receber aqui.

- É um prazer, Vossa majestade.

Ela revirou os olhos me fazendo rir.

- Onde posso colocar minhas roupas?

Levantei da cama rapidamente e caminhei até o guarda-roupa, procurando um bom lugar para que ela pudesse utilizar. Assim que o encontrei, voltei meus olhos para a princesa, que agora se ajoelhava com cuidado, enquanto deitava sua mala sobre o carpete que revestia o chão de meu quarto. Com uma paciência extraordinária, ela colocou sua senha no cadeado, para só então abrir o zíper e mostrar suas roupas perfeitamente arrumadas no interior da mala.  

- Sempre faz todo esse ritual para abrir sua mala?

Ela ergueu a cabeça e me encarou com uma careta para o meu visível deboche.

- O que? – perguntou sem entender.

- Eu não teria paciência, para me ajoelhar, virar a mala, lembrar de uma senha e abrir delicadamente como uma princesinha. – zombei enquanto tentava imitá-la.

A princesa ergueu uma das sobrancelhas, e largou a peça de roupa no interior da mala outra vez, antes de inclinar seu corpo para frente.

- Ainda bem, porque até o momento a princesa aqui sou eu.

- Ai, essa doeu. – resmunguei com uma careta.

Camila meneou com a cabeça em um sinal negativo, oferecendo-me um risinho baixo.

- Doeu?

Eu assenti fingindo uma expressão triste, que a fez me fitar por alguns segundos antes de me roubar um beijo rápido.

- Isso ajuda?

- Talvez.

 

[...]

 

Talvez fosse cedo demais para eu estar acordada, mas acontece que naquela noite meu cérebro não deu descanso. Meus pensamentos continuavam a trabalhar insistentemente sobre tudo que estava acontecendo em minha vida nos últimos meses, impedindo-me de repousar tranquilamente. E pelo visto, eu era a única estar assim. Camila dormiu serenamente a noite inteira, bem aqui, em meus braços. Eu tinha a britânica aconchegada em meu corpo, enquanto meus braços a envolviam calorosamente. Foram poucas, mínimas as vezes que tivemos a oportunidade passar uma noite inteira na presença uma da outra, e tê-la ali comigo agora, mesmo que fosse apenas para sentir o calor do seu corpo, ou ouvi-la respirar, provocava-me tantas sensações que eu não poderia descrever. Na maioria das vezes, momentos como aquele para a maioria das pessoas era tão natural quanto acordar de manhã, mas para nós, era bem mais do que isso. O valor do momento só é dado quando se torna algo raro, difícil de acontecer, e tê-la naquele instante, tinha um valor enorme para mim.

Camila se moveu, colocando-se de costas para mim, fazendo-me protestar por alguns segundos a quebra de nosso contato, mas aquilo não durou. Tão logo, a princesa em um ato sonolento, procurou por meus braços em um pedido silencioso para abraçá-la outra vez. O calor, o contato, o aroma, tudo se tornava ainda mais intenso agora, e eu aproveitaria daquilo o maximo que poderia. Horas depois, estávamos mais do que acordadas, Camila fez total questão de preparar o café da manhã, mesmo que eu tenha protestado inúmeras vezes por aquele feito.

- Se ficar me tratando como um ser intocável vou ter que procurar outro lugar para ficar. – resmungou ela, enquanto colocava as xícaras de porcelana sobre a bancada da cozinha.

- Eu só acho que poderia fazer isso, não precisa se incomodar.

- Não me incomodo em fazer isso, pelo contrario, gosto. – ela despejou uma pequena quantidade de café quente no interior de minha xícara. - Posso mostrar o que aprendi na cozinha nos últimos tempos.

Encarei a britânica com uma das sobrancelhas arqueadas, em pura desconfiança de seus novos dotes culinários. Custava-me acreditar naquilo, Camila não deveria nem saber onde ficava a cozinha de seu palácio, mas eu não a questionei, apenas sentei no banco próximo a bancada, bem ao lado dela.

- Não me olhe assim, prove do meu café da manhã, e só depois fale.

- Sim senhora.

Ponto para a princesa, mais uma vez, ela era realmente boa na cozinha, isso eu não poderia questionar. Apesar de me sentir um tanto incomodada por vê-la realizando certas tarefas em meu apartamento, era satisfatório vê-la tão animada por fazer coisas simples como aquelas. Camila queria se sentir normal, e pela primeira vez, pude ver como aquilo poderia ser bom. Se sentir especial não se restringia as condições financeiras tampouco a status sociais, tratava-se apenas de uma questão interna, quase que espiritual. Observei à jovem mulher retirar as louças da bancada, enquanto as levava para a pia da cozinha.

- Acho que acabei de ter uma idéia.

Camila me encarou com uma das sobrancelhas arqueadas, e um olhar mais do que curioso.

- Está pronta para ser uma garota normal, princesa?

- Do que está falando, Lauren?

Levantei do banco em um salto, e caminhei até a morena que esperava por sua resposta. Abri um largo sorriso, e rodopiei ao seu lado em pura animação que a fez rir.

- Estou falando sobre ser apenas Camila. Sem sua bagagem de princesa real.

- Isso é possível?

Encostei-me no balcão da cozinha, e encarei seu olhar desconfiado. Camila se manteve a menos de um metro longe de mim, que desapareceu no exato instante em que puxei seu corpo para mais perto. Senti seus braços envolverem meu pescoço ao mesmo tempo em que agarrei em sua cintura.

 - De acordo com os planos que estão pipocando em minha cabeça nesse exato instante, é sim.

- Posso saber que planos são esses? Lembre-se que estou lhe confiando meu rumo de vida, plebéia. – disse ela fingindo superioridade.

- Se aceita-los, pode sim, majestade. – respondi entrando em sua brincadeira.

- Eu aceito! Faça-me ser apenas Camila. – sussurrou antes de beijar meus lábios delicadamente.

 Se o desejo de Camila era usufruir de sua liberdade, eu daria aquilo a ela. Daria o gosto de uma vida livre, regada aos seus próprios desejos e ambições. Eu não acreditava em acasos ou coincidências, para mim, tudo havia um sentido, um motivo. E se oferecer o sabor da liberdade na vida daquela mulher era o meu propósito, eu o realizaria até o final.

Acomodei-me sobre o colchão macio, enquanto a britânica perdia longos minutos na procura por um par de roupas mais simples para usar em sua primeira manhã como cidadã comum. De acordo com Camila, eu precisava aprovar o modelo escolhido, no intuito de não chamar tanta atenção, ser discreta era indispensável naquele momento. Entretanto, se tratando do guarda roupa da princesa, aquilo se tornaria quase impossível. Já era a quarta peça de roupa, e todas lhe davam um ar elegante e refinado, digno de um membro da família real. Camila mordeu os lábios, sabendo de minha reprovação.

- Você está maravilhosa, linda como sempre, mas ainda parece à princesa. Fora que esse vestido deve ter o mesmo valor dos meus rins no mercado negro. – murmurei, arrancando uma risada divertida da mais nova.

- Acho que preciso de roupas novas.

- Precisa se não quiser ser reconhecida. – concordei, enquanto vasculhava meu guarda-roupa. – pegue, vamos tentar com essas.

Ela fitou as peças que lhe entreguei e assentiu com um sorriso empolgado, caminhando para o interior do banheiro outra vez. Depois de alguns instantes de espera, vi a britânica deixar o cômodo com uma expressão confiante. Não pude conter o sorriso que rasgou meus lábios assim que a princesa, ou melhor, Camila, parou a minha frente.

- Como estou? – perguntou ao girar sobre seus calcanhares lentamente.

Talvez eu tenha perdido mais tempo do que o necessário para admirá-la, mas era impossível não me sentir perdida diante de tamanha beleza. Camila suspirou ansiosa, fazendo-me notar a pressa por minha aprovação. Agora, diferente das opções anteriores, ela trajava roupas bem mais casuais, como calças jeans, uma blusa simples de algodão na cor branca, e uma jaqueta de cor preta.

- Está maravilhosa. – soltei com um tom de voz mais encantado do que deveria.

Ela desviou os olhos dos meus, e sorriu um tanto envergonhada. Adorava ver como as maçãs de seu rosto ganhavam uma pigmentação mais rosada sobre meu olhar admirado.

- Tem certeza?

- Absoluta.

- Ótimo! Prometo devolve-las depois. – sussurrou assim que esteve perto o suficiente para me fazer tocá-la.

- Não se preocupe, ficaram bem melhor em você.

 

[...]

 

Depois de mais alguns minutos em casa, Camila e eu seguimos de carro até a Tiger Tiger. Normani ligou cedo, informando que fazia questão de ver a princesa, e Camila com toda sua educação, não tratou de recusar, pelo contrario, ficou animada de poder encontrar com minha melhor amiga.

- Literalmente essas roupas foram escolhidas pela senhorita ali. – ouvi a negra exclamar, enquanto apontava em minha direção.

- Foi sim! Lauren julgou que seria melhor algo bem diferente do que costumo usar, e até que gostei.

Lancei um olhar convencido, recebendo uma careta acompanhada de um revirar de olhos da mulher a minha frente.

- Posso ser bem melhor, princesa. Mas por hoje, Lauren fez um ótimo trabalho.

- Amo seu apóio. – zombei.

Camila sorriu para nós, e acariciou meu braço suavemente, fazendo-me fita-la com carinho.

- Vocês duas juntas são a coisa mais linda que vi nos últimos dias, não é possível duas pessoas combinarem tanto!

- Você acha? – indagou a princesa contente.

- Tenho certeza! Aposto que todo mundo diria o mesmo.

- Aposto que diriam, exceto minha mãe. – sussurrou a contra gosto, suspirando logo em seguida. – você pode me emprestar seu telefone? Eu preciso ligar para Dinah, quero saber como as coisas estão no palácio.

- Claro, pode pegar.

- Volto logo! – exclamou antes de se afastar.

Assim que a princesa se afastou o suficiente, vi Normani dar pulinhos animados a minha frente.

- Que maravilha! E eu já estava ficando triste pensando que iriam se separar, quando agora estão ficando até na mesma casa!

Não pude conter um riso divertido provocado por Normani, ela estava tão animada quanto às pessoas que viam seu casal favorito terminando juntos em uma serie de TV. Caminhei até a poltrona, sentando bem a sua frente, enquanto gesticulava para que ela fizesse menos escândalo.

- Desculpe, eu fiquei empolgada. – disse antes de se sentar próxima a mim, bem a minha frente. - mas me diz como está se sentindo com tudo isso?

Encarei os olhos castanhos de Normani, que ansiavam por uma resposta, uma longa e sincera resposta. Por alguns instantes, permiti que minha cabeça viajasse diante de todo aquele emaranhado de pensamentos e sensações vividas nas ultimas horas, fazendo-me notar o enorme efeito que a jovem britânica tinha sobre mim. Era surpreendente a forma como Camila surgiu em minha vida, e ainda mais como permaneceu.

- Bom... – iniciei a procura pelas palavras certas, enquanto tinha seu olhar tranqüilo sobre mim – sinceramente, eu não esperava por isso. Você sabia minha opinião, e tudo que confessei estar disposta a fazer nessa situação.  No entanto, vê ali, queixando-se de tudo que viveu, e ainda vive por falta de apoio, e por se sentir presa, levou uma grande parte de meus pensamentos pelo ralo. Cheguei a me sentir culpada por sequer cogitar deixá-la, entende? Mesmo que contra minha vontade.

 A mulher assentiu devagar, e desviou seus olhos dos meus por alguns segundos antes de me fitar novamente.

- Depois da conversa que tivemos, meus pensamentos mudaram de rumo. Nós dormimos juntas, na mesma cama, e você não faz idéia do quão feliz eu fiquei só por tê-la em meus braços. Talvez essa seja a definição perfeita. Felicidade. – suspirei, quando um sorriso escapou. – eu estou feliz, e sinto que ela também está. Eu posso ver em seus olhos, posso sentir quando estamos juntas. Eu queria poder explicar, mas é tudo tão grande e intenso, que não encontro termos adequados para expressar isso que me preenche agora. Eu só sei que a amo, de uma forma que nunca pensei que poderia amar alguém. Camila desperta a melhor parte mim, Mani. Sinto-me tão completa quando estou com ela. Você me conhece melhor do que ninguém, e sabe que não sou uma pessoa que se apaixona facilmente; eu só me apaixonei uma vez na vida, e jurei que nunca mais o faria, mas com ela foi inevitável. Talvez eu tenha me encantado no primeiro instante. Não estou dizendo que foi amor a primeira vista, mas no primeiro momento, ela despertou algo em mim. Talvez ela desperte esse encanto em todo ser que se aproxima dela, mas sou imensamente feliz por ter sido a escolhida para receber o mesmo. Céus! – exclamei um tanto nervosa. - você conseguiria me imaginar assim? Juro que se me contasse que um dia eu estaria perdidamente apaixonada pela princesa do Reino Unido, eu a chamaria de louca.

- Sinceramente, nunca imaginei vê-la tão entregue. Você mergulhou nisso de cabeça, e sei que pode ser difícil, mas vejo em seus olhos que vale a pena.

- Vale sim. Desde o inicio eu sabia que seria difícil, não tinha como não ser. Sejamos sinceras, ela é uma princesa, um membro da família real, e eu sou apenas uma cantora que vive a viajar por todos os lugares com uma mochila nas costas. Eu não tenho tantos recursos financeiros e muito menos status sociais. Vivemos em realidades tão distintas, quase que em mundos diferentes. No entanto, Camila me fez ver que podemos sim ser compatíveis, que podemos sim nos completar. Temos uma cumplicidade tão única, que me custa acreditar que outras pessoas tenham o mesmo. Nós somos elementos opostos que se completam, entende? Eu sei que há uma enorme possibilidade que isso não tenha um final feliz, mas ainda existe a porcentagem que pode dar certo, por menor que seja, ela existe. Eu não mergulhei de cabeça nesse sentimento esperando o pior, sou incapaz de viver a espera do fim. Eu só quero aproveitar cada segundo ao lado dela, e me permitir sentir tudo que podemos cultivar juntas. Estou disposta a enfrentar o mundo, se ela me quiser ao lado dela. Eu só não posso conviver com o arrependimento de não ter tentado, isso não. Vai contra quem eu sou, e contra o que eu quero. E eu quero essa mulher como nunca quis qualquer outra em toda minha vida.

          - Uau! Se você não fosse tanto minha amiga, e eu não achasse você e a princesa um casal perfeito, com toda certeza estaria apaixonada por você agora, mas como prefiro você sendo minha amiga, acredito que sua namorada tenha amado ouvir isso. 

- O que?

Normani sorriu de canto e apontou para o outro lado da sala, exatamente na direção da porta. Virei meu corpo e encarei o local para onde minha melhor amiga olhava, vendo a britânica parada com um sorriso nos lábios. Senti minhas bochechas aquecerem, provavelmente eu estava mais vermelha do que deveria. Camila permaneceu em silencio, mirando-me com certa intensidade. Voltei minha posição normal, fitando a negra que deu de ombros tranquilamente, quando meu olhar era quase fuzilante.

- Bom, acho que vou deixar vocês duas sozinhas por enquanto. Vou ver o que está faltando no bar lá embaixo. – disse ela ao caminhar para a saída. – até logo, princesa.

- Até logo, Normani.

Camila fechou a porta assim que a mulher se retirou. De repente o silêncio tomou conta do ambiente, fazendo-me pensar se seria possível ouvir as batidas desesperadas de meu coração. Encontrava-me exageradamente nervosa, como se tivesse sido pega no flagra, e eu realmente havia sido. Levantei da poltrona, e me encostei-me à mesa de Normani logo atrás de mim, enquanto Camila se aproximava devagar.

- Cons-conseguiu falar com a Dinah? – gaguejei vergonhosamente, provocando um riso baixo na mais jovem.

- Consegui, mas ela estava ocupada, e pediu para retornar em outro momento, por isso voltei logo.

Ela repousou meu celular sobre a mesa, e se aproximou mais, parando bem a minha frente. Apertei meus dedos na lateral da mesa, vendo seus olhos atentos sobre mim.

- Ouviu desde que momento?

- Ouvi o suficiente.

Nós nos encaramos, olhos nos olhos, criando tamanha conexão a ponto de me fazer sentir que nossas respirações tivessem em perfeita sincronia. Meu coração sambava no peito, enquanto minhas mãos suavam vergonhosamente.

- O suficiente? – minha pergunta saiu quase como um sussurro.

- Sim, o suficiente para saber que você é a mulher da minha vida, Lauren. 


Notas Finais


Como eu terminei o capitulo ainda pouco, não tive tempo de revisar, mas assim que eu ler novamente, arrumo os erros.
Um grande beijo e até o proximo!


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