Eu estava ficando louca. Era a única explicação plausível. Era a única coisa que podia justificar o último encontro que eu havia tido com Cameron. Não era possível que a minha sanidade estivesse intacta, não depois daquilo.
Sentada no sofá da sala, naquela sexta à noite, eu me perguntava o porquê. Por que, mesmo depois de ele ter dito tudo aquilo e admitido o ser humano ruim que ele era, eu havia concordado em continuar com aquilo? Por que, mesmo depois de ouvir que ele não se apaixonava, que não namorava e que só ficava com garotas por sexo, eu havia concordado em continuar com aquilo? Por que aquele homem estava me enlouquecendo tão rapidamente? Por que eu estava me deixando levar?
Se fechasse os olhos, poderia lembrar perfeitamente de cada detalhe da última vez que eu havia o visto. Era quase como se pudesse sentir o seu cheiro delicioso, ver o seu rosto maravilhoso e sentir o seu toque inesquecível. A forma como Cameron havia me segurado e como sua boca beijava o meu pescoço havia ficado marcada em minha mente. Ele era único e inesquecível.
O que realmente estava me atingindo, era a forma como eu havia abandonado todos os meus princípios para ficar com aquele cara errado e perigoso. Desde o primeiro dia naquela casa, Cameron havia me assustado. Uma sensação de perigo e medo me consumiu no momento em que o vi pela primeira vez. Eu estava enganada. Ele não era tão perigoso quanto dizia ser. Eu sabia que ele tinha uma personalidade estranha e inexplicável, mas também sabia que, embaixo de toda aquela cara de mau e bebida alcoólica, tinha um homem maravilhoso.
Um barulho estranho me assustou, me tirando de meus devaneios. Olhei para o lado e logo vi a escuridão fora da janela. Procurei um relógio em algum lugar naquela sala enorme, e logo vi que já era bem tarde, faltavam poucos minutos para meia noite. Todo mundo já havia ido dormir e eu havia ficado ali sozinha, apenas pensando nas coisas, por mais tempo do que pretendia inicialmente.
Estava angustiada por já ser sexta-feira e não ter visto Cameron desde terça-feira. Sabia que era minha culpa. Havíamos combinado que eu iria em seu quarto para vê-lo, mas eu ainda não tinha criado coragem. Estava assustada comigo mesma por ter concordado em continuar o vendo, e tinha medo de ir até ele.
Levantei-me do sofá e caminhei para o segundo andar. Subi as escadas rapidamente, chegando no longo corredor. Continuei andando, quando de repente, ouvi uma única voz, alta e forte. Tentei ignorar, até ouvi-la novamente. Não conseguia decifrar o que estava sendo dito, nem de quem era, mas apenas uma coisa passava por minha cabeça. Matthew.
Me aproximei do quarto dele, e ao encostar a cabeça na porta, só pude ouvir os gritos com mais clareza.
- Para! – ouvi seus berros.
Sentindo meu coração acelerar, abri a porta e a escancarei, olhando para todo o quarto. Dessa vez eu estava calçada e não tinha vidro nenhum no chão. Porém, Matt estava tão suado quanto da outra vez. Se forçasse minha visão, eu poderia ver lágrimas nos cantos de seus olhos e seu pescoço vermelho só mostrava o quanto estava gritando com força.
Podia sentir minhas mãos tremendo quando, rapidamente, fechei a porta atrás de mim. Corri para a cama e me lancei ao lado de Matthew, nervosa.
- Matt! – exclamei, o chacoalhando, tentando fazer com que acordasse – Matt, acorda!
Em um pulo, Matthew se sentou, com os olhos arregalados e a testa coberta de suor.
- Katherine? – seus olhos confusos me encaravam.
- Matty! – relaxei, o puxando para perto de mim em um abraço – Era um pesadelo?
- Sim – assentiu.
Eu o abraçava e o consolava, passando a mão por suas costas. Sua cabeça repousava em meu ombro, e eu podia sentir as lágrimas molhando o tecido da minha blusa. Vê-lo em tanto sofrimento doía muito, principalmente quando sabia que não podia fazer nada.
- Quer conversar sobre o sonho?
- Não – suspirou, se afastando um pouco de mim – Era o mesmo. É sempre o mesmo.
Seus olhos tristes encaravam o lençol que o cobria. Levantei-me da cama e fui ao banheiro em seu quarto.
- Não aguento mais, Kat – confessou, enquanto eu pegava uma toalha molhada para ele – Todos os dias a mesma coisa. Tem vezes que prefiro ficar sem dormir para não ter os pesadelos. É ruim demais.
Com o coração cortado, sentei novamente em sua frente, com a toalha nas mãos. Devagar, passei o pano em sua testa, seguindo para as maçãs do rosto, tentando tirar o suor e dá-lo uma sensação de alivio.
- Não sei mais o que fazer – disse, melancólico – Não lembro a última vez que passei mais de três dias seguidos dormindo direito.
- Você podia ir a um psiquiatra, Matty – sugeri.
- Psiquiatra? Ficou louca? Eu não sou um doente, Katherine – reagiu, um pouco agressivo demais para meu gosto.
- Não estou dizendo que está doente, Matt, mas acho que um psiquiatra poderia te receitar algo para ajudar nessas horas, não sei – suspirei, chateada por ele ter entrado na defensiva tão rapidamente.
Matt engoliu em seco, e pegou a toalha branca de minha mão, passando em seu pescoço de forma mais rápida do que a que eu estava fazendo.
- Eu sei, Kat – sussurrou, repousando uma mão em meu joelho – Não quero ir no médico, não quero arranjar ainda mais preocupações para minha família.
- Mas...
- Não vou em um psiquiatra, Katherine! Ponto final – interrompeu.
Aqueles sonhos ruins deviam estar mexendo muito com a sua cabeça. Matt estava agressivo e estranho, quase como estivesse tentando se afastar de mim de propósito.
- Quero te ajudar, Matty – sussurrei, tentando conter a minha tristeza ao ver aquela cena – Não sei como fazer isso, mas sei que quero.
- Pode me fazer um favor? – pediu, olhando para mim com os olhos mais cansados que já havia visto.
- Claro, - respondi, tentando parecer um pouco mais animada – qualquer coisa.
- Me dá seus remédios de dormir – prosseguiu – Por favor. Eu prometo que compro mais para você amanhã, mas por hoje, me dá um comprimido. Só para experimentar.
Engolindo em seco, senti meu corpo inteiro se contrair em medo. Não podia fazer aquilo, era errado, era um crime praticamente. Estávamos falando de um remédio forte para dormir, que havia sido prescrito para mim por um médico de verdade. Para conseguir aquele remédio, precisei ser avaliada por um ser humano que passou muitos anos estudando para me ajudar, não era qualquer dipirona ou ibuprofeno que se comprava em um balcão de farmácia. Era um remédio forte e sério. Não queria que ele dependesse daquilo para ter uma boa noite de sono como eu.
- Não posso, Matty, você sabe disso – suspirei, desejando que ele nunca tivesse feito aquele pedido.
- Por favor, Kat – suplicou, juntando as duas mãos em frente a seu rosto.
- Matty...
- Por favor, não vou contar para ninguém – insistiu – Prometo que ninguém vai saber disso. Ninguém precisa nem saber que você esteve aqui hoje. Você vai no seu quarto, pega um comprimido, me entrega e volta para lá – ele parecia determinado em conseguir aquilo – Não vai nem precisar dormir aqui dessa vez. Só me dá o remédio, e esquece que isso tudo aconteceu.
- Não sei, Matt – desviei o olhar, procurando algo para me concentrar que não fossem seus olhos molhados das suas lágrimas de antes – Não é tão simples assim. É um remédio muito forte, não tenho certeza se você...
- Se eu aguentaria? – interrompeu, me chamando a atenção – Qualquer coisa é melhor do que esses pesadelos todo o dia, Kat. Por favor. Vai ser nosso segredinho.
Respirei fundo, com o conflito em minha consciência crescendo cada vez mais. Queria ajuda-lo, queria tirar aquela dor e sofrimento dele, mas sabia como era perigoso. As prescrições estavam ali por um motivo; garantir que aquilo só fosse usado por quem realmente precisasse e pudesse usar. Dando um comprimido para Matthew, estaria arriscando tudo na bula que eu já havia lido milhares de vezes.
- Está bem – falei, rapidamente, ignorando toda a grande parte do meu cérebro que me dizia para negá-lo e agindo com o coração apenas.
- Você é a melhor, Kat – sorriu, me dando um beijo ligeiro na bochecha – Obrigado por tudo.
Dei a ele meu melhor sorriso forçado e me levantei dali, indo buscar o tal remédio para Matt. Podia sentir as lágrimas ficarem cada vez mais próximas e fortes, mas segurava cada uma delas. Precisava seguir com aquilo.
Assim que entrei em meu quarto, corri para o criado mudo, pegando uma caixinha laranja que continha todos os meus dois últimos comprimidos. Mesmo assim, não iria dar os dois para Matt, só um era o suficiente. Era a única coisa que eu seria responsável por naquela noite.
Despejei uma pequena pílula em minha mão e coloquei a caixa em seu lugar exato. Era muito orgulhosa da minha organização e de como tudo no meu quarto tinha seu lugar correto.
Voltei para Matt e o vi sentando, abraçando as pernas. Sorriu, sem mostrar os dentes, assim que me viu entrar no quarto. Com as mãos trêmulas, estendi o comprimido branco para ele.
- Está tudo bem com você? – perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Sim – menti, querendo sair dali o mais rápido possível.
- Obrigado, Kat – agradeceu, tomando aquilo da minha mão – Amanhã te digo se funcionou.
- Boa noite, Matty – sussurrei, me afastando dele – Espero que dê tudo certo.
Matthew piscou uma vez para mim, enquanto eu fechava a porta. Comecei a andar rápido, querendo demais sair dali. Minha respiração se acelerava, minha vontade de chorar ficava cada vez mais forte e o peso e a pressão em meu peito só ficavam maiores. Podia me sentir desabando aos poucos.
Naquele momento, só tinha uma pessoa que eu queria ver, e eu sabia exatamente onde encontrá-la.
***
Com o coração acelerado e após passar o caminho todo dirigindo aos prantos, estacionei o carrinho de golfe em frente ao deck. Fechei os olhos por um segundo, ouvindo o barulho que as árvores faziam com o vento e como o rio parecia mais calmo a cada segundo. Respirei fundo, abrindo os olhos e vendo Cameron sentado, de costas para mim. Sorri ao vê-lo. Era quase como se fosse um pequeno porto-seguro. Alguém com quem eu não precisava fingir nada, nem medir minhas palavras. Alguém que me ouvia e não me julgava.
Saí do carrinho e caminhei em direção a ele.
- Oi – falei, me aproximando.
- Como me achou aqui? – perguntou, se virando para mim.
Imediatamente sobressaltei-me com a cena que estava vendo. Cameron estava ali sentado, com uma garrafa de cerveja em cima da mesa. Eu estava acostumada com aquilo. Havia bebido com ele uma vez – se dois goles eram considerados ‘beber’. Era o que estava entre seus lábios que me assustava. Um cigarro aceso. Sim, aceso.
- O que é isso? – exclamei, chocada demais para pensar em qualquer outra coisa.
- Eu perguntei primeiro – falou, sério.
- Cameron, eu estou falando sério! O que é isso? – repeti a pergunta, insistindo para ouvir dele uma explicação plausível.
- Eu perguntei primeiro – repetiu – É a regra. Responde logo.
- Te achei aqui por que hoje é sexta-feira e sei que vem beber aqui de madrugada nas sextas – suspirei, odiando os joguinhos que ele amava fazer comigo – Satisfeito? – Cameron assentiu, levantando as sobrancelhas – Ótimo! Agora pode me dizer o que é isso?
- Isso o que?
- Isso, Cameron – apontei para o cigarro em sua boca, irritada.
- Não está vendo? – ironizou, pegando o pequeno cilindro branco entre seus dedos – É um cigarro.
Ele estava me irritando profundamente. Eu estava preocupada, assustada. Queria saber o porquê de estar fazendo aquilo consigo mesmo. Mas para ele, tudo parecia uma grande brincadeira idiota, como sempre.
- Eu sei o que é, Cam...
- Então por que perguntou? – me interrompeu.
- Quero saber por que você está fazendo isso. Fumando... – até dizer a palavra me enojava.
- Por que eu quero – respondeu, dando mais uma tragada – Você sumiu.
- Não mude de assunto! – exclamei.
Sentia as lágrimas embaixo de meus olhos secarem e o desespero e a ansiedade em meu peito crescerem. Precisava me controlar, caso o contrário, iria desabar pela segunda vez naquela noite. Segurei toda a minha vontade de gritar e respirei fundo, tentando lidar com aquela situação da forma mais madura possível.
- Isso faz muito mal, Cameron. Você sabe disso – cruzei os braços, passando para a frente dele.
- Sim, eu sei que faz mal – assentiu, balançando o cigarro nos dedos – Mas álcool também faz e você não reclamou comigo da outra vez que viemos aqui.
- É diferente – insisti. Ele não estava entendendo, talvez achasse que era bobo ou idiota, mas eu não gostava daquilo. Sabia como fazia muito mal de uma forma muito rápida e querendo ou não, me preocupava com Cameron.
- Não é não, é tudo a mesma merda – xingou, com um tom um pouco mais elevado.
- É a sua saúde – continuei, com a voz cada vez mais fraca.
- Ninguém dá a mínima para a minha saúde, Katherine – exclamou, colocando o cigarro entre os dentes mais uma vez – Você não precisa se preocupar. Eu vou ficar bem.
O cheiro insuportável atingiu meu nariz e tentei prender a respiração para evitar aquilo. Talvez estivesse exagerando um pouco, mas era tudo muito estranho. Até eu estava estranha naquele dia.
- Você é importante para mim – confessei, encarando o chão no segundo que senti minhas bochechas corarem. Era difícil dizer aquilo assim, alto. Era difícil admitir como aquele homem tão errado havia tomado um lugar muito importante na minha vida em tão pouco tempo.
- Não faço isso todo o dia, morena – disse, com uma voz doce e calma. Devia ter percebido que eu não estava bem – É só de vez em quando. Só quando eu preciso muito de alguma coisa a mais. Juro que a frequência é baixa.
Eu dei o meu melhor sorrisinho de canto ao vê-lo enterrar o cigarro em um cinzeiro em cima da mesa, o apagando e o amassando. Não ter ouvido dele uma confissão como a minha havia doído, mas eu precisava compreender. Cameron Dallas era um homem fechado. Era extremamente difícil fazê-lo sorrir, quanto mais arrancar os sentimentos dele.
- Você está bem? – perguntou.
Assenti com a cabeça, ignorando todas as lágrimas que se formavam em meu par de olhos.
- Tem certeza?
- Uhum – murmurei, me virando e encostando no parapeito.
Observei o rio correndo embaixo de mim e o barulho fraco que fazia. Queria me controlar, queria não chorar, queria estar bem, mas não conseguia, tudo estava me afetando demais.
Ouvi os passos de Cameron cada vez mais fortes e próximos, e não demorou muito para que sentisse suas mãos em meus ombros, me virando de frente para ele.
- Não adianta me dizer que está bem quando seus olhinhos vermelhos e molhados me dizem toda a verdade – disse, enxugando uma lágrima perto do meu nariz – Quer conversar?
- Eu fiz uma coisa horrível – sussurrei, com a voz embargada.
- Duvido – falou, me fazendo rir – Comparado as coisas que eu faço deve ter sido tranquilo.
- É sério – respirei fundo, tentando me controlar – Matthew estava tendo pesadelos de novo e quando eu consegui o acordar, ele estava todo suado e chorando e... Ele me pediu os meus remédios para dormir, e eu dei.
- Qual o problema nisso? – perguntou, balançando a cabeça.
- Não são simples remédios para dormir, Cam. Eles são pesados. Precisa de receita para comprar. São muito fortes. E... – eu gaguejava, nervosa – E eu simplesmente me deixei levar pelo caminho mais fácil e dei um comprimido para ele. Ao invés de enfrentar a situação, deixei Matthew me influenciar...
- Morena... – suspirou, me puxando para perto de si e encostando a minha cabeça em seu ombro.
Era a primeira vez que nos abraçávamos. Já tínhamos no beijado antes, mas aquele abraço era diferente. Era um momento de vulnerabilidade meu, e ele estava me confortando. Era a primeira vez que isso acontecia, e nada nunca tinha sido tão calmo e relaxante. A forma como passava uma mão pelas minhas costas e acariciava meu couro cabeludo com a outra ritmavam minha respiração. Tê-lo em um momento assim, tão íntimo, era importante demais para mim.
- É só isso? – perguntou novamente.
- Não – balancei a cabeça negativamente – Não sei direito. Mas eu estou tão cansada. Eu faço tudo que todo mundo quer, fico sendo a garota certinha, a filha perfeita o tempo todo. Já te falei sobre isso antes. Eu sinto como se algo estivesse faltando, sabe? – eu chorava e tentava limpar cada lágrima que caía por meu rosto – Eu não vivi nada até agora e eu odeio isso. Mas ao mesmo tempo, eu não quero ser problemática e ruim. Eu gosto das coisas do jeito que elas estão, eu só gostaria mais ainda se eu me sentisse... – me faltavam palavras para descrever o que eu estava sentindo – Completa.
Cameron sorriu, segurando meu rosto em frente ao dele. Seu sorriso me deixava melhor instantaneamente.
- Primeiro preciso que pare de chorar, morena – me soltou e eu enxuguei as lágrimas, respirando fundo para me acalmar – Pronto!
Cam recuou e andou até a mesa. Pegou uma garrafa de cerveja que estava pela metade e voltou para a minha frente.
- Toma – estendeu o braço para mim.
- O que está fazendo? – perguntei, confusa.
- Bebe – insistiu – Você não disse que está cansada de ser a filha perfeita, mas que gosta das coisas assim mesmo? Isso não vai resolver seus problemas, mas vai ajudar por agora – explicou, calmo – Beber não é nada demais para o resto do mundo, mas para você, é completamente fora da linha. Vai. Bebe um pouquinho.
Suspirei, sorrindo por ter a melhor pessoa possível para aquele momento. Peguei a garrafa de sua mão e levei aos lábios, dando um gole bem grande. A sensação da cerveja descendo por minha garganta ainda ardia um pouco, mas nada insuportável. Quando o líquido finalmente desceu por completo, me senti aliviada e viva, como Cameron sempre me fazia sentir.
- Melhor? – perguntou.
- Sim – sorri, entregando de bandeja para ele todos os meus sentimentos.
- Falei que ia ajudar – se gabou, levantando as sobrancelhas.
- Me beija agora – pedi, rapidamente.
- O quê? – seu rosto se paralisou imediatamente.
- Você ouviu – falei, com o mesmo sorriso aberto no rosto – Me dá um beijo. Ou vai me fazer implorar?
Cameron sorriu, me puxando para perto de si com as mãos em meus quadris. Entrelacei meus braços em seu pescoço, com a garrafa de cerveja ainda em minha mão.
- Embora eu realmente quisesse ouvir você implorando para que eu te beijasse, sua boca está irresistível agora e preciso disso mais do que preciso de ar – confessou, encarando meus lábios. Lá estava ele novamente, provocando em mim sensações que nenhum outro cara jamais tinha chegado nem perto de provocar.
- Bom saber disso – sussurrei, me aproximando ainda mais dele.
Levei minha boca a sua, beijando-o com calma e paciência. Havia passado tempo demais sem aquilo, sem seus lábios macios contra os meus, e precisava aproveitar cada segundo.
Enquanto mil sensações percorriam todo o meu corpo, Cameron aprofundava nosso beijo, separando meus lábios com sua língua. Naquele momento maravilhoso de puro desejo, eu nem pensava na possibilidade de alguém passar por ali e nos ver. Aquele era um dos poucos momentos que eu não queria controlar nada, queria apenas sentir as suas mãos pressionando minha lombar, para nos manter ainda mais colados.
Cameron nos afastou um pouco, para pegar um pouco de ar e beijou meu rosto, logo após minha orelha e quase em meu maxilar. Se posicionou em minha frente, sem me soltar.
- Por que não foi me ver essa semana? – perguntou – A gente não tinha combinado que você iria lá?
- Longa história.
- A gente tem tempo.
Nos afastei um pouco mais para dar outro gole na cerveja. Iria precisar se quisesse contar a verdade para ele.
- Não tive coragem – confessei.
- Coragem? – estava confuso.
- Sim. Eu confesso que fiquei com um pouco de medo essa semana – cada palavra que saía parecia como um peso a menos em minhas costas – Medo de estar fazendo a escolha errada. Sei que a gente é bem o oposto, e que é bem provável que isso não dê muito certo, mas...
- Por que não daria certo? – interrompeu – Eu te avisei várias vezes sobre mim, você disse várias vezes que tudo bem. Não é como se tivéssemos ideias diferentes sobre o que isso é.
- Eu sei, eu sei... – suspirei, com medo de sua reação – É só que... Sei lá! Não estou acostumada com isso. Tudo é ainda meio novo para mim.
- Como assim?
- Nunca tinha nem conhecido um cara como você, nunca tinha bebido, nunca fiz essas coisas informais que a gente faz. É meio estranho.
- Não é estranho – riu – A gente se pega de vez em quando, brigamos às vezes e conversamos para caramba.
Eu sorri, feliz por ele não ter ficado louco e começado a gritar como nas outras vezes.
- Eu sei que é estranho para você, morena, mas acredite em mim, é bem melhor do que esses namoros grudentos – o jeito como ele falou fez parecer com que a ideia de namorar fosse horrível. Realmente erámos completamente, incrivelmente e insanamente diferentes – A gente vai ficar bem. Não precisava ficar com medo.
Coloquei uma mão em sua nuca e o puxei para um beijo rápido. Nunca me cansaria da sensação da sua boca na minha. A cada segundo ele ficava ainda mais incrível.
- Não fique mais tanto tempo sem ir me ver. Só não invadi seu quarto ontem por que sei como você é neurótica e estressada e tínhamos combinado que você ia lá – admitiu, passando uma mão pelo meu cabelo – Não gostei nem um pouco de ficar esses dias todos sem isso...
Cameron me beijou de novo, mas não pude evitar um sorriso no meio daquilo. Ele vinha me fazendo tão bem de um jeito tão estranho. Toda vez que o via, sentia uma adrenalina enorme, seguida de uma onda de endorfina. Apenas as melhores sensações.
- Por que você não me dá o seu número? – perguntei, nos afastando um pouco com a mão em seu peito – Assim a gente se falaria com mais frequência.
- Aí perde a graça... – levantou as sobrancelhas, tentando me beijar de novo, porém consegui desviar.
- Claro que não perde! A gente só conseguiria combinar as coisas direito.
- Perde sim – insistiu – O melhor em nós dois é essa coisa de encontros escondidos, de ter que manter segredo, de sermos...
- Proibidos? – ri, usando uma palavra meio extrema demais para nos descrever.
- É, por aí... – riu junto comigo – Não estrague esse nosso clima de Romeu e Julieta.
- Não somos Romeu e Julieta! – exclamei.
- Somos sim. Só não estamos apaixonados – explicou, me causando um nó na garganta – Então, por favor, Julieta, não estrague tudo. Obrigado.
- Tudo bem, Romeu – sorri, dando um outro gole na cerveja.
Nossa madrugada continuou cada vez melhor. Ficávamos conversando, bebendo e dando uns beijos de vez em quando. No fim, estávamos sentados no chão, encostados no parapeito, torcendo para que o amanhecer não chegasse nunca. Cameron vinha me dando os melhores momentos da minha vida, e embora isso me assustasse, considerando o tipo de pessoa que ele era, amava ter aquilo guardado para nós dois.
- Por que você só é legal comigo? – perguntei, dando mais um gole na garrafa. A cada momento, aquilo ficava mais normal para mim.
- Você continua fazendo um monte de perguntas, né? Mesmo bêbada... – brincou, olhando para mim.
- Não estou bêbada! – exclamei, olhando para o lado e vendo a quantidade de garrafas vazias que nós havíamos deixado – E você já devia ter se acostumado com as minhas perguntas. Agora responde, por que você só é legal comigo?
- Por que você acha que eu só sou legal com você? – retrucou.
- Por que com todo o resto do mundo você é completamente fechado, só abre a boca para usar sarcasmo e fica com aquela sua cara de mau, mas comigo... Ah, comigo você é outro homem – suspirei.
- Sou? – sorriu de lado para mim, de uma forma completamente sedutora.
- Sim – respondi, sorrindo ainda mais – Comigo você é esse cara incrível que me dá as melhores conversas, que é extremamente inteligente e que tem uma personalidade única – seu sorriso ia se desmanchando enquanto Cam encarava meus olhos – Então, me responde, por que você só é legal comigo?
Cameron suspirou, como se não quisesse responder. Passou o braço por meu ombro e me puxou para perto de si, fazendo com que minha cabeça descansasse em seu ombro. A sensação era maravilhosa.
- Por que você é a única que merece, morena.
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