"Rodando e rodando como um cavalo em um carrossel, aqui vamos nós." - Carousel (Melanie Martinez)
SOLAR
— Espera Yeri, vai com calma! - Gemi de dor ao ter meu couro cabelo queimado por uma maldita chapinha.
— Para de ser fresca! Mal encostou nesse seu cabeção. - Fiz bico, alisando a área machucada.
Tinha vindo pra sua casa logo após avisar minha mãe sobre, apenas coloquei minhas melhores roupas na mochila e alguns sapatos, e vim pra casa dos Min. Na verdade eles eram bem ricos, seria até um insulto chamar aquela mansão de casa.
Após eu infelizmente flagrar Jeon Jungkook num coito selvagem com alguma garota que ainda me é desconhecida, não pensei em muita coisa além de fazê-lo pagar pela poluição visual que fui obrigada a presenciar. Ele sabia que eu viria, aquilo tinha sido de propósito! Já estava na hora dele pagar por todas as merdas que eu havia passado por sua causa e eu me sujeitaria a seduzi-lo se fosse preciso, o que era o caso, e a razão da loira estar me queimando literalmente a cabeça.
— Pronto.
— Vocês já terminaram? - Yoongi adentrou no quarto no mesmo instante que me levantei, seu cabelo esverdeado cai sobre a testa e contrasta bem com sua pele pálida e vestes escuras. Ele era muito bonito. - Eu não vou esperar mais um minuto, já vou avisando.
— A gente já tá indo. Espera lá embaixo, e bate na porta antes de entrar, mal educado. Podia ter alguém nu aqui, sabia? - Yeri rebate e eu sorrio da expressão emburrada dos dois. Eles eram tão parecidos que chegava a ser assustador.
— Mas não tem Yeri, e infelizmente eu já tive o desprazer de ver...
— Cala a boca! - Só me dou conta de que uma almofada voa em direção a Yoongi quando esta bate contra a porta recém fechada pelo verdinho que gargalha do outro lado. - Saco.
— Adoro a cumplicidade entre vocês.
— Foco engraçadinha. - Aponta o dedo pra mim e prendo o riso.
— Claro.
— Nada de arregar, me entendeu?
— Entendi. - Suspirei, encarando meu reflexo no espelho, o vestido negro de mangas longas se adere a meu corpo quase como uma segunda pele e meus cabelos perfeitamente lisos caem sobre as costas em harmonia. A maquiagem realça-me o rosto tão bem que até me surpreendi, meus olhos foram ressaltados pelo delineador e meus lábios pelo batom vermelho. — Mas e o Jin?
— Você já me disse que o relacionamento de vocês é aberto, e também não é como se você fosse ficar assim com o Jungkook de cara. Esse é o ponto Sol, a sedução, nada de se render a um papinho barato. Flerte com os olhos, confunda ele, mostre interesse ao ponto de ele se questionar se realmente você está afim.
Como se eu quisesse ficar com ele, tsc...
— Como você sabe disso tudo? - Indaguei realmente curiosa, pois nunca vi Yeri com alguém antes.
— Eu apenas sei. - Dá de ombros.
— E a ficante dele? A Jieun.
— Não se preocupe com isso, ela é o menor dos nossos problemas.
§
— Wow! É aqui? - Yoongi estaciona em uma das poucas vagas disponíveis quase na esquina, a rua está lotada de carros e motos e as luzes que despontam pra fora da super casa de Park Jimin podem ser vistas mesmo de longe facilmente. As festas dele eram sempre consideradas as melhores, e eram o assunto de toda a semana, e agora eu já imaginava a razão.
— Sim. - Yeri quem me responde. - Estou em dúvida se isso mesmo é uma festa comum ou uma rave.
— Essa está até pequena. - Yoongi murmura.
Saio do carro, arrumando o vestido, e a bolsa de lado onde toda mulher guarda seus apetrechos. O som que se sobressaia era altíssimo e eu me perguntava como os vizinhos ainda não tinham chamado a polícia. Mas não podia negar o quanto o ambiente era convidativo, ainda mais pra mim que mal havia ido em duas ou três festas na vida, e nada que se comparasse aquilo, chegava a ser surreal.
— É o seguinte, já vou explicando que não quero ninguém atrás de mim, ouviu, Yeri? Se me ver em um canto vai pra outro, não quero pirralha atrás de mim.
— Eu sou apenas 20 minutos mais nova que você, Yoongi.
— Continuo sendo mais velho. - Yeri e Yoongi eram gêmeos bivitelinos, daqueles que não se parecem fisicamente nada, entretanto, na personalidade não poderia dizer o mesmo. Apenas me divirto com as farpas que eles trocam e tento não pensar no intuito real pelo qual estou aqui, não é o ambiente que convivia, e por mais que eu gostasse, ainda era assustador.
— Vamos. - Yeri me puxa pelo pulso jogando os cabelos louros para o lado, ignorando o mais velho, e apenas me deixo ser guiada até a entrada. É Jackson quem nos recepciona com uma olhada nada discreta pra as minhas pernas.
— Que novidade! Não acredito que vamos ter a honra da dupla mais estressadinha da High Generation nessa humilde festa. Vieram com o Jin ou...
— Com o meu irmão. - Yeri interrompe, nenhum pouco acuada pela altura do moreno.
— Oh! Sejam bem vindas e aproveitem bastante. - Seu sorriso se alarga e ele pisca sorrateiramente pra mim me deixando constrangida.
— Obrigada. - Murmuro e dessa vez sou eu que puxo Yeri para dentro, e o choque é instantâneo. A sala de estar estava lotada, os dois sofás estavam ocupados por casais que se pegavam fortemente e alguns corajosos que se sentavam do lado destes e riam com copos de bebidas como se mal notassem a pornografia que acontecia ao lado, não duvidava mesmo.
A tv enorme estava ligada e dois garotos que reconheci sendo do segundo ano jogavam, pouco se importando com o barulho ou o núcleo de pessoas passando pra lá e pra cá. Minha amiga segura minha mão e passamos por um corredor de luzes vermelhas em néon, a música que tocava sobre as caixas de som ainda me era irreconhecível, mas tinha uma boa batida, isso não poderia negar.
— Meninas, vocês aqui! - Joy parece surpresa quando nos vislumbra, seu sorriso pintado em um batom vermelho semelhante ao meu parece afetado pela bebida que ela carrega na mão.
— E ai Joy, tá sozinha aqui? - Yeri toma a frente, e mais uma vez não deixo de me surpreender por seu lado espontâneo.
— Eu tô com o pessoal, vocês não querem vir? A gente tá jogando suck and blow.
— Vamos lá? - Apenas assinto e sigo as duas garotas até onde quer que seja que elas me levam. Há pessoas que eu nunca vi na vida ali e me pergunto o quão conhecido Jimin poderia ser, aquele tipo de coisa eu só via em filmes americanos, nunca pensei em estar vivenciando algo parecido.
Meus olhos vagueiam de lá pra cá, confusos e curiosos, a euforia adolescente me cerca e permito que um sorriso pinte meus lábios quando atravessamos o quintal pouco iluminado. Sinto toques cheios de pretensão no meu braço quando passo, mas, não me atento a isso e apenas subo as escadinhas do que parece ser um terraço. Yeri precisa ajudar Joy pra que a mesma não caia enquanto sobe. A vista de cima é estonteante e a música que toca é outra bem mais agradável e mais baixa.
— Ora, ora! - Levo um susto quando Yuta berra do nada apontando pra mim e Yeri. — Isso que é uma novidade.
— Não enche, Yuta. - Yeri retorque. Observo a mesa lotada de bebidas, analisando o atual estado do pessoal que, não posso julgar menos do que bêbados.
- Yeri, não sabe o quanto a gente sentiu sua falta.
Oi?
— Sério, os rolês sem você não foram mais os mesmos. - Não tenho tempo pra questionar Yeri e nem acho que seja a hora, mas Joy me oferece um copo com uma bebida azul, aceito por educação.
— Eu sei, o conceito diversão foi criado por mim. - Se gaba e eu só consigo estranhar mais ainda. Cadê a Yeri não sociável odeio pessoas e tudo no mundo?
— Trouxe a Peters, isso que é milagre.
— Não liga pra ele, já fumou tanto que a fumaça subiu pra cabeça. - Uma garota loira fala, ela é bonita e parece simpática.
— Ah, tudo bem. - Sorrio. — Você é?
— Son Chaeyoung, mas pode me chamar de Chae.
— Prazer, _______ Peters, mas todo mundo me chama de Solar.
— Eu sei, você é famosa aqui. — Quê?
—O quê? - Ela ri e tira o copo das minhas mãos. — Não aceite o que a Joy te dá, ela sempre coloca coisinhas dentro da bebida dos novatos.
— Anh... Obrigada. Mas me explica isso ai de que sou famosa aqui, falam de mim, é isso?
Sigo Chaeyoung até uma espécie de tenda onde há outras bebidas lacradas e habilmente percebo como ela mistura algumas num copo, coloca gelo, leite condensado e mais um monte de coisa que eu nem sabia se podia.
— Sabe o Kook? - Ah não.
— Hm... Sei.
Ela ri.
— Okay, todo mundo sabe aqui que você não gosta dele, é engraçado ver de perto. - Ela me entrega o copo. — Pode beber, é coquetel e tá bem fraco.
— Obrigada. - Experimento e me surpreendo com o gosto bom, é viciante na verdade. — Wow, é bom!
— Eu sou barista nos fins de semana. Essa é meio que a minha zona.
— Oh! Que legal!
— Mas enfim, o curioso caso de vocês é bem famoso por essas redondezas, todo mundo te conhece por não ter medo de enfrentar ele.
— Nunca que eu ia calar a minha por homem nenhum, ainda mais se for ele o indivíduo. — Chaeyoung ri alto da minha fala.
— Jeon é uma boa pessoa Sol, espero que um dia você consiga ver isso.
§
Arrependimento.
Não sei a quanto tempo estou ali compartilhando de algumas brincadeiras e tentando me socializar sem parecer estranha. Minhas unhas longas batem contra o vidro do copo que seguro em um tic repetitivo, o tilintar que causa mantém-me a mente distante do lugar que vim e porquê vim. Nada estava saindo como planejado, eu não havia recebido mensagem nenhuma de Seokjin e nem Jungkook havia aparecido durante a festa. Chae me carregava de lá pra cá, me apresentando pessoas e me distraindo, pois em algum momento daquela festa Yeri tinha simplesmente desaparecido dos meus olhos. E de repente toda aquela cacofonia fazia meus ouvidos pulsarem incomodados, o aglomerado de pessoas confundia minha visão já um pouco turva pela bebida. Não adiantava, aquela não era minha zona de conforto. Eu queria ir embora.
— Se anima Sol, que cara de choro é essa? - Minhyuk apareceu diante dos meus olhos com um sorriso enorme e eu sorrio sem vontade alguma, mas não desejando transparecer toda a minha desaminação. — Você e o Jin brigaram? - Ele indaga complacente, ele e Seokjin eram amigos quase que inseparáveis.
— Anh... Não.
— Ah, é que estranhei o fato de vocês dois não estarem juntos hoje...
— Espera... — Meu cenho se franze em confusão. — O Jin está aqui?
Minhyuk parece tão confuso quanto eu.
— Sim, ele chegou comigo, inclusive há horas.
O ar que eu pego da sacada não parece suficiente de repente e estremeço com a rajada de vento que joga meus cabelos para trás.
Então, Jin não havia me avisado que tinha chegado mesmo com as mensagens que enviei mais cedo perguntando que horas ele chegaria?
— Hey não fica assim, vai ver ele... Esqueceu. - Na tentativa de amenizar o moreno apenas me deixa mais insegura. — Ah, desculpa.
— Tudo bem. - Deixo o copo na beira do parapeito e forço outro sorriso que não cabe a situação. — Sabe onde posso encontrá-lo?
— Da última vez ele tava no andar de cima com os caras, perto dos quartos.
— Ok, obrigada.
Preciso de respostas, porque simplesmente nada se encaixa agora e eu verdadeiramente começo a me arrepender amargamente de ter saído de casa.
— Solar-ssi, aonde vai? — Chaeyoung indaga deixando de conversar com o pessoal que falava antes.
— Eu vou pegar um ar, daqui a pouco eu volto. — Sem esperar sua resposta praticamente corro até as escadinhas descendo rapidamente, o medo de tropeçar e ir com a cara no chão se faz presente pela breve tontura que sinto, mas respiro fundo e tento manter a calma.
O barulho da música alta me deixa um pouco desorientada assim como as pessoas que parecem ainda mais frenéticas, o cheiro de cigarro e bebida me deixa enjoada instantaneamente e tenho que engolir o bolo em minha garganta pra não vomitar.
Yeri cadê você ?
Alguém esbarra fortemente em meu ombro quase me derrubando e pede desculpas sem realmente se importar, minha cabeça cria um nó mas ainda assim não paro, empurro desconhecidos e me desvio de mãos sujas que tentam me tocar.
A escada de dentro que leva ao segundo andar é de vidro e por um momento penso que não sou capaz de subir aquilo sem me espatifar no chão como uma batata deplorável e morrer. Mas tudo bem, então, morrerei tentando.
Por incrível que pareça consigo efetuar a ação e sou recepcionada pelo segundo andar infinitamente mais calmo, mesmo que a cada passo que eu dê tenha alguém se pegando pelos cantos.
Seria um trabalho árduo o encontrar diante de tantos quartos e constrangedor já que aquela parte mais parecia um motel diante de tantos gemidos e casais.
Me sinto deslocada, porém precisava esclarecer aquela situação, por isso, mesmo contra a minha vontade eu sigo em frente ignorando o sentimento persistente de que não devo estar ali, que não me encaixo nesse tipo de lugar, com esses tipos de pessoas. Dou a volta nos corredores completos e começo a temer a ideia de ter que abrir cada quarto. Infelizmente ou felizmente não sabia dizer, a ideia não dura muito em vista de que uma cena me desperta a atenção.
Eu sinto que meu coração falha para disparar em seguida, alarmado, e mesmo que meu corpo deseje não prosseguir, algum tipo de força me leva até o canto mais escuro daquele corredor. Uma parede separa como uma divisória e quase nenhuma luz bate ali, mas eu reconheço no mesmo instante.
E perco a cor.
Seokjin beija um homem.
Ou é beijado.
Meu Deus!
— Oppa?
Minha voz sai frágil acometida pelo baque que a cena me causa. Eles deixam de se agarrar no mesmo instante, surpresos, e reconheço no mesmo instante o outro garoto, Namjoon, presidente da minha turma.
— Solar?! O que você ta fazendo aqui? - Jin empurra o peito do maior constrangido, os olhos arregalados, os lábios vermelhos e inchados de tanto beijar, e nem preciso olhar pra baixo para notar o volume nas calças dele.
Sou incapaz de responder qualquer coisa porque um sentimento ruim de traição me acomete. Sei que não temos nada concretamente sério e que em nenhum momento afirmamos que aquilo era um relacionamento, mas sempre ficávamos quando a carência falava mais alto, vê-lo então ficar com outra pessoa me deixara com a sensação de que eu estava sendo usada o tempo todo.
— Você... Me chamou. — Murmurei, seus olhos passam a ser pesados e me encaram com... Pena.
— É... Eu vou deixar vocês dois conversarem. - Namjoon dita baixo coçando a nuca antes de dar o fora, mas eu sequer o olho.
— Sol, vem cá. — Jin segura delicadamente meu pulso e me trás pra perto de si. - Eu sei que você deve estar chocada agora e eu peço mil desculpas por você ter que presenciar o que acabou de acontecer aqui. — Suspira — Você é uma garota incrível...
— Por favor...- O interrompo, puxando meu braço de sua posse. — Sem esse papo de que eu sou incrível e de que o problema não sou eu, já entendi onde você quer chegar. — O bolo de angústias que sobe por minha garganta é inevitável. — Agora eu consigo entender porque riam de mim quando eu falava que estava com você, eu estava sendo usada.
— Também não é assim. — Jin retorque parecendo agoniado. — Eu gosto sim de você, mas... Não desse jeito.
— E não dá no mesmo?! — Minha voz sai esganiçada, o álcool que corre por minhas veias me deixando mais energética e impulsiva. -—Eu só fui usada todo esse tempo pra você se esconder!
— Sol calma, eu sei que você tá chateada e tem todo o direito, mas eu tive medo.
— Não justifica! - Massageio as têmporas.
— Por favor. - Jin segura meus ombros e seus olhos parecem tão machucados quanto os meus. — Eu sei que sequer estou em posição de pedir, mas não conta pra ninguém Sol, as pessoas são maldosas.
— Você não parecia preocupado com isso quando estava se agarrando com o Namjoon. - Cuspo irritada o empurrando. — Mas não se preocupe, não sou esse tipo de pessoa que sai espalhando as coisas por ai.
— Obrigado Sol, de verdade, eu devia ter te contado antes.
— Tudo bem, meu maior erro foi vir pra porcaria dessa festa. - Mordi meus próprios lábios pra conter a cólera que torna meus olhos turvos, sabia que iria chorar logo e não precisava de espectadores, a situação em si era humilhante o suficiente.
— Desculpa. - Senti seu arrependimento mas no momento sou tomada pelo enfado.
— Eu vou embora.
— Não quer que eu... Te leve em casa?
— Eu tô com a Yeri. - Dito, mesmo sabendo que fui abandonada por minha amiga que sequer atende o telefone e sinceramente espero que ela tenha uma boa explicação para ter me deixado sozinha em meio a um monte de gente desconhecida. — Tchau, Seokjin.
— Tchau Sol, se cuida.
Meus olhos se tornam água assim que o dou as costas, minha consciência grita que o erro é meu, que eu sempre sou insuficiente e que não passo de um brinquedo para as pessoas ao meu redor. Eu sempre tentei ser otimista depois que ele se foi, que o problema não havia sido eu desde o início, mas em circunstâncias assim a sensação de insuficiência era inevitável. Todos iam embora, as pessoas eram ruins, elas mentiam o tempo todo, usavam dos sentimentos alheios e depois pediam desculpas como se um pedido de meia boca pudesse resolver o estrago que ficava no coração.
Não mesmo. As feridas se suturam mas nunca se fecham, ali ficará a cicatriz de palavras cruéis e atitudes egoístas.
Frustrada, pego o primeiro copo que vejo na mão de alguém e entorno, sentindo o líquido amargo descer na minha garganta como fogo, fiz uma careta inevitavelmente, mas tento não me demorar nisso e jogo o copo vazio no chão mesmo.
— Maldição. — Grunho sentindo meu mundo girar quando desço as malditas escadas de vidro, tropeçando quase no último degrau e me segurando por pouco no corrimão pra não cair. — Droga. - Não sei o que diabos eu havia bebido mas o efeito veio instantâneo de modo que me deixei escorregar até sentar em um dos últimos degraus. Humilhada. Acabada.
— Parece que alguém exagerou, hein?
Aquela voz, aquela maldita voz debochada. Ainda em meu último estado de lucidez levanto meu rosto me deparando com os dois seres mais desprezíveis do mundo.
Jungkook me encarava de cima, o cabelo repartido para o lado quase cobria um dos olhos e sua roupa escura se ajustava com o corpo robusto. Ele parecia ter acabado de chegar, bem sóbrio e pleno ao contrário de mim, deplorável e com o rosto borrado pelo choro.
Jimin estava ao seu lado, tão bem vestido quanto e me olhando com algo que parecia... Empatia? Não sei.
— Você parece bem decepcionada.- Jungkook debocha.
— Acho que não é a hora, cara. - O alaranjado intervém notando o meu estado lastimável de miséria.
— O que... O que v-você quer? — Indago com dificuldade, a língua parece pesada demais e meu rosto parece estar pegando fogo. — Veio rir? — Sou eu quem sorrio sem noção, embebida em minha própria desgraça, mas as lágrimas continuam caindo. — Vá... Vá em frente. — Faço um floreio com as mãos o incentivando, até eu riria de mim naquele momento. — V-vai seu ridículo... Ta esperando o q-que?
— É melhor a gente tirar ela daqui.
— Não me toca! - Grito, estapeando a mão de Jimin que tentara me tocar e ele se encolhe assustado. Me agarro ao corrimão pra levantar sentindo os olhos dos dois em mim, é quase um suplício em vista de que pareço não ter pernas, mas consigo. — Você! — Cutuco o peito de Jungkook com uma mão enquanto com a outra seguro minha bolsa. — É um b-boboca.
Mordo meus lábios dormentes porque não os sinto.
— O-o que eu te fiz? Hein? P-por que você me odeia? - Tonta e chorosa eu pergunto, mas não tenho respostas além do seu olhar inexpressivo, os lábios cerrados e o maxilar marcado. — Não vai me responder? Então foda-seee! — Me desvencilho aos tropeços e o deixo lá, parado sem tirar os olhos de mim.
Os malditos saltos deixam meus pés doloridos e os passos ainda mais incertos, mas não tenho equilíbrio o suficiente pra tirá-los sem cair no chão e ficar por lá mesmo. Passo pelo corredor vermelho sendo o único sinal de que estou no caminho certo até a saída e respiro livre assim que saio daquela maldita casa.
A primeira coisa que faço é abrir minha bolsa e tirar de lá meu celular, erro a senha 3 vezes seguidas até perceber que o aparelho está de cabeça para baixo e vou direto pra o chat de mensagens clicando no contato que acho ser de Yeri, gravo um áudio.
— Min Yerin sua fodida, e-eu espero que você tome bem mas bem no meio do seu cu, sua falsa! Quando eu te ver de novo sua cachorra eu vou te pegar na porrada. - Não satisfeita mandei outra praticamente chorando.
— D-deve tá dando né sua desgraçada? Q-que tipo de... Amiga é você? A-amizade primeiro, depois homem. Mas tudo bem aqui se faz aqui... - Meu celular simplesmente sumiu da minha mão e até olhei pra baixo pra ver se eu tinha derrubado.
— Já chega, não? - A voz imperiosa de Jungkook soou seca e repreensora.
— Ei, devolve!
— Não. - Retruca e enfia meu celular em seu bolso. — Por que bebeu assim? Você enlouqueceu? - Tonteio pra o lado sendo amparada por seus braços firmes. O mundo gira, e minha melancolia retorna quando relembro da noite horrorosa que estou tendo. Agarro seus bíceps pra manter meu equilíbrio e meus olhos marejam em retorno ao que meu âmago sente, apertado em uma tristeza que me faz menor do que já sou.
Eu era a maldita de uma insegura, essa era a verdade, eu era medrosa, nunca arriscava com medo de falhar e sempre acabava hesitando antes de tomar uma decisão, e mesmo assim, mesmo que eu pensasse em demasia ainda dava tudo errado.
— Eu fui chutada. - Não encaro seu rosto, a vergonha me deixa miserável juntamente com a bebida. Enterro o rosto em seu peito e fungo com o primeiro soluço que rompe quebrado da minha garganta. — F-fui usada pelo Seokjin, abandonada p-por a minha amiga e não posso v-voltar pra casa assim. - Já imagino que ele vá me afastar e rir da minha cara, zombar do meu estado crítico e espalhar para seus amigos imbecis o dia em que eu, Solar, paguei o maior mico da minha vida, mas ele não faz nada por um tempo e eu sequer tenho condições de pensar sobre algo. As lágrimas molham sua camisa de tecido e eu fecho meus olhos pra tentar ofuscar a tontura que faz tudo girar.
Mas surpreendentemente sinto suas mãos pousarem sobre meus ombros tão leves que mais parecem penas. Jungkook suspira e seu peito sobe e desce com o movimento.
— Tudo bem. Vamos dar uma trégua, certo?
Ele disse pra mim, mas algo em seu tom denotava que afirmava para si mesmo também. Então, apenas assenti incapaz de fazer outra coisa.
— Só hoje, vamos esquecer todas as coisas, de todas as provocações, okay?
Só hoje.
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