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História Ruídos de Saturno - Explosão


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Oi, gente! Boa noite!
Hoje a postagem do capítulo é minha, e eu quero dizer duas coisinhas:
• Esse capítulo ficou um pouco maior que os outros, na verdade acredito que tenha sido o maior. Ao decorrer da leitura verão que foi mesmo necessário, porém os próximos já estarão com o tamanho normal;
• Sentimos falta de algumas de vocês nos capítulos recentes, precisamos confessar;
• Após eleger tantos capítulos o meu preferido, cheguei a conclusão de que este merece definitivamente o "título" 💜
Sem mais avisos, esperamos que gostem. Tenham uma boa leitura!

Capítulo 17 - Explosão


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Explosão

O vidro aberto do carro revela o ar frio do início de noite. Devido à chateação ocorrida no começo da manhã, o dia acabou passando rápido demais, acompanhado pela tristeza. Em algum momento, acabei por adormecer, decepcionado pelo modo que tratei Iris. Ela não merecia palavras tão ríspidas. Não mesmo.

Disposto a ajudar, meu pai se ofereceu para me levar à sua casa para que eu pudesse me desculpar. 

Aparentemente, uma vez, voltando do trabalho, papai deu carona a ela, quando a loira também retornava do serviço. Com o endereço ainda na memória, ele me trouxe até aqui.

A fachada da casa é amarela, bem como os fios de cabelo de Iris. Para minha surpresa, as janelas estão fechadas. É possível que não haja ninguém, o que me desespera.

Espero que o veículo estacione e salto, à espera do pai. Ele me segue, com um evidente receio, guiando-nos em direção à porta. Seu dedo grande pressiona a campainha; sinto meu estômago se revirar.

— Esquecemos de ligar avisando que viríamos, não se decepcione se elas não estiverem em casa. — explica, retirando o indicador da campainha.

Dr.ª Patricia não tarda a nos atender, surpresa com a visita.

— Shawn, olá! Posso ajudá-los? Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, Shawn estava meio indisposto esta manhã, o que acabou atrapalhando o encontro com a Iris. Ele veio se desculpar e passar o fim de tarde com ela, se for possível. — esclarece, a arrancar um sorriso da loira.

— Ela está no quarto, pode ir ali. Subindo as escadas, à esquerda. — com uma das mãos, a psicóloga ilustra o trajeto. — Estou resolvendo o plano de um atendimento, mas, se quiserem entrar, estarei à disposição em minutos.

— Não se preocupe. Se for melhor, volto para buscá-lo mais tarde. — sugere, e eu assinto, em despedida. 

— Sem problemas, sr. Mendes. Até logo! — engulo em seco, vendo-o se afastar. — Fique à vontade, Shawn. 

Ouço o som do carro ao dar a partida. Respiro profundamente, ansioso para vê-la. Não sei direito o que direi, ou se ela gostará de me ver depois do modo como lhe tratei, mas preciso fazer uma tentativa. 

Cheio de coragem, inicio a subida aos degraus da longa escada. A ponta de meus dedos treme. Vejo a porta recostada e, através da fresta, a garota, com os óculos no rosto, sentada sobre o colchão, usando um notebook. Bato delicadamente na madeira.

— Com licença?

Em uma espécie de pulo, provavelmente de susto, Iris abaixa a tela do computador e cruza as pernas, virando-se para mim. Seus olhos azuis me observam com atenção, curiosos.

— Shawn? — ela une os cabelos para um só lado. — Pode entrar.

Obedeço-a, encostando a porta ao entrar. Caminho a passos lentos, a encarar o quarto da garota. Paredes brancas, algumas revistas no chão, ao lado de um pufe lilás, cortinas da mesma cor e uma escrivaninha repleta de livros enormes sobre física e espaço. 

A filha da psicóloga está de pijama. Nunca a vi sem estar bem arrumada, isso deve ser um pouco constrangedor para ela. Pelo menos, é para mim. Uma das mãos alvas da garota bate na cama, acredito que fazendo menção para que eu me sente, e assim o faço. Minha vergonha impede que alguma palavra saia da boca.

— O que lhe trouxe até aqui? — quebra o silêncio rapidamente, na mesma intensidade que um copo de vidro a despencar.

— Papai. — fecho os olhos, sem graça, assim que compreendo a real pergunta. — E-eu vim me-me... — suspiro, expulsando a pouca coragem dentro de mim. — Eu vim me desculpar... pelo modo como falei com você lá em casa.

— Não se preocupe, Shawn, não me magoei. Você só não estava em um bom momento... acontece.

Encaro as minhas mãos.

— Iris, eu ouvi o que minha mãe disse... — as órbitas azuladas se arregalam. — Quero dizer, parte do que falou.

— Sua mãe só está preocupada, eu entendo ela.

— Mas ela não me entende. — dou de ombros. — Não estou encantado por você, não sou um tolo, mamãe pensa que sim, mas não sou. Gosto de estar com você e do jeito que me trata...

Seus lábios se abrem para me interromper, no entanto, ergo o dedo indicador, como quem diga “não terminei” e insisto em falar:

—  Iris, você não age comigo como se eu fosse especial. O que é irônico... — solto um sorrisinho.

— O quê?

— Isso. Você faz com que eu me sinta especial.

As íris celestiais vibram de encontro às minhas. Consigo ver pequenas luzes reluzirem neste olhar, um tanto umedecidas. O rosto dela se aproxima brevemente, como se quisesse fazer alguma coisa, contudo, algo lhe podasse. Em meu estômago, o oposto: o bater de asas de borboletas me impulsiona a querer mais um dos beijos proibidos.

Meus olhos escapam dos dela, mirando à boca rosada. Mordo meu lábio inferior, na tentativa falha de conter a vontade gigante que invade meu interior. Aquele suor da semana passada toma posse de minha mão.

 Esmagando-o, como se representasse meu receio, elimino a distância entre nossos lábios, a encostar os meus nos dela.

Posso senti-la sorrir, no instante em que nos colamos. Como da outra vez, nossas bocas se entreabrem e as línguas se encontram. O calor provocado pelo toque é capaz de me fazer estremecer. Com a memória do que fizemos na última vez, uma de minhas mãos invade seu cabelo aloirado.

Em forma de resposta, ambas as dela se apossam do meu e bagunçam-no. Minha respiração, em vez de falhar, modifica-se, torna-se mais intensa, como se os pulmões precisassem de mais ar. Parece acontecer a mesma coisa com Iris, porque ela ofega. Uma de suas mãos escorrega pelas minhas costas, a roubar mais arrepios.

Sem saber o que fazer, imito os movimentos, dedilhando cada uma de suas vértebras por cima do tecido fino da blusa. 

De súbito, como se um asteroide me empurrasse, meu corpo se inclina sobre o dela. Nosso beijo se interrompe, permitindo, apenas, que nossas respirações turbulentas se cruzassem.

— Shawn...

— Acho que me desequilibrei. — confesso, rindo.

— Tudo bem.

Encará-la nesta proximidade, com o inflar e murchar do peito tão evidente, causa-me uma sensação estranha: sede. Sede de Iris. Sem ousar retornar à postura normal, grudo nossos lábios mais uma vez, sanando toda carência de meu corpo.

O mesmo asteroide que me debruçou sobre ela faz seu caminho nas minhas artérias, aquecendo cada parte de mim. Sinto meus nervos ferverem, sou devorado pelo calor a cada segundo. O sol se aproxima, prestes a nos engolir a qualquer momento.

As mãos de Iris apertam a minha cintura, causando uma resposta um pouco menos discreta do que eu gostaria na parte debaixo. Minhas bochechas ardem de vergonha, mas, sob o fervor já interno, não levo me preocupo em corar, afinal, a vermelhidão deve estar em mim há alguns minutos.

Contraditoriamente, a temperatura alta me incomoda. Nossas roupas começam a aquecer nossos corpos de forma irritante, assim, puxo minha camisa para cima. A loira para as mãos e observa o que estou fazendo. Seus olhos inquietos me assustam.

— Algum... algum problema? — indago, receoso.

Ela nega com a cabeça.

— Eu não sei se deveríamos...

— ... nos beijar? — ela ri bem baixo e assente. —Acha melhor a gente parar?

Ela morde a parte de dentro da bochecha.
Como no meu sonho, Iris toma a iniciativa e puxa meu rosto para si pela nuca. De um jeito inédito, nossos lábios se tocam com avidez.

 A chama do asteroide insiste em me percorrer, carbonizando cada célula de meu corpo. Afasto o cabelo dela para o lado e surpreendo-me com desenho: um pequeno sistema solar.

Na altura da clavícula esquerda, sua paixão é ilustrada. Vivendo em um mundo onde a maioria das pessoas tem algum desenho fixo em uma parte do corpo, não é tão difícil descobrir que é uma tatuagem.

Nunca senti curiosidade em relação a isso, entretanto, saber que Iris gosta é interessante. Seu desenho é bonito e singelo, combina tanto com ela que eu não me surpreenderia se aquela parte de sua pele nunca tivesse sido vazia.

Aos poucos, nós nos despedimos de cada peça de roupa. Por mais que tiremos as vestimentas, mais e mais calor nos alcança. Nossos corpos, inclusive, ficam mais próximos. Cada vez mais. Ainda mais perto, até que não haja nenhuma distância entre nós. 

Neste instante, percebo que não fomos engolidos pelo sol, somos a nossa própria estrela em processo de explosão. A poeira galáctica comprova que nós dois somos um só na viagem mais inacreditável que já presenciei. Por mais que o calor queime, não quero saná-lo, a vontade é de ferver.

Explosão. Exaustão. 

Um confortável silêncio preenche todo o espaço do quarto.  Meu corpo extasiado ainda está colado no de Iris, de forma que minha cabeça descansa em seu peito. Nossas respirações se fundem, seu cheiro doce não para de me atingir, e as pernas permanecem enroscadas uma na outra. 

Meus dedos curiosos percorrem os desenhos na clavícula, sinto cada traço, cada linha, que, em conjunto, formam o pequeno e delicado sistema solar. 

A impressão que tenho é que cada parte de meu corpo adormeceu. Há uma calmaria estranha aqui, exatamente o oposto do que eu sentia há pouco, quando tudo se incendiava. 

Na verdade, agora que nossos atos parecem ter chego ao fim, tudo se encaixa de forma estranha em meu cérebro.

— Como se sente? — a voz de Iris me desperta.

 Calma e relaxada, ela passeia os dedos por meu couro cabeludo. Em um carinho gostoso.

Penso por um instante.

— Eu... não compreendo muito bem. Estou confuso.

— Pergunte. Você pode me perguntar qualquer coisa, Shawn. — se ela soubesse dos muitos questionamentos que aparecem quando estamos juntos, talvez não dissesse isso com tanta convicção.

— O que acabamos de fazer... por que eu não o conhecia? Quero dizer, eu nem sei o que é.

— Bem, na maioria dos "casos" começa com um beijo. Um beijo acontece quando duas pessoas estão atraídas uma pela outra, e, às vezes, elas acabam ficando atraídas o bastante para chegar a esse ponto. Uma coisa leva à outra. — ela não tem dificuldades em explicar, como se já esperasse pela minha pergunta.

— Foi bom... foi muito bom. É assim com você também? Houve um momento em que meu corpo pareceu estar prestes a explodir, mas não de forma ruim. E, segundos depois, eu me sentia realmente numa explosão.

— Foi ótimo. — ajeito o pescoço, subindo os olhos de encontro aos dela. — Preciso que saiba que esse momento foi o melhor que eu já vivi. Nunca estive tão feliz. Queria que pudéssemos pausar e ficar assim por tempo indeterminado. — confessa, neste segundo, identifico as órbes azuis me encarando com um carinho intenso e palpável. 

É impossível disfarçar, e a cor clara à minha frente reflete o mesmo nas minhas acastanhadas.

— Nã-não podemos? — pergunto, considerando a hipótese.

— Infelizmente, não. Seu pai lhe trouxe aqui, alguma hora ele virá buscá-lo. O melhor seria nos aprontarmos.

— Eu não quero. — afirmo, concreto. — Hoje é final de semana, só voltaremos a nos encontrar no próximo. São muitos dias, não gosto de passar tanto tempo longe. Não gosto. — repito, ansioso.

— Eu também não gosto, porém, eu sei que você tem um celular, não é? — assinto. — Salvarei meu número nele, então, poderemos conversar por ligação ou mensagens, quando quisermos. Não será a mesma coisa, mas assim os dias passam mais rápido até o final de semana.

Por que não pensei nisso antes?

Concordo, um pouco mais animado com a ideia. Ficamos mais um tempo nesta posição, contudo, é necessário sair. Iris utiliza o fino edredom para cobrir parte do corpo enquanto recolhe as próprias roupas do chão. 

Não sei como agir, é certo que estávamos tão envolvidos minutos atrás que eu não liguei para o fato de estarmos nus. Não obstante, agora, observando a situação, não é possível impedir o constrangimento de subir para minhas bochechas em forma de uma leve queimação.

— Você... poderia se virar? Desculpe, é que...

— Sem problemas, Shawn. — a loira sorri carinhosamente. — Eu entrarei naquela porta para me vestir, é o banheiro, você pode se arrumar aqui. Não demorarei.  — murmura ela, usando o suave tom de voz harmonioso. 

Em poucos instantes, estou sozinho no quarto, e o rápido constrangimento se vai. Mal termino de amarrar os sapatos, e o som de um carro buzinando em frente à casa infiltra meus ouvidos. As palavras de Iris nunca fizeram tanto sentido. 

Se eu pudesse, não abriria mão de estender aquele momento por nada. Saber que precisaríamos nos despedir, após algo tão incrível ter acontecido provoca um vazio imenso em meu peito, este que só será preenchido, no momento em que nos vermos novamente.

 Ligações não serão o bastante. Não depois de hoje.


Notas Finais


Obrigada por lerem até aqui!
E aí, vocês esperavam por isso? A primeira vez foi bem leve, metafórica e sem a narração do ato em si, nós sabemos. Preferimos assim por achar que combina mais com a fic, deste modo, também não precisamos mudar a classificação indicativa da história.

Com amor,
Jéss

► Disfarce Invisível • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
▶ Conheça Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
▶ Conheça Hurdle (escrita por Jess) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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