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História Ruídos de Saturno - Poeira Galática


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Boa noite gente! Como vocês estão?
Tô postando pelo celular, nunca faço isso então espero que a formatação do capítulo não fique uma bosta.
Bom, Lali e eu sabemos que demoramos dois diazinhos, pedimos desculpas por isso, mas como este já é o último capítulo tentamos escrever algo melhor para vocês ❤
Esperamos que gostem, e tenham uma boa leitura!

Capítulo 19 - Poeira Galática


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Poeira Galática

Mais um fim de semana, mais um encontro com Iris. Nunca estive tão ansioso para vê-la quanto hoje. Após minha última sessão no consultório, tomei uma decisão em relação a nós; algo que ainda me deixa nervoso quando penso, mas que não poderia soar mais certo.

Assim que a porta se abre e meu olhar encontra o de Iris, lembro-me da conversa com Anna na consulta passada. Depois que descobri o nome de meu sentimento, perguntei tudo a doutora; quis saber como cura, o que dói, em que me acrescenta. Sobre todas as palavras ditas, não pude me esquecer da mais intensa: assumir.

Dr.ª Anna sugeriu que eu assumisse à família o que sinto. A psicóloga afirmou que um sentimento tão especial não é digno de ser silenciado ou alimentado às escondidas; além disso, certificou-me que, por mais que não goste de falar sobre, meus pais devem saber o que se passa em minha mente. 

E irão. 

Só não sei como. 

Não agora, diante desses enormes olhos azuis como o céu.
Estávamos todos à mesa, na sala de estar. Meus pais conversavam sobre assuntos aleatórios, sem prestar muita atenção na movimentação ocorrida na entrada de casa. Ao contrário de mim, que me mantenho atento à garota dos fios claros.

Embora nervoso, esforço-me para andar na direção de Iris, quem sorri, preparada para o cumprimento que virá a seguir. Porém, ao invés do previsto, tomo seu rosto delicado em minhas mãos, quando estamos próximos o suficiente, grudando nossos lábios em um beijo casto. As sensações são as mesmas, talvez até mais intensas do que antes.

Percebo que a surpresa provocada pelo gesto exerce um grande poder sobre ela. Por alguns segundos, seu corpo permanece congelado, sem esboçar reação alguma. Quando penso em me afastar, a concluir que não foi uma boa ideia, a de olhos azuis me puxa de volta. Pousando sua mão direita em minha bochecha, ela repete meu movimento. Todavia, diferentemente das outras vezes, sem aprofundar o beijo, apenas recostando sua boca na minha.

Já é o bastante. O frenesi me preenche.

— Shawn! — o grito de minha mãe nos rompe. — Achei que havíamos concordado em ir com calma... — o tom de voz ríspido é a deixa para nos separarmos ainda mais.

Assim, concluo que outros casais não devam se beijar em frente as outras pessoas com muita frequência. Isto foi constrangedor. Meu rosto formiga levemente em vergonha.

— Con-concordamos, mas Iris e eu estamos juntos... — é a vez da menina de quem gosto corar. — Eu gosto dela. Muito. — confesso. — Dr.ª Anna me aconselhou a assumir isso para todos.

— Entendo, filho... só acho que é cedo, talvez ela não se sinta da mesma forma.

— Eu me sinto, sim! — Iris se intromete, apertando minha mão com certa força. — Sempre correspondi aos sentimentos do Shawn. Havia um receio, no início, sim; um medo de estar confundindo as coisas, mas, hoje, eu entendo que meus sentimentos estavam corretos. Jamais o machucaria, vou me esforçar ao máximo para que possamos dar certo.

Não sou capaz de controlar o sorriso, saber que tudo é recíproco soa mil vezes melhor do que apenas imaginar.

—  Podemos conversar a sós por um minuto? — papai, que até então permanecia calado, resolve intervir, a conseguir que os dois fossem para a cozinha. 

Eles sempre fazem isso, quando precisam falar sobre algo que me envolve.

— Desculpe. — murmuro para Iris, culpado por tê-la beijado novamente sem permissão.

— Está tudo bem, Shawn. — seu sorriso doce me conforta. — Nós nunca conversamos sobre o assunto, pensei que levaria um tempo até que você estivesse preparado para um passo como esse.

— Estou preparado desde aquele dia na sua casa. — cochicho, movido pela timidez. — Talvez antes.

— As coisas aconteceram rápido desde que nos conhecemos... e, quando estamos juntos, parece que nunca estivemos separados. — profere, convicta. — Seus pais entenderão.

— Não. É provavelmente que eles voltem e finjam que nada aconteceu. — revelo, lembrando das experiências anteriores, quando fui deixado sozinho no cômodo para que eles pudessem conversar. 

Reviro os olhos em tédio. Meus olhos estacionam nos lábios rosados de Iris. Procuro algum defeito nessa maciez que não seja a distância dos meus, contudo, não encontro nenhum.

— Enquanto isso,  podemos fazer algo... juntos.

— Pensei em assistirmos Star Wars, podemos, inclusive, fazer uma maratona com todos os filmes... — nego com a cabeça, interrompendo-a.

— Nã-não gosto de guerra. — confesso. 

Minhas palavras parecem frustrá-la. 

— Desculpe-me.

— Não é um filme violento, é um clássico... mas, entendo, se realmente não quiser assisti-lo.

— Podemos tentar. Tentar. — dou o braço a torcer.

As mãos de Iris se erguem e balançam, em nítida comemoração. Aparentemente, esse filme significa muito para ela. Acho que papai já o assistiu. Nunca tive muito interesse, por conta da imagem antiga. Quem sabe, por todo este tempo, eu o subestimei.

— Poderíamos comer umas coxinhas de frango frito, enquanto fazemos nossa maratona. O que acha? — sugere, sorridente.

— Não como animais. — os olhos azuis se arregalam. — Você pode comer, se quiser. Eu não julgo, a mamãe também come...

Acho que estou decepcionando muito a Iris hoje.

Dou com os ombros, a encarar os meus pés. Não quero olhá-la diretamente, pelo menos, enquanto discordo de tudo. Iris parecia tão feliz por não precisarmos mais esconder os sentimentos, e eu tenho sido um enorme balde de água fria.

— Desculpe-me por ser assim. — meu timbre é baixo.

— Não precisa se desculpar, Shawn. — sua mão envolve a minha, sugando, inconsequentemente, minha atenção a ela. — Esse é o seu jeito. Gosto de você exatamente assim e, não me perdoaria, se o mudasse por mim. Sem contar que não é obrigado a gostar das mesmas coisas que eu. Sempre quis parar de comer carne, de repente, esta é a hora de conseguir. Você me ajuda?

— E-eu? Sim, claro que sim. — devolvo-lhe animadamente.

— E o que nos sugere?

— Para comer assistindo aos filmes? — ela concorda com a cabeça. — Pipoca.

A de cabelos loiros ri consigo mesma, a depositar um leve tapa no topo da testa. Sua reação de obviedade é clara, porém, devo concordar, a resposta era óbvia.

Não precisamos de muito tempo para encontrar os filmes disponíveis on-line. Como estou acostumado a assistir TV no meu quarto, subimos juntos. Meus pais não se pronunciam a respeito, papai ajuda a fazer uns petiscos.

Deitados sobre colchão em perfeita sintonia, Iris e eu dedicamos nossa tarde a assistir à sequência de Star Wars. Por serem vários filmes, imaginei que acharia cansativo em alguma hora, todavia, isso não acontece. 

Quando vejo a história de Elliot, o garoto que cresceu no espaço, o tempo passa num piscar de olhos. Claro, a atmosfera espacial presente nas imagens prende minha completa atenção, entretanto, ter Iris tão perto, mostrando-se feliz e animada com minha presença não tem preço.

— Acho que, depois de hoje, não precisamos nos ver apenas aos finais de semana. — Iris comenta.

Com a chegada da noite e os créditos a ocupar a tela da televisão, infelizmente ela precisa ir embora. Percebendo minha decepção, seu comentário serve como combustível para diminuir ao menos 1% da saudade que virá depois.

Semelhante às outras vezes, nosso encontro de lábios é intenso e gentil. Meu estômago se revira com leveza. As mãos suam em nervosismo, no instante em que as de Iris seguram as bordas do meu moletom. Nossas línguas se acariciam gradativamente, a provocar uma evidente troca de gostos.

Ela tinha razão: quando estamos juntos, parece que nos conhecemos há uma vida.

  Assim que minha amada se vai, loto o quarto sedento pela sua presença com a música que me apresentou. De todas as coisas que Iris contribuiu para mim, aprender a ouvir música é a que me torna mais "comum". Sinto como se ela me fizesse mais forte, mais humano. Talvez ela faça mesmo.

A melodia aveludada invade os meus tímpanos, massageia todo meu canal auditivo e adentra o cérebro. A escorregar pelos neurônios, o ritmo doce alcança meu coração e abraça-o. Por um instante, sinto como se Iris estivesse aqui. Com um pequeno indício de saudade, corro os olhos às estrelas reluzentes e alegres que salpicam a imensa negritude dos céus.

Uma sequência curta de batidas na porta faz com que a música afrouxe o laço ao redor de meu coração e, assim, permite que eu a observe. Mamãe chega, sem fazer muito barulho. Ela se acomoda ao meu lado na cama e apenas analisa meu estado.

— Achei que não fosse querer ouvir mais nada hoje, depois de tantos tiros. — comenta, referindo-se à música que estou a escutar.

— Yellow é especial, não me machuca nem atordoa...

— Realmente, é uma belíssima música. Ela nos envolve tanto que parece um abraço no coração. — pela primeira vez, minha mãe aparenta entender com exatidão como me sinto.

Sem dizer nada, tombo minha cabeça sobre o ombro ossudo da mais velha. A mão gelada abriga meus cabelos e acaricia-os, pegando uns cachinhos imperfeitos para si. Posso ouvi-la suspirar.

— Não sei se percebeu, Shawn, mas dei uma saída no momento em que estavam assistindo um dos filmes. — no caso, não, já que estava concentrado na tela. — Eu precisava absorver todas as informações. Cheguei a ligar para Dr.ª Anna e Dr.ª Patricia, não sabia o que fazer.

Apesar de tudo, mamãe ainda considera a mãe de Iris enquanto profissional. Gosto disso. Ela é uma excelente psicóloga, de fato. Sinto falta das consultas. Eu adorava sua paixão pela arte e o quanto me incentivava a explorá-la.

— Errei muito com você, meu filho. Fui dura, desnecessariamente, muitas vezes. Eu só queria lhe proteger. — percebo sua voz embargar.

— Eu sei, mamãe. Não se preocupe.

— Ambas as psicólogas me aconselharam frequentar um grupo de apoio para pais de portadores de autismo, acho que será bom para mim. — concordo com a garganta. — Só quero ver você feliz, Shawn. Prometo que serei uma mãe melhor... — interrompo-a.

Afasto meu rosto e encaro os olhos castanhos sob o embaçar de algumas lágrimas.

— Impossível, porque você já é a melhor de todas!

Suas mãos me puxam para um abraço, como o que a melodia dava em meu coração há pouco. Encaixo o rosto na curva de seu pescoço e fecho os olhos, apreciando cada segundo em seus braços.

Ao fundo, a música de Coldplay nos embala, guiando-nos ao espaço. Sentados sobre uma estrela cadente, viajamos ao redor da lua; persistimos através dos planetas solitários até chegarmos ao meu confidente: gigante e quieto, Saturno nos aguardava. 

Com poeira da lua nos pés, somos recebidos pelos anéis mais belos. Iris, junto ao meu pai e minhas terapeutas, esperava pela nossa vinda. Agora estamos aqui. Todos juntos e felizes. Cada um onde deveria estar. 

Afinal, desde o início, eu soube que era única a conexão. Meu vício por Saturno extravasa as semelhanças superficiais: o planeta especial por ser diferente dos demais é a versão mais pura de mim.


Notas Finais


O que acharam? O próximo já é o epílogo, então tecnicamente ainda não acabou. Você que por algum motivo não apareceu aqui em nenhuma postagem, aproveite para vir, estamos ansiosas <3
Bom início de semana para todos vocês!
Com amor,
Lali e Jéss

► Disfarce Invisível • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
▶ Conheça Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
▶ Conheça Hurdle (escrita por Jéss) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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