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História Ruptura - Ruptura


Escrita por: makkachin

Notas do Autor


Eu queria comemorar meu aniversário aqui com uma fic. E cá estamos, de volta onde tudo começou.

Capítulo 1 - Ruptura


A dor da queda ainda parecia invadir Yuuri desde dentro de seu corpo, de um lugar escuro, de um lugar longe que parecia não se aproximar, até o tombo aparecer em seu cérebro como uma batida de carro, o flash de um momento. Algo que não tinha como controlar, mas que iria desvirtuar sua vida por completo, e bem assim que ele se sentia.

Era qualquer outro dia de treino em Hasetsu, Yuuri tinha feito sua aula de balé com Minako e depois correu pelas ruas da cidade antes de chegar no rinque de patinação para passar suas rotinas. Dentro do Castelo de Gelo, ele fez uns bons quádruplos, garantindo as repetições para que não precisasse se preocupar com eles na competição. 

Depois que ele quase ganhou o Grand Prix, sua patinação parecia ter se consolidado de uma forma que Yuuri nem tinha esperado, e agora com a presença de Victor ao seu lado e a garantia de que o homem iria retornar às pistas, Yuuri tinha se sentido tão confiante e feliz em ter o homem ao seu lado que parecia que tudo estava indo para um caminho melhor. 

Só que as coisas não eram assim tão fáceis.

Depois do título japonês, Yuuri estava se preparando para o Campeonato dos Quatro Continentes, um bom ensaio antes do Mundial que estava por vir. Victor havia viajado para a Rússia pra se desfazer do seu apartamento em busca de conciliar sua vida nova no Japão com a que ainda tinha por lá, já que ele iria ficar ali com Yuuri em Hasetsu, por isso os últimos dias tinham sido de saudade, e noites dormidas com Makkachin.

Yuuri não estava nem preocupado com outras pessoas no rinque, aquele horário era só dele, por isso ele fazia seus saltos com a liberdade de quem tinha todo o gelo para si. E talvez por aquele motivo, ou uma confluência de coisas ruins do destino, ele teve uma queda em um salto, e seu corpo se chocou contra o gelo de forma bruta, a dor nem aparecendo em primeiro momento, porque Yuuri sabia que a adrenalina em seu corpo estava alta. Mas ele ouviu os gritos de Yuuko e depois apenas olhou para sua perna direita, que doía um pouco mais.

Ela não deveria se virar daquele jeito, e ele tentou alcançar seu tornozelo com os dedos da mão, apenas para sentir uma pontada na perna, algo que quase tirou o fôlego dele, e então a dor lancinante cortou pelo corpo dele como um raio em dia de chuva, rápido, luminoso e impossível de prever.

Ele tentou olhou para Yuuko em busca de uma ajuda, mas seu corpo desistiu de Yuuri naquele momento, e ele só pode controlar o instinto de vomitar antes de desmaiar no gelo. Contaram pra ele que a ambulância chegou rápido e ele foi direto para o hospital. Os médicos atenderam ele sem demora, e logo enviaram Yuuri para uma avaliação, antes de sugerir uma cirurgia para corrigir os ossos quebrados.

A perna dele estava em frangalhos, e era a sua perna de aterrissagem dos saltos, o que o preocupava, sem dúvida. Mas os doutores não queriam garantir nada antes de poder fazer a cirurgia e depois avaliar o que iria acontecer com ele. Muitos atletas se machucavam, muitos deles tinha cirurgias ao longo da vida para poder melhorar de alguma lesão ou consertar problemas que apareciam com o tempo, já que era impossível evitar eles em um esporte como o que Yuuri competia. 

Mas ele nunca havia passado por um momento como esse, ainda mais perto de seu mais alto pódio, o mais importante lugar que havia alcançado em sua carreira. A realidade de que ele não poderia competir pelo resto da temporada se abateu quando ele estava sozinho no quarto, e Yuuri chorou contra o travesseiro, pensando em como todo o trabalho que ele havia colocado para se tornar o atleta que era tinha ido por água abaixo, e agora ele teria que recomeçar de uma forma diferente.

Isso se pudesse voltar a competir, que era algo que ele não queria nem pensar, pois não valia à pena se preocupar com o que ele não tinha como controlar naquele momento.

Dois dias após sua queda foi quando Victor finalmente chegou ao hospital, seus olhos pareciam mais escuros e cansados que o normal, e em seu rosto havia preocupação, dor, mesmo que ele não sentisse a mesma dor que Yuuri sentia.

“Você está bem?” O homem perguntou o que era quase uma pergunta retórica, pois Yuuri não tinha como dizer que estava muito bem. 

“Estive melhor,” ele falou, tentando fazer uma piada, mas suas palavras ficaram longe daquilo.

Victor caminhou com cuidado até a cama, e olhou para o monte de buquês de flores pelo quarto. Aquele gesto parecia mostrar um pouco do amor que Yuuri recebia de sua cidade, e parecia satisfazer Victor.

O homem pegou na mão de Yuuri, apertou bem pouco apenas para conectar os dois, e Yuuri viu uma lágrima caindo dos olhos dele. Parecia que ele queria pedir como aquilo havia acontecido, mas era difícil explicar. Todos estão sujeitos a algum acidente, e muitos outros atletas haviam sofrido mais do que Yuuri, mas naquele momento ele se reservava ao direito de se sentir egoísta.

E quem queria se sentir daquele jeito quando se tratava de dor?

“Que bom que você está aqui,” disse Yuuri, sentindo sua boca mais seca, pois ele havia falado pouco nos últimos dias. Sua mãe, seu pai, Mari, Minako, Yuuko, Takeshi, as trigêmeas, todos estiveram ali para ver ele, mas Yuuri não teve ânimo de falar muito, a não ser para responder aos médicos. E mesmo assim, ele mal disse umas palavras.

Mas Victor era outra coisa.

“Eu queria ter vindo antes, mas a companhia aérea não queria me ajudar. E eu estava fechando a venda do meu apartamento e… Sei que nada é uma desculpa boa,” disse Victor, mostrando seu rosto culpado, mas Yuuri sacudiu a cabeça.

“Não importa.” Ele respirou fundo, sentindo-se cansado, e Victor apertou a mão dele de novo. “Só queria ter você aqui, e agora tudo está bem.”

Os olhos dos dois se encontraram ali no meio do caminho,Yuuri querendo esconder a dor em seu olhar, mas ele sabia que Victor podia ver ele. Os dois conseguiam se enxergar de uma forma mais profunda do que haviam esperado. Mesmo que o relacionamento deles ainda estivesse apenas no começo.

Eles haviam se beijado e se tocado, mas estava tudo em um um momento de suspensão da realidade, como se não tivessem ainda que lidar com as verdades doloridas que a vida joga na cara das pessoas, mas agora ela tinha se encarregado de colocar peso o suficiente no ombro deles. E quem sabe este momento seria o testamento perfeito do que iria acontecer com eles no futuro.

Ou ficariam juntos, ou a ruptura iria acontecer.

“Você já foi ver o Makka?” Pediu Yuuri, olhando para o rosto de seu amante. Victor sacudiu a cabeça.

“Vim direto pra cá, nem pensei muito,” ele falou. E parecia cansado da viagem, querendo um banho, mas o coração de Yuuri se aquecia com o fato de que Victor estava ali. 

“Desculpa fazer você se preocupar,” disse Yuuri, mas Victor apertou a mão dele de novo.

“Não tem porque se desculpar, Yuuri. Eu fiquei preocupado e só queria saber como você estava. Nem falei com os médicos ou coisa assim,” ele respondeu.

Yuuri queria sacudir os ombros, mas não conseguia da sua posição na cama. “Eles acham que minha perna vai sarar. Eles só estão me deixando aqui em observação, porque eu sinto dor.”

“E a recuperação?” Victor pediu, e Yuuri queria ver na mente dele quais eram as perguntas de Victor, o que ele queria saber com aquela indagação, e o que Yuuri saberia responder.

“Até agora me disseram que vou sarar bem. O problema vai ser como vai ficar a minha perna.” Yuuri olhou para o gesso segurando a perna direita.

“Acho que com uma boa fisioterapia nós conseguimos fazer tudo com você,” disse Victor, mostrando seu sorriso brilhante, mas naquele dia ele parecia mais cinzento e sem tanta luz. Não era uma mentira de Victor o que ele disse, mas ele sabia muito bem como as coisas eram de verdade.

“Eu só quero poder sair daqui,” disse Yuuri, e Victor assentiu. 

Os dois ficaram ali por um momento em silêncio, e logo o telefone de Victor tocou, com a música que Yuuri havia patinado no gelo na final do Grand Prix, e só aquele som trouxe memórias para a cabeça de Yuuri como flashes dolorosos do que ele não poderia fazer mais. A verdade é que aquela música trazia más lembranças a ele agora, nem que fosse apenas um acidente do destino.

Victor viu o desconforto de Yuuri, por isso logo atendeu o telefone, falando em russo com alguém, e Yuuri não conseguiu entender. Naquele momento sozinho para si, Yuuri ficou a imaginar a emoção que sentiu ao patinar Yuri on Ice em Barcelona, o público o aplaudindo, o choro em seus olhos e nos olhos de todos que estiveram com ele naquele um momento para se lembrar para o resto da vida.

Até parecia que um segundo lugar seria o máximo que Yuuri iria alcançar, porque naquele instante ele nem conseguia se imaginar a saltar outra vez, não conseguia pensar em voltar ao gelo, mesmo que aquilo fosse o que mais quisesse fazer. Yuuri queria que tudo voltasse ao normal.

Mas o seu normal não seria nunca mais o mesmo.

 



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