W O L F H A R D
Levei Brooklynn no colo até o quarto dela, ela não quis acordar para jantar e não a forcei. Ela deve estar cansada.
Sadie havia mandado mensagem, disse que minha mãe estava bem e que estava aceitando o tratamento muito bem. Aquilo me acalmava.
Ouvi a campainha tocar e sorri de orelha a orelha quando a vi parada do outro lado da porta.
— Oi! — ela sorriu e entrou. — Bom, não tenho muito tempo, amanhã ainda temos aulas…
— Eu sei. — ri. — Eu fiz frango assado, quer um pouco? — ela arqueou as sobrancelhas.
— Acha mesmo que vim até aqui só pra ver você? — rimos e andamos até a cozinha.
**
— Quero pedir desculpas. — falei enquanto comíamos. — Eu fui um tremendo babaca por ter te evitado essas semanas.
— Ainda bem que você sabe. — ela limpou a boca com um guardanapo. — Mas eu entendo. Isso foi por causa do Tyler, não foi? — assenti envergonhado.
— Eu conheço ele há mais tempo que você e sei que Tyler não é o tipo de pessoa que se apaixona rápido… — ela se encolheu. — Você é incrível e legal, mas se ele machucar você… — ela segurou minha mão.
— Sei que você é meu amigo, Finn. — ela disse com doçura. — Obrigada pela preocupação, mas eu estou pisando em ovos. Não vou ser idiota e me entregar para um namoro de dias.
— Promete que não tá mais brava comigo? — ela assentiu.
— Prometo. — ela soltou minha mão. — E olhe, Tyler é um bom garoto. Ele é muito respeitável e responsável.
Lembrei do que me contaram mais cedo sobre ele, acho que quero dizer a ela, mas não parece o momento certo.
— Mas eu vou me cuidar. — ela sorriu sincera. — E pode conversar comigo, somos amigos, não somos?
— É… somos. — sorrimos.
— Millie? — ouvi a voz de Brooklynn e me virei para vê-la.
Ela estava com a camiseta de herói que peguei do meu guarda roupa mais cedo, seus cabelos estavam bagunçados e ela estava segurando seu ursinho verde.
— Oi pequena… — Millie fez sinal para Brooklynn sentar em seu colo e assim ela fez. — Seu irmão me disse que você tava dormindo.
— Eu tive um pesadelo. — ela deitou no ombro de Millie. — Você pode me contar uma história?
— Eu tenho que ir pra casa… não posso perder o metrô.
— Só uma música então… — ela pediu.
Millie e eu trocamos olhares.
Assenti tentando fazê-la ficar por uns minutos a mais.
Eu te levo pra casa.
Movi os lábios para dizer e ela assentiu.
— Vem… — ela levantou ainda com Brooklynn no colo. — Vou cantar uma canção de ninar.
Elas subiram para o quarto.
B R O W N
Deitei Brooklynn na cama e me encolhi do lado dela, cobrindo nós duas com um manto azul.
Brooklynn se aconchegou nos meus braços e agarrou seu ursinho, apenas esperando que eu começasse a cantar.
Pensei por uns segundos no que cantaria até que vi uma foto de Brooklynn na Disney com a Cinderela. Então…
— A dream is a wish your heart makes… — comecei a cantar enquanto fazia carinho em sua cabeça. — When you're fast asleep… In dreams you will loose your heartache…
Senti a respiração dela desacelerar, mas continuei cantando.
— Have faith in your dreams and someday… Your rainbow will come smiling through…
Isso me lembrava os meus pais…
Me lembrava o abraço apertado da minha mãe, me lembrava a risada do meu pai quando brincávamos de correr no quintal da nossa pequena casa. Me lembrava o doce cheiro de biscoitos recém assados que emanava da cozinha quando meu aniversário chegava…
— No matter how your heart is grieving… If you keep on believing…
— Ela dormiu. — ouvi a voz baixa de Finn e quase caí da cama.
Ele estava lá parado, com as mãos nos bolsos do moletom, sorrindo com seus cachos bagunçados e uma luz tão fraca que o deixava quase imperceptível.
Me levantei devagar, cobri Brooklynn com mais uma coberta, beijei sua cabeça e acompanhei Finn para o corredor do segundo andar.
— A minha mãe cantava essa música pra ela quando ela nasceu. — ele disse quando fechei a porta. — Mas aí as brigas começaram e… bom, a Cinderela não voltou mais para visitá-la.
Ele quis dizer que a mãe nunca mais cantou para ela.
— E você? Não canta?
— Brooklynn nunca quis, ela queria sempre algo diferente, então eu costumava cantar a música da Bela e a Fera antes dela dormir. E contava histórias também, Peter Pan sempre foi a favorita dela, eu contava quando ela tinha pesadelos… mas não era por isso que Brooke amava tanto ele.
Ele respirou fundo.
— Brooklynn não quer crescer. — ele disse. — Ela vê tudo isso, a minha vida cuidando dela… a minha mãe, meu pai, Sadie... ela tem medo de crescer. Medo de acabar sendo infeliz.
— Mas você não é infeliz. — falei.
— Eu já fui, mas aprendi que cuidar dela vem antes de qualquer coisa. — ele suspirou. — Tento convencê-la de que a vida dela não será infeliz, às vezes funciona. Ela tem medo de tantas coisas… — ele sorriu de canto. — Umas tão bobas, outras sérias…
— Ela tem medo de gritos, não tem? — ele assentiu.
Concluí isso quando estávamos no parque na semana passada e uma moça gritou com o cara do cachorro quente, Brooklynn correu para meus braços e só saiu de lá depois que a confusão cessou.
— Uma vez eu não estava aqui pra tapar os ouvidos dela. — ele disse, culpado. — Eu tava fazendo um trabalho na casa do Noah e ela ficou com meus pais aqui. Mas eles brigaram, como sempre faziam, eles falavam coisas horríveis e Brooklynn ouviu todas elas. — ele enfatizou. — Ela não dormiu bem por dias depois dessa discussão, principalmente porque, alguns meses depois disso, eles se separaram. — ele suspirou. — Brooklynn só tinha cinco anos, o aniversário dela estava chegando, mas ela estava tão assustada e triste que me fez prometer que não iríamos comemorar naquele ano… — Finn limpou uma lágrima que desceu por sua bochecha. — Ela passou dias com medo de ouvir os gritos deles de novo… eu nunca gritei com ninguém na frente dela e sempre que alguém grita eu…
— Tapa os ouvidos dela… — sorri de canto. — Ela falou.
— Brooklynn me vê como um herói… mas eu não me sinto um na maioria das vezes.
Eu o abracei.
— Você é o herói dela, Finn… — senti as lágrimas dele molharem meu moletom. — Isso é o que mais importa. Ela te ama e você é um irmão mais velho incrível… a Brooklynn tem muita sorte de ter você.
— Eu deixei ela sozinha… — ele se referia ao dia dos gritos. — Eu não tava aqui pra tapar os ouvidinhos dela, Millie... eu falhei com a Brooke, eu traumatizei ela…
— Ei… — o afastei e segurei em seu rosto. — Isso não foi sua culpa. — enfatizei. — Você está aqui agora, você cuida dela, você a ama Finn! A Brooklynn ama você e ela precisa de você. Você não falhou e nunca vai falhar com a Brooke.
— Acha que eu não falhei com ela? — ele perguntou.
— Só prestou atenção nisso? — ele riu.
— Obrigado. — ele sorriu e se afastou das minhas mãos. — Você é uma amiga incrível.
— Você é uma pessoa incrível. — enfatizei.
continua..
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