W O L F H A R D
No final da noite estávamos todos em uma lanchonete qualquer.
Depois da chegada nada aceitável do meu pai na festa de boas vindas da Brooklynn e da saída dramaticamente perfeita de Sadie, digamos que nenhum de nós quis ficar lá lá.
O primeiro a sair depois dela foi Caleb, depois Jack, Cylia, Noah e Zach, por fim, Brooklynn, eu e Millie. Caminhamos até a lanchonete mais próxima e pedimos algo para comer, apesar de que nenhum de nós estava com tanta fome assim.
Brooklynn havia adormecido no meu ombro, sentada na cadeira da lanchonete, Millie e Zach até tentaram pedir um milkshake, mas acabaram não tomando nenhum gole sequer.
— É minha mãe. — Sadie disse ao ver o celular que estava tocando. — De novo.
— Que horas são? — Zach perguntou.
— Onze e meia. — respondi. — Passamos duas horas aqui.
— Não sabia que era tão tarde… — Millie falou. — Vou ligar pra minha avó, posso dormir na sua casa? — ela perguntou para Zach.
— Dorme lá em casa. — sugeri. — Dificilmente a Brooklynn vai querer dormir sem você… — ela sorriu docemente.
Eu não queria dormir sem ela.
— Vou avisar a minha avó, ainda tenho algumas roupas na mochila… — ela disse por fim.
Ficamos mais alguns minutos ali antes de irmos para casa, Jack e Cylia seguiram de táxi, assim como Noah. Zach foi para casa, Sadie e Caleb foram comigo e Millie até a casa dela para pegarem o carro - assim como eu e Millie -, coloquei Brooklynn no banco de trás e seguimos para minha casa.
Estacionei o carro na garagem quando chegamos, Brooklynn não dormia mais, ela estava acordada, em silêncio, foi a primeira a descer e correr para dentro.
— Vai, fala com ela, eu pego as coisas… — Millie beijou minha testa e eu assenti, entrando em casa logo em seguida.
Brooklynn estava no sofá, olhando para os pés, a casa estava silenciosa, provavelmente minha mãe já estava dormindo. Me sentei ao lado da minha irmã e respirei fundo.
— Você tá bem?
Ela balançou a cabeça.
— Quer conversar?
Ela negou, em silêncio, novamente.
— Quer chocolate quente?
Ela assentiu.
Me levantei e fui até a cozinha, ouvi a porta bater e passos ecoarem pela casa, Millie deve ter levado tudo para cima, ouvi a televisão ser ligada em um canal infantil.
Algum tempo depois - enquanto eu ainda esquentava o leite para fazer o chocolate - ouvi a porta ser aberta novamente, mas dessa vez com força. A voz raivosa do meu pai ecoou pela casa, seguida de um barulho de algo caindo e de um grito da Brooklynn.
— EU VOU LEVÁ-LA COMIGO PARA O TEXAS!
Desliguei o fogo assustado, corri para a sala e me deparei com a cena que me traria pesadelos com certeza.
Meu pai agarrava o pulso bom da minha irmã com força, minha mãe ao lado dele tentava conversar com ele, mas ele não ouvia, Brooklynn chorava, seu rosto estava muito vermelho…
Como isso tudo aconteceu em alguns segundos?
— ERIC! — berrei.
Me aproximei.
— Larga ela! — mandei.
Meu pai me olhou com nojo, ele largou o pulso da Brooklynn e ela caiu no chão, peguei-a no colo e a coloquei sentada no sofá.
— Qual é o seu problema?! — perguntei furioso.
— O meu problema é que vou levar ela para morar comigo! — ele respondeu. — Sua irmã ficaria muito melhor lá do que aqui com você!
— Você só pode ter enlouquecido… — comecei a rir. — É, foi isso mesmo que aconteceu…
— Tá vendo? Você não sabe nem tratar de assuntos sérios sem rir da minha cara!
— Finn, filho, sobe. Agora. — minha mãe disse.
— Não mãe… espera, deixa. Eu quero ouvir. Vai fala, quer levá-la porquê?
— Sua irmã não pode ser educada corretamente por um adolescente metido a responsável… Brooklynn não está e nunca esteve segura aqui com você.
— Quem te garante isso Eric?! — falei.
— EU VI! — ele gritou e apontou para ela. — SE FOSSE MAIS RESPONSÁVEL SUA IRMÃ NÃO TERIA TOMADO REMÉDIOS, NÃO TERIA DESMAIADO, A CULPA DELA TER TOMADO TUDO AQUILO É SUA SEU MOLEQUE DE MERDA!
— O QUE VOCÊ QUERIA? QUE EU PARASSE DE ESTUDAR POR ELA? NÃO SEI SE VOCÊ SABE, MAS SEI CONCILIAR MINHA VIDA PESSOAL E MINHA VIDA DE IRMÃO MAIS VELHO!
— VOCÊ SÓ SABE COMO NÃO SER UMA INFLUÊNCIA BOA PARA SUA IRMÃ!
Senti meu nariz arder.
Era isso? Ele some por anos, aparece aqui de repente há uma semana e quer me dizer como eu devo cuidar da minha irmã mais nova? A garotinha que eu cuidei desde que eu era uma criança?!
— SAI DA MINHA CASA SEU FILHO DA PUTA! NÃO OUSE OPINAR NA MANEIRA QUE EU CUIDO DA BROOKLYNN QUANDO VOCÊ NÃO SE DEU O TRABALHO DE FAZER ISSO!
— VOCÊ É UM IRRESPONSÁVEL! — Eric berrou.
O choro da minha irmã se intensificou em meus ouvidos.
— Finn… por favor… — a voz embargada dela finalmente conseguiu dizer
Logo ela subiu correndo para seu quarto.
— Finn preciso que se acalme filho! — minha mãe tenta dizer.
— NÃO! Não vou me acalmar, mãe! — apontei para meu pai. — Esse homem não vai levar a minha irmã de mim! Não vai! Sabe porquê? Porquê você não sabe nada sobre ela! Você passou SEIS ANOS ERIC, vivendo com ela, mas você pouco ligou pra tentar CONHECER ela! — gritei enfatizando.
— Você não tem voz comigo, seu moleque! Você precisa crescer!
— CRESCER? — ri irônico. — Ah, eu cresci Eric. PUTA QUE PARIU COMO EU CRESCI, ERIC! — gritei. — Cresci, sabe porquê? Porque eu passei nove anos cuidando da minha irmã mais nova porque VOCÊ — apontei. — não se deu o trabalho de ser um pai presente.
— Você quer falar da minha paternidade?! — ele gritou. — Finn, você é só um adolescente! Sua irmã estaria bem melhor sob os meus cuidados!
— VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE ELA! — berrei. — Qual é a cor favorita dela? O que ela gosta de comer? Do que ela tem medo? Por que ela dorme com um ursinho de pelúcia verde? Pai… quando é o aniversário dela? — minha voz falhou.
Ele exitou em responder.
— Você não vai tirar a minha irmãzinha de mim. Você não vai me deixar sozinho de novo porque ela é a única pessoa dessa família de merda que nunca desistiu de mim. E se você tentar Eric Wolfhard, se você tentar eu vou trazer ela de volta. Porque você abandonou três menores de idade, sendo dois deles com uma mãe que se afundou no álcool. — minha mãe se encolheu. — Se você quiser tirar a Brooke de mim, pode tentar, mas depoimentos contra você não vão te deixar dar um passo com ela. E acredite Eric Wolfhard, três crianças é muito, mas três vezes três anos que você sumiu… não dá um número relativamente pequeno.
— Você não entende! EU SOU O PAI, EU CUIDO DELA MELHOR DO QUE VOCÊ PODERIA CUIDAR!
— SE VOCÊ PODE CUIDAR DELA MELHOR DO QUE EU ME DIZ ONDE VOCÊ TAVA?! ONDE VOCÊ TAVA QUANDO ELA DEU O PRIMEIRO PASSO OU… — gaguejei. — OU QUANDO ELA APRENDEU A LER?! PAI ONDE VOCÊ TAVA QUANDO ELA FICOU TÃO DOENTE QUE PRECISOU SER INTERNADA POR DUAS SEMANAS?! ONDE VOCÊ TAVA NO PRIMEIRO DEZ DELA NA ESCOLA?! NO PRIMEIRO DIA DOS PAIS EU TAVA LÁ! NÃO VOCÊ! Nas festas, dia das profissões… — senti meus olhos liberarem as lágrimas que eu já estava segurando. — EU TAVA LÁ ERIC, NÃO VOCÊ! EU CUIDEI DELA, EU SEI O QUE ELA GOSTA! EU SEI AS ALERGIAS DELA, SEI DO QUE ELA TEM MEDO! VOCÊ NÃO É PAI DELA. PORQUÊ A PORRA DO SEU SANGUE NÃO SIGNIFICA NADA PRA BROOKE! NADA!
Ele tentou avançar e me bater, mas minha mãe e Millie - que não sei exatamente o momento em que ela apareceu - o tiraram da sala, expulsando ele dessa casa.
Millie correu até mim segurou meu rosto.
— Finn… — ela sussurrou.
Minhas pernas cederam.
Caí em seus braços como uma criança com medo de trovões. Millie me abraçou e se ajoelhou no chão, eu estava assustado, tremendo, chorando…
Millie acariciava meu cabelo enquanto eu chorava no seu colo, ouvi os passos da minha mãe ficando cada vez mais longe.
— Ela é minha irmãzinha, Millie… ela… — eu estava com a voz trêmula.
Ele não pode tirar a Brooklynn de mim.
Ele não vai tirar ela de mim.
continua...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.