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História Saint Seiya - Memórias: A História Oculta do Santuário - Livro 2: Dualidade - Ato 31


Escrita por: Katrinnae e Draconnasti

Capítulo 79 - Livro 2: Dualidade - Ato 31


O som da palma ecoando no piso de Gêmeos provocou em Kanon um grande alívio. Não mais via as linhas dimensionais e, após um longo tempo. “Estou livre!”, pensou ele ainda que se visse mergulhado na penumbra da casa.

Não tinha conhecimento de quanto tempo havia se passado desde que foi preso naquele espaço dimensional. Poderia ser um dia ou dois como poderia ser semanas, meses... A noção de tempo não somente era inexistente como até mesmo o corpo não reclamava de suas necessidades básicas como sono, fome ou sede. 

“Mas ainda não sinto nada”, estranhou ele quando ainda com a palma no chão. “Será que meus sentidos ainda estão entorpecidos pelo espaço dimensional?”, questionou-se recolhendo a mão quando ouviu lentas palmas ecoando naquele lugar e fazendo-o levantar bruscamente a cabeça para a figura que se aproximava, sentindo a boca secar enquanto seus olhos se arregalavam.

— Parabéns, Kanon... — Saga o cumprimentou, cessando as palmas e soltando um longo suspiro. — Vejo que finalmente conseguiu sair de lá. Não é tão inútil quanto pensei.

“Isso... foi uma... ilusão...?”, indagou-se mentalmente enquanto se colocava de pé e olhando à sua volta. Olhando mais atentamente, não estava apenas mergulhado na penumbra de Gêmeos como era incapaz de ver as paredes ou mesmo teto. Somente as pilastras com uma iluminação parcial e um corredor que se perdia em sombras às costas de seu irmão e não muito diferente às suas costas.

 “O que é isso? Onde diabos...”

— Você está no terceiro templo, na Casa de Gêmeos se é isso que está se perguntando. — respondeu Saga respondendo às perguntas do irmão que o olhou intrigado. — Não preciso ler seus pensamentos para saber o quão perdido está. Afinal, conseguiu fugir da Outra Dimensão e não acha que não saberia disso, não é mesmo?

— Eu apenas quero entender a razão de tudo isso. — dizia Kanon fitando-o, buscando a expressão do irmão ainda acolhido nas sombras. — Por que me trouxe aqui? Que lugar é esse? O que pretende com...

— Shh! — sinalizou o mais velho levando um dedo ao lábio lentamente, interrompendo-o. — Você faz perguntas demais. Não é tão diferente dele... — Sorriu, permitindo que Kanon assistisse aquilo apesar de metade de sua face acobertada nas sombras. — Eu o trouxe aqui para que possamos conversar sem que sejamos interrompidos e garantir que nada possa distraí-lo. Não sou alguém que goste de explicar duas vezes. Por isso criei esse lugar. 

Kanon assentiu, ainda que desconfiado daquele tom ameno de seu irmão que recostara numa das pilastras, de braços cruzados e apresentando o lugar como se fosse um belo jardim, mas que na verdade era um grande vácuo espelhando a Casa de Gêmeos, mas impedindo-o de saber se era dia ou noite.

“Nem mesmo Solon, nosso mestre, foi capaz de fazer algo assim quando nos prendeu na Outra Dimensão para um treinamento. Saímos diante dele na Casa de Gêmeos, sem truques, sem armadilhas”, relembrou Kanon da ocasião. No entanto, Saga parecia se divertir com aquilo.

— Você está louco, Saga. — apontou Kanon para o irmão. — Eu não sei o que está acontecendo contigo, mas você está louco! Esse não é você. — e recuou alguns passos. — Seja lá o que esteja planejando, não farei parte dessa sua loucura!

Ainda que desconfiado do irmão, que nem mesmo se moveu de onde estava, Kanon virou-se para correr em direção do corredor às suas costas. Não ouviu ou mesmo sentiu qualquer ameaça do seu gêmeo enquanto se distanciava e mergulhava na penumbra do templo. Não demorou a perceber que quanto mais adentrava não fazer nenhuma diferença. As pilastras se replicavam incessantemente e nunca parecia chegar a lugar algum. 

“O que é este lugar? Parece que estou correndo em círculos...!”, disse cessando sua corrida e olhando à sua volta. Não encontrava qualquer ponto de luz para indicar a saída daquele lugar. Mesmo mudando a rota algumas vezes passando por entre as colunas, correndo, nada mudava. “O que está acontecendo? É como se não saísse do mesmo lugar”, afirmou, engolindo a seco.

— Qual parte não entendeu quando disse que criei esse lugar para conversarmos? —Saga quis saber, em um tom blasé, surpreendendo ao caçula. Seu irmão nunca empregou aquele tom de voz para falar com ele.

Kanon se voltou em direção da voz e encontrou o irmão ainda recostado na pilastra, com a mesma postura de minutos atrás, com os braços cruzados e a cabeça voltada para ele.

— Não adianta correr, seja direção que for, porque sempre voltará para mim porque simplesmente desejei assim.

— Está me dizendo que isso é... — deduzia Kanon estremecido, apontando para o vazio. — ... como um labirinto?

— Gostei! — pontuou Saga estalando os dedos e apontando em direção do irmão. — O Labirinto de Gêmeos! — e ergueu as mãos no ar se distanciando da pilastra, caminhando em direção ao outro. — E olha que poderia deixá-lo bem mais divertida se assim quisesse. O que me diz... — riu Saga revelando-se na pouca luz do ambiente. — ... Kanon?

Kanon recuou um passo ao vislumbrar aquele semblante. Os cabelos do irmão estavam platinados e caiam sobre seu rosto levemente distorcendo as linhas faciais para uma expressão maligna tal como uma das facetas do elmo de Gêmeos. No entanto, eram aqueles olhos vermelhos que mais o assustavam.

“O que são esses olhos...? Sinto um grande ódio brilhando de seus orbes, como chamas queimando minha carne e vasculhando o mais fundo da minha alma”, pensou o gêmeo mais novo paralisado quando o mais velho se aproximou o bastante dele com um sorriso de canto, brincando com a língua no canto da boca.

— Você perguntou o porquê de trazê-lo aqui e o que pretendia com isso. A resposta é simples, Kanon. — dizia ele, levando a mão bem próximo ao seu rosto. — Torná-lo um verdadeiro soldado e não alguém que vive à sombra de seu irmão.  

— Eu não vivo à sua sombra. — garantiu ele fitando aqueles olhos vermelhos por mais temeroso que estivesse, desvencilhando-se daquele toque. — Eu poderia vencê-lo se...

— Se não fosse aquela jovem Prata que o tivesse salvado de ser pulverizado...? — debochou o mais velho, rindo em seguida. — Não, Kanon... Você não o venceria porque não fortaleceu seu Cosmo o bastante.  Sinto grande potencial em você, mas sempre busca se equiparar ao seu gêmeo, mas não superá-lo.

Kanon franziu o cenho ouvindo aquilo, estranhando o uso daquelas palavras.

— Por que está falando de você, Saga, em terceira pessoa? — indagou ele com estranheza. — E não, eu não busco me equiparar a você, muito menos vivo à sua sombra...

— Hunf! — reagiu o outro se afastando um pouco somente. — É como uma maldição de o mais novo sempre viver à sombra de outro... — e caminhou tranquilamente de costas para o seu convidado. — ... recolhendo migalhas até que possa, enfim, assumir seu lugar. Tal como sua estrela onde um dos gêmeos precisa morrer para que o outro possa assumir seu lugar. — finalizou, olhando-o por cima dos ombros.

O caçula assistia aquilo sem acreditar no que ouvia. Sentia que algo estava errado, mas não sabia dizer exatamente o que era. Aquele à sua frente não podia ser o seu irmão.

— Acha que não sei o quanto se irritava quando Solon rasgava elogios a Saga enquanto com você era somente exigências? — o outro continuou rindo daquilo, virando-se para ele. — Você nunca escondeu sua inveja, Kanon. Mesmo na Outra Dimensão eu fui capaz de sentir sua inveja assistindo-me junto àquela Amazona.  

Kanon fechava o punho, respirando forte ouvindo aquilo, calado.

— Você... não sabe... o que está dizendo... — murmurou, criando uma expressão mais dura para seu gêmeo.

— Você espelhou suas técnicas ao de seu irmão, mas nunca buscou aprimorá-las para superá-lo. Nos treinos, copiava até mesmo sua postura, como uma sombra! — afirmava fortemente enquanto o fitava. — Ele sabia disso e por isso evitava treinar perto de você, optando por Aiolos, a quem ele passou a chamar de “irmão” e mostrando mais respeito a ele aquele que tinha por você. Não é de se admirar que ele se tornasse admirado e amado enquanto você era visto como um arruaceiro e um problema. Parece fazer jus ao triste legado de gêmeo mais novo.

— Por que está fazendo isso...? — questionou ele respirando forte, com os punhos ainda fechado, concentrando seu Cosmo. — O QUE PRETENDE COM ISSO, SAGA?! DIGA!

— Já disse. — respondeu tranquilamente ignorando aquela reação e eminente ameaça. — Transformá-lo num soldado e não um pária à sombra de seu irmão. Alguém realmente à altura para cumprir seu destino.

— O meu destino... — falava avançando a passos lentos em direção de seu gêmeo. — ... é ainda derrotá-lo e mostrar a todos quem realmente deveria ser o Cavaleiro de Gêmeos.

— Interessante...  — sorriu Saga arregalando os olhos. — Então me mostre do que é realmente capaz, Kanon. — e abriu os braços. — Aqui mesmo, onde ninguém poderá interferir. Venha... — instigava, rindo contidamente. — Mostre seu verdadeiro poder pra mim!  


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Selene reagiu com espanto, virando-se em direção do Monte Zodiacal. “O que foi essa energia que senti há pouco? Parece com...”, pensava ela quando percebeu sombras de largas asas abertas recair próximo onde estava. Não tardou em perceber Aiolos pousando suavemente ao seu lado, mesmo que acompanhado com som do metal de sua armadura.

— Sinto muito se a assustei. Não foi minha intenção. — disse ele fazendo uma breve reverência.

— Não, não me assustou. Estava apenas distraída quando... — respondeu, voltando-se para a arena quando ouviu um grito acompanhado de um forte choque de cosmo. — Eu disse para terem cuidado! Isso é um treinamento e não um duelo. — censurou a Amazona para as aprendizes, suspirando em seguida.

— Parece que os aspirantes têm se mostrado motivados desde o nascimento de Athena. — comentou ele olhando as jovens treinando após os pedidos de desculpas.

— Também tive essa impressão. Até mesmo os duelos na arena durante o festejo têm se mostrado mais agressivos. — pontuou a Amazona. — É como se tivesses despertado para a realidade que nos aguarda.

— A Guerra Santa. — replicou Aiolos com pesar. — O que parecia distante agora está bem diante de nós e começo a me perguntar se estaremos realmente preparados para ela quando chegar a hora.

Selene, que tinha os olhos sobre as aspirantes, virou-se para direção de Aiolos. Mesmo mascarada, sua postura denotava curiosidade sobre aquelas palavras do Dourado.

— Isso seria o motivo de puxar bem mais o seu treinamento com Aiolia? — indagou ela. — Saga tem exigido bastante de seus aprendizes nas últimas semanas, antecedendo até mesmo ao nascimento da deusa. São os primeiros a chegar e últimos a sair.

— Conversávamos sobre isso mais cedo. — explicou o Dourado de Sagitário fechando o punho e cruzando o braço direito diante do peito, recolhendo as asas às suas costas. — Quero dizer, tentando conversar. Saga e eu temos divergido demais sobre isso.

A Amazona nada disse. Somente manteve sua atenção ao Dourado que cruzou os braços olhando para frente.

— Ele acredita que os aspirantes não estejam devidamente preparados para a Guerra Santa. — o sagitariano comentou, baixando o olhar. — Disse que está sendo exigido muito pouco de todos ou seremos esmagados pelo inimigo que não terá misericórdia. — e forçou-se a rir. — E talvez ele esteja certo.

— Isso explica o porquê de vê-lo sobrevoando a arena do anfiteatro ao longo dessa manhã. — comentou ela. — Disse que vocês dois tem discordado demais?

— Concordo que precisamos ser mais exigentes com os aspirantes se quisermos, como nossos antecessores, vencer essa Guerra Santa, mas... — Aiolos pausou suas palavras de modo pensativo e soltou um longo suspiro. — Acho que Saga espera mais que isso. Exige um esgotamento muito além dos aprendizes, meio que buscando eliminar aqueles que não sejam realmente fortes o bastante para o que se aproxima.  

— Também conversamos a respeito. — ela revelou, baixando levemente a cabeça. — Ele tem estado muito preocupado com isso temendo que não tenhamos força o bastante para a ameaça que se aproxima. Na última Guerra Santa, apenas o Grande Mestre e seu amigo que está nos Cincos Picos Antigos sobreviveram.  

— Exatamente no mesmo período em que diversas armaduras desapareceram. — desabafou ele olhando rapidamente para o céu. — Isso também nos deixa com uma forte desvantagem desfalcando nossas forças.

— Havia me esquecido desse detalhe. Isso nos coloca numa posição ainda mais delicada e acaba sustentando os argumentos de Saga sobre nem todos poderem se tornar Cavaleiros. — lamentou a Amazona com um suspiro. Não que discordasse do homem que amava, mas apenas que discordava do extremismo que estava levando aquela situação. — E sobre isso, como tem andado sua pesquisa sobre estas armaduras?

— Pontuei diversos lugares onde poderiam ser localizadas. Tomei como bases alguns relatos locais, mas seria preciso enviar inúmeros Cavaleiros para fazerem um reconhecimento. — explicava Aiolos voltando sua atenção brevemente para a Amazona. — No entanto, na nossa atual situação seria desfalcar ainda mais as forças que não temos.

— Talvez explicando ao Grande Mestre ele possa expedir alguns poucos Cavaleiros. — tranquilizou Selene fitando-o. — Tão logo as Casas Zodiacais estará ocupada com outros Cavaleiros de Ouro que poderão garantir mais a segurança do Santuário. Todo o esforço se faz necessário nesse momento para a provação que aproxima, Aiolos. — dizia com pesar, desviando seu olhar novamente para os aspirantes. — Temo que possamos sucumbir antes mesmo do anúncio da Guerra Santa.

Por alguma razão, aquilo soou como um presságio aos ouvidos do sagitariano que a olhou discretamente. Ou talvez estivesse ficando paranoico depois de tantas discussões com o Saga e por isso estaria vendo situações em que não existia. Até onde sabia, Selene não era alguém abençoado com o dom da profecia.

— O que quer dizer com isso? — ele questionou entre o curioso e o preocupado.

— Como bem disse... —ela respondia voltando-se brevemente para Aiolos e convidando-o a caminhar com ela, sem afastar-se demais do espaço de treinos das aspirantes. — Nossas forças estão reduzidas com inúmeras armaduras desaparecidas. Ao todo deveríamos ter 88 armaduras no Santuário e, segundo minhas contas com restaurações de muitas delas, temos pouco mais de 50 presentes no Santuário.

Mesmo que suas patentes fossem distintas e ela não fosse sua subordinada, o sagitariano estava atento aos apontamentos que a jovem trazia a ele. Na verdade, sentia que precisava ouvir uma segunda opinião de alguém com quem pudesse ter um debate sadio. Já sabia o que Saga achava a respeito, mas não ousaria fazer aquele questionamento diante dos jovens que apenas aguardavam pelos seus testes. 

Não os conhecia, portanto não sabia se poderia confiar neles. 

— Talvez por isso Saga defenda treinamentos mais árduos para filtrar aqueles realmente merecedores de se tornarem Cavaleiros. Além do mais...  — ela finalizou seu raciocínio, pausando suas palavras momentaneamente olhando para outras aspirantes mais adiante que estavam sentadas, descansando e reflexivas sobre outras em treino. — ... sinto que muitos ainda têm dúvidas sobre aceitar ou não seu destino.

— Compreendo o que diz, mas não podemos driblar nosso destino que já foi definido. — comentou Aiolos seguindo o olhar da Amazona. — Seja com treinamento árduo ou não, muitos desses aspirantes já foram escolhidos por suas constelações protetoras.

— Mas as dúvidas que carregam, pode interferir nos resultados. ­— pontuou a Amazona. — Eles podem ser os escolhidos, mas as constelações não podem interferir em seu livre-arbítrio. Isso pode influenciar em suas decisões, atitudes que podem ir contra os desejos de Athena.

Aiolos assentiu àquelas palavras, entendendo melhor o sentido daquelas palavras e fazia sentido a preocupação da Amazona. Analisando por aquela perspectiva, o problema apontado por Saga era apenas a ponta de um iceberg.

— Devemos então trabalhar muito além de força física, mas também na sua confiança e determinação até antes mesmo do treinamento físico. — concluiu ele levando a mão ao queixo, pensativo. — Acho que assim podemos ver melhor quem realmente está ‘destinado’... — enfatizou bem aquelas palavras. — ... em dar o sangue pela causa ou... — e deu de ombros. — ... seja lá qual outra razão.

“Poder e glória” foram as palavras proferidas pela Amazona sob o olhar curioso do Dourado. Por mais que tentasse negar, a ambição era uma característica comum do ser humano desde tempos imemoriais.

Dentre alguns pergaminhos antigos encontrou inúmeros relatos dos próprios Cavaleiros, em diversas gerações, que traíram Athena em troca do poder e não pela justiça ansiada pela deusa que aceitou viver entre humanos e defende-los de outros deuses a ponto de lutar contra suas ambições ao Mundo Humano.

— Não seria a primeira vez que Athena teria de lidar com a inconstância humana. — declarou o Dourado após aqueles poucos minutos de reflexão. — Mesmo com todas as adversidades, Athena venceu porque acreditou em nós e também porque acreditamos no seu senso de justiça. Somos volúveis sim, mas...  — e forçou-se a sorrir. — ... exatamente por sermos agraciados pelo livre-arbítrio, temos o direito de escolher e aprender com nossos erros.

— E será que como Cavaleiros também temos esse direito, Aiolos? — indagou ela voltando-se para ele. — Não somos humanos comuns, mas aqueles escolhidos pela nossa constelação e induzidos a cumprir um destino que muitas vezes nos faz abrir mão de algo que vai muito além de sacrifício.  Diga-me, Aiolos... — e parou ao seu lado. — O quão disposto estaria sacrificar-se por uma causa? E se essa causa exigir aquilo que mais ama? Estaria disposto a sacrificar Aiolia nessa luta?

Sagitário ficou em um silêncio contemplativo, embora continuasse a fitá-la. Como poderia responder aquilo, não para ela, mas para si mesmo em primeiro lugar. Teria ele coragem de sacrificar aquilo que tinha de mais precioso em sua vida, mais até que sua vida, para salvar a humanidade? 

A humanidade valeria esse sacrifício?

 

──────────•∰•──────────

 

Um grito ecoou naquela sala perdendo-se dentre os inúmeros corredores. Kanon avançou contra seu irmão com o punho em riste para deferir um golpe numa rajada de Cosmo. No entanto, Saga precisou levantar apenas uma mão para bloquear o ataque que se dissipou como uma bolha. 

— Isso é tudo, Kanon? — desdenhou Saga com um sorriso de canto. — Isso é todo seu golpe que acreditava ser capaz de me derrotar para conseguir a armadura de ouro? Vou acreditar que esteja hesitante em atacar-me por estar vendo seu querido irmão.

— Se não é ele... — reagiu furioso. — Quem diabos é você e o que fez com Saga? — sibilou o gêmeo mais novo fitando-o. — O que você pretende com isso?

— Quantas vezes mais precisarei dizer que estou aqui para ajudá-lo a ser alguém e não um pária que vive à sombra de seu gêmeo? — respondeu Saga desdenhoso. — Não deveria estar preocupado com seu irmão nesse momento, mas com você que ficará preso nesse labirinto se não me convencer que é realmente capaz de me derrotar.

— Repito... — dizia ele caminhando para mais próximo da figura distorcida de seu gêmeo. — O que pretende com isso? Espera que acredite que não tenha outras intenções?

— De fato. — concordou, desviando momentaneamente o olhar. — Talvez seja pena já que me enoja alguém tão subserviente como você em se contentar por tão pouco quando poderia ter muito além. — sorriu maliciosamente. — Você e seu irmão carregam um forte legado, mas ambos precisam ser guiados para seus verdadeiros destinos e não por aquilo que os fazem acreditar ser. E por isso estou aqui. — finalizou, abrindo os braços para o gêmeo que parou estático diante dele. — Diga-me, Kanon, com sinceridade quais são suas verdadeiras intenções? Não me diga que seja apenas pela Armadura de Ouro.

Kanon piscava aturdido para aquela figura, desviando momentaneamente seu olhar para o vazio, pensativo. 

Tanto ele quanto Saga cresceram ouvindo histórias de seu avô e fugiram em direção àquela fantasia. Foram guiados até o Santuário e, desde então, acreditando que o destino havia os levado ali para serem os punhos de Athena. “Apenas um de vocês será o escolhido para lutar ao lado de Athena", disse seu mestre quando ambos saíram da Outra Dimensão de volta à Casa de Gêmeos.

— Os olhos de seu mestre sempre recaiam sobre Saga, seu irmão mais velho. Era a ele quem mais dedicava sua atenção, repassava sua sabedoria, seus conhecimentos... — dizia a figura buscando por sua atenção. — Você apenas teve conhecimento porque ele padeceu de sua presença, nada mais que isso.

— Isso é mentira...! — sussurrou Kanon fitando-o apreensivo.

— Tem certeza disso ou ainda prefere enganar a si mesmo acreditando que o trato que ele tinha com Saga era o mesmo com você? — perguntou rindo contidamente em claro sinal de deboche por aquilo enquanto caminhava para mais próximo, mantendo certa distância. — Acaso ele nunca contou sobre a mácula dos Gêmeos...?

Kanon franziu o cenho para aquilo, observando bem aqueles olhos vermelhos intensos sobre ele, acompanhado daquele sorriso de canto em sinal de puro escárnio.

— Vejo que não... — sorriu de maneira satisfatória.

Aquele Saga elevou os braços e o teto sobre suas cabeças logo se transformou no céu noturno onde seu irmão caçula poderia ver as estrelas. Na verdade, identificava inúmeras constelações como Solon certa vez os ensinara. Tão logo identificou a de Gêmeos como a mais brilhante daquele céu criado pela figura nefasta. Contudo, uma parecia ser a mais brilhante enquanto a outra cobria-se com uma sombra.

— Percebe que a menor estrela representa o mais novo dos gêmeos, acobertado pela sombra de seu irmão que é a estrela mais brilhante. — Saga olhou para o alto. — Claro, nem sempre foi assim, pois o mais novo maculou toda sua descendência e desde então é sempre visto como uma ameaça. — explicava com indiferença enquanto descia o olhar para um Kanon perplexo. — Em outros tempos, ninguém jamais poderia nem vê-lo passeando por essas arenas e ruas do Santuário. Solon sabia disso, mas apenas o acolheu por pena mesmo sabendo que seu conhecimento maior seria repassado apenas ao Saga.

— Isso... é mentira...! — repetiu Kanon fechando os punhos. — Solon era como um pai para nós dois e jamais nos tratou com qualquer diferença como...

— Por que foi preso na Outra Dimensão por seu querido irmão? — inqueriu a figura calando o mais novo. — Como Saga poderia criar um espaço como esse?

Kanon abriu a boca diversas vezes intencionando responder, mas não havia argumentos para aquilo. Seus treinos de lutas sem que dependessem exclusivamente de armas porque Athena acreditava que uma guerra deveria ser vencida com estratégia e não apenas batalhas sangrentas. Técnicas eram sempre adiadas alegando que não tinham despertado o Cosmo suficiente para aquele estágio.

Quando finalmente compreenderam os fundamentos da destruição e eram capazes de controlar o fluxo de Cosmo, começavam a ter conhecimentos primários, concentrando do punho ao que percorria em seus corpos, usá-los não somente para ataque e defesa como até mesmo para curas superficiais.

— Foram semanas preso na Outra Dimensão criada por mim e somente conseguiu sair porque alguém conseguiu indicar um caminho. — relembrava Saga despertando de seu devaneio, mas logo também baixando o olhar pensativo. — O que é minimamente curioso, eu diria... — sorriu, piscando e voltando-se para o gêmeo. — Sem isso, ainda estaria naquele espaço dimensional sem ideia de como chegar aqui.

— Fui capaz de sair antes, não seria diferente agora. — cuspiu ele fitando-o cada vez mais com desprezo por aquelas falas em claro sinal de provocação.

— Você não. Seu irmão seria. — corrigiu Saga apontando para ele. — Devo lembrá-lo que você nem mesmo era para ter sido enviado para a Outra Dimensão. Outra clara prova que Solon não estava interessado em você, mas somente em seu irmão, o verdadeiro responsável pela volta do espaço dimensional. — disse ele, rindo em seguida. — Foi engolido pela fissura porque estava acolhido nas sombras para saber o que Solon tinha tanto para dizer ao Saga quando o dispensou naquela tarde. — curvou o corpo para frente, buscando os olhos de Kanon. — À sombra de seu irmão, Kanon...

— Eu... não sou... a sombra... de meu irmão...! — dizia enfurecido, repetindo aquelas palavras enquanto fechava novamente os punhos.

— Quantas vezes dirá isso tentando se convencer do contrário? — debochou fazendo uma careta para o gêmeo mais novo. — Em vez de tentar convencer-se dessa mentira da qual se esconde, eu esperava que pudesse me mostrar a tal força que diz que derrotaria seu irmão. Ou prefere manter sua estrela tão apagada quanto sua existência insignificante?

Nem bem acabou de dizer aquelas palavras e uma forte rajada de cosmo foi lançado em sua direção, levando aquele provocador apenas desviar com o tronco, rindo da fúria que despertava no gêmeo mais novo.

— Oh... O que foi...? — reagiu aquele Saga com escárnio para um Kanon enfurecido que continuava a lançar rajadas de cosmos a esmo em sua direção. — A verdade dói, não é mesmo...? — dizia, desviando dos golpes do gêmeo enquanto este se aproximava a passos curtos. — Tamanho a sua insignificância que nem mesmo conseguiu chamar atenção daquela linda Amazona... — disse de maneira maliciosa interrompendo um lançamento de Kanon e fazendo-o parar diante dele. — Apenas mais uma que escolheu a cama de seu irmão e não a sua.

Kanon reagiu com um grito, levando aquele deplorável homem abrir um sorriso e rir da dor que estava infligindo naquele gêmeo. Em sua fúria, lançava inúmeros golpes que passou atingir pilastras, o chão e passando bem rente ao próprio alvo meio a impropérios e lágrimas.

— DESGRAÇADO! MALDITO! — exclamava quando socou uma pilastra fazendo-a ficar em pedaços. — NÃO VOU ACEITAR QUE TIRE SEMPRE TUDO DE MIM, SAGA! CHEGA!!!

O Cosmo em seu corpo ascendeu, fazendo seu adversário abrir um sorriso mais largo satisfeito com seu objetivo. Ainda sinalizava para que ele continuasse chamando-o para junto e abrindo os braços num convite provocador.

Kanon tomou como um desafio e juntou as mãos frente ao corpo concentrando mais o Cosmo e lançando uma rajada única e contínua em vez dos meros disparos de alguns minutos. Seus olhos se encontraram com daquele homem diante dele fitando-o sem parar e esperando apenas pelo golpe, mas surpreendeu-se em vê-lo cruzar os braços e conseguir bloquear seu ataque.

Do outro lado, Saga podia ver os olhos de Kanon denotando um crescente ódio meio uma expressão rígida. As lágrimas haviam secado, deixando seus olhados sendo tomados gradativamente pela ira.

“Pare com isso!”, suplicou uma voz na mente daquele perverso Saga. “Você vai matá-lo! Pare!!”

— Huhuhu... Longe de mim algo assim. — murmurou aquele maligno Saga que empurrou o golpe deferido por Kanon. — Os meus planos com vocês não incluem ceifar suas vidas, ao menos não agora. — e sorriu, descruzando os braços.

A sua ação desencadeou uma explosão que empurrou Kanon violentamente para trás derrubando algumas pilastras pelo caminho assim como deixou uma vala no caminho. 

— Ah... patético...! Como acha que irá me superar dessa forma, “irmãozinho”... — Saga continuou a desdenhar. — Nem mesmo pressionando-o jogando todas as verdades você corresponde às minhas expectativas... Que decepção...! — E cuspiu no chão.

Kanon jogava uma pedra para o lado para sair meio aqueles escombros. Tinha cortes no rosto e nos braços. Sentia como se cada osso de seu corpo tivesse sido esmagado pelo golpe.

“Que força terrível é essa...?”, pensou ele cuspindo sangue e limpando a boca que também havia sido ferida. “Saga... ou quem quer que seja ele... bloqueou meu ataque apenas usando os braços...”.

Com dificuldade, conseguiu colocar-se de pé, mantendo os olhos fixos em direção da figura que emanava uma aura sombria. “Ele usa da aparência de Saga, mas ele jamais seria capaz de fazer algo assim... Ou seria...?”.

— Que verdades...? — sussurrou o gêmeo mais novo adiantando-se, respirando de maneira falha. — Aonde... está querendo chegar... com isso...?

— Você é tão patético e estúpido que ainda não entendeu? — O semblante de Saga se fechou de maneira assustadora. — Você nunca vai ser alguma coisa enquanto odiar apenas o que eu digo. Enquanto você não odiar a você mesmo, à sua patética existência, ao seu maldito destino... e a mim!

— E o que você ganha com isso, Saga... ou seja lá quem você é? — Kanon indagou abrindo os braços, seguidamente rindo de maneira débil. — Saga sempre quis ser o certinho dentre nós dois... O bom samaritano... — cuspia ele enquanto seus olhos faiscavam.

— E você colhia os frutos de sua benevolência, chegando a se passar pelo próprio irmão. — Falou Saga, encarando-o. — Enquanto Saga tinha todo o trabalho em formar uma imagem de si e um trabalho ainda maior para mantê-la, você usufruía de seus louros, tal qual um... parasita!

— Não... Não era isso... — reagiu Kanon com olhos lacrimejando.

— Ah, não...? — o outro questionou cinicamente. — Então por que não explica como conseguiu chegar até aqui se não fosse a piedade de seu querido irmão? Quem estava se escondendo sob o manto de Gêmeos e usufruindo das regalias enquanto fugia de uma lei estúpida criada com concessão de Athena aos irmãos mais novos aos eleitos pela Terceira Casa? — sorriu ele em direção de Kanon. 

— Eu não fui culpado pelo que aconteceu...

— Então por que se esconde sob a sombra de seu irmão? — inqueriu Saga arqueando o semblante. — Está assumindo que é um covarde incapaz de confrontar a todos, inclusive a mulher que visita esta casa todos noites a cama de seu irmão? A mesma mulher que você ama e simplesmente aceitou perder porque é um fraco? Tsc! — reagiu de maneira desdenhosa. — Até a isso sujeita-se, Kanon? Não é apenas patético, fraco, parasita... mas um fracassado que mesmo seu inimigo não acharia digno de matar.

— CALA A PORRA DA BOCA, SEU MALDITO!!! — Kanon gritou e avançou mais uma vez contra o irmão, com o punho em riste.

Saga esperou calmamente por aquele ataque e desviou sem qualquer trabalho. E do golpe seguinte e de mais outro que se seguiu, enquanto se deliciava em ver o ódio do irmão começando a transparecer além de sua alma.

Kanon chorava e gritava a cada soco desferido, sentindo a garganta apertada, até o momento em que a sensação desapareceu, como um nó que era desatado. O cosmo explodiu em seu punho em uma luz dourada, tomando seu corpo como se fossem chamas, fazendo com que Saga arregalasse os olhos vermelhos e o sorriso debochado e cruel desaparecesse do rosto.



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