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História Saint Seiya Supernatural - A Princesa Acorrentada


Escrita por: Luna__Del_Rey

Notas do Autor


Salve para quem ta de quarentena e para quem precisa sair de casa. Cuidem-se bem.
Será que temos o primeiro caso dos irmãos Win... digo, Amamiya nesse segundo capítulo?
A propósito, teremos capítulos todo dia até terminar (se tudo der certo).
Desculpem possíveis erros de português.
Boa leitura.
=*

Capítulo 2 - A Princesa Acorrentada


Sanford, Maine.

- Chegamos, bela adormecida! – disse Ikki após aplicar um safanão na orelha do irmão mais novo para acordá-lo.

         O mapa que estava no colo de Shun pulou direto para o assoalho do carro devido ao susto.  Ele devolve a gentileza mostrando um sorriso nervoso para o irmão. Em seguida estica-se preguiçosamente dando um demorado bocejo. As pernas doíam um pouco pelas duas horas sentado no banco do carona do Impala. Shun só esperava que aquela viajem maluca desse algum resultado. Não queria voltar a ver Ikki jogado no sofá deprimido e olhando a foto da noiva desaparecida.

            Ikki já se encontrava do lado de fora. Observava a casa do vidente por cima do seu carro. Um duplex estreito todo em tijolo aparente cercado por uma cerca escura da mesma cor dos tijolos da casa. Nenhuma porta a vista, apenas janelas e todas no andar de cima. “Estranho”, ele pensou franzindo suas grossas sobrancelhas.

- Então? – perguntou Shun se posicionando ao lado do irmão.

- Vamos lá. – respondeu Ikki enfaticamente começando a caminhar.

            Shun coça a nuca sentindo-se um tanto surpreso. Esperava que o irmão dissesse alguma coisa diferente, como analisando o lugar ou que talvez esperasse alguém sair da casa para perguntar sobre o vidente de nome estranho. Ao que parecia, Ikki estava mais do que determinado, entenda-se mergulhando de cabeça naquela ideia de investigar o mundo sobrenatural.

            Atualmente Ikki era puro extinto.

            Após observar seu irmão caminhar até a casa, Shun resolve segui-lo. O trancado portão enferrujado não foi empecilho para alguém com a força de Ikki. Ao passarem notam o silêncio reinando no imóvel. A rua localizada nos subúrbios de Sanford também não era lá muito movimentada, constata Shun olhando mais uma vez em volta.

- Só falta não ter ninguém em casa. – observa Ikki esticando o pescoço para o quintal onde se podia ver uma pequena horta.

- Talvez devêssemos esperar no carro até alguém aparecer... – argumenta Shun.

            É ignorado por Ikki que continua esquadrinhando as paredes em busca de uma entrada para a casa. Finalmente e encontra.

- É por aqui! – avisa ao irmão.

            Mas antes de chegarem a quase invisível porta, ouvem uma voz aguda de menino:

- Vocês não sabem o que é companhia?

            Os irmãos olham ao mesmo tempo para o alto. Um menino ruivo de não mais do que 8 anos estava com a cabeça cor de fogo para fora da janela. Sua expressão era atenta na mesma medida que travessa.

- Bom dia! – saúda Shun com um sorriso cordial. – O senhor Mu está? Precisamos de uma consulta...

- Marcaram hora?

- Não e vamos falar com ele assim mesmo. Dá para chamar ele logo, moleque?! – desafiou Ikki.

            O menino cruza os braços soberbamente.

- Por essa grosseria, não vou atender vocês...

- Oh seu moleque! Ta achando que eu to brincando? – berra Ikki mostrando o punho cerrado.

            O acesso de raiva é interrompido pela mão de Shun em seu ombro. Ikki apenas olha entediado para Shun e o deixa tomar a frente da situação.

- Desculpe, mas você é o Mu? – na janela, o ruivinho responde que sim subindo e descendo a cabeça lentamente. – Prazer em conhecê-lo. Nós viemos de Portland e precisamos de uma consulta. É urgente...

            No meio da fala de Shun, outra janela da casa de abre. Um homem de cabelos lilases surge. Sua expressão levemente irritada deixava a suspeita que estava ouvindo toda a brincadeira do menino.

- Outra vez se passando por mim, Kiki? - embaixo, os irmãos se olham surpresos. Kiki corre da janela sem desfazer seu sorriso travesso. O homem de cabelos lilases, que na verdade era o verdadeiro Mu, suspira entediado. – Desculpem o meu filho. Ele adora fazer isso com os visitantes... – Shun faz sinal de “tudo bem”, enquanto Ikki vira a cara. – Podem entrar. A porta está aberta. Vou descer em um segundo.

*

            Não havia bola de cristal, cortinas de contas, cartas de tarô espalhadas numa mesa ou esculturas de santos naquela sala de consultas. Apenas uma poltrona grande posicionada ao lado da lareira apagada. A frente da poltrona duas cadeiras acolchoadas e simples foram ocupadas pelos irmãos Amamiya. Os olhos de Shun foram diretos para o quadro de um homem idoso e expressão serena na parede atrás de Mu. Ele lembrava um pouco o próprio Mu...

- Esse era meu pai, Shion. Era um vidente, assim como eu. – disse Mu interrompendo a observação de Shun. Diferentemente de Shun, Ikki prestava total atenção no homem sentado na poltrona maior, tentando imaginar seu pai ali naquela sala na mesma cadeira que ele se consultando com aquele vidente. – Perdoe-me de novo pela recepção do meu filho... – disse Mu notando os olhos de Ikki em cima de si.

- Tudo bem. Foi até engraçado... – Shun abriu um sorriso.

- Vocês são caçadores?

- Caçadores? – perguntam Shun e Ikki ao mesmo tempo.

- Já entendi... – o vidente apenas abre um sorriso discreto. - Então como posso ajudá-los? Ikki, Shun...

            Os Amamiyas trocam olhares intrigados. “Ele é bom”, foi o que Ikki pensou. Adivinhar nomes era só uma das habilidades de Mu. Ikki limpa a garganta e começa a falar:

- Encontrei seu endereço numa velha agenda do nosso pai...

- Amamiya, Akaito Amamiya... – completa Mu colocando uma perna em cima da outra. – A semelhança entre vocês é incrível eu devo dizer. Sim, ele esteve aqui há muito tempo...

- O que ele veio fazer aqui? – indagou Shun.

- Bem... – Mu fecha os olhos. – Eu costumo manter sigilo sobre aqueles que me procuram. – o barulho de algo se quebrando surge ao fundo. – Não se preocupem, é só o Kiki, um estilingue e as janelas dos vizinhos. – o sorriso do vidente era totalmente cínico. – Bem, já podem dizer por que vieram me procurar, embora seu irmão já soubesse o que iria acontecer naquela noite, Ikki...

            Shun se encolheu na cadeira ao receber o olhar sombrio do vidente. Ele lembrou imediatamente do sonho que mostrava Esmeralda raptada pela sombra gigante. Sonho este que preferiu não contar a Ikki.

- Do que ele está falando, Shun? – pergunta Ikki com uma voz grave fitando-o.

- Eu... – não teve forças para encarar Ikki. Procurava as palavras certas no emaranhando de pensamentos de sua mente. – Posso falar com você depois, Ikki? – foi tudo o que conseguiu dizer.

- Ok... – responde Ikki lentamente. Volta-se no segundo seguinte para Mu. – Estamos aqui por causa da minha noiva, ela foi levada por uma sombra gigante.

            O olhar do vidente de repente fica sério.

- Estou ouvindo.

            Ao final de todo o relato, o anfitrião se mostra desapontado. Faz uma breve pausa antes de falar:

- Eu sinto muito, mas não posso ajudá-los. – seus olhos verdes percorrem a sala e param no retrato de seu avô. – Não faço ideia do que levou sua noiva, Ikki.

- Como não?! – exclama Ikki quase levantando da cadeira.

- A minha especialidade é o mundo espiritual. Eu ouço vozes... – o tom de voz de Mu era espantosamente sereno. – Os espíritos me auxiliam em diversos assuntos e eu procuro ajudar as pessoas usando esse dom. É certo que é uma criatura, um monstro, como preferir chamar, raptou sua noiva, mas pelo que me descreveu, não é nada que já tenha visto ou ouvido falar... – fez uma pausa e virou o rosto como se estivesse dando atenção para alguém ao seu lado. – Nem o mundo espiritual sabe do que se trata. Eu realmente sinto muito...

            O estrondo da cadeira desmaiando quando Ikki se levantou bruscamente interrompeu a fala de Mu. Ele fica de costas, depois se vira bruscamente. A revolta emanava de seus olhos.

- Fala sério! Isso é tudo que tem para me dizer?!

- Ikki...

- Não, Shun! Eu não vou aceitar essa resposta. – solta o ar dos pulmões para recuperar a calma. – Tem que haver uma explicação para aquilo... Aquela ‘coisa’ tem que ter um nome, uma origem... Qualquer coisa! Por favor...

            Os olhos de Ikki se cravam nos do vidente. Os dois seguraram seus olhares, como se disputassem quem piscava primeiro. De repente, Mu vira a cabeça como se alguém invisível sussurrasse em seu ouvido direito. Era o mundo espiritual falando. De fato a naquele momento a sala pareceu diferente, como se houvesse mais pessoas além dos 3 homens. A sensação fez os pelos do braço de Shun levantar.

            Finalmente Mu dá atenção aos vivos da sala.

- Talvez seja uma pista. – retomou Mu seriamente. – Uma jovem com a idade e descrição da Esmeralda desapareceu recentemente em Providence. As autoridades até agora não têm nenhuma resposta a dar. Uma testemunha afirmou que viu a jovem perambular pela praia sendo seguida por uma sombra... Mas o cara era um morador de rua bêbado. Ninguém deu crédito.

- Acha que pode ser a mesma sombra? – questionou Shun.

- Não sei, mas foi a única pista que me sussurraram. – respondeu Mu ainda sério, porém um sorriso ameno começava a se formar em seus lábios.

- Providence... – reflete Ikki. – Até que não é tão longe. – estendeu a mão para Mu. – Obrigado. Quanto lhe devo?

- Para caçadores é de graça. – respondeu Mu descontraidamente.

- Não somos caçadores... – rebate Shun.

            De fato, ele nunca havia entrado numa mata para caçar na vida. Ikki sim.

- Mas têm potencial para ser. Estou falando de um caçador de monstros, espíritos vingadores, demônios... – para ao perceber as expressões de confusão dos rapazes. – Em fim, me liguem se encontrarem alguma coisa. – levanta em seguida tira um cartão do bolso, é Shun quem o recebe. – Boa sorte, rapazes.

            Os irmãos agradecem mais uma vez no caminho até a saída. Ikki sai primeiro e corre em direção ao carro estacionado em frente à casa. Na porta, Mu chama por Shun:

- Sim. – disse o jovem ao se virar.

- Não se esqueça de falar com o seu irmão sobre aquele sonho.

            Shun engole em seco. Aquela conversa seria nada fácil.

*

            No caminho para Providence pararam numa lanchonete de beira de estrada para se abastecerem. Ikki era do tipo que comia feito um cavalo. Vivia com fome, porém, naquela tarde não demonstrava estar faminto. Assim que sentaram a mesa, Shun notou que aquela fora na verdade uma parada estratégica. Ikki queria conversar.

            Teve sua cesta de hambúrguer empurrada para o lado livre da mesa. Quando levantou a cabeça deu de cara com os olhos firmes e raivosos de Ikki.

- Certo, agora pode ir explicando aquela fala do vidente. Por que ele disse que você sabia o que ia acontecer?

            Shun percebeu a garçonete se aproximando. Achou por bem esperar ela deixar os refrigerantes na mesa e voltar para seu trabalho. Ikki por outro lado ignorou a passagem da garçonete. Não tirou os olhos cima do irmão. Shun até pegou o copão de refrigerante para dar um gole encorajador, mas desistiu tamanho era o compromisso no olhar de Ikki em cima dele.

- Eu sonhei que uma sombra horrível raptava a Esmeralda dos seus braços, foi isso.

- Quando teve esse sonho?

- Na noite anterior a tragédia.

- Inacreditável... – exclama Ikki irritado - Por que não me falou nada?

- Porque eu sabia que você não acreditaria e ainda ia me chamar de louco! – disse Shun arrancando o plástico do canudo de seu refrigerante com violência. – Exatamente quando éramos crianças...

- Não é bem assim. Se você tivesse me dito...

- Não é bem assim, Ikki? – foi a vez de Shun olhar fixo nos olhos de Ikki.

            O mais velho afunda na cadeira negando com a cabeça.

- Você tem razão. Eu não teria acreditado mesmo. – disse em voz baixa. – Há uma semana eu não acreditava em nada relacionado a... – levantou os olhos para o irmão que agora bebia seu refrigerante. – Esse tipo de coisa sobrenatural...

            Passa a mão no cabelo nervosamente. E agora ele acreditava? Uma parte dele ainda não. Ikki sempre foi muito descrente. Agora se via tendo que lidar com uma série de coisas estranhas e inexplicáveis. Às vezes sua cabeça racional e prática entrava em queda livre.

- Foi o que eu pensei. – disse Shun friamente.

- Só queria saber por que você teve esse sonho... – disse Ikki finalmente dando atenção ao seu hambúrguer.

Ele morde o pão com vontade.

- Eu também.

Após terminar seu refrigerante, Shun coloca o jornal que havia comprado em na frente de Ikki.

- Quê isso? – perguntou o mais velho de boca cheia.

- Eu resolvi comprar para ver se tinha saído alguma noticia sobre o desaparecimento da garota de Providence e assim checar a história do Mu. Ai diz que a jovem era loira, mesma idade da esmeralda, 20 anos, e também universitária. O relato do morador de rua também está ai. – nesse momento Ikki pega o jornal e começa a ler a notícia. – O repórter até esclarece que nesse dia o morador de rua alegou não ter bebido, mesmo assim a polícia local não deu a menor bola para a única testemunha...

- É preciso morar numa mansão e pagar os impostos em dia para a polícia te levar a sério. – disse Ikki observando a foto da moça.

            Não se parecia nada com sua Esme, a não ser pelo fato de ser loira e possuir olhos verdes.

- É. – concorda Shun - Ai diz também que a jovem não tinha inimigos e morava com uma avó desde adolescente. Os pais dela morreram ha oito anos. Ela foi passar o fim de semana na casa de uma amiga na praia e sumiu. Saiu no meio da noite com destino a praia que foi onde o mendigo a viu. Ninguém soube explicar porque ela saiu da casa e o mais estranho foi que o mendigo disse que ela parecia hipnotizada quando caminhava sozinha pela praia rumo a uns rochedos que dizem ser um lugar maldito.

- Lugar maldito é? – pergunta Ikki com descaso em sua voz.

- Isso mesmo, mas a reportagem não menciona porque o local é chamado assim. Diz apenas que é palco de uma lenda urbana, ou algo parecido... O que você acha?

- Acho que devemos falar com a avó da garota, em Providence, e depois seguimos para a praia e procuramos o mendigo. Eu quero saber mais sobre esse lugar maldito e essa sombra. – respondeu Ikki com uma expressão de quem imaginava muitas coisas.

- Você está achando mesmo que foi a mesma coisa que levou a Esme?

- Não sei, mas tinha uma sombra lá, o corpo da garota não apareceu e o lugar que ela foi vista pela última vez é assombrado. Essa coisa pode estar fazendo tour por ai e levando algumas loiras como souvenir... Sei que isso parece maluquice, mas é a única pista que temos, por isso quero ir ate lá ver com meus próprios olhos se outras pessoas estão passando pelo mesmo que eu. – levantou segurando seu hambúrguer metade comido. – Terminamos de comer no carro. Temos muita estrada pela frente, melhor ir andando.

*

            Após três horas de viagem chegaram a Providence. O jornal dizia que a avó da moça desaparecida era diretora de uma escola, logo não foi difícil achar o endereço. Bastou ir até a escola, dizer que eram dois ex-alunos com saudades da velha professora Floren Miller para a funcionária dar o endereço completo com telefone.

            “Receber visita de seus ex-alunos vai fazer bem para a diretora Miller”, disse a secretaria. A previsão se concretizou, mas quando Shun puxou o assunto da neta desaparecida, lágrimas brotaram dos olhos da educadora.

- Uma tragédia... – disse a idosa com uma voz chorosa. – Era minha única neta...

- Sentimos muito, senhora Miller.  – disse Shun amavelmente. – Há alguma coisa que podemos fazer para ajudar?

            Ikki apenas observava. Agradeceu mentalmente por Shun estar ali, por que... Bem... Ele não sabia lidar com esse tipo de coisa.

- Sabe as pessoas evitam falar nesse assunto comigo... – disse a diretora enxugando o rosto com um lenço branco. – Acham que eu não vou aguentar, mas... – olha suplicante para os dois rapazes. – Eu quero falar sobre isso, quero dizer o que eu sinto!

- Somos todos ouvidos, senhora Miller. – disse Shun com um sorriso reconfortante.

            A diretora Floren soluça uma vez. Segura corajosamente o choro apertando o lenço dobrado contra a boca enrugada. Um minuto depois começa a falar:

- A polícia não acreditou. Um policial chegou a dizer que estava passando por stress pós-traumático, por isso estava imaginando coisas! Mas eu sei, sei quem levou a minha neta. – inclina-se para os irmãos. Por um segundo seus olhos mostraram um brilho opaco, um brilho de insanidade... – Foi a Princesa Acorrentada. – disse em voz baixa demais.

            Durante alguns segundos, Ikki e Shun compartilharam a mesma expressão de espanto e incredulidade. A idosa continuou:

- Aconteceu há muitos anos, tantos que ninguém sabe dizer ao certo quando. Ela era a jovem mais bela daquela aldeia de pescadores. No passado a aldeia em que morava era a mais próspera da região da Baia de Narrangansell por conta da pesca. Os barcos sempre voltavam carregados de peixe. Um dia os peixes começaram a diminuir na baia, e a vila entrou em declínio. Muitos passaram fome, migraram para outras regiões ou se mataram porque perderam tudo. A família mais rica da região foi a que mais sofreu. Eles eram donos de muitos barcos, tiveram que vender mais da metade da frota para pagar as dívidas. Então o patriarca teve uma infeliz ideia. Eles eram de família nobre, descendentes de imigrantes gregos que acreditavam naqueles deuses pagãos. O patriarca acreditou que Poseidon, o deus dos mares havia feito desaparecer os peixes da vila como castigo por ninguém mais acreditar nele. Jesus bom pastor! Diziam que o velho era insano... – exclamou a idosa novamente mostrando o brilho opaco da insanidade em sua íris azul turquesa. – Ele levou a filha mais velha, a moça mais bonita da aldeia, a acorrentou nos rochedos e a deixou lá para morrer, achando que o sacrifício acalmaria a fúria do deus. Exatamente como os antigos pagãos faziam. Ele entregou a filha ao mar. Quando criança, ouvi essa história milhões de vezes dos meus pais. Eles me diziam que os rochedos eram assombrados pelo espírito da princesa acorrentada que voltava a cada 10 anos para levar sempre 3 jovens bonitas para o fundo do mar e assim acalmar Poseidon. – a idosa volta a chorar intensamente. – A minha neta foi a primeira desta vez...

- Que história arrepiante. – conclui Ikki com um leve tom de descaso.

            Recebe um olhar reprovador de Shun.

- Senhora Miller, o que a faz acreditar que sua neta tenha sido levava por esse espírito?

- Meu coração! – olha seriamente para os irmãos. – Eu tenho certeza... O homem viu uma sombra levando a minha neta para o mar, era a princesa acorrentada. Eu sei que foi ela... – a velha se levanta subitamente. Dá alguns passos vagos pela sala da casa. Apanha um porta-retrato, em seguida acaricia a foto como se a imagem estática pudesse sentir. Era uma foto de sua amada neta. – Ela era a moça mais bonita que já vi... – disse olhando para a foto. Então recoloca o porta-retrato no móvel. – Obrigada por me ouvirem rapazes. Isso estava preso dentro de mim há muito tempo. Eu precisa dividir com alguém. – disse ao se virar.

- Foi um prazer ouvi-la, senhora Miller. – disse Shun gentilmente.

*

            Recusaram a torta e o café oferecido pela gentil senhora Miller. Entraram no carro quase ao mesmo tempo e com a mesma pressa. Ikki deu a partida e cantou pneu para sair da frente daquela casa cheia de lembranças tristes.

- Pobre senhora... – refletiu Shun.

- Também a achei meio perturbada. Mas é compreensível, afinal ela sofreu uma grande perda. – disse Ikki tranquilamente.

- Vou ligar para o Mu... – o celular já se encontrava nas mãos de Shun. – Quero ouvir a opinião dele.

- Eu só quero pegar esse espírito ou sombra, seja lá o que for e fazer com que nunca mais queira passear pela praia.

            O motor do carro rugiu mais forte quando Ikki acelerou com tudo na estrada de acesso ao litoral.

*

            No fim da tarde o Impala dirigido por Ikki passava por uma placa onde estava escrito: “Bem vindo a Baia Narrangansell”. A praia era a próxima parada. Os irmãos desceram numa região de docas, passaram pelos barcos atracados que balançavam suavemente no embalo das pequenas ondas. Havia lanchas e pequenos iates atracados também. A pesca artesanal deu lugar ao turismo naquela região. Pararam apenas para pedir informações de como chegar aos rochedos.

Passaram-se por turistas.

            Desceram as escadas de acesso a praia rapidamente. Caminharam praia a fora até o caminho ficar deserto. Viram de longe os rochedos. Pela descrição da senhora Miller e dos frequentadores das docas estavam no lugar certo.

            O local era deserto. A praia era pouco frequentada por conta de tantas pedras. Mais afastado havia um grande paredão de rochoso, possivelmente usado pelos jovens para mergulhar no mar com alguma emoção. Um casal de namorados se beijava entre as pedras perto do paredão. A moça era loira, Ikki constatou observando de longe.

- Parece um ponto turístico comum. – disse Shun olhando em volta.

- Um ponto turístico com uma estória macabra de fundo... – disse Ikki caprichando no tom de voz irônico.

- Eu quero dizer que não tem nada de mais aqui. Só a praia, as pedras, o por do sol... – apontou para o espetáculo natural ao leste. Ikki ignorou. – Eu já não sei mais se acredito na história de infância da senhora Miller.

- Pois é... – devolveu Ikki contrariado.

Só queria ignorar o fato de ter dirigido por horas sem parar para ver areia e um monte de pedras.

- O Mu disse que se o espírito da princesa acorrentada estiver por aqui, vai voltar por esses dias para pegar as outras duas moças para cumprir seu ciclo. Então, ficamos para ver o que acontece?

- Foi isso o que eu pensei. Dormimos em algum hotel e amanhã fazemos mais perguntas por ai. Quero falar com o bêbado que diz te visto a sombra...

            Voltam para as docas e para a civilização. No dia seguinte, Shun acordou e não encontrou o irmão no quarto. Só esperava que ele não usasse seu jeito ‘gentil’ para falar com o mendigo. Tomou banho e desceu para comprar o jornal do dia, esperando encontrar alguma notícia interessante sobre a primeira jovem desaparecida.

            Leu o jornal todo e assistiu TV. Meia hora depois Ikki entra no quarto.

- E ai, dormiu bem? – perguntou o mais velho após fechar a porta.

- Para uma primeira noite num hotel barato, sim. – respondeu Shun usando um tom de voz descontraído. – Encontrou a testemunha?

- Encontrei. Paguei umas biritas e ele falou tudo. Disse que viu uma sombra mesmo e pela descrição se parece um pouco com a que eu vi.

- Hum... – murmurou Shun.

            Na verdade, achou que mendigo falou o que Ikki queria ouvir para ganhar toda bebida que queria. Porém resolveu não externar esse pensamento ao irmão. Não ia adiantar. Ele estava concentrado demais naquela busca para ouvi-lo. Assim era Ikki, quando se punha a fazer alguma coisa, tornava-se tão compenetrado que esquecia o mundo em volta. Levantou o controle remoto e mudou para o noticiário. Um repórter de meia idade transmitia ao vivo da praia.

            A fala do jornalista fez os irmãos olharem hipnotizados para a tela.

“A polícia local ainda não tem pistas de mais esse desaparecimento. Ao que tudo indica, estamos vendo a ação de um serial killer ou maníaco sexual, já que as vítimas são todas mulheres jovens e bonitas. Testemunhas afirmaram que viram a jovem caminhar sozinha pela praia depois da meia noite...”

            Shun desliga a TV num gesto totalmente robótico. Não havia sentimento definido em sua expressão.

- Deve ser a segunda garota. – disse Ikki piscando os olhos.

- Eu pensei a mesma coisa. – concordou Shun com uma voz vaga. – Você viu a foto, era loira como a neta da senhora Miller e a Esme... Se a lenda estiver certa, haverá uma terceira morte, então o espírito some por 10 anos...

- E se a lenda estiver certa mesmo, houve 3 desaparecimentos há 10 anos atrás. – completou Ikki, em seguida Apanha as chaves do quarto que havia jogado na cama. – Precisamos tirar isso a limpo primeiro.

- Concordo, mas 10 anos é um intervalo de tempo muito longo para as pessoas lembrarem... – comenta Shun vestindo seu casaco. – Talvez seja mais fácil consultar jornais antigos. Toda biblioteca local tem uma sessão com esse tipo de consulta online.

- Boa ideia. –  abriu um grande sorriso orgulhoso do irmão CDF.

            Ikki teve que usar seu charme para a bibliotecária deixá-los consultar o acervo sem hora marcada. Aquela sessão de jornais antigos estava sendo disputada a tapa por reportes sedentos por corroborar a ideia de serial killer/maníaco sexual. Histórias como essas sempre vendem muito jornal. Mas nada que um sorriso sedutor e um elogio não resolvessem. Ikki tinha o porte atlético a seu favor. A bibliotecária até trouxe cafezinho para os irmãos.

A previsão de Shun estava correta. Há 10 anos, houve 3 desaparecimentos inexplicáveis naquela região. Na praia, rochedos ou imediações. Um repórter de 20 anos atrás chegou a escrever uma matéria extensa e detalhada sobre o caso associando à lenda local da princesa acorrentada, a qual ele chamou de Andrômeda americana, numa referência a lenda grega da princesa oferecida em sacrifício a Poseidon e posteriormente salva pelo herói Perseu.

O mesmo repórter foi taxado como “imaginativo demais” por outros jornais. Meses depois até diagnosticado com mal de Alzheimer. Claro que as autoridades não deram a menor bola para a suspeita.

Mortes confirmadas faltava agora o aval de um especialista. Enquanto saiam da biblioteca, Shun ligou para Mu.

- É um espírito vingador, não tenho a menor dúvida. – disse o vidente no viva-voz. – A princesa acorrentada volta a cada dez anos para repetir o sacrifício a qual foi imposta. Ela está presa a esse ritual e ao mesmo tempo se vingando do pai...

            Podia-se ouvir ao fundo a voz de seu filho Kiki cantando.

- Tem como acabar com essa farra de vingança? – perguntou Ikki aproximando a cabeça do celular que Shun segurava.

- Tem... Vocês têm que salgar os ossos da morta e queimá-los em seguida. É a única forma de fazer o espírito descansar...

- Parece fácil, mas tem um problema. Os ossos da Princesa Acorrentada devem estar no fundo do mar, ou foram comidos por algum peixe. Quero dizer que não há a menor condição de achá-los.

- Sei. Deem-me um segundo... – a voz de Mu se afastou um pouco: - Pensei ter te mandado fazer o dever de casa, Kiki! – pausa e uma resposta desaforada do menino.  O vidente emitiu um suspiro cansado. – Crianças são seres incontroláveis...

- Eu posso imaginar... – disse Shun com voz bem humorada.

- Bem, existe outra forma de parar o espírito. – retoma Mu - Eles costumam se apegar a algum objeto que usaram em vida. Vocês precisam achar esse objeto e queimá-lo imediatamente. Pode ser qualquer coisa, uma peça de roupa, cabelo, jóia, livro... Em fim. Achem a coisa e queimem antes que ela pegue sua terceira vítima!

- Ela morreu há muitos anos, tantos que se transformou numa lenda urbana. – disse Ikki em tom de reclamação. – Como vamos achar um objeto que ela usou se nem a casa dela deve estar mais de pé?

- Tem que haver alguma coisa. Pensem em uma coisa muito importante para o espírito. Se não houvesse essa coisa, ele não estaria voltando... Deve estar no local onde morreu... – explicou Mu pacientemente.

- Eu pensei numa coisa. - meteu-se Shun. – Se ela morreu acorrentada aos rochedos, talvez as correntes ainda estejam por lá. É só um palpite...

- Isso! Vão atrás das correntes. Outra coisa, fiquem atentos as manifestações do espírito. Se sentirem calafrios súbitos ou queda de temperatura protejam-se com sal grosso ou ferro puro. Espíritos detestam sal grosso e ferro puro. Eu preciso desligar agora e obrigar o meu filho a estudar, até!

            A batida do telefone foi de assustar. Parece que alguém ia levar umas boas palmadas. Shun não conseguia imaginar um homem aparentemente tão calmo como Mu tendo um acesso de raiva, por mais que o pequeno Kiki fosse encapetado.

            Ikki dirigiu como um louco até o litoral. Correrem pelas docas, Shun segurando o galão de gasolina e Ikki uma barra de ferro que ele sempre trazia no porta-malas caso visse algum esperto tentando roubar seu carro. Passaram quase a tarde inteira vasculhando os rochedos. Nenhum sinal das correntes. Quando a noite caiu, procuraram de novo, seguindo as instruções de Mu. A maioria dos espíritos agia a noite e quando não tivesse ninguém olhando.

            Cansados de tanto andar, sentaram nos rochedos segurando suas lanternas, esperando, quem sabe alguma coisa acontecer, ou a princesa acorrentada dizer olá. Quando estavam prestes a ir embora, Shun sente um calafrio que o faz soltar a lanterna sem querer.

            Uma pequena lufada de ar gelado sai da boca de Ikki como se ele estivesse subindo os Himalaias. A temperatura havia caído de um segundo para o outro. Os irmãos ficam atrás um do outro, com as costas coladas. A luz da lanterna de Ikki passeia por todos os cantos em volta deles.

- Você acha que... – sussurra Shun forçado um tom de voz sério.

- A temperatura caiu do nada. Ela está aqui. – disse Ikki com firmeza.

O mesmo tom de voz de sempre, ele não estava com um pingo de medo. Já seu irmão mais novo teria um enfarte caso seu coração acelerasse mais um pouco. Ikki ergueu sua lanterna para olhar o topo do paredão rochoso. Na primeira vez que a luz passou não havia nada, mas na segunda uma figura se revelou.

Era uma mulher, magra como as moças nas fotos de prevenção a anorexia. Usava um vestido branco encardido rasgado em vários cantos. O cabelo rosa caia-lhe pelas costas e este brilhava estranhamente. A distância impedia de ver o rosto, mas Shun teve a impressão que seria bonito. Ela caminhava lentamente sem movimentar os braços. A cabeça ora tremia ora pendia para o lado.

- É ela, a princesa acorrentada... – sussurrou Shun olhando para a figura que caminhava no alto do rochedo.

            Engoliu em seco. Um fantasma real não se parecia em nada com os dos filmes. Aquela visão era infernalmente mais assustadora. Até o mais cético dos homens passaria a acreditar em fantasmas se visse aquilo.

- Veio pegar a terceira garota. – disse Ikki entre dentes.

Shun continuava apontando a lanterna para o fantasma enquanto Ikki esquadrinhava toda a área em volta procurando pela barra de ferro. Uma pancada de Shun em seu ombro o fez voltar a olhar para o alto do rochedo.

- Olha aquilo! – exclamou Shun.

            Ele apontava para uma segunda jovem, curiosamente também de vestido branco. Era a terceira vítima. A jovem loira caminhava vagamente até a beira do rochedo, parecia amolecida e sem vontade própria, como se estivesse dormindo.

            No mesmo segundo Ikki apanhou a arma de ferro e se lançou a subir o rochedo. O som das ondas batendo contra as pedras encobriram seus gritos. Ele tentava chamar a atenção da moça viva, tentava fazê-la acordar do transe imposto pelo fantasma. A princesa acorrentada agora estendia os braços. Seus lábios se mexiam lentamente, como se chamasse uma velha amiga.

            Sem muito esforço o mais velho dos Amamiya consegue chegar ao topo da rocha. Shun vinha logo atrás. Ikki agarra os braços da moça loira, sacode-a com violência berrando:

- Anda acorda! Acorda!!

            Ele teria aplicado uma bofetada se ela fosse um homem. No terceiro berro a loira pisca os olhos freneticamente. Ela se segura aos braços fortes de Ikki. Sua expressão era de terror.

- Como eu cheguei aqui?! – a loira pergunta.

- Ela te trouxe... – responde Ikki apontando para o fantasma que agora estava parado. Imóvel.

            O vento sacudia o vestido encardido e repleto de algas verdes e pretas. Os cabelos rosados caiam por cima do rosto que tremia. Os olhos escuros não se mexiam. As mãos azuladas como de um cadáver também tremiam, só que num ritmo mais rápido que a cabeça. O fantasma gemia, mas era impossível distinguir alguma sílaba.

            Apavorada com a cena, a loira nos braços de Ikki solta um grito estridente.

- Leva-a daqui, Shun! – ordena Ikki jogando a moça histérica para cima de Shun.

            Ele avança sobre o fantasma usando a barra de ferro como bastão de baseball. A aparição gritou quando foi atravessada pela barra, depois sumiu como se levada pelo vento. Mas o frio e a presença nefasta ainda estavam lá. O fantasma apenas havia se afastado, mas retornaria em breve.

            Shun corre com a moça para longe dos rochedos. Grita para que corra o mais rápido possível e sem olhar para trás. Em seguida volta para ajudar o irmão.

- O que faremos agora, Ikki?! – pergunta visualizando seu irmão no alto do rochedo.

            Ikki olhava para os lados segurando firmemente sua arma de ferro. Estava em alerta e pronto para bater no fantasma assim que ele aparecesse e quantas vezes fosse necessário.

- Ache as correntes, Shun. Eu a distraio. Anda logo! – berra vendo o fantasma surgir bem na sua frente, este é rapidamente repelido com mais uma descarga de ferro. – Preciso fazer mais destas. – ele diz para si mesmo.

            Em baixo, Shun corria entre as pedras, evitando tropeçar nas que despontavam na areia. Passava a lanterna por cada centímetro, cada pedra procurando pelas correntes. A maré estava baixa, e seus sapatos afundavam na areia úmida. Tentava se concentrar na busca, mas vozes racionais em sua cabeça lhe diziam que não havia correntes em lugar nenhum, que elas estavam no fundo do mar junto com os ossos da morta, ou que aquela praia era muito grande para ele procurar sozinho.

Pensou no irmão lutando contra um fantasma no alto do rochedo não muito longe. Imaginou o quanto a assombração poderia estar irritada por perder sua vítima numero três. Se os fantasmas poderiam fazer tudo o que faziam nos filmes de terror Ikki estariam muito encrencado.

Ele precisava agir rápido.

Então correu mais rápido. Colocou toda sua força mental na corrida e na procura. Percebeu que com a maré baixa outras rochas se revelaram. Um caminho arenoso se abria logo abaixo do paredão rochoso. Shun deu a volta no paredão. A base era o lugar ideal para se prender alguém, ele presumiu. Passou várias vezes a luz da sua lanterna por aquela parede úmida e coberta de conchas. O cheiro de maresia era muito intenso.

Parou a luz ao encontrar uma abertura na rocha. Pulou mais para baixo e deu de cara com uma pequena caverna. Parecia uma toca de urso, só que a beira mar e coberta de algas. “Um bom lugar para se acorrentar alguém em sacrifício a um deus. Presa ali, naquele lugar estreito a pessoa não teria a menor chance contra a subida da maré”, ele pensou.

Abaixou-se para ver o fundo da caverna sempre usando a lanterna para iluminar o pequeno espaço a sua frente. Entre ouriços e algas marinhas, estava uma velha corrente enferrujada, parte dela estava enterrada na área.

Só podia ser aquela!

No mesmo segundo em que teve essa constatação ouviu Ikki gritar:

- Se abaixa!

            A barra de ferro passou por cima de sua cabeça na velocidade de uma espada samurai. Virou-se espantado, colocando a luz da lanterna bem na cara de Ikki.

- O que foi isso?

- O fantasma ia atacar você...

            Um grito bestial de horror misturado a ira vem em seguida. O fantasma da princesa acorrentada estava ao lado de Ikki. No mesmo segundo que ela arreganhou a sua boca para pular em cima dele, Shun joga gasolina em cima da corrente seguido de um isqueiro acesso. Uma pequena pira de fogo se acende e enquanto a chama crescia, o fantasma se consumia no mesmo ritmo, berrando e se contorcendo até não restar mais nada a não ser uma faísca solta no ar.

            A Princesa Acorrentada deu adeus ao mundo dos vivos. As pernas de Shun tremiam. Ikki apenas ofegava.

*

            A porta do Impala bateu com um puxão de Shun. Normalmente Ikki odiava que batessem a porta de seu estimado carro, mas ele estava cansado demais para reclamar de qualquer coisa.

- Eu preciso de uma bebida. – ele disse com um tom de voz desprovido de emoção olhando o volante.

- Ainda não acredito que fizemos isso. – disse Shun com um olhar vazio. Volta-se para o irmão. – E agora, o que faremos?

- Vou continuar caçando a coisa que levou a Esmeralda. E não me incomodo de acabar com uns espíritos vingadores pelo caminho.

            O mais novo suspirou.

- Estou com você irmão.

            Em silêncio, Ikki dá a partida no Impala, pisa leve no acelerador em seguida.

- Mu disse que fizemos a coisa certa e que temos potencial para nos tornar caçadores de monstros...

- Nós? – pergunta Ikki mirando a estrada.

- Eu já disse, estou com você. – disse Shun com firmeza.

- Pode ser perigoso.

- Eu não ligo. – disse Shun repousando a cabeça no encosto do banco. – Salvamos aquela jovem e mais três que seriam levadas daqui a 10 anos. Eu me sinto bem.

- É, eu também.... – o tom de voz de Ikki era reflexivo.

            Não era o que ele esperava, não era a sombra gigante que tirou Esmeralda de sua vida. Porém ele imaginava que na próxima vez seria. Não estava cansado da caçada. Ele queria mais. Sentia que se continuasse enfrentando o sobrenatural, uma hora ou outra esbarraria com a coisa que levou sua noiva. Essa ideia começou a se desenrolar em sua mente quando saiu da casa do vidente, e agora, depois de derrotar o fantasma da princesa acorrentada a ideia virou certeza.

- Vamos voltar para Sanford, quero falar com o Mu e saber mais sobre essa coisa de caçadores... – disse Ikki agora pisando fundo.

            A frente do Impala preto, a estrada se estendia soberana e infinita naquela noite.

 

 

 

 


Notas Finais


Meu sonho é andar nesse Impala.
Já sabem onde me encontrar? Página do Facebook, Luna Del Rey Fics
;)
ps: pegaram as referências?


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