História Salvação - Epílogo: Sobre olhos de esmeralda

Roxy permanecia deitado sobre o peito nu de Jeongguk.

Seus pelos faziam cócegas na tez acetinada. Sentiu quando os dedos ossudos deslizaram rentes à sua coluna, descartando-o para o lado.

O rapaz de fios acastanhados se virou de costas, ofertando aos olhos de esmeralda a visão de pequenos pontos estelares espalhados por suas costas. Roxy observou as pintas corporais por algum tempo, logo se perdendo no ponto entre a cintura magra e o elástico dos shorts extremamente folgados.

Suas patas repousaram ali, deslizando pelo abdômen de seu dono. Manteve-se pendurado sobre o corpo alto. Suas patas traseiras tocando a lombar de Jeongguk e suas patas dianteiras se pressionando contra o umbigo do homem.

 — Roxy, me deixe dormir.

Atentou-se a voz sonolenta; ao modo como Jeongguk embalou seu mole corpanzil entre os braços e o pressionou com delicadeza. Seu miado agudo não foi hábil a abrir os olhos do Jeon. Ele dormia como uma maldita pedra.

O ruído da maçaneta chamou sua atenção.

 — Amor, se levante daí.  

A voz rouca de Taehyung era dócil. O tom brando era minimamente camuflado pelos murmúrios indecifráveis de Gaeul e os ganidos manhosos de Taegguk.

 — Querido, se levante logo. Não temos a manhã toda.

O felino pulou para longe, observando as mechas ruivas do Kim.

Taehyung se sentou na cama, equilibrando a filha sobre suas pernas enquanto uma de suas mãos caminhava pelo ombro do marido, massageando-o com apertos leves. — Vamos lá. Quer deixar nossa família esperando?

O de fios acastanhados abriu um dos olhos, submergindo na luz ambiente e gemendo desgostoso. Suas órbitas negras caíram sobre o pequeno bebê com vestido alaranjado, sentindo-se dominado pelo prazer automático de tocar em seus minúsculos dedos e mordiscar suas mãozinhas enrugadas. — Bom dia, amor.

Gaeul, com seu vestido cor de outono, sorriu infantilmente, deixando suas gengivas rosadas à vista.

Jeongguk sentiu o calor inflamar seu peito, conforme se sentava sobre a cama e roubava a filha dos braços de Taehyung. Vislumbrar os grandes olhos cor de ônix e a pintinha adorável do bebê o remetia a fascinante imagem do marido.

Ousou erguer seu olhar, topando com as feições divertidas do rapaz.

 — Bom dia, Jeonggukie.

 — Bom dia, TaeTae.

Os lábios secos se selaram com suavidade; frágeis demais para engatarem um ósculo intenso.

A boca cor de pêssego se arrastou pelas bochechas macias de Taehyung, selando o contorno de seu maxilar, a pinta no nariz afilado, as pálpebras pálidas — onde as raízes de veias arroxeadas o tornavam uma pintura inquietante.

Os tons de roxo eram singulares para ele. Deslumbrantes.

Os dedos acobreados tocaram em sua clavícula, carimbando a marca de seus dedos ali.

Jeongguk voltou a fechar os olhos quando o ruivo afagou seu rosto, notando uma consistência molhada embeber seu nariz.

 — Taegguk!

O Husky Siberiano se aconchegou ao seu lado, dando-lhe um bom dia ensopado e agitado. Ele acariciou seus pelos por algum tempo, perdendo-se na imagem de sua família extensa.

Jamais seria algo sem eles.

Perdia o oxigênio cada vez que sua mente desencadeava pensamentos e sonhos onde se via sem o aconchego eterno das mãos de Gaeul e dos lábios de Taehyung.

Era o tipo de ser humano infeliz sem a companhia de animais de estimação. Necessitava sentir os olhos azuis de Taegguk sobre ele. Necessitava tocar nos pelos brancos de Roxy como se provasse a consistência de algodão.

Seus olhos correram pelas paredes e estantes com livros e porta-retratos. Apreciava despertar e fitar as fotografias de todos os hyungs que cuidavam de si como se fosse uma verdadeira criança agasalhada. A fotografia dos pais e sogros continuava no ponto mais alto das paredes e estantes, adornando seu coração e sendo iluminado pelos raios de Sol que invadiam a janela.

 — Eu amo vocês. — Jeongguk murmurou carinhoso, beijando o pescoço de Taehyung. — Vocês são a minha salvação.

O ruivo suspirou, resplandecendo seu sorriso retangular. — Eu também te amo, amor. Agora se levante daí e vá tomar um banho. Hoje é o dia de nos reunirmos na casa da tia Haenim. Nossos amigos estão lá, mamãe e papai também.

Jeongguk não desejava levantar, contudo, fez algum esforço para tocar os pés no chão enquanto seus olhos ainda vagueavam pela bela imagem do companheiro. Não compreendia os feitiços que o marido utilizava para continuar belo com rosto inchado e cabelo desordenado. Eu o amo.

O amor que sentia fazia Jeongguk enxergar além de mesquinhas aparências.

Os olhos de esmeralda acompanharam o ritmo lerdo do homem.

Roxy observou quando o rapaz abriu o guarda-roupa, pegando uma muda de roupas velhas e seguindo rumo ao banheiro. Roxy saltou para dentro da repartição, embolando-se em meio às peças azuis e vermelhas que deveriam estar separadas, mas que — por um desleixo de Taehyung — continuavam misturadas como se fossem um único tom. Jeongguk gostava de dividir suas roupas por ordem de cor.

Roxy capturou o som do chuveiro. Suas orelhas oscilando ao que Gaeul murmurava alguma palavra enrolada ao lado de Taehyung.

Os latidos frequentes de Taegguk foram silenciados por uma bolinha colorida de borracha, que foi jogada em direção ao corredor, longe das escadas.

O ruído de água caindo sobre os azulejos cessou.

O de cabelos acastanhados secava os cabelos com uma toalha, ao que o ruivo surgiu de repente, pulando em suas costas e levando ambos em direção à cama.

 — Taehyung!

 — Gosto de como sua pele fica fria após o banho. Combina com o outono.

Joengguk jogou sua toalha para o lado do colchão. Suas mãos massageando a cintura do companheiro, conforme o rapaz de fios vermelhos se sentava sobre suas coxas e espalmava as mãos em seu peito úmido.

 — Gosto de como a sua atenção é voltada para mim. Isso me faz te amar mais.

Os olhares repletos de adoração eram os mesmos, ainda que meses tortuosos tenham se passado.

Jeongguk não poderia viver sem a insolente presença de Taehyung.

Taehyung jamais seria algo sem o amor de Jeongguk.

O que os unia era um laço invisível, porém indestrutível.

Pertenciam um ao outro, tornando-se pontos de começo e término. Não existia o início de uma vida se ambos estivessem afastados. Não havia o final de uma história se ambos não dessem as mãos.

O Jeon sorriu, conforme seus dedos enlaçavam a mão alheia e a marcavam com um beijo carinhoso.

Outonos e mais outonos se repetiriam até que o universo se dissipasse. O casal continuaria onde estava.

 — Eu ainda amo você. — O Kim sussurrou contra os lábios rosados, beijando o marido por tempo suficiente até que o deixasse instável.

 — E eu também ainda amo você.

Roxy os observou caminharem para longe. O som da coleira de Taegguk e do urso falante de Gaeul invadindo sua audição apurada.

A porta se fechou, e os olhos de esmeraldas permitiriam se entregar ao sono oscilante.

O trinco da maçaneta principal enrijeceu sua cauda.

Viu Jeongguk, com sua velha camiseta branca e jeans surradas, caminhar rumo ao guarda-roupa onde estava e erguer seu corpo, afastando-o do calor das camisetas coloridas.

A mão que carregava as duas finas alianças de ouro rastejou sobre seu pelo, enquanto o Jeon lhe sussurrava mansamente.

 — Nós jamais te esqueceríamos, Roxy.