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História Sangue do Dragão - A Princesa de Pedra do Dragão


Escrita por: Dragonqueendany

Notas do Autor


Bitch I'm Back!

Capítulo 24 - A Princesa de Pedra do Dragão


Fanfic / Fanfiction Sangue do Dragão - A Princesa de Pedra do Dragão

Um vento frio soprava sobre as torres do Templo Vermelho, murmurando um som fantasmagórico que se arrastavam pelas janelas, ameias e parecia envolver todo o santuário do Senhor da Luz. Um turbilhão de folhas mortas era arrastado pelo chão quando Drogon pousou no pátio que outrora deixara o corpo sem vida de Daenerys para que Kinvara a trouxesse de volta. Parecia uma eternidade, refletiu sentindo o coração batendo aos pulos no peito. Quase conseguia recordar-se da sensação da água gelada batendo sobre seu rosto, mas nada daquilo parecia importar agora. Estava viva e sentia como se borboletas batessem em seu estômago enquanto descia do dorso quente e escamoso do dragão. Os sinetes em sua trança tilintado enquanto o vento soprava, o peso da bolsa em seus ombros carregando presentes valiosos e por debaixo da túnica vermelha, ela vestia sua armadura negra de aço valiriano.  

Mal tinha tocado o chão quando ouviu seus passinhos apressados sobre as folhas secas. Rhaenyra correu até ela sem folego, empoleirada dentro de uma pequena capa vermelha, com o rosto corado sujo com tinta cor de rosa, os cachinhos prateados esvoaçando ao sabor do vento e um enorme sorriso que aqueceu o coração de Dany. Foi como se mil sóis despertassem em seu peito. Dany correu em direção a ela e a segurou num abraço tão apertado e aflito que tirou lágrimas quentes de seus olhos. Todos os dias sentia falta da filha, mas até aquele momento não fora capaz de mensurar o quanto.

- Mamãe... – ela murmurou em um doce e seguro valiriano. Os bracinhos apertados em volta de seu pescoço, fazendo uma pressão reconfortante contra sua pele. Dany a apertou com mais força, sentindo uma vontade estranha de morde-la como se ela fosse um gatinho, mas se contentado em sentir o cheiro dela e em beijar seu rosto e cabelos numa confusão de lágrimas e sorrisos. Rhaenyra também chorou, coçando os olhos enquanto abria o berreiro e se agarrava a ela.

Dany odiava vê-la sofrer e odiou a si mesma por sido a responsável por aquilo. Pegou-a no colo percebendo o quanto ela havia crescido desde a última vez que elas voaram sobre Drogon. Ela faria quatro anos dali há alguns dias, o que fez Daenerys odiar-se por ter perdido toda aquele tempo longe dela.

- Me desculpe minha Lua – disse a ela – mamãe teve que partir, mas estamos juntas outra vez – Rhaenyra sacudiu a cabeça balançando os cachinhos e fungando encostou a cabeça sobre o ombro de Dany, parecendo contente apenas por estar ali, aninhada em seus braços.

Atrás de si, Drogon sacudiu a asas e levantou voo em direção ao céu nublado. Apesar do frio, era onde ele se sentia melhor. Rhaenyra levantou a cabeça e observou o dragão partir de olhos úmidos.

- Aonde ele vai? – Dessa vez a pergunta foi no Idioma Comum.

- Ele vai caçar.

- Eu queria voar de novo – Ela se queixou e Dany deu uma risadinha.

- E você vai.

Antes que pudesse dizer mais, Verme Cinzento se aproximou com sua lança ao lado de um sacerdote roliço de pele cor de oliva e olhos vermelhos.

- Vossa Graça – Ambos a reverenciaram e Verme Cinzento se apressou em pegar a bolsa de couro de cavalo que ela carregava. Dany não a teria entregado para outra pessoa se não fosse ele.

- Seja bem vinda mais uma vez, Daenerys – disse o sacerdote. Dany percebeu que ele tinha um sotaque ghiscari, talvez de Yunkai – Eu me chamo Gradzan, ao seu dispor. Sou o responsável pelo templo na ausência da luz do nosso senhor, Doniphos Vhassar. Seus aposentos lhe aguardam, preparamos um banho e comida, mas temo que temos assuntos urgentes a tratar, se não for incomodo para a Vossa Veneração.

Daenerys colocou Rhaenyra no chão e assentiu enquanto segurava a mão dela. Doniphos Vhassar era o novo Alto Sacerdote do Templo Vermelho, escolhido para substituir Kinvara depois que ela dera a vida para salvar Daenerys e a criança dentro dela. Dany sabia que ele havia partido, assim como Aisha. Sentiu um frio na barriga.

- Eu me sinto um pouco cansada, admito. Peço um tempo para me recolher e ficar com a minha filha e então poderemos conversar.

- Será como diz, Vossa Iluminada – ele curvou a cabeça calva em sua direção. Daenerys olhou para Verme Cinzento – Venha comigo – E depois para Gradzan – Ainda estou no mesmo quarto?

Quando ele assentiu, Daenerys terminou

– Conheço o caminho – Vivera ali os piores dias de sua vida. Dias em que a janela de sua prisão e a queda depois dela nunca pareceram tão tentadoras. Fora ali que quase abrira mão de Rhaenyra. A simples ideia a fazia estremecer.

Quando entraram no quarto, Rhaenyra correu para a cama e segurou Moonfyre, o dragão de retalhos de tecido que Daenerys havia feito para ela. Tecido verde e amarelo como Rhaegal e Viserion. Olhos flamejantes como os de Drogon. Sentiu um novo arrepio.

- Então é aqui que você está ficando? – Rhaenyra assentiu e Dany sentou-se ao lado dela, olhando em direção a janela aonde passara dias remoendo as suas feridas, mas agora foram outras feridas que chamaram sua atenção. O joelho da filha estava todo ralado – O que significa isso? – Perguntou olhando dela para Verme Cinzento, ele pareceu envergonhado.

- Eu cai – Rhaenyra explicou – Estava brincando.

Mas Daenerys esperava uma resposta de Verme Cinzento e algo em sua expressão deveria ser assustador, pois o homem estremeceu.

- A princesa gosta de dizer que está voando em um dragão – ele disse gaguejando, o que foi estranho, pois Daenerys nunca vira o homem titubear -  Arrumou um cabo de vassoura na cozinha e disse que era seu dragão, e que estava voando com, hã, Moonfyre. Mas acabou se machucando, peço desculpas, Vossa Graça.

- Ele salvou Moonfyre – ela falou, apertando o dragão de pano contra o peito – ele rasgou quando eu cai, Verme Cinzento o costurou para mim.

Verme Cinzento estava rígido, olhando fixamente para o nada e Dany teve a impressão que ele desejava sumir. Escondeu um sorriso e beijou o joelho da filha.

- Está doendo?

- Agora está melhor – ela falou, os olhos cinzas prateados ardendo em curiosidade – Por que está usando uma armadura, mamãe? Você vai para alguma guerra? Aisha me disse que os homens dos Sete Reinos vestem aço quando vão para a guerra.

- Sete Reinos?

Ela sacudiu os cachinhos confirmando.

- Do outro lado do mar, onde os reis dragões governaram por muitos anos. Ela me disse que eles construíram uma fortaleza que era toda vermelha e uma cadeira feita de ferro. É verdade?

- Sim meu amor, os reis dragões foram nossos antepassados – falou alisando o rosto dela, aonde estava manchado com tinta cor de rosa -  Somos o que restou deles. Eu e você.

- Estão todos mortos, não é?

Dany assentiu, sentindo um peso estranho no peito.

- Mas ainda estamos aqui, eu e você. – Beijou o alto da cabeça dela – Agora me diga, o que é isso no seu rosto? Está sujo de tinta. É algo que eu não sei?

- Horonno me deixa vê-lo pintando. Ele tem muitas cores, vindas de Tyrosh, ele diz. Você já foi lá, mamãe? Eu gosto das azuis. Ele mistura as cores e cria novas. Um dia desses me deixou desenhar um dragão de três cabeças – Dany riu.

- Quem é Horonno?

- Ele trabalha nas cozinhas, junto com a Lynese, eles me dão bolo e Horonno me deixa vê-lo pintando. Ele diz que lembra a antiga casa dele.

- Um cozinheiro?

            Ela sacudiu os cachinhos.

- Ele é meu amigo, Lynese também e Volaena, ela limpa o quarto.

Criados, os amigos dela eram todos criados.

- Não gosta de Gradzan?

Rhaenyra deu de ombros.

- Ele está sempre ocupado. Sinto falta de Aisha, sabe quando ela volta?

- Hum, não meu amor, mas ela precisou partir, é por uma boa causa.

- Ela me disse.

- Não fique triste, eu tenho presentes.

Os olhos de Rhaenyra brilharam de empolgação.

- Presentes? É bolo de limão? Lynese sempre me dá bolo de limão.

Dany riu, pegando a bolsa de couro das mãos de Verme Cinzento.

- Melhor – Abriu a bolsa e dentro dela estava seu elmo feito de aço de dragão. Mais ao fundo estava o seu hrakkar, a pele de leão que Eroeh lhe dera, e enrolado nele com todo cuidado estavam os ovos de dragão que Drogon colocara no Mar Dothraki. Quando desfraldou os ovos sobre a cama, eles brilharam como joias polidas. Verme Cinzento prendeu o folego e Rhaenyra os observou com olhos enormes e arregalados. Ela recolheu as mãozinha para perto do peito, como se de repente estivesse com medo de derrubá-los no chão.

- É brinquedo?

- Não minha Lua, eles são de verdade. Por que não escolhe um?

Rhaenyra hesitou, olhou demoradamente para Daenerys e depois encarou os ovos com a expressão muito séria. Não foi surpresa quando ela esticou os bracinhos para o ovo verde e dourado e o segurou em suas mãozinhas.

- É quente.

Dany abriu um sorriso.

- Está vivo. Você tem o meu sangue, pode chocá-lo e quando ele sair do ovo, vai poder crescer ao lado dele e montá-lo quando ele estiver o suficientemente grande para aguentar o seu peso.

Rhaenyra abraçou o ovo contra o peito sorrindo de orelha a orelha. Um sorriso que abria pequenas covinhas em suas bochechas e parecia iluminá-la com uma auréola dourada.

- Ele é como Moonfyre, mamãe.

- Parece que já temos um nome, então.

As duas riram juntas, como se partilhassem um segredo. Em seguida Dany tocou o ovo que ela segurava e disse a olhando nos olhos:

- Drogon colocou esses ovos.

- Como as galinhas da casa na floresta?

Daenerys pensou um pouco sobre aquilo, lembrando-se do mau humor de Drogon enquanto ele se empoleirava enrolando-se em si mesmo para colocar os seus ovos. Ele parecia mais uma serpente perigosa, mas aquilo parecia muito assustador para dizer a uma criança doce como a filha.

- É.. Creio que sim. Uma galinha grande, assustadora e mau humorada.

Rhaenyra riu e Dany riu com ela.

- Não deixe que ele escute – segredou para filha.  

- Eu não vou contar.

- Mas estes são últimos ovos que existem no mundo e são nossos. Estamos ligadas aos dragões pelo sangue. Eles fazem parte do que nós somos e são nossa responsabilidade. Nada é tão poderoso quanto um dragão e não existe nada como eles no mundo. Eles foram a dor e a glória da nossa Casa. Precisamos protege-los, aconteça o que acontecer, custe o que custar.

- Eu irei protege-los, juro – ela falou determinada.

            Daenerys lembrou-se da primeira Rhaenyra, a que lutou na Dança dos Dragões contra seu meio irmão, Aegon Targaryen, pelo Trono de Ferro. Fora uma guerra sangrenta e que custara a vida da maior parte dos dragões de sua Casa. Eles não mais haviam prosperados depois daquilo. Decidiu que um dia contaria aquilo a filha, quando ela tivesse mais idade para entender sobre mágoas e perdas. Beijou o rosto de Rhaenyra e olhou para Verme Cinzento:

- Conte-me.

- Os mares estão se movendo como Vossa Graça disse. Velas partiram de Volantis em direção a Westeros – ele falou a última palavra como se fosse uma praga. Dany não podia culpa-lo – Partiram assim que os barcos vindos do Oriente atracaram. Velas escuras, vindas de Asshai de muitas sombras.

Quaithe, pensou, eu navegarei juntamente com os ventos Daenerys – a mulher de máscara lacada lhe dissera quando elas se despediram -  enquanto eles soprarem a nosso favor, haverá esperança. Precisamos nos deslocar com urgência, pois nem todos podem voar em dragões. Cuidarei dos ventos. Se os servos do Leão da Noite podem enviar o frio sobre o mundo, nós daremos a eles uma tempestade.

E assim foi feito. A grande Guerra pela Alvorada havia iniciado com o sopro frio dos ventos. Quaithe reunira os melhores feiticeiros, dispostos a ajudar, disponíveis em Asshai e partira. Desde aquele dia o vento nunca deixara de murmurar em direção ao Oeste, aonde ficava os Sete Reinos. Prefiro não saber qual fora o preço disso, mas desconfio que fora pago com sangue ou coisas mais sombrias.  

- O que você acha de um banho, Rhaenyra?

- Posso usar meu vestido novo depois?

- Sim, claro.

Rhaenyra deixou o ovo sobre a cama ao lado do Moonfyre de pano e deslizou até uma grande arca que ficava aos pés da mesma. Lá de dentro, tirou um pequeno vestido azul com fitas de cetim.

- Aisha me deu de presente. – disse levando o vestido para que a mãe o visse de perto.

- É muito bonito.

Ela correu de volta para a arca com um gritinho, como se tivesse lembrado de algo. Lá de dentro tirou um tecido negro e o entregou para Daenerys.

- É o dragão de três cabeças – Falou enquanto se sentava na cama ao lado mãe.

Quando abriu o tecido, Daenerys viu um dragão vermelho com três cabeças cuspindo uma chama dourada, mas desenhado de um jeito que só uma criança da idade de Rhaenyra seria capaz. Sorriu.

- Eu desenhei pra você, mamãe.

- É muito amável, querida. – Dany a abraçou forte, cheia de amor e lágrimas nos olhos – Obrigada.

Verme Cinzento deixou as duas sozinhas e um banho quente foi preparado no quarto. Elas entraram juntas na banheira e lavaram os cabelos uma da outra. Quando a água esfriou, Dany secou os cabelos de Rhaenyra e a ajudou a entrar no vestido azul de fitas. Seus pertences haviam partido nos navios com Verme Cinzento e os imaculados. Dany se desfizera de uma parte para conseguir moedas, mas ainda havia vestidos que podia usar. Escolheu um cor de ameixa, que realçava o lilás de seus olhos. Quando terminou de trançar os cabelos, com a pequena sineta tilintando a cada movimento seu, Rhaenyra insistiu que queria uma trança também. Dany segurou seus cachos entre os dedos e se pôs a trançá-los, recordando-se de todos os momentos doces em que fizera aquilo com Missandei.

- Por que tem um sino no seus cabelos, mamãe?

- Os dothrakis usam pequenas sinetas nos cabelos quando realizam grandes feitos, sempre quando conquistam alguma vitória. É um costume antigo.

- Dotaquis.

- Dothrakis.

- Dotaquis.

Dany riu.

- Sim. São um povo antigo, vivem num grande mar de grama e são chamados de Senhores dos Cavalos. São o povo da mamãe também, sou a Khaleesi deles.

- Khaleesi?

            Dany a virou para si, inspecionando sua trança e colocando algumas mechas rebeldes atrás de suas orelhas.

 - Uma rainha.

- Tem um castelo lá? Igual nos Sete Reinos?

- Não. Os dothrakis não constroem castelos. São um povo de costumes simples, vivem em tendas e cabanas de grama trançada. Vivem do que a natureza dá e nunca estão no mesmo lugar. Amam os cavalos mais do que qualquer outra coisa. Seguem a força acima de tudo. Me casei com um rei deles, um Khal. Eu era muito nova. Khal Drogo morreu tempos depois, mas continuei sendo uma Khaleesi para muitos deles. Quando estiver maior, voaremos juntas até o Mar Dothraki em nossos dragões e apresentarei você para o dosh khaleen. Vão gostar de conhecê-la. – apertou o queixo dela com carinho.

O jantar foi servido para as duas no quarto e Dany finalmente pode conhecer Horonno e Lynese.

- Poxa, não tem bolo de limão?

- Sentimos muito princesa, ainda estamos sem limões na dispensa. Está difícil de encontrar – Lynese se desculpou em tom tímido. Era uma garota baixa, talvez um pouco mais nova que Dany, com rosto em formato de coração e cabelos escuros. Horonno era mais velho e consideravelmente roliço na barriga.

- Trouxemos aquele creme que a senhorita gosta.

- Oba!

- Primeiro a beterraba – Dany comentou para decepção de Rhaenyra.

- É ruim, mamãe – ela cruzou os braços indignada – tem gosto de terra com doce.

- Ouvi dizer que ajuda as garotinhas a crescerem mais forte.

- Quando eu for rainha eu vou proibir as beterrabas do meu reino.

Horonno e Lysene deixaram as duas mal disfarçando um sorriso.

- Meu reino? – Dany perguntou enquanto cortava um pedaço de peixe e a servia.

- Horonno disse que eu sou uma princesinha e que um dia serei uma rainha porque minha mamãe é uma rainha.

- Isso significa que você é minha herdeira. Rhaenyra Targaryen, a princesa de Pedra do Dragão, a nossa casa. E isso significa também que como minha herdeira você vai comer as beterrabas, do contrário não vai usar nenhum sininho nesses cachinhos bonitinhos. Quando eu fui esposa de Khal Drogo, eu comi um coração de cavalo cru e sangrento, minha filha pode comer uma reles beterraba feita pelos seus amigos, Horonno e Lysene, que foram muito atenciosos em prepará-la.

Ela parecia abismada.  

- Um coração de cavalo?

- Os dothrakis acreditam que dá força. Antes de você e dos meus dragões nascerem, eu carreguei um filho do Khal, infelizmente ele morreu antes de nascer. Mas comi o coração para que ele nascesse saudável e destemido, pois era esse o costume.

Ela remexeu no prato e começou a comer a beterraba devagar, demorando uma eternidade para engolir, mas Dany aprovou com uma sacudida de cabeça. Elas comiam a sobremesa quando Rhaenyra enfim falou:

- Não tem mais limões. Lynese disse que eles não crescem no frio e está sempre frio agora.

- Sim meu amor, os limões gostam do verão, do calor, são como os dragões. – segurou a mãozinha dela por cima da mesa -  é por pouco tempo, você vai ver. Vamos comer ainda muitos bolos de limão, eu prometo.

Ela pareceu apaziguada, mas seus olhos cinzas prateado se demoraram em Daenerys.

- Você pode ler pra mim antes de dormir, mamãe?

- Claro – Dany assentiu, pensando nos livros que Jorah lhe dera e que carregara com ela até Rhaenyra.

- Aisha leu pra mim a história do rei sábio e de sua boa rainha.

- Jaehaerys e Alysanne?

Rhaenyra fez que sim.

- Foram bons monarcas, talvez os melhores que tivemos.

- Você é melhor, mamãe.

Dany pensou em Porto Real, nas chamas famintas sobre a cidade. Estremeceu.

- É gentil de sua parte, meu amor.

- Se o seu rei era dogo, então ele é meu pai também?

Daenerys sentiu o frio que era mais do que frio descendo por sua coluna e se alojando na boca do estômago. Quase vomitou.

- Seu rei era meu pai, não era?

- Drogo não pode ser seu pai querida, olha o tamanho do meu dragão. Eu disse que ele morreu antes dos dragões chocarem. Isso foi há muito tempo. – apesar do pânico, sentia que não podia deixa-la pensando que era filha de Drogo, não parecia certo. Rhaenyra arregalou os olhos empolgada, duas luas brilhando em seu rosto bonito e infantil.

- Então ele ainda está vivo? O papai? Por que não está com a gente? Eu não entendo.

Daenerys a fitou com olhos atentos, temendo está aparecendo assustadora demais. Sentia o rosto gelado, o corpo desprovido de todo calor. Nunca pensou que um dia teria aquela conversa com Rhaenyra e certamente não estava preparada para ela.

- De onde você tirou isso? – provou um pouco do vinho, mas o gosto na boca era amargo.

A menina pareceu não entender, seus lábios tremeram um pouco.

- Parece que todo mundo tem um pai, até os passarinhos das árvores. Eu vi. O pai vai caçar enquanto a mãe cuida do filhote.

Dany sentiu um nó na garganta, as lágrimas subindo de um jeito amargo. Lembrou-se do toque frio da adaga na sala do Trono de Ferro, da sensação da neve fria bebendo seu sangue e levando com ela a vida de Rhaenyra. Foi o calor que queimava em Drogon que permitiu que as duas fossem trazidas de volta, que a sementinha que um dia fosse a filha voltasse a crescer em seu ventre. Foi o momento em que a ligação entre ela e Drogon ficou mais forte, quando Daenerys afundou em sua consciência, como se uma parte dela soubesse que Rhaenyra existia e precisava ser protegida.  Engoliu as lágrimas.

- Querida, você está certa. Todos temos um pai -  não que isso signifique algo, poderia ter acrescentado -  Você certamente tem um... -  sua voz falhou, de repente lembrou-se de olhos cinzas como gelo dizendo para ela o quanto se sentira vazio a vida inteira por não saber quem era a mãe, pois o pai se negava a contar. Seu nome era Lyanna Stark. Agora eles sabiam. Esticou as mãos para Rhaenyra – Seu pai está vivo, não sei. Mas não pode ficar com a gente.

- Por que? – Rhaenyra perguntou num sussurro e Dany percebeu que estava sussurrando também.

- Ele não quis.

Fique comigo...

Um arrepio a atravessou.

- Ah...

- Sinto muito. Não há... – estava respirando com dificuldade – Não há felicidade em saber disso, minha querida. Existe uma história de dor e sangue entre eu e seu pai. Isso é tudo.

- Ele não gosta da gente?

Ele nos despreza e eu o desprezo duas vezes mais.

- Ele tem outras pessoas com quem se preocupa.

Rhaenyra de repente parecia muito séria, como se pudesse ver através da mãe.

- Ele a magoou, mamãe?

Daenerys não respondeu, não conseguiu. Seu estomago queimava. Largou os talheres e respirou fundo, arrastando a cadeira e esticando os braços para Rhaenyra. Rhaenyra contornou a pequena mesa e se empoleirou no colo da mãe, seu corpinho suave um calor bem-vindo.

- Quando você estiver maior, voltaremos a falar sobre isso se você quiser.

- Não quero mais falar nada, magoa a senhora. – ela soava arrependida, para desalento de Dany.

- Hum, está tudo bem querida.

- Você pode contar pra mim alguma história da Rainha Dragão?

Dany fez que sim com um sorriso. As duas trocaram de roupas, colocaram meias de lã e foram para cama. Dany deixou os livros de Jorah sobre a mesinha ao lado da cama, Tinha um que era sobre contos infantis dos Sete Reinos, que a divertiu quando Dany era mais nova. Mas a história que contou pra filha foi sobre a Rainha Dragão e a terrível Ilha de Fogo. Uma bela terra onde um dia os dragões encheram o céu e que fora destruída pelo fogo furioso que vinha da terra. Rhaenyra acompanhava tudo, sem folego, cobrindo a boca com um gritinho na parte em que o verme gigante emergiu de um oceano em chamas, um terrível vilão.  

- A rainha o derrotou, não derrotou? O verme feio...

- Claro, ela e seu leal companheiro com asas de couro – Dany deitou-se no travesseiro ao lado dela com um sorriso. Rhaenyra a envolveu com seus bracinhos quentes. Os ovos de dragão estava entre as duas, irradiando um calor acolhedor pelo colchão.

- Parece emocionante... – a filha murmurou antes de cair num sono profundo.

- E foi...

Daenerys a observou enquanto ela dormia, ainda sentindo o gosto amargo da conversa que elas tiveram. A filha faria quatro anos, mas era uma criança esperta e sensível, que não tinha culpa de nada. Dany jurou no escuro que, se um dia ela quisesse saber a verdade sobre Jon, ela contaria. Não esconderia nada dela.

Sentia-se exausta após sua viagem de Meereen até Volantis e da conversa com a filha, como se todas as forças estivesse escoado dela. Mas ainda precisava se encontrar com Gradzan. Havia lhe dado sua palavra. Sabia que ele estaria acordado em algum lugar, eles nunca pareciam dormir. Deixou a cama com cuidado e colocou um roupão por cima de tudo. Verme Cinzento a encontrou na porta e os dois caminharam por um longo corredor iluminado por braseiros. Gradzan a esperava num grande salão, feito de mármore negro com veios vermelhos, sustentado por enormes pilastras e teto abobado. Apenas o fogo ardia em grandes braseiros de ferro, não havia nenhum tipo de decoração na sala. Gradzan a cumprimentou:

- Vossa Veneração...

- Verme Cinzento me disse sobre os Mãos Ardentes.

- Sim, Vossa Iluminada, eles deixaram o templo juntamente com Aisha e Doniphos Vhassar.

Mil guerreiros. Mil espadas feitas de fogo. Nenhuma a mais, nenhuma a menos. Os Mão Ardentes nunca haviam deixado o Templo de Volantis em toda a história conhecida, nem quando Dany e seus dragões lutaram contra o Rei da Noite em Westeros.

- Precisaremos de toda a ajuda possível – Grazdan disse como se pudesse ler a sua mente e de repente Daenerys viu uma grande sabedoria queimando em seus olhos vermelhos. – O Rei da Noite foi apenas o início. Existem outros... mais perigosos e antigos. Estão vindo para nós. Não iremos falhar dessa vez.

- O templo estará desprotegido...

- São tempos difíceis esses. Tempos difíceis requerem escolhas difíceis.

- Os Imaculados podem ficar aqui, enquanto eu estiver longe. Eles já derramaram seu sangue sobre Westeros, já fizeram sua parte. Verme Cinzento ficará aqui, com Rhaenyra. – Ela não poderia arrastar Rhaenyra para aquela guerra. Westeros seria o lugar mais perigoso do mundo em breve, conforme o inverno avançava e junto com ele a morte. Ela estaria mais segura no templo e Daenerys estaria mais tranquila se os Imaculados estivessem com ela. Proteger Rhaenyra e os ovos era parte do plano.

- Como queira – ele consentiu – precisamos nos apressar, os ventos chamam por você.

Dany pensou em Westeros, na primeira vez em que a vira ainda de sua cabine na galé Nascida da Tormenta. Do contorno da terra, da areia quente na praia em Pedra do Dragão, das cachoeiras selvagens da ilha e da grande muralha que um dia dividiu o mundo. Do ar frio do norte e da maresia constante em Porto Real. Um leve tremor passou por suas mãos. Em breve ela estaria de volta aquele lugar que fora por muitos anos o reino de seus antepassados, mas também o motivo do buraco em seu peito. Daenerys morrera em Westeros e uma parte sua havia ficada lá, ainda presa ao chão frio da sala do trono de ferro.

- Rhaenyra fará quatro anos daqui há alguns dias – falou, como se quisesse afastar seus pensamentos sombrios - Ficarei com ela e então partirei.

 

***

 

 - Ohhhh... – Rhaenyra exclamou na manhã seguinte, com as mãos e rosto grudados no vidro da janela – Está nevando mamãe, nevando!

Daenerys revirou-se na cama, ainda sonolenta e Rhaenyra correu para cima dos lençóis, para perto dela.

- Podemos ir brincar lá fora? Eu quero ver como é que é, a neve.

- Bonita, mas pode matar lentamente.

- O que?

- A neve. – O frio. Os caminhantes brancos. Seu pai.

- Estou animada! – Ela saltou da cama e por um momento Daenerys achou que ela fosse cair e se machucar, sentou-se sobre a cama como se fosse feito de mola enquanto a filha revirava a arca aos pés da cama – precisamos de roupas quentes, vamos mamãe! Vou levar Moonfyre.

Daenerys levantou-se relutante e encarou o tempo através do vidro embaçado da janela. Flocos de neve caíam do céu numa profusão infinita e suave, cobrindo tudo com uma película branca. De repente percebeu que odiava aquele tempo. Odiava mesmo. Mesmo sendo incapaz de negar qualquer coisa a Rhaenyra. A agasalhou do jeito que deu e vestiu sua pele de leão branco por cima da roupa de dormir. Rhaenyra pegou em sua mão enquanto na outra segurava Moonfyre e a guiou pelos corredores escuros, nunca parando de falar, estava decidida a pedir bolo de morango para o dejejum e um pedaço de torta de maçã.

As duas foram recebidas por uma lufada fria quando deixaram os corredores. O chão do pátio estava completamente coberto por uma camada fina de cristal. Daenerys segurou a de Rhaenyra com mais afinco quando percebeu que ela queria sair saltitando pela neve.

- É frio – Rhaenyra comentou com as bochechas vermelhas e olhos brilhantes. Na luz da manhã os olhos dela eram claros como dois pontinhos de luz prateada.

Daenerys olhou para o céu enquanto a neve soprava ao redor das duas. Ainda conseguia se lembrar do clima em Volantis desde a última vez que estivera ali. Era quente e úmido. Fazia o suor grudar na pele e a deixava com gosto de sal. Agora era apenas frio. Mesmo em Meereen, quando ela voltou do Mar Dotharaki com Drogon e seus ovos de dragão e encontrou Daario a esperando no cume da grande pirâmide, se protegendo do vento frio. Mesmo quando ela estivera aquecida nos braços dele antes de partir para Volantis. Aquele frio parecia estar sempre entre ela e o resto do mundo. Um lembrete constante de que ainda não havia lugar seguro em lugar nenhum. Eles estão vindo, Dany recordou-se da voz de Benerro no dia em que ele partiu para Westeros com a frota que ela havia confiscado de Tycho Nestori em Meereen, os Outros, os servos do Leão da Noite. O mal nunca dorme nas Terras de Sempre Inverno, Daenerys.  

Dany tentou não pensar no frio avançando sobre o mundo, tentou se aquecer no calor de Rhaenyra, mas sua mente se voltava sempre para Westeros sempre que deitava a cabeça sobre os travesseiros. Em uma de suas noites inquietas, Quaithe apareceu para ela, flutuando como um fantasma sobre sua cama, o rosto uma máscara de estrelas e Dany soube que ela usava uma vela de vidro para se comunicar. Podia sentir a magia pulsando através do seu corpo enquanto Quaithe pairava sobre a cama. Eles haviam chegado aos Sete Reinos e estavam prontos para começar. Ela precisava partir, não havia mais tempo a perder. A guerra pela alvorada iria recomeçar.

Um dia depois, Rhaenyra fez quatro anos. Dany passou o dia todo com ela, brincando e lendo, solvendo seu cheiro, se banhando em seu calor e fazendo tranças em seus cabelos. As duas até voaram em Drogon, em volta do templo, o que causou uma comoção considerável na cidade, mas Dany não se importou. As duas estavam prestes a se separarem mais uma vez, ela aproveitaria cada doce momento ao lado da filha e se negava a acreditar que eles seriam os últimos. Os deuses não podiam ser tão cruéis assim.

- Eu vou voltar para buscá-la – ela disse a filha na manhã em que se preparava para partir, vestida com a armadura e com Fogo Negro presa às suas costas, enviando ondas de energia através de seu corpo – Eu prometo.

Rhaenyra abraçou com força, os bracinhos macios pendurados em torno do pescoço de Dany.

- Preciso derrotar os monstros, estão ameaçando o nosso reino. Quando eles estiverem mortos, levarei você para conhecer Dorne, dizem que é a terra dos limões.

- Parece bom -  mas ela esfregava as lágrimas nos olhos. Dany engoliu em seco.

- Precisa ser forte. Você tem o meu sangue. O sangue do dragão. Precisa ser corajosa. Iremos sobreviver.

- Si-sim. – os lábios dela tremeram enquanto tentava parecer corajosa – Sou a princesa de Pedra do Dragão, Rhaenyra Targaryen, filha da Nascida da Tormenta e a Mãe dos Dragões.

Dany assentiu orgulhosa, os olhos queimando com lágrimas que lutou para não derramar.

- Sua missão é proteger os ovos. Os bebês de Drogon, não podemos deixa-lo zangado – Drogon resfolegou ao seu lado e voltou preguiçosamente seus olhos incandescentes para Rhaenyra. A menina não titubeou.

- Cuidarei deles com carinho.

Dany a absorveu por alguns momentos e em seguida beijou os cachos no alto da cabeça dela.

- Estarei nos seus sonhos – segredou a filha – Eu te amo. Muito, muito, muito. Não se esqueça.

- Não vou.

Dany se levantou, olhando para Verme Cinzento.

- Cuide dela.

- Com a minha vida, minha rainha. – ele segurou a mão de Rhaenyra e ela permitiu sem protestar.

- Se algo dê errado, siga com o plano. Leve-a até Daario, ele saberá o que fazer.

Verme Cinzento assentiu sombriamente. Se as coisas ficassem ruins, Daario havia prometido levar Rhaenyra e os ovos até Yi-Ti ou Asshai, onde ela estaria segura e teria tempo para crescer com os filhotes de dragão. Se Daenerys caísse, Rhaenyra seria a última esperança para o mundo.

- Farei como deseja, mas por favor, volte para cá triunfante – Verme Cinzento comentou em tom amigável e Dany abriu um pequeno sorriso.

- É o que eu pretendo. Sua rainha odeia perder. 


Notas Finais


Oi gente

Voltei

Peço desculpas pela demora mas realmente fiquei sem tempo de atualizar a fanfic, mas nunca desisti. Eu to escrevendo esse capítulo há meses, mas nunca conseguia concluir. Hoje finalmente veio aí.
Acho que pelo menos por enquanto, estamos encerrando com Essos. Daenerys finalmente está voltando para Westeros. Sem a Rhaenyra ainda, mas a história está prestes a se concentrar mais em outros personagens e no enredo que eu venho tão cuidadosamente tentando costurar ao longo desses capítulos: os caminhantes brancos ainda são uma ameaça palpável. Daenerys precisa lutar mais uma vez. Creio que muitas respostas sobre esse desenvolvimento virão nos próximos capítulos. Mas, basicamente, Daenerys esteve esse tempo todo sendo preparada para esse propósito. O inverno está de volta.

Quero escrever um inverno de verdade, não uma coisa que dura uma única noite. Quero escrever mais ou menos como eu imagino que isso pode acontecer nos livros, ainda que muitas coisas tenham se perdido graças as escolhas “inteligentes” da série. Mas tentarei fazer o meu melhor sobre isso, sem perder de vista o aspecto político e o modo como Daenerys se sente sobre Westeros, Jon e Cia.

Como vocês estão vendo, o frio está chegando nos locais mais improváveis, eu quero que essa presença da morte que avança sobre a vida seja uma ameaça de todos. Que todos sintam e percebam que algo está diferente. No meio de tudo isso, os conflitos que creio que muitos de vocês estão ansiosos para ler.

Ainda estou muito enrolada com mestrado, com a vida, com tudo, vou escrevendo os capítulos devagar e assim que estiverem prontos eu vou atualizando.

Boas festas a todos!


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