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História Sangue Negro - Uma Chama de Esperança


Escrita por: Biiimiranda

Notas do Autor


Oi meus amores!

Hermione quase matou um lufano, teve um pesadelo cabuloso com Rodolfo Lestrange e imaginou o Snape perto dela.
E nada desse homem lembrar do que sentia por ela. Até onde vai essa sua cabeça dura?

Vamos descobrir...

- B

Capítulo 26 - Uma Chama de Esperança


Um mês se passou desde o incidente do jogo de quadribol. Para a minha alegria, o baile do dia das bruxas seria no final de semana e aquele era o assunto do momento, não eu. A filhote dos comensais. 

Eu não recebi nenhum convite para o baile; os garotos estavam com medo de mim. O que foi bom, porque eu não estava interessada em ir, na verdade. O único homem que eu queria que me acompanhasse era Severo e ele não estava muito disposto, digamos assim. Harry iria com Gina, que rompera com Dino semanas antes. E Rony convidara sua nova namorada, Lilá Brown. Eles estavam juntos desde o jogo contra a Lufa-Lufa.

Além disso, me inscrevi no clube de duelos de Lupin. Era bom para ocupar a mente. Ultimamente tive muito tempo livre, depois de ser liberada por tempo indeterminado das aulas de poções. 

Na última semana, passei mal com o cheiro de alguns ingredientes e fiquei tão enjoada que o professor Slughorn preferiu que eu ficasse um tempo longe das masmorras até descobrir se era algum tipo de alergia. Eu duvidava que fosse isso. Nunca tive nenhum tipo de reação adversa nas aulas com Severo. Deveria ser meu emocional. Estava passando por situações muito estressantes.

Infelizmente, as coisas não mudaram. Severo continuava a me desprezar, as pessoas ainda desviavam seus caminhos quando me viam passar pelo corredor, Draco parecia mais isolado a cada dia que passava e Remo estava cada vez mais próximo de mim.

Não que o último item fosse ruim. Lupin era o que me impedia de enlouquecer nos últimos tempos. Mas sua proximidade me inibia, principalmente por ainda amar Severo.

Por falar nele, eu acabara de sair da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Snape estava mais mal humorado do que de costume. Eu nem me dava mais ao trabalho de tentar responder às suas questões. Ele me ignorava mesmo. Já começava a duvidar se ele se lembraria do que sentiu por mim um dia.

Harry e Rony foram encontrar Gina e Lilá antes do jantar e eu preferi ir até a torre de astronomia. Era um bom lugar para pensar e relaxar. Apoiei-me nos corrimões que rondavam os limites da torre e fiquei olhando o sol fraco se pondo no horizonte. Era um dia frio. Mas se me perguntassem, eu acharia que todos os dias sem Severo eram mais frios do que de costume.

Sentei no beiral e abri um livro. Ler era o meu melhor passatempo. Eu conseguia me desconectar da minha desgraça por alguns minutos e isso fazia toda a diferença para manter minha sanidade.

Quando já não restavam mais raios solares, eu resolvi guardar meu livro para ir jantar. Porém, uma luminosidade esverdeada chamou minha atenção. Procurei sua origem e não demorei a encontrá-la no meu dedo. O anel com o Brasão dos Black estava envolto pela luz.

Franzi o cenho.

Voldemort disse que transformou o anel em uma chave de portal. Seria isso? O portal estava ativo? Toquei o brasão com os dedos da mão direita e antes que pudesse impedir, tinha deixado Hogwarts.

Assim que avistei as portas da mansão dos Malfoy, bufei. Eu não ia até lá desde que Draco me tirou do castelo por conta dos comentários sobre a matéria do Profeta Diário. Estava para dar as costas e tentar voltar para Hogwarts, quando a porta se abriu e um elfo pediu que eu entrasse.

– Srta. Black, estão esperando a senhorita – ele murmurou após uma reverência exagerada. – Acompanhe-me, por favor.

Segui o elfo, estranhando o fato de “estarem me esperando”. Quem exatamente?

A questão sumiu da minha mente quando me vi parada na frente das portas duplas da sala de jantar. Claro, quem além de Voldemort poderia requisitar a minha presença? Ele não me presenteara com o anel para meras visitas, o anel servia como a marca negra dos comensais. Assim, sempre que ele quisesse falar comigo, eu seria avisada pelo anel. 

Que ótimo. Minha mente sussurrou com ironia.

Agradeci o elfo e ele se retirou com outra reverência. Abri as portas entediada, mas assim que meus pés tocaram o piso de madeira e eu consegui distinguir as formas em meio à sala escura, fiquei petrificada. Todos os comensais estavam reunidos e sentados ao redor da mesa. Voldemort a encabeçava e coordenava a aparente reunião.

Seus olhos vermelhos correram para mim e um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios finos e esbranquiçados. Ele levantou de seu lugar e todos os presentes o acompanharam. Era bizarro. 

Nagini se arrastou dos ombros do homem de feições ofídicas até mim e eu entendi que eu deveria continuar a andar.

– Venha, Hermione – Voldemort me convidou.

Minha mente já estava fechada desde o instante que eu entrara na sala, porém, eu vacilei ao me aproximar da mesa. Severo estava ao lado de Voldemort. Felizmente, Bellatrix segurou no meu braço e me trouxe de volta à realidade.

– Sente-se aqui – murmurou.

Ela me apontava uma cadeira do outro lado de Voldemort, de frente para Severo. Merlin, eles nem precisavam me cruciar. Aquilo era a pior tortura que existia.

Ocupei a cadeira indicada e assim que o homem de olhos vermelhos tornou a se sentar, todos os outros o fizeram. Bellatrix sentou ao meu lado e eu me senti um pouco melhor por isso. Deixei meus olhos analisarem a mesa e um pouco adiante de nós, Draco e Narcisa ocupavam seus assentos.

– Bellatrix cedeu seu lugar para que você o ocupasse, Hermione – Voldemort comentou olhando diretamente nos meus olhos. – Rodolfo desocupou permanentemente seu assento, o que foi ótimo, senão teríamos que reajustar todos os lugares.

Alguns comensais riram da observação do homem e eu vi Bellatrix abrir um sorriso, antes de pegar na minha mão por baixo da mesa. Severo continuava inabalável. Como ele conseguia?

– Você está aqui hoje para ser apresentada formalmente como minha filha – prosseguiu calando os comensais. – Chegaram aos meus ouvidos, comentários muito desagradáveis e acho melhor esclarecermos alguns pontos. Pegue sua varinha, Hermione.

Meus olhos arregalaram e eu senti o medo crescer no meu peito. Eu não podia demonstrar desespero ali, não na frente de todos aqueles comensais. Eles me trucidariam. Saquei a varinha do bolso interno das vestes e levantei da mesa quando o homem de feições ofídicas o fez.

– Rabicho – chamou e o rato se prontificou rapidamente. – Toque em Hermione.

O quê?

Não foi apenas o meu cenho que franziu, o da maioria dos comensais também. Um murmúrio baixo acompanhou os passos daquele traidor até mim.

– Silêncio! – a voz fria e alta cortou o salão e todos o obedeceram prontamente. – Vamos logo com isso.

Eu estava quase estuporando aquele verme. Mas esperei. Sabia o que aconteceria quando ele encostasse em mim. E certamente era o que Voldemort queria que acontecesse. O rato esticou a mão para tocar o meu braço e após uns instantes de hesitação, ele o segurou.

Rabicho soltou um grito agoniado e se afastou imediatamente. Seus olhos correram para a própria mão, que eu pude observar fumegar, enquanto ele a assoprava em desespero.

– Primeiramente, Hermione não pode ser tocada por nenhum de vocês – explicou. – Não tentem. Virarão pó em segundos.

O silêncio que se fez no cômodo me incomodou. Eu via o rosto assustado e surpreso de alguns presentes, enquanto outros pareciam desinteressados.

– Segundo, alguns acham que minha filha é um alvo fácil. Por isso, convido Hermione para uma demonstração. O que acha de um duelo entre pai e filha?

Por mais que ele tivesse proposto o duelo como uma questão aberta, eu sabia que não teria opção. Se eu me negasse, ele me atacaria por desprezar seu pedido. Então, eu assenti em resposta. Alguns comensais suspenderam suas respirações com a minha audácia. Ninguém ali apontaria a própria varinha à Voldemort. Bellatrix parecia surpresa e empolgada, ao mesmo tempo que Narcisa e Draco estavam mais pálidos que as paredes brancas.

Um sorriso satisfeito se fez em seu rosto ofídico e ele se aproximou para fazer uma leve reverência, como era de praxe. A contra gosto, enverguei levemente as costas, com uma reverência mínima. Nos demos as costas e caminhamos cinco passos, antes de nos virarmos para lançar os primeiros feitiços.

Eu imaginei que ele não me daria a dianteira para atacá-lo primeiro, pelo contrário, ele começaria com alguma maldição imperdoável. Para variar, eu não estava errada.

Imperio! – a voz fria e estrangulada rugiu.

Quando o raio verde veio na minha direção, eu consegui me defender com um feitiço de proteção avançado.

Protego Horribilis!

O escudo impediu a maldição e logo novos feitiços foram lançados. Eram mais leves, devo admitir, mas não me davam espaço para contra-atacar. Ele usou o feitiço “expulso” de forma não-verbal e eu vi minha oportunidade. Desviei do feitiço e apontei a varinha para Voldemort.

Bombarda máxima!

Infelizmente, ele estava pronto para se defender.

Ûmero Miratta!

O contra-feitiço fez meu bombarda voltar na minha direção antes de atingi-lo, criando uma pressão tão grande, que eu voei para o outro lado da sala. Gani de dor pelo baque do meu peito contra o chão. Minha varinha voara da minha mão e eu tentei me reerguer rapidamente para alcançá-la, mas um ardor conteve meu movimento brusco.

Olhei para Voldemort para calcular quanto tempo eu teria até seu próximo ataque. No entanto, sua varinha não estava apontada para mim e sim, para Severo. Um sorriso vitorioso enfeitava o rosto dele e isso me desesperou. 

Merlin! Severo, não!

Eu estava sem varinha e sem condições de alcançá-la a tempo de impedi-lo. Meus olhos acompanharam o feixe verde sair da sua varinha e algo extravasou de mim com o grito que fugiu da minha garganta. Da minha mão inutilmente estendida no ar, uma rajada de fogo voou contra a maldição de Voldemort e a anulou.

Tirando forças de Merlin-sabe-onde, eu me ergui rapidamente e com um feitiço convocatório, trouxe minha varinha para a minha mão novamente. Ele pagaria por atacar Severo.

Crucio! – gritei.

A luz verde voou na direção de Voldemort, mas ele o rebateu com outra maldição. Os feixes se encontraram no ar e se conectaram. Meu feitiço começou a fraquejar, era magia demais para eu resistir por muito tempo. Mas só de lembrar daquele bastardo atacando Severo, a raiva inflamava meu corpo e minha magia correspondia, tornando a equilibrar os feitiços.

Um chiado às minhas costas chamou minha atenção. Eu não podia me distrair do ataque de Voldemort, mas Nagini circundando meus pés não era bom sinal.

Saia de perto de mim – grunhi para a cobra.

Inesperadamente, ela se afastou. Enquanto a luz verde ainda iluminava a sala, a cobra se arrastou até Voldemort e subiu em seus ombros. Ele a encarou por meio segundo e eu aproveitei para potencializar o feitiço. Uma leve explosão se fez no ar e eu usei um último feitiço nessa brecha.

Expelliarmus!

A varinha de Voldemort voou de sua mão e ele pareceu tão surpreso quanto eu. Mas logo um sorriso satisfeito surgiu em seu rosto pálido. Eu arfava pelo esforço, ao mesmo tempo que minha mão trêmula mantinha a varinha erguida.

– Muito bem! – a voz fria ecoou pela sala. – É o suficiente. Podem se retirar.

Todos os comensais se levantaram da mesa e fizeram uma reverência exagerada para Voldemort. Eles desviaram de mim, que continuava estática com a varinha apontada para o homem. Eu só a abaixaria quando Severo já estivesse fora da sala. Bellatrix se aproximou para me fazer baixar a varinha, mas Voldemort a impediu.

– Vá, Bella – ele murmurou e ela obedeceu após alguns instantes de hesitação. – Você fica, Severo.

Meu corpo se retesou e eu segurei com ainda mais firmeza a varinha. Severo o obedeceu e eu quase o xinguei por ser tão estupido. Merlin, Voldemort o atacou e mesmo assim, ele o obedece?! Engoli em seco ao ver o homem que eu tanto amava se aproximar de Voldemort.

– Segure-a, Severo – ordenou apontando para mim e eu franzi o cenho. – Ela vai desmaiar e eu não posso tocá-la.

Severo caminhou até parar na minha frente e eu me permiti desviar os olhos de Voldemort, para ele. Seus olhos estavam sérios e indiferentes como nos últimos tempos, ainda assim, a sensação de segurança, que só ele me proporcionava, me envolveu. Ele tocou meus ombros e meu corpo inteiro relaxou, meus olhos se fecharam e eu desabei.

 

Severo Snape

Eu amparei a garota antes que ela fosse ao chão. Apoiei uma das mãos em suas costas e passei o outro braço sob seus joelhos, para pegá-la no colo. Sua cabeça imediatamente se recostou no meu ombro. A sensação incômoda que a proximidade dela me causava, se fez presente. Qual era o problema com aquela menina?

– Leve-a para os aposentos de Bellatrix. Acredito que ela terá que passar a noite aqui – ordenou Voldemort. – Ela usou mais magia do que está acostumada, a exaustão é natural.

Assenti com um meneio de cabeça e fiz uma leve reverência, antes de carregá-la porta a fora. O caminho até o quarto de Bellatrix foi torturante. A cada passo dado, parecia que a agonia por estar perto da garota aumentava. Colocá-la na cama foi um verdadeiro alívio. Ainda assim, algo dentro de mim se remexia incomodado com a distância. Era um paradoxo infernal.

Tentei tirar a varinha de sua mão, mas ela a segurava com tanta força que os nós dos dedos estavam esbranquiçados. Com calma, consegui desgrudar seus dedos da palma e peguei a varinha. Optei por deixei-la sobre a mesa de cabeceira para que a garota a encontrasse quando acordasse.

Tornei a olhá-la e apesar do incômodo em fazê-lo, não pude deixar de notar a semelhança daquele momento com ela na Ala Hospitalar após o incidente no jogo de quadribol, um mês antes. Eu lembrava claramente da necessidade infundada de saber se ela estava bem. Acabei me irritando com a sensação e decidi ir vê-la. Ela estava acordada e parecia bem, mas Lupin estava com ela. Não que eu me importasse.

À noite, naquele dia, eu não conseguia dormir. Estava incomodado com algo que eu não sabia identificar e resolvi fazer uma ronda noturna. Traidores, meus pés me levaram até a Ala Hospitalar, enquanto eu me perdia em pensamentos. Ouvi um barulho estranho vindo da sala e resolvi averiguar.

A mesma garota que se encontrava inconsciente na minha frente, estava se revirando na cama com a varinha iluminando um pequeno espaço ao seu redor. Usei um feitiço desilusório para não ser visto e me aproximei, apenas pela curiosidade de saber o que a atormentava. Ela parecia assustada e lutava contra o sono. Até que se rendeu e fechou os olhos por alguns minutos.

Sem conseguir controlar o impulso, passei levemente a mão por seus cabelos rebeldes. Mas logo a minha consciência despertou e eu recolhi a mão. Antes que eu pudesse me autocensurar, ela reabriu uma fresta dos olhos por alguns segundos, apenas para tornar a fechá-los em seguida. 

Continuei a fitá-la e novamente, o ímpeto de tocá-la me tomou. Minha mão correu mais uma vez até seus fios. Eu me sentia hipnotizado. Irritado com a minha própria incapacidade de controle, tirei minhas mãos da menina e lhe dei as costas para me retirar da sala. Porém, um sussurro escapou de seus lábios e eu a ouvi pronunciar o meu nome.

Despertei das minha lembranças assim que avistei uma corrente saindo de suas vestes. O pingente refletiu na pouca luz que entrava no quarto de Bellatrix e eu o peguei para vê-lo melhor. Era o colar da minha mãe. A rosa de esmeralda era a mesma. Como ela conseguiu furtá-lo? Eu o guardava na minha mesa de cabeceira, nos meus aposentos! Não era possível.

Seus olhos se abriram lentamente e eu retirei minhas mãos do colar. Ela deixou seu olhar recair sobre mim e um sorriso se formou em seus lábios. Por que ela estava sorrindo?

– Onde a senhorita arranjou esse colar? – questionei ríspido.

O sorriso desapareceu e eu notei a mágoa substituí-lo em seus traços. Ela pegou o pingente de rosa e o admirou por alguns segundos antes de responder.

– Eu o tenho desde criança – murmurou. – Foi um presente.

Ou ela era uma ótima mentirosa ou tinha realmente uma cópia do colar. Averiguaria depois. 

Assenti com um meneio de cabeça e me afastei em direção à porta. Precisava voltar para Hogwarts. Porém, minha mão foi puxada para trás. Olhei para o que me impedia de continuar e vi a pequena mão da menina ao redor da minha.

– Não vá, por favor.

O incômodo que eu sentia aumentou ao ouvir seu pedido ser pronunciado de forma tão necessitada e suplicante. Por que ela queria que eu ficasse? Por que, de repente, olhando para aqueles olhos caramelados, eu queria ficar? 

Por Salazar, eu precisa sair logo de perto dela.

– Não será possível – respondi escondendo ao máximo a luta interna dentro de mim. – Devo voltar à Hogwarts.

Soltei minha mão da dela com um puxão e antes de lhe dar as costas novamente, eu vi seus olhos marejarem. Ignorei todo o mal estar que suas feições entristecidas me causaram e segui para a porta.

– Granger – chamei-a ao chegar à porta –, nunca mais tente me salvar.

Ela já tinha se virado na cama e eu não conseguia ver seu rosto. Por um momento, achei que ela não responderia e já estava prestes a girar a maçaneta quando a voz fraca e embargada soou pelo quarto.

– Você faria o mesmo por mim. Aliás, já fez.

Franzi o cenho para sua afirmação e estava prestes a questioná-la, quando a porta se abriu e quase me acertou. Dei um passo para trás e a segurei, evitando o impacto. Bellatrix ignorou o acidente e me lançou um olhar cheio de curiosidade. 

Imaginei que ela me expulsaria aos berros do quarto por estar sozinho com a garota. Ela me odiava e a recíproca era verdadeira. Naturalmente nós repudiávamos a presença um do outro. Então, muito me espantava que ela estivesse apenas curiosa sobre a minha presença junto à filha.

Um fungar soou baixo pelo quarto e Bellatrix olhou para a cama. Ao encontrar a garota encolhida, apressou-se até ela. Entendendo que minha presença já não era mais necessária, deixei o quarto. Uma voz dentro da minha cabeça gritava que eu deveria voltar para perto da Granger. Mas eu a ignorei e me forcei a voltar para Hogwarts.

 

Hermione Granger

Eu não consegui impedir as lágrimas que alcançaram meus olhos e nublaram minha visão. Quando acordei e vi Severo ao meu lado, um alívio me tomou. Por um momento, foi como se o último mês não tivesse existido, como se Lestrange não o tivesse enfeitiçado, como se ele ainda lembrasse que me amava. E naquele instante, eu fui feliz. 

Porém, sua questão seca sobre o colar, deixava muito claro que nada do que eu imaginara era real. Severo não lembrava que me dera o colar e ainda se negou a ficar comigo quando eu quase supliquei por uma migalha da sua atenção.

Eu chorava pela certeza de que eu o perdera para sempre. Chorava porque naquele momento, eu entendi; não importava o quanto eu pedisse, o quanto eu quisesse ou o que eu fizesse, ele nunca mais lembraria que me amava.

Senti o colchão ao meu lado afundar levemente, denunciando uma segunda presença. Severo já tinha me deixado e eu ergui a cabeça apenas para ver quem estava ali observando a minha devastação. Bellatrix.

Ela puxou minha cabeça para deitá-la em seu colo e eu aceitei. Suas mãos correram pelos meus cabelos, mas eu não consegui me ater aos seus afagos. Eu só conseguia pensar no homem que me deixara. As lágrimas corriam pelo meu rosto sem controle e eu nem me dava ao trabalho de secá-las.

Os minutos se passaram e só o que se ouvia era o meu pranto baixo. Bellatrix não questionou meus motivos, apenas continuou a acariciar meus fios, eu quase a agradeci por isso. Mas estava exausta demais, física e psicologicamente, para falar algo.

– Pare de se martirizar, Hermione – ela quebrou o silêncio.

Eu neguei com a cabeça várias vezes consecutivas.

– Ele nunca mais voltará a me amar.

Um suspiro resignado escapou de seus lábios e ela secou minhas lágrimas com uma delicadeza incomum.

– Você impediu que ele fosse morto – comentou.

– Isso não o ajudou a lembrar de mim – rebati.

– Não – concordou. – Mas enquanto ele estiver vivo, ainda existirá chance dele recuperar a memória.

Deixei meus olhos encontrarem com os dela e não havia nem um mínimo resquício de desdém ou impaciência em seus traços.

– Mesmo assim...

– Hermione, ele te carregou até aqui – interrompeu-me.

– E dai?

– Seu pai me contou sobre o feitiço de proteção que há em você – murmurou. – Quem não possui afeto por você, não pode tocá-la. Entende agora onde quero chegar?

Eu não pensara naquilo. Se Severo me carregou até o quarto e não foi repelido, significava que havia afeto. Ele não era indiferente a mim, afinal. Merlin!

Um alívio percorreu meu corpo e eu abracei a cintura de Bellatrix em agradecimento. Ela viu o que eu não tive capacidade e isso fez toda a diferença. Bellatrix fez um leve afago nas minhas costas em retribuição.

– Agora que já está mais calma, descanse – mandou. – Amanhã precisará de energia para brigar com seu pai por ele ter tentado matar seu namorado.

Sabia que ela não falava sério sobre eu tirar satisfações com Voldemort, só queria descontrair um pouco. Porém, isso me fez lembrar de uma questão que me incomodava desde o duelo.

– Por que ele mandou Nagini me rondar? – questionei. – Dois contra um é muita covardia.

Bellatrix riu do meu comentário.

– Como se o Lorde tivesse escrúpulos – respondeu coloquialmente. – Ele queria saber se você é ofidioglota. E isso ficou bem evidente quando você mandou Nagini se afastar.

Eu sequer percebera que usara a ofidioglossia para falar com a cobra. Só a mandei se afastar por instinto.

– Você não parece surpresa – Bellatrix prosseguiu.

– No segundo ano, durante um duelo, Draco invocou uma serpente para enfrentar Harry. Só que ele não conseguiu controlá-la e ela ameaçou dar um bote em um dos garotos. Harry usou ofidioglossia para mandar a cobra parar e... eu o entendi – expliquei. – Depois nós começamos a ouvir vozes pelos corredores, porque um basilisco foi solto em Hogwarts. Mas eu nunca contei a ninguém que era ofidioglota, apenas fingia que era Harry que nos guiava para a voz.

– Potter é ofidioglota? – ela questionou. – Curioso.

– Por mais incomum que seja, alguns bruxos desenvolvem a ofidioglossia – defendi. – Não é nada de mais.

Bellatrix negou com a cabeça.

– Não é tão simples – avisou. – É uma questão de sangue, Hermione. Você é ofidioglota, como seu pai, porque vocês são descendentes de Salazar. O que me intriga é que nunca ouvi falar sobre um Potter ofidioglota.

– Deve ser coincidência – tentei desviar o assunto.

Falar sobre Harry para Bellatrix me incomodava, porque no final das contas, eu sabia que ela e Voldemort iriam atrás dele para matá-lo.

– Você já deveria ter percebido que nada é mera coincidência – comentou. – Mas não pense nisso agora. Descanse.

Bellatrix se levantou da cama e passou a mão no meu rosto uma última vez, antes de se afastar com o propósito de sair do quarto. Mas eu a impedi segurando na saia de seu vestido. Ela prontamente tornou a me dar atenção.

– Você disse que Voldemort te contou sobre o feitiço de proteção e o tipo de pessoas que ele repele, certo? – Ela concordou com um meneio de cabeça. – Mas ele mandou que Severo me pegasse quando eu perdesse a consciência. Mesmo sabendo que se ele não nutrisse o mínimo de afeto por mim, depois da perda da memória, ele seria repelido e talvez, morto. Acha que foi um teste?

Ela parou para pensar sobre o que eu disse.

– Bem, se foi um teste, Snape passou.


Notas Finais


Voldemort apresentou oficialmente Hermione aos comensais. E de um jeitinho muito amável... hahaha
Como pode ser observado, papai Voldie não dará oportunidade da Hermione escolher se quer se unir ou não a causa dele. Ela não terá escolha.

Severo ficou todo incomodado perto da Hermione.
Como descobrimos, ele realmente estava com ela na Ala Hospitalar depois do jogo. ❤️

Hermione ficou na bad, mas mamãe Bellatrix resolveu tudo.
Quem estava curioso com relação à ofidioglossia da Hermione, aí está a resposta. E Bella ficou com uma pulguinha atrás da orelha sobre o Potter ser ofidioglota... Sentindo cheiro de Horcrux, talvez?!

Até a próxima!

- B


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