Eu odeio Natais.
Odeio mesmo. Desde minha adolescencia. Acho que não consegui aceitar muito bem que o Papai Noel não existia e que não era ele que me dava presentes, e sim meu tio metido e chato. E sempre foi assim, por quase 15 anos da minha vida. Até que eu me casei. E esse será o primeiro Natal com meu marido. Meu marido que ama Natais, ama a ceia, ama ir à corais chatos, ama usar cachecois e luvas, e… adivinha? Tem como cor favorita vermelho.
Para ele, essa é a melhor época do ano. Quando todo o esforço é válido e a magia acontece.
Me pergunto se ele ainda acredita em Papai Noel.
E aqui estou eu, saindo do trabalho depois de passar horas trancada em um consultório, me preparando psicológicamente para chegar numa armadilha cheia de pisca-piscas, renas, vemelho e bolinhas brilhantes, armadilha essa da qual chamo de "casa".
Dirijo preguiçosamente, reclamando do porquê o trânsito ser ainda pior em Nova York essa época do ano. Mesmo em meio em tantos xingamentos ao Civic que não deu seta, consigo ouvir meu celular tocar, então atendo.
— Alô?
— Oii, amor! — Ouço o riso animado do meu marido e invejo sua felicidade por alguns segundos.
— Oi, Gguk. Por que me ligou? Precisa de algo?
— Preciso de você. — resmunga e quase consigo ver seu bico manhoso. Rio sozinha, revirando os olhos.
— Estou presa no trânsito. Que conveniente, não é? — sôo irônica.
— Ah, vamos. Prometo que o Natal desse ano vai ser maravilhoso. Sem pais, sem idosos chatos, sem tias enchendo o saco sobre quando vamos casar, e sem sobrinhos correndo. — fala confiante e quase gargalho lembrando como eram os Natais com nossas famílias. — O Natal vai ser eu, você, uma lareira quentinha e uma ceia enorme. — Suspiro, admirando a ideia. — Isso mesmo, baby. Vai ser ótimo, de arrasar mesmo.
— Eu não sei, amor… — Suspiro. — Só não se decepcione quando eu ficar desanimada e estragar seu Natal.
— Honey, alguma vez eu já me decepcionei com você? Só me decepcionaria se desistisse de mim. — Sorrio com o tom bobo do meu cônjugue e me permito sentir sortuda. — … E se não gostasse da minha surpresa. — termima.
— Surpresa? Que surpresa? – Arqueio a sobrancelha e rio.
— Surpresa? Eu disse surpresa? — Se faz de desentendido e ri fofo. — Venha logo para casa. – Então desliga.
Rio sozinha e suspiro ao me sentir amada. Jeongguk é um gostoso de 28 anos que tem descendência coreana. Ele tem olhos e sorriso de coelho que me deixam apaixonada, um corpo que me deixa trêmula e uma voz magnífica, mas tem um péssimo dedo para fazer surpresas.
Lembro da vez que fez a surpresa de cozinhar no nosso aniversário de namoro. Bem, após aquele dia eu paguei caro na reforma da minha linda cozinha queimada e prometi à mim mesma nunca mais deixá-lo tocar no meu fogão.
Enfim, é isso. Ou minha casa vai estar derrubada, ou eu vou ter que fazer outra reforma na cozinha.
Jesus, por que não me destes o dom da paciência e otimismo?
Após sair daquele engarrafamento chego rápido em casa. Estaciono o meu amado carro na vaga e faço careta para a rena ridícula que Jeon havia posto ali. Suspiro mais uma vez, me relembrando de manter a calma e pego minhas chaves, entrando em casa.
Ok, por que está tudo escuro?
— Gguk, 'tá aí?
— Esse vai ser o melhor Natal da sua vida, amor. — Ouço sua voz e vejo uma luz acender lentamente, revelando meu marido fantasiado de Papai Noel. — Me chama de Papai Noel e senta no meu colinho, bebê. — Pisca e sorri galante, mas a única coisa que consigo fazer é rir.
Eu ri. Ri de nervoso, de dor, de vergonha – alheia e por mim mesma – e ri por ser engraçado o jeito que a barba de pelo sintético ficou absurdamente enorme em comparação a seu rosto.
— Amor, me diz que você não fez isso.
— Eu fiz. — diz orgulhoso de si e sorri malicioso. — Pega no meu saco que eu te mostro o presente. Vem cá, gatinha. O leite eu já tenho, só faltam os biscoitos. — Se aproxima e rio tão alto que acho que o verdadeiro Papai Noel ouviu.
— Você não tem limites?! — Ele ri e me abraça por trás, dando selares fofos no meu pescoço.
— Não, não tenho. — Ri fofo e morde meu ombro. — Quer montar na minha rena? — Ai, rachei.
— Ok, ok. Chega… — Tento me recompor da crise de riso, me sentando. — Você está falando muito com o seu primo. — digo risonha, lembrando do Seokjin e suas piadas de tio.
— Olha só quem fala. — Revira os olhos e me julga com o olhar.
Ok, talvez eu também faça essas piadas de vez em quando.
— De onde saiu essa ideia? — pergunto divertida, o observando.
— Então, era para ser uma fantasia sexual natalina, mas a senhora de idade se confundiu e como eu já tinha pago, resolvi ficar e não dar problemas para a velhinha. — Sorri orgulhoso e eu me controlo para não rir mais. — Pelo menos posso usar quando tivermos filhos.
— Se eles acordarem no meio da noite enquanto guarda os presentes, vão morrer de medo de você. — digo risonha e ele ri, imaginando.
— Pelo menos vão saber que existe alguém querendo manter o espírito natalino vivo.
— Dramático. — implico e ele joga a barba áspera em mim, resmungando. Me aproximo dele, completamente alegre e me sento em seu colo, acariciando seus fios negros.
— … Sentou no colinho do Papai, né, safad-
O interrompo dando um tapinha em seu ombro, o causando uma gargalhada gostosa.
— Hoje você está impossível. — repreendo, mesmo sem tirar o sorriso do rosto, então suspiro.
— Faço tudo para te fazer rir. — Beija a ponta do meu nariz e me dá um selar leve. — Agora só temos que ceiar e ficar agarradinhos igual velcro com cola superbonder para termos um Natal perfeito.
Me aconchego em seus braços e aproveito a sensação gostosa de conforto emitida por seus braços.
— O primeiro de muitos Natais perfeitos, não é? — Olho seu rosto e vejo o brilho de sempre em seus olhos.
— O primeiro de milhares.
Trocamos algumas juras de amor, ceiamos e ficamos sentados perto da lareira enquanto bebíamos chocolate quente.
— Sabe, Gguk… — inicio. — Eu sempre achei que o Papai Noel parecia ser um Sugar Daddy super sexy… — Sorrio com segundas intenções, sugestiva.
E aquele sorrisinho malicioso volta. — … Opa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.