1. Spirit Fanfics >
  2. Saron de Sangue >
  3. As Chamas Africanas...

História Saron de Sangue - As Chamas Africanas...


Escrita por: RivaMika55

Notas do Autor


Quero antes de tudo pedir desculpa por demorar tanto a atualizar essa fic! Quem me acompanha no twitter sabe que eu ia postar dia 20, mas ocorreu uns problemas e agora estão vindo postar agora!

Quero agradecer por todo o apoio e carinho que vocês dão a Saron e a mim, eu fico honrada e muito feliz por cada coisa que eu leio, obrigada de coração <3
Esse capítulo é conectado ao capítulo 12, e esse é um capítulo mais de transição, então perdão caso esteja meio "fraco" em comparação aos outros. :(

LEIAM AS NOTAS!!!!!

ANTES DE QUALQUER COISA; TUDO AQUI É FICÇÃO, LEMBREM-SE DISSO PELO AMOR DE DEUS!

Amor e Poder é o que forma essa fic! A fase Amor vai até o capítulo 17, e a fase Poder vai da 18 em diante.

Usem a #SaronDeSangue sempre que falarem da história pra ajudar a divulgar nas redes sociais!

~~ Eu tenho alguns avisos para dar (como sempre).

~~ MUITAS sexualidades vão ser abordadas aqui e eu não vou aceitar nenhuma ofensa para com alguma sexualidade abordada. MUITAS vão ser mostradas, MUITAS vão ter visibilidade, e se eu ler algum comentário ofensivo sobre QUALQUER sexualidade, eu vou bloquear a pessoa e denunciar para o Spirit!

~~ A fanfic é +18! Tem tags e avisos sobre isso, o plot é mais pesado, tem violência e conteúdo adulto então se você for menor de idade, AQUI NÃO É O SEU LUGAR! Há muitas cenas fortes e se caso você seja sensível há alguma coisa, é melhor não ler, sua saúde mental é mais importante! Cuidado!

~~ Devo anunciar no Twitter a próxima data de atualização como sempre, então me sigam lá (Kurara1204)!

~~ Não vou aceitar nenhuma ofensa sobre a cultura africana que irei abordar aqui!

~~ NÃO ROTULEM A SEXUALIDADE DO JEONGGUK! Não quero comentários sobre o que ele é. Se eu ler algum rotulando a sexualidade dele, eu vou bloquear o usuário. E o mesmo vale para comentários dizendo que ele é "Taehyungsexual", parem com isso!

~~ Comentários preconceituosos sobre o fato do Yoongi ser transgênero, será denunciado!

~~ A fanfic foi betada pela Taepurple e pela Zartha, vocês duas me ajudaram muuuuito e eu não sei como agradecer a vocês por essa ajuda <3

~~ Talia e Gabriella, muito obrigada por sempre me apoiarem e me darem grande amor no docs, amo vocês duas <3

~~ No capítulo 10 foi mostrado o Taehyung afirmando sobre a sexualidade do Baekhyun, ele afirma que ele é "assexual" e que "não tem interesses românticos nele". Eu não queria colocar o Taehyung pra explicar sobre a sexualidade do Baekhyun, isso seria tomar totalmente o local de fala dele, então AQUI, o próprio Baekhyun vai explicar, assim como já era programado de acontecer! O respeitem!

~~ Não se esqueçam de comentar, isso motiva demais o autor e eu amo ler os comentários de vocês <33

Espero que gostem do capítulo apesar dele ser bem longo <3 Amo vocês <3

Capítulo 11 - As Chamas Africanas...


Fanfic / Fanfiction Saron de Sangue - As Chamas Africanas...

1200 anos Depois da Lua Vermelha.

Coreia do Sul. Gangnam.

Castelo dos Kim. 

Sala de treinamento. 

 

E então, o corpo de Jeongguk caiu mais uma vez no chão. 

A cabeça foi para trás, os fios de cabelo escuros e longos completamente espalhados e a respiração ofegante. Essa era a imagem que Jeongguk, com suas roupas ensopadas de suor, mostrava não apenas para Somin e Jimin sentados na ponta do tatame, observando tudo. 

Mas, aquela também era a imagem que mostrava para Jiwoo, a vampira responsável por treinar cada um dos grupos de elite dos membros do clã principal. 

O humano soltou uma arfada longa, sentindo o suor que continuava escorrendo pelo seu corpo, pela área do seu pescoço até chegar ao tatame. Estava cansado, realmente exausto por conta do tanto de esforço que estava aplicando naquele pedido que fez. 

Faltavam aproximadamente 20 horas para o clã ir viajar para a África do Sul a fim de encontrarem-se com o clã Gazânia, comandado pela líder Zozibini Tunzi. Jeongguk não a conhecia e estava ansioso para isso, tinha ouvido muitas coisas boas sobre a mulher e pelo o que seu marido tinha dito, Heechul mantinha realmente um grande apreço pela forma dela de agir e pensar. 

Além de Taehyung, Jeongguk e Heechul, quem também iria para a África do Sul seria Hyuna e Yongsun. 

Também diante da ansiedade que estava tomando seu corpo para que a viagem ocorresse logo, os pensamentos do garoto de fios escuros estavam cada dia mais bagunçados. Eram muitas questões que iam surgindo em sua mente, eram muitos nomes, datas e teorias sendo montadas e excluídas ao mesmo tempo. 

E além do grande esforço e exercício mental que fazia em cada hora do dia, Jeongguk também estava buscando preparar seu próprio corpo para algum tipo de combate. 

E era por isso que estava treinando com Jiwoo. Apreciava a paciência e dedicação de Selena em lhe treinar e ajudar com tudo, mas o jeito da mulher de fios brancos à sua frente era diferente, era mais bruto e era aquilo que Jeon desejava. 

Não queria que pegassem leve consigo por ser quem era, ou por temerem ao seu marido. Jeongguk queria melhorar e não ser um peso morto. 

Sabia que nunca iria superar as habilidades de luta de um vampiro, nunca seria tão forte ou rápido, mas também não queria deixar todas as suas qualidades para sua capacidade de entender rápido e usar a lógica para descobrir as coisas. Gostava, sim, de ser inteligente e ficar mais e mais esperto, porém seu corpo também precisava de treinamento. 

Seus músculos precisavam ser sinônimos de uma real força, não serem apenas traços torneados de seu corpo devido a malhação que fazia desde que era novo, onde seu pai lhe obrigava a se exercitar para ter um porte atraente. 

Era um Kim agora. 

Deveria ser similar a um. 

— Vamos, Jeongguk! — A voz afiada de Jiwoo o despertou da série de pensamentos que sempre invadiam sua cabeça. Bastava Jeon relaxar um pouco e parar de se concentrar que logo era invadido por dezenas de preocupações. 

Suspirou baixo, fazendo força para se levantar enquanto levava seus olhos escuros para a mulher baixa. O cabelo branco estava preso em um rabo de cavalo alto. Tinha somente uma blusa curta preta que cobria seus seios e uma camada de malha de aço interna que ela usava como se fosse uma blusa folgada. 

A calça preta levemente larga estava com algumas correntes penduradas e havia duas adagas em cada perna da mulher, presa em cintos firmes. Os pés estavam cobertos pela bota preta de cano alto sem salto algum. 

Estava ameaçadora. 

O humano se levantou, colocando as duas mãos em cima dos joelhos à mostra enquanto respirava fundo. Estava vestido com uma simples regata preta e um short folgado de malha cinza, era melhor para treinar. 

— Foi para isso que pediu para que eu o treinasse? Para ficar cansado tão facilmente? — A mulher perguntou baixo, levantando uma das sobrancelhas bem desenhadas. Ao mesmo tempo afastava suas pernas, deixando-as mais firmes ainda no chão enquanto posicionava seu corpo em uma posição de ataque, erguendo os dois braços, movendo suas mãos para chamar o garoto. 

Jeongguk soltou um sorrisinho pequeno e olhou para Somin e Jimin, os dois estavam extremamente focados no desenrolar de tudo aquilo.

Não demorou um minuto até que o garoto caminhasse até a mulher, respirando fundo mais uma vez antes de levantar seus punhos também. 

— Lembra do que eu te ensinei? — Jiwoo perguntou antes de fazer qualquer movimento. 

— Focar nas mãos de vocês sempre — respondeu baixinho, focando seus olhos escuros nas palmas pálidas da vampira que estavam cobertas por luvas de couro escuro que deixavam seus dedos expostos. 

— Exato. Se a gente pegar você, já era... — Pegou os pulsos do humano rapidamente. — Não vou usar minha velocidade, mas quero que me ataque com tudo o que tem, entendido, Jeongguk? — Olhou feroz e intimidante para o rapaz que balançou a cabeça positivamente antes de se esforçar para se soltar. 

Não adiantou muito, bastou um puxão da vampira assim que Jeongguk se aproximou ainda mais do corpo dela, e bastou um simples empurrão para que o humano fosse jogado para o outro lado, rolando pelo chão enquanto apertava os olhos e sentia o impacto parecer o destruir ainda mais.

Parou e ficou de quatro enquanto sentia seu corpo pedindo socorro, pedindo para que parasse. De fato não aguentava mais, não era páreo para ela. Era um simples humano e ela uma vampira de muitos anos de criação. Jeon nem sabia ao certos quantos anos eram. 

Mas não podia simplesmente desistir de tudo. Todos ali sabiam se defender, todos eram criaturas da noite que lutavam a anos. 

Ficou de pé mais uma vez e correu em direção à mulher, conseguindo se abaixar rapidamente quando viu as mãos dela se aproximarem de si. Jogou-se com tudo nas pernas dela e quase a derrubou, mas ela era rápida de forma natural, não apenas usando suas habilidades de criatura da noite. Então, tudo o que ocorreu foi Jeon ser agarrado pelas costas, começando a ser levantado de cabeça para baixo, sacudindo-se na tentativa de se soltar.

Jeongguk estava do mesmo jeito que Jungsu quando ele pegava o próprio irmão daquele jeito para brincar. Era um tanto quanto patético, mas era o reflexo de suas habilidades para com a mulher.

Não foi jogado no chão como da outra vez, muito pelo contrário, Jiwoo o virou com destreza e cuidado antes de colocar o humano no chão. 

— Acho que já está bom por hoje, Jeongguk. — A mulher ditou firme, afastando-se um pouco do humano que respirou fundo, exausto demais. O garoto logo ficou de joelhos no tatame, ofegante enquanto a vampira permanecia séria, lhe fitando com atenção, como se estivesse o analisando. — Para aumentar sua resistência, tente correr ao redor do castelo, duas voltas pelo menos... 

— Tudo bem, eu vou fazer isso... Obrigado. — Agradeceu passando a mão na testa completamente suada. 

E então a mulher se afastou, caminhando para longe enquanto ignorava a presença de Jimin e Somin que iam se aproximando do mais novo completamente exausto. 

— Ela quase te destruiu, hein. — Jimin provocou sorrindo, bagunçando os fios molhados de suor do mais novo. Retorceu a cara em nojo e não perdeu tempo em esfregar a mão no blazer que Somin usava. 

— Ai! Seu filho da puta! — A mulher rosnou, saindo de perto do vampiro, revirando os olhos enquanto focava sua atenção em Jeongguk ainda ofegante. 

— E-eu quero dormir aqui e acordar somente daqui três dias — resmungou, fechando os olhos e se jogando para trás no tatame. Realmente não se importaria de dormir ali por três dias.

— Pena que você agora é um Kim e agora tem responsabilidades a cumprir, não é? — A vampira levantou uma das sobrancelhas, ajeitando o blazer escuro aberto que cobria parcialmente o sutiã preto que usava. A roupa dela se resumia somente àquilo e a calça folgada cós alto que cobria as pernas bonitas da Jeon. 

— Meu marido pode cuidar das coisas pra mim...

Jimin bufou. 

— Dois dias nesse empreguinho aí e já quer jogar tudo no Taehyung? Esperava mais do incrível Jeon Jeongguk que desafia o poderoso clã Kim. — O Park estufou o peito para falar, debochando de forma séria enquanto fingia-se decepcionado com o mais novo.

O humano abriu um dos olhos. 

— Você está certo, não é? — Formou um biquinho nos lábios um pouco secos. 

— Devo concordar com o Jimin, você tem uma fama agora Jeongguk, não é apenas marido de Taehyung, não é um garotinho que os Kim adotaram... Você agora é Jeon Jeongguk, membro do clã Kim e deve agir como tal... — Somin se abaixou, sorrindo para ele enquanto o ajudava a se sentar no tatame, tirando alguns fios de cabelo do rosto bonito e sempre fofo do humano que havia conquistado a todos. 

— Sem contar que vamos viajar logo, não é? Então... — Jimin bateu duas palmas. — Você tem que arrumar logo suas coisas, bonitão, separar umas cuecas, blusas bonitas para usar lá na África do Sul, tem que levar perfume e lubrificante — começou a listar enquanto ia saindo do tatame —, falando nisso, você tem esmalte? Eu quero pintar minhas unhas, mas acho que algum escroto filho da puta pegou o estoque de esmalte que eu tinha separado...

Jeongguk colocou-se de pé. 

— Acho que posso pedir para o Taehyung encomendar alguns... 

— Não, você pedindo para o Taehyung vai fazer ele comprar todos os esmaltes da Coreia, ele é exagerado quando se trata de você, só peça para aquele chato do Baekhyun e tudo certo...

Jeongguk soltou uma risadinha ao lado de Somin enquanto os três caminhavam até a saída, passando por alguns dos vampiros do castelo, que se curvavam sempre para o humano, enquanto se dirigiam até o quarto do mais novo. 

— Que cor você quer? — perguntou ajeitando o cabelo, jogando-o para trás enquanto via Somin segurar seus sapatos (que havia se esquecido de calçar).

— Rosa. Um rosa bem vibrante pra combinar com meu cabelo porque eu quero fazer todo mundo ficar incomodado com a minha maravilhosa presença, então quero rosa! — Soltou sorridente, olhando torto para alguns vampiros de Namjoon que também iam retribuindo aquele olhar, porém curvando-se completamente para Jeongguk. 

— Vou providenciar isso então...

— Ótimo, é tão bom ser mimado por dois membros do clã principal — falou de forma alta, querendo que o máximo de vampiros escutasse. Seguiu empinando seu nariz conforme continuava a caminhar, como se estivesse desfilando. Jimin tinha seu próprio charme, sua beleza chamava atenção, seu carisma conquistou Jeon rapidamente, deixando-o confortável e animado pelo primeiro amigo que fez de verdade em sua vida. 

Desde os tempos de escola, nunca fora próximo de alguém. Nunca teve alguém para chamar de amigo, alguém para ir na sua casa fazer os trabalhos de escola já que seu pai exigia que fizesse tudo sozinho, mostrando competência e auto suficiência.  

Era ruim almoçar sozinho na escola. Era ruim sentar sozinho na sala de aula. Era muito ruim olhar da janela de seu quarto e ver as outras crianças brincando pela rua, se divertindo enquanto estava se arrumando para ir à aula de etiqueta que sempre odiou. 

Lembrava-se bem quando ia até o Porto Azul de Busan, ficava sentado em uma cadeira nada confortável enquanto esperava seu pai resolver os assuntos que deveria tratar com outros homens engravatados. Jeongguk, com apenas sete anos de idade, balançava suas perninhas cobertas pela calça social preta, observando outras crianças brincando na água. 

Lembrava-se bem de sonhar que seu pai lhe dava permissão para se juntar a eles, imaginava como seria se aproximar e se apresentar e então ser próximo de outras crianças.

Mas aquilo nunca aconteceu.

Só foi se aproximar de outra pessoa realmente quando quando Hyumi, terceira esposa de Jihan, deu a luz a Jungwoo, seu segundo irmão no qual ficou completamente apaixonado e apegado. Anos depois nasceu Jungsu, e Jeongguk não ficou mais tão sozinho porque ocupava-se completamente em dar amor e atenção aos meninos, em dar a eles o afeto que não recebeu.

E agora, com 20 anos de idade, Jeongguk reconhecia que mesmo que Jimin fosse bem insolente em alguns momentos e suas atitudes e falas pudessem ser duvidosas, o moreno sabia que não queria se afastar dele. Não queria perder a amizade que tinha com ele, a confiança que iam construindo aos poucos. 

E o mesmo valia para Somin. 

A vampira lhe tratava como uma irmã mais velha; era sempre carinhosa e cuidadosa consigo, agindo de forma preocupada e em todo o tempo fazendo questão de tratar Jeongguk como igual, um humano que tinha valor, que não deveria abaixar sua cabeça ou se sentir inferior. 

Estava feliz, mesmo tendo passado sua vida inteira sem nenhum amigo, agora tinha dois, era protegido por eles. O destino havia lhe presenteado com duas pessoas ótimas que mostravam verdadeiros sentimentos por si.

— Ele é idiota demais. — A mulher revirou os olhos, indo para esquerda assim como os outros dois. 

— Estou te ouvindo, Somin. — Jimin rosnou. 

— Foda-se! 

Apesar das constantes brigas, Jeongguk os amava. 

 

[...]

 

— Para! Não, não! Para, Jimin! — Jeongguk estava nas costas de Jimin, se esticando ao máximo para pegar a ducha higiênica que Somin tinha encontrado enquanto os três arrumavam as malas do humano. O moreno já estava profundamente arrependido por ter dado completa permissão para que eles mexessem em tudo seu ali para lhe ajudar a fazer as malas.

Jimin jogava a ducha de uma mão para a outra usando sua velocidade, impedindo que Jeongguk conseguisse usar sua altura a favor para pegar o objeto.

— É só uma chuca, Jeongguk! Para de show. — A vampira revirou os olhos, pegando outro casaco de seda e colocando dentro da mala estando perfeitamente dobrado. Cruzou os braços e observou bem os dois garotos ainda naquela provocação boba bem no centro do quarto de Jeongguk e Taehyung. 

Nunca achou que fosse entrar no quarto do poderoso vampiro, mas se aproximar repentinamente do humano e ter criado uma afeição por ele tinha feito a vampira de 250 anos conseguir fazer várias coisas que nunca imaginou antes. 

Tinha acesso a lugares e informações que nunca ninguém conseguiu, tudo isso porque Jeongguk gostou e confiou em si.

— Mas é minha, me dá! — Se esticou ainda mais, apertando os fios de cabelo de Jimin enquanto tentava pegar o objeto que ele estava fazendo de tudo para deixar fora do alcance do humano.

O Park logo começou a caminhar naturalmente, como se Jeongguk em cima de si não pesasse nada, como se fosse apenas uma folha de árvore pousada em seu ombro. 

— Ah... Então agora você admite que ela é sua... — Sorriu malicioso ao se tocar do que o garoto tinha dito. 

Jeongguk pulou, indo para o chão no mesmo instante que cruzava os braços. Pensou diversas coisas para poder rebater aquilo, mas na realidade não havia jeito.

Suspirou derrotado. 

— Tá, ela é minha! Está feliz?

— Quem te ensinou a usar? — Somin perguntou curiosa, afinal, Jeongguk não interagia com ninguém naquele castelo e certamente não tinha coragem para pedir uma ajuda sobre aquilo para qualquer um, nem mesmo com Seulgi, vampira responsável pelos cuidados higiênicos e visuais do rapaz.

— E-eu ainda não usei... — falou baixinho, olhando para o chão enquanto sentia suas bochechas corando por admitir aquilo.

— Ah... — Somin e Jimin soltaram no mesmo segundo. 

— E como conseguiu, afinal? — Jimin tombou a cabeça para o lado, jogando o objeto em cima da cama, não tendo mais foco sobre aquilo. 

— Bom... — começou a deslizar um de seus pés pelo chão, sentindo o piso em seus dedos descalços — já estava aqui no quarto... No meio dos produtos que o Tae comprou, então...

— Então isso não é seu de verdade — Jimin soltou de repente, rindo um pouquinho. — O Tae comprou, isso pode ser dele, o quarto é dos dois, às vezes ele comprou pra usar em algum momento... — Levantou a questão fazendo Jeongguk começar a pensar sobre, formando mais um biquinho fofo nos lábios. 

— E o senhor Taehyung caga, Jimin? Algum vampiro caga pra usar chuca e limpar o cu? Você é maluco? — Somin soltou revirando os olhos, optando por ignorar as coisas que o Park estava falando e voltou a se concentrar em qual calça seria melhor para o humano levar. 

— Verdade, o Tae não caga, Jimin. — Jeongguk contestou, cerrando os olhos. — Pra que ele compraria isso pra ele?

— Ah, então ele comprou pra você mesmo. — Jimin deu os ombros como se aquilo não fosse nada demais.

— Então ele espera que eu use isso? — Jeongguk arregalou os olhos, pensando sobre aquele detalhe da questão. Achou no começo que o Kim poderia ter comprado como mais um item de higiene para o humano usar dentre tantos que tinha, mas refletindo sobre aquilo de forma sexual, tal objeto poderia sim ser uma indireta do vampiro para que Jeongguk usasse momentos antes do sexo.

— Sabe o que tudo isso parece? Com você sendo aquele tipo de pessoa que nem espera receber o anel de noivado e ouvir o pedido ser feito, você já vasculha tudo, encontra o anel e já cria mil teorias. — Somin comentou depois de decidir qual calça Jeongguk poderia levar. Era a única ali realmente focada em fazer as malas do humano para irem conhecer o clã sul africano. — Se o senhor Taehyung comprou isso, é óbvio que ele vai chegar em você em algum momento e conversar sobre. Não tem que achar que ele te quer como passivo caso a relação sexual de vocês evolua, espere para ver o que ele tem para dizer...

— Mas ele já comprou, ele não deveria comprar depois da gente conversar? 

— Você nunca ficou com um absurdo tesão, Jeongguk. Quando se é passivo, às vezes na hora tudo o que uma pessoa quer é dar, e se isso ocorresse, ele não iria parar tudo, sair, comprar uma ducha higiênica só para você usar. É mais fácil já ter uma aqui, é como lubrificante, sabe? Mas isso não significa que ele te quer como passivo — a vampira frisou outra vez, falava calma, explicando tudo de forma suavemente para o humano que tinha seus olhos escuros e redondos focados no chão. — Talvez ele só tenha pensado no “se”. Se você for passivo, vai precisar já ter uma chuca aí, se não for, não vai precisar. Simples. 

Jeongguk sentou-se no colchão, olhando para o objeto que era o motivo daquela conversa e depois mirou o chão novamente.

— Ele já pensa nisso? Digo... — Limpou a garganta para falar um pouquinho mais alto. Não sentia tanta vergonha em conversar sobre aquilo com os dois vampiros. O muro de timidez entre eles estava se dissipando cada vez mais. — Ele já pensa sobre isso, já tem essa preocupação? 

— Jeongguk, — Jimin chamou sua atenção de forma suave — é do Taehyung que estamos falando, se bobear ele já deixou até mesmo encomendado as fraldas geriátricas que você vai precisar quando for um velhinho!

Somin soltou uma risada baixa e Jeongguk forçou uma risada também, analisando aquela frase e deixando sua mente ser vagada até a conversa que teve com Heechul dias atrás.

Sobre também ser uma criatura da noite, sobre ser como Somin, Jimin e Taehyung... Beber sangue, existir pela eternidade... Não chegar a ter 40 anos, viver para sempre sendo novo, com sua aparência atual.

Tinha medo, muito medo de ser um vampiro. Não queria. 

Não queria ser uma criatura da noite, não queria deixar de ter seu coração batendo, não queria ter sua pele fria e não queria deixar de sentir que poderia desmaiar apenas porque Taehyung lhe apertava ou chegava bem perto de si. Gostava de estar vivo para desfrutar de tudo aquilo. Comer, beber, dormir... 

Gostava de chorar, de estar no sol e de respirar.

Mordeu o lábio inferior, sentindo vontade de chorar só por imaginar aquelas coisas, e não queria se debulhar em lágrimas naquele momento, não estava pronto para ter aquela conversa sobre precisar ser um vampiro. Queria jogar tudo para o mais fundo de sua mente e depois refletir sobre aquilo. 

E quando Jeongguk sentiu que Jimin poderia perguntar porque ele havia ficado tão retraído repentinamente, uma batida na porta chamou atenção dos três presentes dentro daquele quarto. O humano viu tal fato como uma chance de se esquecer de seus pensamentos e focar no que estava acontecendo agora ao seu redor – disfarçando a opacidade de seus olhos que estavam bem nervosos com tudo aquilo.

Respirou fundo e se colocou de pé, fungando e respirando fundo no mesmo segundo.

— Pode entrar! — falou alto, nem se atentando ao fato de que nem sabia quem era, mas pelo revirar de olhos de Jimin e Somin, tinha um palpite... 

E ele estava certo. 

Em questão de segundos a imagem de Baekhyun apareceu. O outro humano segurava uma bandeja de prata que deveria estar contendo a janta do garoto.

— Boa noite, senhor. O senhor Taehyung disse que você precisava comer mesmo que tivesse dito que não queria nada hoje. O senhor Taehyung foi bem claro em frisar que você treinou e deveria se alimentar adequadamente para que não ficasse fraco ou doente. Sinto muito, mas devemos cumprir essa ordem e acredito que o senhor de-

— Meu Deus, é só falar que o Taehyung quer que ele jante porque tá boiolamente preocupado, pra que falar tudo isso? — Jimin revirou os olhos, cansado demais pela forma como o humano falava. — Você recita um livro pra justificar uma ordem, você cansa minha beleza, Baekhyun!

— Que beleza? — Somin formou uma careta de nojo, recebendo um dedo médio do Park que a xingou mudamente. 

Jeongguk revirou os olhos. 

— Obrigado, Baekhyun, pode deixar ali — apontou para uma das cômodas. 

Jeongguk estava querendo fazer dieta, estava comendo demais e havia ganho alguns quilos a mais, estava ficando preocupado com sua aparência, mas não queria expor aquilo. Tal fato era uma insegurança que desejava manter apenas para si. 

Antes comia pouco, fazia exercícios e estava sempre sendo policiado por seu pai a manter um corpo sem nenhuma grama de gordura. E agora Jeongguk tinha muitas gramas de gordura por todo o seu corpo.

— O senhor já fez as malas, senhor Jeongguk? — Baekhyun perguntou assim que colocou a bandeja de prata no local dito pelo outro humano.

— Não tá vendo essas malas abertas e as roupas espalhadas, não? — Jimin alfinetou. 

— Jimin, Somin, vocês podem sair, por favor? Eu quero falar com o Baekhyun a sós por um momento. — Jeongguk pediu baixinho, respirando fundo enquanto via os vampiros soltarem resmungos sobre algumas coisas que naquele momento, Jeon não estava muito interessado em prestar atenção. Porém, apesar do drama que faziam, os dois saíram do cômodo sem fazer mais nenhum alarde.

Antes de ser vendido pelo próprio pai, Jeongguk já tinha muitas questões em sua mente, refletia quase todos os dias sobre o que o futuro lhe aguardava. Tinha que pensar por horas sobre o que fazer, como agir, e de certa forma, controlar os muitos pensamentos que sempre tinha.

Todavia, agora que era um Kim principal, que dava ordens, que tinha funções, responsabilidades... Tudo era diferente e estranhamente similar. Tinha que ajudar os Kim a achar Jeonghan, tinha que aprender como se portar perante a sociedade agora que fazia parte do clã mais poderoso do mundo, e tinha seus próprios sentimentos para aprender a lidar. 

Apesar de ter se casado à força, o tempo foi gentil consigo e o destino escreveu em suas linhas secretas que o coração de Jeongguk iria se entregar a Taehyung. 

Desenvolveu o início de seus sentimentos assim como uma árvore crescia no meio de uma imensa floresta de aflições. E mesmo que agora tivesse certeza do que sentia, não apenas por Taehyung, mas com relação a si mesmo, Jeongguk ainda assim precisava lidar com algumas questões. 

E Baekhyun era uma delas. 

Ainda havia ciúme da sua parte, eram coisas que não podia controlar, mas também iria podar ao máximo que poderia. Não iria alimentar aquele sentimento, não iria deixar ele lhe dominar e depois usá-lo como desculpa para justificar suas ações tóxicas. 

Jeongguk queria lidar com tudo. 

Queria ser o melhor que poderia ser.

E talvez aquele momento fosse o mais adequado para tal coisa. 

— Sobre o que desejas tratar, senhor? — Baekhyun perguntou baixo, mantendo sua voz mansa e seus olhos atentos. O corpo baixo estava ereto, mantendo sua clássica postura perfeita ainda intacta. 

— Acho que será melhor ir direto ao ponto porque eu tenho pouco tempo para resolver tudo e não quero ocupar minha cabeça com essas coisas... — Respirou fundo, passando uma de suas mãos pelo cabelo escuro cujo as pontas já estavam abaixo de seu nariz. Os fios iam ficando encaracolados deixando o rosto de Jeongguk ainda mais infantil segundo Taehyung.

— Pode falar, senhor. — Baekhyun manteve o mesmo tom de voz vago. Aquilo era uma coisa que Jeon não gostava muito. A forma como o outro falava e agia consigo, não sabia se aquilo era apenas para com sua pessoa ou se o outro humano se comportava daquele jeito na frente de todos de forma igualitária, mas tal detalhe lhe irritava um pouco.

— Outro dia eu comentei com meu marido sobre sua relação com ele porque desde o começo eu sinto insegurança com o vínculo que vocês dois tem. Desde a minha chegada aqui eu fico desconfiado. — Fez uma curta pausa, analisando a expressão levemente surpresa de Baekhyun. — Eu agradeço por tudo o que fez por mim desde minha chegada, acredite em mim, mas ainda assim sinto um muro entre nós dois. Algo que me impede de tirar esses sentimentos estranhos de dentro de mim. 

— Eu posso ser sincero sobre isso, senhor? — Baekhyun perguntou baixinho, relaxando um pouco sua postura por ver do que se tratava o assunto em que iriam tratar naquele momento. 

— Sim, pode, não precisa se preocupar com formalidade. Somos dois homens tendo uma conversa normal, não há títulos ou hierarquias entre nós — comentou ao apoiar suas costas em uma das paredes, passando a língua pelos lábios finos e rosados ao não saber muito o que esperar de tudo.

— Não tenho sentimentos afetuosos pelo senhor. E não tenho sentimentos românticos pelo senhor Taehyung. Não gosto que exijam que eu tenha sentimentos pelos outros. — Esclareceu de forma levemente branda, respirando fundo antes de retomar sua fala. — Não tenho nada contra você, na realidade até mesmo fico feliz que você esteja bem e conquistando tudo isso. Mas eu sirvo a você agora, assim como sirvo ao senhor Taehyung, e não sinto coisas por vocês dois e acima de tudo, não quero que algo entre nós seja construído usando a palavra “dever” ou “obrigatoriedade” como base.

— Eu sei disso, o Tae me disse isso, me disse que você é assexual, que não sente nenhuma vontade de fazer sexo ou se relacionar romanticamente com alguém, então eu não sinto mais essa insegurança toda com relação a vocês dois, a meu estranho ciúme, mas há uma densa atmosfera entre a gente ainda. — Jeongguk falou baixinho, ficando um pouco envergonhado com tal assunto sendo explorado daquele jeito. 

— Sim, é verdade, mas eu não sinto vontade de me relacionar romanticamente porque sou arromântico — esclareceu de forma mais alta, porém ainda suave. — Não sou apenas assexual, também sou arromântico, mas acima de tudo tenho apenas gratidão pelo senhor Taehyung. Por tudo o que ele me fez. Defendo esse clã, defendo o senhor Taehyung e vou defendê-lo apesar de não sentir nada para com o senhor. Mas não sei o que causa essa atmosfera que citou.

— Acho que alguns pontos seus me deixam irritado e me fazem desejar não me aproximar completamente de você... Eu não sei porquê, mas realmente tem esse muro entre nós e-

— Não precisa se forçar a gostar de mim, o senhor não tem essa obrigação e eu não faço uma real questão disso. 

Jeongguk olhou para baixo. A conversa estava indo bem, mas não estava indo pelo caminho que o garoto achou que ia dar. 

— E como ficamos? 

— Eu continuo servindo ao senhor e ao seu marido e o senhor continua não se importando com a minha existência. Eu sei me virar e tenho minha própria vida, nós dois termos carinho e afeto um pelo outro não é algo que precisa ocorrer. 

Jeongguk balançou a cabeça positivamente. 

— Entendi... — O mais alto resmungou baixinho, passando a brincar com seus próprios dedos enquanto pensava naquelas questões. Havia esclarecido alguns pontos, e em outros ainda tinha suas dúvidas. Baekhyun não parecia irritado ou desconfortável com aquela conversa, muito pelo contrário, os dois humanos pareciam bem tranquilos, apesar de sérios. — Eu só não quero criar rivalidade entre nós ou deixar esse desconforto prevalecer...

— Também não desejo isso. 

— Obrigado por me esclarecer coisas sobre você... Você, sabe... — Corou um pouco, não tendo coragem para encarar o rosto do outro. Mas Jeongguk já conseguia imaginar a expressão sempre neutra que ele carregava em seus traços bonitos. — E eu peço desculpas por ter julgado você antes de saber das coisas, por ter apontado o dedo e ter te rotulado. Por ter reduzido sua serventia ao meu marido como favores sexuais a ele, isso foi muito estúpido da minha parte...

Baekhyun olhou para baixo por dois segundos antes de balançar sua cabeça positivamente, da forma mais lenta possível.

— Não tem problema, senhor Jeongguk. Somos humanos, somos fadados a cometer erros, o importante é não voltar a repeti-los — limpou a garganta. — E, quando quiser, sabe — franziu um pouco as sobrancelhas, incerto sobre como proferir as próximas palavras... Aquilo também era um pouco estranho para si. — Quando o senhor, quiser, bom, quando quiser falar sobre sua demisexualidade ou desejar tirar dúvidas sobre essas questões, não irei me importar de lhe ajudar.

Jeongguk abriu a boca, deixando que seus lábios formassem um perfeito “o” enquanto seus olhos ficavam ainda mais redondos, já que agora, permaneciam arregalados. Não esperava uma oferta de ajuda como aquela, realmente era algo que não passou pela sua cabeça. Mas gostou, ficou feliz, apesar da vergonha e da timidez. 

Sabia que era pouco provável que realmente fosse recorrer ao humano, afinal, sentia-se muito mais à vontade com Hoseok, porém, gostou do passo que o outro deu, para o que tinha acabado de oferecer mesmo que tenha sido mais simbólico do que tudo. 

Talvez Byun Baekhyun nem esperava que Jeongguk fosse realmente até si para lhe pedir ajuda e tirar dúvidas. Contudo, o ato de se permitir ficar aberto para ajudá-lo já foi de suma importância para que o muro entre os dois ficasse abalado e talvez um dia caísse de vez. Não seria da noite para o dia, e muito menos era certo de que iria se tornar melhores amigos.

Mas havia e sempre haveria respeito entre ambos.

Agora a confiança de Jeongguk sobre o outro mostrava-se mais forte, e mesmo que Baekhyun duvidasse muito, sentia que talvez um dia, a devoção que sentia por Taehyung, fosse a mesma que poderia nutrir por Jeongguk. Tudo nascendo de forma natural. 

— Obrigado...

 

[...]

 

Jimin caiu para o lado, sorrindo apaixonado para Yoongi bem pertinho de si, transparecendo a vergonha que sentia em seus olhos pequenos e o sorriso tímido que era exposto.

Fazia pouco mais de duas horas que tinha saído do quarto de Jeongguk e ido correndo até os braços de seu marido. A saudade sempre conseguia prevalecer quando os dois ficavam alguns instantes sem se ver. Yoongi era a total fraqueza de Jimin, era o centro de todo o seu universo. Era a sua gravidade, responsável por lhe deixar sempre em órbita, como se fosse um simples planeta.

Apaixonou-se por ele quando tinha seus 17 anos completos, mas o conhecia desde que tinha 5, e por 12 anos, Yoongi foi seu amigo, foi um hyung ótimo que cuidava de si, sempre lhe levando a sério, mesmo quando era uma criança. O Min sempre tentou lhe compreender e Jimin tentava fazer o mesmo. Com cada dúvida, medo e receio que o amigo sentia, o Park foi tentando o confortar o máximo possível. 

Também tentava ser alguém que ele poderia se apoiar.  

Só não esperava que depois de uns anos, voltar a ver Yoongi, já transformado em um vampiro, fosse despertar sentimentos diferentes em si. Não esperava se apaixonar pelo amigo, não esperava ser retribuído daquele jeito. 

Aos 17 anos, Jimin se apaixonou por Min Yoongi, assumiu-se gay e se viu completamente entregue a qualquer sorriso que o homem de dentes fofos e olhos doces dava. 

 E mesmo que mais de 100 anos já tivessem se passado, Jimin ainda se apaixonava por Yoongi a cada vez que o sol nascia e brilhava no céu. Era como o mar e suas ondas, nunca cessavam, sempre, em algum lugar, o oceano estava se movendo e fazendo as águas se quebrarem. 

Era um acontecimento eterno. 

Assim como amor de Jimin por Yoongi. 

— Por que toda vez que a gente faz amor você fica envergonhado assim, hum? — Virou-se para o lado, levando sua mão até a bochecha do marido enquanto fazia um carinho suave ali, vendo como ele puxava o lençol de seda preto para cobrir o corpo nu. 

— Porque você sempre me olha com essa cara depois... — resmungou como um ronronar de um gato, buscando se aninhar mais perto do corpo do marido, sentindo a pele fria dele bem perto da sua, sentindo como era certo estar junto dele daquele jeito. 

Levou sua mão até as costelas do Park, acariciando o local suavemente. Era sempre ótimo estar íntimo daquele jeito. Sentia-se mais do que confortável, e sentia-se como um grande admirador pelo corpo do mais baixo. Amava tocar nele, sentir cada centímetro daquela epiderme.

— Eu sou apaixonado por você, Yoongi. Você quer que eu te olhe como? — Soltou como se fosse algo absurdo demais, brincando enquanto deixava o clima entre os dois mais leve, ao mesmo tempo em que se apaixonava mais uma vez pelo sorriso gengival do mais velho. — Me responde, Min Yoongi... — Arregalou os olhos, se aproximando mais enquanto esfregava seu rosto no de fios pretos, como dois gatos de chamego. — Devo te olhar como se eu te amo mais que tudo? 

— Aish! Saia daqui. — Tentou empurrar o outro que na verdade só o puxou ainda mais, fazendo com que os dois corpos se embolassem no meio dos lençóis. Jimin fez questão de segurar a coxa magra do Min, apertando-a enquanto levava-a para cima de seu próprio corpo.

Não estava tão escuro, Yoongi tinha acendido muitas velas perfumadas e as espalhado por todo quarto, aproveitando o clima romântico em que sempre estavam para jogar diversas pétalas de flores ao redor do cômodo. Antes que Jimin fosse até si, Yoongi já tinha planejado um momento íntimo com o mais novo, já queria apreciar aquele corpo, perder a noção de tempo beijando os lábios perfeitamente fartos.

— Eu só consigo te olhar como se você fosse o único homem existente no mundo pra mim, o que é verdade, mas se isso for um crime, me prenda então — beijou a bochecha do mais velho —, mas já aviso que se você me prender mesmo, você vai acabar sendo preso junto, sabia?

Yoongi revirou os olhos, sorrindo enquanto sentia as mãos pequenas do Park começando a acariciar o seu quadril, apertando suavemente aquela parte de seu corpo, deixando que os dígitos gordinhos chegassem a encontrar a lateral de sua bunda. 

— É? Por quê? 

— Porque você está no meu coração... Então pra onde eu for, eu estou te levando junto... 

— Jimin... — Fechou os olhos por alguns segundos, encostando sua testa na do mais novo enquanto sentia as mãos pequenas subirem pelas suas costas, apertando cada pedaço de pele macia e gelada com carinho, como se cada toque devesse ser cuidadoso. Como se o próprio Yoongi fosse feito do mais delicado cristal para o Park. — Eu já sei que vai para África do Sul com os Kim...

Jimin mordeu o lábio inferior. Sentindo-se horrível por ter que contar aquelas coisas. Quando o clã viajava para algum lugar em compromisso para tratar de assuntos envolvendo o tratado entre outros clãs de vampiros, apenas os Kim iam, mais ninguém tinha permissão de ir na viagem junto. 

Mas agora, dentro daquela questão que por séculos nunca foi alterada, existia Jeongguk.

Existia um humano que o clã mais poderoso do mundo zelava pelo bem estar. Então além de três vampiros (Yuta, Somin e Seulgi) irem para servir e cuidar de Jeongguk, ajudando-o com o que precisasse, a presença de Jimin também foi pedida pelo garoto de olhos redondos. Ele nem fazia ideia de que apesar de ser bem mimado, não tinha poder o suficiente para fazer grandes exigências, como pedir para que Yoongi fosse junto também. 

Afinal, o Min também tinha suas funções como um transformado de Namjoon, e já que o poderoso Kim de fios roxos não iria naquela viagem e sim tomaria conta dos assuntos de Yongsun (sua aliada nos planos estratégicos do clã), muitas de suas questões e responsabilidades foram passadas para Yoongi, já que o vampiro era de grande confiança do vampiro muitos anos mais velho.

Partir e deixar Yoongi para trás dilacerava o coração de Jimin; era cruel abandonar aquele que amava, mesmo que temporariamente. Não queria fazer aquilo, mas também não podia negar ir para África do Sul junto com os outros. 

Estava sem escolha alguma.

— Me desculpa...

Yoongi abriu os olhos no mesmo segundo.

— Está se desculpando por quê? Jimin, não faça assim... — Se afastou um pouquinho, fazendo questão de olhar nos olhos do outro. — Quantas vezes eu não tive que ficar fora para servir ao Namjoon? Até mesmo quando você era humano, eu te deixava, eu me sentia horrível por isso, mas eu fazia porque era necessário, e agora é você nessa situação, se eu não te entender, que tipo de marido eu seria? 

— Mas eu não quero fazer isso... Eu posso falar com o Jeongguk e-

— Jimin, você tem que ir. Isso é importante, e de qualquer forma, eu vou estar ocupado, nem vou conseguir te dar atenção direito, meu amor... Vá, é melhor, fique com Jeongguk, ele tem um grande apreço por você, negar ir com ele assim é bem deselegante, sabe disso... — Esfregou as bochechas cheias do Park, inclinando-se para morder o lábio inferior farto, conseguindo esfregar a ponta de seu nariz no dele. 

Yoongi apreciava como os olhinhos pequenos lhe encaravam, como a pureza da mesma criança que conheceu muitos anos atrás ainda estava presente no homem que amava bem a sua frente. Sentia-se sortudo. 

— Vou te escrever todo dia... Vou pedir para Jeongguk mandar o Yeontan trazer cartas para você...

Yoongi soltou uma risada baixa. 

— Céus, Jimin, não chegue perto dessa águia, é capaz dela lhe matar — sussurrou beijando os lábios que tanto amava. — Agora deixa de drama, não é o fim do mundo... — Levantou-se um pouco, ajeitando os fios escuros de seu cabelo enquanto sorria, ficando de pé e caminhando até uma bolsa de sangue que tinha na mesa cheia dos novos exemplares de livro que Taehyung tinha escrito, mas era Jimin quem levava os créditos e fazia os autógrafos.

— Credo, falando assim parece que não me ama, que nem se importa comigo, achei que me amasse, Yoongi. O que acabamos de fazer aqui, hein? — Sentou-se no colchão, mostrando a incrível dualidade que sua personalidade maravilhosa tinha. Era fascinante como Jimin nunca cansava de fazer um bom drama, de usar sua voz bonita e seu rosto angelical para fazer expressões engraçadas. — Usou apenas meu corpinho? Menospreza minha saudade assim, não liga se irei me sentir carente ou sentir abandono de afeto por sua causa?

Yoongi soltou uma risada, abrindo a bolsa de sangue para despejar o líquido nas duas taças. 

— Abandono de afeto, Jimin? Sério? Está me acusando de abandono de afeto?

O Park jogou-se para trás, mas sem deixar de ficar espiando as duas nádegas branquinhas de seu marido. As pernas finas, uma barriguinha fofamente avantajada, ombros magros, mãos com veias bem evidentes, pés do mesmo tamanho que os seus, joelhos rosados...

— Você zomba demais de mim, quero divórcio, Min Yoongi! E a culpa é sua! Todinha sua! 

Formou um bico nos lábios fartos.

O vampiro de fios escuros começou a caminhar de volta para a cama, sentando-se no colchão enquanto apreciava a visão do corpo magro de seu marido bem esparramado ali, os fios de cabelo laranja rosado soltos e espalhados para todos os lados, mordidas distribuídas pelo pescoço que logo iriam desaparecer devido as ótimas habilidades de cura que as criaturas da noite tinham. 

— Todo dia você fala que quer divórcio, mas nem você acredita mais nisso — sorriu, estendendo a taça para ele. — Para de bobeira...

Jimin resmungou, xingando baixinho enquanto sentava-se no colchão e pegava o objeto das mãos de seu marido, tomando logo um gole do sangue gostoso. 

— O Taehyung acreditaria se eu falasse que não quero mais ser amigo dele... — O Park provocou um pouco a parte ciumenta do mais velho, sorrindo arteiro quando Yoongi ficou sério para si, analisando todo o seu rosto.

— Porque o senhor Taehyung não te conhece de verdade — revirou os olhos —, mas se quer tanto que ele corra atrás de você, vá até ele — resmungou descontente, acabando por revirar os olhos mais uma vez. Mas nem estava incomodado por ele ter citado o outro vampiro de fato, e sim por questões particulares, inseguranças que voltaram a se fazer presentes e o Park não tinha conhecimento.

Mas Jimin sorriu, completamente alheio a pequena angústia que nascia no coração imóvel do mais velho. Jimin estava mesmo acreditando que tal fala proferida pelo esposo era apenas devido ao atrito, que mesmo depois de tanto tempo, Yoongi e Taehyung ainda tinham um pelo outro.

— Somos um casal centenário e você ainda aí, com ciúmes do meu criador... — Jimin comentou baixo, tomando um gole grande do sangue. 

— É meu direito ter ciúme o quanto eu quiser, já aprendi que não devo deixar isso me controlar como fiz quando eu e ele brigamos, mas ainda assim eu sinto as coisas — confessou de forma baixa, finalmente compartilhando com o mais baixo parte de seus pensamentos. Mas Yoongi não se atreveu a olhar para Jimin ainda, não queria ver os olhos do marido finalmente percebendo que ele estava mal outra vez, odiava quando fazia Jimin ficar preocupado. — Ele é o grande Kim Taehyung, o nome dele é dito aos sussurros em becos do outro lado do mundo, porque todo o globo o teme. Eu sou quem? Sou apenas um homem que trabalha para o senhor Namjoon e que às vezes nem é reconhecido como homem mesmo. — Por fim olhou para Jimin que já sentia seu coração se partindo. — Para algumas pessoas eu nem sou homem de verdade, não sou homem pra você, não mereço você! Como não voltar a me sentir inseguro quanto a tudo isso? 

Jimin olhou para baixo por alguns segundos, pensando nas coisas que estava ouvindo. Não era a primeira vez que tinham uma conversa como aquela. Não era primeira que Yoongi desabafava sobre como se sentia inferior. E sabia que por toda a eternidade que ainda tinham pela frente, aquela não seria a última conversa. 

Aflições sempre iam e vinham. 

Eram como uma tempestade intensa que às vezes regava o solo e fazia flores crescerem e se tornarem fortes. Porém, tempestades como aquelas também conseguiam derrubar a mais sólida e firme das árvores. 

— Amor... O mundo não deve opinar sobre você, eu já te disse isso... — sussurrou olhando com tristeza para a figura de seu marido que já ficava encolhida. Queria se aproximar, queria o tocar, mas estar junto dele há mais de cem anos já tinha mostrado para Jimin que naquele momento, Yoongi desejava espaço. Não gostava de ser tocado, não queria receber carinho fisicamente. 

E Jimin sempre o respeitava naquele momento. 

— Mas é difícil, Jimin, você sabe que é... — Soltou de forma embargada, desejando chorar. E sempre que Yoongi estava daquele jeito, querendo derramar lágrimas, o coração de Jimin se escurecia como o céu durante uma tempestade. Era como se os dois estivessem ligados, o coração de Jimin era a nuvem negra e carregada, e os olhos do Min a intensa e triste chuva que caía para lavar o mundo. — Eu não tenho entre as pernas o que os homens vivem gritando que exalava a verdadeira masculinidade!

— E quando eu demonstrei que isso importava para mim? Eu me apaixonei por você, não por um pau! Você não se resume a isso, gênero nenhum se resume ao que há entre as pernas de alguém! — falou um pouco mais alto, irritado pela existência daquele pensamento em si. — Se eu fosse gay apenas porque gosto de pau, então essa sexualidade não iria me representar! Eu não seria assim! Eu sou um garoto gay porque eu gosto de um homem, eu gosto de um homem que é tão homem quanto qualquer outro nesse castelo, ou nesse mundo inteiro! E eu sou seu marido porque te amo! 

Yoongi olhou para o rosto do mais novo, vendo a expressão triste que ele carregava e sentiu-se mal por ter feito o clima entre eles ficar daquele jeito. Logicamente, não era a intenção de Jimin fazer tudo desenrolar daquela forma quando o provocou a cerca de Taehyung. Mas aquelas inseguranças nem estavam devidamente ligadas ao fato do que o Park tinha dito.

— Obrigado... 

— Eu te amo. 

Yoongi soltou uma pequena risadinha. 

— Obrigado de verdade, Jimin. 

— Eu te amo. 

— Bobo demais... — Sorriu tomando um pequeno gole do sangue, sentindo-se mais leve, melhor depois de ouvir as palavras de seu marido. Jimin sempre gostava de frisar aquelas coisas, gostava de deixar claro e repetir ao máximo seus pontos de vista, porque muitas vezes Yoongi ficava tão sufocado na fumaça de sua insegurança, que não enxergava luz alguma. 

Mas, de repente, aparecia Jimin, com sua luminescência própria e sorriso perfeito que lhe conquistava e fazia se sentir bem. Lhe fazia se sentir amado. Não importa onde estivessem, o coração de Jimin sempre seria sua verdadeira casa. Seu lar para buscar conforto e compreensão.

— Já deve ser que horas? Você acha que dá tempo para mais uma rodada? — O Park mordeu o próprio lábio, olhando para seu marido que se esticava e tentava olhar para o relógio em cima da cômoda. — Eu quero muito sentir você dentro de mim de novo...

— Eu tenho que ir trabalhar daqui a quinze minutos na verdade...

E em um piscar de olhos, Jimin jogou a própria taça longe, não se importando se o resto do sangue que ainda restava ali iria sujar alguma coisa. Subiu rapidamente em cima do colo do marido enquanto também jogava a taça dele para longe. Não perdeu tempo em começar a chupar o pescoço branquinho sabendo que agora ele estava mais confortável e iria aceitar bem seus toques. Mesmo até os mais ousados.

— Jimin! Meu Deus! — Tocou logo na cintura fina, apertando suavemente o corpo que tanto amava. — Eu queria me alimentar!

Jimin sorriu se afastando um pouquinho, continuando sentado em cima do colo alheio, jogando-se para trás enquanto deitava no colchão abrindo mais as pernas ao redor do corpo de Yoongi. No mesmo instante em que tomava aquela atitude, um sorriso completamente malicioso nasceu em seus lábios grossos e pintados com o sangue vermelho que bebia a pouco. 

— Se alimenta de mim então... Sei que você gosta... — provocou observando o Min levar a própria mão diretamente ao membro exposto do Park, massageando-o com rapidez antes de avançar no pescoço de Jimin, mordendo-o com força ao começar a beber seu sangue, ouvindo o gemido entregue e manhoso mais delicioso do mundo ecoando pelo quarto.

Sorriu um pouco, afastando as presas da epiderme igualmente gelada, lambendo a pele macia, passando a língua pelos filetes de sangue que iam escorrendo vagarosamente. Ouvia Jimin gemer mais entregue, e então levou dois de seus dedos, indicador e o médio, para o interior do Park, o penetrando com calma. 

— I-isso, isso, amor... — Apertou os ombros magros com força desmedida, deixando suas presas crescerem antes de também morder com força o pescoço do Min, sugando seu sangue enquanto era penetrado lentamente, um vai e vem excitantemente torturante... — Ah... — gemeu com os lábios contra o pescoço alheio, começando a dar leves reboladas.

Yoongi também gemeu.

E sem demorar mais, voltou a também morder o mais novo. 

 

[...]

 

— Isso, assim, assim mesmo, Tannie... — Jeongguk falou de forma infantil, formando um bico nos lábios enquanto pegava a outra pata de Yeontan para cortar as unhas. 

A grande águia não tinha medo de ficar nos ombros de seu dono, de ficar em seu antebraço, ou caminhar por si quando Jeon estava deitado na cama, mas as longas unhas acabavam machucando às vezes o humano que chiava de dor ou resmungava que precisava cortar as garras da bonita ave que ia crescendo de forma saudável. 

Faltavam poucas horas para que Jeongguk fosse viajar e muito tempo iria se passar até que Jeon voltasse e pudesse de fato cortas as unhas de Yeontan. Ele iria, sim, consigo, mas lá, em outro país, não teria tempo para cuidar da higiene de seu animal. 

— Aish, calma, calma, — resmungou, cortando outra unha. Era apenas a ponta, não tirava um grande pedaço até porque temia machucá-lo ou tirar uma das características da águia que eram as garras longas para pegar a própria comida na natureza.

Recebeu uma bicada leve no ombro e então cortou a última unha, deixando o cortador em cima da cômoda. Virou-se para a ave em cima da sua cama e a de Taehyung, Yeontan lhe olhava atento e Jeongguk abriu um grande sorriso, correndo até o animal enquanto o via se jogar para para trás.

A águia gritou como quando fazia ao demonstrar que estava animado e Jeongguk sorriu ainda mais, enrugando seu nariz redondinho e encolhendo os ombros, mostrando todos os seus dentes enquanto ficava por cima do pássaro que abriu suas enormes asas, entrando naquela brincadeira. 

Jeongguk pegou as patas de Yeontan e começou a sacudi-las, como se a águia fosse um bebê. O animal gritou outra vez, ficando de pé segundos antes de se esticar para esfregar sua própria cabeça no rosto do humano, recebendo um carinho suave por toda a envergadura de seu corpo. 

— Eu te amo, Yeontan. — Deslizou a ponta de seu indicador pelo bico, olhando atentamente para o detalhe amarelo que cercava os olhos pequenos do animal.

Deslizou seus dedos pelas penas e com cuidado colocou-o em cima de suas pernas, sorrindo como uma criança que admira seu tão bonito bichinho de estimação. 

Depois de alguns minutos, repentinamente a porta do quarto foi aberta com calma, mostrando a imagem de Taehyung e seus fios de cabelo cinza um pouco mais compridos. Vestia uma blusa de seda roxa escura, levemente folgada por dentro da calça preta de couro apertada, dando uma valorizada imensa nas pernas longas e bonitas. 

Por cima das roupas, uma capa escura estava bem posta em cima dos seus ombros largos, indo até seus joelhos. Sapatos sociais pretos calçavam os pés, o cabelo cinza estava, além de grande, um pouco bagunçado, e haviam diversas jóias enfeitando o pescoço amorenado, os dedos longos e os pulsos finos de Taehyung. 

Diamantes, rubis e esmeraldas faziam parte da lista de pedras preciosas que o Kim mais usava, como naquele momento. 

— Olá, meu amado... — Sorriu de canto, observando Jeongguk sorrir completamente apaixonado. — Como foi o seu dia?

— Bom, e o seu? Ah- 

Jeongguk soltou sem nem esperar, sendo pego de surpreso com a imagem de Yeontan saindo de seu colo enquanto olhava para Taehyung de forma que parecia o querer aniquilar. 

A ave abriu as grandes asas e então mostrou-se desafiante para o Kim uma última vez, levantando voo e saindo do cômodo pela janela segundos depois, demonstrando todo o seu descontentamento com a chegada do vampiro que não gostava e apenas aceitava por ser marido de Jeongguk. 

Yeontan sabia bem que Taehyung não faria nenhum mal para o seu dono, porém, ainda assim, aquilo não significa que a águia gostava do vampiro, ou de qualquer criatura da noite que fosse já que fora perfeitamente treinado a atacar qualquer um que fizesse mal a Jeongguk.

— Ele com certeza é pior que a mãe dele...

Jeongguk soltou uma risadinha, achava fofo o temperamento de Yeontan, e não podia negar que se sentia bem especial pelo fato de que a águia gostava apenas de si, que recebia apenas seus toques. Sentia-se importante e automaticamente temido por estar sempre sobre a guarda dele. 

Taehyung caminhou pelo quarto, como se fosse um Deus da mitologia grega caminhando pelos mortais, desfilando enquanto mostrava toda a beleza que carregava.

— Ah, olha... Já está tudo bem arrumado. — Taehyung comentou sorrindo, referindo-se as malas do marido. Foi retirando a capa escura que Jeongguk viu conter o brasão dos Kim nas costas. Dobrou-a com cuidado antes de colocar em cima da cômoda cujo os produtos e objetos em cima estavam todos bagunçados. O sol já estava perto de nascer e Jeongguk ainda estava acordando. 

Mas para o humano, ao menos tudo tinha valido a pena. 

— Sim, Baekhyun, Somin e Jimin me ajudaram com tudo isso — apontou despretensiosamente para as malas grandes e cheias de seus pertences. Suspirou cansado, jogando-se para trás na cama grande do casal enquanto observava Taehyung retirar os anéis de seus dedos. — Como foi lá? — perguntou referindo-se a reunião que Taehyung tinha ido fazer em Seul. 

Já que o vampiro iria passar um tempo fora queria deixar todas as suas ordens bem claras para as criaturas da noite que iriam ficar encarregadas de supervisionar as coletas dos Bancos de Sangue de Seul.

Jeongguk passou a língua nos lábios, vendo como as costas do vampiro ficavam ainda mais largas naquela blusa de seda, cuja a cor deixava-o ainda mais sedutor. Gostava do cinto de couro segurando a calça, como a própria peça de roupa fazia as curvas de seu marido ficarem mais acentuadas. 

As pernas longas, as nádegas fartas, as costas largas... 

Entendia bem por que Somin achava tão estranho no começo Jeongguk não ter nenhuma atração pelo Kim ou não fazer ao que ela se referia como “sentar logo nele”. 

Agora Jeon conseguia entender bem. Depois do fim de sua insegurança, confusões e receios, seus olhos estavam bem abertos para a imagem belíssima que seu esposo tinha. 

Como o homem ali, parado a poucos metros de si fazia qualquer perna ficar completamente bamba, incluindo logicamente a sua também.

— Bastante monótono... Ouvir e dar ordens tornou-se rotineiro — comentou em um lamento, deixando de manter sua pose completamente dominante ao se virar para encarar o humano que tinha voltado a estar sentado em cima do colchão. As pernas estavam pouco afastadas uma da outra, os braços estavam jogados para trás, sustentando o tronco malhado que havia por debaixo daquela casaco grande que ele vestia.

— São seiscentos anos fazendo isso, uma hora deve cansar mesmo — Jeon não proferiu em um tom revestido completamente em brincadeira, parte de si estava tomando tudo aquilo de forma importante. Jeongguk conseguia ver seriedade em Taehyung ao dizer tal coisa e não iria zombar. 

— Não tens ideia do tanto que desejo tirar pelo menos um mês longe de tudo, quero poder segurar sua mão e ir embora daqui como Jimin faz com Yoongi, te mostrar o mundo, cada coisa magnífica que ele possui — lamentou-se mais um pouco, caminhando até o humano de forma calma, ficando de frente para ele antes de sentar em seu colo. 

O vampiro deixou cada perna sua ao lado do corpo do mais novo e sentiu quando ele ajeitou sua postura, levando as mãos pálidas para o quadril do Kim, sorrindo enquanto os rostos iam ficando mais próximos. 

Jeongguk sentiu seu coração acelerar em cada batida, parecia impossível, muito impossível, mas aconteceu, ele realmente sentiu seu coração realmente acelerar. Não tinha controle, não tinha controle algum sobre seu coração, sobre seu sorriso, sobre todo o sentimento que sentimento que crescia dentro de si. 

Mas era bom. Não tinha mais medo de amar, não pensava nos riscos ou em suas inseguranças. Sabia que Taehyung retribuía ao que sentia e cuidaria bem de si, então permitiu admirar o rosto do Kim, permitiu olhar a pequena pinta na ponta do nariz dele e sorriu ainda mais, focando-se nos lábios rosados, na ponta das presas que ficavam expostas.

Antes tinha tanto medo, mas agora as achavam tão adoráveis. 

E então Jeongguk perdeu-se nos olhos vermelhos, perdeu-se nas rubis que eram aquelas orbes intensas que também lhe fitavam com tanto afeto que fazia Jeongguk sentir-se acolhido, protegido de qualquer mal que houvesse.

— Se bem que o mundo dos outros não se compara ao mundo que só eu tenho... — Taehyung sussurrou de forma calma quando acariciou a bochecha de Jeongguk, deslizando seu polegar frio pela epiderme quente enquanto sorria um pouco mais. Nunca tinha sorrido tanto em sua vida quanto sorria com o mais novo. 

Parecia natural deixar que seus lábios se curvassem daquele jeito. 

Parecia certo fazer tudo lentamente, não se importando com o tempo e aproveitando cada segundo junto com o mais novo.

— Aigoo. — Revirou lentamente os olhos, sentindo como Taehyung agora usava a ponta dos dedos longos para tirar parte do cabelo de seu rosto. Jeon não pensava em cortar, estava gostando de ter o cabelo comprido daquele jeito. — Você está com fome? 

Apertou com um pouco mais de força o quadril do vampiro, deixando ele mais acomodado em seu colo, sorrindo lindamente bem à sua frente. 

— Não muito, mas estou com grandes desejos pelo seu sangue — Taehyung inclinou-se sobre o mais novo, levando seu rosto para o pescoço cheiroso. Jeongguk tinha um ótimo cheiro floral misturado com baunilha por conta dos produtos de beleza que sempre usava. Era bom demais.

— Me diga quando você não está, Tae? — Jeongguk questionou baixinho em meio a um sorriso, os dois rostos mantinham-se bem próximos enquanto o humano observava bem de perto a pele quase dourada do vampiro, vendo cada curva que aquele rosto tinha. Como o conjunto inteiro era belo. Desejava beijá-lo, selar cada pedaço macio e gelado de pele. 

— Oh, Jeonggukie... — Taehyung proferiu roucamente, fazendo Jeon ficar ainda anestesiado com tudo aquilo. Era sempre bom tê-lo assim tão de perto. Eram sempre novos sentimentos que iam florescendo dentro dos dois corpos.

O garoto apertou o quadril da criatura da noite com mais força. Ele não era pesado, era até mais leve do que pensou que seria. Jeongguk passou a língua pelos lábios lentamente, desejando mais do que tudo conseguir beijar aqueles lábios, desejando fechar os olhos e entregar-se para aquele momento, vivendo nele pela eternidade.

— A culpa não é minha se me deixou viciado em seu sangue... — Lambeu o pescoço branquinho, passando a língua por cima das marcas de mordida que já tinham ali. — Valeu muito a pena esperar tanto tempo...

— Valeu? — Jeongguk diminuiu o tom de voz, os dois soando mais provocativos ainda, mergulhando juntos naquele atiçamento. 

— Lógico que sim... — Soprou levemente o pescoço alheio — agora tenho diante de mim a coisa mais deliciosa do mundo. 

Jeongguk soltou uma pequena risada. 

— Está falando do meu sangue, ou de mim de forma completa?

Taehyung virou levemente sua cabeça, fazendo os dois pares de olhos se conectarem, intensamente. Era como se todo o ar do mundo inteiro tivesse sido sugado. 

— De você... Você sempre será a coisa mais deliciosa do mundo...

Jeongguk respirou fundo, sentindo seu coração errar algumas batidas conforme era afetado por aquelas palavras.

— N-nunca me provou completamente, Taehyung — apertou o quadril alheio ainda em seu colo, investindo na provocação que estavam fazendo, uma parte de si querendo que a criatura da noite fizesse alguma coisa em cima de si. O vampiro não sorriu, seu semblante continuava intenso, e repentinamente uma lufada de ar foi solta bem próximo de seu rosto. 

— Ir com muita sede ao pote é idiotice... — O Kim começou a apertar os ombros torneados, deslizando suas mãos pelos braços malhados de Jeongguk, sentindo cada músculo e fibra ali presente, sentindo ele ficar tenso enquanto descontava tudo no quadril do vampiro. — O melhor sempre é... — foi subindo sua mão, deslizando-a até chegar ao peitoral definido — ...saborear tudo devagar...

A voz rouca atingiu em cheio a alma de Jeongguk que apenas arfou baixinho, sentindo Taehyung remexer-se em cima de si, esfregando os dois membros que já estavam começando a mostrar sinais de que a excitação de ambos tinha atingido um ponto alto demais para ser ignorado. 

— Eu posso saborear você então? — Jeongguk sorriu ao fazer a pergunta, desejando mais do que tudo aqueles lábios juntos dos seus, fazendo a deliciosa fusão entre as duas línguas sempre sedentas uma pela outra. 

Taehyung tinha criado um enorme vício em beijar o moreno, em sentir aquela boca pequena de lábios finos junto aos seus. Apreciava em demasia a forma como sempre beijavam-se, como era envolventemente quente e ternamente sensual. 

Gostava de como se entregavam aos ósculos em uma intensidade similar de sentimentos, era sempre bom, até mesmo os primeiros beijos que trocaram, sem muita experiência, com mordidas e batidas desajeitadas de dentes. Cada beijo era perfeito demais. Era como uma estrela nova nascendo no céu. 

Depois de mais de 600 anos observando a escuridão do céu, finalmente estava vendo os brilhos surgindo para lhe entregar a felicidade que um dia sonhou sentir. Luminosas esferas de plasma denunciando que o amor tinha chegado para si. 

Um pequeno paraíso nascendo dentro de seu coração, onde Jeongguk era o centro primordial e tudo que envolvia o garoto eram os detalhes que sempre acompanhavam o cenário perfeito de seu maravilhoso sonho. 

— Agora é a minha vez, meu Jeonggukie... — E no mesmo segundo que as presas de Taehyung cresceram, elas cravaram no pescoço de Jeongguk que soltou um gemido alto, puxando ainda mais o corpo do Kim para que os dois membros cobertos continuassem a se esfregar, aumentando o prazer que estavam sentindo. 

O prazer que sempre sentiam somente um com o outro.

 

África do Sul. 

Savana. 

 

— Estou nervoso...  — Jeongguk confessou de forma baixa, olhando nos olhos de Nakamoto Yuta. O soldado japonês estava bem preparado em frente à porta da carruagem do humano. Seulgi e Somin tinham acabado de sair depois de vestir Jeongguk perfeitamente para entrar no castelo. 

O sol tinha acabado de se pôr e faltavam poucos minutos para que todo o clã Kim fosse a encontro da líder do clã Gazânia. E era aquele ponto que estava fazendo Jeongguk quase arrancar os cabelos devido ao nervosismo que explodia dentro de seu corpo.

Queria vomitar, não sabia o que esperar de tudo aquilo. 

Estaria cercado novamente de criaturas da noite que não conhecia. Mais uma vez não iria saber o que esperar, não iria saber o que dizer. 

Se afundando em ainda mais pensamentos, Jeongguk começou a divagar sobre a possibilidade de todo aquele momento ser completamente diferente caso ele fosse uma criatura da noite também. Caso as presas estivessem em sua boca e os olhos possuíssem o vermelho intenso. 

Perguntava a si mesmo se sua voz iria mudar, se sua forma de pensar seria diferente... Torna-se uma coisa meio morta, meio viva era estranho. Não queria morrer aos 20 anos, não queria ter sua vida tirada para que sua pele ficasse fria e precisasse passar a tomar sangue pela eternidade. 

Sabia que seu futuro iria se estender por muito mais anos, poderia viver até 400, 1000, 3000 anos, nem saberia dizer... Poderia ver coisas que nenhum humano jamais sonhou, poderia ver impérios nascendo e sumindo... Mas também veria pessoas morrendo, pessoas que gostava... Veria seus irmãos perecendo...

Engoliu em seco, querendo vomitar mais uma vez somente por imaginar aquela hipótese. 

E se o clã Gazãnia quisesse conhecer Jeongguk e exigir que ele se transformasse em vampiro? E se não quisessem mais a aliança com os Kim porque Jeongguk era humano? E se uma guerra fosse iniciada bem no momento em que o clã estava sofrendo ataques internos vindo de fontes desconhecidas. 

E se...

— Vai ficar tudo bem, senhor Jeongguk — Yuta falou de repente, calando as preocupações na mente do moreno que o olhou no mesmo segundo. O vampiro caminhou até o mais novo, ousando deslizar um de seus dedos para uma pequenina mecha de cabelo que quase caia nos olhos de Jeon. — Sua fama de conquistar e lidar com vampiros chegou ao Japão, sei que irá demonstrar-se ótimo em fazer qualquer clã gostar de ti. 

O humano abriu a boca e a fechou segundos depois. Observou os olhos do vampiro, observou os fios longos e roxos de seu cabelo. Observou a pele pálida e a postura altamente rígida e inabalável que entrava em um contraste curioso com o sorriso que crescia no canto dos lábios dele. 

Yuta era bonito, muito bonito. 

— Você acha isso? — Jeongguk perguntou levando os olhos para as orbes vermelhas da criatura da noite. Ele era dois centímetros mais baixo que si, tendo um metro e setenta e cinco centímetros de altura. Apesar de que a roupa preta e a bota com salto faziam o vampiro parecer maior, além de dar um aspecto bonito ao homem cujo os olhos nãos desviavam do de Jeongguk. 

O primeiro contato entre eles havia sido rápido, Yuta parecia ser alguém de poucas palavras, e até então, o moreno estava gostando disso. Não queria ocupar sua mente em assuntos com o novo vampiro sendo que suas preocupações estavam inteiramente ligadas ao clã sul africano.

Mas naquele momento o japonês conseguiu silenciar sua mente e Jeongguk agradeceu por isso, e aproveitou para reparar melhor naquele que estava encarregado de protegê-lo.

— Claro que sim. — Soltou calmamente. — Se me permite dizer, senhor, desde que cheguei e estive fazendo sua guarda, observei como se mantém bem focado em seus estudos. Acredito que aplicar esse mesmo foco em uma postura nada vacilante e bem firme, irá fazer qualquer um do clã Gazânia recuar alguns passos caso queiram dar um ataque verbal contra si. O que irá lhe dá brechas para pensar em muitas soluções e situações para o que está por vir...

Jeongguk mordeu o lábio, olhando para baixo enquanto pensava sobre aquilo, observando a calça vinho de seu smoking. A calça, o colete e a jaqueta longa eram de cor vinho em um tom mais fechado. A blusa interna de seda era tão branca quanto as nuvens em um dia ensolarado e a gravata que usava era preta com um broche do brasão dos Kim bem preso a ela. 

Os sapatos sociais foram engraxados três vezes. 

O colar de pérolas negras estava bem preso ao seu pescoço e fazia um belíssimo conjunto com a pulseira de diamantes cujo um única pérola negra estava ao centro. Anéis de safira e turmalina verde estavam em seus dedos.

Argolas de ouro estavam presas aos furos de suas orelhas, sustentando correntes finas que carregavam brilhantes esmeraldas.

Havia carvão ao redor de seus olhos redondos, um leve pó de arroz em suas bochechas cheias e um batom vermelho rubi cobria os lábios finos. 

— Devo vestir uma máscara ao estar com eles então? 

— Seja o senhor mesmo, mas tenha em mente que seu raciocínio deve estar vários passos à frente. 

Jeongguk olhou para o rosto do vampiro por mais alguns segundos. 

— É como um jogo que agora eu finalmente faço parte... — Jeongguk comentou mais para si do que para qualquer outro. Foi um suspiro particular sobre desejos que sempre estiveram latentes em seu corpo. Sempre quis fazer parte de tudo aquilo, lutou para estar onde estava.

Jeongguk mais do que ninguém lutou para ter a informação e parar de ser manipulado. Enfrentou tudo para entender o jogo na qual tinha sido arrastado sem sua vontade, e agora compreendia melhor a partida que estavam jogando a sua volta. 

E já escolheu um lado. 

Jeongguk era um Kim. Lutaria pelos seus, iria enfrentar qualquer um que fosse contra seus aliados porque foram os Kim que estavam lhe dando voz. O passado banhado de verdades sobre a forma suja pela qual entrou no clã nunca seria esquecido por si. 

Foi, sim, vendido e comprado.

Mas o destino pareceu agir com aquele terror para que no final Jeongguk fosse forte o bastante para lidar com muitas coisas. Para conseguir enfrentar sim outros clãs de vampiros pelo mundo. E ele tentaria ao máximo fazer aquilo. 

Iria vencer o jogo que lutou para entrar. 

Formularia suas melhores jogadas e venceria qualquer partida que se iniciasse à sua frente.

Passou a língua pelos lábios de forma calma, pensando sobre o que Yuta tinha acabado de lhe dizer. 

— Obrigado... — Agradeceu em um sussurro assim que respirou fundo mais uma vez, brincando com seus dedos, direcionando sua atenção para as unhas recém cortadas e bem limpas. 

Jeongguk não teve que esperar muito mais, logo uma batida na porta de sua carruagem fez o humano perceber que já estava na hora. Tentou manter em sua mente que seria como foram a Áustria, mas sabia que era diferente. No país europeu ninguém queria conhecê-lo, foram convidados apenas para um casamento, não tinha nenhum tratado a ser resolvido sobre a união dos dois clã. 

E mesmo que se sentisse mais seguro, ainda havia alguns receios em sua mente.

Yuta abriu a porta, saindo da carruagem no mesmo segundo. 

— Senhor Jeongguk, é seu marido que lhe aguarda aqui fora — o vampiro japonês informou e uma grande onda de alívio atingiu o corpo do humano. Teria somente que sair dali e logo estaria nos braços de Taehyung, poderia se aninhar no esposo e sentir-se seguro e protegido mais uma vez.

Jeon levantou-se e se retirou do veículo, paralisando completamente ao ver a imagem do Kim a sua frente. Paralisando ao ver como aquela noite que se iniciava escura como todas as outras carregava um vento frio que soprou levemente os fios cinza de Taehyung, ficou encantando. 

Jeongguk perdeu-se em toda a aparência da criatura da noite.

Observou atentamente a blusa social branca que estava por baixo do colete azul escuro que se findava na cintura de Taehyung em um perfeito V. A costura bem-feita, os detalhes florais cinza feito no tecido azul escuro da peça de roupa, os botões de prata em suas respectivas casas. 

A blusa social branca tinha pequenos e bem discretos babados no peitoral, conseguindo dar um charme mais suave a tudo. A calça preta combinava perfeitamente com a capa escura de couro que os Kim usavam. Um cinto preto sustentava a bainha que guardava a espada colada ao corpo do vampiro. O cabo roxo estava visível, mas a lâmina vermelha não. 

Incontáveis jóias estavam no pescoço, orelha e dedos do vampiro, Jeongguk sabia que uma era diferente da outra, e de nome conhecia poucas.

Botas de couro com um pequeno salto estavam bem engraxadas e calçavam os pés de seu marido e chegavam até o meio de suas canelas. 

Não havia nada nos olhos bem desenhados e não tinha nada sobre a pele perfeita de seu rosto, mas sobre os lábios, um batom rosado permanecia bem pintado pela carne macia da boca que Jeongguk amava beijar.

— Céus, você está tão lindo — a fala rouca da criatura da noite, junto com o sopro gelado do vento fizeram Jeongguk recuperar sua consciência no mesmo instante. 

E antes que o garoto pudesse responder, Taehyung colocou-se à frente dele, cobrindo os ombros bem torneados do mais novo com sua própria capa, não querendo que ele fosse atingido pelo vento. Temia que pegasse um resfriado, ou o clima gelado daquela noite atacasse a alergia de seu esposo.

— O-obrigado... Você também está lindo — e outra vez um mundo particular entre os dois foi criado. A aproximação dos dois corpos criou mais uma parede que fazia que nada de fora os atingisse, que fazia qualquer um próximo a eles ficasse sem jeito, como se estivesse fazendo algo muito de errado apenas por estar ouvindo-os, os observando.

Eram falas tãos íntimas e entregues que nem o tempo se atrevia em se intrometer. O destino ficava quieto por alguns segundos e o mundo observava sem fazer som, morrendo de vergonha e curiosidade por saber até onde toda aquela quantidade avassaladora de sentimentos iria.

Eram dois homens parados um de frente para o outro. 

Eram dois corações entregues. 

Eram dois pares de olhos transbordando em admiração.

— Eu poderia ficar aqui para sempre — Taehyung se aproximou um pouco mais, sentindo a maravilhosa respiração de Jeongguk atingir seu rosto. Perdia-se em como os olhos do mais novo estavam mais acentuados e belos, recebendo um destaque ótimo. 

Como a boca estava tão convidativa pintada daquele jeito...

— Eu quero beijar você... — Foi Jeongguk que soltou a confissão, levando o polegar de seu dedo para a bochecha amorenada do Kim, aplicando um pouquinho de força para puxar o rosto do vampiro para mais perto. — Eu quero — teve sua respiração pausada em nem entendeu o porquê, talvez fosse toda a aura do vampiro estando tão perto de si. Passou a língua rosada pelos próprios lábios pintados de vermelho —, eu quero tanto beijar você...

— Podemos acabar borrando seu batom, amor... — os dois narizes começaram a deslizar um sobre o outros, os olhos de ambos já começavam a ficar pesados, fechando-se sozinhos enquanto uma grande gravidade parecia os puxar um para o outro, colando os dois peitos. 

— Eu não me importo...

Avançou um pouquinho mais, deixando que seus lábios começassem a se esfregar suavemente pela boca alheia. Mas o beijo não se iniciou. 

— Me beija, amor...

Pediu baixinho, ainda esfregando sua boca na dele. 

E sem que nenhum segundo se passasse a mais, os dois começaram a se beijar, entregues demais. A mão que ainda estava na bochecha fria do Kim foi para a parte de trás de sua cabeça, puxando-o ainda mais enquanto enroscava sua língua na dele, arfando e revirando seus olhos ao sentir a palma grande apertar sua cintura.

Moveu sua cabeça para o lado, abrindo um pouco mais a boca para permitir que Taehyung lhe invadisse ainda mais, sugando sua língua enquanto sentia o gosto de pêssego que Jeongguk tinha. 

Arfou mais um pouco, levando sua outra mão para o ombro do vampiro, apertando-o com força ao mesmo tempo que se afastava um pouquinho para tomar ar, mas em menos de dois segundos retomava ao beijo. Taehyung seguia sugando o lábio inferior do mais novo enquanto puxava seu corpo com mais possessão. 

O cheiro delicioso que ele tinha o estava deixando louco. 

Jeon fechou ainda mais os olhos, deixando-os bem apertados enquanto fazia sua língua rodopiar pela boca do Kim, enrolando-a no músculo gelado do vampiro que sempre lhe provocava arrepios demais. Moveu sua boca para o outro lado e arfou, entregando-se mais aquele momento. Sentindo a mão grande lhe apertar com mais vontade. 

Beijar Taehyung era como ler uma poesia todo dia. Era sempre uma novidade e um conforto vindo até si, era gostoso e carinhoso. 

O humano afastou-se um pouquinho, sorrindo apaixonado demais ao abrir seus olhos lentamente e ver o rosto de Taehyung tão perto de si. Ousou um pouco e mordeu o lábio inferior do vampiro, puxando-o lentamente enquanto o ouvia sorrir e apertar com mais força sua cintura, apreciando aquela curva tão sedutora do humano. 

— Essa sua boquinha ficou suja... — O vampiro falou de forma rouca, levando o polegar até os lábios inchados de Jeongguk, deslizando ali enquanto via como estava vermelho devido ao batom, como até a pele ao redor estava manchada, denunciando o que haviam feito. 

Tinha ido até ali para pegar Jeongguk e levá-lo para junto dos membros do clã que haviam ido junto para aquela reunião. Porém, era fácil demais para Taehyung se distrair com o próprio marido e perder a noção do mundo ao redor apenas porque caiu de desejos mais uma vez pelos beijos de seu marido. 

— Ficou? — Jeongguk perguntou sorrindo, sentindo como mesmo que deslizando o polegar pelo seu lábio, Taehyung usava seus outros dedos longos para fazer um carinho no humano. Aquilo era algo que nunca passava despercebido, sempre reparava como o vampiro buscava meios de ser carinhoso, de mostrar que apreciava genuinamente fazer aquilo.

— Ficou... E ainda assim ela continua linda — soltou baixo, deslizando seu polegar por mais alguns instantes, sentindo a respiração do humano fazer um convite mudo para que outro beijo acontecesse. 

E ele aconteceu. 

Parecia tão certo que ocorresse, como se o mundo realmente precisasse que Taehyung e Jeongguk se beijassem. Não haviam mais palavras para descrever aquilo, e se o Kim um dia resolvesse escrever um livro sobre aqueles momentos, não sabia mais o que colocar nas páginas em branco a sua frente. 

Era algo surreal, era como se fosse transportado para outro mundo. 

Era como voltar mais de seiscentos anos atrás e encontrar novamente o Taehyung do passado, era como estar de frente para ele dormindo e sonhando viver um amor tão bom daquela forma, tendo devaneios sobre como seria beijar, como seria o beijo compartilhado com aquele que amava indescritivelmente. 

E ali estava ele. 

Tendo as respostas para seus questionamentos. 

Era tudo um sonho. 

Beijar aquele que amava era flutuar na mais alta nuvem, era rolar pela mais verde grama, era sentir o mais fresco dos ventos e mergulhar no mais profundo oceano... Beijar Jeongguk era viver, era sentir a boca dele compartilhar consigo um sentimento bonito, um sentimento verdadeiro que quase nunca se é encontrado.

Deixou que seus dedos longos se embolassem nos fios compridos do cabelo macio do mais novo, chegando à nuca e puxando-o um pouco mais para poder sentir tudo o que poderia daquele beijo, para poder chupar mais daquela língua, para poder se afogar mais nos sons deliciosos que faziam juntos.

Eram sucções, arfadas, mordidas e troca intensa de saliva que fazia com que os dois não desejassem mais se separar. 

Porém, nem sempre o destino gosta de ficar parado por muito tempo e resolve agir para dar continuidade a tudo o que ainda tinha que ocorrer no mundo. 

— Kim Taehyung! — A voz de Hyuna chegou advertindo os dois —, francamente, eu confiei em você! 

Em questão de segundos Taehyung se afastou do humano, sorrindo travesso enquanto passava seu polegar mais uma vez por aqueles lábios ainda mais inchados. Deu um beijo calmo e suave na testa coberta pelos fios escuros.

Foi transformado com 21 anos, e pela primeira vez em sua vida estava se portando como um garoto que tinha aquela idade, aquela imprudência nas veias. Agia de forma travessa sempre que se deixava dominar pelo o que sentia pelo humano. Agia como nunca agiu antes; um adolescente apaixonado e levemente insensato. 

Virou-se para a vampira que vestia um longo vestido amarelo.

O tecido brilhante chamava bastante atenção. Não havia mangas, o pedaço de pano circulava o pescoço magro e descia apertado cobrindo seus seios até chegar na cintura, onde a saia longa caía lindamente, dando ainda mais formosura para a aparência da vampira sempre elegante. 

Já Yongsun, estava com um vestido mais simples, vermelho sangue justo na parte de seu tronco, no quadril e nas suas coxas. Quando a roupa estava próxima de chegar nos joelhos magros, a parte justa se findava e todo o resto do vestido se consistia em ser feito de renda, aberta e exibindo as pernas bonitas.

O vestido cor de escarlate seria tomara que caia que não fosse pelas mangas de seda que se iniciavam no busto e cercava os ante braços da vampira até chegar às costas dela. 

Heechul incrivelmente era o mais simples ali, trajando um simples e moderno smoking preto cujo o paletó era substituído pelo manto comprido dos Kim. 

— Tudo o que pedimos foi para que trouxesse Jeongguk até nós, mas é claro que você não iria se limitar somente a isso, não é? — Yongsun comentou revirando levemente os olhos, caminhando até o humano enquanto balançava sua cabeça negativamente, deixando os fios rosados de seu cabelo que caíam como cascatas pelas suas costas e busto se mexerem graciosamente.

A vampira colocou-se à frente de Jeongguk, e de forma suave, pegou um batom, começando a passar o objeto pelos lábios rosados de forma paciente e cuidadosa, como se estivesse pintando um quadro que iria para alguma exposição importante. 

— Você ainda arruinou a maquiagem do menino — estalou a língua, estendendo a mão e já recebendo um lenço que Heechul prontamente lhe entregou, como se tivesse lido os pensamentos da mulher.

Ela começou a passar o tecido suavemente ao redor da boca dele, limpando qualquer imperfeição, analisando bem o rosto bochechudo do mais novo. 

— Pronto, está mais lindo do que já é naturalmente... 

E sem dificuldade nenhuma, Jeongguk corou abaixando sua cabeça. 

— O-obrigado...

— Cheguei! — Park Jimin anunciou sua própria entrada mostrando um sorriso largamente estonteante, olhando para todos os vampiros do clã principal que haviam ido à África. 

O smoking rosa bebê caia perfeitamente no corpo baixo de Jimin, o colete no interior era de um rosa vivo, combinando perfeitamente com os fios de cabelo bem arrumados do vampiro que tinha ao redor de seu pescoço, uma gravata preta. 

Os lábios estavam pintados de um rosa discreto, e os olhos estavam levemente esfumados com carvão, deixando o olhar da criatura da noite bem mais destacado com o vermelho vivo de sua irís. 

Diversas jóias estavam espalhadas dos pés a cabeça de Jimin, incluindo ao redor dos dedos cujo as unhas estavam pintadas com um rosa bem chamativo; como ele mesmo havia pedido. 

— Jimin, você está lindo! — Jeongguk soltou animado, abrindo um grande sorriso enquanto se aproximava do Park, deixando seus olhos brilharem enquanto via a gargantilha de diamante que ele tinha, cujo um Y, feito de pérolas, estava no centro de seu pescoço. Observou os lábios fartos se abrindo em um sorriso que com o tempo começou a passar conforto para Jeongguk.

— Você também está lindo demais, meu catarrentinho! — Fechou um pouquinho os olhos ao levar as mãos pequenas para as bochechas cheias do único humano ali, apertando-as. 

— Francamente! Parem de borrar a maquiagem dele! — Yongsun aumentou o tom de voz ao reclamar sobre aquilo, atentando-se ao fato de que Jeongguk estava com o rosto levemente coberto de pó de arroz, o que cobria os cravos, uma espinha na testa e até mesmo a pequena cicatriz que carregava em sua maçã do rosto. 

Para todos os membros do clã aquela era uma reunião importante. Jeongguk era o primeiro humano a fazer parte de um clã de vampiro de forma igualitária, e entrou como membro justamente no maior clã de vampiros do mundo. 

Ele deveria estar perfeito. 

Tudo nele deveria estar passando a impressão de que o garoto era tão intocável quanto um Deus antigo da mitologia grega.

Taehyung soltou um pequeno sorriso, aproximando-se de seu marido ao contornar um dos braços ao redor do corpo dele, puxando-o para mais perto enquanto selava o topo da cabeça cheirosa. Apertou levemente a cintura fina, sorrindo quando viu Somin se aproximar com seu vestido preto brilhante que cobria completamente os braços, a garganta e descia em seu corpo até chegar na metade de suas coxas magras. 

Não havia jóias na mulher, o brilho de seu vestido refletia perfeitamente milhões de estrelas em um céu noturno, e aquilo era o suficiente para chamar atenção, e ainda por cima, combinava com a bota que parecia ser feita do mesmo tecido que a peça de roupa anterior e ia até acima de seus joelhos, sustentando o corpo de um metro e sessenta e três de altura da criatura da noite em 20 centímetros de salto.

— Somin, você também está linda! — Jeongguk elogiou alto, fazendo a mulher sorrir. 

— Acredito que agora podemos ir... — Heechul proferiu de forma baixa —, estou certo? 

— Sim, vamos logo, uma grande escadaria ainda nos aguarda — Hyuna comentou segurando a lateral de seu vestido ao virar seu corpo para o outro lado, começando a caminhar na frente de todos como se estivesse pronta para guiar os outros. 

— Grande escadaria? — Jeongguk perguntou baixinho, olhando para a normalidade com que todos estavam perante àquela fala e depois direcionou suas orbes escuras para seu marido ainda ao seu lado.

— É uma das arquiteturas mais suntuosas que eu já vi... Você irá amar, bebê — selou outra vez o topo da cabeça de Jeongguk, começando a caminhar enquanto permanecia com seu braço segurando o corpo do garoto coberto pela capa do clã que pertencia a Taehyung. 

 

[...]

 

Jeongguk não entendeu muito bem porque as carruagens tinham parado no meio da savana, porquê não os levaram até onde deveriam e porquê ele e os vampiros mais temidos do mundo teriam que andar com os sapatos caros. Mas depois de alguns minutos, Jeongguk entendeu.

Seus olhos nem mesmo conseguiram se atentar ao fato de que dali alguns metros um grande desfiladeiro marcava o ponto final de toda Savana onde estavam.

Os setes continuavam a caminhar calmamente, e só pararam quando estavam de frente para a deslumbrante construção a sua frente. Uma ponte feita completamente de vidro com 10 centímetros de espessura se estendia a partir de onde eles estavam até o grande rochedo que ficava a mais de cem metros de distância.

Todavia a ponte de vidro, cujo as barras na lateral eram feitas de prata pura também carregavam milhares de velas acesas, fazia uma curva pelo rochedo indo até onde Jeongguk não conseguia ver, como se ela não tivesse fim realmente. Aquilo era impressionante. Tudo ao redor deles era a vegetação rasteira e as árvores esparsas que seguiam pelo horizonte apesar da noite impedir que o humano visse perfeitamente a paisagem do território africano.

Os animais noturnos passavam por ali, Jeongguk conseguia ouvir, mas sabia que nenhum deles ousava se aproximar. Vampiros exalavam a morte, eram perigosos e os instintos dos animais ao redor deveriam conseguir sentir aquilo muito bem para os alertar de nem ousar enfrentar as criaturas da noite. 

Aquele era um cenário bem distinto do qual já estava acostumado, na Coreia era fácil chegar ao castelo dos Kim, ficava bem no centro de Gangnam, depois da Estrada de Ferro. Mas somente por ser o lar do clã mais temido do mundo, ninguém nem mesmo se atrevia a chegar perto, ou sequer morar na cidade de Gangnam... Mas ali na África tudo se mostrava ser bem mais diferente. 

Além do castelo do clã ser bem no meio da Savana, a localização era complicada de se achar. Carruagem alguma, por algum motivo, poderiam se aproximar muito daquela ponte, fazendo com que quem quisesse chegar até Zozibini Tunzi, tivesse que caminhar por todo o território, e depois atravessasse a enorme ponte.

— Nós temos que andar mesmo por ali? — Jeongguk perguntou um pouco receoso, olhando levemente para trás, para seu marido que permanecia imóvel, apenas esperando Jeongguk caminhar para que pudesse acompanhá-lo. Era como se o humano estivesse mostrando o lugar para ele.

— Temos, sim... — Taehyung respondeu de forma baixa, rouca, enquanto se colocava ao lado de Jeongguk e abraçava a lateral do corpo do mais baixo, observando junto com ele Hyuna tomar a frente de todos e caminhar sem medo algum pela ponte, fazendo com que o barulho de seus saltos no vidro fossem a única coisa ecoando por ali. 

Era uma visão impressionante, os vampiros mais poderosos do mundo atravessando uma ponte de vidro iluminada por velas cujo o fogo aumentava a impactante imagem, aumentava toda a grandeza que os Kim tinham. Era como se Jeon estivesse vendo uma peça do teatro em Busan, como se tudo aquilo fosse uma cena bem ensaiada para arrancar todo o ar do público. 

Mas era real. 

Estava acontecendo, bem diante de seus olhos tão escuros quanto aquela noite. 

A ponte suspensa acima de todo o desfiladeiro chegava até o rochedo do outro lado. A lua estava brilhante no céu, e o grande satélite, assim como as estrelas, eram espectadores observando os Kim cruzarem todo aquele caminho para enfim estarem diante do clã africano. 

Eram os Kim para atravessar, Jimin, Somin e Yuta que permanecia a alguns metros de distância de todos, os seguindo mesmo sabendo que Jeongguk não precisava de proteção alguma já que Taehyung estava do lado dele. Mas o vampiro japonês cumpria seu papel de ser guarda costas do garoto de forma impecável. 

Jeon respirou fundo e então começou a andar, dando um passo de cada vez por toda a plataforma de vidro, caminhando enquanto mirava tudo ao seu redor, o grande espaço vazio da escuridão que deveria abrigar inúmeros segredos daquele clã. Olhou levemente para baixo, observando o grande breu que parecia desejar sugar tudo para si. 

Engoliu em seco, tentando caminhar de forma tranquila. Olhou para frente, para todo o caminho que ainda tinha para andar. Mordeu o lábio inferior e sentiu o vento soprando contra seu corpo, como se fosse um espírito tentando conectar a si. Se arrepiou, olhando ao redor para poder tentar ver se alguma coisa poderia estar acontecendo em algum lugar. 

Mas seus olhos não eram tão bons quanto o de um vampiro. A visão e audição deles eram muito superiores e Jeongguk estava cercado pelos mais experientes. Até Somin era uma vampira muito habilidosa e o humano conseguiu comprovar aquilo vendo-a treinar. Não tinha como ele reparar em algo ocorrendo ali e os outros não. 

E naquele embalo dos seus pensamentos, rapidamente o moreno foi se atentando ao fato de que não tinha visto uma pessoa sequer que pertencesse ao clã Gazânia. 

E tal coisa era um fato estranho. Não haver um vampiro ali para os acompanhar, ou até mesmo monitorar os passos. Quando foi para o castelo dos Kim pela primeira vez, o próprio Heechul o recebeu, ele fingia ser outra pessoa, sim, mas ele pessoalmente foi lhe receber e mostrou algumas partes do castelo. 

Jeon não era uma ameaça, nem mesmo seu pai chegava a ser uma ameaça para qualquer vampiro, porém ainda assim várias criaturas da noite estavam por ali, observando, atentas ao fato de que qualquer coisa poderia acontecer. 

Mas ali, na África, não havia ninguém. Como se nem valesse a pena o clã mandar alguém para observar os Kim, eles que eram os mais poderosos do mundo e os Gazânia não pareciam ter medo algum. Jeongguk deixou tal fato anotado em sua mente para perguntar a Somin ou Jimin depois o porque daquilo e seguiu caminhando, sentindo a mão firme de seu marido ainda pousada em seu corpo, lhe segurando com cuidado e carinho.

Quando já estavam perto do rochedo e começavam a fazer a curva que a arquitetura da ponte tinha, Jeongguk arregalou seus olhos ao ver que ela continuava seguindo existindo mais à frente, porém a construção agora era ligada a parede de pedra, como se a parte direita da barra não existisse mais e tivesse sido substituída pelo próprio rochedo. 

Jeongguk em nenhum momento tocou em alguma parte das barras de apoio, até porque as inúmeras velas não permitiam aquilo, mas assim que estavam atravessando aquela parte, ousou esticar sua mão e passar pelas pedras escuras e secas. Como se estivesse passando por um corredor e sentindo a parede do seu lado, mas do outro havia um desfiladeiro enorme na qual seria fácil cair e morrer ali. 

Continuou deslizando sua palma ali, sentindo cada detalhe em seus dedos, e era estranho, como se o mundo estivesse conectado de alguma forma. Como se estivesse querendo lhe dizer algo que ainda não compreendia muito bem.

Sem perceber, parou um pouco, deixando seus olhos escuros analisarem cada centímetro daquele esplendor da natureza. Deixou a ponta de seus dedos deslizando por mais um tempo, sentindo uma coisa estranha e familiar vindo dali. 

— O que foi, meu amor? — Taehyung perguntou baixinho ao se aproximar mais do humano, observando a distância que tinha entre eles e os outros. — Está tudo bem? 

— E-eu, eu não sei... — Soltou baixinho, ainda passando suas mãos pela rocha ao dar mais um passo e parar outra vez, tocando em uma pedra estranha. Fez um pouco de força e a mexeu repentinamente, conseguindo-a retirar do lugar, surpreendendo até mesmo o vampiro que, com uma visão melhor que a do garoto, observou atentamente a fresta que Jeon tinha descoberto existir.

Sem medo algum, o humano colocou sua mão ali, como se estivesse sendo controlado por algo estranho, como se já soubesse o que tinha naquele lugar. Enfiou a mão e não sentiu nada ao começar a deslizar seus dedos. Sentiu apenas texturas estranhas que logo fez questão de puxar e trazer para perto de seus olhos. 

Não conseguiu identificar o que era. 

— O que é isso? — Perguntou curioso, não sabendo ao certo o que era o farelo suspeito em suas mãos. 

Taehyung pegou sua palma, e olhou um pouco mais de perto. 

— Isso são restos de flores mortas, Jeongguk... — Respondeu de forma ainda mais baixa, como se também nem entendesse o que aquilo fazia ali. — É estranho.

— Sim...

Jeongguk olhou para sua própria mão e depois deixou que o resto das flores voassem para longe. Seus olhos acabaram mirando mais uma vez naquela fresta que descobriu existir. Queria ver o que mais poderia ter ali, o que mais aquele pequeno espaço escondia. E era tão estranho que algo dentro de si se atraiu para aquele lugar, que seus dedos se deslizaram por aquelas pedras e descobriu algo estranho.

Mas não tinha tempo para aquilo, deveria ir logo acompanhar os outros que Taehyung já observava. Estavam perdendo certo tempo ali, e Jeongguk não queria atrasá-los ainda mais. 

Retirou sua mão que estava prestes a adentrar novamente naquela fresta.

— Vamos? — O Kim perguntou em um murmúrio rouco atraindo toda a atenção do moreno enquanto passava um de seus dedos longos nos fios macios escuros. 

— Vamos, sim... — Balançou a cabeça positivamente e então seguiu caminhando, desistindo da ideia de saber o que mais poderia ter ali dentro.

Seguiram caminhando por mais alguns minutos, conseguindo alcançar Heechul e os outros conforme os passos, que os mais velhos iam dando, foram ficando mais lentos. 

 

[...]

 

Se tinha algo que Jeongguk não esperava encontrar no final daquela ponte era a imagem de uma enorme escadaria que dava direto para o magnífico castelo construído em meio ao rochedo, pelo qual estava passando na lateral, como se um fizesse parte do outro. 

Tochas grandes estavam em cada degrau iluminando o caminho que levava aos grandes portões de onde era a moradia do clã Gazânia. Bandeiras cujo as cores Jeongguk não conseguia identificar balançavam ao vento na ponta de cada torre alta. O moreno abriu os lábios, deixando que as expressões de surpresa em seu rosto fossem as perfeitas representantes do choque.

O castelo era claro, uma arquitetura banhada em tinta com colorações abertas, e era grandiosa, talvez possuindo uma estrutura até maior que o castelo dos Kim localizado em Gangnam.

— Meu Deus... Ta- 

A risada rouca do vampiro foi soprada perto de seu ouvido. 

— Eu sei, eu lhe disse que era uma das arquiteturas mais suntuosas que eu já vi... — Taehyung comentou baixinho, levantando um dos braços e apontando para a torre na ala leste — está vendo como aquela torre parece ter uma parte que aparenta surgir desse rochedo? — Perguntou em um sussurro e viu Jeongguk balançar sua cabeça positivamente, deixando seus lindos olhos focarem na construção estupenda. 

Aproximou-se um pouco mais do ouvido carregando diversos brincos. 

— Parte dela realmente está dentro do rochedo, eles têm uma fortaleza natural ao lado deles, — apontou e foi descendo seu dedo, mostrando ainda mais detalhes de tudo aquilo, deixando o humano mais impressionado, era como se existissem bilhões de detalhes para se apreciar e prestar atenção, e Jeongguk poderia perder uma vida inteira ali apenas para decorar todos. — Tudo está conectado, e sei que iria amar descobrir as passagens secretas que tem aqui também — sorriu ladino, despejando um suave selar na orelha do mais novo, afastando-se segundos depois. 

Jeongguk corou um pouco, enlaçando sua mão na de seu marido que a levantou e beijou delicadamente.

— Jeongguk — Heechul chamou com leveza, fazendo com que o moreno focasse no vampiro líder rapidamente. — Sei que gosta de fazer umas perguntas, e assim que conhecer Zozibini muitas dúvidas podem surgir em sua mente devido as coisas que ela mencionar, mas espere o momento certo para realizar seus questionamentos. Terei prazer em responder todos eles, mas até lá, aguarde um pouco. 

— E, Jeongguk — Yongsun que chamou sua atenção agora, olhando-o com certa seriedade —, tente não demonstrar espanto com a cultura deles. E saiba que estamos entrando no território alheio e devemos obedecer suas ordens. 

O humano franziu as sobrancelhas. 

— Como assim? Achei que vocês fossem mais poderosos...

— Nossa relação com o clã Gazânia não é só aplicada por poder — Heechul explicou com calma —, temos um elo mais forte que tudo isso. 

— Entendi... — Balançou a cabeça positivamente, mesmo que não tivesse compreendido completamente. Começou a olhar para si mesmo, avaliando suas vestes, avaliando sua voz e toda a sua aparência que iria estar de frente para um clã que aparentava ser bastante peculiar aos costumes na qual já estava acostumado. 

— Você está pronto? — Hyuna perguntou baixo, levantando uma de suas sobrancelhas. Jeongguk olhou para a elegância absurda que ela emanava e depois olhou para cada um dos vampiros que estava ali, para os diversos pares de olhos vermelhos que lhe fitavam. 

Jimin, Somin... Todos se perguntando se ele iria mesmo conseguir. 

E Jeon deveria sim conseguir. 

— Estou, sim — respondeu da forma mais firme que conseguiu, mesmo que seu coração acelerado denunciasse para todos que ainda havia insegurança e receios correndo por todo o corpo bonito do único humano junto deles.

Começaram a subir toda a escadaria. 

 

África do Sul. 

Savana. 

Castelo De Ashia.

Domínio de Zozibini Tunzi, Líder do clã Gazânia. 

 

Uma coisa que Jeongguk fazia quando era criança era colecionar moedas; colecionava várias, de muitos países, fantasiando que um dia iria conseguir visitar todos eles. Iria realmente conseguir conhecê-los, iria conhecer outras culturas, povos, línguas, iria sair da bolha em que os coreanos viviam e iria sim se interessar por outras coisas. 

Ansiava por saber, pelo conhecimento. Morreria para ter sabedoria. Morreria para largar a ignorância e se afundar em informação. 

E agora, Jeongguk estava diante de um livro vivo bem aberto à sua frente, tinha cenários e falas para ouvir como se estivesse lendo um registro importante sobre uma cultura abundante em diferenças com relação a sua. 

Em passos calmos, começou a subir os duzentos degraus que compunham a escadaria que levava até o castelo. O vento soprava frio, fazendo o fogo das tochas dançarem uma bonita valsa.

Mordeu o lábio inferior e continuou, ouvindo os passos dos demais ao seu redor. Escutando o barulho dos calçados batendo contra os degraus de granito branco. 

Era algo bonito. Jeongguk caminhava e olhava adiante e se via prestes a entrar em um conto de fadas. Prestes a ser mais um personagem de um livro de fantasia que Jungsu amava que lessem para si. Era incrível, uma sensação que não sabia descrever ao certo porque era diferente. 

Ir para o castelo dos Kim à força pelo seu pai era uma coisa. 

Não iria achar nada bonito lá.

Agora, ir para o castelo dos Gazânia todo arrumado e preparado...

... Era outra realidade. 

Conseguia sentir algumas gotas de suor indo se formando pelo seu corpo, mesmo com o vento gelado soprando avidamente.

Demorou menos do que achou que fosse demorar estar de frente para os grandes portões de ferro pintados de azul como o mar. Jeon até mesmo lembrou-se da Sala Índigo de Namjoon cujo a porta tinha uma aparência similar àquela. 

Todos os vampiros pararam, cada um em uma posição enquanto esperavam o grande portão ser aberto e então algum vampiro do outro clã aparecer. 

E foi exatamente o que aconteceu.

A princípio foi impossível para Jeongguk não arregalar os olhos quando viu a imagem de quatros homens grandemente musculosos aparecendo diante de si. Todos eles usavam saias azuis até seus joelhos feitas de algodão. Era um azul bonito, aberto como o mar sendo tocado pelo sol, refletindo em milhões de espelhos brilhantes o Astro Rei. 

Uma faixa de ferro começava em seus ombros direitos e descia para o peito esquerdo, cobrindo-os até chegar na costela e então fazer a curva. Um cordão de prata estava ao redor dos quatro pescoços e nos pulsos direitos pinturas pontilhadas na cor branca se iniciavam na pele negra, indo até onde começava a faixa de ferro, como se a tinta fizesse parte da pele deles. 

Não havia nada nos pés. 

Grandes tranças estavam presas no alto de suas cabeças, descendo até metade das costas dos quatro homens. 

O olhar era duro, analisavam atentamente cada um dos asiáticos ali presentes. 

— Ons is die Kim clan, het op versoek van Zozibini Tunzi. Ons is hier om ons alliansie bespreek. — Heechul falou com perfeição a língua nativa daquele país. O mais novo olhou rapidamente para Jimin, o vampiro parecia também não saber o que o líder do clã tinha dito, já Taehyung parecia ter compreendido muito bem, o que não surpreendia Jeongguk em nada.

— Falamos a língua universal — o homem cujo o corpo tinha mais músculo que os demais falou de forma áspera, quase não demonstrando nenhum respeito por Heechul. Aquilo foi um grande choque para o humano.

Sua bolha estava sendo estourada. 

Os Kim, os tão temidos vampiros, realmente não eram respeitados ou assustadores em outro lugares quanto eram na Coreia e toda a Ásia?

— Imaginei que sim, mas minha educação sempre me obrigada a fazer o primeiro contato na língua do país em que estou visitando — a fala venenosa saiu de forma doce, quase inocente. — Mas, já que fala minha língua, desejo repetir o fato de que estou aqui para ver Zozibini. Gostaria de levar a mim e ao meu clã até ela, ou deseja fazer sua tão adorável líder me esperar mais? — Levantou uma das sobrancelhas, deixando que suas duas mãos ficassem à frente de seu corpo ao mesmo segundo em que o vento gelado bagunçava os fios brancos de seu cabelo. 

— O garoto Jeon Jeongguk está com vocês? — Um outro homem comentou, avançando em direção ao clã que pareceu não se intimidar nem um pouco, exceto por Jimin e o próprio Jeongguk que quase recuaram um passo. 

— Sim, Jeon Jeongguk está aqui diante de vocês — Heechul deslizou sua mão no ar, apontando para o humano que engoliu em seco. Logicamente os vampiros já deviam ter percebido sua presença ali, era o único humano, mas precisavam de uma confirmação por voz. Precisavam que Kim Heechul dissesse que era mesmo Jeon ali, que se tratava do humano que o clã Gazânia queria ver.

Se alguma mentira fosse revelada futuramente, a palavra do líder dos Kim seria contestada. 

A tensão de tudo aqui quase empurrava Jeongguk para as escadas, quase o fazia rolar todos os degraus que subiu. Era sufocante. 

Os pares de olhos vermelhos focaram-se em si, analisando seu corpo de cima a baixo, e o único movimento que ocorreu de todos que ali estavam reunidos, foi a ação de Taehyung em segurar com força o cabo de sua espada. 

Ele estava diferente. 

O ar de morte estava ainda mais intenso sobre ele. Era como se Taehyung estivesse atuando em alguma peça, mas o moreno sabia que ele estava sendo apenas o que deveria ser: O que o clã precisava que ele fosse e o que ele não temia se tornar para proteger aqueles que amava. 

Taehyung estava com uma aura pesada, pronto para qualquer combate. 

— Cite, por favor, o nome de todos os aqui presentes — o terceiro homem falou, olhando para Heechul atentamente e depois desviando seu olhar para Taehyung, parecia um pouco curioso para a figura do único vampiro armado ali. 

— Kim Heechul líder do clã Kim, Kim Hyuna do clã principal, Kim Yongsun do clã principal, Jeon Jeongguk do clã principal, Park Jimin membro do clã, Jeon Somin membro do clã, Nakamoto Yuta membro-vassalo do clã e guarda costas de Jeongguk, e — a pausa que sempre parecia ser necessária que fosse feita ocorreu — Kim Taehyung do clã principal, o nosso Assassino de Clãs. 

E a postura de todos mudou no mesmo segundo.

Uma coisa parecia ser falar de forma ríspida com Heechul sabendo que o vampiro era levemente submisso a líder daquele clã sul africano, outra coisa era faltar com respeito ou soar desafiante para o homem que havia dizimado clãs inteiros ao longo de sua existência. 

Jeongguk viu como seu marido dava medo nos outros. 

Como Kim Taehyung carregava o ar do pavor e transformava qualquer olho vermelho brilhante em amedrontamento.

— Entrada autorizada — o primeiro homem na qual lhe dirigiu a palavra falou de forma rouca, abrindo espaço para que os membros do clã mais poderoso do mundo passassem, caminhando pelo grande pátio aberto, cercado por gazânias amarelas. 

Perto de uma fonte d’água grande feita de granizo, um leão se espreguiçava, rugindo alto ao esticar suas patas e começar a caminhar para a entrada do castelo, saindo como se fosse o rei de todos os ali presentes. 

— Esse castelo também é um santuário para os animais da Savana, todos são culturalmente parte da realeza desse clã — Somin informou de repente ao pé de seu ouvido, falando baixinho enquanto continuava a caminhar ao lado de todos. — Nunca tente tocar em um. 

Somente balançou a cabeça positivamente para mostrar que havia entendido. 

Atravessaram todo o pátio que lhe dava uma linda visão do céu e pararam diante de uma mulher que usava as mesmas vestimentas que os homens que encontraram minutos atrás, porém não havia fio de cabelo algum em sua cabeça. Os olhos também encontravam-se pintados, de forma vertical com a cor vermelha, começando nas sobrancelhas e o esquerdo se findava na bochecha. O direito descia até o queixo, pescoço e somente se findava no início do seio direito exposto, assim como os homens; somente uma faixa ferro cobria o peito esquerdo para proteger o coração. 

O olhar da mulher era ainda mais duro. 

E igual a Taehyung, ela estava armada.

A vampira olhou para o Kim de fios cinza, comunicando-se com ele silenciosamente, e a criatura da noite de 600 anos pareceu entender. Sacou sua espada, segurando o cabo com maestria ao girar a arma e fincar a ponta da lâmina no chão, exibindo o tipo de espada que ela era. 

— Sou o único armado — contou rouco. 

— Kim Taehyung, suponho. 

— Não terá coragem de me desarmar, suponho — levantou uma das sobrancelhas. 

— Não ousaria — olhou para Jeongguk —, ainda mais com seu marido presente entre nós... — Virou-se novamente para Kim. — A espada fica em sua posse, mas sacá-la estando a menos de cinco metros da senhora Zozibini Tunzi será decretado como ato de guerra. 

— Tens minha palavra. — Guardou a arma na bainha novamente. 

 

[...]

 

O grande salão em que os Kim adentraram conseguia ser maior do que o salão do castelo deles que ficava em Gangnam. Aquela construção fazer parte do rochedo realmente escondia a real grandeza de toda aquela arquitetura. 

O chão era todo feito de mármore travertino, destacando o brilho dos grandes lustres bem limpos que ficavam no teto. 

Pilastras cobertas por tochas estavam bem posicionadas, iluminando todas as pessoas presentes naquele vasto espaço, porém mais localizadas perto das pesadas cortinas azuis escuras que cobriam todas as janelas.

Eram muitas pessoas, todas atentas para os Kim passando pelo centro do salão até chegar a pequena elevação que havia no recinto, onde um trono de pedra estava bem posicionado. 

Todos os homens e mulheres estavam vestido com tecidos coloridos, haviam pinturas em seus braços, rostos, jóias em seus tornozelos, haviam muitos penteados, haviam muitas partes íntimas expostas e todos eram criaturas da noite. Mantos azuis cobriam seus ombros negros, indo até suas coxas enquanto pareciam proteger suas costas, iguais os mantos que os Kim costumavam usar.

Jeongguk não sabia dizer o que o grande uso da cor azul ou as vestes queriam dizer.

Perfeitamente enfileiradas para fazer uma espécie de corredor estavam as mulheres visualmente iguais a que permitiu a entrada de Taehyung com a espada naquele salão. Eram como soldadas.

Havia a faixa de ferro protegendo seus corações, havia a saia azul feita de algodão, haviam as pinturas, haviam os seios direitos a mostra, haviam os olhares sérios e ameaçadores. 

Jeongguk seguiu caminhando enquanto sentia que poderia vomitar seu coração. Sentia todos os olhares escarlates lhe mirarem; o único humano presente em um salão repleto de vampiros. Mas não tinha medo, não temia a morte que poderia lhe atingir a qualquer momento. Jeon somente temia que um fim da aliança entre os dois clãs pudesse ser sua culpa. 

Assim que os Kim estavam de frente para o trono vazio, uma mulher apareceu, colocando-se ao lado do grandioso assento enquanto observava Jeongguk com atenção, deixando seus olhos acerejados analisarem todo o corpo do garoto, que estremeceu. O cabelo dela estava armado, o lábios pintados de preto e o vestido azul que cobria todo o seu corpo deixava claro que o posto que a mulher desconhecida tinha era bem importante.

Mas nada daquilo demonstrava que ela era Zozibini, ela parecia ser jovem, um rosto novo e bonito demais para Jeongguk conseguir descrever. Os lábios grossos se curvaram em um sorriso e os brincos de ouro presos nas orelhas balançaram-se suavemente. Jeongguk esperava que a líder do clã sul africano fosse alguém que poderia carregar a mesma aura forte e intensa de Heechul, alguém com centenas de anos de transformação e experiência demais brilhando em seus olhos. 

— Me chamo Lupita Nyong’o — informou baixo — sou a general da líder do clã Gazânia, e como general, observo que entrou em nosso território portando a única arma que pode matar qualquer vampiro mesmo sem atingi-lo no coração. 

— Sim, é verdade. Aprecio demais as vestes que trajam, mas contra o que possuo é inútil... — Taehyung informou com seriedade, segurando o cabo da espada, deslizando seus dedos por ali calmamente, como se estivesse fazendo carinho em um monstro implacável pronto para atacar todos ali.

— Isso soa ameaçador, não? — Lupita levantou uma das sobrancelhas ao questionar, deixando todas as soldadas atentas para qualquer comando que pudessem receber.

— Isso soa como uma fala honesta sobre o que temos aqui, mas não pretendemos usar contra vocês — Yongsun foi rápida em responder, fazendo com que a vampira com mais melanina em sua pele lhe fitasse com atenção. As duas se conheciam há muito tempo, ambas estrategistas que já estiveram muitas vezes na linha de frente em uma guerra por conta de seus respectivos clãs. 

— Se o uso não irá ocorrer, por que trazer? — A voz serena de outra mulher preencheu o salão enquanto a mesma andava com elegância até o trono de pedra, colocando-se a frente dele. 

Todos no salão se curvaram. 

E Jeongguk ouviu apenas Heechul sussurrar um “você não” enquanto ele mesmo se curvava. 

Todos ajoelharam-se para a belíssima mulher cujo a pele negra continha delicados traços dourados de pintura. A faixa de ferro estava ali, cobrindo o seio esquerdo, e de onde a faixa começava no ombro direito, muitas correntes finas iam escorrendo, cobrindo de forma leviana o seio direito. 

A saia azul de algodão também estava presente e caia até os tornozelos magros, porém não era completamente feita daquela cor primária. Cinquenta por cento da peça era de um azul turquesa lindo, enquanto a outra parte era colorida, como a roupa dos homens e mulheres que estavam naquele salão. 

Os pés descalços, as unhas da mão pintadas de preto, o cabelo curtíssimo tinha uma flor laranja simples presa a ele. Um X estava pintado em sua bochecha direita, uma linha de azul e a outra colorida também. Os olhos vermelhos estavam perfeitamente destacados com carvão ao seu redor, os lábios também estavam com batom preto, fazendo os lábios bem desenhados ficarem mais desejosos.

Ela era linda. 

Era linda demais. 

Jeongguk estava diante da mulher mais linda que já tinha visto em sua vida.

— Trouxe para minha casa a arma mais temida do mundo vampiro e junto dela, o portador mais brutal que já viveu — olhou para Taehyung curvado ao dizer sua fala. — Meu caro Heechul, sabe quantos homens e mulheres vieram até mim apenas porque sabiam que seu soldado estava vindo para cá?

— Peço mil perdões por isso — a fala do vampiro mais poderoso do mundo saiu mais submissa do que Jeongguk esperava ouvir, era como se o grande e poderoso Kim estivesse constrangido verdadeiramente, estivesse pronto para bajular a mulher a todo custo. 

Jeongguk não teve dúvidas. 

Aquela era Zozibini Tunzi, a líder do clã sul africano Gazânia, responsável por sua ida ali. Era a mulher que queria vê-lo. 

— Meu amado Taehyung não iria aceitar ficar na Coreia sabendo que seu marido iria vir aqui sem a supervisão de seus próprios olhos. 

Zozibini cerrou as próprias orbes. 

— Ele parece bem devoto ao compromisso que têm, não é? — Soltou de forma irônica.

Aos poucos alguns vampiros foram mantendo suas posturas anteriores, atentos aos movimentos de seu líder que já parecia se preparar para dizer mais alguma coisa. 

Os olhos vermelhos como sangue lhe fitaram.

— Então é você o tão famoso Jeongguk que fez o clã Kim inteiro se curvar? — A mulher perguntou com um pequeno sorriso no canto de seus lábios. Jeongguk ainda se encontrava paralisado demais com a beleza dela, era algo que parecia surreal, descrito somente em livros e imaginado somente nas mentes mais férteis. 

— S-sou, sim — olhou de soslaio, Taehyung ainda estava curvado. Seu marido estava curvado para a mulher à sua frente e Jeongguk sentia-se desesperado por ter sido ordenado a não fazer o mesmo. Era como se estivesse cometendo um grande erro.

— Ele me lembra Jeonghan, Heechul, — a mulher comentou despreocupada, fazendo com que Jeongguk arregalasse os olhos completamente, sendo pego de surpresa por aquela informação, por aquela fala sendo dita tão calmamente.

— Costumo pensar o mesmo e sempre digo isso para ele...

— Me diga, menino... — a mulher voltou a falar. A voz era sempre tão serena que Jeon suspeitava que caso ela fosse gritar irritada, não iria dar certo. A elegância dela chegava a ser cortante, assim como a postura e o olhar como uma onça pronta para atacar. 

Era uma verdadeira rainha a sua frente. 

Sentia-se preso a presença dela.

— ... O que você tem que fez o clã mais poderoso do mundo ficar de joelhos para ti?

Jeongguk engoliu em seco, não sabia o que responder, não sabia listar naquele momento as qualidade que o clã enxergou em si para lhe escolher daquele jeito. Sua mente virou uma imensa tela em branco.

— Chegue mais perto... — Pediu com elegância, não movendo nenhum músculo sequer que não fossem os lábios. Percebendo o receio do garoto em executar tal coisa, Zozibini cerrou um pouco seus olhos, pousando suas duas mãos a frente de seu corpo enquanto as juntava. — Você é um Kim agora, menino, não deve ter medo ou pedir inconscientemente por permissão. Tem poder em suas mãos e escolhas a fazer em sua mente, tome todos os tipos de atitude que achar necessário e não tenha medo. Sendo humano, o cheiro do pavor fica claro para nós, vampiros, e você precisa mascarar isso. Seja confiante assim como foi ao tornar-se um membro do clã mais poderoso do mundo. 

Jeongguk sentiu sua alma ser capturada pela mulher que falava de forma forte, elegante e maternal de alguma forma.

Queria chorar, chorar por estar vivendo tudo aquilo. Não de forma negativa, estava em choque, ainda em um estado de dormência mental.

— Venha até mim sem medo. Eu não ousaria lhe machucar, criança. 

E engolindo em seco, sabendo que poderia desmaiar, mas a todo custo tentando realizar os conselhos que recebeu, Jeongguk se pôs a caminhar até a vampira poderosa que ficava ainda mais bonita a cada segundo. 

Subiu os dois primeiros degraus e parou, recebendo um olhar ameaçador de Lupita. Não resistiu, olhou para trás, para Taehyung, queria alguma dica do que fazer, mas tudo o que recebeu foi um olhar orgulhoso de seu marido. 

Virou-se de volta para a mulher que era dois centímetros mais alta que si.

— Agora me responda... — Zozibini voltou a falar — o que você tem, Jeongguk?

— E-eu n- 

Limpou a garganta. 

— Eu não sei... — Respondeu baixo, de forma acanhada e aquilo fez com que a vampira caminhasse até si, tocando em uma de suas bochechas com a mão gelada, virando sua cabeça suavemente para o lado e depois para o outro, olhando no fundo de seus olhos enquanto abria um pouco a boca.

— Aqui na África acreditamos no espírito das florestas, acreditamos no propósito da vida, e eu compartilho dessa crença mesmo tendo 1900 anos de criação, tendo visto coisas que você jamais irá sonhar... — Sussurrou passando o polegar pela testa alheia, retirando todos os fios de cabelo comprido que Jeongguk tinha — e em momentos como esse, minha fé se mostra bastante real. 

— C-como assim?

— Você, Jeon Jeongguk, carrega algo dentro de si que foi tirado desse mundo em 1930. Algo tão antigo quanto a existência da Lua Vermelha, tão antigo quanto o líder do seu clã, algo que — pousou a mão fria na direção onde ficava o coração de Jeongguk, sentindo-o bater e sorrindo doce para aquela sensação. Mirou seus olhos em Taehyung, parado e completamente atento a poucos metros de distância — Tinha um amor tão forte quanto o que vejo queimar na irís de seu devoto marido...


Notas Finais


Se você chegou até aqui, muito obrigada <33

Até o próximo capítulo pessoal <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...