1. Spirit Fanfics >
  2. Saudade >
  3. Sobre Minhas Verdades

História Saudade - Sobre Minhas Verdades


Escrita por: Faela2

Notas do Autor


Olá!!!
Que capítulo difícil, nossa! Eu não sei se conseguirão sentir tudo que eu tentei passar.

Estou ansiosa.

Desculpe qualquer erro.
Boa leitura.

Capítulo 10 - Sobre Minhas Verdades


Meus limites são tão facilmente ignorados quanto estou com ela. Minha impulsividade é aflorada e por alguns instantes eu deixo de enxergar o mundo como ele é. Meu conflito interno desapareceu quando eu senti sua apreensão ao deduzir minha partida. Ao me pedir para ficar sem qualquer medo de interpretação. Srta. Swan se mostrou abertamente. Não tentou se esconder como em várias situações. Não acreditou em minha falsa ignorância, não se importou com ela, apenas me pediu para ficar.

Eu não podia negar isso, não consigo nega-la um pedido sequer. Minha necessidade em acolhê-la esteve presente na primeira lágrima.

Necessidade.

Novamente essa palavra que não posso pensar.

Esperar nunca me agradou, nunca me deixou feliz, mas eu a esperaria. Esperaria a noite toda se fosse preciso, sentada naquele café. Esperaria ela se recompor, esperaria seu peito se acalmar pela saudade.

Eu esperaria.

Tenho a impressão que ela procura meus detalhes em cada objeto da sala. Não consigo desviar meu olhar. Fico observando seu encantamento pelas coisas que são minhas, pelas coisas que toco. Eu a trouxe para o lugar em que me sinto segura. Pela segunda vez eu a deixo me enxergar e não sei se entende a importância disso. Estou me mostrando, isso me deixa apavorada, só quero que ela veja.

Se aproxima da parede de vidro e olha uma Boston iluminada e movimentada. Ela passa a ponta do dedo na divisória transparente. No obstáculo que divide a segurança do caos. No lugar que quero que se sinta segura assim como eu me sinto.

Quero que se sente na poltrona em frente a lareira a absorva meus vários pensamentos por várias noites seguidas, todos me levando a ela.

Quero que veja as linhas que criei no tapete bege pelos passos que dei nos momentos em que perdi o controle e me desesperei por não saber o que fazer.

Quero que veja as páginas manchadas pelas lágrimas que deixei em livros nos três meses em que decidi arcar com minhas consequências insuportáveis demais.

Quero que veja os olhos que me encantaram, os sorrisos que me derreteram e a pessoa que me fez ceder.

Quero que veja o que eu sempre vi....Ela.

Tento me aproximar sem assusta-la e a chamo baixo.

— Swan?! - A tirei da fantasia em que ela se encontrava. Apenas sorriu para mim. – Fique à vontade, eu já volto.

Penso no que fazer, no que falar, como me comportar, como me esconder. Estou tão cansada de me esconder. Entro na cozinha e me apoio no balcão procurando esclarecimento para minhas atitudes. Respiro fundo e pego o telefone. Não sei exatamente o que pedir, então sigo um instinto.

Pego minha melhor garrafa de vinho, duas taças, busco coragem em minha respiração pesada e volto para sala.

Ela ainda está buscando algo no lugar em que passei inúmeras horas, simplesmente sentindo o momento. Ela ainda está aproveitando as sensações que a vista lhe proporciona.

Sento no sofá, chamando sua companhia apenas por um nome.

— Emma?! – Quando eu a chamo de Emma, posso ver a onda da minha voz a percorrer e sempre é diferente.

Ela volta para mim e senta. Está menos assustada, mais confortável. Não sei se seu transe escondeu o desconforto ou se apenas se acostumou com minha presença. Sua tensão pela proximidade começa a diminuir e meu controle começa a se perder.

— Você está melhor? – Pergunto a entregando a taça.

— Desculpe por ter pedido para ficar. Imagino que seja uma mulher ocupada e meus problemas não são interessantes para você. – Ela não olha pra mim. Mexe em suas mãos pela ansiedade, vergonha, nervosismo. – Eu só não quero ficar sozinha hoje.

— Meus assuntos podem esperar algumas horas. Hoje, os seus são mais importantes – Deixo meu sorriso mostrar sinceridade. Qualquer coisa pode esperar. – Há quanto tempo não os vê?

Começo o assunto mostrando cumplicidade.

— Há um ano ou um pouco mais.  Eu dei mais importância ao meu trabalho e hoje eu senti uma saudade tão grande deles. Vi pessoas ignorando o que tem e eu só me senti perdida.

— Por que não vai visita-los?

— Tenho medo de não voltar.

— Qual o problema em não voltar?

Eu juro que estou tentando ser imparcial no assunto, mas imaginar tal circunstancia me faz tremer. Pensar em voltar ao meus dias comuns, ao meus monólogos com um copo velho, a minha mesa fria do outro lado da avenida me deixam tensa. Deixar os domingos de leitura às margens de um lago chamado Ted, as conversas silenciosas, as dúvidas, as sensações.

Hoje eu escolho a confusão da dúvida de uma paixão, que a tranquilidade dos meus dias comuns.

— Seu marido não está?

Ela atropelou minha pergunta, sei que está tentando esconder sua resposta. Penso seriamente se devo ou não responder a essa tentativa desesperada em mudar de assunto.

“Não desta vez”

— Qual o problema em não voltar?

Vejo seu sorriso ao perceber meu entendimento em sua estratégia ridícula.

— Gosto daqui, gosto da liberdade da não satisfação, gosto do meu trabalho, gosto da movimentação de uma cidade grande, gosto das possibilidades que o lugar me dá, mesmo eu não as buscando. Gosto dos domingos com uma amiga improvável, gosto de encontrá-la ocasionalmente, gosto das nossas conversas mudas desde o primeiro café. Gosto de desvendar suas expressões raivosas, gosto de olhar para o céu depois de um encontro de dois minutos e pensar no motivo dela ter parado o carro, dela ter se sentado naquele banco. Gosto do mistério que só ela me traz e ela está em Boston, não em Camden. Amo os meus pais, e vou visita-los, mas não voltar significaria deixar tudo isso, não estou pronta.

Único, completamente único a ausência de palavras em mim, o nervosismo adolescente. As palavras me rasgaram e não sei o que dizer, o que responder. Estou em um labirinto de paredes pichadas com frases em resposta a tudo que ouvi. Estou perdida em escolhas e decisões a serem tomadas.

O olhos verdes estão me analisando minuciosamente esperando uma reação, e a única coisa que consigo fazer no momento é respirar.

A campainha toca e minha resposta é atrasada ou esquecida, depende da minha sorte na noite. Sei que não conseguirei a envolver em minhas entrelinhas, ela foi direta demais e espera isso de mim. Tento acreditar em uma memória falha ou em seu arrependimento pela confissão. Minha esperança é alimentada e me sinto covarde por não dizer tudo que me sufoca.

Sua expectativa prende nosso olhar. Não nos movemos um centímetro. Estou paralisada pelo susto, assombro, surpresa, medo ou qualquer termo que nos congela na cena. Que nos acorrenta no sofá.

A campainha insistente grita e desvio olhar. Não posso pensar em um perdedor nessa briga que travamos. Levanto tentando me recompor do furacão em que estava.

Agradeço o pedido entregue e não me lembro sequer o que tem dentro. Não me lembro do passos que dei durante o dia, não me lembro das pessoas que encontrei ou dos lugares que estive. Só consigo ver os verdes me interrogando a espera de uma receptividade sempre vivada, mas nunca demonstrada.

Coloco sobre a tampa de vidro negra da minha mesa vazia. Grande mais para duas pessoas. Vou para cozinha pegar o necessário. Não quero voltar. Quero os silêncios de volta, eles não me aterrorizavam. Quero a distância segura que sempre tivemos, a ilusão que sempre criamos. Agora tudo está real demais.

Perto demais.

Demoro mais que o necessário para colocar a mesa. Me concentro em cada talher, taça, prato, qualquer coisa que desvie meus pensamentos, que me faça esquecer. Volto para sala com meu sorriso falso.

— Espero que goste de comida chinesa.

Em resposta, ela me dá seu sorriso sincero e feliz pela simplicidade do gesto. Comemos entre assuntos de cozinha. Ela me conta seus desastres por tentativas e sua desistência. Conta sua felicidade em encontrar uma cozinheira hábil. Trocamos sorrisos relaxados. O ar fica mais leve.

Voltamos para o sofá próximas demais. Me vejo contando a mulher por quem me apaixonei meu melhores e piores momentos. Casos ganhos, casos perdidos. Minhas frustrações, minhas conquistas.

Tudo.

Ouço risadas gostosas pelas minhas fotos de infância. Ela pede uma foto de Zelena com cabelos desgrenhados, aparelho robusto e olhos pesados. Não consigo me conter e a entrego como um presente.

“Zel vai me matar”

As horas sobem, o nível da garrafa desce e os sapatos são jogados.

Ela me apresenta suas músicas melancólicas. Quando coloca Chopin, tudo muda. Fecha seus olhos e eu vejo o despir de uma pessoa. Vejo todas as emoções serem jogadas pelo chão da sala em uma música.

Srta. Swan não gosta da música, ela sente a música a preencher de uma forma, que tudo aquilo transborda, suas emoções se tornam lágrimas. Seu sorriso contido desloca cada gota e tudo se mistura.

É lindo!

Voltamos para os livros, os filmes, o teatro, os interesses. Estamos atentas a todo e qualquer movimentar, gravando os dados. Todo o sorriso largado é absorvido pela pele arrepiada por um suspirar forte, uma brisa leve. Estamos nos conhecendo com uma intimidade de anos.

As máscaras foram lançadas para o alto. Ela está sendo o que sempre foi, e eu parei de me esconder, parei de mentir. Eu estou deixando meu “eu” transparecer desistindo de tentar. Esqueci minhas preocupações, minhas confusões, meu casamento, meu trabalho. Emma me fez esquecer que existe um mundo do lado de fora do meu apartamento. Me fez esquecer que existem pessoas além dela.

Ela precisa saber. Ela tem o direito de saber que cada palpitação é correspondida. Que minha atenção sempre foi dela. Começo a tremer, minha respiração se descompensa.

“Eu preciso contar.”

Minha seriedade é percebida. Ela se aproxima o máximo de mim, segura minha mão. Isso não ajuda. Sinto seu cheiro perto demais e isso também não ajuda.

Tudo vindo dela piora minha reação.

— O que aconteceu?

Sua preocupação aumenta e eu paro. Paro de tremer, minha respiração perde o ritmo intenso. Olho para um ponto no nada da lareira. Minhas certezas estão claras.

E, de todas as infinitas frases que eu poderia usar, eu escolho a mais importante.

— Eu via você – sua mão se afasta da minha e seus olhos ficam mais claros. – Eu sempre vi você.

Não há som na sala. Ainda posso ouvir minhas palavras ecoando pelo apartamento, ecoando em sua mente cheia de mim.

Todas as perguntas que um dia habitaram sua cabeça, agora estão martelando, debatendo. Continuo.

— Você quer saber?

Sei que entendeu minha pergunta. Assente trêmula.

Ela precisa saber minhas verdades.

— Fiquei curiosa com seus olhos interessados no primeiro dia que entrei na cafeteria. Essa curiosidade me assolou por meses. Continuei a frequentar apenas para entender o que exatamente você via. Com o tempo eu percebi que tentava me enxergar sem palavras e minha curiosidade aumentou. Quando você trocou de turno, eu percebi, eu perguntei sobre você. Não nego que senti falta das conversas que tínhamos, mesmo elas não existindo. – Eu sorri, ela não se mexeu. – Em uma noite, eu te vi indo para casa, eu te vi entrando no prédio – decidi não comentar as inúmeras noites em que a segui. – No dia em que ofereci carona, eu estava aqui, olhando o temporal lavar essas ruas, pensei em você indo para casa. Eu fui atrás de você.

Eu comecei e precisava terminar. Respirei fundo. Emma ainda estava estática.

— No dia do Pub, foi um acaso. Eu não sabia que estaria lá. Eu vi a decepção, te vi quebrar. Eu precisava fazer seu encantamento desaparecer. Não conseguia mais me ver em seus olhos, não aguentava mais ver seu sofrimento por algo que eu não podia alimentar. Então eu decidi te magoar, te forçar a me esquecer. No começo deu certo, depois.... – Senti uma lágrima. - Depois eu senti o peso do que fiz, da dor que provoquei em você e em mim. Eu sempre volto, sempre apareço, porque eu percebi que não consigo ficar longe de você. Eu nunca consegui ficar longe de você.

Sua mão guardou meu rosto, fechei os olhos com o toque de segurança e pude sentir.

Pude sentir sua boca em mim. O beijo calmo. Minha lágrima tímida pela confissão, dá lugar para um rio de descarga emocional. Aquele beijo salgado pela minha brecha estava carregado de tudo que guardei, de tudo que não aguentava mais segurar.

Eu estava finalmente livre de todas as mentiras que carreguei, de todos os olhares falso, as feições mentirosas. Eu estava livre para me mover.

A senti e respirei fundo no meio do beijo pelo alívio, por poder extravasar todo o desejo que sinto. Por poder demonstrar toda a paixão sem medo de magoa-la, sem arrependimento.

Seguro seu rosto, e sinto seu respirar forte pelo toque. Ela não acredita que estou ali, eu não acredito que ela está aqui. Esse é um beijo de cortinas caídas, de receios escondidos. É um beijo de rendição, de fracasso, de entrega. E, tudo que eu quero é continuar assim. Sentindo seus lábios delicados me cedendo.

Sua outra mão vai ao meu rosto, ela me segura com igual medo de uma realidade imaginária. De tudo acabar, de tudo ruir. Busco sua boca pela necessidade em acreditar, ela me mostrar que está ali.

O beijo é quebrado, ela não me solta, eu não a solto. Meu coração está explodindo, minha pele absorve o toque de suas mãos.

Nos olhamos pela primeira vez.


Notas Finais


Estou nervosa. Minha fic é sobre sentir e não sei se consegui fazer isso.
Por favor, me digam o que acharam.
Até a próxima.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...