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História Saudade - Dias sem buscas


Escrita por: Faela2

Notas do Autor


Olha eu aqui!
Tudo bem com vocês?

Pessoas que eu amo, com esse capítulo eu dou início eu meu caminhar para o final.
Quero agradecer ao carinho que recebi no capítulo 19. Eu amei muito escrevê-lo e fiquei muito feliz por terem gostado assim como eu.

Dedico esse capítulo a LostInFantasy. Ela me deixou muito emocionada com sua alegria em conversar comigo. Obrigada por isso.

Desculpe pelos erros.
Boa leitura.

Capítulo 20 - Dias sem buscas


Dirijo para Boston sentindo o sol me aquecer e o vento soprar com carinho meus cabelos. Passo a ponta dos dedos com delicadeza pelo volante esperando me lembrar de sua pele arrepiada. Respiro fundo com a pequena satisfação por ver sua dúvida. A dúvida estava lá me olhando com carinho. Ela tremeu. Eu pude ver seus passos em minha direção e seu recuo pela confusão. É interessante como um nada pode me encher de esperanças.

Minhas três horas de viagem me obrigam a pensar. Me lembro quando Zelena questionava minha felicidade – ou a falta dela. – Hoje eu entendo o que a palavra felicidade significa e quero conquistá-la. Estou cravando minhas unhas pintadas de vermelho nas opções que ainda tenho, me agarrando nas pequenezas que surgem, nas possibilidades remotas ou não. Estou me segurando, caindo e me reerguendo.

“Eu preciso tentar”

Essa frase me vaga desde minha decisão.

Eu entendo e enxergo seu novo relacionamento, mas preciso tentar, preciso continuar, preciso acreditar que suas dúvidas podem me deixar reviver, podem fazê-la balançar.

“Eu preciso acreditar”

Foi tão bom olhar seu jeito atrapalhado, seus óculos pretos, seus cabelos bagunçados. Foi tão bom sentir seu cheiro de vinte dias. Seu sorriso largado, sua voz despreocupada. Foi tão bom ver suas dúvidas existes, seu sentar solitário, seu mar tranquilo.

“Eu preciso sonhar”

“Eu prometo ir embora”

Não sei se foi uma boa promessa. Eu estava tão desesperada por explicar, por contar todas as decisões erradas e acertadas que não pensei nas consequências da cartada. Emma é um pedaço de mim e existe alguém tentando completá-la.

Lily.

Eu não deveria sentir raiva dela. Eu tive uma oportunidade e a desperdicei, mas meu horror em imaginar Emma em seus braços me enfurece. Minha delicadeza com a pele suave do volante e substituída pela irritação do pensamento. Lily a tem e não tenho certeza se o que eu sinto é raiva, ciúme ou inveja. Só sei que não tenho o direito de sentir nenhum deles.

Sou completamente ciente dos limites que não posso ultrapassar, mas....

Irritante!

Agora eu estou voltando para Boston com uma esperança manchada de cabelos ralos.

**********************************************************************

Eu amo Boston. Minha cidade cheia de tudo, preocupações desnecessárias e necessárias demais. Amo o cheiro da correria de um mundo que não olha para o lado. Amo a agitação do vai e vem desordenado. Eu faço parte desse mundo.

Quase me sinto culpada por não avisar a ninguém do meu retorno, quase. Como é maravilhoso voltar a dirigir pelas ruas conhecidas e desconhecidas esperando que pensamentos brotem do nada com soluções mirabolantes. Eu não tenho um problema real para ser resolvido, tenho uma espera para ser conquistada. Uma felicidade para ser alcançada.

Evito sentir medo de não conseguir. Minha persistência em chegar, precisam ultrapassar meu medo de perder. Me concentro no que me faz bem.

Passo horas dirigindo em círculos, quadrados e triângulos. Penso em tudo que pode ou não ser feito. Penso em uma quarta tentativa, penso em esperar Emma absorver minha volta repentina. Foi estranho ver seus olhos assustados. Ela não imaginava minha volta e eu só pensava nisso. Ela não me via aparecendo em sua cidade com a obstinação de um apaixonado, e eu passei um ano pensando nessa paixão. Ela não imaginava ouvir minha voz e eu só pensava em seus olhos. Guardei meu “querer” em um porão escuro e agora ela está sedento pela claridade esverdeada. O acúmulo de reações está agitado dentro de mim a espera de suas ações.

Volto para meu apartamento satisfeita pelas horas de pensamentos soltos e ondulantes. Não consigo me sentir totalmente desmotivada com a volta, encontrar meu espaço sem perguntas de um homem que acredita me ter, é reconfortante.

Sempre que entro no portão gigante do meu prédio, me recordo da primeira vez. Entro no elevador, e seu espelho não mais nos reflete. Pego minhas chaves na bolsa lembrando do semblante surpreso em seus olhos verdes. Acredito que criei uma rotina.

Lembrar das primeiras vezes. Hoje eu só tenho isso. Lembranças.

A porta do elevador se abre e pessoas estão escoradas na porta 1601, acredito que estejam me esperando.

Zelena, Ruby e Killian.

— Por que você só está chegando agora? – Zelena se levanta para me confrontar.

— Como vocês entraram aqui? – Como eles entraram no prédio?

— Eu sou sua irmã, Regina. – Parece óbvio. Zelena sempre ao meu lado tentando me fazer enxergar.

— Eu sou namorada da sua irmã. – Ruby, como eu gosto desse sorriso com mechas vermelhas que encantaram minha ruiva. Das suas palavras e da sua compreensão quando eu estive perdida pela distância. – Estive? – Acho que ainda estou.

— E eu sou bonito. – O ódio e o ciúme que senti do Killian não fazem o menor sentido agora. Suas palavras e seu abraço íntimo me levantam quando desmorono.

Falta

Eu senti falta desse trio que conseguiu me tirar da escuridão já entranhada em mim.

— Como vocês sabiam que eu já estava em Boston? -  Eu sabia a resposta, mas preciso ouvir naquele corredor, eu quero tremer ao ouvir.

— Emma.

Eu tremi. Me escondi em minha seriedade. Eles me conhecem o suficiente para ver. Emma Swan não me trouxe apenas sentidos, ela me trouxe aberturas, conhecedores, ela me trouxe olhos. Me lembro quando apenas eu me conhecia sem vozes. Srta. Swan me mostrou amigos que me enxergam, pessoas que entraram em minha vida e me trouxeram valores.

Ruby tentou ser gentil ao falar esse nome. Sou voz foi quase um sussurro. É bom receber esse tipo de cuidado, mesmo não surtindo qualquer mudança. Sua brutalidade ou leveza me causaria o mesmo efeito. As letras ainda me arrancam suspiros saudosos. Nossa conversa descontraída terminou naquele momento.

Abro a porta e todos entram. Eles já estão familiarizados com meu espaço e eu já estou acostumada com seu preenchimento. Os três se sentam no sofá esperando a explicação de uma contadora de história sentada em uma poltrona. Seus olhos ansiosos mostram a abertura dos seus ouvidos.

Eles esperam sem cobranças, esperam meu tempo, minha preparação.

Eu começo por tentativas fracassadas e termino com a explicação conquistada. Todos ficaram em silêncio ouvindo meus relatos. Ouvindo meu som sair com a saudade que um dia ela sentiu. Hoje a saudade é minha.

Conto sobre namoradas, avós e folhas.

Conto sobre lanchonetes, fugas e revoltas.

Conto sobre lágrimas, desabafos e verdades.

Conto sobre paixões, cafés e promessas.

E termino com Reginas, olhos e incertezas.

Tenho a impressão de ouvir respirações descompensadas ao acabar. Eles estão aliviados por finalmente contar meus motivos, sentem minha apreensão e esses sentimentos se misturam. Acredito que eu tenha arrancado suas palavras com as minhas.

Eu aperto os braços da poltrona com força. Me sinto revivendo aquela explicação difícil e minha ansiedade volta.

Espero todos respirarem e a Srta. Lucas começa.

— Emma me ligou. Disse que você esteve em Camden, disse que contou a ela do assalto, do copo. Eu não sabia dessa história do copo. Por que nunca...

— Ruby!

— Ela ainda gosta de você, Regina. – Como não reagir a essa frase?

— Por que está dizendo isso? – Eu novamente preciso ouvir, preciso ver as palavras no ar chegando até mim.

— Porque ela estava chorando.

 Eu quero sorrir, eu juro que quero sorrir com uma verdade que eu me neguei a acreditar, mas só uma lágrima desce.

“Porque ela estava chorando”

Todos os fatos me puxam para os primeiros, todos os dias são assim. O dia em que entrei com meu ex-marido – estou adorando esse novo termo. Ex-marido. – Eu vi seu coração se quebrar. Hoje ouvindo a frase que deveria me encher de esperança, apenas me amedronta. Não quero suas lágrimas, quero seus sorrisos espontâneos, sua cantoria desafinada, sua felicidade contida, suas histórias concentradas e suas folhas apaixonadas. Quero a simplicidade de um tudo que me encantou.

Ruby se cala esperando minha volta para realidade. Respiro fundo buscando minha concentração perdida.

“É doloroso perder”

Zelena e Killian me observam esperando meu desmoronar para me amparar. Esperando minha desistência sempre quente, sempre fácil, sempre convidativa. Vejo seus braços prontos para me empurrar caso eu ceda aos impulsos com respostas curtas. Eles não me deixarão desistir. Eles viram meus dias escuros e minha claridade demorada.

— Regina...- Ruby pausa. Isso nunca é bom. – Eu e o Killian precisamos ir para Camden. Ela precisa de nós.

Eu já esperava essa decisão, ela precisa deles. Eu só quero que eles cuidem dela.

Culpa

A culpa volta a me assombrar. Sei que sou o motivo do seu desabamento, mais uma vez. Minha capacidade de destruí-la é competente demais, não quero essa eficiência em particular.

Meus atuais pilares me fazem companhia. Eles estão tentando cuidar de mim. Tentam me fazer sorrir. Instigam minha paciência limitada, fazem isso para tentar algo que não conseguirão.

Me fazer esquecer por algumas horas.

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Trabalhar se tornou minha distração. Estava perdida em processos, me atolando em trabalho, tentando esquecer por algumas horas a vida que me coloquei. Estava tentando encontrar a tranquilidade de um dia calmo.

Estava tentando ter dias sem buscas.

Não estou desistindo de tentar, minha felicidade está na Srta. Swan, essa é minha única certeza, só estou medindo meus passos, eles não podem ser dados em dias de desespero. Eu preciso de pensamentos frios e calculados. Chega de atitudes tempestivas e acaloradas. Preciso do meus pensamentos focados, não de uma mente tumultuada.

Os dias se passaram e eu me sinto pronta para voltar a pensar em tentar ou desistir. – Pronta para tentar, eu não posso desistir. - Entrei no prédio ao lado do George’s. Caminhei pelo corredor cheio de pessoas desinteressantes, meu humor ainda está cheio de café puro e eu só quero dias de Cappuccinos de volta. Entrei na sala com o nome Regina Mills gravado e eu senti imediatamente.

Senti meu peito se agitar. Arregalei os olhos pelo assombro que aquele cheiro me trouxe. Penso que a saudade está me trazendo alucinações. Me lembro de suas folhas cheias do meu cheiro. Agora minha sala se perfuma de Emmas. Inebriada pelo odor conhecido, eu vi.

No meu aparador estava um copo com a mesma logo mal desenvolvida. Estava um copo idêntico ao “meu copo”, ao meu amigo e confidente. Ao objeto que ganhou minhas confusões e minhas dúvidas. Ao copo que esteva transbordando Emma.

Tem um copo no meu aparador.

— Rose! - Não posso perder o controle. Minha secretária quase cai da cadeira, se fosse em um dia normal, seria divertido. – Quem entrou na minha sala?

Eu a estou assustando com minha irritação exacerbada. 

— Ninguém, Sra. Mills

“Ninguém”

— Esse copo não pode ter se materializado na minha sala, Rose. Alguém entrou aqui! – Aponto para o copo que está me aterrorizando.

— Sra. Mills, ninguém entrou na sua sala.

Ela parece tão certa. Tão convicta.

Eu pareço uma lunática me alimentando de miragens desejadas. Dou as costas ignorando tudo. Não sei se ela entendeu meu desejo que saísse, ou apenas foi embora por medo.

Sento em minha cadeira vendo papéis bem organizados na minha mesa, vendo meu trabalho de amanhã. Meu hoje acabou antes de começar. Decido não enlouquecer completamente pela coincidência.

Não enlouquecer completamente.

Olho o “outro” copo no mesmo lugar no “meu” e penso nos meses em que tive divagando com ele. Nas confissões que só ele ouviu.

“Não é possível”

Como eu imaginei, meu dia estava terrível e meus olhos buscavam um objeto descartável que me intrigava. Os minutos não passavam e volto a brigar com o tempo e o relógio. Ele estava ali me lembrando das minhas consequências, do meu antigo casamento, de um pub, das minhas escolhas. Ele me lembrava sobre desistir ou tentar.

Aquela rotina chata em lembrar todos os meus passos passados está aqui hoje. Passos que errei.

— Ela te trouxe?

A mania de conversar com um copo voltou com toda força. Andei pela sala olhando aquele objeto. Passei a mão no cabelos.

Definitivamente eu estou enlouquecendo.

— Alguém te trouxe!

Continuo conversando sem receber a resposta que tanto preciso. Eu o pego com medo de vê-lo se dissolver em meus dedos.

Ele é real!

Olho hipnotizada e a lembrança dos seus olhos ao esmagá-lo me doí. 

Ligo para todos e ninguém sabe dela. Ela não está em Boston. Não sei se mentiram para mim, não sei se realmente foi ela. Não sei em que acreditar. Só sei que ele está aqui, me encarando, me lembrando.

Meus dias sem buscas acabaram.

Me canso de buscar explicações, me canso de olhar o que me lembra. Quero só fechar os olhos. Pego minha bolsa e saio sem meias palavras. Só saio deixando meu rastro apressado. Rose nem ao menos perguntas sobre minha fuga antes mesmo do almoço, ela ainda está com medo de explosões enlouquecidas. Passo em frente a cafeteria e olho com esperança que minha loucura em acreditar seja explicada.

Não foi. Emma não está lá.

"Quem levou aquele copo?"

Dessa vez, dirijo direto para meu apartamento. Minha vontade em espairecer está subjugada pela necessidade de resolução. Quero apenas sentar em uma poltrona, olhar uma lareira, pegar o livro de capa preta – já lido mil vezes – e acalmar minhas vontades.

Até mesmo no meio de uma tempestade, seus traços deixados para traz me acalmam.

Sinto vontade de voltar para Camden e gritar.

Hoje a rotina de lembranças que estabeleci está escondida pelo copo fantasma. Só penso nele.

O elevador se abre e meus amigos não estão esparrados me esperando. Me sinto aliviada. Procuro minhas chaves com desespero. Tenho a sensação que preciso das minhas paredes brancas fechando meus sonhos. Meu apartamento se tornou uma redoma de vidro sem uma rosa vermelha dentro. Apenas uma tulipa negra.

Brigo com uma chave e uma fechadura que insistem em não se entender. Finalmente abro a porta e vejo o chão pronto para receber os vários passos que darei. Respiro fundo por ter conseguindo chegar.

Escuto atrás de mim.

— Eu não odeio você.


Notas Finais


Espero que tenham gostado.
Até o próximo.


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