-Estou indo para casa. - Mark tentou esboçar indiferença. Sem sucesso.
-Eu não perguntei isso. - disse o loiro, seriamente.
-Como pode ver, estou sozinho. - o rapaz disse, sarcástico.
-Está sendo sarcástico, garoto? - o tom de sua voz fez Mark ficar com medo encolher os ombros.
-Me desculpe, não foi minha intenção. - Mark disse, com a voz trêmula.
O homem à sua frente carregava a mesma expressão séria e dura, quase inquebrável, em seu rosto.
-Está muito valente para um bailarino... - o mais novo não gostou da forma como o outro falou.
Jackson levantou sua mão e, com seu dedo indicador, percorreu toda a linha do maxilar de Mark. O mesmo paralisou em seu lugar. Suas pernas não seguiam seus comandos e sabia que poderia facilmente cair se tentasse se movimentar, tamanha era a fraqueza que sentia em seus membros inferiores.
Tudo aquilo por causa de um toque?
-Você é sempre assim, garoto? - Jackson parecia rosnar quando falava, de tão trincados que seus dentes estavam.
-C-como assim, n-não consigo entender... - Mark disse, gaguejando vacilante. Não conseguia esconder a forma como o loiro maior o afetava.
-Você é sempre tão submisso assim? - Wang o rondava, como um leão prestes a tragar sua presa.
-Por que está me perguntando isso? O que quer? - Mark disse, alterando seu tom de voz.
-Queria saber se você era como eu imaginava. Agora vá, garoto, senão vai se atrasar para o jantar. - o semblante permanecia inabalável.
Jackson o encarou seriamente e se virou, indo em direção ao teatro. E então, Mark se lembrou de seu pai. Como se tivesse sido cronometrado, o ônibus que ele esperava chegou. O caminho de volta à residência dos Tuan foi recheado de pensamentos e dúvidas.
Ao chegar em casa, viu-se aliviado ao perceber que tinha chegado antes de seu pai. Poderia ficar em paz. Dorine fazia o jantar, mas Mark alegou não estar com fome e subiu para seu quarto rapidamente. Faria de tudo para evitar a adição de mais hematomas em seu corpo, já achava os que tinha suficientes.
E, para Mark, pior que a dor que sentia, eram as lágrimas de sua mãe, que se culpava pelo sofrimento do menor. Acreditava que, se não fosse pelo monstro em forma de marido que ela havia escolhido há anos atrás, seu filho poderia ser feliz.
Mas ela estava atada àquele homem, não poderia fazer nada. Era impedida pelo mesmo de trabalhar e todos os seus familiares próximos já tinham morrido. Estava à mercê de suas vontades.
Deitado em sua cama, com os pés ardendo em dor, não parava de pensar em como aquele homem loiro o confundia. Lembrava de como seus toques o afetaram. O que ele queria dizer com aquelas perguntas? Jackson achava Mark submisso? Por quê? Sabia do tremor que causou em suas pernas com um simples toque em seu maxilar?
Pensando nisso, Tuan chegou à conclusão de que, sim, ele sabia. Era óbvio. E estava tirando proveito daquilo.
Mas ele não voltaria lá, aquilo havia sido um encontro ocasional. Jackson apenas foi fazer uma visita, não o veria novamente. Mark não podia negar que estava carente e sensível, então as ações do mais velho acarretaram sensações em si que não havia sentido antes.
No dia seguinte, colocou uma muda nova de roupas em sua bolsa. Desceu e comeu metade de uma pêra que estava em cima da fruteira e saiu, indo ao ponto de ônibus. Mark rodava os pés, aproveitando os últimos momentos antes de colocar suas sapatilhas pretas.
Algumas pessoas, incluindo Min Hee, já se alongavam e dançavam coisas aleatórias no palco. Mark refez os curativos, colocando as conhecidas sapatilhas pretas. Alongou-se, pernas, braços, pescoço, mãos e, por último, pés. Pôs-se na ponta dos pés, a dor sendo menor do que a do dia anterior. Mark sorriu com isso. Poderia suportar.
O rapaz sentia o olhar do mais velho sobre si e aquilo o incomodava. Gostava do interesse repentino do mais velho a respeito de sua pessoa, mas ao mesmo tempo achava muito estranho.
Tuan dançou passos aleatórios ao som de uma música que somente ele, em sua mente, podia ouvir. Às vezes ele fazia isso, dançava em meio ao silêncio e sorria sozinho. Foi em um desses momentos de alegria que seu pai descobriu que ele queria fazer balé.
Mark parou seus movimentos de repente e olhou para frente, vendo o olhar de Jackson completamente fixo em si, sem ao menos desviar. Ficou envergonhado ao constatar que não havia ninguém ao redor para quem o olhar pudesse ser dirigido. Era realmente com ele.
A professora Zhou se aproximou de seu filho e o cumprimentou com um abraço, que foi retribuído pelo mesmo. Seus músculos eram marcados pela blusa social preta que vestia. Mesmo que o auditório fosse pouco iluminado, Mark percebeu, pelo pouco tempo que se permitiu olhar para ele, que Jackson estava todo de preto. Era contrastante com seu cabelo platinado e o fazia parecer mais rígido do que já aparentava ser.
A professora deu início ao ensaio, passando todas as músicas em sequência. Ao final de tudo, a professora resolveu passar música por música novamente, olhando atentamente para qualquer erro e
gritando ao microfone quando o encontrava, o que não foram poucas vezes.
Os meninos foram liberados mais cedo, mas Mark não queria ir embora. Se sentia feliz ao dançar e sua casa trazia memórias ruins, coisas que ele queria esquecer. O rapaz pediu à professora que o mostrasse um lugar onde ele pudesse ensaiar mais sem atrapalhar o resto do corpo de baile e a senhora sorriu pela dedicação e pela gentileza do jovem.
Zhou guiou Mark à uma sala pequena, mas que julgava ser o suficiente para saciar a necessidade dele, e realmente era. A mais velha saiu, deixando Mark sozinho. O rapaz olhou por toda a sala, guardando cada detalhe que conseguia. Como era pertencente ao Teatro Municipal, era de se esperar que fosse bonita daquele jeito.
Tuan se posicionou ao centro da pequena sala. Começou treinando giros, que era uma de suas maiores dificuldades. Caiu algumas vezes, não conseguiu completar em outras vezes, mas em algumas conseguia, o que o motivava sempre a tentar de novo.
Horas se passaram. Terminou seu ensaio ainda antes das meninas, que estavam com a senhora Wang no palco do auditório. Mark foi ao banheiro para se trocar e ir embora. Passou pelos corredores, que estavam vazios e entrou no banheiro, também vazio. Trocou suas calças e, ainda sem camisa, olhou para seu reflexo no espelho, novamente para seus hematomas. A lembrança dos maus tratos sempre estariam lá para lhe assombrar.
-Anda se metendo em brigas, garoto? - a voz grave que soava atrás de si fez Mark se assustar por um momento.
-Isso não é de sua conta. - ativou, inconscientemente, seu modo de defesa. A expressão séria do loiro ainda se fazia presente, mas seu tom de voz continha sarcasmo, o que confundiu Mark.
-Você não me parece do tipo que briga. Você sabe... bailarino... - deixou a frase solta no ar.
-O que você quer comigo? - disse o mais novo, colocando sua camisa.
-Você me deixou curioso, agora me respnda: por que tantas marcas?
-Isso é um assunto particular, por favor, não insista. - Mark tentava reunir todo o seu senso para não ser rude com o loiro.
-Um garoto delicado como você não pode ter brigado com alguém, não é mesmo? - o tom sarcástico voltou a predominar sobre a voz grave do loiro. Voltou a rondá-lo, como havia feito no dia anterior; parecia querer guardar em sua memória cada pedaço do corpo menor.
-Se isso é o que acha... - o menor deixou a frase no ar.
Mark prendeu a respiração ao sentir a aproximação repentina de Jackson. Suas mãos pararam em sua cintura, imobilizando-o. Eram gélidas comparadas ao corpo do pequeno Tuan, quente pela dança e pela adrenalina que corria por suas veias. Mark conseguia sentir sua temperatura, mesmo por cima do tecido de sua blusa.
-Não precisa tremer, garoto, não vou fazer nada. - seu tom de voz era jocoso, mas nenhuma mudança ocorreu em seu rosto.
-S-se n-não vai fazer nada, então m-me solte. - Tuan gaguejou. Estava, realmente tremendo.
Não sabia o que aconteceria a seguir e aquilo deixava Mark aflito. Estava tendo uma mistura de sensações causadas pela apreensão e por seus hormônios incontroláveis. Sentia medo de Jackson, mas ao mesmo gostava de seu toque. Ele era lindo, mas o interesse no mais velho por si era completamente infundado.
Jackson aproximou os dois corpos. Mark, que antes tentava se soltar - contra a vontade de 10% de sua mente -, agora estava estático. A respiração quente do mais velho contra a pele exposta de seu pescoço fez sua pele arrepiar de imediato. Logo, Mark sentiu a ponta do nariz de Jackson passar pela pele. O mais novo não sabia o que fazer.
-E se eu te disser que não quero te soltar, o que você vai fazer? - o loiro disse, quase num sussurro, fazendo menor, sensível como estava, suspirar.
-Eu não poderia fazer nada, você me prendeu aqui. - Mark o sentiu rir contra sua pele.
"Então ele sabe rir...", pensou o menor.
-Ah, Tuan... - pela primeira vez, Jackson chamou a Mark pelo nome, mesmo que não fosse pelo primeiro. - você é melhor do que eu imaginava.
Jackson se afastou do corpo de Mark, o deixando ali, atônito, enquanto destrancava a porta e saía.
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