História Scars Of Talent - Chapter Nine

No dia seguinte, Mark acordou tarde. Não possuía mais compromissos com a companhia de Zhou Wang, então apenas voltaria ao Teatro Municipal para receber seu pagamento pelos meses investidos naquele espetáculo. Teria que encarar Jackson uma última vez, afinal era ele quem efetuava o pagamento do corpo de baile e dos outros funcionários.

Sorriu involuntariamente ao lembrar-se do loiro. Queria saber o que se passou na mente dele ao vê-lo dançar. Mark, sem dúvidas, sabia que aquela apresentação havia sido a melhor de sua vida e queria saber o que Jackson havia sentido ao assistir. Queria que o mais velho ficasse admirado, até mesmo orgulhoso dele.

Balançou a cabeça rapidamente, tentando afastar os pensamentos sobre Jackson. Arrumou-se e saiu de casa pela porta dos fundos, pois sabia que, naquele horário, o pai estaria na sala. Caminhou até o ponto de ônibus pensando na oferta do homem misterioso que, aparentemente, se chamava Im Jaebum.

Quando desceu em frente ao Teatro Municipal de Hong Kong, suspirou. Mark sabia que seriam raras as oportunidades de voltar àquele lugar, para ele, mágico. O lugar que guardava lembranças, em sua maioria, boas. Respirou fundo e entrou no edifício, se dirigindo ao auditório. A visão que Mark tinha era diferente da que ele estava acostumado a ter todos os dias. Ao invés de bailarinos com sapatilhas de ponta, curativos e roupas que facilitam o movimento do corpo, estava vendo pessoas comuns, vestidas em roupas comuns. Ao invés de ver bailarinos começando o alongamento, viu pessoas comuns aglomeradas ao redor de uma mesa. Ao invés de Jackson Wang estar sentado no auditório quieto e impassivo, estava no meio daquelas pessoas. A única coisa familiar era o topete loiro, sempre impecável em seu lugar, e a roupa totalmente preta.

O mais velho parecia extremamente concentrado no que fazia, organizando os envelopes com os pagamentos daquelas pessoas. Mark decidiu esperar que aquela multidão fosse embora. A desculpa que tinha dado para si mesmo era de que não gostava de aglomerações - o que não era mentira -, mas seu subconsciente esperava que Jackson falasse com ele. Esperava que o loiro comentasse sobre seu desempenho na noite anterior. 

Depois que quase todas as pessoas foram embora, Mark dirigiu-se ao último lugar do que agora era uma fila. Observava a repetição feita pelo loiro mais velho, sempre perguntando o nome da pessoa, sem dignar-se a olhá-la nos olhos. Depois procurava o nome da pessoa e o entregava, sem se quer fazer questão de saber quem estava recebendo. À medida em que sua vez se aproximava, Mark se sentia agitado. A expectativa aumentava e estava ansioso para saber se Jackson faria como fez com todos os outros ou se, pelo menos, o encararia.

-Nome? - ouviu a voz grave do loiro e soube que não teria volta.

-Mark Tuan. - disse, com o tom de voz mais firme e desinteressado que conseguiu.

-Olá, garoto. - o mais novo conteve-se para não sorrir quando o Wang levantou o olhar, o encarando com o envelope de seu pagamento em mãos.

-Pode me entregar? - Mark disse calmo, estendendo sua mão.

-Claro que posso, mas com uma condição. - um sorriso brincou nos lábios de Jackson por um instante - Quero um beijo.

-Não faz assim... - o mais novo choramingou - só me entregue isso, Wang, por favor. - insistiu, ainda com a mão estendida.

-Você ouviu minha condição, garoto. - Mark suspirou, recolhendo sua mão.

-Por que insiste nisso de me beijar? Sabe que não podemos. - Jackson deu a volta na mesa, parando em frente ao menor.

-Porque eu preciso ter você, mesmo que seja por um mísero instante. - as pernas de Mark vacilaram por um momento ao ouvir aquela frase, mas ele logo se lembrou de todas as coisas que o impediam de entregar-se àquilo.

-Mas você já tem uma pessoa, não está satisfeito? - o mais novo disse, em tom baixo.

-Se eu estivesse satisfeito, eu não iria querer outra pessoa. - o loiro sorriu de lado, se aproximando de Mark.

-Pois terá que direcionar seu desejo à outra pessoa, pois não iremos mais nos ver. - à medida em que o maior se aproximava, o Tuan se afastava.

-Como pode ter tanta certeza? - Jackson o encarava do mesmo jeito que na noite anterior: estava o desafiando.

-Um homem me procurou ontem e me fez uma proposta de emprego. Vou trabalhar com ele. - o pequeno sorriso que Jackson trazia em seu rosto sumiu completamente.

-E quem seria este homem? - Wang disse, com sua dureza costumeira.

-Pra que eu te diria? Faça o que é melhor, finja que eu nunca existi. Eu vou fazer o mesmo. - Mark disse, puxando o envelope das mãos do mais velho e se virando pra ir embora.

Mas a mão firme de Jackson Wang segurando em seu braço o impediu de dar sequer um passo.

-Acha que eu não tentei te esquecer? Acha que eu tentei não reparar em você e em tudo o que fazia nesses meses todos? - o tom de voz que o Wang usava era baixo, mas a irritação era nítida. - Quando eu estava em casa, te imaginava dançando pra mim. Quando eu ia dormir, lembrava dos nossos beijos e de como você entregava aos meus toques. - Jackson puxou Mark para perto de si, colando seus corpos - Então, não me diga para esquecer.

Mark estava trêmulo. Pasmo, diante de tudo o que tinha acabado de ouvir. Não esperava a confissão repentina de Jackson e sentia que poderia cair a qualquer momento, pois suas pernas pareciam ter perdido a firmeza. Então, respirou fundo. Não poderia perder sua chance de ser um bailarino de sucesso por um relacionamento que estava fadado ao fracasso. Não poderia e não iria.

-Jackson, eu... sinto muito. - Mark tentou se afastar, mas a mão do mais velho permanecia firme no seu propósito de mantê-lo ali.

-Pelo menos me diga com quem vai trabalhar... - Wang tentou, uma última vez.

-Im Jaebum. - ouvir aquele nome fez o maior entrar em estado de alerta.

-Im Jaebum? Logo ele? - Jackson estava visivelmente nervoso e Mark estava começando a ficar assustado.

-S-sim, por quê? - o menor se encolhia cada vez mais, com medo do que a reação do mais velho desencadearia.

-Você não pode trabalhar com ele. - o maior disse simplesmente, deixando o bailarino indignado.

-E quem você acha que é pra me dizer o que eu devo fazer? - o mais novo tentou se afastar e, novamente, não obteve êxito.

-Estou falando isso pro seu bem, garoto. - Jackson continuava encarando o rapaz à sua frente com sua típica expressão séria.

-E eu agradeço por isso, agora faça o favor de me soltar, eu tenho que ir. - Mark devolvia o olhar sério ao mais velho.

-Antes de eu te soltar, você pegou o envelope, então creio que tenha concordado com a minha condição. - e Jackson o beijou.

Mark estava surpreso com a atitude do mais velho. Estava confuso com tudo o que ele disse e fez, mas ainda mais confuso por causa do interesse que o mesmo demonstrava por ele. Mas nada disso o impediu de corresponder ao beijo.

Por mais que quisesse, não conseguia resistir. Não sabia o que era, mas algo no beijo de Jackson o deixava completamente enebriado e entregue a ele. Não sabia se era o modo como as mãos dele apertavam sua cintura ou se eram os pequenos arfares que ele deixava escapar durante o beijo. Não sabia se era o modo inesperadamente calmo que ele beijava ou se era o entrelaçar dos dedos alheios em seus cabelos. Só sabia que aquilo era incrivelmente bom e irresistível.

Ao se separarem, Mark foi atingido pela sensação de falta. O contato do corpo alheio ao seu lhe faria falta, mas ele estava decidido em relação ao que queria.

-Encare isso como uma despedida, ok? - o mais novo dizia, enquanto se afastava.

-Eu não vou desistir, Mark. - o bailarino sorriu ao ouvir o loiro chamá-lo pelo nome.

Mark Tuan nada respondeu. Apenas virou-se e saiu, querendo deixar para trás as lembranças e possíveis sentimentos relacionados a Jackson Wang.