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História Scorpions - Lâmina


Escrita por: MymiAriel

Capítulo 5 - Lâmina


Por Thiago

Mesmo do outro lado da sala o seu olhar às vezes encontrava com o meu. Ela conversava animada com a Daisy e o Pietro, e fiquei feliz por ela estar conseguindo se enturmar com a equipe, apesar de parecer ter receio disso em alguns momentos. A Urquiza parecia ser alguém retraída, fechada em seus próprios pensamentos, mas tinha algo errado, não parecia ser algo dela, e seus breves momentos totalmente livre mostravam isso, antes dela se fechar novamente.

Ela estava apoiada no braço de uma das poltronas, equilibrava a embalagem da comida chinesa em uma das mãos enquanto ria de algo dito pelo Pietro. Seu sorriso leve trazia com ele uma parte da Ana Urquiza de verdade, e devolvia por um breve segundo o brilho dos seus olhos. Foi apenas pensar no seu olhar que ele desviou até mim do outro lado da sala.

Seu sorriso não se desfez, apenas se transformou em algo novo, completamente hipnotizador. Meu cérebro não estava ligando para o fato de registrar o que se passava em volta, mas meu ritmo cardíaco deu uma leve escorregada. E eu estava preocupado com o que isso significava. Um barulho em uma das telas da Pixie chamou nossa atenção atraindo nosso olhar para a imagem no Guillermo ainda na cela do porão, dessa vez acordado e gritando insultos para a câmera de segurança.

Pietro: Ninguém merece – olhou sem paciência para a imagem – A gente não pode nem jantar em paz?

Luan: Quanto tempo ele vai ficar por aqui? – disse não ligando para o comentário do Pietro.

Thiago: Só até conseguirmos alguma resposta – deixei o resto do jantar sob a mesa de equipamentos – Vou ter uma conversa com ele, talvez facilite as coisas.

Daisy: O Guillermo? Acho difícil.

Ana: Vai precisar de ajuda?

Thiago: Por agora não – me dirigi até a porta da sala – A primeira conversa é mais pra decidir se ele vai preferir cooperar ou vamos ter que obriga-lo. Talvez ele coopere sem nem ao menos perceber. Fiquem de olho na cidade por enquanto.

Eles concordaram enquanto eu me dirigia até o elevador. Pressionei o botão que levava até o porão e logo as portas se fecharam. Uma música de discoteca começou a tocar de fundo, me fazendo revirar os olhos e lembrar de nunca mais deixar o Pietro ficar entediado ao ponto de fazer uma playlist exclusiva para o elevador. Quando entrei no porão as luzes automáticas do amplo corredor se acenderam, quatro celas fechadas dividiam uma parte do lugar. O interior das celas tinham paredes acolchoadas brancas e uma pequena cama, mas a única forma de ter uma visão lá de dentro era pela pequena janela na porta.

Me aproximei dando uma leve batida na porta de metal, chamando a atenção do Guillermo. Ele estava sentado na cama, mas logo que me viu praticamente voou até a porta com violência, apesar de seu rosto não transparecer nenhum resquício de raiva ou preocupação.

Guillermo: Quanto tempo pretende me deixar aqui?

Thiago: É só me falar o que eu quero saber e eu te solto daqui – me escorei na porta.

Guillermo: Vai me deixar ir?

Thiago: Claro, direto para a cela no departamento de polícia e depois um passeio até a penitenciária da cidade – ele deixou um sorriso escapar.

Guillermo: Você com certeza não sabe fazer negociações.

Thiago: Não vim fazer negociações – foi minha vez de deixar escapar um sorriso sarcástico – Você vai me contar o que eu quero saber.

Guillermo: Ou...?

Thiago: Não tem ‘ou’. Você vai contar o que eu quero saber, e é só – seu rosto continuava sem expressar reações, ele sabia o que fazer – Pode começar me falando sobre o Marcos Golden.

Guillermo: Vocês devem conhecer o Golden, não são da Scorpions? Vocês se viram sozinhos, não precisam de ajuda minha – falou dando as costas e se afastando da porta.

Ele conhecia a agência. Quantas vezes cruzamos o caminho do Guillermo sem perceber? E quanto ele sabia? Deixei isso de lado pelo o momento, ele estava usando isso para que eu me distraísse do que realmente vim fazer. Mas diferente do que ele esperava não demonstrei nenhuma reação a sua fala, e prossegui.

Thiago: É claro que conhecemos o Golden, assim como conhecemos você. Guillermo Prince, o capacho do Marcos Golden – ele parou no meio da cela – Estou certo?

Ego. Uma das coisas mais frágeis dos traficantes que buscam reconhecimento no seu meio, e se eu estava certo o Guillermo não gostava nada do seu nome ser ofuscado pelo Golden. Apesar de ter o seu próprio negócio no córrego da corrupção, todos sabiam que o Prince não passava das sombras do rei do império.

Thiago: Sabe como chegamos até você? – ele continuava de costas – O antigo prédio do Vincent – ele olhou para porta, agora com uma leve expressão confusa – Ah, não sabia? Achei que soubesse das transações bancárias em seu nome salvas nos arquivos do lugar.

Guillermo: Eu não tenho nada haver com aquilo.

Thiago: Mas o Marcos Golden diz que sim – estava começando a chegar onde eu queria – E não pensou duas vezes antes de levar a trilha até o seu nome.

Guillermo: Aquele desgraçado – sussurrou.

Thiago: Não pode culpa-lo por ser mais esperto do que você – me olhou com raiva – Você quer ter um império, mas não tem forçar para sustentar um sozinho, por isso tá sempre as sombras dele.

Guillermo: Você está errado – voltou a se aproximar da porta a passos rápidos – Sem mim o Golden está acabado.

Thiago: Você não parece ser alguém importante para ele. Só passa de alguém descartável, porque acha que está aqui? Se nunca mais ver a luz do sol ninguém se importará com isso.

Guillermo: Vocês realmente não sabem de tudo – seus olhos estavam vidrados – Quem você acha que é o responsável pela maior parte dos servidos do Golden? Quem cuida dos contatos, quem mantém o contato do sistema itinerante – minha mente ficou em alerta – Sem mim tudo desmorona.

Thiago: Em outras palavras você é o secretário dele. Ou o capacho – ele bateu forte na porta novamente.

Guillermo: Eu.não.sou.capcho.de.ninguém – falou entre dentes.

Thiago: Se você diz – fui o mais sarcástico possível – Obrigado pela ajuda Prince.

Dei duas batidinhas na porta antes de me afastar em direção ao elevador. Ouvi o Guillermo protestar e falar algumas coisas em relação a nos arrepender por deixa-lo preso, mas deixei que sua voz desaparecesse assim que as portas do elevador se fecharam novamente. E a droga da música de discoteca voltou. Quando cheguei na sala todos estavam mais sérios, diferentes de quando saí, tinham escutado a conversa e sabiam que tinha trabalho a ser feito.

Thiago: Pixie, quero que busque a maior quantidade de dados que conseguir sobre o Prince. Todas as atividades dele nos últimos meses, algumas podem terem sido realizadas para o Golden.

Pixie: Certo – ela empurrou a cadeira de escritório até a frente do seu computador.

Thiago: Pietro e Daisy, vão para as ruas e busquem informações sobre as últimas aparições do Golden, talvez podemos ligar isso a algo que o Guillermo tenha realizado.

Os dois concordaram antes de levantar e começar a se preparar. A Pixie já digitava freneticamente, fazendo downloads de dados e rodando alguns softwares. Olhei para o Luan e a Urquiza que estavam atentos esperando as próximas ordens.

Thiago: Ouviram o Prince falar sobre de um tal de ‘sistema itinerante’? – os dois concordaram – Iremos trabalhar nisso nos próximos dias.

Luan: Não acha que é só mais uma transação comercial realizada entre o Golden e outro traficante?

Ana: É algo importante – ela alternou o olhar entre nós dois – É algo grande para o Guillermo se vangloriar de ser o responsável por manter.

Thiago: E então é algo que iremos investigar.

Luan: Uma dica por onde começar?

Thiago: Por algo que nos trouxe até aqui – olhei para a Pixie no computador – Pixie, ainda temos os arquivos que pegamos no prédio do Vicent?

Pixie: É claro – respondeu sem desviar os olhos da tela – Vocês quase morreram por aquilo, como eu iria jogar fora?

Thiago: Quero que transfira para nós três, junto com os arquivos das nossas últimas missões – voltei a olhar para a Urquiza e o Luan – Também precisamos descobrir porque e como o Guillermo tem conhecimento do nome Scorpions.

.....

Eram muitas informações. A Pixie tinha transferido os arquivos para os notebooks e estávamos na sala do segundo andar lendo a maior quantidade de informação possível, e tentando não deixar nada escapar. Poderíamos passar tudo por mais alguns softwares, mas não sabíamos ao certo o que procurávamos, o que tornava mais complicado. Com o passar da madrugada o pessoal foi passando as informações que tinham conseguido, a maioria becos sem saída. Sabíamos que isso demoraria.

Continuei lendo aqueles arquivos na tela do computador, os olhos já doloridos. Em algum momento o Luan falou sobre precisar de um descanso, e ele e a Pixie foram embora. A Daisy e o Pietro tinham ido algumas horas antes.

Levantei o olhar da tela do notebook e olhei para o sofá menor na sala. A Urquiza tinha prendido os cabelos em um coque, e tirado suas botas dos pés se sentindo mais confortável. Suas pernas estavam jogadas sobre o sofá, e o notebook em seu colo, enquanto sua cabeça pendia um pouco para o lado, escorando-se no encosto do sofá. Sua respiração profunda denunciou o seu cochilo em meio a leitura dos arquivos.

Um pequeno sorriso surgiu no meu rosto. Ela parecia leve, pensei em deixa-la dormir por mais um tempo, mas na posição em que ela estava acabaria ficando com dor nas costas. Fechei o meu notebook decidindo que estava bom por hoje, depois continuaria a leitura e busca. Levantei do sofá deixando o notebook na mesinha de centro e me dirigindo até o outro sofá. Parecia errado acorda-la, mas me aproximei mesmo assim tocando o seu braço e a chamando. Não foi necessário muito, pois ao primeiro toque a Urquiza quase pulou do sofá acordando assustada e por pouco não derrubando o computador.

Thiago: Ei, tudo bem – falei dando alguns passos para trás enquanto ela respirava fundo – Só fui tentar te acordar para não acabar com o pescoço dolorido – ela pareceu refletir até sua testa franzir completamente atordoada com o sono.

Ana: Me assustou Thiago! – sua voz carregava um leve tom de raiva e dor, eu quase sorri ao ouvi-la falar meu nome, mas então percebi que talvez não fosse o momento – Kunst – se corrigiu – Desculpa. Eu preciso mesmo dormir.

Thiago: Ah, tudo bem. Já encerramos por hoje – ela olhou para o meu notebook desligado – O pessoal já foi para casa descansar um pouco e colocar a cabeça no lugar, e algo me diz que você precisar dormir – ela apenas balançou a cabeça concordando enquanto lutava com o sono – Quer carona até em casa? – ela me olhou por um momento enquanto pensava.

Ana: Não precisa, mas obrigada – levantou do sofá pegando as botas e deixando o notebook ali – Eu gosto de ver as estrelas no caminho até casa.

Thiago: Está quase amanhecendo.

Ana: O sol também é uma estrela – me olhou deixando o canto dos lábios puxarem um pequeno sorriso, um pouco mais calma – Vou ficar bem – disse calçando as botas e parecia tentar convencer a si mesma das suas palavras – Até mais Kunst.

Me direcionou um aceno de cabeça como despedida e seguiu pelo corredor que levava até o quartos e as escadas. Aos poucos sua figura se perdeu no corredor e eu me peguei encarando o vazio, e desejando que ela realmente ficasse bem, mesmo não entendendo.

Por Ana

Não consegui voltar a dormir. O sol já estava alto lá fora e o meu corpo exausto, mas minha mente se negava a parar e deixar o sono chegar. Talvez fosse o medo dos sonhos, ou até mesmo o medo de acordar. Respirei fundo virando para o outro lado da cama, as cortinas estavam fechadas deixando o quarto escuro, mas lá fora o barulho da cidade dizia que a vida estava seguindo.

Deitei de barriga para cima e encarei o teto tentando pensar em outras coisas. E como um imã meus pensamentos se direcionaram rapidamente para uma pessoa, mas porque ele? Lembrei de hoje na agência e como ele estava sendo uma pessoa legal, e como eu sempre acabo estragando tudo. Afundei mais na cama deixando o edredom cobrir minha cabeça, como se assim a sensação de estragar tudo fosse passar. É estranho como às vezes sinto que com a presença dele eu esqueço por um momento de tudo e consigo sorrir sem me esconder. Mas então os muros sempre se fecham e eu recuo. É como se eu estivesse entre quatro paredes, e enxergasse por uma brecha o seu olhar que transmite tanta confiança, mas até que ponto eu posso confiar em Thiago Kunst? Eu mal o conheço.

Olhei para o relógio na mesinha de cabeceira, quase onze da manhã e nem uma hora se quer de sono. Me arrastei para fora da cama tendo em mente que se não dava para dormir era melhor viver, mas eu não estava com a mínima vontade de sair do meu apartamento em pleno sábado. Fui até a cozinha procurando algo para comer, mas acabei desistindo ao perceber que ainda não tinha passado no mercado. Me vi sem muitas coisas para se fazer ali, caminhei até a varanda ainda de pijama e me escorei no parapeito sentindo o sol bater em meu rosto.

Ainda me sentia deslocada em meio aquela cidade, na verdade acho que me sentiria assim em qualquer lugar que eu fosse. Entrei novamente no apartamento a tempo de ouvir o meu celular tocando em cima da bancada da cozinha. Eu não reconhecia o número, mas ao atender uma voz conhecida ressoou.

Pixie: Ana, oi! – disse animada.

Ana: Oh, oi Pixie! – caminhei até o sofá para sentar.

Pixie: Tem alguma coisa para fazer agora de tarde? – ela parecia estar na rua devido ao barulho de fundo – Estamos marcando para almoçarmos todos juntos.

E um sábado tedioso foi preenchido com um convite para almoçar. Todos iriam se reunir na casa do Kunst, e pela forma normal que a Pixie falou pareceu que eles possuem essa tendência de saírem todos juntos fora do trabalho. Perto de uma da tarde eu peguei um táxi até o endereço que me passaram, ele parou em frente a um prédio cinza em meio a cidade. O porteiro já esperava a minha chegada e me deixou subir. Hesitei por um instante antes de bater na madeira da porta preta, segundos depois ela foi aberta pelo Kunst.

Thiago: Oi Urquiza – sorriu enquanto dava passagem.

Ana: Oi Kunst.

Eu já o tinha encontrado fora da agência antes, e a sensação era a mesma, que ele era alguém comum. O Kunst conseguia passear entre os dois mundos de uma maneira graciosa, mas ainda era o mesmo olhar e o sorriso doce nos lábios. Passei pela a porta tendo a visão da sala ampla do seu apartamento, tudo entre tons de preto e cinza, com alguns detalhes em branco. Não tinha tanta de coração, mas era tudo muito bem organizado, refletindo o perfil de alguém que tinha uma vida também organizada. Na parede de fundo um grande janelão de vidro se estendia, e por estarmos em um andar alto uma bela vista da cidade preenchia a visão.

Daisy: Ana! – ela chamou alegre por me ver.

Ela estava sentada na ponta do imenso sofá preto, e na outra ponta a Pixie estava sentada com os pés sobre o acento e concentrada em algo no seu celular, o que parecia ser algum jogo. Jogado em um puff branco estava o Parker, tão concentrado quanto a Pixie. Me aproximei enquanto o Kunst fechava a porta.

Ana: Oi – a cumprimentei sorrindo e olhei para os outros dois.

Daisy: Nem liga para isso, estão em mais algum dos jogos deles – ela revirou os olhos – Quando começam a jogar parecem que nada mais existem. Você se acostuma.

Ana: Acho que dá pra acostumar – ri – Oi Pixie, Parker.

Pixie: Oi Ana! – cumprimentou sem desviar os olhos da tela.

Luan: Oi Ana! – repetiu – Urquiza!

Thiago: Assim que terminar essa partida teremos os dois de volta.

Ana: E quanto tempo isso dura?

Daisy: Às vezes dias.

Ouvi um barulho de metal batendo vindo do cômodo do lado, imaginei que fosse o Benedetto e isso se confirmou segundo depois que ele passou pela porta na esquerda da sala.

Pietro: A comida está quase pronta – ele usava roupas coloridas e vinha com um pano de prato pendurado no ombro – Oi Urquiza! Pode ficar a vontade – ele se jogou no espaço vago do sofá – Mi casa, su casa. Ou melhor, casa do Thiago, su casa – segurei a risada enquanto me sentava na poltrona livre.

Thiago: Apesar da brincadeira do Pietro, pode ficar a vontade – ele olhou para mim sorrindo antes de apoiar no braço do sofá.

Pietro: Eu não estava brincando.

Thiago: Com certeza não, às vezes esqueço que essa casa é minha.

Pietro: Até parece que ficamos grudados em você vinte quatro horas por dia.

Thiago: Só não ficam porque chega um momento que tenho que expulsa-los daqui.

Daisy: Isso é verdade, e às vezes o Pietro pode ser o mais grudento – ela riu enquanto o Pietro fazia uma careta – Mas ele cozinha bem, por isso o mantemos por perto.

Pietro: Bom saber que é isso que pensam de mim! – falou com falso tom de magoa – Mas fazer o que é se vocês amam minha companhia?

Thiago: Nem um pouco exibido – revirou os olhos.

Pietro: Esse é o meu charme.

Daisy: Tá bom conquistador – falou zombando – Por que não veio com a Karina?

Pietro: Ela tá no trabalho, nem sempre nossos horários batem – isso pareceu ser algo que o incomoda – Mas como hoje é sábado, e eu não estou escalado para esse fim de semana, iremos sair para jantar – falou feliz.

Thiago: Olha que eu posso mudar a escala.

Pietro: Você não faria isso! Tenha um pouco de dó pela vida amorosa alheia – levou a mão ao peito aumentando o drama.

Daisy: Ele sabe que se mudar a Karina vai ficar brava com ele – ela disse rindo e olhando para o Kunst.

Fiquei tentada a perguntar quem era a Karina, é lógico que alguém com quem o Benedetto mantém um relacionamento, mas não erámos próximos o suficiente para que eu perguntasse isso. Imaginei que talvez fosse alguém de outra equipe e os dois tentavam manter um relacionamento em meio a tudo isso.

Pietro: Pelo menos isso – ele levantou o sofá – Vou dá uma olhada na comida, pode me ajudar com as travessas Daisy?

Ela assentiu e os dois foram para a cozinha, enquanto o Benedetto falava em voz alta sobre como eu iria adorar a comida preparada por ele. O Parker e a Pixie ainda jogavam, então praticamente tinha sobrado apenas o Kunst e eu.

Thiago: Não liga muito para o drama do Pietro, juro que ele é uma pessoa legal.

Ana: O quanto eu posso acreditar nisso?

Thiago: Uns 75%, talvez 78% - disse brincando e me fazendo rir.

Na porta da cozinha a Durant perguntou para o Kunst sobre uma travessa que ela não estava achando, eles tiveram uma breve conversa antes dele levantar e ir ajuda-los com isso lá na cozinha. Eu ia me oferecer para ajudar também, mas sabia o quanto não poderia fornecer tanta ajuda nesse quesito. Se quiser esconder um corpo pode me chamar, mas se quiser um jantar, ou qualquer coisa comestível preparada na cozinha, eu irei oferecer um ovo frito ou panqueca, as únicas duas coisas que sei fazer.

Enquanto eles estavam na cozinha eu me aproximei da grande janela, ela ocupava praticamente a parede toda, a não ser pela espécie de banco acolchoados que se estendia pela a parede permitindo sentar para apreciar a vista. Eu continuei em pé, olhando para a cidade lá em baixo e imaginando como todos seguiam suas vidas sem ter conhecimento do que os cerca. Um tempo depois o Thiago voltou para a sala, se aproximou e parou ao meu lado também olhando lá para fora. Eu queria perguntar se ele também tinha essa sensação, de ser responsável por aqueles que ainda possuíam um pouco de inocência e acreditam que tudo o que estava ao alcance dos seus olhos era verdadeiro. Que existe apenas o bem. Minha mente continuou vagando por esse caminho, até que atrás de nós dois a Pixie e o Parker soltaram um som de exaltação e em seguida:

Pixie: Você não é nem louco de pegar essa espada, Luan!

Segundos depois.

Luan: O que? Não, não! Isso não é justo! – ele pareceu desesperado – Para de correr atrás de mim Pixie!

Escutei a risada do Thiago acompanhar a minha e voltamos a olhar lá para fora. A presença dele ao meu lado não me incomodava, e o estranho era que por algum motivo minha mente registrava como algo bom, me fazendo perguntar onde estava o lado que me mandaria correr.

Thiago: Não conseguiu voltar a dormir? – sua voz soou calma, e ele desviou o olhar para mim.

Ana: Como...? – olhei para ele, ia perguntar como ele sabia disso, mas não foi necessário.

Thiago: Seus olhos – respondeu como se fosse algo simples – Estão cansados – abaixei o olhar por um momento – Olha, se quiser conversar...

Ele não conseguiu finalizar a frase, e nem eu consegui formular uma resposta. E nesse exato segundo outras duas coisas aconteceram. O Pietro e a Daisy apareceram anunciando que a comida estava pronta e um alarme alto tocou no celular da Pixie e em seguia no aparelho de cada um de nós.

Pixie: Droga!

Era o alarme de segurança da base, algo estava acontecendo e todos tinham noção que teria relação com o Prince que estava preso no porão. A atmosfera do lugar mudou totalmente, expressões felizes foram substituídas pela seriedade da situação. Todos começaram a se movimentar sabendo que tinha trabalho a ser feito.

Thiago: O foco é a base, sigam todos para lá – falou pegando uma pistola no aparador da sala.

Descemos todos de elevador e a impaciência me fez pensar que seria melhor descer as escadas correndo. Já na garagem o Thiago deu ordens claras para um lado da equipe seguir para a entrada da garagem da base e outra a porta da frente. Cada um saiu correndo em direção aos seus carros, estava pronta para seguir atrás deles quando senti a mão do Kunst segurar o meu pulso.

Thiago: Por aqui – ele me indicou outra parte do estacionamento – Vamos chegar mais rápido.

Uma moto preta estava parada do outro lado, o capacete pendurado no guidom e eu não tive tempo o suficiente para pensar enquanto o modo agente estava ativo gritando no meu cérebro. O Kunst subiu na moto e me estendeu o capacete, no automático e no calor do momento eu o peguei e subi na moto logo em seguida. Foi questão de segundos para me perguntar o que eu estava fazendo. O Kunst deu partida na moto e eu me vi tendo que segurar na sua cintura para não cair. Agradeci por ele não poder ver o meu rosto, porque pude sentir minhas bochechas queimando.

Ele acelerou cortando os carros em meio a pista, e minha mente divagava entre o fato da base estar exposta, os carros passando a nossa volta, o fato de quase sentir a pele da barriga do Kunst através do tecido fino da sua camisa, e até mesmo o fato que o vento jogava o perfume dele em minha direção. Entrei em um leve desespero. Se eu pedisse para ele parar e eu disser que seguiria andando iria ser estranho demais?

Momentos atrás eu tinha pensado sobre como o fato do Kunst estar por perto não me incomodava... Mas não tão perto assim! O pior era não entender em que ponto eu não gostava disso, minha mente estava uma confusão grande demais para entender, então foquei no que tínhamos de fazer agora.

Ele parou a moto em frente a base, desci rapidamente tirando o capacete. Eu ainda sentia minhas bochechas quentes, se o Kunst reparou disfarçou bem, o que eu agradeci imensamente. A Pixie ainda não tinha chegado, os carros estavam a caminho, mas avançamos mesmo assim. A primeira porta estava aberta, mas segunda trancada. A fechadura eletrônica parecia intacta, mas não lia a digital do Kunst e nem a minha. Estávamos trancados do lado de fora, e talvez isso significasse que ainda tinha alguém lá dentro.

O Kunst tentou digitar alguns códigos de segurança, mas todos davam negados. Olhei para a fechadura por um momento e lembrei de algo que aprendi muito tempo atrás, falei para o Kunst que tentaria algo. Olhei para a caixinha e ela não era diferente do modelo de anos atrás. Puxei a parte da frente onde tinha o leitor digital, abriu como uma caixa normal, mas conectada com alguns fios.

Thiago: O que vai tentar?

Ana: Uma técnica antiga – sussurrei.

Olhei para aqueles fios buscando o correto, se eu bem me lembrava era o azul que ligava ao comando da plaquinha registrada ali, h12. E lá estava ele.

Ana: Se der certo se prepare – olhei para ele – O sistema caí por três segundos, a porta abre e depois volta a se fechar – ele apenas concordou sem fazer nenhuma pergunta.

Puxei o fio torcendo para estar certa, e eu estava. A porta abriu e nós pulamos para dentro, e em seguia a ouvimos bater novamente se fechando. E então estávamos presos ali, e não estávamos sozinhos.

Seguimos o pequeno corredor que levava até o vão das escadas e do elevador. O Thiago foi na frente com a arma em punho, e sabíamos que talvez não déssemos conta disso com só uma arma. Eu não estava naquela base há muito tempo, mas mesmo assim me deu raiva ao ver tudo bagunçado e o Guillermo parado ao lado do computador enquanto um homem mexia na maquina e mais três buscavam algo entre os equipamentos na sala. O Prince estava de costas, mas percebeu nossa aproximação.

Guillermo: Eu disse que eu sairia – então virou lentamente para nós dois.

Thiago: Tenho a impressão que você ainda está preso.

Guillermo: Olha bem Kunst – os homens ao seu lado entraram em alerta – Não sou eu que estou preso.

Então eles começaram a atirar, me joguei para o lado me escondendo atrás da parede da porta e nos primeiros degraus da escada, o Kunst foi para o outro lado. Mas tinham mais pessoas ali, e o som dos tiros chamaram a atenção. Ouvi os passos na escada antes de vê-los, traziam armas ao punho e o Kunst atirou na direção das escadas fazendo eles recuarem e me dando tempo de sair dali voltando para o corredor de entrada, e em seguida ele fez o mesmo.

Olhei para as gavetas embutidas na parede do outro lado do vão, era arriscado ir até lá, mas talvez encontrasse algo que ajudasse. Olhei para o Kunst e antes que decidíssemos o que fazer o que fazer a porta de entrada abriu, e dessa vez de verdade. A Pixie entrou mexendo em um tablet e com uma expressão de raiva.

Pixie: Mexeram em todo o sistema – até parecia que ela pouco se importava com o som dos tiros atrás de nós.

Thiago: O restante da equipe?

Pixie: Entrando pela garagem.

Assim que ela disse isso o som dos tiros cessaram, e outros começaram. Avançamos rápido até a sala, onde os dois caras da escada já tinham se juntado ao restante dos capangas do Guillermo. Eles estavam concentrados em se esconderem das balas vindas da cozinha, onde o restante da equipe estava.

Aproveitamos que estavam com foco no outro cômodo e investimos neles. Bati com força o cotovelo na nuca de um deles, ele se inclinou para frente com o impacto, e ao se virar dei um chute em sua mão jogando a arma para longe. Ele teve dois segundos para pensar o que faria em seguida, mas antes disso puxei o seu braço fazendo pressão do pulso e o torcendo para trás do seu corpo. Seus joelhos penderam e ele caiu de joelhos, mas antes que eu pudesse deixa-lo desacordado senti um chute forte nas costas que me fiz cair.

Foi então que percebi que a falta de sono estava me atrapalhando, minha mente estava há mil, mas meu corpo cansado. Envolta a briga já tinha se tornado corpo a corpo, vi a Pixie desferindo um golpe na base da coluna do seu oponente e em seguida batendo com tudo no seu rosto com o tablet. Todos estavam ocupados, e o que mais chamou atenção foi o fato do Guillermo não estar mais ali.

Um dos capangas avançou até mim, ainda no chão levantei rapidamente e dei uma rasteira o derrubando. O segundo veio em minha direção, ele sacou uma faca pequena da cintura e então avançou. Olhei rapidamente para o segundo que antes estava no chão, ele já se recuperava e antes que viesse até mim o Benedetto interviu.

Consegui me concentrar no que estava a minha frente agora, ele parecia ter um bom treinamento com facas, mas eu conseguia desviar da lamina. Em seu primeiro erro de combate atingiu um chute em sua barriga e sem seguida no seu rosto, ele se curvou para a frente, bastou mais um empurrãozinho para ele cair no chão. Pressionei sua mão pisando em cima dela o fazendo soltar a faca, pensei que já tivesse acabado, mas ele usou o golpe de mais cedo contra mim.

Seus pés deslizaram pelo chão e eu não percebi o que estava para acontecer, cai no chão e logo senti o seu soco atingir o meu rosto. Queria acabar logo com isso, eu era menor do que ele, então conseguia me movimentar mais facilmente. No soco seguinte que ele tentou desferir eu me arrastei para o lado e a sua mão atingiu o chão, pulei sobre ele e nós dois acabamos caindo. Envolvi minhas pernas em seu pescoço tentando deixa-lo desacordado. Mas suas mãos estavam livres, e a faca devia estar por perto, pois senti ela deslizar pela minha perna em um corte rápido.

Era um corte superficial, mas que queimou me deixando com raiva e desorientada por um momento. E logo senti meu sangue fervendo, ele conseguiu se soltar, estava em pé ao meu lado, achei que iria avançar novamente, mas ele apenas fugiu, assim como outros que eu só percebi depois.

A sala estava uma bagunça, alguns corpos estavam caídos, mas eram poucos, eu sabia que tinham mais pessoas aqui quando chegamos. As coisas estavam se acalmando, vi o Kunst deixar o último cara desacordado e então a sala caiu em um silêncio. Eu ainda estava no chão, mas levantei logo, o que não foi uma boa ideia, pois senti meu estomago se revirando.

A equipe começou a olhar o estrago que tinha sido feito, vi o Parker se aproximar apoiado na Pixie, talvez tivesse torcido o pé. Alguns estavam machucados, mas nada grave, mesmo assim o Kunst se certificava se estava tudo bem.

Eu no momento só queria voltar para a minha cama, meu corpo estava tão pesado. E estranhamente ainda sentia como se o meu sangue estivesse fervendo, olhei para a equipe e fui tentar me aproximar para ajuda-los com algo, mas no primeiro passo senti como se meu corpo pesasse mil quilos. É, eu precisava da minha cama e de um bom cochilo.

Minha mente estava confusa, e minha garganta seca. Tentei levar minhas mãos ao rosto, mas elas tremiam e minha visão ficava turva. Então vi a pequena lamina ainda no chão, machada de vermelho com o meu sangue. Droga.

Thiago: Ana?

Olhei para ele ao ouvir o meu nome, seus olhos estavam preocupados e ele se aproximou rápido. Antes que eu pudesse falar o que tinha acontecido minha visão escureceu completamente, e senti o meu corpo tombar em direção ao chão... 



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