História Second Chance - Durante: Problemas

"Get a long with the voices inside of my head
And you think I'm crazy, yeah, you think I'm crazy"

Há pessoas que insistem em dizer que já viajaram no tempo, seja visitando o passado ou o futuro. Piscam seus cílios e olham fixamente para os olhos de alguém encantado enquanto contam os absurdos que testemunharam em suas idas a um tempo antigo onde cavalheiros lutavam para conquistar o amor de suas princesas, sempre fiéis e honrosos, ou fantasiavam sobre máquinas impossíveis, robôs dominando o mundo e um planeta Terra totalmente tecnológico.

O que ninguém — ou quase ninguém — conta é que o mínimo movimento fora da linha do tempo original pode desencadear inúmeros problemas impossíveis de serem controlados. Pessoas morrem e tragédias horríveis assolam o mundo em um piscar de olhos apenas porque o viajante quebrou um copo de vidro que, na linha do tempo original, estava intacto.

Taehyung caminhava para fora de sua sala de aula quando o primeiro sinal de que havia algo errado aconteceu.

Pensava sobre os assuntos que seu professor de física teórica havia apresentado quando tropeçara nos próprios pés e deixara todos os livros pesados que carregava caírem no chão. Respirou fundo, contou até três, abaixou e pegou seus livros de matemática enquanto xingava meio mundo mentalmente. Ao levantar a cabeça, entretanto, encontrou-se de frente para um Min Yoongi extremamente ferido, com machucados pelo rosto e sangue escorrendo do canto do lábio.

Taehyung sentiu-se enjoado, seu estômago protestou de maneira violenta e ele apoiou-se na parede para não desmaiar. Toda a coloração do seu rosto evaporara e sua respiração tornara-se ofegante, consequências da imagem chocante que invadia seu cérebro e acelerava seus batimentos cardíacos.

— Desculpe… — Sussurrou Yoongi, desaparecendo diante dos olhos de Taehyung.

As lágrimas lambiam a sua pele antes mesmo que pudesse se controlar. Caiu de joelhos, encolhendo-se e abraçando as pernas enquanto sua mente explodia em questões que ele não sabia responder. E nem queria. Só queria ser capaz de colocar toda aquela angústia para fora do seu peito, expulsar aquele luto do seu coração e esquecer que vira um Yoongi quase morto segundos antes.

É tudo coisa da minha cabeça… Repetia, as unhas correndo pelo couro cabeludo e arranhando a cabeça. Estava assustado, com medo e perdido, mas sinceramente Taehyung não se lembrava da última vez em que não se sentiu assustado, com medo e perdido.

Sua vida estava uma bagunça.

Outros estudantes passavam por ele e o ignoravam. Era final de semestre, então as pessoas corriam apressadas e com mil e um problemas, preocupadas com provas finais e trabalhos complicados, incapazes de interromper suas atividades para se atentar a um jovem chorando no corredor. Provavelmente ele estava com medo de reprovar, certo?

Errado. Taehyung estava com medo de perder Min Yoongi, a pessoa que mais amava em todo o planeta Terra.

— Tae? — A voz de Namjoon o fez levantar a cabeça. Respirou fundo e abriu um sorriso forçado, recebendo um tapa na cabeça de seu hyung. — Não finja que está bem quando não está.

— Eu estou bem, hyung... — Ele sussurrou, encolhendo os ombros e fechando os olhos. Seus cílios estavam molhados e seus olhos doíam. Seu coração ainda batia rapidamente dentro do peito, o susto havia sido realmente forte.

Namjoon suspirou, sentando-se ao lado do amigo e encostando a cabeça na parede gélida.

— Taehyung, Yoongi não é seu único amigo. — Avisou, recebendo o silêncio do mais novo como resposta. — Ele está preocupado com você, hoje eu o vi lendo livros sobre depressão na biblioteca. Você está assustando todos nós e ainda assim insiste em dizer que está bem quando mostra claramente o contrário.

As vezes, mas só as vezes, Taehyung odiava como Namjoon conseguia ser firme e direto. O hyung possuía uma habilidade de dar broncas impressionante e a usava com maestria. Se existisse a matéria “repreender Kim Taehyung” no curso de engenharia civil certamente Namjoon passaria sem muito esforço.

E ele estava certo mais uma vez.

— Preciso respirar.

Ignorando o mais velho, Taehyung saíra correndo pelo corredor. Esbarrou em algumas pessoas até finalmente chegar ao jardim. Era um local harmonioso e muito verde, possuía cheiro de terra molhada na maior parte do tempo e sempre estava ocupado por alunos lendo e revisando matérias, pois tratava-se de um lugar calmo e propício para estudos.

Naquele dia, porém, não haviam muitas pessoas sentadas na imensidão verde. Nos finais de semestre as pessoas geralmente frequentam a biblioteca, desesperadas para terminarem seus trabalhos a tempo. Kim Taehyung nunca sentira-se tão satisfeito por estar sozinho.

Sua mente estava implorando por descanso e o peito ainda doía graças ao susto, o estudante de física sentia-se enlouquecendo conforme os dias iam passando e a data do acidente se aproximava. Estava sufocando.

— Achei que já estava em casa. — Yoongi invadira seu campo de visão.

Taehyung correra seus olhos pelo corpo magro do melhor amigo, notando que os livros sobre depressão ainda estavam na posse do seu hyung. Puxou todo o ar que conseguiu e se levantou, puxando o baixinho pelos ombros e abraçando-o.

O perfume de Yoongi adentrara as narinas de Taehyung e o cheiro que o mais velho exalava era como estar em casa. Ele nunca saberia explicar, mas toda vez que estava tão próximo do melhor amigo se sentia extremamente confortável, era como se pudesse fazer tudo o que quisesse.

Yoongi, por outro lado, estava confuso. Muitas ideias corriam soltas pelo seu cérebro e ele só conseguia pensar em como o seu amado Taehyung parecia estranho com todo aquele carinho excessivo. Nos últimos dias ele estava tão distante, sua mente aparentava estar separada do seu corpo e isso definitivamente preocupava Yoongi.

— Fica comigo hyung? — Como resistir àqueles olhos grandes e vívidos, o sorriso e as bochechas rosadas? Taehyung o tinha nas mãos.

O silêncio era confortável e Taehyung finalmente conseguia respirar. Todos os seus problemas, as alucinações visuais e as teorias malucas simplesmente sumiam enquanto Yoongi penteava seus cabelos com as pontas dos dedos. Aos poucos, a cabeça de Taehyung encostou no ombro do mais velho e seus braços circularam sua cintura, abraçando-o.

— Você sabe que vai ter que me dizer o que aconteceu, não é? — Taehyung riu, apertando o corpo do mais velho entre seus braços e fechando os olhos.

A cena adorável fora interrompida com a chegada de Namjoon, que uniu as sobrancelhas e tombou a cabeça para o lado. Taehyung abraçava Yoongi, com os olhos fechados, enquanto o futuro psicólogo parecia cheirar os cabelos do outro e penteava-os com os dedos.

Eles estavam estranhamente carinhosos.

— Yoongi hyung, está mimando essa criança. — Os dois se separaram rapidamente, bochechas rosadas e olhares envergonhados fazendo Namjoon rir alto. — Não precisam se envergonhar, eu só vim checar se o Tae havia parado de chorar.

E tão rápido quanto aparecera ele se fora, deixando um Taehyung envergonhado fitando o chão enquanto Yoongi o olhava com raiva. Odiava que Tae mentia, principalmente quando dizia estar bem sendo que, na verdade, estava péssimo.

Será que Taehyung não confiava nele?

— Eu tive um pesadelo essa noite e… Você estava nele.

Agora eles estavam se olhando fixamente, olhos escuros e dorminhocos bem atentos aos olhos brincalhões e chocolates.

— Continue.

— V-Você morria nele, hyung. — A dor de perder Yoongi era visível em sua dificuldade de falar. A conjugação do verbo morrer havia se tornado difícil para o jovem Kim. — Eu estive com medo…

Yoongi jamais invadiria o espaço de Taehyung, em hipótese alguma forçaria seu precioso melhor amigo a fazer algo que ele não quisesse fazer. Todos os dias controlava seus atos e policiava suas palavras, agindo o mais natural possível e ignorando seus sentimentos exagerados. Esperava ser correspondido em segredo, feliz em tê-lo por perto e poder cuidar e amar Kim Taehyung com todo o seu ser. Era feliz.

Entretanto, vendo-o tão carinhoso e olhando-o com olhos marejados, o maldito biquinho nos lábios tão bonitos e aguardando uma resposta, Min Yoongi não conseguira se conter. Pela primeira vez em anos avançou no curto espaço que os separava e colocou gentilmente seus lábios sobre a testa do mais novo, descendo para a ponta do nariz e terminando na bochecha — perigosamente perto dos lábios.

— Não se preocupe com isso. — Disse, o coração batendo rapidamente e as mãos formigando. — Mesmo se eu morrer continuarei com você. Para sempre.

O sorriso de Yoongi fora o bastante para acalmar a mente e o coração aflitos de Taehyung. Ele ainda sentia as bochechas queimando graças aos beijos que havia recebido de seu hyung e, incentivado por uma coragem que nem mesmo ele sabia possuir, abraçou seu melhor amigo pela cintura, recebendo seus braços gentis com os olhos fechados.

Por mais que a frase “Não se preocupe” permanecesse em sua mente, Taehyung simplesmente não conseguia ficar tranquilo. Ele sabia perfeitamente, conseguia sentir dentro de si que algo ruim aconteceria.

Ele sentia em todas as células de seu corpo que perderia Yoongi novamente — e dessa vez seria para sempre.

"You trying to save me
Stop holding your breath"