-O que você está fazendo aqui?
-Bom dia para você também, Adam.
-Bom dia. Agora me explica, o que você está fazendo aqui?
-Trabalhando – diz o moreno ao entrar em sua antiga sala.
-E o Patrick concordou com isso?
-Sim – diz Pete mexendo em algumas pastas – Bom, eu fico muito tempo sozinho em casa. Já tirei o gesso e terminei de fazer a fisioterapia e meu punho está bom, então decidi voltar a trabalhar.
-E tudo sobre o que você estava sentindo?
Pete encara o amigo que estava em pé a sua frente.
-As dores de cabeça? Passou.
-Não, Pete, eu estou falando do medo que você sentia. O Patrick disse que você está diferente.
-Eu estou bem, Adam. Não precisa se preocupar.
-Mas você mesmo disse que o Pete não quer ajuda. Talvez seja um estresse, eu já te disse disso.
-Talvez, Andy, e se não for? Ele é meu marido e você faria a mesma coisa no meu lugar.
-Não, Patrick, eu tentaria conversar com o Pete. E tentar entender o que está se passando com ele ao em vez de pegar uma cópia do arquivo dele na polícia. O que você acha que te espera dentro daquela pasta?
Patrick não responde. Havia contado a Andy o que havia escondido na última gaveta da sua mesa.
-Sinceramente? Eu teria medo do que poderia descobrir.
-É por isso que eu não li e nem ouvi o áudio do depoimento do Pete – Patrick cruza os braços – Não tive coragem de fazer isso e... A gente teve um final de semana bom.
-Charlotte disse que você quebrou a janela da senhora Carson outra vez.
-Ela te contou?
-Mandou uma mensagem com a foto da janela quebrada – Andy sorri.
-Foi um erro de cálculo.
-Patrick, você sempre foi ruim de mira.
-Ok, mas a questão não é essa. Na sexta, eu beijei um cara e fui sincero com o Pete sobre estar carente e sentir falta dele.
-Patrick, você...
-Eu fui sincero e contei a verdade. Eu me arrependo do que eu fiz, não foi certo e eu havia prometido nunca mais traí-lo. Mas eu voltei para casa em vez de ir para cama com o cara. Não sei se foi por isso, mas o Pete pareceu ceder um pouco.
-Isso não justifica o seu erro.
-Eu sei. Mas isso me diz que o Pete ainda se importa com o nosso casamento.
-E você pensou no que o Pete vai achar disso? Se ele não quis te contar é porque ele não quer que você saiba. Acho que você está correndo um grande risco com essa ideia.
-Você acha que o conteúdo daquela pasta pode arruinar minha relação com o Pete?
Patrick se inclina para frente esperando uma resposta. Sua expressão preocupada era visível.
-Bem... O que você acha que poderia ter acontecido se seu marido passou dois meses trancado em um porão com um psicopata que o ama? E, só para deixar claro o quanto essa sua decisão é ruim, o que você acha que poderia ter acontecido com o psicológico do Peter? Seja o que for, o Pete não quer relembrar isso e muito menor conversar sobre isso. Pelo menos, não com você.
-E o que você acha que eu deveria fazer?
-Tentar convencê-lo a ir no psicólogo. É a melhor forma de você ajudá-lo sem que o machuque ainda mais. Admite, Patrick, você também tem medo do que pode descobrir.
Andy tinha razão.
-Onde ele está?
-No banheiro. Trancado – Adam responde – Eu não sei explicar o que aconteceu, Patrick.
-Tudo bem. Eu vou conversar com ele.
Patrick deixa Suzi e Charlotte na sala. Os três tinham um semblante preocupado em relação a Pete. Adam o segue. O maior estava realmente preocupado. Patrick foi até o criado mudo onde retirou um molho de chaves.
-Você tem cópia da chave do banheiro?
-E de todas as portas – Patrick procurava a chave certa.
-Desde quando?
Patrick encontra a chave e olha para o maior.
-Desde quando ele começou a trancar tudo.
Adam engole em seco. Nunca percebeu o quanto Pete poderia estar mal. Ao seu ver, Pete estava bem antes de simplesmente uma de suas pacientes entrar na sala dizendo que ele estava passando mal. Adam o encontrara desmaiado no chão.
Patrick vai até a porta e bate.
-Amor, sou eu. Eu posso entrar?
Nenhuma resposta. Patrick olha para Adam.
-Pode ir, eu cuido dele.
Adam assente.
-Me liga se precisar de alguma coisa.
Patrick concorda. Adam sai do quarto. Patrick respira fundo e gira a chave no miolo. O loiro empurra a porta devagar e encontra Pete dentro da banheira com a cabeça encostada no azulejo frio.
A banheira estava cheia. A torneira não pingava. Pete sabia disso. Ela pingava dentro da sua cabeça. De repente sentiu todo o peso sobre sua cabeça que começou a doer poucos segundos antes dos tremores e o coração bater a mil por hora. Os pensamentos vinham junto com toneladas de lembranças, palavras sujas que Mikey havia dito em seu ouvido e com a sensação de ter nojo de si mesmo. Não conseguiu respirar.
E então, tudo escureceu.
Patrick sentou-se no chão ao lado da banheira. Pete o encara por alguns segundos. O moreno parecia estar tão distante.
-Eles chamaram você? – o moreno indaga com a voz baixa e falha.
-Não. Acabei de chegar do trabalho.
-Não pensei que já fosse tarde.
-Quer me contar o que aconteceu?
Pete não responde.
Patrick sabia que tinha que ter paciência. Pete ainda parecia muito abalado.
-Eu estou aqui, amor – Patrick segura a beirada da banheira – Pode conversar comigo, se quiser.
Pete tira a mão de dentro da água e segura a de Patrick. A mão do loiro aperta a sua mão molhada e Pete se sente protegido. Proteção. Era isso o que buscava.
-Quando você chegou no sábado de madrugada... Você disse que estava sendo sincero porquê achava que assim eu poderia ser sincero com você – Pete olha para as mãos unidas – Eu não estou sendo sincero com você, Patrick. Desde o início. Me desculpa.
-Eu sei que não é fácil, Pete. Mas eu estou aqui com você.
Pete olha nos olhos cinzas de Patrick.
-Sim, você está. Você sempre esteve, não é? Eu que não enxergava isso.
-Você não precisa ter medo. Eu não vou abandonar você – diz o loiro acariciando a mão do moreno.
Pete engole a saliva. Patrick estava sendo um amor todo atencioso. Não merecia uma mentira. Pete decidiu derrubar um muro que impedia Patrick de se aproximar.
-Eu pensei que tinha parado – diz o moreno – Achei que fosse por causa do tribunal, quando o Mikey me atacou, mas não. Eu tive medo de te contar. Então aconteceu duas, três vezes e eu sabia que se eu saísse de casa iria acontecer novamente. E aconteceu no supermercado quando eu tive que voltar para o carro. E quando eu estava com o Barney. Eu sinto muito... Eu tenho medo de sair de casa sozinho. Eu estou tendo essas crises ultimamente e, o que aconteceu hoje, ... Eu... Eu acho que estou ficando louco. Acho que o tempo todo uma pessoa me perseguindo. E então eu começo a tremer e tenho vontade de fugir. Me sinto muito mal. Meu coração bate muito rápido e eu sinto as minhas vistas escurecer e todos os pensamentos vem muito rápido na minha cabeça e eu fico confuso e tudo o que eu quero é sair correndo e me esconder. Desculpa por não te contar antes. Eu não tenho o controle sobre isso e acho que fica mais forte com o tempo. Me desculpa.
Patrick enxuga as lágrimas do moreno.
-Não é culpa sua.
-O Adam te contou o que aconteceu?
Patrick assente.
-Eu perdi o meu emprego, Patrick. Não vou poder mais trabalhar como médico e, se eu enlouquecer de verdade, eu nunca mais vou poder voltar a trabalhar.
-Você não vai enlouquecer, Pete.
-Me desculpa, me desculpa!... – Pete chora e suas mãos começam a tremer.
Patrick segura suas mãos e as beija. O moreno tinha marcas vermelhas nos braços e no peito. Talvez seriam por ter se esfregado com a bucha na hora do banho. Patrick o puxa para perto e tenta abraçar Pete.
O moreno chora desconsolado. Agarra a camisa de Patrick com a mão molhada. Patrick o mima como uma criança e beija seus cabelos molhados.
-Vai ficar tudo bem amor, a culpa não é sua. Fica calmo, está bem? Eu estou aqui, amor. Não precisa ter medo.
Aos poucos, Pete se acalma e para de chorar. Patrick o ajuda a sair da banheira e se vestir. O moreno deita-se na cama sem dizer nada.
-Eu já volto.
-Você pode trancar a porta?
-Sim.
O loiro sai e tranca a porta. Ficou parado olhando a folha de madeira que o separava de Pete. Precisava digerir tudo o que tinha ouvido naquela noite. Pete tinha crises de medo. Tinha desmaiado enquanto trabalhava. Tinha sido sequestrado e sabe se lá o que mais. Patrick aperta os olhos para secar as lágrimas.
Não sabia o que estava errado e muito menos se poderia fazer algo para mudar.
Não sabia se deveria perguntar ou forçar Pete a falar o que tinha acontecido no porão.
Não sabia se sentia medo ou preocupação com a pessoa que estava ao seu lado.
Não sabia o que fazer.
-O papai vai ficar bem? – Charlotte pergunta.
A menina se arrumava para dormir. Estava com seu pijama cor de rosa cheio de desenhos de lacinhos estampado. Patrick decidiu colocá-la na cama mais cedo para poder cuidar do moreno.
-Sim.
-Estou preocupada com ele, papai.
-Eu também estou, querida.
Charlotte se deita na cama. Barney deita em seu canto preferido aos pés da menina. Patrick cobre a filha e acaricia seus cabelos negros.
-Ele vai ficar bem. Você vai me ajudar a cuidar dele, não é?
-Sim. Eu não gosto de ver o papai mal. Ele vai ficar bem mesmo, papai?
Patrick assente.
-Agora tente dormir, está bem?
Charlotte abraça Donnie. Patrick beija sua testa se levanta e apaga a luz.
-Boa noite, querida.
Ao entrar no quarto, o loiro vê Pete agarrado ao coração de pelúcia como um garotinho com medo do escuro. O loiro se deita na cama.
-Charlotte já dormiu?
-Sim.
Pete lambe os lábios e não olha nos olhos do loiro. Patrick sente uma enorme vontade de abraçá-lo. Queria dizer que também não sabia o que estava acontecendo com o moreno, mas que passariam por aquilo juntos. Queria ter a certeza e poder dizer que tudo ficaria bem. Mas não tinha. Antes que pudesse dizer alguma coisa para confortar o moreno, Pete se vira de costas.
Queria poder conseguir dormir. Ainda acreditava que tudo não passava de um horrível pesadelo. Mas não era. Havia contado o que realmente se passava e quase não teve coragem de falar. Agora Patrick sabia o que estava acontecendo e provavelmente poderia querer saber o que aconteceu. Pete não teria coragem de dizer. Não poderia contar as coisas que Mikey tinha feito. Simplesmente não poderia.
Quando percebeu as lágrimas, Pete tentou secá-las. O moreno sente os braços confortantes de Patrick o segurando. Teve ainda mais vontade de chorar. O amor de Patrick era verdadeiro e o loiro não fazia questão de escondê-lo. Pete se perguntava se Patrick poderia perdoá-lo por uma coisa que fora obrigado a fazer. Mas a razão tão fútil o fazia acreditar que Patrick jamais aceitaria. Pensou no que Patrick faria no seu lugar. Com certeza teria resistido. Não teria se deixado levar por algo tão simples. Não jogaria o amor que sentia por uma coisinha de nada. Mas precisava. Estava necessitado e cedeu na primeira oportunidade de saciar-se. Fora tão tolo.
-Eu estou aqui, amor. Não vou te deixar.
Pete se vira para o loiro. Patrick limpa seu rosto e beija suas bochechas e sua testa. O olhar cinzento do loiro tinha um carinho imenso.
-Não precisa ter medo, ok? Eu vou estar aqui e vou te proteger. Não importa o que aconteceu com o Mikey, eu só quero que você fique bem e eu quero te fazer feliz. Muito feliz. Vamos superar isso, tá?
-Eu não quero enlouquecer, Patrick.
-Você não vai. Tudo vai ficar bem.
-Como você pode ter tanta certeza?
-Eu tenho. Eu prometo que vou cuidar de você. Vem cá.
Pete se aconchega nos braços de Patrick. Mesmo que o sentimento de nojo o assombrasse, Pete se sentia seguro. O moreno fechou os olhos e tentou pensar em nada. Patrick o abraçou mais forte e Pete pode finalmente se sentir protegido. Ninguém entraria no quarto. Ninguém o causaria mal algum.
Sentiu que foi perdoado.
-Você marca o psicólogo para mim? Acho que você tem razão. Ele pode ajudar.
-Marco. Não se preocupe. Vamos dormir, está bem?
Pete secou algumas lágrimas que estava presa em seus cílios. Se aconchegou mais uma vez ao corpo do loiro.
-Patrick?
-Hum?
-Não me solta.
Patrick abriu um sorriso.
-Eu jamais faria isso, amor.
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