1. Spirit Fanfics >
  2. Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 >
  3. Primeiro você tem que se aceitar

História Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 - Primeiro você tem que se aceitar


Escrita por: XManoelVieira

Notas do Autor


Oi gente, olha eu aqui mais uma vez. Eu ia postar esse capítulo só na semana que vem, já que eu postei o anterior bem mais cedo. Mas resolvi postar hoje mesmo enquanto espero a segunda temporada de Sense8 entrar na Netflix. Alguém aqui assiste? Eu recomendo muito essa série.
Vocês sabiam que Teen Wolf e Sense8 estrearam no mesmo dia? 05 de junho. Só que Teen Wolf foi em 2011 e Sense8 em 2015. Curiosamente é o dia do meu aniversário.

Capítulo 18 - Primeiro você tem que se aceitar


Isaac odiava aquele lugar. As paredes e o chão, brancos demais, o deixavam com dor de cabeça. E até o cheiro de morte o incomodava. O garoto estava sentado numa cadeira vermelha, na sala de espera do hospital de Beacon Hills, observando as pessoas apreensivas, enquanto esperavam notícias de seus entes queridos. Na cadeira ao seu lado, estava Scott, que segurava sua mão. Assim que Isaac viu um médico alto, com a pele negra e com a cabeça raspada, vindo em sua direção, junto de Melissa, largou a mão de seu amigo e se levantou da cadeira.

— A pressão do seu pai estava muito alta e isso causou várias paradas cardíacas nele. — O homem começou a falar. — Fizemos de tudo pra reanimar o coração, mas ele não resistiu. Sinto muito pela sua perda, Isaac. — O médico colocou a mão nos ombros do garoto.

Um monte de cenas do seu pai começou a passar pela cabeça de Isaac e lágrimas já se formavam nos seus olhos. Ele não esperava que seu dia fosse terminar assim, pois, estava tudo normal. O garoto acordou e foi para o colégio. Seu pai não mostrou indícios de que o puniria por alguma de suas frustrações, naquele dia. E o rapaz estava um pouco feliz por isso. No entanto, à tarde, quando voltou pra casa, encontrou seu pai desacordado na cozinha. Imediatamente ligou para a emergência e uma ambulância o levou para o hospital, onde o doutor Geyer ficou encarregado de ser seu médico.

Quando Melissa viu o senhor Lahey sendo levado para um quarto para ser reanimado, ligou para o filho e disse para ele vir fazer companhia para o amigo. E agora, lá estava Isaac, recebendo a notícia de que seu pai tinha morrido. Quando Scott o abraçou, ele reclinou sua cabeça no ombro do outro garoto e se permitiu chorar. Já tinha passado por isso, quando perdera sua mãe e seu irmão mais velho, e agora seu pai.

— Tá tudo bem, Isaac. — Scott falou, afagando a cabeça do outro.

— Tem alguém pra quem eu possa ligar? — O doutor Geyer perguntou.

— Não tem ninguém. — Scott respondeu, ainda afagando os cachos loiros do amigo. — O Isaac só tinha o pai dele.

— Ele perdeu a mãe e o irmão mais velho há alguns anos. — Melissa explicou para o médico.

— Entendo. — O doutor Geyer falou, antes de afastar.

— Esperem aqui. — Melissa falou, antes de correr até o médico. — Doutor Geyer, você vai ligar pra o serviço social?

— Tenho que ligar, Melissa.

— Não precisa fazer isso. O Isaac é um amigo muito próximo do meu filho, eu o conheço desde os nove anos. Vou cuidar dele.

— Se você tem certeza disso, então, acho que tudo bem.

— Obrigada. — Melissa falou e voltou para perto dos garotos, que já não estavam mais abraçados.

— O que eu vou fazer agora, Scott? — Isaac falou, olhando para o amigo. — Eu vou pra um orfanato.

Melissa pegou nos ombros de Isaac, fez o garoto sentar na cadeira e se ajoelhou em sua frente. Ela colocou as mãos nas bochechas do garoto e o olhou nos olhos.

— Você não vai pra um orfanato. Isaac, você vai ficar conosco, entendeu? Você não está sozinho. Você tem a mim — Melissa olhou para o seu filho, que voltou a sentar ao lado de Isaac. — E o Scott.

Scott colocou sua mão no ombro de Isaac e o apertou, tentando transmitir força para o amigo. Em seguida, Melissa acolheu o loiro nos seus braços e o garoto voltou a chorar. Por mais que sua vida acabasse de sofrer uma mudança drástica, ele sabia que não estava sozinho. E aquilo aqueceu um pouco o seu coração.

***

Scott estremeceu de dor, quando Melissa passou o algodão molhado com antisséptico na sua mão. Apesar de não estar quebrada, ainda estava muito sensível. Ele segurava um saco de ervilhas congeladas no seu olho esquerdo, com a outra mão. O garoto não chorava mais, no entanto, sua vergonha era tanta, que não olhava nos olhos da mãe.

— Quer me contar o que aconteceu? — Melissa perguntou, colocando o algodão sujo ao seu lado, na cama. Em seguida, ela pegou outro pedaço, molhou com antisséptico e passou na mão de Scott, mais uma vez. — Por que o Isaac foi embora?

— Se eu te contar, você vai ficar com vergonha de mim. — Scott falou, com a cabeça baixa.

— Eu não posso te ajudar, se não souber o que aconteceu. — A mulher falou, enrolando um grande pedaço de gaze na mão do filho. Depois, pegou um pedaço de esparadrapo e prendeu a gaze. Ela pegou outro pedaço de esparadrapo e prendeu do outro lado.

— Não pode me ajudar, mãe. — Scott falou, jogando o saco de ervilha no chão. — Eu fodi com tudo.

— Não fale assim, Scott.

— É a verdade. Eu o chamei de... — Scott hesitou falar a palavra, pois, não queria receber o olhar de vergonha e repreensão de Melissa. — Viado. De uma forma bem pejorativa.

Melissa soltou um longo suspiro.

— Scott, eu não criei você pra ser um homofóbico. — Melissa falou, calmamente. — O que está acontecendo com você? Está se metendo em brigas, não está se concentrando direito no lacrosse. E foi estúpido com seu melhor amigo. O que vem em seguida? Suas notas vão começar a cair, de novo?

Scott olhou pra Melissa e depois voltou a olhar para o chão, escondendo seu rosto nas mãos.

— Eu não sei. Eu não sei por que isso tá acontecendo comigo, por que eu me sinto assim. Eu magoei uma das pessoas mais importantes pra mim. A pessoa que... — Scott deixou a frase no ar.

— A pessoa por quem você está apaixonado? — A mulher falou, surpreendendo o filho, que voltou a olhar pra ela. — Acha mesmo que não sei o que se passa nessa sua cabecinha? — Melissa levou sua mão até a cabeça de Scott e bagunçou os cabelos dele. — Você teria meu apoio, filho. Você tem meu apoio. Sabe disso, não é? — O garoto assentiu. — Então, por que não se abriu comigo?

— Eu não sei por que isso me assusta tanto. Eu não consigo nem admitir em voz alta. Eu apoiei o Stiles e o Isaac. E até o Danny. Então, por que eu agi assim?

— Acho que enquanto era com os outros, estava tudo bem. Mas quando é com você, a coisa é um pouco diferente. A possibilidade de as pessoas saberem sobre isso te assusta. Faz parte de aceitar quem você é. Primeiro você tem que se aceitar, para que as outras pessoas te aceitem.

Scott refletiu sobre o que Melissa disse. Fazia todo sentido. Ele não ligava que seus amigos saíssem com outros garotos, bom, ligava um pouco se Isaac saísse, mas por outro motivo. Porém, quando era com ele, aquilo o assustava. Desde sempre McCall reprimiu o que sentia por Lahey e quando conheceu Allison e começou a namorar ela, aquilo lhe ajudou um pouco. Mas, chegou um momento que ele não aguentou mais e simplesmente cedeu. Aquilo o abalou. E quando Tucker Cornish comentou sobre isso, o pensamento de que outras pessoas do colégio soubessem e falassem sobre o assustou tanto, que o fez ser tão idiota com seu melhor amigo. Scott tomou uma decisão. Talvez ele não estivesse pronto para assumir um relacionamento com Isaac, mas não deixaria que a amizade deles se perdesse.

— Eu preciso encontrar o Isaac e pedir perdão pra ele. — Scott falou, se levantando da cama. Ele pegou a camisa, que tinha jogado no chão antes, e a vestiu.

Melissa também se levantou e se aproximou de Scott.

— Não acho que seja uma boa ideia. — A mulher falou, segurando nos ombros do filho. — Deixa as coisas esfriarem.

— Não posso. — O garoto falou, se desprendendo dos braços da mãe. Ele pegou o capacete, em cima da mochila, e a chave da moto e por fim, saiu do quarto.

— Scott, você nem sabe onde ele está. — Melissa falou, descendo as escadas, atrás do filho.

— Eu tenho uma ideia de onde ele possa ter ido. — O garoto falou, abrindo a porta.

— Scott, espera.

— Não, mãe. — O rapaz olhou para a mãe. — Eu preciso pedir perdão pra o Isaac.

Scott colocou o capacete e saiu de casa, sendo molhado pela chuva. Ele fechou a porta atrás dele e se aproximou da moto, montou nela, deu a partida e seguiu para onde achava que o amigo poderia estar.

***

Os pés de Isaac já estavam doendo de tanto andar. Ele tremia de frio e sua visão era atrapalhada pela chuva, além das lágrimas, que tanto lutava contra, sem sucesso. Scott o havia decepcionado muito, não esperava que o amigo fosse ser tão negativo em relação aos dois. Após caminhar sem rumo por algum tempo, Lahey chegou a um lugar que não ia, há muito tempo.

Por fora, a casa estava com uma aparência de abandono. A grama estava muito grande, não era aparada há mais de um ano. Ervas daninhas cresciam nas paredes de tijolos e algumas janelas estavam quebradas. O garoto andou até a porta e com o pé, afastou um pouco o tapete de boas-vindas e viu que a chave estava lá, como na última vez que seu pai deixou. Ele se abaixou, pegou a chave prateada, e abriu a porta. Flashs de memória passaram em sua cabeça.

Já fazia um tempo que não pensava nos momentos ruins que passou naquela casa. E voltar, trouxe todas as lembranças de volta. Lembranças das surras que ele levou, de todas as vezes que foi trancado no freezer do porão e todas as punições. Isaac quase deu meia volta, no entanto, não podia ficar na chuva. Ele entrou na casa e tentou acender a luz, porém, quando mexeu no interruptor duas vezes, constatou que não tinha energia elétrica.

Isaac fechou a porta atrás dele, andou lentamente pela sala e foi até a cozinha, que estava do mesmo jeito de quando esteve lá pela última vez. A única iluminação que tinha, vinha da luz da lua, que entrava pela grande janela em cima da pia, cheia com uma pilha de louça suja. Ele quase pôde ver o corpo do seu pai caído no chão, ao lado da mesa. Em cima dela, tinham dois pratos com talheres, uma jarra de água e dois copos estavam postos. E no fogão uma panela, que exalava um fedor de dentro. O garoto foi até a pia e tentou ligar a água, contatando que também não tinha. Ele, foi até a mesa, pegou um dos pratos e o jogou no chão, observando os cacos que se formaram. E então, lembrou-se de uma das vezes que seu pai o machucou.

Alguns anos atrás, numa noite mais quente, Isaac estava sentado à mesa daquela mesma cozinha, de frente para o seu pai. Os dois comiam em silêncio e o Lahey mais jovem agradecia por isso. No entanto, seu momento de paz acabou, quando veio a pergunta do homem:

— E as notas? — O senhor Lahey questionou, antes de levar o garfo com verduras até a boca.

Isaac parou de comer e olhou receoso para o seu pai.

— Até agora foi A em francês e B- em economia.

— Hum. — O pai do garoto assentiu. — E química?

— Eu não sei. — Isaac falou, desviando os olhos para o seu prato. — Ainda tem prova, então deve subir.

— Acha que sobe? A nota? — O homem questionou, encarando o filho.

— Eu não sei.

— Você não mentiria pra mim, não é, Isaac? — O senhor Lahey indagou, pegando mais uma porção de comida com o garfo. Ele o levando até a boca e mastigou devagar.

— Não. — O garoto falou, olhando para o homem.

— Então, me diz a nota.

— Eu já te disse que eu não sei. — Isaac falou, com cada vez mais com temor.

— Quer ter essa conversa lá em baixo. — O garoto negou com a cabeça. — Não? Então me diga a nota, filho.

Isaac olhou para o seu prato mais uma vez.

— Pai, o semestre ainda tá na metade. Ainda tem muito tempo pra...

— Isaac. — O homem falou, firmemente, batendo forte com o punho, na mesa. Aquilo assustou o filho.

— É um D. — O garoto falou, hesitante.

— Tá bom. — O mais velho falou, calmamente, largando os talheres. — É um D. Eu não estou bravo. Mas eu vou ter que te punir de algum jeito. É meu dever, como seu pai. Então, vamos começar com algo simples, como você lavar a louça e limpar a cozinha.

— Certo. — Isaac falou, baixo. Ele agradecia mentalmente por seu pai estar calmo.

— Ótimo. — O senhor Lahey falou. Em seguida, pegou seu copo e tomou um gole de água. — Porque eu quero muito, ver esse lugar brilhando. — Ele jogou o copo no chão e Isaac olhou para os cacos. — Entendeu? Eu quero essa cozinha brilhando! — Disse a última frase gritando.

O homem jogou seu prato, ainda com comida, no chão e se levantou bruscamente da cadeira, assustando o filho, que caiu no chão. O garoto se arrastou para trás, até estar encurralado na parede. O Lahey mais velho pegou a jarra de água, despejou o líquido no chão e depois, a jogou na direção do seu filho. Isaac tentou proteger o rosto com as mãos, no entanto, quando a jarra se quebrou, ao bater em sua cabeça, um dos cacos quase atingiu seu olho direito. Ele gemeu de dor e tirou o pedaço de vidro da sua bochecha, olhando para o sangue em sua mão. Em seguida, olhou hesitante para o pai.

— A culpa foi sua. — O mais velho falou.

Isaac se levantou ofegante, olhando para o pai, com indignação

— Podia ter me cegado. — O garoto falou, tentando parecer firme.

— Cala a boca. Foi só um arranhão.

Isaac correu para fora da cozinha, ignorando os chamados do seu pai. Ele saiu de casa, pegou sua bicicleta, jogada no jardim e foi o mais rápido possível, para o único lugar onde se sentia seguro. Ao chegar na casa de Scott, o garoto largou sua bicicleta no chão e correu até a porta, bateu duas vezes e esperou. Foi Melissa quem abriu e ao ver o sangue escorrendo pela bochecha de Isaac, se espantou. A mulher puxou o garoto para dentro e o levou até a cozinha. Depois, ela foi para o andar de cima pegar o material para limpar o machucado.

— Vai precisar de sutura. — Melissa falou, examinando o corte, já limpo, abaixo do olho de Isaac. Os dois estavam sentados à mesa. — Eu vou te levar pra o hospital, Isaac. Lá, ligamos para a polícia.

A mulher se levantou e o garoto também. Ele segurou nos braços dela e a olhou, com lágrimas nos olhos.

— Por favor não faz isso. — Isaac implorou. Suas lágrimas escorreram pela bochecha e isso fez com que o corte ardesse.

— Não posso deixar seu pai fazer isso com você.

Isaac ia falar mais alguma coisa, mas Scott apareceu na cozinha. Ao ver o machucado no rosto do amigo, uma fúria se apossou do garoto.

— Eu vou quebrar a cara dele. — Scott falou, andando a passos firmes para a sala.

Melissa e Isaac o seguiram e quando o McCall mais novo estava prestes a abrir a porta de casa, eles ouviram alguém bater nela, do lado de fora. A mulher se adiantou e a abriu antes que o filho o fizesse. Era o pai de Isaac e ao vê-lo, a enfermeira ficou furiosa.

— Eu vim pegar o meu filho. — O homem falou, no seu tom de voz calmo, que escondia quem ele realmente era.

— Não vai levar ele. O Isaac vai dormir aqui. — Melissa falou, firmemente.

— Por acaso está me impedindo de levar meu filho para nossa casa? — O senhor Lahey questionou.

— Você ouviu. — Scott falou alto, se colocando entre sua mãe e o pai de Isaac. Ele empurrou o homem. — Não vai levar o Isaac.

— Acho bom você manter essas suas mãos bem longe de mim, seu moleque. — O homem falou, começando a perder a calma.

— O que vai fazer? Bater em mim também? — Scott perguntou. Ele abriu os braços e desafiou o pai do amigo. — Pode vir. Não tenho medo de você.

Harold ameaçou partir pra cima de Scott, entretanto, Melissa se colocou entre eles.

— Vai embora, Harold. O Isaac não vai com você. — Melissa falou. — Se não for, eu vou chamar o Noah.

O homem olhou para o seu filho, que observava tudo, acuado dentro da casa. Em seguida, ele fuzilou Scott e Melissa com os olhos e por fim, deu as costas e foi embora. Os McCall entraram em casa e o mais jovem se aproximou de Isaac.

— Você está bem? — Scott indagou.

Isaac não respondeu, ele apenas se pôs a chorar. O outro garoto o abraçou e afagou seus cabelos, coisa que estava se tornando muito comum nos últimos dias.

Isaac saiu dos seus devaneios, ainda encarando os cacos de vidro do prato que quebrou. Ele acariciou levemente a pequena cicatriz abaixo do olho, causada pelo seu pai. Somando com a discussão que teve com Scott mais cedo, lembrar dos abusos que sofreu, trouxe sentimentos ruins, que não gostava de sentir, pra o garoto, que já estava vulnerável e triste.

Lahey tirou sua mochila das costas e a jogou com força no chão. Em seguida, pegou o outro prato na mesa e o jogou no chão, quebrando como o outro. Isaac fez o mesmo com os copos, enquanto grunhia de raiva. Ele foi até o armário, pegou um prato de cada vez e os jogou um por um, no chão. Após quebrar todos eles, Isaac voltou a se aproximar da mesa e usou toda sua força para levantá-la, fazendo-a virar no chão.

— Tá brilhando o bastante agora? — Isaac gritou, ofegante, olhando para a bagunça que fez.

Passado o seu momento colérico, o garoto não conseguiu mais segurar as lágrimas e começou a chorar. Ele se sentou no chão, tomando cuidado para não se machucar com o vidro quebrado, e se encostou na parte baixo da mesa virada. Ainda soluçando, apoiou sua testa nas mãos, segurou seus cabelos e os puxou. Seus pensamentos voltaram para Scott e em como queria que as coisas entre os dois tivessem sido diferentes.

***

Scott bateu na porta duas vezes, com a mão boa. Ele tirou o capacete, o colocou em baixo de seu braço direito e aguardou. Enquanto esperava, colocou a mão boa no bolso da calça para pegar o celular, no entanto, saiu tão apressado de casa que esqueceu de pegá-lo. Alguns minutos depois, Boyd abriu a porta e se surpreendeu com a aparência abatida de Scott. Ele notou o hematoma roxo e inchado, que tinha ficado em seu rosto, e também a mão com o curativo.

— Scott, o que está fazendo aqui? — Boyd questionou.

— Ele veio pra cá? — McCall perguntou, tremendo de frio.

— Quem?

— O Isaac! Ele veio pra cá? — Scott falou alto.

— Não. O que aconteceu? — Boyd perguntou, preocupado.

— Nós brigamos. E ele saiu de casa. — Scott admitiu, de cabeça baixa. — Se ele aparecer aqui, por favor, diz pra ele me ligar.

Scott se virou, já começando a andar de volta até sua moto, mas Boyd segurou seu braço.

— Por que você não entra e se acalma um pouco? — O rapaz de pele negra sugeriu, vendo que Scott estava muito agitado. — Vai acabar se acidentando se pilotar a moto desse jeito.

— Tenho que encontrá-lo. — Scott falou, puxando seu braço. Ele andou até sua moto.

— Se você quer realmente se acertar com o Isaac, tem que se acertar consigo mesmo, antes. — Boyd falou, antes que Scott subisse no veículo.

McCall colocou o capacete no guidão, se virou para o outro e andou rapidamente até ele.

— O que você sabe? O que o Isaac te contou? — Scott gritou.

— Não importa o que ele me contou. Pode ficar tranquilo que eu não vou contar pra ninguém. Mas, Scott, se você quer guardar isso pra si, mantenha-se afastado dele, porque senão, os dois vão acabar muito magoados.

— Não quero magoá-lo ainda mais. — Scott falou, abaixando a cabeça mais uma vez. — Só quero pedir perdão.

Scott voltou pra sua moto, subiu nela, pegou o capacete e o colocou na cabeça. Em seguida, deu a partida e seguiu seu caminho. Boyd entrou, foi até seu quarto e pegou a chave de seu carro. Sorrateiramente, o garoto foi até a cozinha e tirou uma garrafa de uísque do armário, em baixo da pia.

— Mãe, eu vou dar uma saída. — Boyd anunciou, antes de sair de casa novamente.

Scott pilotava a moto em alta velocidade. Ele pensou em outro lugar que Isaac poderia estar e seguiu para lá. Minutos depois, o garoto abandonou a moto, andou pela floresta enquanto esfregava suas mãos nos braços, para se aquecer. Quando chegou a um planalto, onde costumava ir quando queria ficar sozinho, ele olhou para todos os lados, procurando seu amigo. De lá, podiam ser vistas as luzes da cidade.

— Isaac? — Scott gritou, com a esperança de que ele estivesse lá. — Isaac? — Gritou mais uma vez. E quando não teve resposta, soube que o loiro não estava lá. — Porra! — O garoto gritou o mais alto que conseguiu.

Scott não sabia mais onde procurar, tinha ido nos dois lugares que tinha certeza que Isaac poderia estar. Ele se colocou de joelhos e mais uma vez chorou feito uma criança, naquela noite. O garoto bateu seus punhos na grama e deixou que as lágrimas se misturassem com a chuva. Enquanto chorava, Scott lembrou-se do dia em que levara Isaac ali pela primeira vez. Foi no dia após o moreno descobrir os abusos que o amigo sofria, pelo pai.

— Pra onde estamos indo? — Isaac perguntou alto. Ele estava sentado no guidão da bicicleta, que era pedalada por Scott.

— Você vai ver. — McCall gritou de volta.

Depois de um tempo, eles entraram na floresta e após alguns metros, chegaram ao planalto. Isaac desceu da bicicleta, com o amigo, que a largou no chão, e foi se sentar perto da beira. O moreno chamou o outro para se sentar ao seu lado e foi o que Lahey fez. E ficaram observando o pôr do sol por um tempo, em silêncio. Eles viram o céu indo do roxo ao laranja e à medida que o sol ia desaparecendo, as luzes da cidade foram sendo acesas aos poucos. Isaac ficou maravilhado com aquilo, nunca tinha visto a cidade de cima.

— É lindo e calmo aqui. — O loiro falou, quebrando o silêncio, assim que o último raio de sol sumiu.

— É. Eu sempre gostei de vir aqui, principalmente quando eu brigava com meu pai. — Scott falou e Isaac se encolheu com a menção da palavra “pai”. McCall olhou para o amigo e indagou. — Isaac, por que você não conta pra ninguém o que seu pai faz?

— Scott, por favor. — Isaac falou, sem desviar os olhos da cidade. — Eu só o tenho agora e se ele for preso, eu não sei o que vai acontecer comigo. Não pode contar pra ninguém. Por favor.

— Não gosto de te ver machucado. — Scott admitiu. — E por ser seu pai que faz isso com você, eu sinto muita raiva. Eu queria te proteger.

Isaac olhou para Scott e o moreno colocou seu polegar no hematoma roxo, no olho esquerdo do amigo e alisou com cuidado, toda a área machucada em volta do olho dele. Lahey estremeceu com o toque, fechou os olhos e se esqueceu por um momento da surra que levou no dia anterior. Seus pensamentos foram para o momento que acordou naquela manhã. Estar abraçado ao corpo de McCall trazia uma tremenda sensação de segurança pra ele.

— Você me protege. Eu me sinto seguro com você, Scott. — Isaac confessou.

O coração de Scott acelerou. Outra vez ele sentiu uma vontade muito grande de beijar Isaac e novamente não entendeu aquilo, então, simplesmente ignorou. No entanto, o garoto passou seu braço pelos ombros do amigo, que deitou sua cabeça no ombro do moreno. E eles continuaram observando o crepúsculo em silêncio, sem se importar como mais nada, além daquele momento.

***

— Isaac? — O loiro ouviu a voz de Boyd, o chamando da sala. Ele não respondeu. Ele ainda estava sentado encolhido, encostado na mesa tombada da cozinha. Não chorava mais, apenas olhava a luz da lua que, entrava pela janela acima da pia. — Você tá aí. — Boyd falou, aparecendo na cozinha, ao avistar o amigo, em meio a bagunça.

— Como me achou aqui?

O rapaz negro se aproximou da mesa, afastou uns pedaços de vidro com o pé e sentou com cuidado, ao lado do outro.

— O Scott apareceu lá em casa...

— Ele tá com você? — Isaac questionou, interrompendo Boyd.

— Não. Eu vim sozinho. — Boyd respondeu e então, continuou. — Ele apareceu lá em casa, com um olho roxo e a mão dele tava machucada. Imaginei que tivesse acontecido alguma coisa séria, entre vocês dois. O Scott te conhece muito bem pra saber que você iria lá pra casa. Mas, se você quer fugir dele, viria pra o único lugar que ele sabe que você não viria.

— Eu causei o olho roxo. Dei um soco nele. — Isaac falou, sorrindo sarcasticamente.

Boyd passou a garrafa de uísque pra o loiro, que a abriu e deu um longo gole. Ele fez careta, ao sentir o líquido, descendo queimando, pela sua garganta.

— Roubei do estoque do meu pai. Achei que fosse precisar. — Boyd falou, sorrindo, ao ver a expressão do amigo. — Então, vai me contar por que socou o Scott?

— Lembra quando eu disse que eu e ele tínhamos transado e você pensou que era piada?

— Sim. — Boyd assentiu. E quando Isaac o olhou com uma sobrancelha erguida, ele soube que não era piada. — Puta merda! Então, é bem pior do que eu pensei. Caralho, agora o Scott deve tá achando que eu sabia disso. Bom, eu sei agora, mas não antes.

— Do que tá falando? — Isaac indagou, antes de beber mais um gole.

— Quando o Scott foi lá em casa mais cedo, eu dei a entender que sabia que ele tava escondendo sua sexualidade.

— Que merda, Boyd?

— Desculpa, mas eu tava falando do beijo que ele correspondeu.

— Não importa mais. — Isaac deu outro gole na garrafa. — O “viado” aqui não vai mais causar problemas pra ele.

— Ele te chamou disso? — Boyd questionou e Lahey assentiu. — É sério? Ele transa com você e depois te xinga. Será que ele não sabe que também é um? Com todo o respeito, Isaac.

— Eu não acho que ele seja gay. — Isaac falou. Em seguida, deu mais um gole no uísque. — Na verdade, eu tenho certeza que ele é bi. O que ele sentiu pela Allison foi muito intenso e eu acompanhei de perto. Mas aparentemente, esse detalhe não passa pela cabeça dele. O Scott acha que só por que transou comigo, automaticamente é gay. Droga de rótulos.

— Isso é uma merda.

— Eu fui muito duro com ele. — Isaac falou, colocando a garrafa no chão. — Não é fácil se aceitar e eu acabei dificultando as coisas.

— Ei, não faz isso, Isaac. — Boyd falou, colocando sua mão no ombro do amigo. — Você tem todo direito ficar puto. Você é humano.

— Eu sinto mais raiva de mim mesmo do que dele. — Isaac confessou. — Eu sabia que isso podia acontecer, que nossa amizade acabaria sendo afetada. Não devia ter cedido aos meus desejos.

— Não conseguimos controlar por quem nos apaixonamos. Acontece. — Boyd falou. — Às vezes nos apaixonamos pela pessoa errada e isso é uma droga.

Isaac assentiu.

— Eu acho que o uísque tá começando a fazer efeito. — O loiro falou, já sentindo estar levemente alterado.

— É melhor a gente ir. — Boyd falou, se levantando. Ele estendeu a mão para Isaac.

— O que?

— Não acha que vai ficar nessa casa, que te traz péssimas lembranças, e ainda mais todo molhado, não é? Você vai pra minha casa.

— Não, Boyd. Eu não quero incomodar os seus pais e a sua irmã. Além do mais, o Scott vai me procurar lá, e eu não quero falar com ele agora.

— Deixa disso, Isaac. Sabe que sempre foi bem-vindo lá em casa. E o Scott já te procurou lá, não acho que ele vá voltar hoje. E se ele aparecer de novo, eu não deixo ele te ver. Anda, levanta.

— Tem certeza? — Lahey perguntou e Boyd assentiu.

Ainda hesitante, Isaac pegou a mão de Boyd e se levantou. Ele olhou pra garrafa de uísque, pela metade, no chão e depois para o amigo.

— Deixa ela aí, você não vai mais beber e se meu pai vir a garrafa pela metade, ele me mata.

Isaac pegou sua mochila no chão e seguiu Boyd para fora da casa que tanto odiava. Ele esperava não voltar lá por um bom tempo.

***

Depois de quarenta minutos, Scott levantou e voltou pra sua moto. Ele deu mais uma volta pela cidade, à procura de Isaac, antes de desistir e voltar pra casa. McCall até pensou em procurar pelo amigo na antiga casa do pai dele, no entanto, o moreno tinha certeza de que o outro não iria pra lá. Eram muitas lembranças ruins. Não demorou muito para que Scott chegasse em casa.

— Encontrou ele? — Melissa perguntou, assim que o filho entrou na casa. O garoto negou com a cabeça e olhou para o chão. — É melhor você tomar um banho quente, colocar uma roupa seca e ir dormir. Amanhã, com mais calma, você tenta falar com ele.

— Tá bom. — Scott concordou baixo, já indo em direção à escada.

— E, Scott? — Melissa o chamou, antes que o garoto pisasse no primeiro degrau. — Eu espero muito que você esteja arrependido pelo que fez.

O garoto estava sim, arrependido e com muita vergonha. De cabeça baixa, ele subiu as escadas e fez o que Melissa disse. Ao entrar no seu quarto, o garoto fez um grande esforço, para não jogar o capacete no chão. Ele o colocou na escrivaninha, com a chave da moto, e seguiu para o banheiro. O moreno tirou a roupa molhada e entrou no box.

Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, levando um pouco a tensão presente, Scott pensou nas suas ações. “Como pude ter sido tão idiota?”, ele pensou. Após alguns minutos, o moreno desligou o chuveiro e saiu do box. Depois, se enxugou e rumou para o seu quarto enrolado na toalha. Ele vestiu uma calça moletom preta e se deitou na cama para tentar dormir. Entretanto, Isaac não saia de sua cabeça. Scott tentaria fazer de tudo para se redimir com seu melhor amigo. E não desistiria até ser merecedor do perdão dele.

***

— Vernon, é você? — Os garotos ouviram a voz de Audrey Boyd, ao entrarem na casa. Logo depois, ela apareceu na sala. — Isaac, o que aconteceu com você?

Antes que Lahey pudesse responder, Boyd tomou a frente e disse:

— Mãe, o Isaac vai passar um tempo aqui com a gente.

A mulher olhou do seu filho para o outro garoto, preocupada, mas assentiu.

— Filho, separa uma roupa quente pra o Isaac. — Audrey falou e voltou sua atenção para Isaac. Ela se aproximou dele, passou seu braço pelos ombros do rapaz e o conduziu em direção à escada. — Venha, querido, é melhor você tomar um banho, para não ficar doente.

— Obrigado. — Isaac falou, baixo, se deixando ser guiado pela mulher.

Boyd seguiu eles e quando chegou ao andar de cima, foi fazer o que sua mãe mandou, enquanto ela levava Isaac para o banheiro. Quando entrou sozinho, Lahey trancou a porta e começou a tirar sua roupa. O loiro pensava em Scott, achava que sua amizade estava acabada pra sempre. Ele andou devagar para o box, chorando outra vez.


Notas Finais


Bom gente, por enquanto é isso. Scott não conseguiu falar com Isaac, mas teve flashbacks fofinhos dos dois. Sei que vocês estão na expectativa e que não aconteceu tanta coisa nesse capítulo quanto no anterior, mas o capítulo é bastante importante. Os flashbacks mostraram um pouco da relação abusiva que o pai de Isaac tinha com ele e também teve a morte do senhor Lahey. Esse acontecimento é importante e ainda vai ser abordado mais pra frente. E Se preparem para os próximos dois capítulos porque... não vou falar.
Espero que tenham gostado. Até mais.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...