História Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 - Eu vou conseguir o seu perdão

“QUADRAGÉSIMA QUINTA PRESIDENTE, ELLEN CLAREMONT É PRIMEIRA MULHER ELEITA À PRESIDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.”

Isaac lia a notícia na tela do seu celular, quando foi interrompido pelo toque de chamada do aparelho. Aquilo estava começando a irritar o garoto. Já era a terceira vez, em menos de dez minutos, que Scott ligava pra ele. O loiro estava no banco do carona do carro de Boyd, a caminho da casa de Erica. Usava uma camisa cinza, que estava muito folgada nele, e uma calça moletom preta. Sua cabeça doía um pouco, devido à leve ressaca, causada pela meia garrafa de uísque ingerida na noite anterior. O garoto soltou um suspiro cansado, desligou o celular e encostou sua cabeça na janela.

— Era o Scott de novo? — Boyd perguntou, sem deixar de prestar atenção na estrada.

— Era. — Lahey disse, não querendo falar mais nada.

— Isaac, eu acho que deveria falar com ele. — Boyd falou, com cautela e Isaac o olhou indignado.

— De que lado você está? — O garoto falou, um pouco alto, no entanto, constatou que não era uma boa ideia. Ele fez uma careta de dor e massageou a testa. — Você mesmo disse, ontem, que eu tinha todo direito de ficar com raiva dele.

— É, eu disse. — Boyd falou, olhando pra Isaac rapidamente, antes de voltar a olhar para a estrada. — Mas cara, você não viu como o Scott tava bem abalado, ontem. Tenho certeza que ele tá muito mal com tudo isso.

— E eu não tô?

— É claro que você está. — Boyd falou, olhando mais uma vez rapidamente para Isaac, e voltando a olhar pra a estrada, em seguida. — Ele cometeu um erro, mas você quer mesmo guardar todo esse rancor? E do cara que você ama?

— Não foi a primeira vez que ele me magoou com suas palavras.

— Eu sei. — Boyd falou, um pouco triste. — Mas se ele estiver mesmo arrependido, não merece uma segunda chance?

— Podemos mudar de assunto? Por favor? — Isaac pediu, quando viu que o carro se aproximava da casa de Erica.

Boyd assentiu, antes de estacionar e buzinar duas vezes, chamando a atenção da garota, que já aguardava do lado de fora da casa. Enquanto Erica se aproximava do carro, Isaac abriu a porta e desatacou o cinto de segurança. Ele se dirigiu para a porta de trás e entrou no veículo novamente.

— Oi, amor. — Erica disse, sentando-se no banco do carona. Ela deu um selinho no namorado, fechou a porta, colocou o cinto e se virou para o garoto no banco de trás, estranhando por Isaac estar usando roupas de Boyd. — E oi, Isaac?

Boyd ligou o carro novamente e seguiu para o colégio Beacon Hills.

— Oi. — Isaac disse baixo, dando atenção para a paisagem na janela do carro.

— O que foi? Você e o Scott, brigaram de novo? — Erica perguntou, curiosa.

— Eu não quero falar sobre isso, tá legal? — Isaac falou, um pouco ríspido.

— Tudo bem, seu chato. Pode contar seus segredos só pra o Boyd, eu não ligo. — Erica falou, com um falso tom de mágoa na voz. — Agora, será que dá pra me explicar por que você está usando roupas do meu namorado? — A garota finalmente perguntou, mudando de assunto. — Boyd, se estiver me traindo, acho bom me contar agora. Eu disse que queria assistir você e o Isaac transando.

— Não é nada disso, Erica. — O garoto negro falou, sorrindo.

— Minhas roupas molharam com a chuva. — Isaac falou, voltando a olhar para o lado de fora da janela.

O garoto não falou mais nada e Erica entendeu que o assunto estava encerrado. O resto do caminho foi silencioso, tirando alguns momentos, em que Boyd e Erica conversavam sobre alguma coisa que Isaac não dava atenção. Quando chegaram no colégio, o motorista estacionou seu carro na vaga que estacionava todos os dias. Erica foi a primeira a descer do veículo, seguida pelo namorado. Isaac, no entanto, travou e não conseguiu abrir a porta. Boyd arrodeou o carro e abriu a porta, para o amigo sair. Entretanto, o loiro permaneceu no lugar. Erica ficou observando.

— Você não pode assistir as aulas aqui no carro. — Boyd falou, com um tom brincalhão.

— Eu não quero ir pra aula hoje? — Isaac respondeu.

— Cara, você não pode evitar o Scott pra sempre. — Boyd falou e Isaac e soltou um longo suspiro. — Você vai ter que encontrar com ele no lacrosse.

— Eu sei, mas hoje eu posso evitar ele. — Isaac falou. — Além do mais, eu tô muito ridículo com essa roupa enorme.

— Desculpa se eu sou mais musculoso que você. — Boyd falou, erguendo as mãos. — Se não vai pra aula, o que você vai fazer o dia todo?

— Eu não sei, acho que vou dar uma volta pela floresta ou pela cidade mesmo.

Boyd tirou a chave do carro do bolso da calça e estendeu para Isaac.

— Toma. Vem me pegar depois do treino.

— Boyd, não. — Isaac falou, tentando recusar.

— Eu não vou deixar você perambular por aí andando, sozinho.

Finalmente Isaac pegou a chave e saiu do carro, ele arrodeou o veículo e entrou no banco do motorista. Enquanto Boyd e Erica seguiram de mãos dadas para dentro do colégio, Lahey deu a partida no carro e o conduziu para fora do estacionamento.

— Qual o problema do Isaac? — Erica perguntou, quando já estavam próximos da porta.

A resposta de Boyd foi apenas um suspiro longo e cansado. Assim que o casal entrou no prédio, Scott veio em direção a eles. Erica não conseguiu disfarçar a surpresa pelo hematoma no olho de McCall.

— Boyd? — McCall chamou, abaixando um pouco a cabeça.

— Eu te encontro depois. — Boyd falou para Erica, antes de dar um selinho nela.

— Tudo bem. — A garota falou, já indo em direção ao seu armário. — Até mais, Scott.

— Você falou com o Isaac? — Scott perguntou, ansioso.

— Falei. Eu o levei pra minha casa e ele vai passar um tempo lá.

— Obrigado. — Scott falou, tentando passar por Boyd, porém, o garoto negro se colocou na frente de McCall, impedindo que ele saísse.

— Ele não está lá agora. — Boyd falou, colocando as mãos nos ombros do garoto. — E, Scott, eu quero te pedir que não apareça lá de surpresa, isso vai ser bem desconfortável pra todos. O Isaac me contou tudo o que aconteceu. Quando eu falei pra você se acertar consigo mesmo, eu estava falando dos beijos que vocês trocaram. Não imaginei que fosse mais que isso.

Scott abaixou a cabeça mais uma vez, ainda não se sentia confortável com aquele assunto.

— Vai mandar eu ficar longe dele? — McCall voltou a olhar para o amigo. — Disse pra eu ficar longe dele, ontem. Se fosse ao contrário eu diria a mesma coisa pra você e ainda deixaria seu outro olho roxo.

— O Isaac já fez um bom trabalho com você. — Boyd falou sorrindo, conseguindo arrancar um sorriso tímido de Scott. — Eu disse pra você ficar afastado se quisesse guardar tudo isso dentro de você. Mas você disse que não queria magoá-lo mais. E eu vejo que você está arrependido. Então, Scott, só dá um tempo para o Isaac. Você deve isso a ele. Amanhã você tenta pedir perdão. E se quer saber? Eu torço pra que consiga. — Ele apertou os ombros de Scott, tentando motivá-lo.

— Valeu.

O primeiro sinal tocou e Scott e Boyd seguiram para suas salas. Após ouvir as palavras do outro, McCall estava ainda mais determinado a conseguir o perdão de Isaac.

***

Isaac dirigia sem rumo, pensando em tudo que tinha acontecido na última semana. “Valia a pena perdoar Scott?”, ele se perguntava. A verdade é que ele queria muito perdoar, no entanto, estava bastante magoado por McCall tê-lo chamado de “viado”, não esperava isso do amigo. Após passar meia hora gastando gasolina à toa, decidiu ir para algum lugar. O loiro pensou em ir para a floresta, porém, era o lugar de Scott. Então, decidiu não ir para lá. Alguns minutos depois, resolveu ir conversar com Melissa e não demorou muito para que estacionasse o carro no estacionamento do hospital de Beacon Hills.

O garoto tinha péssimas lembranças daquele lugar e assim que entrou, um arrepio se mostrou presente em seu corpo. Ele andou até o elevador e apertou o botão para o andar que ele saberia que Melissa estaria. Assim que a porta do abriu, avistou a mulher no seu posto, atrás da mesa. Ela falava ao celular e parecia muito nervosa. Isaac saiu do elevador e se aproximou da mesa, devagar.

— Não acho que seja uma boa ideia. — Melissa falou, um pouco alto. Ela fez uma pausa, esperando que a pessoa do outro lado da linha respondesse. — Porque você não aparece aqui há anos. O Scott não quer falar com você. — A mulher fez mais uma pausa. — Rafael, se você quer aparecer, então venha. Só não espere que o Scott vá te receber de braços abertos. — Ela desligou o telefone e o jogou na mesa. O garoto se aproximou mais, para que a enfermeira o visse. — Isaac? — Falou, tentando disfarçar a irritação de alguns segundos atrás, mas estava feliz de ver o garoto.

— Oi, tá tudo bem? — Isaac indagou, olhando para o celular e Melissa soltou um suspiro.

— Por enquanto tá sim. — A mulher pegou o celular, guardou no bolso da calça do seu uniforme, se levantou e saiu de trás da mesa. — E você, está bem? Onde passou a noite? — Era notável a preocupação em sua voz.

— Na casa do Boyd. Os pais dele me deixaram ficar lá por um tempo.

— E não deveria estar no colégio, agora? — Melissa o repreendeu.

— Eu tô com um pouco de dor de cabeça, então, eu achei melhor faltar. — Isaac explicou, um pouco envergonhado. — Pode arranjar aspirina pra mim?

Melissa se virou para pegar sua bolsa, ao lado do computador, na mesa. Ela tirou de dentro um frasco do remédio e entregou para o garoto.

— Tem água ali. — A mulher falou, apontando para um bebedouro.

— Valeu.

Isaac abriu o frasco, tirou dois comprimidos e os levou até a boca. Em seguida, foi até o bebedouro e bebeu um pouco de água. O garoto voltou pra perto de Melissa e devolveu o frasco pra ela.

— O Scott também é um dos motivos pra você ter faltado hoje? Eu sei o que aconteceu.

— Tudo?

— O Scott só me contou o porquê da discussão de ontem, mas eu sei que aconteceu alguma coisa entre vocês dois. Eu vi uma camisinha usada no lixo do banheiro. Foi quando Scott terminou com a Kira, então, ele não usou com ela e tenho certeza que você não levaria nenhum garoto lá pra casa, pra fazer sexo.

Isaac abaixou a cabeça, envergonhado.

— Isso é constrangedor.

— Para com isso, Isaac. Não é como se eu não soubesse que meu filho é sexualmente ativo. E quando você me contou sobre seu namorado da França, imaginei que você também fosse. Se vocês usaram camisinha, não tem problema nenhum. — Isaac ficou tão vermelho quando uma pimenta. Ele não conseguia olhar nos olhos de Melissa. A mulher sorriu com o embaraço do garoto, mas logo voltou a ficar séria novamente. — Eu estou muito triste com o que o Scott falou pra você, ontem. Quero que saiba que tivemos uma conversa e ele sabe que foi muito errado.

— Eu sei que ele está arrependido, eu pude ver. Mas o que ele disse, do que ele me chamou. Me magoou muito. E eu acabei machucando ele também. — Isaac olhou hesitante para Melissa. — Me desculpa.

— Não tem que me pedir desculpas. — A mulher falou, colocando suas mãos nas bochechas de Isaac. — Sei que acha que tenho a obrigação moral de ficar do lado do Scott, mas eu também estou do seu lado.

— Eu sei. — O garoto falou, sorrindo. — Eu não viria aqui se eu não soubesse. Aquilo que eu te disse ontem, é verdade.

O coração de Melissa se aqueceu e seus olhos brilharam. Ela puxou Isaac para um abraço e sussurrou no ouvido dele:

— Eu também amo você, querido. — Melissa rompeu o abraço e olhou nos olhos de Isaac. — Eu só espero que você e o Scott, resolvam seus problemas. — Um som começou a soar interrompendo aquele bonito momento entre os dois. — Droga, é um código azul de parada cardíaca. Eu tenho que ir.

A enfermeira deixou Isaac sozinho e correu para o quarto de onde vinha o tal código azul. O garoto decidiu que não ficaria mais ali. Ele sabia que Melissa entenderia por que ele foi embora, então, voltou pelo mesmo caminho e saiu do hospital.

***

O dia passou lentamente para Scott. Ele não conseguiu se concentrar em nenhuma aula, nem mesmo em biologia. Seus pensamentos estavam em Isaac. O garoto queria muito se redimir e estava pensando em como pedir perdão para o amigo. Na hora do almoço, McCall avistou Kira, guardando uns livros no armário dela, enquanto ele próprio também guardava alguns, no seu armário. A garota olhou para o seu ex-namorado e estranhou o olho roxo, no entanto, o clima entre eles, ainda estava pesado, então, ela fechou seu armário com força e seguiu para o refeitório.

— Cara, o que aconteceu com você? — Stiles perguntou, se aproximando de Scott, de mãos dadas com Lydia.

— Scott, você está bem? — A ruiva também perguntou, preocupada.

— Depois. — Foi tudo o que McCall disse, antes de pegar seu capacete no armário, fechá-lo e andar até a saída deixando, Stiles e Lydia muito confusos.

Minutos depois, Scott pilotava sua moto, sem destino certo. O vento batendo no seu tronco trazia uma sensação de liberdade, que o garoto amava. Ele matou as aulas da tarde e deu várias voltas de moto pela cidade. Quando já estava na hora do treino de lacrosse, o garoto decidiu voltar para o colégio, não poderia perder, já que no dia seguinte teria jogo. Scott estacionou a moto, e correu para o vestiário, com o capacete na mão boa. Ao chegar, guardou o capacete no seu armário, trocou de roupa e seguiu para o campo, onde todos os jogadores já estavam, levando seu taco e o capacete protetor.

— Onde é que tá o Lahey? — Finstock perguntou, de mau humor.

— Treinador, ele não se sentiu bem hoje, então, não veio para o colégio. — Boyd falou.

— Acho bom ele aparecer amanhã. — O treinador falou, antes de soar seu apito. — Vamos lá, rapazes.

— O Isaac tá bem? — Matt perguntou para Boyd, enquanto eles andavam para suas posições.

— Tá sim. Ele só não se sentiu bem pra vir a aula hoje.

Scott não teve o seu melhor treino. A mão machucada dificultava na hora de passar a bola, o que fazia com que o treinador gritasse toda vez que ele errava. A ausência de Isaac também não estava ajudando, pois, o moreno pensava nele toda vez que passava a bola pra alguém. Quando o treino acabou, Finstock dispensou os jogadores e chamou Scott para conversar. Aquilo vinha se tornando frequente.

— McCall, o que tá acontecendo com você?

— Eu tô com a mão machucada, treinador.

— Já não basta a doença do Lahey, agora você também. Vai poder jogar assim, amanhã?

— Vou sim.

— Ótimo. Agora vá pra o chuveiro.

Alguns jogadores já estavam saindo do vestiário quando Scott entrou. Ele foi até o seu armário e o abriu. O garoto tirou suas luvas e gemeu, fazendo careta de dor, quando viu que o curativo estava sujo de sangue.

— Aí, cara. — Stiles o chamou e quando ele se aproximou, McCall escondeu a mão machucada. — Quer que eu te espere?

— Não precisa. — Scott respondeu. — Eu quero ficar sozinho. Mais tarde a gente conversa.

— Então, tudo bem. — Stiles falou, já andando para a saída.

Scott se despiu completamente e guardou a roupa no armário. Em seguida, pegou uma toalha e seguiu para o chuveiro.

***

No dia seguinte, Isaac foi para a aula. Ele queria faltar mais uma vez, no entanto, Boyd o convenceu a ir, alegando que não tinha mais ressaca e nem a desculpa das roupas muito grandes. O loiro pegava seu livro de economia no seu armário, quando avistou Scott, também pegando seus livros. Por um momento, eles ficaram naquela troca de olhares, mas quando McCall sinalizou que se aproximaria, Lahey fechou seu armário e foi para a sua sala.

A aula seguiu normalmente. Isaac não entendia quase nada do que Finstock falava e acabou viajando em pensamentos. O garoto pensou em como estaria seu ex-namorado naquele momento. Provavelmente, estaria tirando algum atleta do armário. Isaac sorriu com o pensamento, mas logo seu sorriso se desfez, ao pensar em outro garoto, com quem tinha convivido na França, que acabou sofrendo um trágico acidente. Seus devaneios vagaram para Scott, Isaac se perguntou se algum dia estaria em um relacionamento com o amigo. Ele achava cada vez menos possível, de acontecer.

— Lahey. — A voz do treinador trouxe Isaac de volta pra realidade. — A aula acabou.

O garoto olhou em volta e viu que só restavam ele e Finstock na sala. O garoto fechou seu caderno e o livro, os guardou na mochila e a colocou nas costas.

— Treinador, eu preciso conversar com o senhor? — Isaac falou, se aproximando da mesa do treinador. — Não vou poder jogar, hoje à noite.

— Você tá brincando comigo, Lahey? Como assim não vai jogar? — Finstock perguntou, alterando a voz.

— Não estou me sentindo bem. — Isaac falou, fazendo sua melhor encenação de garoto doente. Ele se aproximou mais ainda da mesa fingindo que vomitaria.

— Tá bom, Lahey, eu dispenso você. — O treinador falou, com uma cara de nojo. — Só saia rápido daqui. Espero que melhore.

— Valeu, treinador. — Isaac falou e saiu da sala.

O resto do dia passou rapidamente. Isaac e Scott se encontravam nos corredores e sempre que o moreno tentava se aproximar, Lahey ia embora. Stiles tentou perguntar para McCall o que estava acontecendo, mas o moreno não queria falar sobre aquilo e pedia pra o amigo não perguntar nada. Logo, a hora do jogo chegou.

Mais uma vez a arquibancada do campo estava cheia. Isaac se sentou num lugar ao fundo, não queria ser visto por ninguém. O garoto avistou mais a frente Melissa, Noah, Lydia e Erica, sentados juntos, aguardando o jogo começar. Ele sorriu ao ver o xerife e a enfermeira conversando.

— Posso me sentar aqui? — Alguém perguntou para Isaac e quando o garoto levantou a cabeça pra ver quem era, avistou um dos gêmeos de Devonford.

O loiro assentiu e o gêmeo se sentou ao lado dele.

— Suponho que você deva ser o Ethan.

— Como descobriu? — Ethan indagou.

— Você veio torcer pra o Danny, não é? — Isaac falou, olhando para o goleiro. — Seu irmão não viria.

— Você acertou. — O gêmeo falou sorrindo. — O Aiden não é tão ruim quanto parece. Ele só leva essa rivalidade muito a sério, algumas vezes. E às vezes ele acaba me influenciando.

— Mas isso não aconteceu hoje. — Isaac afirmou, num tom de pergunta.

— Não. — Ethan confirmou. — Hoje eu vim torcer pelo meu namorado.

— Legal de sua parte.

— E você, por que não está no campo? — O gêmeo perguntou.

— Alguns problemas pessoais. — Isaac falou, olhando para um ponto específico do campo, e quando Ethan seguiu o olhar do loiro, viu Scott se preparando pra entrar.

— Entendi. — Ethan falou, sentindo o clima pesado entre os dois, de longe.

No campo, os jogadores estavam em volta do treinador, que passava os últimos detalhes do jogo. Scott procurou por Isaac em meio ao círculo e ao constatar que o loiro não estava lá, ficou decepcionado.

— Já que o Lahey não vai jogar hoje, você vai ficar no lugar dele, Stilinski.

Stiles fez uma dança desengonçada, como comemoração e Scott sorriu com aquilo. Mesmo estando triste por toda a situação com Isaac, estava feliz pelo seu outro melhor amigo. O treinador soou o apito e os jogadores juntaram suas mãos e soltaram seu grito de guerra “Vai Beacon Hills!”, num coro, e seguiram para suas posições. Scott se dirigiu para o meio do campo, assim como um jogador do time rival, que vestia um uniforme azul-escuro.

O árbitro soou o apito. Scott e o garoto do outro time competiram pela bola. No final, foi McCall quem ficou com ela. Ele correu e passou de mau jeito a bola pra Boyd, porque sua mão ainda dolorida. No entanto, o garoto negro conseguiu pegar e correu em direção ao gol do outro time. Boyd passou a bola para Stiles e o filho do xerife marcou o gol.

— Esse é o meu filho! — Noah gritou na arquibancada, junto à comemoração dos outros torcedores.

Isaac também comemorou com Ethan, que se limitou a aplaudir timidamente. Scott olhou para a arquibancada, enquanto voltava para o meio do campo e avistou o loiro. Nervoso, ele continuou olhando para o amigo, até que o árbitro o mandou se posicionar. McCall se distraiu e quando o árbitro soou o apito novamente, o garoto de uniforme azul do time rival pegou a bola e saiu correndo em direção ao gol. O moreno ainda ficou parado por um momento, mas logo se colocou de pé e olhou para Isaac mais uma vez, antes de correr atrás do jogador. O time rival tentou marcar o gol, porém, Danny conseguiu defender.

— É isso aí, Danny! — Ethan gritou e ao seu lado, Isaac aplaudiu.

A distração e a mão machucada de Scott, acabaram prejudicando o time. E depois de tantos passes errados, e o outro time estar com a vantagem, o treinador Finstock decidiu colocar McCall no banco e colocar um reserva no seu lugar. Após a substituição, a situação de Beacon Hills melhorou e eles ganharam por uma vantagem de dois pontos, contra o time rival.

— Bom jogo. — Ethan falou para Isaac, se levantando, e o loiro apenas assentiu.

Após a comemoração tanto da torcida, quanto do time e do treinador, os jogadores foram para o vestiário, para tomarem banho, e a torcida começou a se dissipar. Isaac saiu da arquibancada o mais rápido possível, para que Scott não o visse novamente. Ele se dirigiu para o estacionamento, para esperar Boyd. E depois de dez minutos esperando encostado no carro do amigo, recebeu uma mensagem do rapaz negro, dizendo que ele poderia ir sozinho, pois, sairia com Erica. Já que Isaac estava com a chave do carro do outro, decidiu dar uma volta pela cidade, antes de ir pra casa.

***

Scott deixou a água molhar seu corpo, tirando toda a sua tensão. O garoto ficou mais tempo no chuveiro que o normal, pois, queria um tempo sozinho, sem os olhares de questionamento. Após se certificar que todos os outros jogadores já tinham saído, McCall desligou o chuveiro e se enxugou. Ele seguiu para o seu armário, com a toalha enrolada na cintura, pegou sua roupa e a vestiu em seguida. Mais uma vez Isaac veio à sua mente. Mesmo não estando em campo, o loiro foi assistir ao jogo e torcer por ele. Bem, pelo time, na verdade, mas isso contava muito. Após um suspiro cansado, Scott se sentou no banco e apoiou sua cabeça nas mãos. E o garoto ficou assim por um momento, até que ouviu um barulho e quando levantou a cabeça pra ver quem era, avistou Ethan.

— Desculpa, eu tava procurando o Danny. — Ethan falou.

— Ele não tá aqui. Já saiu. — Scott falou, querendo que o gêmeo o deixasse sozinho. Ethan se aproximou e se sentou, ao lado dele. — Você se importa? Eu quero ficar sozinho.

— Na verdade, era você mesmo quem eu estava procurando. — Ethan falou, olhando para Scott, que também o olhava, porém, um pouco confuso. — Eu já estive no seu lugar, McCall.

— O que quer dizer? — Scott perguntou, ainda mais confuso e surpreso.

— Há alguns meses eu estava exatamente como você. Não conseguia aceitar quem eu era. — Ethan explicou. — E por causa disso, acabei afastando as pessoas. Era agressivo.

— Eu ainda não estou entendendo o que você quer dizer.

— Porra, McCall, como você é lerdo? — Ethan já estava ficando um pouco impaciente. — Eu tô falando de você gostar de garotos, do Lahey.

— Eu não...

— Não gosta? — O gêmeo interrompeu Scott. — Eu já notei o clima entre vocês. Não precisa mentir pra mim. Não tem problema nenhum você gostar de garotos. E eu tenho certeza que o seu time vai te apoiar. Mas antes, você precisa se aceitar.

— Como você conseguiu?

— O Danny me ajudou. — Ethan confessou. — Quando o conheci, eu estava tão perdido, que não sabia se valia a pena continuar. Mas quando conheci esse garoto tão de bem com a vida e que era feliz consigo mesmo, eu vi que queria ser igual a ele. E ele me ajudou muito, sempre estando do meu lado. Até que um dia eu simplesmente cansei de negar. Eu até contei pra o meu irmão. Claro que o Aiden disse que já sabia e me deu o maior apoio também, mas é importante se abrir e falar, sabe? — Scott assentiu inconscientemente. — Depois, eu consegui contar pra os meus pais. Eu comecei a ficar mais feliz e então eu e o Danny começamos a namorar. Quando eu contei pra o meu time, meu irmão estava lá do meu lado, mas eu tive o apoio de todos. — O garoto terminou de falar com orgulho e Scott não pode evitar sorrir com aquilo. — Pensa nisso. O Lahey vai estar do seu lado e pelo que eu vejo, todos os seus amigos também. São essas pessoas que importam. O seu time não tem problema nenhum com o Danny, por que teria com você? Então, Scott, para de se importar com o que os outros vão pensar e se joga de cabeça. Você vai ser bem mais feliz.

— Por que você tá sendo legal comigo? — Scott indagou, ainda com o pé atrás.

— Como eu disse, eu passei por tudo que você passou. — Ethan falou. —Acho que pessoas como nós, deveríamos nos ajudar.

Ethan ficou de pé e saiu do vestiário, deixando Scott sozinho com seus pensamentos. O garoto pegou seu celular e mandou uma mensagem para sua mãe, dizendo para não esperá-lo, pois, não iria pra casa agora. Ele queria ficar sozinho por mais um tempo, e após ficar mais alguns minutos no vestiário, pensando no que Ethan disse, McCall pegou seu capacete no armário, saiu de lá e foi até sua moto. Sempre que queria espairecer, ele pegava sua moto e dirigia sem rumo, até que finalmente acabasse na floresta, no planalto, onde ele e Isaac observaram o pôr do sol anos atrás. E naquela noite não seria diferente.

Não demorou muito para que o moreno estivesse andando por entre as árvores. A grama ainda estava um pouco molhada por causa da chuva da noite anterior e por causa disso, vez ou outra, Scott acabava escorregando. Assim que chegou ao planalto, se surpreendeu por encontrar Isaac, sentado na grama, de costas para ele, olhando a cidade. O garoto se aproximou devagar, tentando não fazer barulho, entretanto, o outro ouviu os passos do moreno e se virou, ameaçando se levantar, quando viu o amigo.

— Por favor, fica aí. — Scott pediu, se colocando ao lado de Isaac. — Posso me sentar aqui?

Hesitantemente, Isaac assentiu e Scott se sentou. Os dois permaneceram em silêncio e sem se olharem, por muitos minutos, e aquilo já estava começando a ficar constrangedor para os dois. Scott tinha muito o que falar, porém, não sabia por onde começar. Já Isaac, apenas não sentia vontade de falar. Mas o loiro foi o primeiro a romper o silêncio, ao notar a mão machucada de Scott, sobre o colo dele.

— O que houve com a sua mão?

— Eu soquei a parede. Tava me punindo por ter sido um babaca com você.

— Ficou maluco? Podia ter quebrado a mão.

— Tá preocupado comigo?

— Não quero que o time fique prejudicado por causa da sua imprudência.

— Se você diz. — Scott falou sorrindo.

— Sabe? — Isaac começou a falar, ainda sem olhar para Scott. — Lá na França, algumas pessoas me olhavam feio. Principalmente no colégio, alguns garotos e até algumas garotas. Mas apesar de tudo, eu tinha o Jackson e ele me ajudava a passar por isso. Quando eu voltei pra cá, eu esperava contar com meus amigos. Incrivelmente, ninguém no colégio me olhou estranho e isso é muito bom. Mas o meu melhor amigo, a pessoa que mais importava pra mim, que eu achava que me apoiaria sempre, me disse coisas horríveis. Você tem noção do quanto isso magoa? — O loiro finalmente olhou para o amigo.

— Me perdoa. — O moreno falou, quase sussurrando, de cabeça baixa. — Eu sinto muito mesmo, Isaac. Não devia ter dito aquilo pra você.

— Eu te entendo, Scott. É difícil pra algumas pessoas se aceitarem como são. Mas se tivesse dado uma chance pra gente conversar, eu poderia te ajudar, mas você me atacou.

— Eu sei. E eu me odeio por isso.

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Scott e logo, já estava soluçando. Ele não tinha vergonha de chorar na frente de Isaac, mesmo que não fosse frequente, o moreno já chorara na frente do amigo antes, assim como Lahey também já fizera. Por mais que a vontade de abraçar Scott fosse grande, Isaac se manteve firme e não o fez. Depois de alguns minutos, Scott ficou mais calmo.

— Já está ficando tarde. — Isaac falou, se levantando. — Tenho que levar o carro do Boyd de volta. E você, vê se não fica aqui até tão tarde. Da última vez a Melissa ficou bem preocupada.

O loiro deu as costas para o amigo e começou a andar. Scott também ficou de pé.

— Isaac? — McCall o chamou, fazendo o loiro parar. — Eu vou conseguir o seu perdão.

Um sorriso se formou nos lábios de Isaac. Ele sabia que quando Scott colocava uma coisa na cabeça, não descansava até conseguir. E o loiro não ia mentir pra si mesmo e dizer que não queria perdoá-lo, mas ele não iria facilitar. Lahey desmanchou o sorriso e se virou para encarar Scott.

— Boa sorte. — O garoto falou, antes de dar as costas para o amigo novamente e seguir seu caminho.