História Secret Desires - Scisaac's Secret Chronicles Volume 1 - Éramos amigos

No dia seguinte, a manhã estava nublada. Na residência dos McCall, Melissa terminava de preparar o café da manhã, ainda usando seu uniforme de enfermeira, pois, tinha acabado de chegar do seu turno no hospital. Cansada, mas feliz por estar em casa. A mulher acabou de colocar panquecas na mesa, quando Scott, já vestido e com a mochila nas costas, apareceu na cozinha.

— Oi, mãe.

— Oi, filho. Bom dia.

Scott pegou uma maçã, mordeu e sentou-se, calado. Melissa colocou duas panquecas num prato e deu pra Scott, sentando-se a sua frente em seguida.

— O Isaac já acordou? — Ela perguntou.

— Eu não sei. — O garoto respondeu, com certo tom de desprezo, o que não passou despercebido por sua mãe.

— Por que parece que você não está feliz com a volta dele? — Perguntou Melissa, intrigada.

— Para ser sincero, mãe, eu não estou. — Disse Scott, desviando seus olhos do olhar da sua mãe, que parecia querer estudar o que estava acontecendo entre ele e Isaac. Ele pegou os talheres, cortou um pedaço da panqueca no seu prato e o levou até a boca.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa...

— Como foi a noite no hospital? — Scott indagou, após engolir, numa tentativa de fazer com que sua mãe parasse com as perguntas que ele não queria responder.

Melissa compreendeu que Scott não queria falar sobre o assunto e decidiu dar espaço ao filho.

— Um pouco agitada. — Ela respondeu. — Tiveram alguns acidentes de carro, mas nenhum ferido gravemente.

— Hum! — Scott murmurou, não muito interessado nos acidentes de carro. Ele voltou a dar atenção para seu café da manhã, em silêncio.

Alguns minutos depois, um Isaac sonolento entrou na cozinha. Percebendo que Melissa olhava para algo atrás dele, Scott ficou tenso, pois, sabia que era o outro garoto. Isaac caminhou hesitante, ainda esfregando os olhos, para a mesa e sentou-se ao lado de Scott.

— Bom dia. — Falou o loiro.

— Bom dia, querido. — Melissa disse, enquanto colocava um prato de panquecas e uma jarra de calda na frente do garoto. — Dormiu bem?

Mas antes que Isaac pudesse responder, foi interrompido por Scott, que se levantou apressadamente. O garoto de verdade não tinha nenhum interesse em estar ali.

— Mãe, eu já tô indo pra escola. A gente se vê mais tarde! — E saiu pela porta da cozinha, como se estivesse atrasado.

Melissa, olhando o seu relógio de pulso, viu que ainda faltava muito tempo para que Scott se atrasasse, o que a deixou mais curiosa. O clima ficou um pouco estranho. A matriarca reparou que Isaac também estava estranho, mas diferente de como o seu filho estava, constatou que o loiro estava triste com o que tinha acabado de acontecer. Ela ficou intrigada, pois, seu filho não era assim, logo, imaginou que algo grave deveria ter acontecido entre os dois para que Scott agisse daquela forma tão fria.

— Isaac, sério, o que aconteceu entre vocês dois? Percebi que alguma coisa aconteceu, mas parece que ninguém nessa casa quer me contar. — Perguntou Melissa, preocupada.

Isaac pensou um pouco antes de responder. Pensou em ir embora, ir até o quarto, pegar suas coisas e sair, sem dar nenhuma explicação, de novo. Porém, não seria certo e afundaria de vez a amizade dele com Scott. O garoto hesitante, deu um longo suspiro e começou a responder:

— É... — Ele hesitou.

— Complicado? Tem a ver com a Allison? — Perguntou Melissa.

— Digamos que sim! — Respondeu o garoto.

— Digamos? Sério, o que aconteceu? — Melissa não estava satisfeita com a resposta que Isaac acabara de dar.

— O Scott acha que eu e a Allison ficamos. Foi isso.

— E ficaram? Você e a Allison?

— Não do jeito que o Scott acha, mas... — Isaac pensou um pouco. — Nós ficamos bem próximos.

— Por que parece que tem mais coisa?

Isaac olhou pra Melissa e na mesma hora ela viu que ele não precisava dizer mais nada. Tinha acontecido mais alguma coisa.

— Acho que ele me culpa pelo que aconteceu. — Isaac confessou, cabisbaixo.

— Querido, isso não é verdade.

— Eu vou entender se quiser que eu vá embora, sério. — O garoto falou, tristemente, já esperando a ordem para sair. — O Scott é seu filho e é natural que você fique do lado dele.

— Não quero que vá, Isaac. — A mulher falou. — E tenho certeza que o Scott também não quer isso. Entretanto, vocês dois precisam se resolver. Não podem ficar nessa situação, nesse clima estranho toda vez que se esbarrarem pela casa.

— Eu não sei se vai rolar, Melissa. O Scott disse que queria que eu fosse embora. Então, acho melhor eu ir mesmo. — Disse o garoto, já se levantando.

— Isaac! — Falou uma Melissa ríspida, num tom que não era costumeiro usar. — Eu já disse que você pode ficar, não disse? Eu sei que o que o Scott falou foi só da boca pra fora, eu conheço o meu filho. A sua amizade sempre foi importante para ele e ainda é.

— É, até eu estragar tudo.

— Eu não sei o que você fez, mas não deve ser tão grave que o Scott não possa perdoá-lo. Garanto que a tragédia da Allison não tem nada a ver com isso. — Melissa pegou na mão do garoto, lançando um olhar de calma, que tudo iria ficar bem. — Mas sério, vocês precisam se resolver e o mais rápido possível.

— Você tem razão. — Isaac refletiu.

O garoto decidiu que faria Scott perdoá-lo de algum jeito. Não forçaria a barra com o outro, no entanto, não deixaria de tentar. Ele começou a comer as suas panquecas e sujou toda a boca com a calda. Esse fato trouxe lembranças a Melissa e ela sorriu.

— Ainda parece uma criança comendo. — Ela disse, ainda sorrindo, o que levou o garoto a sorrir também. A mulher colocou uma panqueca para si e também começou a comer. — Termina logo de comer, senão vai se atrasar pra escola. — Disse depois, de alguns minutos. — Vai precisar de carona?

— Não, tudo bem. Pode ir descansar. Eu vou andando mesmo. Ajuda a pensar, sabe? — O garoto respondeu.

— Sei sim. Então, se me permite, vou tomar um banho bem demorado e ir dormir. O plantão foi um pouco corrido essa noite. Boa aula, querido. Até mais tarde. — E a mulher se despediu, ainda pensativa sobre o que poderia ter acontecido de verdade para que seu filho se portasse daquela maneira. Mas decidiu que mais tarde faria isso e que o importante agora era relaxar.

Assim que terminou de engolir o café da manhã, Isaac levou os três pratos para a pia, com os talheres, os lavou, colocou no escorredor e em seguida subiu para o banheiro. Precisava de um banho, esfriar um pouco mais a cabeça, antes de ir para a escola. Ele não parava de pensar na “conversa” com Scott e no quanto estava determinado a arrumar as coisas com o amigo. Após banhado e devidamente vestido, Isaac foi para a escola.

***

Depois de uma longa caminhada, Isaac chegou atrasado na Beacon Hills High School. Ele estava todo molhado, já que na metade do caminho para a escola, uma chuva forte começou a cair. A primeira coisa que fez ao chegar, foi passar na sala da diretora Natalie Martin, resolver a sua transferência e após tudo resolvido, a mulher entregou seu novo horário e o mandou para a aula.

Isaac passou no seu armário, que continuou o mesmo, e guardou todos os seus livros, deixando sua mochila mais leve, e seguiu para a sua primeira aula, de química. Depois de explicar para o senhor Harris o motivo de seu atraso e de estar todo molhado, Isaac finalmente pode ir se sentar e assistir a aula. Por ele estar com uma camisa branca, molhada, chamou a atenção de algumas meninas na sala, no entanto, ele não deu importância. Ele sentou ao lado de Boyd e prestou atenção no conteúdo.

A aula chegou ao fim. Isaac e Boyd saíram da sala e seguiram para os seus respectivos armários, que não ficavam no mesmo corredor. Isaac guardou seu livro de química e olhou seu horário pra saber qual seria sua próxima aula. História com o senhor Yukimura. Antes que pudesse pegar seu livro de história, o garoto ouviu uma voz familiar gritando. Ele se virou na a direção do grito e viu uma garota loira andando rápido, quase correndo, se aproximado dele. Isaac fechou os olhos, ele esperava que fosse receber um tapa bem forte dela, mas o que ganhou foi um abraço apertado. Isaac correspondeu ao abraço e quando eles se afastaram, a garota deu soco forte no ombro dele.

— Ai! — O garoto reclamou.

— Quando o Boyd falou que você tinha voltado, eu nem acreditei.

— Também senti sua falta, Erica.

— Eu juro, Isaac, se você falar alguma coisa eu vou te bater de novo. — Erica ameaçou, cruzando os braços. — Ainda estou zangada.

— Ok. — Isaac sorriu, porém, ele realmente ficou com medo da ameaça. O garoto sabia que quando Erica ficava zangada, parecia com uma loba raivosa e ele não queria presenciar uma cena de “Erica, a loba”. As unhas da garota eram enormes, se pareciam com garras e Isaac queria aquelas unhas bem longe de qualquer parte do seu corpo.

— Qual é sua próxima aula? — Erica perguntou.

— História. — Isaac respondeu, olhando no horário mais uma vez, pra confirmar.

— Ótimo, vamos juntos.

Erica passou seu braço em volta do braço de Isaac e o guiou para sala, onde ocorreria a aula do senhor Yukimura.

Logo a hora do almoço chegou. Scott e Isaac não tiveram nenhuma aula, juntos e nem se esbarraram pelos corredores. Internamente, McCall agradecia por isso. Ele não sabia se Isaac tinha voltado para a escola, mas tinha a sensação de que ele estaria por lá sim. Numa mesa no refeitório, Scott, Stiles, Lydia e Kira almoçavam e conversavam animadamente. Na verdade, Scott estava completamente alheio a conversa dos outros três. Ele finalmente deu atenção ao grupo quando Stiles o cutucou.

— Aí, cara. — Stiles falou, olhando para três pessoas que tinham acabado de entrar no refeitório: Boyd, Erica e Isaac.

— Quando Isaac Lahey voltou? — Lydia perguntou, curiosa.

— Ontem. — Scott respondeu, com o mesmo tom de desprezo, que passou a usar quando o assunto era Isaac.

— Quem é Isaac Lahey? — Kira indagou, um pouco hesitante.

Scott suspirou. Ele passou a manhã inteira se controlando para não parecer irritado na frente dos seus amigos, principalmente na frente da sua namorada. Não queria falar de Isaac com Kira, já que falar de Isaac remetia a falar da Allison e esse ainda era um assunto delicado para os dois.

— Éramos amigos. — Scott falou, com cansaço.

— Até que o Isaac foi embora. — Acrescentou Stiles.

— E por que ele foi embora? — A garota de olhos puxados voltou a perguntar.

— Chega de perguntas, Kira. Eu não quero falar sobre o Isaac.

Scott se levantou bruscamente, pegou sua bandeja, que ainda tinha restos de comida e saiu do refeitório, preferindo almoçar sozinho no ginásio. Kira pensou em ir atrás dele, porém, preferiu não fazer isso. Nunca tinha visto seu namorado daquele jeito, ele sempre era tão gentil, mesmo quando ela perguntava sobre Allison. O silêncio na mesa permaneceu por alguns minutos até que Lydia o quebrasse.

— O Scott não tá com raiva de você. — A ruiva disse. — É só que tudo isso é bastante doloroso pra ele.

— Eu não entendo. — Kira disse, frustrada. — Eu queria poder ajudar.

— Olha, Kira, tudo que posso te contar é que tem a ver com a Allison. — Lydia falou com tristeza e Kira soube que o assunto estava encerrado.

Em outra mesa, Isaac estava sentado de frente para Boyd e Erica e de costas para a mesa de onde Scott estava antes e para a porta da saída. Ele vestia o casaco de Boyd por cima da sua camisa branca, que agora estava úmida.

— O Scott parece mesmo irritado. — Erica falou, chamando a atenção de Isaac, que olhou pra trás, bem a tempo de ver Scott deixando o refeitório.

— É, Isaac. Você abalou mesmo ele, hein? — Boyd caçoou.

— Eu não quero falar sobre isso agora.

O loiro voltou a comer seu almoço. Na verdade, ele tentava comer, mas sempre tinha que fazer pausas para responder as perguntas incessantes, sobre como era a França, os melhores lugares, a Torre Eiffel, vindas de Erica.

— Tá bom, chega de falar de como foi minha viagem. — Isaac falou, já farto de tantas perguntas. — Me contem, vocês dois estão finalmente namorando?

Em resposta, Erica encarou Boyd, e o garoto a encarou de volta. Eles estavam com os rotos muito próximos. Erica mordeu os lábios e passou sua mão pelo abdômen de Boyd.

— Estamos namorando? — A garota perguntou.

Boyd a beijou. Erica passou seus braços em volta do pescoço dele, enquanto o garoto levou suas mãos até a cintura dela. Isaac, que preferiu ter ficado de boca fechada, observava a cena, incomodado. Ele fez cara de nojo e disse:

— Pelo amor de Deus, arrumem um quarto.

O casal interrompeu o beijo. Erica sorriu de uma maneira bem provocativa e deu seu melhor olhar sedutor para Isaac. Porém, isso não causava efeito no garoto. Apesar de estar desconfortável, saber que Boyd e Erica estavam finalmente namorando alegrou Isaac, pois, o garoto acompanhou de perto a angústia de Boyd, que mesmo sendo um rapaz bonito, grande e musculoso, não sabia como chegar na garota, porque ela o intimidava. Isaac estava feliz que seus amigos se acertaram.

— O que foi, Isaac? Quer assistir? — Erica perguntou, com uma voz também sedutora. — Ou você quer participar?

— Eu sou gay, Erica. — Isaac falou, tirando o sorriso estampado da face da garota. — E a última coisa que eu quero, é assistir um pornô hétero ao vivo. E muito menos participar.

Boyd gargalhou. Ele havia contado sobre a sexualidade de Isaac para Erica, e sabia que sua namorada só estava fazendo isso pra provocá-lo. Era engraçado um garoto não cair na lábia dela.

— Vocês dois podiam transar, enquanto eu assisto. — Erica falou.

O sorriso sumiu do rosto de Boyd e ele ficou um pouco desconfortável com o que sua namorada falou.

— Que ideia maluca, Erica.

— Que foi? Eu sempre quis ver dois homens transando. — A garota falou, com uma cara cínica.

— Eu não transaria com o Boyd. — Isaac falou, desconfortável igual ao amigo.

— E por que não? — Boyd questionou.

— Porque seria estranho.

— Tá! Chega de falar disso. — Boyd disse, ainda com desconforto. Ele olhou pra Isaac e perguntou. — Já falou com o treinador sobre voltar pra o time de lacrosse?

Isaac suspirou, pensou por algum tempo e depois de alguns segundos ele respondeu:

— Não acho que seja uma boa ideia. O Scott é o capitão e ele não me quer por perto.

— Quem liga pra o que o Mascote quer? — Erica questionou. — Você adora lacrosse.

— É, Isaac, você adora. — Boyd concordou. — Além do mais, voltar pra o time é uma maneira de se reaproximar do Scott, você não achar?

— É, talvez você tenha razão.

— Fala com o treinador. — Boyd praticamente ordenou.

Isaac sorriu. Ele sentiu muita falta daqueles dois e estava muito feliz porque a recepção deles foi mais positiva que a de Scott.

***

O vestiário estava vazio, todos os jogadores já tinham ido para o campo treinar. O treinador Bobby Finstock andava com uma prancheta e seu usual apito, enquanto terminava de verificar os equipamentos para poder seguir para o campo também. Atrás dele, um Isaac determinado falava sobre voltar ao time, o que estava irritando o treinador.

— Mas eu sou muito bom. — O garoto disse, após o treinador dizer que ele não podia voltar. — Vocês precisam de mim.

O treinador parou de andar e se virou para Isaac.

— Lahey, você perdeu todos os treinos nos últimos sete meses.

— Treinador, eu tava na França.

— Não me interessa se você estava na França ou no Brasil. — O treinador disse, com um tom mal-humorado. — Devia ter pego o primeiro avião pra Beacon Hills pra treinar.

— Sabe o tempo que levaria e o dinheiro que seria gasto?

— Tá bom, Lahey. Você pode voltar.

— Valeu, Treinador. — Isaac falou, sorrindo.

— Mas se perder mais um treino, você está fora. Entendeu?

— Sim, treinador.

— E você vai ficar no banco. — O treinador falou. — Agora vai se arrumar, você já está atrasado.

E dito isso, o treinador deu a chave de um dos armários para Isaac, saiu do vestiário e foi para o campo. O garoto foi trocar de roupa, ele ainda tinha o seu uniforme guardado e o trouxe na mochila. Ainda estava em dúvida se deveria voltar ou não para o time, mas Boyd o encorajou e ele decidiu que, já que tinha voltado definitivamente para Beacon Hills, recuperaria sua vida de volta e voltar para o time era o primeiro passo. O próximo seria recuperar a amizade de Scott. Quando terminou de vestir sua camisa com o número 14 e seu sobrenome estampado, Scott entrou no vestiário, também vestido com seu uniforme, com o número 11 na camisa. Ao ver Isaac vestido com seu uniforme, o moreno ficou irritado.

— Você só pode tá brincando comigo. — McCall proferiu, com raiva. — Não pode voltar pra o time.

— E por que não, Scott? Hein? — Isaac perguntou. Ele já estava começando a ficar um pouco aborrecido. — Você pode não querer falar comigo, ou até mesmo pode não querer que eu fique na sua casa. Mas você não pode me impedir de voltar para a escola, de voltar para o time e de ter minha vida de volta.

— Por que você não volta pra sua vida na França?

— Porque eu cansei de fugir. — Isaac respondeu, com um evidente cansaço na voz. 

Scott deu uma risada sarcástica e disse:

— Você só sabe fugir, Isaac. Quando a sua mãe morreu, você fugiu para a floresta. Quando a Allison morreu, você fugiu para a França. Quando o seu pai te batia, você fugia pra minha casa. — Scott se arrependeu profunda e amargamente de ter mencionado o pai de Isaac. Ele estava com raiva e queria muito magoar o seu antigo amigo, entretanto, sabia que aquele era um assunto que Lahey odiava e trazer essas lembranças pra o outro não era sua intenção. Tinha exagerado. Quando viu o semblante de mágoa que estampou o rosto de Isaac, Scott se arrependeu mais ainda. O moreno se perguntou o que estava acontecendo com ele, não era se seu feitio agir daquela forma, porém, desde que Isaac voltou, ele começou a sentir uma irritação muito grande. — Me desculpa. Eu não quis falar sobre aquilo. — Scott falou, realmente arrependido.

Isaac baixou a cabeça. Uma lágrima solitária surgiu no seu olho direito. A respiração dele ficou pesada, e ele respirou fundo, várias vezes, tentando controlá-la. O loiro fechou os punhos. Uma coisa era Scott falar pra Isaac ir embora e dizer que não o queria por perto ou ignorá-lo completamente. E ele aceitava isso por se achar merecedor. Outra coisa era Scott trazer à tona as lembranças do que Isaac sofrera nas mãos do pai, o moreno tinha passado do limite. Lahey ergueu a cabeça e avançou sobre Scott, empurrando-o com força. O moreno se desequilibrou e quase caiu no chão.

— Você quer mesmo jogar fora todos os anos da nossa amizade? — Isaac questionou, magoado. — Fica feliz me ferindo desse jeito?

— Isaac...

— Scott! — O loiro interrompeu. — Eu sei que eu te magoei. Muito. Mas se eu tivesse no seu lugar, eu jamais usaria o seu relacionamento com o seu pai contra você. Nem que eu estivesse furioso.

Scott refletiu. Ele também não tinha um relacionamento muito bom com o seu pai. Só que diferente do falecido pai de Isaac, Rafael McCall, o pai de Scott, era meio ausente. Ele aparecia de vez em quando e quase sempre os dois acabavam brigando. Scott sabia que Isaac nunca usaria isso para magoá-lo. Ele queria falar alguma coisa, porém, não sabia o que. Scott tinha dito que Isaac só sabia fugir, mas ele também estava fugindo do amigo. E quando finalmente “conversou” com o outro, usou o golpe mais baixo que podia.

— O capitão do time não deveria se atrasar pra os treinos. Ele tem que dar um bom exemplo pra os outros jogadores. — Isaac falou, depois de alguns segundos de silêncio.

E Scott entendeu a deixa. Ele abaixou a cabeça e saiu do vestiário. O garoto não estava nem um pouco feliz com toda aquela situação, não ficava feliz em machucar Isaac, entretanto, seus sentimentos estavam mais confusos do que nunca. Ele ficou feliz com a volta do seu amigo, seria mentira se dissesse que não ficou e queria muito voltar a ter a velha amizade que eles tinham antes de tudo. Todavia, a sua mágoa era maior e essa confusão de sentimentos o deixava irritado e ele acabava agindo como normalmente não agiria. Isaac causava essas reações nele.

Isaac continuou parado no vestiário. Ele estava com a cabeça abaixada, tentava não chorar. Lembrar das agressões causadas pelo pai o abalara e o que mais o frustrou foi a forma como Scott o fez lembrar-se daquilo. Ele nunca pensou que o outro agiria daquela forma, mesmo o moreno estando com muita raiva. O loiro se perguntou se a amizade deles estava perdida pra sempre.

Perdido nos seus pensamentos, o garoto não viu uma pessoa se aproximando por trás, alguém que tinha observado a discussão dele com Scott. E quando a tal pessoa tocou seu ombro, Isaac se assustou. Ele se virou para ver quem era e ficou surpreso ao dar de cara com um garoto, que também usava o uniforme do time de lacrosse, com o número 8, e tinha uma câmera fotográfica pendurada em seu pescoço.

— Matt Daehler?

Matt Daehler costumava ser seu amigo quando eles tinham doze anos, porém, um dia Matt parou de ir à sua casa. E as coisas ficaram mais estranhas quando senhor Lahey disse para o seu filho que queria que ele e Matt não fossem mais amigos. Por mais que eles tenham se distanciado, não deixaram de ser amigos completamente,

— Agora que você e o McCall estão brigados, se lembra dos seus outros amigos. — Matt disse, com uma falsa mágoa.

— Cara, senti sua falta.

Isaac sorria, mas o seu sorriso era forçado, ainda estava desestruturado com a conversa de minutos antes. Ele e Matt se cumprimentaram com um aperto de mão elaborado, que terminou num abraço rápido.

— Vai me contar por que você e o McCall brigaram? — Matt perguntou.

— Deixa pra outro dia, agora vamos pra o treino. — Isaac desconversou.

Matt não insistiu. O que ele realmente queria saber era se Isaac e Scott iriam voltar a ser amigos, como antes. Ele foi até seu armário, guardou a sua câmera e depois foi para o campo ao lado de Isaac.

— O cara ficou mal quando você foi embora. — Matt falou, olhando pra Scott, quando eles se aproximaram do campo. — Eu achei que ele fosse ficar feliz que você voltou. Bom, eu fiquei. Não acreditei quando te vi na aula de história, mas fiquei feliz. Muito feliz. — O garoto falou, com um tom diferente e um sorriso no rosto.

Isaac não sabia o que aquilo significava, mas por um momento pensou que Matt estava dando em cima dele. Esperava estar enganado, pois, não estava com cabeça pra namoros agora. Seu foco no momento, era tentar se acertar com Scott. O loiro olhou para seu antigo amigo, que tinha acabado de fazer um gol, pensou na forma como ele agiu no vestiário e se questionou se valia a pena o esforço.