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História Secret Love in Montreal - Winds


Escrita por: BloomingBaek

Notas do Autor


Hello, hello! Quem aí está preparado para saber um pouco do Baekhyun após 10 anos?
Temos Baekhyun de mullets e mechas vermelhas! Eu amo esse visual dele da era Ko Ko Bop :3
O resto vocês verão ^^

Antes de partirmos para a leitura, quero deixar aqui algumas simples palavras de agradecimento ao @aurivos, que não somente me deu de presente essas capas magníficas, como também me deu sua amizade e apoio. Alex, não me canso de dizer o quanto gosto da nossa amizade e o quanto o admiro por ser multitalentoso. Muito obrigada mais uma vez, por ter se oferecido a me presentear com a capa da fanfic, como bem de todos os capítulos. Espero que possamos manter nossa amizade. Eu dedico este capítulo a você, Alex xuxuzinho <3

Espero que gostem!

Capítulo 14 - Winds


Fanfic / Fanfiction Secret Love in Montreal - Winds

“Agimos certo sem querer. Foi só o tempo que errou.”

– Legião Urbana

 

 

A vida é como uma caixinha de surpresas. As realidades e os fatos inabituais que saltam dela, até hoje me arrancam reações chocantes. Talvez eu nunca tenha me acostumado com essas peças que a vida insiste em pregar em mim, ou, talvez seja impossível se acostumar com os imprevistos inusitados em nossa mera existência humana.

Todavia, há algumas surpresas que vêm para mostrar o nosso crescimento como pessoas. Provar para o nosso eu do passado, que um futuro brilhante e repleto de realizações está ao alcance de nossas mãos.

Quando que aquele Baekhyun menino, em seus 14 anos de idade, cheio de complexos de inferioridade conseguiria se enxergar sendo quem ele se tornou aos 27 anos de idade? Ou melhor, sendo quem eu sou agora, nos dias atuais?

Recordo-me, de forma vaga, dos medos e inseguranças acerca do meu futuro. Apenas lembro que o futuro me assustava, como se fosse um monstro escondido nas sombras da escuridão, esperando-me atravessar o presente para que pudesse me abocanhar e engolir-me por inteiro. Agora, percebo que todo aquele meu temor não passava de um medo natural e humano. Porque nós tememos aquilo que é desconhecido. Como disse um certo adolescente a mim: “Não existe nada mais incerto do que o futuro”.

De uma coisa eu sei, nossa vida é como um barco. Nós içamos as velas e escolhemos para onde guiá-lo, ou quem entra a bordo conosco. E estou demasiado satisfeito em como manobrei as velas deste meu singelo barquinho, até o porto mais seguro onde estou ancorado nos dias de hoje. E embora eu tenha passado por vendavais que quase naufragaram o meu barco, consegui me manter flutuando sobre as águas do mar da vida. Todos os pesos que me impediam de navegar sobre as tempestades que me assolavam foram lançados mar a dentro. Seja uma pessoa que me fazia mal, ou pensamentos, palavras e atitudes negativas da minha parte, todos foram arremessados para longe de mim durante essa minha longa trajetória. No entanto, um desses pesos conseguiu nadar contra a maré e embarcar mais uma vez comigo naquela jornada. Ou, talvez eu nunca tenha realmente o jogado para fora do barco da minha vida.

E essa era uma das surpresas da vida para qual nunca estaria preparado.

 

Dez anos, este foi o longo e aparentemente quase interminável período da minha vida de universitário, para conseguir me tornar um profissional especializado. Entretanto, cada noite sem dormir, cada transpiração de nervosismo antes de um seminário, e cada experiência compartilhada dentro daquele campus valeu à pena. Terminei aquela etapa da minha vida me sentindo bastante realizado, e sabendo que havia muito mais para se realizar. Sempre me disseram que sou pequeno em estatura, mas isso nunca foi empecilho para que eu acreditasse que sou do tamanho dos meus sonhos. Porque eu ainda sonhava com muitas realizações, embora a vida estivesse recheada de acontecimentos impactantes e inesperados. Alguns desses fatos acabaram mudando planos, sonhos e o rumo da minha história. E, ao mesmo tempo, acabaram por plantar novos desejos e novas metas, que foram florescendo no jardim que carrego dentro do meu peito.

Como disse um sábio poeta: “Quem quer colher novas manhãs, precisa aprender a plantar sol”.

Falando especificamente de mim, posso dizer que não mudei quase nada em minha personalidade. Continuei sendo aquela mesma pessoa meio acanhada, amante de cálculos e perdidamente apaixonada pelos livros “1984” de George Orwell e “Assassinato no Expresso Oriente” de Agatha Christie. Meus gostos eram exatamente os mesmos. Eu ainda era aquele menino sonhador, que gostava de admirar as estrelas e de imergir em minhas próprias fantasias. Nunca quis abandonar esse meu lado criança. Aquele lado que via graça onde não tinha. Que inventava meu próprio universo paralelo. Que imaginava super poderes. Que não queria acreditar que em um universo tão vasto, somente o Planeta Terra continha vida. Que acreditava que existia um céu para todos os animaizinhos de estimação. Que se emocionava fácil com um simples abraço. Que queria descomplicar aquilo que era complexo demais. Cheio de dúvidas. Repleto de perguntas. Curioso de uma forma desmedida. Porém, um pouco mais sério e centrado.

E eu aprendi a me amar. Amar todos esses meus lados, do mais transparente até o mais oculto. Aprendi a conviver em amor e harmonia com esse meu jeito chorão. Nunca me permiti perder a minha sensibilidade, embora sempre fiz questão de apontar o dedo na cara dela e a questionar: “Por que tão sentimental? Por que faz com que eu me importe tanto? Por que faz com que eu ainda me lembre? Por que faz com que eu ainda sinta? Por que ainda me deixas desenhar aqueles traços tão únicos em meus sonhos?”

Uma das partes boas, é que nunca perdi o brilho nos olhos. Nunca deixei morrer do meu rosto os sorrisos que cativam. Assim como não deixei de ser essa pessoa dúbia. E se meu dia amanhecia cinza, a primeira coisa que eu fazia era colori-lo com positividade e amor próprio, apesar de que nem sempre isso acontecia. Sou humano, sou falho, e naquela época ainda estava aprendendo a viver.

Essa questão de autoestima foi algo que precisei trabalhar bastante com o tempo. Eu tinha o Adrien para me auxiliar e me apoiar como um verdadeiro irmão. Aquele ali nunca descansou até que me visse amando a mim mesmo como ninguém jamais me amaria. Eu cresci tanto como pessoa... E talvez tenha feito algumas mudanças radicais, fisicamente falando.

Recordo-me com graça do espanto na face da minha mãe, quando me viu romper a porta de entrada da casa usando aquele corte de cabelo com mechas vermelhas, que ela nomeou como sendo muito fora de moda, e que meu pai adorou. Anos 80 sempre tiveram o meu apreço. As músicas, as roupas e os cortes de cabelo me encantavam. Então, quando decidi fazer aquele corte mullet, eu o fiz, porque acreditei que ficaria mais bonito daquela forma. E confesso, amava quando me olhava no espelho e via minha aparência refletida ali. Era a perfeita comunhão entre eu e eu.

Também houve aquela vez em que surgi com minha primeira tatuagem no braço direito, um símbolo tribal, que tinha um significado quanto a minha trajetória e minha identidade. Minha mãe adorou, já o meu pai preferiu nem dar palpite, até porque, eu já era autônomo para fazer minhas próprias escolhas e decidir o que pôr ou não em meu corpo. Eles sempre aceitaram bem essa realidade, diferentemente de muitos pais que existem por aí.

Sempre gostei de sentar à janela do meu quarto quando morava com meus pais. E isso não mudou depois que passei a dividir o aluguel de um apartamento com Adrien. Eu parava, pensava, olhava para dentro de mim e fazia uma retrospecção de mim mesmo. Gosto de lembrar da minha trajetória, dos meus ontens, de quem eu era, de quem nunca fui e quem me tornei; dos sonhos que sonhei e que um dia realizei; dos sonhos que ainda queria correr atrás; ou até mesmo daqueles que não pude concretizar.

Aquilo tudo faz parte de quem eu sou e que me moldou com o passar do tempo. Os amores que vivi e que se foram. Alguns partiram de forma mais leve, mesmo que eu tivesse sentido aquela dor aguda da despedida. Outros amores não foram embora, sem antes me devastar. Mas cada um me trouxe algum aprendizado e amadurecimento. Porque, no fim, consegui superar todos eles.

Ou quase todos…


∞∞∞

 

Fazia uma semana que havia completado 27 anos de idade. Minha vida estava bem estabilizada. Recentemente havia concluído meu mestrado e trabalhava na área mais encantadora para mim. Tecnologia Assistiva era o ramo dos meus sonhos, desde quando passei a me aprofundar no curso de Engenharia Biomédica. Eu basicamente trabalhava com itens, equipamentos, produtos e sistemas fabricados em série utilizados para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Próteses, auxílios para deficientes visuais, para pessoas com deficiência de mobilidade e para deficientes auditivos são alguns dos exemplos de categorias com as quais me envolvi na projeção e criação sob medida. Inclusive, foi graças a esse emprego que conheci a pequena Leonor, que viria a ser minha primeira filha adotiva.

Naquela época eu estava dividindo um apartamento simplório e pequeno com Adrien, que também era engenheiro biomédico, mas que trabalhava na área robótica. Ainda mantínhamos contato frequente com Dave, no entanto, ele não residia mais em Montreal. Acabou aceitando uma oferta de emprego em Toronto, assim que concluiu o curso de Relações Internacionais. E até fazia alguns meses que tínhamos comparecido ao casamento dele com Charles, um homem de 33 anos e o chefe do setor dele. Eu só desejava toda felicidade do mundo a uma das pessoas mais importantes da minha vida. E garanto a vocês, ele foi feliz.

 

Naquele domingo eu despertei meio sei lá. Meio nada e meio tudo. Meio alegre e meio tristonho. Uma mistura do que eu era e do que nunca fui. Quente e frio. Flores e espinhos. Certo e incerto. Literalmente um sei lá. Posso dizer que era uma daquelas manhãs em que acordamos e só desejamos voltar a dormir por mais uns 4 dias seguidos, sem interrupção.

Levantei-me com muito sacrifício. Usava meias com estampa de pinguins, e mesmo assim quis calçar minhas pantufas de unicórnio, que foram dadas por Charlotte em meu aniversário de 17 anos. Praticamente arrastei-me até a janela e puxei uma parte da cortina bege, a fim de visualizar a movimentação do trânsito. Era um domingo e ainda assim havia muitos carros e pessoas pelas ruas àquela hora da manhã. Consequências de morar bem no centro da cidade.

Decidi abrir as cortinas e senti o impacto dos raios solares em minha vista ainda pesada, por conta do sono bem presente. Tapei a vista com a palma da mão e dei alguns passos para trás. Em seguida, busquei por meu celular em cima da cômoda e chequei as horas. Ia dar 9 horas e havia uma mensagem do meu pai – além de algumas milhares de outras para as quais não dei importância.

 

Appa: Bom dia, querido! Precisamos conversar sobre o aniversário surpresa da sua mãe. Podemos almoçar juntos amanhã?

Eu: Bom dia, pai! Podemos sim, com certeza! Amanhã, ao meio dia e meia, no Au Pied de Cochon?

 

Tornei a depositar o aparelho sobre a cômoda, após enviar a mensagem a Louis. Então, senti o cheiro gostoso de café expresso e waffles com mel, sabendo que Adrien estava preparando o café da manhã para nós dois. Ele era sempre cheio de gentilezas e adorava cozinhar aos finais de semana, já que a correria do dia a dia não o permitia fazer aquilo com frequência. 

Saí do meu quarto e primeiramente fui ao banheiro fazer minha higiene matinal. Assim que terminei meu banho, destranquei a porta e a abri, sendo cumprimentado pelos miados da Haru, minha gatinha de pelagem negra e olhos esverdeados. Ela se aproximou ronronando e se esfregando em minhas pernas. Agachei e depositei alguns afagos sobre a cabeça dela.

Então, ouvi aquele chamado escandaloso:

— Baekkie, vem cá!!

Rolei os olhos e rumei até a cozinha, vestindo apenas uma calça moletom da Adidas e com a toalha úmida sobre os meus ombros. Adentrei aquele ambiente, tendo a consciência de que minha expressão era das mais irritadiças. A primeira coisa que vi foi Adrien sentado somente de roupa íntima, junto à mesinha redonda de vidro, comendo seus waffles e tomando café em minha xícara favorita do Darth Vader. Me encarou com uma sobrancelha arqueada e aquele sorriso debochado em seus lábios pálidos.

— Parece que alguém recebeu outra carta de amor… — Ele ditou melodioso, bebericando daquele líquido quente e escuro.

Suspirei, comprimindo as pálpebras ao saber que mais uma carta não assinada havia sido deixada para mim. Abri os olhos e fui atrás de uma xícara qualquer no armário, ignorando totalmente o canadense. Me servi, a porcelana quase transbordando café quente. Não quis me sentar junto ao outro e permaneci em pé, ao lado do balcão da pia, sentindo-me pesado e sentindo que aquele dia seria mais um domingo fastidioso.

Realmente não sei dizer ao certo os motivos pelos quais me encontrava em um clima tão opressivo. Talvez a recente notícia de que minha mãe estava com diabetes ainda me atingia em preocupações. Ou quem sabe não fosse a perturbação que sentia com a lembrança em forma de sonho que tive na noite anterior. Realmente não sei afirmar o que poderia ter me feito acordar daquela maneira.

Só sei que Adrien ainda me encarava, enquanto eu tentava fingir que não me importava com sua recente fala. Observei-o levar os dedos de sua canhota até um pequeno papel dobrado ao lado do prato. Bateu o indicador sobre a folha algumas vezes.

— Acordei e já estava de frente à porta. Ele passou o cartãozinho por debaixo outra vez, e novamente não assinou.

O observei, sem demonstrar expressividade. Já havia me acostumado com o fato de que Adrien lia o conteúdo dos papéis, mesmo que não fossem endereçados a ele.

Novamente me mantive em minha plena quietude, mas os pensamentos trabalhavam com labor. Eu não sabia quem me deixava aquelas cartas, até porque, elas nunca eram assinadas. Vinham sempre com poemas ou simplesmente recheadas de belas palavras. Confesso que não dava a mínima relevância a nenhuma daquelas palavras que Adrien chamava de “as mais doces”, e que eu nem sequer guardava com carinho, já que também não as lia com a mínima brandura.

Talvez ainda fossem as sequelas do último relacionamento que me dilacerou. Pensar que aquelas cartas de amor poderiam ser do meu ex, me causava rebuliço em minhas entranhas. Eu tinha sido traído e não conseguia perdoá-lo, embora desejasse o fazer. E aquilo me trazia lembranças de erros que cometi em minha adolescência, porque um dia já fui como a garota que eu peguei aos beijos com o meu namorado da época.

E aquilo me consumia em recordações de dor, de erros que gostaria de apagar da minha história, mas que nunca seria possível. Talvez aquela tenha sido a lei do retorno se concretizando em minha vida.

Terminei de tomar meu café expresso e lavei a xícara que havia sujado. Iria me retirar do cômodo sem nem ao menos ter trocado uma palavra com meu amigo. Entretanto, ele não permitiria, e eu já esperava por aquela reação dele.

— Baekkie, o que houve? — Levantou-se com um movimento rápido e impediu minha retirada ao entrar em minha frente. Fiquei observando por alguns segundos a tatuagem em mandarim que havia na lateral de seu corpo. — Não vai nem ao menos ler a carta?

Direcionei meu olhar até a mesa, onde estava o prato vazio, a xícara com café inacabado e aquele maldito papel dobrado.

— Eu não quero mais ler essas cartas idiotas. Provavelmente é o Ben quem as escreve, e não tenho mais tempo a perder com qualquer coisa que venha dele. Você sabe que não consigo perdoar o que ele me fez. — Respondi, fitando-o austero.

— Baekkie, há 6 meses essa pessoa vem deixando essas cartas por debaixo da porta. Talvez seja mesmo o Ben, mas cara, ao menos leia. Depois pode jogar fora, como fez com as outras.

Eu não jogava nenhuma carta fora, mas fingia para o Adrien que sim.

Neguei com a cabeça a ele. Adrien bufou frustrado e seguiu até a mesa, recolhendo o papel e voltando até mim.

— Toma. Leia. — Estendeu para mim. — Sabe, eu estava pensando que podem ser do Andrew, ele estava muito apaixonado por você, mas aí você começou a namorar com o Ben e o cara acabou se afastando. Agora, ele pode estar tentando uma reaproximação, não acha?

Soprei uma risada e me recusei a pegar a carta. Adrien arfou cansado e fez mais uma dobra na folha, a colocando dentro do bolso da frente da minha calça moletom.

— Quando estiver menos mal-humorado, leia. Sei que vai se encantar com o que a carta diz. Bom, é até bastante triste, mas muito bonito.

Então, deixei a cozinha e retornei ao meu quarto. Tirei a toalha dos meus ombros e a estendi sobre a cadeira giratória de couro preto, que ficava de frente à pequena escrivaninha de madeira escura. Vesti um blusão preto de algodão. Adorava comprar blusas bem maiores do que o tamanho que eu deveria usar. As mangas ficavam maiores do que meus braços e o comprimento da blusa descia abaixo do meu bumbum.

Calcei um velho par de all star e peguei a chave do carro. Saí para fora do quarto uma outra vez e avistei Adrien ainda na cozinha.

— Vou sair. Não me espere para o almoço. — O comuniquei, já me dirigindo até a porta da sala de estar. — Coloca comida pra Haru, por favor.

— Vê se fica bem! — Pude ouvir seu grito, assim que fechei a porta atrás de mim.

Desci 4 lances de escada tranquilamente, graças às aulas de Hapkido que fazia 3 vezes por semana. Dei de encontro com a rua movimentada de Montreal. O centro da cidade era definitivamente um local que eu não apreciava muito para morar, por causa da poluição sonora e de tanta movimentação frenética. Eu sempre gostei de lugares calmos, onde pudesse ver bastante área verde e ouvir o canto deleitante dos pássaros.

Meu carro estava estacionado de frente ao pequeno prédio do século 19, onde morava de aluguel. O destravei, abrindo a porta e sentando no banco do motorista. Não sabia para onde iria, eu apenas iria. Liguei o som e me levei em meditação, ouvindo “No Surprises” do Radiohead, enquanto dirigia sem rumo.

Rodei a cidade inteira dentro do carro naquele dia, pensando em milhares e milhares de coisas ao mesmo tempo. Precisei parar para abastecer e, logo após, segui dirigindo para o único lugar que veio em minha mente no fim daquela tarde aborrecida. Fiquei tanto tempo dentro daquele automóvel, que consegui ouvir todas as faixas de indie-rock e grunge, além de algumas faixas de heavy metal que tinha em meu pen drive.

Estacionei o carro quando cheguei a La Plage d’Oka, praia do Parque Nacional d’Oka. Observei o cenário, podendo notar o quão lindo era aquele local que quase nunca frequentei, repleto de árvores e flores ao redor. Passei por uma espécie de jardim e colhi uma rosa vermelha, uma camélia, juntamente com um dente de leão. Segui para a praia, deslizando a sola dos tênis sobre aquela areia clarinha e fina, sentindo o vento forte bater contra o meu rosto.

O lugar estava vazio e agradeci por isso. Sentei-me sobre algumas pedras, bem pertinho daquelas águas azuis. Acho que suspirei várias vezes, sentindo um aperto em meu peito... uma falta não sei do que, mas que não podia ser negada, essa falta estava ali, em mim. Aquele foi um dia pensativo, fazia anos desde que havia parado para pensar na vida daquela forma. Foi um dia de retrospecção.

Eu sabia que era uma pessoa feliz. Sabia que ainda tinha muitas coisas para correr atrás. Muitos sonhos para viver. E muita alegria para compartilhar com aqueles que me cercavam. Assim como também tinha conhecimento de que nem tudo estaria um mar de rosas. Aquele foi um daqueles costumeiros dias que a gente acorda pesado, pensativo demais, sentindo demais e querendo se isolar.

Aspirei o aroma da rosa e da camélia. O vento bateu forte outra vez contra mim, desgrenhando os fios dos meus cabelos de mechas avermelhadas. Ergui a face e encarei a linha do horizonte, marcando o limite da minha visão. Observei as águas refletirem as cores daquele esplêndido crepúsculo. A beleza da natureza me enchia de fascinação.

Então, levantei o dente de leão até a altura do meu rosto, iria fazer um pedido, aproveitando a bela vista do pôr do sol. Pediria o de sempre: para que a felicidade fosse constante em minha vida. E antes que pudesse soprar, o vento sobreveio com fúria, espalhando por ele mesmo as pétalas da minha flor favorita, sem que nem ao menos pudesse fazer o meu pedido.

— Merda de vento! — Exclamei, ainda sentindo a corrente de ar levantando a areia da praia.

Fechei os olhos por alguns segundos, foi quando o que parecia ser um papel bateu contra minha face e ali mesmo ficou. Levei a mão até ele e o retirei. Era uma embalagem de pastilhas de hortelã.

— Me desculpe, o vento acabou levando da minha mão.

Aquela voz.

Travei na posição em que estava. Era a voz dele, embora soasse mais grave, eu a reconheceria em meio a uma multidão de vozes.

Já fazia muito tempo que não tinha notícias sobre ele. A primeira e única vez que soube algo à respeito, foi quando estava em meu último semestre da faculdade. Dave me contou que tinha lido a lista de novos jogadores contratados pelo time de basquete Toronto Raptors, já que ele torcia para o time. E a parte chocante, foi quando leu o nome “Chanyeol Park” e viu a foto de perfil dele estampada no site do time.

Chanyeol havia terminado o ensino médio em Seoul, porém, retornou para o Canadá, logo após. Cursou Filosofia na Universidade de Toronto que, pelo que me foi informado, havia feito questão de recrutá-lo por causa da boa avaliação que recebeu nos anos que jogou pelo St. Anne Eagles.

E foi só isso. Eu não me interessava por esportes, não assistia televisão, e nem tampouco lia colunas esportivas pelos sites da internet. Então, aquilo foi tudo o que soube sobre o rapaz de 1,91 metros de altura, que arrebatou meu coração em minha adolescência.

Aquela era a grande surpresa que a vida tinha reservado para mim, e ela parecia estar empenhada a me matar de susto.

O vento levou de mim as flores que segurava, e me impediu de fazer o meu pedido. Me questionava mentalmente se a ventania fez aquilo por obra do destino, porque sabia que o desejo não se realizaria, graças ao homem de quase 2 metros que surgiu para mim como uma maldita assombração. Ao menos era o que pensava quando se tratava de Chanyeol.

Eu tinha feito uma promessa, de que nunca o esqueceria, e ela sempre foi cumprida por mim. Todavia, não queria voltar a tê-lo em minha vida. Eu nem ao menos imaginava que um dia tornaria a encontrá-lo, porque não queria me imaginar tendo qualquer tipo de contato com ele. Acho que era a mágoa que sentia, misturada com minha autodefesa sentimental contra qualquer sofrimento que ele pudesse causar-me outra vez.

Naquele momento, após minha paralisia por ouvir seu timbre rouco, acabei virando o rosto na direção dele. Ele mirou-me com aqueles olhões saltando para fora da órbita ocular. Seus lábios grossos se partiram em vários suspiros de abalo. Nunca tinha o visto com as feições tão tomadas de perplexidade.

Céus, aquele rosto estava mais lindo do que da última vez que me lembrava, embora mais velho. A cicatriz ainda estava ali em sua bochecha, assim como as argolas na orelha esquerda. Seus cabelos estavam bem longos e ondulados de forma que o deixavam mais atraente. Usava uma blusa regata branca, uma calça jeans de lavagem clara um pouco dobrada nas pernas. Ambos os braços eram musculosos e estavam totalmente tingidos por todo tipo de tatuagem, até as pontas dos dedos. Dava para ver partes de tatuagens nas partes das canelas que estavam à mostra. Segurava o par de tênis com uma mão, enquanto seus pés descalços se afundavam na areia fina. Havia metade de um maço de cigarros para fora do bolso da frente de sua calça.

Chanyeol parecia muito – exageradamente – maior do que da última vez que tinha o visto. Sua altura ainda era a mesma, no entanto, aqueles bíceps malhados, o peitoral forte – marcado pela regata apertada – faziam-no parecer duas vezes maior.

E eu senti a colisão daquele reencontro inesperado em meu peito, em minha alma. Aqueles quase 3 minutos de puro silêncio e ventania foram o bastante para trazer à tona tudo o que havia enterrado nas areias da minha praia do esquecimento. Foi ali que soube que não importava quantos amores eu tinha vivido naqueles 10 anos. Chanyeol Park sempre estaria no topo do ranking, porque eu o amava de maneira inigualável.

Meu coração batia de forma singular, dando-me a impressão de que logo eu o vomitaria.

— Baekhyun…

Ele rompeu o silêncio agonizante, parecendo descrente. Senti enjôos e tonturas, podia jurar que minha pressão havia caído.

O vi tentar se aproximar mais de mim. Foi quando me afastei e corri para fora daquelas areias. Apressei-me para alcançar meu carro, sem nem sequer olhar para trás. Havia um turbilhão de sensações me atingindo de uma única vez, e eu nem sabia o que estava fazendo, só queria sumir dali o mais depressa possível.

Entrei no veículo automotivo e quase não consegui encaixar a chave na ignição, pois minhas mãos tremiam de uma maneira absurda.

— Baekhyun! — Chanyeol bateu algumas vezes na janela do carro. — Desce o vidro, por favor?

Neguei com a cabeça, liguei o carro e dei partida, deixando-o para trás.

Dirigi sem qualquer condição, não conseguindo controlar as batidas do meu coração e a náusea que ainda sentia. Encostei o veículo no primeiro acostamento que avistei. Me encarei no retrovisor interno do carro; meus cabelos estavam bagunçados e meu rosto estava mais vermelho do que as mechas pintadas. Aquela quentura das lágrimas foi sentida por mim, e logo minha face estava coberta por elas. Nem deu para conter os sons esganiçados do meu ridículo choro.

Mesmo que eu não imaginasse que um dia voltaria a vê-lo, também não esperava que, caso acontecesse, aquela fosse ser a minha reação. Meu Deus, por que eu estava me desmanchando em lágrimas? Por que fugi como um covarde? Aquilo não parecia nada maduro da minha parte.

Era o efeito dele sobre mim. Desestabilização...

Olhei para o meu próprio colo, tentando assumir para mim que nunca tinha superado aquele amor, mesmo que eu quisesse acreditar com todas as minhas forças que sim. Vi aquele papel dobrado saindo para fora do meu bolso. Ali continha palavras de alguém que nunca quis se identificar a mim. E, ainda em prantos, o tirei dali, desdobrando-o.

Então, li aquelas palavras escritas com um francês perfeito – assim como a caligrafia também –, deixando algumas gotas salgadas escaparem dos cantos dos meus orbes, pingando sobre a folha. As palavras que a carta continha eram diferentes das anteriores. Eram bem mais diretas, tocando em meu âmago, já que foi por causa delas que eu soube que não importava quantos anos se passassem e a quantidade de mágoa que se acumulou em meu peito. Eu sempre amaria o garoto, que agora havia ressurgido como um homem e como um fantasma para me assombrar. Não importava quantas vezes afirmasse a mim mesmo que não o amava mais e que já havia superado aquele amor. Porque o meu pranto convulsivo ao ler aquela carta, era a prova viva de que eu ainda nutria sentimentos por ele.

Aquelas palavras só podiam ser dele.

Naquele ano, os ventos da primavera trouxeram-me a surpresa da vida mais intempestiva, a surpresa que eu não queria receber. E aqueles mesmos ventos levaram embora toda minha sustentação contra aquela relação que eu não desejava reviver.

 

 

“Querido Baekhyun,

Sonhei com teu rosto essa semana, lembrei-me das tuas mãos, de pele tão macia e sedosa. Até mesmo pude visualizar as dobras e linhas de cada dedo, porque te gravei com meus olhos, com meu coração e com toda minha alma.

Às vezes ouço-te no silêncio do meu quarto, enquanto me perco em alguma leitura da madrugada. Parece que posso te ouvir chamando meu nome entre as risadas tímidas daquele teu jeitinho inseguro. Queria que pensasse em mim tanto quanto penso em ti. E ao mesmo tempo gostaria de seguir em frente. Infelizmente nunca fui forte o suficiente para te arrancar de mim. Meu maior dom é alimentar essa brasa em meu peito com lenha de lágrimas, querendo que ela seja uma grande fogueira de chamas altas e vivas. A fumaça de desejos por ti me intoxica. As faíscas da saudade saltam sobre minhas vestes e queimam-me com intensidade, porque elas atravessam o meu eu, para me apontar os erros que cometi. Me tornei uma estrela solitária nesse céu infindo; a estrela que nunca consegui ser estando ao teu lado. Você sempre foi estrela mais bonita do que eu, e eu não passava de uma poeira cósmica que ofuscava quem tu sempre foste.

Queria lembrar-te com menos frequência, para que, talvez assim, a dor de não te ter em meus braços pudesse ser menos sentida. Ainda tenho gravado em mim o cheiro dos teus cabelos lisos. Será que ainda usas aquele shampoo de frutas vermelhas? Talvez não, porque as coisas mudam. Menos esse meu amor por você, que cultivei com tanto esmero. Fiz da tua ausência vestes para me aquecer neste inverno de solidão. Minhas lágrimas rolaram quentes, lavando tudo; porém, tu permaneceste. Porque sem ti ainda existo, mas necessito cativar este meu amor doído por ti, para sentir que ainda estou vivo.”


Notas Finais


Ai gente, Baekhyun nadinha preparado para esse reencontro, tadinho...
Acredito que este capítulo tenha ficado bem leve e simples para ler.
Eu costumo sempre escolher a dedo as frases iniciais e finais de cada capítulo, but, decidi deixar a carta como finalização.
OBS: as palavras da carta são de autoria minha (por isso não há créditos).

Ainda há algumas coisas por vir, se preparem.

Me despeço aqui, desejando do fundo do meu coração que não tenha decepcionado vocês. Beijo ;*


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