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História Secret Love in Montreal - Epiphany


Escrita por: BloomingBaek

Notas do Autor


Oi! Cheguei com atualização, finalmente.
Hoje determinei que seria o dia em que faria a atualização de SLiM, mas parece que o universo está conspirando contra isso. Tudo estava dando errado. Começou a chover, parece até que o mundo vai acabar, aí faltou energia e estou tendo que postar o capítulo pelo celular arghhhh :@
Sou persistente e não vou deixar que nada me impeça de atualizar, uhuuul!

Aaaa, o capítulo está bem grande :s

Espero que gostem ^^

Capítulo 16 - Epiphany


Fanfic / Fanfiction Secret Love in Montreal - Epiphany

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.”

– Clarice Lispector

 

 

Se me dissessem que em algum dia desta vida eu ouviria toda a verdade sair por entre os lábios de Chanyeol, eu não acreditaria. Em mim havia se formado uma espécie de conformação, de dúvidas e receios sobre aquele que vivia em uma completa obscuridade de segredos e mistérios. Por muito tempo desejei que ele me contasse todos eles, queria um esclarecimento, respostas de perguntas para as quais Chanyeol nunca quis me dar. E quando aquele dia finalmente chegou, temi. Temia que, ao descobrir a verdade, fosse o fim mais doloroso para nós dois. Senti medo, porque querendo ou não, eu amava aquele ar de mistério e oculto que ele exalava.

E se acaso a verdade fosse o divisor definitivo de nossas vidas? E se fosse a sentença final que condenaria nosso amor eternamente ao sofrimento e ressentimento?

A verdade era tudo e somente o que eu queria da parte dele naquele momento, mesmo sabendo que verdades podem assustar e doer bem mais do que mentiras. Eu até mesmo evitava especulações da minha parte para que não acabasse enlouquecendo com minhas próprias teorias criadas ao longo daqueles anos.

Verdades podem ser devastadoras.

Minha mente sempre fora fértil demais, e as verdades mais loucas e estranhas rondavam meus pensamentos enquanto era levado por Chanyeol para sabe-se lá onde. Eu encarava o parabrisa daquele automóvel, a chuva descia incessantemente e meu corpo tensionava a cada trovoada.

Até aquele momento não houve nenhuma comunicação entre ambos dentro daquele veículo. Nem sequer observei o trajeto que percorríamos, pois além de não conseguir uma boa visão, graças a tempestade que caía, também não conseguia focar meus orbes em algo, apenas vagava o olhar por todos os cantos da caminhonete dele, pensando no que o retorno daquele homem significava em minha vida.

Dor? Mais dor? Eu não queria passar por tudo o que havia passado em anos anteriores.

Minhas mãos suavam, mesmo naquele frio. Estava visivelmente nervoso, ansioso, retraído. Um milhão de coisas se passavam em minha mente e meus pensamentos pareciam se embaralhar, deixando-me até mesmo com falta de ar. Sentia os olhos arderem, uma agonia se apossar de mim e incertezas se fundirem ao pessimismo que habitava dentro de mim.

Chanyeol passou a marcha e, logo após, pousou sua mão direita em minha coxa, alisando o local por sobre a calça tactel preta que usava. O encarei sem jeito, um pouco tímido, prendendo o lábio inferior entre os dentes. Ele intercalava o olhar entre a estrada e eu, parecia tentar ler minhas expressões ou minhas reações corporais que, por sinal, estavam intensas demais.

Ele lia-me com seus olhos arrebatadores.

— Você está com medo, não é?

Meditei em sua pergunta por alguns curtos segundos, abaixei o olhar e fitei sua mão sobre minha perna; ela era tão grande, cheia de veias e tatuagens. Havia uma enorme rosa pintada sobre as costas de sua destra e cada dedo continha uma letra da palavra “sonho” em inglês.

Dream.

— Não estou com medo de você ou do lugar para onde possa estar me levando. Tenho medo daquilo que você tem a me contar.

Ele diminuiu um pouco a velocidade em que dirigia e apertou sutilmente seus dígitos em minha coxa, arfando.

— Quero que saiba que, independentemente do que tenho a te dizer, eu te amo, amo muito. E se te escondi essas coisas antes, era porque estava te protegendo disso, Baekkie.

Ali estava ele, dizendo que me amava com a maior naturalidade, como se não parecêssemos completos desconhecidos dividindo o espaço naquela caminhonete.

Sabia que com aqueles toques quentes de sua mão sobre mim, ele estava tentando passar algum tipo de tranquilidade e relaxamento.

Assenti e acabei depositando minha mão sobre a semelhante dele, que ainda acariciava minha coxa. Reparei no quanto ela era menor do que a dele e no quanto senti saudades de ter seus toques suaves, seu calor, a textura de seus dedos sobre minha epiderme. Recordo-me que, dentre todas as saudades, a sensação de ser amado por ele foi a que mais senti... e como senti.

Sentia saudades de como parecíamos ter nascido um para o outro. Sentia saudades de como me entregava de corpo e alma a ele. Sentia falta das conversas estranhas. Sentia falta do nosso amor, da nossa entrega e de tudo o que vivemos juntos sendo tão jovens.

Vivemos livros de experiências só nossas. Vivemos páginas de amor em um mundo tão raso de sentimentos bons. Bibliotecas não seriam o suficiente para abarcar o nosso conto mais doloroso e mais apaixonante. Acreditei que estávamos construindo uma história de amor que todos gostariam de viver. Criei fantasias sobre nós em um universo utópico onde ninguém poderia interferir em nossa felicidade. Onde Baekhyun e Chanyeol viviam tão somente para se amar. Eu e ele. Nós. Nosso amor eternizado em nossas memórias. Agora eu o eternizo na memória de cada um de vocês.

Acredito que ele ficaria feliz se soubesse que escrevo o que vivenciamos de mais importante…

Mas aos 27 anos de idade eu acreditava que havia queimado as páginas da nossa história. Acreditava que toda nossa entrega mútua havia sido apagada pelos anos sucedidos em que estivemos longe um do outro. Porque eu nunca pensei que tornaria a esbarrar com Chanyeol, estava conformado com o fim que nós mesmos nos demos.

No entanto, o homem sentado no banco do motorista tinha retornado para me provar que tudo o que compartilhamos no passado não havia se perdido nas entrelinhas do tempo.

Estava vivo. O “nós” sobreviveu a grande tempestade que assolou nosso castelo de areia.

Como?

Construímos um amor sobre erros e segredos. Então como aquele sentimento resistiu a maldita tempestade, que mais parecia um dilúvio de dor e desgaste?

E quando ele precisou afastar sua mão para passar a marcha outra vez, cerrei as pálpebras, frustrado. Percebi que não queria que Chanyeol tirasse suas mãos de mim, queria que me tocasse por inteiro, que me desmanchasse entre o vão de seus dedos longos e grossos, que me demonstrasse com seus gestos meigos e desvelados o quanto eu ainda era amado por ele.

Ainda havia amor.

Eu o amava, isso era inegável, mas estranhamente dentro de mim existia uma relutância, algo que se recusava a aceitar o ardente desejo de me entregar a ele novamente. Seria o receio de dar continuidade às páginas de uma história que eu podia jurar que já tinha seu fim escrito 10 anos antes?

Será mesmo que eu poderia estar disposto a nos dar uma nova oportunidade? Eu estava disposto a ceder a Chanyeol? A nós?

Talvez sim, porque não se tratava de qualquer um. Era Chanyeol Park quem estava me pedindo por mais uma chance de tentar me fazer feliz.

Era ele, meu sonho, minha maior ambição adolescente, a pessoa que mais desejei em toda minha existência.

Nós não éramos mais dois adolescentes, éramos adultos com quase 30 anos de idade. Eu não podia agir como se ele não significasse exatamente as mesmas coisas que sempre significou, porque Chanyeol significava livros, pensamentos e sonhos. Não só isso, como – principalmente – significava amor e o futuro que tanto almejei.

Meus orbes captavam toda sua formosura exterior. Ah, mas os olhos da minha alma enxergavam o quanto seu interior era mais belo. Era como um mundo colorido, onde borboletas pousavam sobre o jardim mais florido do universo inteiro. Onde as nuvens eram feitas de algodão doce. Um mundo onde não chovia tempestades de águas, apenas chovia poemas, filosofia, esperança e amor. Um mundo onde o sol brilhava intensamente e a noite nunca caía. Para mim, o interior de Chanyeol era o mundo dos contos de fadas, tão doce e tão encantado.

O mundo onde o vento sopra o cheiro de hortelã...

 

Voltamos a ficar em silêncio e tudo o que ouvíamos era o som da chuva. Foi então que olhei pela janela embaçada, notando que estávamos em uma estrada não asfaltada, e mesmo com o escuro da noite podia ver bastante vegetação e montanhas por onde passávamos.

Virei meu rosto na direção dele, admirando cada linha de expressão de seu rosto amadurecido. Suas feições sisudas e preocupadas eram um charme único que ainda possuía, assim como suas orelhas, os olhos grandes e redondos, os lábios cheinhos e a cicatriz enorme. Tenho certeza absoluta de que o encarava com um olhar apaixonado, pensando no quanto ele era tão, tão, tão lindo…

Chanyeol sentiu que estava sendo observado e olhou para mim de soslaio, abrindo um pequeno sorriso.

— Sempre gostei de ser encarado assim por você, mesmo que fosse de longe, no refeitório da escola.

Mordi o lábio e corei, mas não desviei o olhar.

— É que você é tão bonito, Chanyeol…sempre foi. — Comentei um pouco envergonhado.

Vi quando ele demonstrou surpresa por minha fala e virou a face rapidamente para me fitar. Permaneci sustentando o olhar, contemplando suas bochechas levemente ruborizadas e o sorriso de dentes brancos e perfeitos que ele esbanjava. Poderia apreciá-lo horas e horas, que não me cansaria jamais.

Como podia uma coisa daquelas? Como que o nosso amor sobreviveu a todos aqueles anos? Como era possível existir um amor como o nosso? Um amor que suporta o tempo, que resiste às dores, que resiste à saudade e, principalmente, que resistiu a outros relacionamentos.

— Por que resolveu me procurar só agora? — Rompi o silêncio.

Ele não desviou os orbes da estrada, parecia que já esperava por aquele questionamento, e nem ao menos pensou muito para dar-me sua resposta.

— Eu quis te procurar imediatamente, assim que retornei ao Canadá, mas não pude. Você estava vivendo suas próprias realizações e eu precisava viver as minhas. Todos os anos eu traçava um plano para me aproximar de você, no entanto, tinha medo de ser rejeitado e da dor que sentiria por isso. Tinha muito medo de tentar me reaproximar e te encontrar sendo feliz ao lado de outra pessoa, vivendo com ela tudo o que eu queria viver contigo… — Fez uma pausa em sua fala e me fitou. — Eu acabei desistindo.

— Mas depois acabou me procurando.

— Eu não conseguia dormir em paz, eu te enxergava em tudo o que minha visão podia alcançar, até mesmo de olhos fechados. Vivia mergulhado em saudades, precisava tentar ao menos uma vez, mesmo que te encontrasse e descobrisse que tudo o que restou em ti foi ódio de mim e da nossa história, Baekkie. Essa necessidade me consumia por dentro e não me deixava viver minha vida em paz.

Assenti, compreendendo sua posição. A forma como Chanyeol lidou com nossa separação foi muito distinta da minha. E talvez me arrisque a dizer que ele sofreu muito mais do que eu. Chanyeol me ensinou a lidar com aquilo, mas não soube fazer isso por si mesmo.

Céus, ali eu tinha mais uma vez a confirmação do quanto aquele homem me amava! Nem conseguia crer que aquele amor era real, que ele sentia tudo aquilo por mim, com tamanha profundidade.

— E como me achou? Como descobriu exatamente onde eu moro? — Indaguei minha maior dúvida do momento.

— Um conhecido meu tem contato com um agente federal. — Ele relatava tão baixo, como se estivesse contando algo sigiloso. — Pedi que me fizesse esse favor, então só precisei dar seu nome completo.

Mirava-o surpreso, não imaginava que Chanyeol pudesse ser capaz de recorrer a algo como aquilo para tentar me encontrar.

— Junto com o endereço veio seu número. Mas não achei que fosse uma boa ideia ser tão invasivo e direto assim. Você provavelmente me bloquearia, por isso optei por mandar cartas anônimas. Seria uma tentativa de reaproximação lenta; você poderia gostar daquilo que eu escrevia, sem saber que eram escritos meus. E, quando finalmente decidisse revelar que eu era o autor de cada carta, seria mais fácil pra você tentar lidar com isso.

Aquilo fazia sentido. Se ele tivesse assinado seu nome na primeira carta, eu com certeza não leria, muito menos aceitaria as cartas seguintes.

Fitei-o um pouco descrente por pensar que Chanyeol realmente me amava, ao ponto de fazer tudo aquilo, porque ainda desejava estar comigo. Passou anos corroendo-se por acreditar que havia feito da nossa linda história um grande desastre de mágoas e ressentimentos.

Ele estava ali por si mesmo. Por mim. Por nós. Pelo nosso infinito amor.

De forma hesitante levei minha mão e pus minha palma sobre sua coxa. Senti seu corpo estremecer com meu toque e, mesmo estando tímido, alisei o polegar no local.

— Se você for totalmente sincero e esclarecer tudo a mim, então acredito que podemos nos dar mais uma chance, para tentarmos construir algo de uma forma mais madura. Eu juro que estou disposto a nos dar essa chance, dependendo do que tem a me dizer. — Pontuei com um sussurro, sendo sincero.

Chanyeol sorriu contente por me ouvir falar de tal maneira e suas íris brilhavam em expectativa e ansiedade.

— Estamos chegando. — Me avisou, ainda sorrindo como um bobo alegre.

Virei o rosto para olhar pela janela ao meu lado, avistando cercas e uma porteira. Era claramente uma fazenda e, mais do que isso, era uma fazenda tão bem conhecida por nós. A fazenda que fazia parte da nossa história de amor

Me vi surpreso e tornei a mirá-lo, boquiaberto daquela vez.

— Chanyeol, é o lugar que estou pensando?

Vi quando ele crispou os lábios e assentiu.

— Você ainda se recorda do local… — Foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

Mas é óbvio que me recordaria, aquele era um dos lugares inesquecíveis onde eu e ele colecionamos memórias felizes juntos. Um dos locais onde construímos o nosso amor. Onde dividimos momentos significativos de nossa relação.

Primeiro beijo, primeira vez, primeiro amor…

— Impossível esquecer esse lugar. — Ditei a ele, dominado por uma sensação nostálgica.

Chanyeol parou o carro e saiu para abrir a porteira. Ele fez tudo rapidamente, já que a chuva ainda não havia dado trégua. Correu de volta para o automóvel e entrou totalmente banhado pela chuva outra vez.

— Vai ter que trocar a roupa de novo. — Comentei entre risadas baixas.

— Está rindo da minha desgraça, Bennette? — Ele também ria.

— Estou sim, Park.

Me empurrou de leve pelo ombro e tornou a dirigir, entrando na propriedade. Seguimos por uma estradinha de terra até conseguirmos avistar uma casa vermelha de andar, com o estilo típico de uma casa de campo canadense. Logo a caminhonete fora estacionada na lateral, em uma garagem aberta, coberta apenas pelo telhado da construção que se estendia até ali, como uma espécie de varanda muito larga e longa. Dava para estacionar 6 carros um atrás do outro.

Ele desceu do veículo e eu fiz o mesmo, sentindo o impacto do vento gélido que soprava impetuoso.

— Venha, vamos nos aquecer. — Rodeou o carro e segurou minha mão, me guiando até a porta da frente.

A porta fora destrancada, ele tateou a parede e acendeu a luz da sala, dando passagem para que eu entrasse primeiro. Tirei os sapatos na entrada, assim como ele também. Olhei para cada canto do interior daquela casa enorme, observando toda a decoração rústica da mesma. Era charmosa e incrivelmente bem organizada, cada móvel parecia estar perfeitamente no lugar certo.

O piso era de carvalho branco, havia um enorme tapete persa no meio da sala, um sofá vermelho com três lugares e duas poltronas marrons uma oposta a outra. Um vaso com magnólias adornava a mesa de centro de madeira escura e antiga. A parede da lareira era toda feita de grandes pedras rochosas, e nela também se encontrava uma televisão de 70 polegadas. Perto da janela branca havia um aparador rústico, alguns porta-retratos com fotos, um cinzeiro e uma pequena escultura de um cavalo o ornamentavam.

O lugar era incrivelmente aconchegante, e mais do que isso, eu podia sentir o cheiro único e característico de Chanyeol exalando pelo ambiente.

Ainda era o mesmo cheiro que eu tanto adorava.

— Pode sentar no sofá. Vou acender a lareira e subir para trocar de roupa rapidinho. — Se encaminhou até a lareira e eu o acompanhei timidamente para me acomodar no sofá. — Aceita comer ou beber alguma coisa?

Chanyeol colocou a acendalha, alguns pedaços de papel dentro da lareira e acendeu um isqueiro que já estava por ali, colocando fogo na acendalha. Logo a lenha queimando já nos aquecia.

— Não, já jantei. Mas obrigado. — Respondi, sentando-me no estofado vermelho com os ombros retraídos, as pernas juntinhas e com as mãos unidas sobre meu colo, ainda observando a decoração dos locais que meus olhos conseguiam alcançar. Os cômodos eram grandes e eu conseguia ter visão da cozinha em conceito aberto.

— Eu volto em alguns minutinhos.

Chanyeol subiu a escadaria de três em três degraus, o que parecia algo normal para ele que tinha pernas compridas. O aguardei quietinho em um canto do sofá. Não demorou nem 5 minutos para que surgisse vestido em roupas quentes e de tecidos grossos, trazia junto a si um cobertor branco e dois travesseiros. Se aproximou silencioso, jogando as coisas em um canto, sentando-se todo largado no sofá e esticando as pernas enormes até estarem sobre a mesa de centro.

Acho que ficamos nos encarando sem jeito por quase dois minutos, até que eu quebrasse o silêncio.

— A casa é muito bela e bem decorada.

Concordou com um aceno de cabeça e vagou os orbes por todos os lados da sala, parecia demasiado nervoso, até mesmo mexia os dedos da mão direita de forma frenética e sem sentido.

— Você nunca teve a oportunidade de conhecê-la antes… — Comentou, olhando fixamente para o fogo da lareira daquela vez.

Era uma cena linda admirar as chamas refletidas em seu olhar, pois parecia que suas íris estavam mesmo a queimar… pegando fogo...

— Você nunca quis me trazer até aqui, só me levava na cabana, porque ela ficava escondida entre árvores e morros, em um local que ninguém mais ia. — Respondi sucinto, esfregando uma mão na outra.

— Ela ainda está lá. — Chanyeol, ao me ver esfregar as mãos, puxou a coberta para nos cobrir e me deu um travesseiro, que usei para apoiar as costas. — Eu não podia te trazer aqui antes, mas agora posso.

Me encarou nos olhos, levando uma mão até minha bochecha, onde deixou algumas carícias que me acolheram e me aqueceram bem mais do que o cobertor e a lareira, mas eu não queria que ele notasse isso, então fingi indiferença.

— E o que mudou?

Ele sorriu de canto, se remexeu sobre o sofá, achegando-se mais a mim. Aproximou seu rosto até inclinar sua cabeça em meu ombro, segurando minha mão direita. Chanyeol depositava selares demorados em meu ombro, por cima do tecido do meu casaco; parecia tão carente e até mesmo um pouco indefeso daquela maneira. E ao mesmo tempo em que sentia-me deslocado e esquisito com aquilo, também desfrutava daquele momento que tanto me fez falta naqueles anos.

Ninguém me tocava como Chanyeol, ninguém me beijava como Chanyeol, nem tampouco alguém chegou perto de me amar como ele. E a verdade é, que eu sentia uma enorme confusão se formando dentro de mim.

Se agarrou a mim, abraçando meu tronco, traçando os beijos até o meu pescoço. Nem sequer parecia para ele que fazia 10 anos desde a última vez que dividimos momentos tão afetuosos e cheios de paixão como aquele. E claro, a situação era um tanto desconfortável para mim, eu não conseguia agir como se não existisse um grande oceano de erros, segredos e dores entre nós.

Cessou os selares e me fitou nas íris castanhas, antes de responder a pergunta que fiz.

— Estas terras agora são minhas. Isso foi o que mudou.

Me olhava de uma maneira graciosa e com olhos cintilantes, parecendo um filhotinho abandonado implorando por um lar. Acabei não resistindo e estiquei meu braço esquerdo até embrenhar os dedos finos em seus cabelos grandes e ondulados. Afastei os fios de sua franja para trás e deixei alguns leves e acanhados carinhos em suas madeixas.

Encarei-o ruborizado, sem graça por aquele contato que eu sabia ser simples, mas que era algo que não fazia há bastante tempo. Deixei o meu orgulho de lado e abandonei a indiferença. Era uma missão quase impossível aparentar dureza e desinteresse, quando o desejo e a saudade pareciam gritar em meus ouvidos que ele era tudo o que eu precisava. Cada partícula do meu corpo implorava por qualquer simples toque de seus dedos, e meu coração palpitava a mesma melodia que costumava dançar naqueles anos em que nos entregávamos por inteiro um ao outro.

Eu sentia tanta falta de nós...

— Por mais que eu sinta receio e lute comigo mesmo para tentar esconder como me sinto ao seu lado, não consigo fingir, não consigo agir friamente ou com indiferença. — Segredei a ele. — Eu senti falta de nós. Senti saudades desse nosso amor tão… tão nosso.

Me apertou mais ainda em seus braços longos e fortes, esfregando a ponta do nariz na tez do meu pescoço, aspirando meu cheiro. E eu estava quase convencido de que me entregaria a ele outra vez. Sim, havia um grande temor aterrorizando-me como nunca antes, pois não queria me decepcionar novamente. Mas estar cara a cara com o homem que mais amei em minha vida era o mais árduo desafio para minha sanidade. O efeito daquele sul-coreano sobre mim chegava a ser algo incomum.

Dava para sentir leves tremores do seu corpo contra o meu, sua respiração batia forte contra o meu pescoço e naquele momento eu podia jurar que ele estava prendendo a vontade de chorar.

E a única questão que me fazia mentalmente, era se realmente estava disposto a matar aquela saudade, me entregando a ele exatamente como desejava.

— Senti saudade dos mínimos detalhes em você. Saudades da sua mania de morder o lábio quando está nervoso ou sem jeito. Senti falta da sua voz rouca quando desperta, de contar as pintinhas que tem espalhadas por todo o corpo, saudades das nossas mensagens durante madrugadas… Droga, eu passei os últimos anos te amando como se nunca tivesse te perdido, Baekkie. Eu despertava e adormecia me martirizando por saber que estraguei tudo entre nós. Por saber que por minha culpa perdi a coisa mais preciosa que já tive.

Foi impossível para nós não nos derramarmos em lágrimas ali, ele abraçado a mim enquanto chorávamos juntos.

Cada palavra ditada por ele abalava toda a minha estrutura de dentro para fora, como um vulcão fumaçando para anunciar que em breve uma erupção explosiva ocorrerá. Eu estava explodindo em sentimentos e lágrimas.

Explodindo em saudades.

— Eu não quero me fazer de coitado pra você, Baekhyun. Sei bem de todos os erros que cometi, mas eu quero fazer diferente. — Mirava-me com um olhar que transbordava os sentimentos bons que sentia, transmitindo cada um deles a mim. — Eu te amo sem medidas, sem vírgula e nem ponto. E você não faz ideia do quanto ansiei tê-lo de novo, jagiya.

Sorri terno pela forma íntima e carinhosa que se dirigiu a mim. E eu tinha total razão, não parecia que estivemos afastados por anos. E aquilo nada mais era do que a prova do quão forte era o sentimento arrebatador e infinito que cativamos um no outro. Não agíamos tão estranhos, porque tudo parecia estar exatamente como estava antes do nosso fim. Nosso amor, um pouco da nossa intimidade, nossos olhares afáveis e as palavras. Todos eles pareciam ter permanecido conosco, e eu nem sabia que era possível guardar por anos e anos tanto afeto, tanta proteção, tanta consideração e admiração.

— Vai me contar tudo, não vai? — Indaguei, deixando que meus dígitos passeassem por sua cicatriz no rosto até chegarem em suas argolas na orelha.

Chanyeol se ajeitou, ficando com a postura ereta ao meu lado, e eu sabia que era hora de ouvir as histórias que sempre o questionei, mas que nunca obtive qualquer esclarecimento.

— Promete que, mesmo após saber de tudo, ainda teremos uma chance? — Perguntou, voltando a ficar tenso e nervoso.

Era daquilo que eu tinha medo, de descobrir tudo e acabar sendo o nosso fim, o fim definitivo e devastador.

— Não posso te prometer isso. — Entristeci o semblante, assim como ele também.

Levantou-se do sofá e caminhou sem rumo para perto da lareira e depois para perto da janela, parecendo se perder em seu receio de me contar tudo. Passou os dedos nos cabelos, jogando-os para trás em seu costumeiro ato de nervosismo e ansiedade.

— Droga, eu preciso fumar. — Avisou.

Chanyeol pegou do bolso de seu casaco espesso um maço de cigarros e o isqueiro, que antes usou para acender a lareira. Tirou um cigarro, o levando até a boca; colocou o maço sobre o aparador e mesmo com os dedos tremendo conseguiu acendê-lo. Fechou os orbes enquanto tragava para seus pulmões a fumaça negra, soprando-a depois de tê-la prendido por alguns segundos.

Permaneci o observando em silêncio, dando a ele o tempo que precisava para se tranquilizar e terminar de fumar seu cigarro. E ele continuou onde estava, em pé ao lado do aparador, observando fixamente as fotografias dos porta-retratos que ali havia.

Após alguns minutos decidi seguir até ele, enrolando-me no cobertor, me aproximando lentamente. Ao alcançá-lo percebi que seus olhos estavam úmidos, repletos de lágrimas enquanto fitavam um único ponto. Virei o rosto na direção em que olhava e reparei na fotografia que tinha a imagem de Chanyeol em nossa época de escola, sorrindo abraçado a uma garotinha que não aparentava ter mais do que 7 anos de idade.

Com minha curiosidade acabei pegando o porta-retrato em minhas mãos, admirando o quanto aquela menininha de cabelos lisos e negros se assemelhava a ele. Até mesmo o sorriso banguela dela era idêntico ao de Chanyeol.

A lembrança dele na sala do diretor recebendo uma triste notícia veio a minha mente, e quando dei por mim já sentia os orbes ardendo em lágrimas com a possibilidade daquela ser a irmã que ele perdeu 10 anos antes.

— Essa é a Naeun. Mas ela gostava que a chamassem de Nana.

Me voltei a ele com olhares pesarosos, vendo que suas lágrimas já não estavam mais contidas, elas escorriam sem impedimentos por seu rosto que estava pálido. Eu nem sabia o que dizer naquele momento e foi por isso que ele continuou a falar dela.

— Tiramos essa foto no aniversário de 6 anos dela. E aquelas outras são de anos anteriores. — Apontou para o restante das fotografias sobre o aparador, em seguida apagando a ponta do cigarro no cinzeiro.

Mirei a foto de um bebê oriental de alguns meses vestido em um macacão rosa, com alguns dedinhos dentro da boca. No porta-retrato seguinte havia a imagem de uma esbelta mulher em pé, vestida em um Hanbok*, de mãos dadas a um garoto de uns 10 anos – que também vestia roupas tradicionais coreanas –, enquanto segurava um bebê no colo.

Aquela era a família de Chanyeol.

— Essa foto é de quando a Nana completou um mês de nascida. Este sou eu. — Apontou o indicador para a imagem do garotinho, que não possuía cicatriz alguma na bochecha.

Abri a boca para tentar dizer algo, qualquer coisa que fosse, no entanto Chanyeol impediu-me, voltando a falar:

— Ela tinha hemofilia, uma doença hereditária incurável e rara caracterizada por sangramentos espontâneos. A d-doença que a matou foi a mesma que tirou a no-nossa mãe da gente. — Ele ditou a última frase em meio a um mar de gotas cristalinas.

E naquele exato momento não pude mais segurar o choro. Depositei o retrato de volta em seu lugar, girando o corpo imediatamente para ele, o abraçando com força.

— Eu sinto muito por isso…

Nunca foi preciso muito para me fazer chorar, quem dirá ouvir uma história triste como aquela. Eu não fazia ideia do quanto Chanyeol havia sofrido em sua vida e, para ser sincero, sempre pensei que minha vida tivesse sido muito mais difícil do que a dele. Ora, ele vinha de uma família rica, poderia ter tudo o que desejasse ter, enquanto eu tive que viver por anos em um orfanato, abandonado e esquecido.

Nunca, jamais compare sua dor com a de outro alguém. Queremos crer que nosso sofrimento é sempre maior, quando cada dor tem sua particularidade e intensidade em cada um de nós.

Ele não disse nada, apenas ficou daquela forma comigo, abraçado a mim, chorando por mais alguns minutos, até que se afastou e secou o rosto com a barra do próprio casaco.

Fitou-me com um sorriso curto, tendo os olhos e a ponta do nariz vermelhos.

— A Naeun era a única coisa boa que eu tinha nesse mundo, até te conhecer. — Passou a mão por meus cabelos, bagunçando-os. — Ela era o único motivo pelo qual ainda voltava para casa.

Por um segundo me odiei e me senti culpado por ter sido feliz durante aqueles 10 anos, por ter criado mágoa de Chanyeol, quando tudo o que ele carregava consigo era dor, solidão e o amor que nutriu por mim. Naqueles anos de ensino médio eu fui uma das únicas coisas boas na vida de alguém como ele, de alguém que presenciava uma realidade muito distinta da minha.

Sorri com ternura para si, secando minhas lágrimas com as mãos.

— Isso é um avanço entre nós. Você acabou de me relatar coisas sobre sua família, e era algo que nunca esteve disposto a conversar. — Comentei para ele.

Peguei o cobertor do chão – que havia caído quando o abracei – e caminhei de volta para o sofá, esperando que ele me seguisse. Me sentei em uma ponta e coloquei os pés sobre o estofado de tom carmim, observando-o se sentar na outra ponta, também pondo os pés ali em cima.

— Eu não sei bem por onde começar a contar. Quero despejar tudo de uma vez, mas sei que te assustaria muito. Então começarei dizendo que sou filho de Park Jaein e Son Ryeowon, nascido em Seoul no ano 2000. Meu pai, junto de seu irmão mais novo, fundou a Park Mirage, empresa que opera e controla hotéis e cassinos nos Estados Unidos, aqui no Canadá e por quase toda a Ásia.

— Eu sei algumas coisas sobre o seu pai. Inclusive sobre as acusações na justiça… — Acabei o interrompendo.

Ele suspirou triste e se ajeitou no sofá, puxando o cobertor para nos cobrir.

— E aí que entra a parte obscura da minha vida. É o fato do meu pai não ter sido só um magnata bem sucedido, e sim um homem com ambições corruptas. — Fez uma pausa como se repensasse se era uma boa ideia me revelar aquilo.

E, de fato, não era.

— Você conjugou o verbo no passado. Por acaso seu pai… — Não terminei a sentença e ele permanecia com os olhos presos à lareira.

— Eu preciso que entenda que o que lhe contarei agora é algo totalmente sigiloso, e que precisará manter isso somente entre nós, além de fingir que nunca teve conhecimento disso. — Ele ditou ainda encarando sério a lareira, sem ao menos piscar. — Entendeu, Baekhyun?

Aquele tom de voz, aquela frigidez… eu estava começando a me assustar.

— Sim, e-entendi.

— Precisa me prometer que nunca mencionará qualquer coisa que eu for te revelar aqui. Nunca mais poderemos tocar nesse assunto, Baekhyun.

— Nossa, eu prometo que não voltarei a perguntar sobre e nem comentarei com ninguém. Mas, Chanyeol, você está me assustando. Por acaso seu pai faz ou fez parte de alguma facção criminosa?

Aquele era, sem sombra de dúvidas, o meu melhor palpite. Sempre que procurei especular sobre aquele assunto, pensava que o pai dele deveria fazer parte ou chefiar alguma organização criminosa.

Eu não estava errado.

— Park Jaein, ainda em sua adolescência, começou a fazer pequenos serviços a um senhor na rua onde morava, no bairro mais pobre de Seoul. Era algo como vigiar as esquinas para alertar qualquer movimento de policiais ou coisas assim. Com isso, ele recebia alguns trocadinhos para ajudar os pais em casa. Ele não fazia a mínima ideia de para quem realmente fazia aqueles pequenos serviços. Até que um dia foi convidado por esse homem, que lhe pagava pelos favores, a se juntar a eles como um membro efetivo da organização, prometendo muito mais dinheiro do que a mixaria que recebia por vigiar as ruas. — Parou de falar e engoliu saliva.

Eu estava concentrado em ouvir o que ele tinha a dizer, olhava-o com atenção, sem deixar que nada me fizesse desviar o olhar de seu rosto, nem mesmo quando um trovão reverberou com ímpeto bem acima da casa.

Percebi que Chanyeol estava vacilante, com medo de terminar de me contar a história do seu próprio pai. Uma história que teve um final trágico.

Me movi sobre o estofado para me aproximar mais um pouco de seu corpo, depositando minha mão quentinha sobre seu ombro.

— Continua… eu preciso ouvir até o fim, Chanyeol. — Pedi com calma e ele assentiu.

— Foi quando meu pai entrou, pela primeira vez, em contato direto com a Yangeuni, uma máfia sul-coreana. — Revelou, me encarando os orbes em seguida.

Espantei os olhos e levei a mão até a boca, a tapando.

— Máfia? Meu Deus, Chanyeol… — Comentei com a voz abafada, uma vez que minha mão permanecia sobre minha boca.

— Yangeuni é uma organização mafiosa antiga, que surgiu com a divisão das Coréias. Aos 17 anos meu pai entrou para a organização como um simples soldado e a ambição passou a fazer parte da sua vida desde então. Ele trabalhava arduamente para subir de posição, e foi aí que meu tio acabou entrando junto nessa. Em poucos anos meu pai conseguiu se tornar um executivo sênior, que é uma espécie de chefe de uma determinada área ou de um determinado tipo de negócio sujo. Se casou com a filha de outro executivo sênior através de um acordo, e a cada ano se tornava mais rico, mais poderoso… — Ele me contava tudo com a voz embargada e as feições esmorecidas. — Eu nasci em meio a ascensão dele. Todo império que ele construiu junto ao irmão foi graças ao dinheiro sujo. Cada centavo ganho através de sequestros, de extorsão, de casas de prostituição, jogos de azar, contrabando… Meu Deus, eu cresci em uma casa onde era normal ver homens de terno e armados circulando por todos os cantos… com aquelas cicatrizes…

Levou os próprios dígitos ao rosto, passando-os sobre a cicatriz na bochecha.

Eu estava abismado e completamente horrorizado por todas aquelas informações. Sentia arrepios por todo o corpo e não sabia exatamente o que dizer.

— C-Chanyeol, essa cicatriz é uma espécie de característica obrigatória de um membro dessa… máfia? — Acabei por perguntar.

Ele assentiu, sem me encarar.

— Ela é feita através do ritual de iniciação de um novo membro à Yangeuni. A cicatriz é símbolo do pacto eterno com a organização. O chefe da máfia e seus respectivos executivos seniores devem possuir a marca nos dois lados do rosto.

— Então… você-

— Eu nunca participei da cerimônia onde acontece o ritual. — Se adiantou antes que eu pudesse terminar meu questionamento.

— Como a cicatriz foi parar no seu rosto então? — Perguntei, sentindo um embrulho em meu estômago.

Imaginar a pessoa que amava fazendo parte de algo tão sujo e criminoso me causou vertigem. Não queria crer que Chanyeol viveu em meio àquela realidade nojenta.

— Meu pai foi mandado a Londres para chefiar toda a sujeira lá, por motivos que não me lembro mais. Tudo o que não esqueço é do que ele fez a mim… — Travou a mandíbula e cerrou as pálpebras com força. — Eu estava estudando em um colégio interno na época e, em um dia chuvoso como este, fui buscado por um dos capangas dele. Não houve explicação alguma, simplesmente fui levado de volta para a casa em que estávamos vivendo. Ao chegar, fui surpreendido por meu pai na sala, nervoso. Sabia que algo de ruim estava prestes a acontecer. E quando fui segurado por dois dos homens dele, eu tive certeza de que ele sabia sobre minha recente descoberta pessoal…

Aquela história toda havia despertado em mim uma curiosidade absurda. Eu queria saber cada mínimo detalhe e ao mesmo tempo não queria saber nada. Estava com os olhos atentos sobre ele, apenas ouvindo e ouvindo.

— E o que você havia descoberto?

Mirou-me penetrantemente em minhas íris, com aquele olhar único que só ele sabia me direcionar.

— Que sinto atração por pessoas do mesmo sexo que eu. — Respondeu-me com uma certa convicção, algo que nunca o vi admitir antes.

Chanyeol era gay, disso eu tinha absoluta certeza. No entanto, ele nunca havia assumido isso para mim, nem a si mesmo e muito menos a outras pessoas.

— Ele se aproximou de mim com raiva e desferiu um tapa em meu rosto. Começou a gritar, dizendo que eu estava louco e que um informante o avisou de que eu e meu colega de quarto do internato estávamos nos envolvendo muito além do que o comum permite. Foi apenas um beijo na bochecha, mas o bastante para que ele tirasse uma faca de filetear que estava presa à sua cintura e me fizesse essa marca. Afirmou que era um pequeno lembrete de quem eu realmente era, para que nunca esquecesse.

Ao final, Chanyeol estava em lágrimas outra vez. A dor narrada por ele era óbvia e viva. Eu via raiva em seus orbes úmidos, e naquele momento compartilhava do mesmo sentimento que ele por aquele homem desprezível. A ânsia de vômito ainda era sentida por mim e eu só queria retornar ao meu apartamento. Queria fechar os olhos e esquecer de tudo. Esquecer as cartas e seu autor. Queria esquecer que ele havia aparecido na porta da minha casa. Implorava para alguma divindade que aquilo não passasse de um sonho e que logo despertaria com a minha vida exatamente igual, da qual Chanyeol já não fazia parte.

Mas não era um sonho ou fruto da minha imaginação.

Era real, ele estava ali diante dos meus olhos, me contando tudo.

— Após isso, ele teve que vir para o Canadá e eu soube que não podia ser quem eu sou. Tinha que ser quem meu pai queria que eu fosse e somente. Algumas semanas depois a minha m-mãe acabou sofrendo uma queda, ocasionando um sangramento interno q-que não conseguiu ser cessado a tempo, o que acabou por matá-la. Ela amava e-esse país, estava tão feliz por termos vindo morar a-aqui...

Ao falar de sua mãe, Chanyeol acabou se rendendo a um pranto horrivelmente doloroso e cheio de angústia. Vi quando ele levou uma mão até o peito e agarrou com força seu casaco, praticamente gritando enquanto soluçava. Fechei os olhos em meu próprio choro silencioso, porque não aguentei olhar aquela cena. Não pude sustentar o olhar sobre tamanho sofrimento.

Alguns minutos depois ele foi se recuperando e se acalmando. Foi quando tornei a abrir os olhos e fitei sua face entristecida.

— Eu vivia em uma realidade que não me permitia quebrar aquilo que eles chamavam de regras. A Yangeuni é totalmente conservadora e esse tipo de coisa é algo que eles não permitem. Passei anos acreditando que, à partir daquela marca feita, eu era um membro dessa maldita máfia, quando na verdade eu não fazia parte dela. Nunca fiz.

— Como assim?

— Você só se torna um membro através da cerimônia de iniciação que te falei. Há todo um ritual em que o executivo sênior e seus subordinados estão presente também, não é simplesmente fazer um corte no rosto. O iniciado fica de frente ao seu superior, enquanto o saquê* é servido. A taça do superior fica cheia e a do iniciado é pouco servida, demonstrando sua posição inferior na hierarquia.

Apenas movi minha cabeça sutilmente para cima e para baixo, mostrando que havia compreendido até então. Mordi o lábio e abracei minhas pernas, colocando o queixo sobre os joelhos.

— Os machucados no seu rosto eram feitos pelo seu pai. — Comentei, observando a lareira diante de nós.

— Não, ele não me batia, mandava os homens dele fazerem isso sempre que eu respondia aquilo que ele menos gostaria de ouvir. Toda vez, após o jantar, me obrigava a recitar as regras da Yangeuni, cada uma delas. Dizia que estava me tornando um homem de verdade. — Chanyeol soprou um riso irônico e balançou a cabeça negativamente. — Às vezes eu respondia que não me importava com as malditas regras, então eu apanhava. Um dia apanhei por horas. Fui praticamente torturado por ter dito que estava confuso quanto a minha orientação sexual. Ele me ameaçava, enquanto aqueles cretinos esmurravam meu rosto, exigindo que eu encontrasse uma namorada. Dizia coisas nojentas sobre o que eu deveria fazer com uma garota. E se eu não encontrasse uma em poucos dias, continuaria apanhando e apanhando e apanhando. Fiquei com tanto medo, Baekkie…

Chanyeol abraçava o próprio corpo como se fosse uma criancinha assustada.

Então soube a razão pela qual teve que iniciar um relacionamento sério com Victoria, a garota que mais fácil se atirava para ele. Novas conclusões foram tiradas por mim. Chanyeol tinha medo de ser quem ele era, e acabou criando um bloqueio em si mesmo, que o obrigava a não aceitar sua própria orientação sexual. Tudo isso causado por torturas feitas em seu próprio lar, para que se tornasse alguém que ele não era e que não queria ser.

Ele vivia sob o medo, acreditando que ser quem ele era não estava certo.

— Naquela noite em que ele nos viu saindo da casa do Jonhny, ele estava me vigiando. Sempre fui vigiado pra falar a verdade. Fiquei com medo por você, porque eu sabia que, à partir do momento em que ele nos viu juntos, não poderíamos mais manter a nossa relação. — Eu ainda estava abraçado às próprias pernas quando ele acarinhou os cabelos da minha nuca, dando continuidade a sua fala. — Quer saber mesmo o porquê de eu ter sumido por duas semanas? Porque eu fui obrigado a acompanhá-lo em uma porra de viagem nojenta a Vancouver. Só de lembrar das coisas horríveis que ouvi e que vi, eu sinto arrepios. As coisas absurdas que eles fazem... a parceria com figuras políticas e emissoras de televisão... meu Deus, Baekhyun você não faz ideia do submundo onde eles agem sorrateiramente como sombras. Máfias não são historinhas fictícias, elas existem e estão por toda parte. — Seus olhos lacrimejavam.

E não, eu não fazia ideia do que era o submundo das máfias. Naquele exato instante estava mais do que claro para mim que não importava mais o resto, já tinha tomado ciência o suficiente sobre aquela merda toda.

Mas Chanyeol continuava a falar.

— Ele me ameaçou; ameaçou você, caso eu me aproximasse novamente, após aqueles quinze dias. Eu não podia deixar que ele te machucasse, Bae. Tive que mandar aquela mensagem e te bloquear, ou eu não sei o que ele poderia fazer a você. E… depois tivemos aquela briga na frente da escola inteira-

— Chega, eu não quero mais saber, por favor! — O interrompi, levantando-me do sofá e tomando distância.

Todo aquele relato me trazia de volta dores esquecidas, lembranças dolorosas que eu não queria reviver em minha mente. Aquilo abria feridas não cicatrizadas e me machucava. Sentia as lágrimas rolarem por minhas bochechas e tentava a todo custo esconder a face entre as palmas das mãos.

O ala armador do Toronto Raptors não hesitou em se erguer e caminhar com pressa até mim, tentando puxar minhas mãos.

— Você queria saber tudo, então você vai ouvir até o final, Baekhyun! Precisa saber que eu terminei com a Victoria, porque não fazia mais sentido toda aquela farsa, já que meu pai acabou nos descobrindo. Eu lamento muito por tê-la usado daquela maneira para sustentar uma mentira, para satisfazer ao desejo do meu pai de me ver namorando uma garota. E naquela época eu só queria uma única coisa, eu só queria você. Você! — Me apertou em seus braços contra seu próprio peito, enquanto eu ainda chorava. — Eu te amava mais do que tudo! Eu te amo, Baekhyun! E foi por isso que te liguei no último dia que nos vimos há 10 anos, pra dizer que te amava demais, antes de partir. Lembro como se fosse hoje, meu pai me dizendo que precisava me mandar pra longe ‘dessa sociedade corrompida’, que eu voltaria a Coréia do Sul. Eu não podia aceitar aquilo, não podia aceitar ser levado para o outro lado do mundo para viver em uma terra que eu amava, mas onde você não estaria. Então fugi de casa. Fiquei seis dias gastando o dinheiro que tinha conseguido trabalhando à noite em uma lanchonete 24 horas. Tive que dormir em pousadas diferentes por noite, fazendo só uma refeição por dia, pensando em um jeito de me livrar do meu pai. Quando os homens dele me acharam, tentei fazer um acordo com ele. Pedi a ele que pudesse me deixar ficar com você e eu faria tudo o que ele quisesse.

— E ele se negou. — Afirmei.

— Não, ele aceitou após minha insistência. Disse que eu poderia ficar com você. — O fitei perplexo por saber aquilo. — Mas nós teríamos que viver como muitos deles vivem… escondidos. Eu teria que me casar com uma mulher, ter uma família com ela e manter uma relação contigo. Não pude aceitar isso, não podia exigir que ficasse comigo pra viver uma vida desgraçada dessas; você merecia mais, Baekkie. Então perguntei a ele o que teria que fazer para deixar de ser um membro da Yangeuni, porque sabia que assim poderia ficar com você, sem me preocupar de estar quebrando uma maldita regra. Havia duas condições. Uma delas era que eu perderia a língua; a outra era castração. Eu tinha que escolher entre ambas, mas não pude, não consegui. Então fui mandado de volta em um avião à Seoul na mesma noite em que nos despedimos.

Parou de falar e me soltou de seu abraço. Afastou-se um pouco, e eu buscava secar as lágrimas com as costas das mãos. Chanyeol levou uma mão até meu queixo, erguendo meu rosto para que o encarasse.

— Relembrar essas coisas dói, não é? Mas não quer saber como me tornei jogador de basquete profissional? Não quer saber como consegui essa fazenda?

— Eu sei que a Universidade de Toronto fez questão de te recrutar, por isso você retornou. Você sempre foi o melhor jogador do time da nossa escola, os olheiros estavam sempre lá por sua causa. E até imagino como se tornou o proprietário dessas terras… — Resolvi falar, depois de todo aquele quase monólogo.

— Você deve achar que meu pai morreu e que eu herdei tudo isso. — Estendeu a palma e apontou para tudo a nossa volta. — Bom, Park Jaein morreu há dois anos, mas não me deixou um centavo, por isso há quase um ano comprei a fazenda com meu próprio dinheiro em um leilão. Enquanto eu estava terminando o ensino médio em Seoul, acabei descobrindo que meu pai estava preparando uma cerimônia onde um ritual aconteceria e que eu era um iniciado. Foi quando soube que nunca havia feito parte da Yangeuni e que meu pai me fez acreditar naquilo para me manter sob seu controle. Eu nunca fiz parte de máfia alguma, apenas carrego uma cicatriz feita, contra minha vontade, por um homem que só pensava em si mesmo.

Eu descobria que Chanyeol foi aterrorizado por anos, acreditando que não podia fazer suas próprias escolhas, por pertencer a uma organização criminosa hierárquica cheia de regras. Foi enganado e impedido de viver a vida que queria.

— Quando a Universidade de Toronto entrou em contato por e-mail, eu não hesitei por um momento em aceitar. Ele ficou furioso, me ameaçou de todas as maneiras caso eu escolhesse me tornar um jogador de basquete ao invés de ser quem ele queria que eu fosse. Um criminoso, exatamente como ele era. No fim das contas, fui deserdado. Pouco me importava o dinheiro sujo dele, eu só queria me ver livre daquela vida.

Acabamos por nos assustar com vários trovões, um seguido do outro e nos afastamos minimamente.

Olhei para cada móvel ao nosso redor, observando uma das conquistas dele.

— Aqui está você… vivendo sua vida através de escolhas somente suas, sem a interferência de alguém. Deve se sentir muito realizado. — Fiz um breve comentário.

Ele negou com a cabeça, se aproximando mais, colando seu corpo ao meu. Ambas as mãos enormes seguraram as laterais de meu rosto, e me mirava com um olhar penetrante.

— Eu venci o meu pai, quando deixei de fazer aquilo que ele queria. Venci campeonatos. Venci a mim mesmo, batendo meus próprios recordes. Venci ao me tornar o melhor jogador da temporada regular por três vezes seguidas. Mas há algo que nunca consegui vencer em todos esses anos.

Lembro que eu o encarava de volta, olhando-o bem dentro dos orbes, podendo jurar que conseguia ouvir as batidas descompassadas do coração dele. Ou seriam as batidas do meu?

— E o que você não conseguiu vencer, Chanyeol?

— Não pude vencer esse meu coração que só ama e deseja você, Baekhyun. – Acariciou um lado do meu rosto. — Noites e mais noites de insônia ressentindo você; pensando em tudo o que poderíamos ter vivido se ainda estivéssemos juntos. Seu rosto estava sempre lá quando eu me deitava e fechava os olhos. Sua voz ecoava em minha mente. Seu cheiro parecia estar sempre impregnado em minhas roupas.

Quando ele revelou a mim todas aquelas coisas, fechei os olhos ainda sentindo a textura de seus dígitos sobre minha face, segurando-a exatamente como sempre costumava fazer. Então recordei-me dos beijos molhados, dos toques desvelados e cheios de afeição. Parecia que podia ouvir seu timbre adolescente sussurrando a mim que as palavras ouvem…

 

“Yaegiya, palavras ouvem e se não tomarmos cuidado com elas, então nos farão acreditar em mentiras e duvidar de verdades…”

 

Eu nunca havia entendido o significado daquilo quando me contou aos 16 anos. Mas bem ali, enquanto Chanyeol acariciava meu rosto, entendi que palavras sabem nossos segredos, sabem nossas dores e medos; as palavras nos tocam o corpo, estão presentes em cada momento, e que sempre estarão aqui para nos lembrar daquilo que foi dito ou ouvido.

E sentindo os toques dele naquela noite chuvosa, pude perceber que as palavras me faziam lembrar de cada momento sobre aquele túnel velho e sujo. As palavras ouviram e viram a nossa história segundo após segundo. As palavras escutaram o que Chanyeol me disse quando se despediu de mim. As palavras criaram raízes profundas em nossa louca relação. Elas foram as maiores testemunhas da profundidade de nossa entrega.

Entretanto, por anos elas apenas me fizeram lembrar das partes dolorosas daquilo que vivemos. E era sobre isso que ele havia me alertado. Não deixar que as palavras fizessem da beleza do nosso amor, um poço de feiúra e insignificância.

Chanyeol desceu as mãos e apertou minha cintura, garantindo que eu não sairia correndo dali antes que me beijasse. Sua face se aproximou com lentidão da minha semelhante, beijando minha testa algumas vezes, logo descendo os selares para a ponta do meu nariz. Suspirei extasiado com tais toques acalentadores e me rendi ao momento quando seus lábios tocaram os meus em um ósculo apaixonado e acolhedor. Sua língua atritou com a minha em movimentos lentos e inebriantes, enquanto envolvia minhas palmas ao redor de seu corpo forte e tatuado, abraçando-o com saudade.

Aquele beijo transmitia todo amor que guardamos em nossos corações e memórias. Havia dor dentro de nós também, só que ela não era maior do que a felicidade vivenciada quando estávamos sozinhos naquela época de adolescência.

Ele rompeu o contato e me observou com um curto sorriso de canto.

— Ter correspondido ao beijo significa uma resposta positiva? Podemos ter a nossa chance?

Afastei-me dele e encarei meus pés calçados em meias brancas. Eu não sabia o que pensar, muito menos o que responder a Chanyeol naquele momento. Tudo parecia tão confuso, fora do lugar, e eu sentia que não poderia dar qualquer resposta antes de pensar bastante sobre o assunto e absorver as informações que recebi da parte dele naquela noite.

— E-Eu… não sei… vou precisar de um tempo.

O pequeno sorriso que ele esbanjava desmanchou-se naquele mesmo instante em que o respondi.

— Baekhyun, quanto tempo mais será preciso? Tantos anos que se passaram já não bastam? Não suporto mais meios termos, não quero mais perder tempo, quero você aqui e agora. E se me quiser também, então apenas diga que sim, pelo amor de Deus.

Voltou a diminuir a distância de nossos corpos, e eu me senti pressionado. Não era fácil tomar a decisão de aceitá-lo de volta em minha vida, não após tanto tempo. Ele precisava entender que eu ainda estava atordoado por saber toda a verdade daquela maneira.

— Por favor, não me pressiona. É melhor me levar de volta pra casa agora, para que eu possa pensar melhor e com mais calma. — Pedi.

— Isso soa como um não para mim.

— Eu só preciso ir pra casa agora e pensar melhor no que tudo isso significa pra minha vida, Chanyeol. Entenda isso! — Acabei elevando o tom de voz ao final.

— Eu não quero te levar de volta antes da sua resposta. Pode ser a última vez de verdade em que nos veremos… — Explicou com aqueles olhos úmidos me encarando tristes.

— Então eu vou sozinho.

Caminhei até a porta de entrada e passei a calçar meu par de tênis com pressa.

— Não seja ridículo, Baekhyun. Como vai voltar a pé debaixo desse temporal, estando a quase 24 milhas do seu apartamento?

Não o respondi, apenas deixei que meus orbes pousassem sobre a figura daquele homem uma última vez, antes de cruzar a porta e sair em meio àquela chuva.

O guarda-chuvas havia ficado dentro da caminhonete dele, então não tinha chances de pegá-lo, apenas iria embora dali o quanto antes. Meus pensamentos estavam à mil e eu nem sequer sabia para que lado deveria seguir, enquanto a chuva descia sobre mim sem piedade, não somente ela, como também as minhas lágrimas.

Aquela fora uma atitude idiota minha. Sair daquela forma e em meio ao temporal era loucura, algo extremamente perigoso. Assim como também havia sido uma atitude infantil de Chanyeol se negar a me levar de volta para casa quando pedi.

Eu chorava e tropeçava em meus próprios pés, rumando o mais depressa para longe dali.

— Baekhyun!

Ouvi o grito de Chanyeol. Olhei para trás e o vi correndo em direção a mim, tentando não se molhar enquanto segurava o guarda-chuvas como podia. Apenas continuei andando rapidamente e não me importei com nenhum de seus chamados por meu nome.

Mas ele estava correndo e era óbvio que logo me alcançaria.

— Não me ouviu gritando por você?? — Questionou assim que segurou um dos meus braços, me fazendo parar de andar.

Colocou o guarda-chuvas sobre nós dois, impedindo que a chuva continuasse a castigar o meu corpo.

— Quer saber, Chanyeol? A minha resposta é não! Eu não vou nos dar outra chance! — Despejei com impaciência, sem me importar com minha cara horrível de choro.

No fundo, aquela não era a real resposta que eu gostaria de dar, pelo menos não daquele jeito e com aquela rispidez. Porém, estava atordoado e me sentindo perdido. Chanyeol havia surgido em minha vida após anos, enviou-me cartas lindas e românticas, contou-me seus segredos… Como eu deveria estar me sentindo naquele instante? Ele realmente esperava que eu fosse sorrir ao final de tudo e dizer que estava tudo bem??

Eu estava confuso em meu interior.

— Shhhh… — Chanyeol largou o guarda-chuvas, que acabou sendo levado pela ventania, pôs a mão em minha nuca e me puxou até estar abraçado a si, com o rosto afundado em seu peitoral. — Me desculpa. Eu não deveria ter te pressionado dessa forma, sinto muito.

Agarrei seu casaco com ambas as mãos e desabei em um choro de agonia; choro de alguém desnorteado em meio a um vasto oceano; perdido; sem rota; sem saber para onde ir.

A chuva apenas descia e descia sobre nossos corpos que tremiam de frio.

— Está ouvindo? — Perguntou, sussurrando bem perto do meu ouvido.

Olhei para cima, bem para o seu rosto, sem entender do que falava.

— Ouvindo o q-quê?

— Ouça… — Fechou os olhos, escorregou a mão esquerda até minha cintura e a outra segurou minha canhota. — Dança comigo?

Eu estava perplexo e com certeza confuso com aquele pedido. Estávamos no meio de uma chuva intensa, totalmente encharcados e ele queria dançar comigo. Chanyeol deveria ter enlouquecido de vez.

— O que está fazendo? Está chovendo e não há música. — Observei aqueles dois detalhes que me pareciam bastante significativos.

— Apenas feche os olhos, escute e me acompanhe.

Então, me ajeitei colado ao seu corpo, enquanto ele me tirava para dançar, guiando-me um passo de cada vez. Eu nem ao menos sabia dançar e ainda me encontrava confuso.

Fitei seu rosto molhado, observando as gotas que caíam do céu sobre si. Seus olhos ainda estavam fechados e ele se movia com graciosidade e destreza, como se a música mais romântica do mundo estivesse a tocar. Sem ter mais para onde correr, me permiti comprimir as pálpebras, me entregando àquela valsa.

Dançávamos ao som da chuva. Meu corpo colado ao dele. Nossas almas unindo-se uma vez mais ao ritmo da tempestade. E eu me sentia vivo, porque o viver se trata daquilo que fazemos dele. Naquele instante nós havíamos feito daquela dança o nosso viver, passo a passo em instantes que pareciam se passar com lentidão. Seus dedos sobre meu corpo; minhas mãos sobre si; a ligação intensa de nossos seres… era disso que se tratava aquela dança. Era sobre o ritmo que nós mesmos escolhemos dançar.

O ritmo do nosso amor.

Naquela noite de anos e anos atrás, fui tirado de minha constância por alguém que sabia exatamente como fazer aquilo. Chanyeol, seu nome, o nome do meu amado, aquele que era louco o suficiente para dançar junto a mim a valsa dos apaixonados em meio a raios e trovões.

E após longos minutos parou com os movimentos e me encarou naquela escuridão. Eu sabia que ele estava chorando, dava para ouvir seus soluços, embora a chuva me impedisse de ter certeza.

— Eu sempre sonhava em tirá-lo para dançar em nossa formatura. Infelizmente isso não aconteceu, porque eu nem ao menos estive lá. Então eu queria dançar com a pessoa que amo, antes de vê-la partir… — Ele confessou com a voz trêmula.

Ah, aquela dança… as sensações transmitidas em cada movimento me fizeram entender que eu só estava perturbado anteriormente, mas que minha resposta nunca seria negativa. Eu o amava. Eu o queria.

Eu o amo…

— Não vou a lugar algum. Vou ficar, porque eu te amo, Chanyeol.

Consegui ter o mínimo de visão de suas expressões assustadas, então o beijei. Nosso beijo era contato o suficiente para compreendermos que precisávamos um do outro e que daquele momento em diante estávamos habilitados para aquele relacionamento.

Seu coração era meu.

Meu coração era seu na mesma medida.

Eu queria ouvir todas aquelas esquisitices que ele sempre costumava falar em momentos aleatórios. Mal podia esperar para construir uma nova história ao lado do homem que mais amou-me nessa vida. Ao lado de alguém que sabia como me fazer sentir vivo. Ao lado de alguém que finalmente estava pronto para aquele amor.

Nós finalmente estávamos prontos para aquele amor…

Anteriormente me entreguei a ele como se dependesse do nosso amor para sobreviver. Me doei por inteiro sem qualquer maturidade, quando na verdade eu havia me esquecido de que era a mim mesmo que eu deveria amar mais. Deveria haver mais harmonia entre meu amor próprio e o amor que sentia por Chanyeol, mas eu era jovem demais para entender isso. E foi a minha falta de amor próprio que me colocou em situações ridiculamente dolorosas, dando importância apenas ao louco desejo de tê-lo só para mim.

No entanto, a sensação de epifania era algo que eu podia sentir com clareza. Sentia uma densa realização em meu interior, como se eu fosse pleno, completo, finalmente inteiro. E eu era, sim, eu estava completo em mim e pronto para amar quem mais me amava.

Após a minha resposta nada esperada, retornamos com pressa e aos beijos para dentro da casa. Só queríamos matar quem nos matava; nos livrar daquela saudade imensa da forma mais íntima possível.

Entramos juntos, retirando nossos tênis cobertos de lama de qualquer forma. Sem perder tempo, tanto eu como ele nos desfizemos de nossos casacos molhados. Desejava com avidez sua nudez contra a minha, seus lábios sobre os meus. Apenas deixei que me guiasse até a lareira, onde ficamos parados, nos encarando ofegantes naquele costumeiro diálogo silencioso.

Chanyeol interrompeu o contato com os olhos para buscar os travesseiros e o cobertor, ajeitando-os no tapete persa, formando uma espécie de cama. Permaneci em meu silêncio, observando-o enquanto retirava a blusa de mangas compridas, ficando com o torso à mostra. A pele de todos os cantos que podia enxergar estava coberta por tatuagens de vários tipos. Algumas dessas tatuagens se estendiam até o seu pescoço, cobrindo uma parte ali também.

Fiquei perdido em meio a tanta tatuagem, que nem notei quando ele me envolveu em um abraço, deslizando os lábios por cada cantinho do meu rosto. Por fim, uniu seu sabor ao meu quando beijou meus lábios de forma terna e lenta. Levei minha mão até sua nuca, colando nossos corpos mais ainda, ao mesmo tempo em que suas mãos enormes alisavam minhas costas. Beijávamos com expectativa e ansiedade, desejando que nada nesse mundo pudesse nos interromper naquele momento só nosso.

Ansiávamos um pelo outro como nunca antes. Minha mão desesperada puxava suas madeixas onduladas enquanto sugava sua língua para dentro da minha boca. Ele parecia estar gostando de como minha outra mão alisava seu peito, esfregando o local diversas vezes, fazendo-o arquejar em meio ao ósculo molhado e estalado.

Deslizei a mão até seu ombro, pressionando-o com gentileza, voltando a descê-la por toda extensão de seu tronco, aproveitando cada pedacinho daquele corpo maravilhoso, do qual eu não fazia ideia que sentia tanta falta.

Chanyeol puxou meu lábio inferior entre seus dentes, arrancando de mim um gemido manhoso. Voltei a chupar sua língua bem devagar, sentindo-me ansioso, como se aquela fosse a primeira vez que nos entregávamos de tal maneira.

Na verdade, seria a primeira sim.

Continuei a deslizar a mão por seu abdômen, até passá-la por sobre seu membro já rígido dentro de sua calça encharcada. Então, quando apertei o local algumas vezes, consegui ouvir um gemido gostoso se desprendendo de sua garganta. Ele se afastou do beijo e olhou para baixo, observando com os olhos semicerrados, enquanto eu adentrava a mão por dentro de sua calça, segurando seu pênis com uma certa pressão.

Eu queria dar prazer a Chanyeol como nunca havia dado antes, então não me limitei somente àqueles toques. Encarei sua face com um olhar lascivo, em seguida envolvendo minha boca em um de seus mamilos, enrijecendo-o. Passei a fazer movimentos lentos com os dedos envoltos em seu membro, enquanto sugava aquele botãozinho rosado, até mesmo causando pequenos estalidos excitantes.

Ele gemia tão dengoso, me deixando mais atiçado e ansioso para o que pretendia fazer com ele.

Intercalava de um mamilo ao outro, sentindo sua mão mergulhar em meus cabelos. Fiz pressão com meus dedos ao redor de seu pênis e esfreguei o dedão sobre a fenda da glande, espalhando o líquido pré-ejaculatório sobre o local.

— Esse corte de cabelo te deixa tão… — Suspirou longo sem terminar a frase, segurando meus cabelos com força.

Ainda chupando seu mamilo, o encarei. Ele havia jogado a cabeça para trás e continuava a gemer sem qualquer pudor. Acabei por gemer contido com toda aquela cena de seus cabelos úmidos e bagunçados, os sons que saltavam de seus lábios eram simplesmente maravilhosos de se ouvir.

Retirei a mão de dentro de sua roupa e o puxei para mim, lambendo seus lábios de maneira erótica. Chanyeol pôs a língua para fora enroscando-a em minha semelhante naquela dança molhada e devassa. Sua mão faminta passeava por meu peitoral, até que parou sobre o peito direito, sentindo algo incomum.

— Você tem um piercing? — Olhou para baixo, esfregando com o dedo indicador meu mamilo por cima da blusa molhada que ainda vestia.

Sorri de forma acanhada para ele e mordi o lábio de um jeito sensual. Levei as mãos até a barra da blusa e me desfiz dela sem enrolação, expondo a ele meu corpo levemente malhado – graças aos árduos treinos de hapkido –, assim como também a tatuagem tribal no braço, que se estendia até o peito. E finalmente mostrando o piercing que havia em meu mamilo direito.

— Caralho…

Ele meio que soltou um gemido baixinho enquanto analisava meu corpo com olhares famintos. Mordeu o lábio e sem conseguir se controlar fora direto e preciso ao se curvar, deslizando a língua no mamilo onde se encontrava o pequeno objeto prateado que tanto lhe chamou atenção.

Meu pênis pulsava em minha calça, podia senti-lo se tornar cada vez mais dolorido e cada vez mais inchado a cada gemido de Chanyeol enquanto este sugava meu mamilo. Ele parecia se deleitar mais do que eu com tais toques e não continha um gemido sequer.

Eu mesmo fiz questão de levar a mão até o cós de minha calça, lentamente fui deslizando para baixo a calça juntamente com a cueca, já que não suportava mais sentir meu pênis tão apertado naqueles panos. Ele continuava a deslocar a boca por meu peitoral e – terminando de me livrar daquele resto de roupa com os próprios pés – levei minha mão até meu membro rijo e repleto de veias pulsantes, masturbando-me em um ritmo não tão rápido, mas que também não era lento.

— Chupa o meu pau.

No mesmo instante em que me ouviu praticamente gemer aquela sentença, Chanyeol afastou sua boca do meu mamilo, me encarando com um sorriso descarado e sem um pingo de vergonha. Vi seus lábios se partirem em suspiros, estava visivelmente ansioso para fazer aquilo.

Acompanhei atentamente seu movimento, ajeitando-se para ficar na altura do meu baixo ventre, pondo-se de joelhos. Eu ainda me encontrava bombeando meu pênis quando sua face se achegou. Com a mão esquerda segurei seus cabelos com força, deixando-o imóvel enquanto usava a destra para bater meu membro contra um lado de seu rosto.

Chanyeol sorriu e abriu a boca. Coloquei somente a glande avermelhada dentro de sua cavidade bucal e ele a chupou com força, usando os lábios e a língua para fazer uma pressão gostosa naquele local tão sensível. Ora rodeava com a língua, ora deixava beijos estalados sobre a glande, sem desprender os orbes dos meus. Encarava-me com um olhar intimidador e cheio de desejos luxuriosos, deixando-me mais excitado.

Cansado daqueles movimentos lentos e torturantes, enfiei metade do meu pênis em sua boca, fazendo-o gemer abafado. Usei ambas as mãos para segurar suas madeixas, forçando os movimentos de sua cabeça para frente e para trás, controlando a velocidade de suas sucções. Com sua mão direita ele segurou a base do meu membro pulsante e a outra escorreu até uma de minhas nádegas, apertando-a de maneira prazerosa, me fazendo gemer.

Não quis por um instante tirar meus olhos daquela cena deliciosa que era ter sua boca engolindo meu pênis quase por inteiro. Daquela vez suas pálpebras estavam comprimidas, ele estava entregue às sensações do momento, obviamente aproveitando tanto quanto eu. Os únicos ruídos que podiam ser ouvidos naquele ambiente eram nossos gemidos, os estalos das sucções e a chuva que não dava trégua.

Soltei os fios de seus cabelos úmidos e deixei que ele movesse a boca por si mesmo, dando-me um prazer que não sentia há mais de um ano. Parecia que até mesmo para fazer sexo Chanyeol era o melhor. Sabia exatamente como me deixar à beira de um orgasmo, fitando-me com olhos felinos e excitantes enquanto descia a língua por toda extensão do meu membro até chegar aos meus testículos, sugando um por um.

— Ahh, isso é tão gostoso…

Então senti quando ele deslizou a mão – que antes apertava minha bunda – até a fenda de minhas nádegas, adentrando-a e usando o dedo médio para fazer movimentos circulares em minha entrada, que se contraía com tais carícias. Chanyeol ainda lambia e chupava meus testículos ao mesmo tempo em que estampava um sorriso nos lábios vermelhos e úmidos. Parecia se divertir.

Joguei a cabeça para trás e praticamente rosnei, sentindo que não tardaria para chegar ao ápice. Então, antes que aquele momento tivesse seu fim antecipado, o puxei para cima juntando nossos lábios em um ósculo violento, sentindo meu próprio gosto naquela troca desesperada de salivas.

Ele mesmo interrompeu aquele contato e de maneira ofegante me encarava. Fixei minhas íris em sua boca entreaberta, recordando-me da recente visão de tê-la engolindo meu pênis por inteiro.

— Talvez seja melhor subir. O lubrificante e as camisinhas estão lá em cima. — Ele sussurrou com um timbre sensual em meu ouvido, causando-me calafrios por toda a coluna vertebral.

— Pegue o que for preciso e volte pra continuarmos de onde paramos. — Respondi-o quase que ronronando.

Aproveitei a posição em que estávamos e mordi levemente o lóbulo de sua orelha, já que nossos rostos estavam rentes o suficiente para tal ação. Ele apertou minha cintura e gemeu.

— Então já volto. — Deixou um longo selar em meus lábios antes de afastar-se e rumar para as escadas.

Quando ele me deu as costas, pude ter visão da tatuagem mais linda que poderia existir. A extensão inteira de seu dorso tinha como única e exuberante atração a pintura de uma fênix. As cores, os detalhes eram de uma perfeição celestial, sublime ao meu ver.

Suspirei após não tê-lo mais diante de meus orbes e aproveitei aquele curto intervalo para organizar melhor o edredom e os travesseiros sobre o tapete persa de frente à lareira, como também para pensar em como fazer o pedido a Chanyeol para que daquela vez eu pudesse ser o ativo. Somente por me imaginar estocando-o já sentia espasmos em meu pênis, que pulava sozinho implorando para sentir o interior apertado dele. Sequer sabia se alguma vez na vida Chanyeol havia sido o passivo.

Ele logo retornou para junto de mim, trazendo um pacote de camisinhas e o pequeno tubo de lubrificante, assim como já havia se livrado do restante de suas roupas. Caminhava lentamente em minha direção, seu pênis extremamente duro e avermelhado batendo contra seu abdômen e aquele corpo nu orvalhado pelo suor me fazia querer urrar como um animal.

As coxas bem definidas, as pernas, tudo era preenchido por tatuagens e aquilo não podia ser mais atrativo para mim.

Mordi o lábio e passei a bombear meu membro, vendo-o aproximar-se. Chanyeol colocou as coisas em cima da mesa de centro e me assistiu por breves segundos fazendo aqueles movimentos obscenos e tão excitantes. Então ele também começou a masturbar-se, sorrindo devassamente em minha direção.

Diminuí a distância entre nossos corpos e, enquanto ainda me bombeava, deslizei os dígitos da mão esquerda na lateral de seu tronco, fazendo com que ele soltasse um longo suspiro. Passei a distribuir beijos em seu pescoço, lambendo e sugando toda a pele. Ele soltava longos arfares e parecia ansioso para que pulássemos para os finalmentes. Então, me afastei minimamente para encará-lo.

A mão que antes usava para acarinhar sua cintura foi encaminhada até a parte detrás do corpo dele e, sem qualquer inibição, segurei entre meus dedos um lado de sua bunda, apertando aquela carne macia.

— Me diga, Chanyeol, você já foi passivo alguma vez?

Silabei aquele questionamento e ele não parecia surpreso por ouvi-lo.

— Já. — Sua resposta fora sucinta.

Me vi espantado e deixei que minhas expressões faciais transparecessem isso. Ele soprou um riso anasalado e afastou a mão de seu próprio pênis, segurando as laterais de meu corpo. Aproximou seu rosto do meu semelhante e me beijou brevemente.

— Eu sempre fui um cara curioso. — Ditou após separar seus lábios dos meus.

— Então… — Prendi meu lábio inferior entre os dentes e pensei em uma maneira de pedir aquilo.

— Você quer fazer assim? Não precisa ter medo de me perguntar se quero ser o passivo, jagiya. — A maneira doce como ele falara quase me fez derreter entre suas mãos.

Seus orbes negros miravam-me com um brilho diferente. E não precisei incitar o próximo passo ou verbalizar qualquer outra frase, pois Chanyeol afastou-se de mim e se sentou sobre o cobertor, colocando um travesseiro em cima do outro.

— Vem, eu sou todo seu. Vamos fazer amor como você quiser.

Suspirei em agonia, sedento para ter meu membro inchado em seu interior. Não demorei para me juntar a ele naquele cantinho aconchegante e quentinho. Segurei seu rosto de forma diligente e uni nossas bocas, beijando-o apaixonadamente, dizendo a ele com aquele simples contato que o amava demais. Ele arfou entre o ósculo e lentamente o empurrei pelos ombros para que se deitasse com as costas no edredom.

Chanyeol rompeu o beijo e me olhou como se estivesse tendo uma ideia melhor, e antes que eu terminasse de guiá-lo como queria, ele se ajeitou e deitou com a barriga sobre os travesseiros, ficando de bruços e empinado em minha direção.

Senti minha boca salivar, vagando o olhar por aquela linda fênix até suas nádegas durinhas. Não resisti e levei as mãos até a parte detrás de suas coxas, alisando o local de forma erótica, logo não tardando em subi-las até estar apertando seus glúteos, ouvindo aqueles gemidos desinibidos escaparem de sua garganta.

Inclinei meu tronco sobre ele e ouvi outro gemido manhoso quando minha nudez se encontrou com a dele, sentindo meu membro prensado no meio de suas nádegas. Beijei sua nuca diversas vezes, depois desci os beijos até seus ombros. Sentia Chanyeol estremecer a cada toque dos meus lábios em sua pele.

— Não me torture assim… ahn…

Ondulei o corpo, simulando lentas estocadas, ouvindo-o grunhir. Ele choramingava enquanto eu me satisfazia com a agonia e pressa que ele tinha de que eu o fizesse gozar como nunca antes.

Parei de torturá-lo e busquei pelo lubrificante que estava ao meu alcance, em cima da mesa de centro. Despejei uma pequena quantidade do líquido viscoso em meus dígitos da mão destra, logo em seguida levando-os de encontro a sua entrada, usando a mão esquerda para afastar uma banda de seu bumbum.

Em um primeiro momento deslizei para dentro de sua entrada apenas um dedo, fazendo-o suspirar e gemer baixinho. Movi o dedo indicador lentamente por alguns minutos, sentindo que o deixava cada vez mais impaciente para que algo maior e mais grosso estivesse ali. Então decidi adentrar o segundo dígito, fazendo movimentos de vai e vem rápidos, ora separando os dedos, ora juntando-os no famigerado movimento tesoura.

— Ahnn…

Seu gemido rouco era maravilhoso, estimulando-me a movimentar os dedos com mais destreza. Chanyeol já estava tão excitado e impaciente, que passou a ondular e contorcer o corpo, fazendo com que sua bunda fosse de encontro aos meus dígitos, e não o contrário.

Seus gemidos ficavam cada vez mais altos e mais arrastados.

— Eu quero você dentro de mim, agora.

Ele me olhou por sobre o ombro esquerdo com feições de súplica, implorando com aquele olhar felino para que eu o fodesse de uma vez.

Prontamente retirei os dedos de dentro dele, apressando-me em colocar a camisinha, espalhando lubrificante sobre meu pênis protegido, e ele observava cada movimento meu atentamente. Voltei a me inclinar sobre as costas de Chanyeol, lambendo e chupando o lóbulo de sua orelha, aproveitando cada reação positiva de seu corpo tatuado.

— Eu te amo. — Sussurrei em seu ouvido.

Na posição em que estava ele virou o rosto, buscando alcançar meus lábios com seus semelhantes e eu logo tratei de beijá-lo de maneira desengonçada, puxando seu lábio inferior com os dentes ao final.

Ergui o torso e segurei a base do meu membro, forçando-o contra a entrada dele. Sentir seu interior quente se alargando e abrigando meu pênis fora quase como chegar ao Paraíso. Ele era extremamente apertado e não resisti ao gemido rouco que soltei quando me vi completamente dentro dele.

— Tão gostoso… — Quase urrei enquanto iniciava lentas estocadas.

Chanyeol gemeu alto e agarrou o cobertor com ambas as mãos, empinando-se mais para mim. Eu me deleitava não somente com a forma dengosa que ele gemia, mas principalmente com sua entrada contraindo-se, esmagando deliciosamente o meu pênis.

Uma vez mais tornei a descer o tronco, grudando meu peitoral em suas costas tingidas, passando a distribuir beijos por sua nuca, ao mesmo tempo em que aumentava a velocidade de minhas investidas dentro dele.

Nossos gemidos ecoavam por toda a sala de estar.

Eu me sentia diferente, não como se fosse algo ruim, mas aquilo tudo parecia um sonho. Estava fazendo amor com o homem da minha vida, com alguém que significava muito e mais um pouco para mim. Aquele ato não se tratava apenas de sexo, éramos eu e Chanyeol em nosso próprio mundo, unindo não somente os corpos em um só, como também nossas almas.

Recordo-me que nada mais importava naquele momento, a não ser nos amarmos de maneira íntima e nos entregarmos como nunca antes havíamos feito, como se fosse nosso último dia de vida.

Não pensava mais em seus segredos revelados ou na mágoa que um dia guardei dele. Eu só queria eternizar aquele instante, queria nunca me desvencilhar de seu corpo. Eu era dele, ele era meu e nós ainda nos amávamos.

O amor único e mais intenso dentre todos os outros.

Arremetia meu quadril contra si com total agilidade, arrancando os gemidos mais esganiçado de seus lábios. Queria fazê-lo sentir prazer, queria que aquilo significasse para ele tanto quanto significava para mim.

Os sons obscenos de nossos corpos se chocando me estimulavam a estocá-lo com intensidade e precisão. Nós nos encontrávamos inebriados com aquela sensação de frenesi. Estávamos em chamas, entregues à volúpia como jamais havíamos nos entregado antes.

Estava sendo inacreditavelmente única a experiência de ser o ativo com Chanyeol. Era uma posição com a qual estava acostumado a estar com outros homens com quem me envolvi. Mas com ele… ah, juro que com ele o ato parecia mais intenso e profundo. Ele era como uma ilha paradisíaca inexplorada, a qual eu me encontrava faminto para descobrir cada pedacinho. E mal pude conter o gemido alto que dei enquanto me afundava dentro dele.

Percebi que ele estava se empinando mais ainda, deixando um pequeno espaço livre entre o cobertor e seu pênis. Aproveitei para escorregar a destra até aquele local, com a finalidade de segurar seu membro e estimulá-lo. Mas Chanyeol afastou minha mão.

— Não… assim eu vou gozar mais rápido, e eu quero fazer isso dentro de você.

Praticamente gemeu enquanto ditava aquela frase para mim de maneira sensual. Soprei uma risada e então, com ambas as mãos, agarrei seu quadril com força, erguendo o peitoral e movimentando-me velozmente sobre si.

Deixei que meus orbes fixassem na tatuagem da fênix em suas costas de músculos bem marcados. Observava a cena do suor do meu queixo pingar e se misturar com o suor que banhava a superfície de sua epiderme, escorrendo pela fênix, me deixando embriagado de desejo.

Sequer sabia quanto tempo havia se passado enquanto meu pênis entrava e saía prazerosamente de sua entrada. Eu apenas tinha certeza de que aquele estava sendo o dia mais insano dos últimos anos. Um dia que eu jamais esquecerei. O dia em que nos entregamos um ao outro após longos 10 anos, para que finalmente pudéssemos aprender a amar como os adultos que éramos.

— Bae…

Quando ele praticamente ronronou para mim, me vi crispando as sobrancelhas e mordendo o lábio com força, tendo convicção de que minhas feições de prazer haviam tomado posse do meu rosto de uma maneira assustadora. E eu gritava em minha mente os piores palavreados possíveis, acabando por verbalizar quando não mais consegui me conter.

— Caralho, você é muito gostoso, Chanyeollie…

Acabei apertando um lado do bumbum dele, o separando para que pudesse ir o mais fundo que conseguisse.

Uma série de gemidos e rosnados vindos de Chanyeol ecoaram como os trovões estrondosos daquele temporal, ele aparentava estar ensandecido de prazer, ondulando o corpo, tornando o momento muito mais lascivo.

Ainda apertando sua bunda, inclinei-me novamente sobre si, chupando e passando a língua em sua nuca. O balançar do meu quadril era certeiro e eu deslizava meu pênis com movimentos circulares e ágeis. Sabia que estava perto de atingir o meu prazer máximo.

Foi quando senti a entrada de Chanyeol se contrair e sua respiração se tornar totalmente descompassada.

— Não, não... porra...

Me vi assustado, acreditando que havia feito algo de errado e que tinha o machucado. Levantei o torso, sem deixar de estocá-lo, querendo ter certeza de que estava tudo bem.

— Aahnn… ahn...

Seu corpo fora tomado por grandes espasmos e ele gemia de forma longa e ofegante. Então entendi que Chanyeol havia chegado ao ápice sem que precisasse ter seu membro estimulado, além de ter chegado ao clímax antes que pudéssemos inverter os papéis. Ele não gozou dentro de mim, como gostaria de ter feito.

Não resisti àquela melodia estimuladora de seus gemidos em conjunto com os meus, e sentir sua entrada esmagando o meu pênis fora a minha baliza. Segurei as laterais de seu corpo e investi contra ele com mais intensidade e afinco, enfim, ejaculando.

Após diminuir os movimentos e me retirar de dentro dele, suspirei longo, buscando me recuperar dos espasmos. Chanyeol permaneceu na mesma posição, puxando o ar com força para seus pulmões.

Ainda ofegante sorri, e ele me olhava de lado com um sorrisinho em seus lábios.

— Isso foi… — Pensava na palavra correta para descrever aquele momento.

— Intenso. — Ele completou minha fala e eu corei.

Me levantei ainda ruborizado e tirei a camisinha, fazendo um nó e a colocando em um canto do chão. Olhei para Chanyeol e ele já não estava mais sobre os travesseiros.

— Vou ter que pegar outros travesseiros. — Revelou após apontar para seu esperma espalhado nos objetos.

Rimos juntos e ele afastou os travesseiros, voltando a se deitar, dessa vez com as costas no edredom. Me aproximei um tanto quanto tímido, sentando ao lado dele. Nos encarávamos em um total silêncio, mas não chegava a ser constrangedor.

Chanyeol segurou uma mão minha e depositou pequenos afagos ali. Suas íris estavam sérias sobre a minha pessoa, não sabia se estava tentando me decifrar ou algo assim. Tudo o que me recordo agora, era de como sentia falta daquela maneira que ele tinha de me analisar.

— Eu consigo escutar o infinito em seu silêncio. — Segredou-me, falando manso.

Fitei-o minimamente surpreso.

— O que o infinito está dizendo?

— Que não precisamos de uma realidade paralela ou de outra vida para sermos felizes juntos.

Quando ele terminou de falar me acheguei ainda mais, selando nossos lábios em um contato suave.

— Nosso amor é surreal… — Cochichei e passei o dedo indicador sobre sua cicatriz na bochecha.

Me remexi sobre o pano, me deitando exatamente na mesma posição que ele. Chanyeol girou o corpo e se pôs por completo sobre mim, espalhando milhares de beijos em minha face corada.

— Nosso amor… ninguém pode amar como nós. Esse amor é unicamente nosso. — Cochichou como resposta.

Sorri largo, sentindo os meus olhos umedecendo com lágrimas de emoção; talvez de incredulidade.

— Esse é o dia mais insano e inesperado da minha vida.

— Está se sentindo confuso? — Indagou-me encarando meus orbes castanhos.

Envolvi minha destra em sua nuca e o puxei para mim, beijando sua boca com calma e lentidão. Com um estalo alto desprendi nossos lábios e sorri de canto.

— Eu nunca senti tanta certeza em toda minha vida.

— Certeza sobre nós?

— Certeza dessa experiência epifânica ao seu lado. Certeza de que posso nos dar uma chance; uma chance para aprendermos a amar outra vez.

Seu olhar repleto de amabilidade estava preso sobre o meu rosto, eu igualmente o encarava naquela troca de olhares intensos e nebulosos.

Naquela noite tempestuosa de muitos anos atrás, nos beijamos até adormecermos um nos braços do outro.

Finalmente eu era dele e Chanyeol, enfim, era meu.

 

 

“Acontece que quando amamos, sempre é um novo amor. Somos nós que estamos ali, mas ao mesmo tempo não somos. Somos outros na medida da construção da nossa vida que está em outro momento. Dos amores anteriores herdamos dúvidas, mas também muitas certezas. Dúvidas talvez pelo que está por vir, dúvidas pela maneira como nos entregamos. Dúvidas se nossa solidão dará um tempo. Carregamos certezas do que de fato nos faz bem, do que de fato nos faz mal. Certezas do que não soma, do que não combina conosco, do que nos invade sem permissão, do que nos invade e nos faz inundação.

[...] Acontece, que quando amamos, sabemos sim que é amor e talvez um dos maiores desafios nesse caminho seja o equilíbrio. Não devemos amar a todo custo, nem desistir a qualquer pedra. Se sentirmos que temos que ir embora, tudo bem, mas se ficarmos que seja minimamente para sermos felizes.”

– Bob Inconsciente


Notas Finais


Espero que tenha dado para entender tudo direitinho. Eu tentei ser o mais direta possível com explicações, sem rodeios ou enrolação na hora das revelações do Chanyeol.
Estou torcendo para que o fato de ser um capítulo longo demais não tenha atrapalhado ou deixado vocês confusos por causa de tantas informações.
Gostaria de avisar que ainda temos mais algumas coisas para enfrentar com nosso ChanBaek antes de chegar ao fim dessa jornada no capítulo 20. Sim, a fanfic se encerra no capítulo 20, mas até lá ainda haverá bastante emoção.

Acho que é isso. Até a próxima! <3

*Jagiya: querido (a)
*Hanbok: roupa tradicional coreana.
*Ala-armador: é uma posição no basquete. Geralmente é o cestinha da equipe.
*Saquê: bebida fermentada tradicional do Japão. Ela é realmente usada para fazer o ritual de iniciação de um novo membro à máfia, só que é feita pela Yakuza.

*Como imagino a tatuagem da fênix no Chanyeol: http://tattoo.org.ua/wp-content/uploads/2016/06/tumblr_m7q31jBKQl1r98lfvo1_1280-337x500.jpg


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