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História Secrets - "Eu não quero odiar você."


Escrita por: Wong_E

Notas do Autor


Oioi, povo! Como estão?
Demorei, né? Peço desculpas por isso, estou sem Internet e portanto não tenho como postar os capítulos com tanta frequência. So sorry :/
Massss, deixando isso de lado, gostaria de dizer que senti falta de algumas leitoras que não apareceram no capítulo passado e de algumas que estão sumimdo aos poucos. Gente, eu AMO ler e responder os comments de vocês nem que seja com uma crítica, não me abandonem não kkkk ^.^ são as opiniões de vocês que me inspiram a continuar, ainda mais agora que a fic está na reta final e eu tô tendo mais dificuldade pra escrever.
Bom, era isso que eu queria dizer por aqui, espero que me entendam :3
Vamos ao capítulo? Enjoy ♡
Ps: fantasminhas, apareçam e deixem suas opiniões. Como eu disse, são elas que me servem de motivação ;)

Capítulo 22 - "Eu não quero odiar você."



Duas horas foi o tempo que eu levei para chegar à Torre, mesmo o bar onde passei a tórrida noite com Wade não sendo tão longe assim.

Demorei tudo isso por duas razões: 1) eu ainda estava sob os efeitos do álcool e por isso meus sentidos estavam alterados para dirigir como de costume — furando sinais, cantando pneus,  fazendo ultrapassagens proibidas, etc; 2) precisava pensar sobre tudo o que havia acontecido e encontrar coragem para encarar Bucky de frente e resolver nossa situação, assim como tinha de me preparar para impedí-lo de me jogar de alguma janela caso ele tenha uma reação mais extrema ao que irei lhe contrar.

Ah, eu não estou exagerando, não. Vai saber o que um homem do século passado com uma cabeça mais confusa do que a do Albert Einstein pensa a respeito de traições, né? Pelo que eu sei, se uma mulher traía o marido ou namorado nos anos 40 ela era espancada e humilhada de diferentes formas, por isso não me estranharia se ele tentasse algo dessa natureza comigo — apesar de eu não ser o tipo de mulher que se submete a essas coisas me preparei mesmo assim.

Bem, deixando de lado minhas paranóias, quando cheguei a Torre eu subi direto para o meu quarto e por sorte não encontrei com ele durante o rápido trajeto. Entrei em meus aposentos, fechei a porta com toda a calma e soltei um suspiro exaurido, me despindo rapidamente enquanto caminhava na direção do banheiro.

Somente ao tirar meu colã eu senti dois aromas conhecidos impregnados no tecido: da vodka que eu derramei sobre mim mesma em algum momento que não lembro qual foi e do perfume forte de Wilson, que de tão enjoativo me causou algumas náuseas e fez minha cabeça doer ainda mais.

Me irritei ao sentir esse cheiro e joguei a vestimenta no chão com força, não quero saber de nada que me lembre da burrada que fiz e muito menos da pessoa com quem fiz essa burrada. Tenho que me livrar desse uniforme e pensar em outro modelo, esse vai me lembrar sempre dessa noite.

Enquanto pensava nisso eu entrei no chuveiro e tomei um banho de nada mais, nada menos do que uma hora e meia. Depois que saí debaixo da água quente me sequei e segui para o quarto, onde tirei a toalha e fiquei por mais alguns minutos me olhando no grande espelho da porta do guarda-roupa. Bufei e dei um tapa na minha própria testa ao ver as inumeras marcas de chupões e mordidas que estavam espalhadas pelo meu corpo, juro que se eu tiver o azar de encontrar com aquele animal do Wade algum dia vou arrancar todos os dentes dele por ter me deixado assim. Ainda bem que eu sou aquele tipo de pessoa que não lembra do que faz quando está bêbada, por isso não faço idéia de como foi e o que fiz exatamente com Wilson naquele banheiro para estar assim.

Mas enfim, como eu não podia ficar me lamentando por estar mais marcada do que uma lutadora de MMA e muito menos fazendo ameaças em pensamento àquela infeliz criatura que provavelmente nunca mais cruzará o meu caminho, tratei de vestir uma roupa que cobrisse boa parte das marcas — menos as do pescoço, essas nem maquiagem cobriria — e sair do meu lindo e seguro quarto rumo ao mundo cruel.

Eu tenho que aproveitar o pingo de coragem que surgiu em mim e procurar por Barnes agora mesmo, caso contrário tenho certeza que irei amarelar e acabar contando alguma mentira qualquer apenas para ficarmos de bem. Se eu mentir uma hora vou ser descoberta, aí sim a coisa vai ficar duplamente feia pro meu lado, então é melhor enfrentar o dragão enquanto ainda tenho o benefício da sinceridade ao meu favor e rezar para que ele esteja no clima do domingo — ou seja, de bom humor, afinal eu não o perturbei de manhã para ouvir sua voz de sono e irritá-lo.

Pois bem, dizem que quando você pensa muito em uma pessoa seus caminhos se cruzam, não é? Foi exatamente o que aconteceu. No exato segundo em que pisei para fora do quarto eis que o próprio Bucky também deixou seus aposentos, olhando imediatamente na minha direção com uma cara tão estranha quanto a que eu deveria estar.

Franzi levemente a testa e permaneci o encarando de volta por alguns segundos. Uma das coisas em que eu sou expert nessa minha carreira de agente é em analise corporal e facial, portanto consigo captar quando alguém está com algum medo só de olhar nos olhos da pessoa, nem que seja por um segundo sequer. E foi isso que eu vi nos olhos azuis do ex-Hidra: medo.

Mas medo do que? Quem tem de estar com medo aqui sou eu.

— Que bom que você chegou, eu preciso falar com você. — ele disse enfim, fazendo meu coração gelar ainda mais no peito. Minha nossa, ele viu que eu dormi fora e já deve ter sacado que foi porque estava com outro. E agora, José?

Mesmo com o nervosismo correndo pelas minhas entranhas eu consegui manter meu semblante inexpressivo, e segundos após suas palavras perguntei como quem não quer nada:

— Sobre o quê?

— Eu... — pigarreou —, preferia que fosse em outro lugar, se não se importar.

Ai, papai, vai dar merda. Socorro, alguém chame a aeronáutica, a Cruz Vermelha, o Chapolin Colorado...

— Tudo bem... eu também quero falar com você. Vamos pra sala de lazer? — sugeri o primeiro lugar que me veio a mente, ele assentiu algumas vezes.

— Pode ser.

Até esse momento tanto eu quanto ele não tínhamos movido nem um músculo para sairmos do lugar. Não sei se o clima entre nós estava estranho por conta da briga de ontem ou se er eu quem estava distante demais dele, só sei que parecia que nós dois estávamos com o mesmo sentimento de culpa e isso não me cheirava nada bem.

Fomos para a sala de lazer sem dizer mais nenhuma palavra, nem um A que fosse, sequer olhamos por mais de dois segundos um para o outro. Quero dizer, eu não o olhei muito, mas percebi que ele me deu um confere minuncioso quando estávamos no elevador, com certeza reparando nas marcas roxas do meu pescoço e imaginando como elas foram parar ali.

Em questão de 2 minutos chegamos no nosso destino, que ao contrário do que eu imaginei estava mais vazia do que cemitério a noite e não teria ninguém para me salvar de um possível esganamento caso eu precisasse. Passei primeiro pela porta e caminhei até chegar a um dos sofás do centro, onde me sentei e o vi estacar em pé a certa distância. Pelo menos eu acho que ainda terei tempo de correr se for preciso...

— Bom... — pronunciei depois de ver que ele não iria começar — Eu vou falar primeiro porque não gosto de embromação e não quero ficar com esse peso nos ombros por nem mais um segundo. — respirei fundo, ele uniu as sobrancelhas e cruzou os braços.

— O que aconteceu?

É agora ou nunca. Que Deus e todos os anjos me protejam e mandem algum vendedor de colchão passar lá em baixo na hora em que eu for jogada por aquela sacada.

— Eu... passei a noite fora porque... porque bebi demais e... acabei transando com outro cara. — olhei para ele e me desesperei ao ver sua expressão fechar — Eu juro que não queria fazer isso, Bucky, eu estava me sentindo atormentada pelo tanto de coisas na minha cabeça e resolvi beber num bar pra tentar me distrair, mas aí um cara que...

— Eu passei a noite com outra também. — ele revelou num tom de voz firme.

Fiquei de boca aberta e não soube o que responder ou o que pensar, suas palavras ficaram se repetindo na minha cabeça por longos segundos e me deixando totalmente extasiada. Então era por isso que ele estava com aquela cara quando me viu? Foi por isso que ele não ficou irritado comigo por eu ter dormido fora? Ai, meu Deus, ele também me traiu?!

Depois de fazer mentalmente tais constatações e assimilar o que havia acabado de ouvir eu fechei minha boca escancarada e voltei a fitá-lo, encontrando seus olhos com um brilho de arrependimento fixos aos meus.

— Me explica isso direito. — foi o que, enfim, eu falei.

James suspirou profundamente, coçou a nuca com a mão metálica, desviou do meu olhar e finalmente começou a soltar o verbo:

— Depois que a gente brigou e você foi embora eu me arrependi do modo rude como agi e pensei em ir atrás de você, mas em vez de fazer isso eu acabei aceitando um convite do Steve e fui com ele e a Natasha pra um bar aqui perto. — passou a língua pelos lábios e voltou a me olhar — Eu me senti desconfortável de estar com eles, por isso fiquei no balcão e bebi além da conta, e quando já estava pensando em voltar pra cá aquela mulher que conhecemos em Washington, a Jade...

— O QUE? — eu gritei assim que ouvi o maldito nome — FOI COM ELA QUE VOCÊ TRANSOU? PELO AMOR DE DEUS, DIZ QUE NÃO FOI COM ELA!

Apenas a expressão de cachorro abandonado que ele fez — que pela primeira vez me deixou com ódio — confirmou o que eu mais estava temendo. Que apareça alguém pra me segurar porque agora quem quer jogá-lo da sacada sou eu.

— Sim, foi com ela.

— PORRA, BARNES, EU NÃO ACREDITO NISSO! — bradei aos quatro ventos jogando as mãos pro alto — De todas as mulheres gostosas que com certeza deviam estar na droga do bar e que te dariam sem pensar duas vezes você escolhe justo aquela vadia pra levar pra cama? Aliás, o que é que essa criatura tá fazendo em Nova York? Será possível que ela tá me seguindo pra infernizar a minha vida, porque se for isso eu juro que mato ela!

E eu mato mesmo, não é modo de dizer ou uma ameaça vã. Ela que apareça no meu caminho com aquela cara de cachorra sem vergonha pra ver.

— Wanessa, se acalma! — ele pediu com a voz mais alta — A Jade não teve culpa, ela estava lá por acaso, me viu sozinho no balcão e foi convers...

— Ah, que lindo, que cavalheiro! Tá defendendo ela agora? Perdeu a noção do perigo pra defender aquela piranha na minha frente?  — exbravejei entre os dentes, ele enrugou a testa e me lançou um olhar reprovador — Só falta pegar ela e trazer pra cá já que a "coitada" foi a grande vítima, mas aí você vai estar assinando a sentença de morte de vocês dois e de quem tentar me segurar, porque eu vou ficar totalmente pirada se vir aquele monte de silicone e cabelo cacheado na minha frente!

Ele travou o maxilar e deu dois passos na minha direção, enfim elevando o tom de voz ao dizer:

— Para com isso, Wanessa, você não tem o direito de me tratar assim e nem de me condenar como se eu fosse o único errado! Você também passou a noite com outro e eu não fiz nenhum escândalo mesmo tendo percebido isso logo que vi essas marcas no seu pescoço.

Aí, não falei que ele tinha sacado o que eu fiz só de ver as malditas marcas?

— É claro que eu não tenho esse direito e sei muito bem disso, mas sabe de uma coisa? Foda-se! Se você não quer expor a sua raiva o problema é seu, mas eu não vou ficar calada sabendo que você comeu justo aquela piranha que deu em cima de você na minha frente desde o dia em que te viu! — despejei sem pausas e ri escarnecidamente — E eu achando que tinha feito a maior burrada em ter transado com o Wade sem nem saber o que estava fazendo.

— Wade? — questionou incrédulo — Aquele seu ex-namorado mercenário? Você não disse que ele estava morto?

Eu contei sobre o Wilson pra ele? Como não me lembro disso?

— Ele nunca foi meu namorado e não, eu apenas disse que achei que ele estava morto mas não estava, e por uma coincidência ele apareceu lá no bar, me viu sentada no balcão, a gente começou a conversar, beber e quando eu acordei nós estávamos no banheiro. — expliquei em tom sério, enrugando a testa ao ver sua sobrancelha se curvar sugestivamente — Espera aí, você não tá achando que eu e ele tínhamos contato e marcamos um encontro, né?

Se for isso é bom ele correr, é bom correr bastante.

— Eu não duvido que você seria capaz de algo assim, você tem tantos segredos que nada mais me surpreenderia. — retrucou com deboche dando de ombros, e foi aí que meu sangue ferveu de verdade.

— Escuta aqui, só porque eu tenho os meus segredos não quer dizer que eu seria capaz de fazer esse tipo de coisa! Eu não fazia idéia de que o Wade estava vivo e muito menos que iria aparecer justo ontem no mesmo bar que eu, e só transei com ele porque estava bêbada demais pra saber o que estava fazendo! — expliquei parando em sua frente com o dedo em riste — Eu achei que você me conhecesse bem pra não pensar uma coisa dessas de mim, mas pelo visto me enganei muito a seu respeito.

A carranca de raiva do ex-Hidra se desfez e ele soltou o ar pelo nariz com força, negando e desviando do meu olhar ao proferir:

— O que você queria que eu pensasse? Pelo que você contou ele foi muito importante na sua antiga vida...

— Exatamente! — interrompi elevando a voz — Na minha antiga vida, ele deixou de fazer parte dela no dia em que eu entrei pra SHIELD. E agora é a minha vez de dizer que você não tem o direito de me condenar, não depois de ter ficado com a mulher que eu mais detesto nesse mundo.

— Eu estava bêbado e não sabia o que estava fazendo. — repetiu minhas palavras em tom de escárnio.

Controlei todos os palavrões que queria cuspir na cara dele e fechei meus olhos na tentativa de me acalmar. Essa briga com certeza deveria estar sendo ouvida por todos na Torre, não que eu me importe com isso, mas acho que está na hora de dar um ponto final a ela antes que eu acabe dando uns bons sopapos nessa criatura. Aliás, está na hora de dar um ponto final a tudo.

— Nós temos que parar por aqui. — anunciei depois de ponderar por quase um minuto, atraindo um olhar confuso de Bucky.

— O que?

Respirei fundo, organizei as palavras na minha mente e uni minhas forças para dizê-las sem demonstrar dúvida:

— Tudo que aconteceu entre a gente começou de uma forma errada e desse jeito não vai dar certo. As coisas nunca ficaram claras o suficiente nesse "namoro", por isso nós brigávamos tanto e fizemos o que fizemos essa noite. Não é justo a gente ficar se prendendo um ao outro apenas por sexo.

— É só por isso que você está comigo, então? Por sexo? — questionou com certa melancolia.

Oh, glória, pelo visto eu vou ter que desenhar.

— Não, é claro que não. O que eu quis dizer é que a gente nem sabe o que está sentindo um pelo outro no fim das contas. Como eu disse, a nossa relação começou da maneira errada. Nós passamos de amigos pra... amantes em questão de uma noite, aí eu deixei minhas emoções falarem mais alto e te chamei pra ficar comigo em Washington sem nem pensar direito.

Passei a língua pelos lábios e senti meu coração apertar de um jeito que nunca havia sentido, todas essas palavras estavam me destruindo e fazendo eu ter um doloroso choque de realidade. Engraçado como foi preciso que as coisas chegassem a esse ponto pra eu me dar conta do óbvio.

— Você se arrependeu de ter se envolvido comigo. — ele proferiu em um tom decepcionado, suspirei pela boca e esfreguei as mãos no rosto.

— Eu não me arrependo de nada relacionado a você, Bucky. Ficar com você foi a melhor coisa que me aconteceu em meio a essa bagunça toda que começou na minha vida. — afirmei com sinceridade, ele abaixou a cabeça e não respondeu — Só que depois de hoje não dá mais, a confiança que um tinha no outro foi rompida. O que nós fizemos foi muito errado, mas também serviu pra provar que não ia dar certo. Era o que estava faltando pra gente cair em si e ver que estávamos juntos apenas por atração física.

Mais uma vez um longo silêncio se instalou no local, onde as únicas coisas que eu ouvia era a respiração pesada de James e um pouco dos batimentos abafados e sem ritmo de seu coração.

— É isso mesmo que você quer?

Ergui meu olhar em sua direção e assenti lentamente, porém ele não viu por ainda estar de cabeça baixa.

— Sim. Vai ser melhor pra nós dois, se as coisas continuarem desse jeito vamos acabar nos odiando e eu não quero odiar você.

Não mais do que já estou odiando por imaginá-lo aos amassos com aquela vagabunda oferecida.

— Tudo bem. — concordou sem ânimo algum — Eu concordo com a sua decisão, também não quero te odiar e muito menos que tenha ódio de mim.

Comprimi os lábios num sorriso sem graça e decidí fazer o que faltava para acabar com essa conversa e com o peso que ainda estava na minha consciência:

— Me desculpa.

E não esperei por uma resposta, passei por ele no segundo seguinte a esse pedido e deixei a sala para trás,  sentindo o aperto do meu coração aumentar ainda mais do que antes. Nunca imaginei que fosse passar por uma situação dessas porque eu nunca tinha me ligado tanto a alguém quanto me liguei a ele, e agora cá estou eu me sentindo como uma daquelas protagonistas de romances dramáticos.

Porque é que eu tinha de me envolver com ele se sabia que não ia dar certo? — pensei caminhando sem rumo pelo corredor — Eu devia ter ouvido a minha razão e não ter dado brecha pra nenhum sentimento além da amizade, isso sim.

Enquanto me condenava mentalmente de todas as maneiras possíveis por estar sofrendo eu segui pelo corredor sem olhar para a frente, por isso levei um baita susto ao trombar com Bruce quando já estava quase chegando a porta do centro de treinamento.

— Hey, Wanessa. Tudo bem? — ele perguntou ao ver minha cara murcha.

É claro que eu não ia contar tudo o que havia acontecido e me fazer de vítima para o Verdão — que provavelmente não ouviu a DR e não sabe o que houve —, a última coisa que queria era que ele ou os outros tivessem pena de mim e ficassem tentando me consolar. Sendo assim, coloquei minha melhor máscara de indiferença no rosto, concordei com um meneio de cabeça e o respondi categoricamente:

— Sim, tudo bem. E com você?

— Sim. — franziu levemente a testa — Você parece triste, aconteceu alguma coisa?

Oh, céus, pelo visto nem que eu queira não vou conseguir disfarçar como estou me sentindo. O jeito vai ser desconversar, mesmo.

— Não, eu só estou com dor de cabeça. — o que não é nenhuma mentira — Não precisa se preocupar.

Banner levantou as sobrancelhas e assentiu, mas não pareceu acreditar em nada do que eu disse.

— Bom, você... — desconversou, para minha sorte. Ainda bem que ele não é curioso. —, você vai até o consultório da Helen pra primeira sessão de coquetéis? Ela já chegou e está esperando por você.

Droga! Com todo esse fuzuê tinha me esquecido completamente disso, e pra falar a verdade não estou nem um pouco afim de ficar sendo furada e recebendo um monte de remédios entorpecentes. Mas fazer o que, era isso ou ficar enfiada no meu quarto pelo resto do dia com um pote de sorvete de maracujá assistindo Jovens Titãs — esse desenho, juntamente com meu sorvete favorito, sempre me ajudou nos raros momentos em que fiquei na bad —, então é lógico que eu preferi a idéia de passar o dia sendo espetada e drogada pela médica oriental.

— Sim, vou. — anunciei sem muito ânimo, Bruce ajeitou os óculos e deu um pequeno sorriso.

— Quer que eu te acompanhe?

Neguei algumas vezes com a cabeça.

— Não precisa, obrigada.

— Tudo bem. — respondeu em tom amigável — Boa consulta, então.

Esbocei um sorriso sem graça como resposta e girei nos calcanhares, praticamente me arrastando pelo corredor oposto após me afastar de Banner. Passei na frente da sala de lazer e cessei o passo para ver se Bucky ainda estava lá, porém ele não estava. As únicas pessoas que vi no lugar foram Natasha, Hill, Sam e Tony, todos distraídos conversando sobre algum assunto aparentemente importante.

Dei de ombros e voltei a caminhar pensando que nenhum deles tinha me visto, mas quando cheguei ao elevador Nat e Maria me alcançaram, fazendo eu ter vontade de sair correndo para as colinas. Ai, não, agora vem o questionário....

— O que foi que aconteceu entre você e o James? — foi a ruiva quem questionou, revirei os olhos e virei na direção das duas — Que discussão foi aquela? Pudemos escutar os berros de vocês lá da sala de reuniões.

Só pra constar, a sala de reuniões fica no final do corredor onde estamos, e nem precisaria ela fazer essa segunda pergunta para eu entender a primeira, mas já que fez, paciência.

— Eu estava quase indo até lá pra dar um tiro nele. — Hill disse, a fitei de sobrancelhas franzidas — Que foi? Do jeito que a briga estava feia achei que ele fosse te bater, e se a Natasha não tivesse me segurado eu teria me metido pra dar um tiro nele sim.

Acreditem, Maria Hill seria capaz de fazer esse tipo de coisa mesmo que fosse com o Papa. Quando o assunto é violência contra a mulher ela não perdoa nenhum homem, e tenho que confessar que esse é um dos pontos em que somos muito parecidas. Por experiências próprias eu peguei nojo de homens violentos, e sempre fiz de tudo para puni-los quando me deparava com algum. Lembro-me muito bem de uma vez em que nós duas estavamos saindo de um bar perto de Nova Orleans — no começo da minha carreira de agente — e flagramos quatro homens prestes a abusar de duas garotas num beco. Nos aproximamos do lugar, atraímos as atenções dos estupradores e quando as meninas fugiram nós simplesmente matamos um por um usando apenas as nossas mãos e um canivete que eu tinha na bolsa. Depois, nós tiramos as roupas deles e arrastamos seus corpos até uma pilha de sacos de lixo que estava perto do beco, onde os deixamos a mercê de alguns cachorros que transitavam pelo local. É claro que Hill e eu não nos orgulhamos do que fizemos e nem gostamos de contar essa história, no entanto jamais nos arrependemos e se nos depararmos com uma situação parecida podem acreditar que faremos a mesma coisa sem pestanejar. É da nossa natureza fazer justiça com as próprias mãos quando a situação pede, por mais que seja errado.

Bem, voltando à realidade, onde é que nós estávamos mesmo? Oh, sim, na hora em que eu respondo o que elas disseram.

— Aquela discussão foi um acerto de contas. — disse para ambas — E ele não ia me bater, acho que era eu quem estava mais perto de socar a cara dele.

— Por causa da mulher que ele pegou no bar? — Maria perguntou com notável curiosidade — Foi a Romanoff quem me contou.

Que lindo, a Natasha virou fofoqueira agora? — pensei, mas o que respondi foi:

— Sim, porque eu odeio aquela mulher e não consegui me controlar quando soube que foi com ela apesar de eu não ter o direito de ter feito o escândalo que fiz.

— Você também ficou com outro? — a russa questionou afastando o cabelo do meu pescoço, Hill arregalou os olhos e imitou sua atitude.

— Meu Deus, Wanessa! Agora sim você ganhou o troféu de vadia do ano.

Cerrei os olhos e fiquei literalmente de queixo caído ao ouvir tais palavras. Eu já disse que a sinceridade dessa mulher me assusta?

— Eu estava bêbada, Hill. Nunca teria feito uma coisa dessas se não estivesse, pelo amor de Deus!

— Sei. — retrucou — O cara era bonito, pelo menos? Porque se você traiu o Barnes com um bêbado careca e barbudo eu esfrego a sua cara no asfalto até você ficar irreconhecível.

Eu não acredito que estou passando por essa situação, só pode ser o castigo pelas merdas que fiz.

— Hill, eu acho que você está passando dos limites. — Nat a repreendeu.

— Eu já tô acostumada com isso. — respondi olhando na cara da morena — É lógico que não foi com nenhum cara nojento desses, credo! Foi com o Wade, se não me engano já comentei sobre ele com vocês em algum momento.

— Aquele mercenário maluco que te ajudava antes de você entrar pra SHIELD? — Romanoff indagou no mesmo segundo, assenti — Você não disse que ele estava morto?

E lá vamos nós repetir a mesma história...

— Eu achei que ele estivesse, mas infelizmente não estava. — vi ambas se entre olharem com caretas — Ah, Nat, ele te mandou um beijo e disse que bateu muitas punhetas pensando em você.

Já que elas resolveram entrar nesse assunto, por que não aproveitar e dar o recado? A cara de poucos amigos que a russa fez me deu um pouquinho de medo, confesso, mas não teve preço.

— Porque é que nenhum cara desses fala essas coisas pra mim? Isso não é justo, eu sou muito mais interessante que vocês! — Maria retorquiu indignada, revirei os olhos e neguei.

— Bom, vocês já perguntaram o que queriam saber, agora não quero mais falar sobre nada disso. — informei, tudo que eu queria era esquecer minha briga com Barnes e elas não estavam ajudando — O que é que você veio fazer aqui em pleno domingo de manhã? Ver o Sam?

Essas perguntas foram destinadas à Hill, que me lançou um olhar mortal pela última delas e retrucou de forma ríspida:

— Eu não tenho motivos pra vê-lo, não seja ridícula! — Ué, reclama da falta de homem e age desse jeito? Vai entender essa mulher. — Vim pra falar com a Natasha de um problema da SHIELD e aproveitei pra zombar um pouco da sua cara quando soube que você foi chifrada.

Eu fiz uma carranca desgostosa e abri a boca para praguejá-la pelo que disse, mas aí assimilei a primeira frase e a tal carranca se dissipou.

— O que está acontecendo na SHIELD?

As duas se entre olharam com expressões tensas, ficaram em silêncio por uns dois segundos e então Romanoff respondeu de forma evasiva:

— Nada de mais, ela só veio me entregar algumas fichas dos cadetes que eu terei que treinar pelos próximos meses.

Ah, tá bom. Vou acreditar nisso mesmo.

— Acha que eu não sei que está mentindo? — cruzei os braços — Anda, digam o que está acontecendo. De verdade.

— Você está afastada da SHIELD, não temos que te dar satisfações de nada relacionado à agência. — Maria disse duramente.

Armei uma careta de perplexidade com sua grosseria. Agora sim é que estou convicta de que tem caroço nesse angu.

— Então é assim? Depois de tudo que eu fiz pela SHIELD, de todas as missões arriscadas nas quais eu fui sozinha, das centenas de agentes que eu ajudei a treinar, dos milhares de relatórios que fiz e de protocolos que registrei tanto na sede quanto no porta-aviões é assim que vocês me tratam? — elas ainda estavam com caras sérias, portanto prossegui com meu dramalhão — Eu coloquei a minha vida em risco pra ajudar os Vingadores mesmo quando eles ainda não eram os Vingadores. Quem foi que ficou encarregada de conversar com o Thor quando ele se comportava como um maluco? Quem foi que teve de ir atrás do Bruce lá na Índia e convencê-lo de ajudar o Fury a rastrear o cetro do Loki? Aliás, por falar no trapaceiro, quem mesmo que precisou lutar com ele pra dist...

— Wanessa, cala a boca! — Hill bradou impacientemente. Viram como a tática funciona? Fica a dica. — Será possível que você não pode deixar de ser tão odiosa assim? Que inferno!

— Eu só queria que você se lembrasse que eu não sou uma agente qualquer, portanto tenho o direito de saber o que está acontecendo na agência mesmo estando afastada.

Natasha, que era a única em silêncio e indiferente à essa discussão, suspirou pelo nariz e pronunciou com calma:

— Ela tem razão, Hill. E além do mais nem é algo tão grave assim, não vejo problema em não dizer.

Lancei um olhar agradecido para a ruiva, pois se não fosse por ela Hill não estaria com essa cara de tacho impagável.

— O Coulson vai me matar... — ela murmurou negando com a cabeça —, mas tá, tudo bem. Você pode saber o que está acontecendo, mas eu não tenho tempo de contar agora.

— Mas... — tentei argumentar porém ela me interrompeu:

— Mas nada. Eu tenho que voltar pra agência, a Natasha que te conte o que você quer saber. — pegou o celular e conferiu as horas rapidamente — Droga! Estou atrasada pra uma reunião graças a vocês duas!

— Não precisa nos agradecer. — a ruiva zombou fazendo Maria revirar os olhos.

— Não acredito que chamo vocês de amigas, vocês só atrapalham a minha vida.

— Ué, se você está atrasada então por que não vai embora logo em vez de ficar prolongando essa conversa? — retorqui.

— Concordo — Nat completou —, aceita que você nos ama que dói menos.

A nossa amiga irritada bufou em sinal de frustração e pressionou o botão do elevador, entrando na caixa metálica após dizer:

— Espero não ver vocês tão cedo.

E em seguida as portas se fecharam, deixamdo somente Romanoff e eu no corredor.

— Ela vai arrumar alguma desculpa pra vir aqui ainda essa semana, pode acreditar. — a Viúva comentou sugestivamente, ri sem humor e coloquei as mãos nos bolsos do meu cardigan florido.

— Ela e o Sam combinam, só falta se darem conta disso.

Em vez de responder Nat ficou me encarando de uma maneira constrangedora por alguns segundos, e mesmo sem ela ter dito nada eu sabia o porque daquele olhar.

— O que você quer saber? — adiantei a pergunta.

— Como você está?

Eu poderia dizer que estou aos cacos e querendo me jogar num poço com uma pedra amarrada no pescoço tamanha é a minha infelicidade, mas é óbvio que o que resolvi falar foi algo totalmente diferente e simples:

— Já passei por coisas piores.

— Sinto muito por vocês terem terminado. — respondeu, sorri sem humor.

— Aquilo nem era um namoro propriamente dito. Como você mesma disse nós só estavamos juntos por sexo, nem sei como ficamos nessa por tanto tempo.

Quero dizer, saber eu sei, sei muito bem, mas não é algo que vem ao caso agora.

— Você é muito boa pra dar conselhos amorosos pros outros, mas é bem burra quando é sobre a sua própria vida. — ela devolveu com uma sinceridade que me deixou pasma — Eu não acredito que você passou esse tempo todo com ele e não se deu conta de o ama e que ele também te ama! Qual é o seu problema, afinal?

Fechei os olhos e expirei o ar pelo nariz lentamente. Ouvir essas palavras de outra pessoa, ainda mais essa pessoa sendo Natasha, me deixaram mais frustrada do que eu já estava.

— É claro que eu me dei conta disso, só não queria aceitar esse sentimento. — confessei num sussurro e abri os olhos de novo — Acho que você entende que é ridículo para pessoas como nós assumirmos esse tipo de coisa, não é?

Como era de se esperar, essa pergunta reverteu a situação e fez a Viúva Negra ficar sem uma resposta imediata, afinal o que eu disse também mexeu com ela.

— Você sempre teve um pouco mais de facilidade em expor seus sentimentos. — replicou após os segundos em silêncio. E não é que mesmo sem saída ela consegue arrumar uma resposta a altura?

— Não com ele. — dei de ombros — E isso não importa mais, nossa situação já ficou resolvida. Podemos encerrar esse assunto?

— Tudo bem. — acatou — Mas não dou uma semana pra vocês terem uma recaída e voltarem como se nada tivesse acontecido.

Revirei os olhos e soltei um suspiro exasperado diante de sua insistência. Jamais se diz uma coisa dessas para uma amiga que acabou de terminar um relacionamento de uma forma tão ruim — por mais estranho que tenha sido o tal relacionamento.

— Bom, e a propósito, o que está acontecendo na SHIELD? — mudei de assunto antes que soltasse alguma pérola em resposta ao que ela disse.

Um curto e pesado suspiro escapou pela garganta de Romanoff e sua expressão ficou levemente tensa, sinais de que deveria ser algo sério.

— Pierce está tomando algumas medidas drásticas e arriscadas demais pra agência.

Mas é claro que tinha que ser aquele cretino o causador do problema. Não estou nem um pouco surpresa, o que estou é muito preocupada.

— O que ele está aprontando? — perguntei com certo receio.

— Ele quer colocar em prática alguns projetos que o Fury havia desativado, mas os membros do Conselho e o Coulson não estão de acordo e por isso a situação na agência está complicada.

Bastou eu ouvir a palavra "projetos" que me lembrei da conversa que tive com Fury sobre o projeto Aurora e principalmente que eu ainda não faço idéia de onde está o bendito pen drive que deveria estar sob meus cuidados. Por Deus, será que eu nunca vou ter uma chance de parar e procurar por ele?

— Depois vocês me chamam de implicante quando eu digo que não gosto do Pierce. — ironizei segundos depois — Ainda bem que o Fury manteve o Aurora em segredo, tenho certeza que seria uma catástrofe se ele caísse nas mãos daquele sacripanta.

— Aurora? Do que é que você está falando? — a russa questionou de cenho franzido.

Oh, oh. Não era para ter saído em voz alta, droga!

— É... — pronunciei enquanto pensava numa desculpa convincente para o meu deslize — Ham... ah, lembrei. Era um dos projetos que o Fury desativou, nada demais. Nem sei porquê mencionei isso. — antes que ela pudesse me contrariar, resolvi fazer como Hill: — Ih, preciso ir, tenho uma consulta com a Cho e ela já deve estar me esperando. Até depois, me lembre de continuarmos essa conversa.

Por favor, não me lembre de nada!

— Até. — ela respondeu meio encabulada.

Entrei no elevador num pulo e esperei as portas fecharem para poder suspirar de alívio. Eu sei que ela não comprou a minha mentira sem pé nem cabeça e com certeza vai me colocar contra a parede até eu dizer tudo que sei, mas isso não será um problema e portanto não necessita da minha preocupação.

Já tenho coisas demais com que me preocupar, minha vida sentimental está uma droga novamente e pra fechar com chave de ouro ainda estou com uma sensação de que mais coisas vão acontecer — ruins, em sua maioria.

É, agora somos somente intuição e eu outra vez, como nos velhos tempos. Espero que ao menos ela não me decepcione.


Notas Finais


E então?
A briga entre Buckynessa foi tão hard que é capaz de o Thanos e o Loki sentarem e assistirem tudo caladinhos (parafraseando minha miga Ligia, beijo gata). Doeu escrever? Doeu, claro, mas como gosto de ver o circo pegar fogo eu dei algumas risadas... E morri no final.
Será que é o fim do casal amnésia, galere? Façam suas apostas!
Wanessa, Hill e Natasha: melhor amizade sim ou com certeza? Amo escrever cenas com elas, se pudesse faria uma fic inteira só das três (um dos projetos que nunca sai por falta de tempo e criatividade pra criar a história hahaha)
O que dizer sobre a intuição da nossa maluquete? Será que vem mesmo (ainda mais) treta por aí?
Enfim, por hoje é só. Gostaram? Eu espero que sim.
Obrigada por lerem, beijos e até o próximo! ♥


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