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História Seduzentes - Salvar e Socorrer


Escrita por: PetitGi

Notas do Autor


Salvar e Socorrer - Bernardo e Bianca

Capítulo 26 - Salvar e Socorrer


Salvar e Socorrer

Na manhã de sexta-feira, apesar dos pedidos e protestos de Evie, Mal voltou para os calçados sem saltos. Lindos coturnos que complementavam sua meia arrastão e seu micro vestido cinza chumbo, mesclado com manchas roxas e rosas devido as muitas artes de Mal. Como no dia anterior, na mão direita usava a luva de renda, na esquerda, abusara dos anéis.

Para consolo de Evie, Mal permitiu que ela alisasse seus cabelos com a chapinha. As mechas lisinhas, caindo soltas, livres pelas costas e ombros da menina.

-Deus! A prova de espanhol nunca foi tão difícil! – resmungou Jane – Acha que conseguiu flexionar os verbos, Mal? Eu tenho certeza de que os errei todos!

Mal riu.

As duas caminhavam em direção aos armários. A prova já ter passado não mudava em nada o fato de ainda terem aula normal no restante do dia. Mal só queria seu diário, só queria desenhar e distrair-se de tudo aquilo.

O colégio também já dava sinais de que percebia a mudança de grande parte das alunas. Cabelos diferentes, sobrancelhas feitas, roupas estilizadas... Não, ainda não chegara ao ponto em que Mal e Evie queriam chegar, mas o burburinho já anunciava que os certinhos enxergavam algo novo ali.

-Não achei a gramática tão difícil assim – disse Mal andando pelos corredores com total liberdade, observando com o canto dos olhos os demais estudantes dando passagem, sentindo muitos olhares em sua bunda; o tipo de olhar que ela recebera do príncipe logo pela manhã, durante o café: desejoso e receoso – Mas a interpretação de texto estava um saco. Difícil foi não dormir. Li o mesmo parágrafo umas 20 vezes.

As alunas podiam se colocar até do avesso. Mal sempre se destacava mais... Era algo inerente a ela. Muito além do corpo desgraçadamente maravilhoso, algo da personalidade, talvez...

Apesar do céu parcialmente nublado, ninguém se atrevia a passar pela grama ou jardins com receio de molhar seus sapatinhos de cristal, ou sabe se lá se aquilo era uma regra do colégio. De qualquer forma, Mal não tinha qualquer intenção de voltar a se amontoar no pátio para o almoço. Não, magia tinha que servir para algo simples como secar os bancos e impedir que as gotículas resistentes nas folhas da copa daquela grande árvore molhassem a ela e aos amigos.

Como elas haviam acabado a prova mais cedo, teriam aquele restante de aula livre antes do almoço. Era uma tortura de certa forma, pensando em sua barriga que roncava. Mal só queria chegar ao seu armário e pegar o diário... Assim que abriu a porta, uma folha de papel caiu aos seus pés. Um bilhete, mas...

-Jane, sabe de quem é a letra? Não está assinado.

“Encontre-me na piscina; precisamos conversar”

-Parece a do príncipe Ben... – disse com o tom meio perdido, como se estranhasse o conteúdo do bilhete e a destinatária.

-Tem certeza? – Mal insistiu; ela estranhava bem mais do que o conteúdo.

-Eu... Sim, eu tenho certeza. Sobre o que vocês poderiam conversar? Quero dizer, o príncipe...

-Marquei uma aula particular com ele – disse com descaso, olhando o papel, sentindo a pedrinha verde esquentar em contato com seus seios, levou-o ao rosto, pertinho do nariz, então... – Matemática é um merda – disse fazendo a menina rir.

Os olhos de Mal brilharam fortemente, cortando de vez as risadas da coleguinha. Ela conseguiu, de fato, ver Ben escrevendo o bilhete, mas não era para ela... Nem sequer era algo recente.

E riu discretamente, de uma forma maléfica. Um truque que poderia ter dado certo se não fosse pela magia forte em Mal, além de seu senso para pegadinhas andar sempre em alerta por ter crescido na Ilha.

-Então vamos ver o que ela quer – murmurou sozinha, esquecendo-se momentaneamente de Jane. Imaginava que seu olhar estivesse bastante alterado porque ela sentiu a menina estremecer.

-Ela? Mas se eu disse que a letra é do...

-O bilhete não é recente; a tinta está velha, quase sumindo do papel – informou Mal dando a mensagem para que a garota a analisasse conforme pegava seu diário e guardava seu estojo – Também não foi escrito para mim. O bilhete recebeu perfume de rosas, embora agora só reste a marca do spray – Jane ficou pasma com os detalhes que Mal percebera e ela não – Sei muito bem quem eu vou encontrar na piscina e não é o príncipe encantado.

Deixou Jane para trás conforme caminhava em passos lentos em direção a área reservada aos esportes, quase do outro lado do colégio. Mas não importava. Mal queria saber o que Audrey esperava conseguir com aquela patética manipulação.

 

 

Ben estava bastante distraído naquela manhã sem cor. Tão distraído quanto estivera em todas as manhãs desde que ele e Mal haviam se beijado pela primeira vez.

Sua mente ia e vinha com o jogo perigoso e viciante no qual ele se metera. Agora analisando bem a situação, ele se equivocara gravemente. Como ele consentiu com a ideia de brincar com os sentimentos de alguém? Como ele consentiu com a ideia de usar uma garota de maneira tão desprezível? Estava agindo errado com as duas!

Estava confuso. Toda manhã acordava confuso. Cada vez mais louco. Cada vez mais certo de que ele estava fazendo tudo errado.

Audrey merecia receber o troco? Isso não era uma atitude muito infantil? Quando se convencia de que Audrey estava muito chateada e confusa com ele, seu namorado, perdoava os encontros dela com Chad, embora o amigo ele não conseguisse perdoar de forma nenhuma. E logo que a perdoava em seus pensamentos, queria voltar a relação bonita, tranquila e previsível que tiveram juntos. Apagar o passado errado dos dois.

E exatamente no instante em que pensava querer retornar para os braços e beijos suaves de Audrey, sua mente explodia em imagens e sua pele revivia momentos intensos e lascivos com Mal. Cada mordida, cada arranhão, cada chupão! Ele não tinha nada daquilo com Audrey. Ele não queria parar com as mãos nervosas, não queria deixar de sentir seu corpo em chamas. Ben nunca sequer se lembrava de alguma vez já ter ficado de pau duro para a namorada. Ela não dava motivos, não dava atenção. E Ben estava gostando daquele jogo de morde-assopra com Mal. Instigando e não dando o prometido, deixando para outro dia explorar outro ponto de prazer e...

-Benjamin? Está tudo bem? Está prestando atenção?

O príncipe estava na sala da diretora. Ele e a Fada Madrinha estavam assinando os papéis que dariam aos alunos licença para a cerimônia de coroação. Era outro motivo para que ele se concentrasse tanto nos problemas amorosos. A coroação estava distante, mesmo assim ainda lhe dava certa dor de cabeça e alguns pesadelos. Ele preferia concentrar-se em seus problemas de adolescente.

-Está tudo ok – disse esfregando as têmporas, apoiando-se sobre a mesa – Estou prestando atenção.

-Bom, não é o que parece – Fada Madrinha puxou o bule de chá e serviu-o – Vai acalmá-lo – disse com a voz reconfortante; Ben não resistiu à gentileza – Teve uma noite ruim? Dormiu mal?

Mal... Seus cabelos brilhantes, seus olhos reluzentes, a pele quente...

-Começo a pensar que talvez a madrugada seja para pensar – disse olhando para o conteúdo da xícara – e não para dormir – continuou e bebeu outra vez.

 “Chorar calado, pensar quieto e desabafar com as paredes, rotina diária de quem é forte e ainda consegue colocar um sorriso no rosto” isso o descrevia perfeitamente, embora não lembrasse onde ouvira... Mas não era como se fosse dizer em voz alta para a diretora.

-A coroação tem te preocupado? Asseguro que não é nada tão alarmante assim... – ela tinha um sorriso no rosto que se congelou quando foi interrompida pela própria filha.

-Ben! – ela ofegou se apoiando no batente da porta.

-Jane! Isso são modos...?

-Ben... – ela continuou com a voz cansada, ignorando a mãe; parecia ter corrido até ali – Procurei por você no colégio inteiro e...

-Jane, o que aconteceu? – perguntou se levantando e indo de encontro à garota; a mãe da menina atenta aos dois adolescentes.

-Mal recebeu esse bilhete – disse entregando um pedaço de papel – Eu disse que era sua letra, mas ela ficou... Os olhos dela brilharam tanto e, tudo bem, eu já tinha visto aquele brilho intenso, mas... Ela disse que o bilhete era velho e que iria encontrar ela...  Ben... Eu estou com pressentimento ruim.

Ele pegou o papel na mão e a lembrança de escrevê-lo o atingiu. O mau pressentimento também o atingiu, como um tsunami irrefreável, sem saber como ou porque, forçando-o a sair correndo... Não sabia como lidar com as duas garotas.

 

 

Havia quatro piscinas no colégio, cada uma adaptada para a idade e a desenvoltura de cada um dos alunos – Mal não entendia absolutamente nada de natação então não saberia explicar se aquilo era uma vantagem ou apenas uma extravagância – cada uma como uma sala separada, embora o vestiário fosse o mesmo. Ela supôs que o bilhete indicasse a última das quatro piscinas por ser aquela usada nas competições e ter uma pequena arquibancada. Era um lugar legal para conversar visto que era bastante vazio.

Mal se sentou sobre a arquibancada e abriu o diário na última folha em que desenhara. Como não daria tempo de iniciar um trabalho completo, um desenho novo, ela iria apenas complementar o que ela deixara inacabado. Era o vitral da Fera. Mal voltara e reproduzira o desenho durante a noite porque se encantara com aquele tipo de arte. Não havia vitrais na Ilha e Mal ficou pasma com a beleza de uma janela. Mas o reproduzira como era: ela havia sentado no chão, desenhado o sofá, as paredes...

-Saia daí de trás, Audrey – disse sem erguer os olhos do papel, continuava dando sombras ao desenho, tentando incluir a chuva ao vitral – Não deve espiar os outros. É feio. Vão duvidar da sua boa educação.

-Igualzinha uma vilã. O deboche é genético ou é um vírus que paira pelo ar?

Mal riu; sabia que falara exatamente como Úrsula o que só aumentava a graça por saber que Uma também teria detestado a referência por ser Mal a fazê-la. Fechou o diário e levantou-se, deixando-o sobre onde estivera sentada.

Audrey e Uma se assemelhavam muito de uma forma ou de outra.

-Nunca pensei nisso, princesa – sorriu – Não sei te responder. Mas o que quer comigo? Afinal, você deixou o bilhete.

-Como... Não importa! Deixei mesmo e você veio o que só comprova que está atrás do meu namorado.

-Que menininha mais inteligente você é, não acha? – debochou novamente – Por que eu estaria atrás do seu namorado?

-Você veio pelo bilhete que ele escreveu...

-No ano passado para você. Estavam comemorando dois meses de namoro – colocou as mãos no peito – Realmente tocante. Um bom truque, aliás, ele fingir que seria uma conversa séria para te surpreender com muitos balões coloridos.

Audrey ficou pasma com a precisão dos detalhes que a vilã sabia.

-Eu sei que você está interessada no meu namorado, não tente mudar de assunto ou me desprezar.

-Como se eu precisasse. Você se menospreza sozinha, mas pode continuar... Eu vim atrás do seu namorado e mais o que? Continue o discurso...

-Eu ouvi que vocês vão estudar segunda-feira e...

-E daí?

-E eu não vou permitir que fiquem sozinhos... – Mal gargalhou – Sei bem o seu jogo, vadia, é melhor você parar de me provocar...

-Te provocar? Faça-me o favor, Audrey... Perder meu tempo com tão pouca coisa – disse olhando-a de cima a baixo; ela ficou com o rosto vermelho, as bochechas inchadas de raiva; era cômico.

-Sempre faz isso, não é, Mal? Jogo velho. Não adianta desviar do assunto para alfinetadas pessoais. Eu sei que o meu príncipe te atrai...

-Seu príncipe? – Mal ergueu a sobrancelha; Audrey vacilou por meio segundo então arrumou a postura e a expressão.

-Meu namorado. Não sei como as coisas funcionam no inferno no qual cresceu, mas aqui não se rouba o namorado de ninguém...

-Certeza que isso nunca aconteceu? – a menina ficou momentaneamente mais pálida – Me parece algo tão normal, cotidiano... – Mal riu da palidez repentina da garota.

-Confesse! Se tiver coragem, confesse já!

-Ben me atrai, sim – disse com a voz firme, os olhos cheios de escárnio – Não é nada incomum ou anormal...

-Você está...

-Eu disse que ele me atrai, princesa. Atração é só algo físico. Por exemplo, você já se sentiu atraída por Jay – ela resfolegou em desprezo – e já se sentiu atraída por Chad...

-O que disse?

-Atração não é nada demais – sorriu Mal em deboche, sem repetir o que havia deixado-a bastante assustada – Você deveria se preocupar com algo chamado “sentimento”. Eu não tenho isso... Mas se eu fosse você checava o namorado só para ter certeza.

Audrey não reagiu bem àquela provocação. Mal também não esperava por aquilo, da mesma forma que não esperava o beijo de Ben na escada naquela quinta-feira ociosa. A princesa simplesmente empurrou Mal em direção as águas da piscina com um grito de fúria. Surpresa, Mal também gritou por puro reflexo.

Mal sentiu o impacto com a água, o barulho ensurdecedor do seu corpo afundando... A água entrou em seu nariz, em sua boca, lhe roubando o ar, sufocando-a...

... O desespero era muito. Pânico. Mal, estava em pânico. Como se não fosse o suficiente, seus coturnos maravilhosos eram pesados demais e a puxavam para baixo...

De repente, Benjamin Florian estava ali na sua frente. Suas mãos firmes, seus olhos preocupados com ela e tão seguros que ficariam bem... Mal conseguiu apontar para os próprios sapatos e Ben se apressou a chegar lá, ajudar a tirá-los...

Os dois, ele muito mais do que ela, perdidos na sensação de afundar tocando-as pernas da menina, alisando-a ali no fundo, sentindo a textura da meia... A imagem de Mal, o vestido curtíssimo mostrando seu corpo, não o ponto que ele quis ver, os cabelos dançando de uma forma tão hipnótica... Seus olhos apavorados...

Pegando impulso no fundo da piscina, agarrou a cintura de Mal com um braço e segurou-a pela mão puxando-a para cima...

... Ela abriu a boca desesperada por ar... E quase afundou de novo.

Ben a segurava pela cintura, enquanto Mal o agarrava pelo pescoço, se apoiando nos ombros dele, tossindo e ofegando muito. O príncipe conseguia com muito esforço manter os dois, ali, distante do fundo... Por que justo a piscina mais funda? Por que três metros de profundidade?

-Tudo bem, tudo bem... – ele dizia e a abraçava conforme mantinha os dois na superfície, estavam no meio da piscina – Mal... – chamou por ela quando a menina deitou-se em seus ombros, abraçando-o completamente fraca, quase sem ar; um medo inominável o atingiu, o medo de que ela talvez não conseguisse respirar – Respira com calma... – ele pediu tão assustado, tão nervoso que quase afundou, assustando-a – Tudo bem, está tudo bem... Eu estou aqui – murmurou tranquilizando-a, se tranquilizando, apertando-a contra si – Não vou te soltar, não se preocupe...

Ele parecia se mover, mas Mal não conseguia registrar nada disso. Nem a água morna em sua pele, nem o carinho dos braços do príncipe, nem a voz da diretora ou de Audrey... Seus olhos ardiam, sua garganta arranhava, seu peito estava muito pesado...

À margem, Ben apoiou-se na beirada, e pensou deixá-la ali, mas Mal não o soltava. Ele começou a se acalmar e se acalmando ele conseguia senti-la. Ela estava deitada em seu ombro, abraçada ao seu pescoço, sua respiração bastante falha batendo nele, o corpo trêmulo. Ela precisava dele. Naquele instante, Mal só precisava dele ali. E Ben não queria de forma alguma soltá-la.

Quando mais calma, ele direcionou-a a margem, deixando-a ali pegando fôlego, a cabeça deitada sobre os braços, os olhos fechados. O barulho do corpo dele saindo da água a assustou, mas ela lembrou-se de não demonstrar. Sua garganta doía tanto, seu nariz ardia, sua mente estava atordoada com o que acabara de acontecer...

-Vem cá – chamou a voz do menino; a voz baixa, suave, protetora. Mal ergueu os olhos e o viu ali, de joelhos estendendo suas mãos para ela, para puxá-la para fora d’água. E o fez com todo o cuidado, deixando-a sentada, sem fôlego no chão, na beira da piscina; agachando-se, ali, permitindo que ela voltasse a se apoiar nele.

-... Estou dizendo, diretora – era a voz de Audrey ao fundo – Ela caiu! Que culpa eu tenho se ela não presta atenção no que faz?

-Mal? Você não sabe nadar... – disse baixinho o rapaz, quase incrédulo.

-Óbvio – ela retrucou com a voz grossa pela raiva, pela dor.

-Mas você vivia numa Ilha!

-Cercada por uma barreira mágica!

Ela não precisava dizer que as poucas partes em que o mar alcançava a Ilha eram território de Úrsula e sua filhinha medíocre e o pretenso namoradinho dela – outro louco por Mal – filho do gancho.

Audrey e Uma realmente se pareciam demais.

-De onde você saiu? – perguntou ainda abraçada a ele, como se não existisse mais ninguém ao redor, como se não fossem observados.

-Jane veio me procurar. Eu estava conversando com a Fada Madrinha. Ela disse que Audrey tinha deixado um bilhete como se fosse eu e... Eu te vi afundar e não pensei, eu só...

Mal enxergou nos olhos dele o medo que ele sentira. O medo dela refletido nos olhos dele... Ben ficara preocupado. Ele estava tão sexy molhado, os primeiros botões da camisa abertos pelo desespero dela. Mal não sabia o que pensar, o que sentir... Ben abraçou-a igualmente, e com algum esforço lembrou-se de que não estavam sós.

-Mal, o que aconteceu? – perguntou a diretora, observando Ben colocá-la de pé. O príncipe ficou pasmo com a beleza da menina, as roupas curtíssimas molhadas e por isso mais justas, as mechas coladas ao corpo...

-Não ouviu a princesa? – disse com a voz rouca; extremamente sexy aos ouvidos do rapaz. Mal ainda tremia e por isso tinha as costas apoiadas no peito do príncipe; as mãos dele firmes em sua cintura.

-Ela disse a verdade?

-Como se fosse acreditar em outra versão dos fatos.

-Mas é claro que...

-Sei bem como as coisas funcionam. Não vou dar a minha versão para ser destratada e mentida – desdenhou e olhou para os lados, para as arquibancadas novamente entrando em pânico – Não, não, não... – murmurou.

-Mal...

-Meu diário... – disse com a voz falha, percebendo que ele não estava à vista... Que Audrey o jogara... – Não, não, não... – imediatamente viu uma mancha escura no fundo da piscina, além de seus sapatos...

Imediatamente, sem parar para raciocinar, o príncipe mergulhou na piscina de três metros de profundidade e retornou com o objeto na mão junto com as botas da menina.

-Mal, eu... – começou, mas ela não permitiu: tomou suas coisas de sua mão... E inesperadamente ela estava seca. Os coturnos nos pés, o cabelo liso, o vestido soltinho... Sem ter feito nada! No intervalo de um piscar de olhos! Ben continuava molhado, os cabelos pingando na testa, a roupa grudando no seu corpo de uma maneira que ressaltava seu corpo atlético.

Ela sentou-se na arquibancada e passou a observar o diário. Com algum esforço – suas mãos tremiam de forma nervosa – ela puxou o colar para fora, mostrando o objeto brilhante e passando-o sobre o diário junto com a chave que destrancava a fechadura... Só preciso ver se os feitiços funcionaram, só preciso ver se está tudo bem...

Lá estavam seus desenhos, intactos, seu lápis seco como se nunca tivesse conhecido o fundo da piscina.

Suspirou de forma audível esquecendo que estava sendo observada por um grupo de pessoas. Jogou seus cabelos para o lado, completamente aliviada... O sinal tocou anunciando o almoço. Amém! Ela precisava comer e agilizar todos os seus compromissos... Agora mais do que nunca, Mal queria acabar de todas as formas possíveis com aquela princesinha metida à besta.

-Mal, eu sinto muito... – começou Ben novamente.

-Não foi culpa sua – disse simplesmente, a voz chegava a parecer triste.

Mal saiu sem olhar para os lados; o andar perfeito, seguro, sensual e muito indiferente. Ben ficou perdido olhando para ela, para o vestido que se movia junto com o balanço de seu corpo, mas nunca mostrava sua bundinha...

A diretora pelo visto só conseguira arrumar mais trabalho; já discutia com Audrey. Jane voltava com uma toalha em mãos...

-Obrigada, Jane – murmurou o príncipe.

-Foi só uma toalha, alteza.

-Não... – ele ainda olhava para o caminho no qual Mal sumira; o medo terrível de pensar que Mal estaria morta, que teria se afogado se ele não tivesse chegado a tempo – Você me ajudou a salvá-la.

Começava a sentir que era essa a sua missão de vida: salvar e socorrer Mal. Ele já havia tirado-a da Ilha e agora do fundo da piscina... Sim, convencia-se de que nascera para isso, para estar ao lado dela, salvá-la mesmo sem que ela soubesse...

-Você me ajudou a salvá-la, Jane – murmurou novamente; agoniado com o delírio de Mal inconsciente em seus braços, sem ar...



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