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História Seduzentes - Beijo de Amor


Escrita por: PetitGi

Notas do Autor


Beijo de Amor - Encantada

*Considerei as músicas desse filme apenas porque ele contem partes em animação

Capítulo 28 - Beijo de Amor


Beijo de Amor

Mal conseguiu se esgueirar pelos beirais do colégio sem ser vista por ninguém; aproveitou os beirais para colocar aqueles pedacinhos de silicone nos seios, escondendo sua excitação, evocando-os com sua magia. Chegou ao seu armário, abriu-o e fechou-o sem pegar nada então, como se nada de diferente tivesse acontecido na sua vida, subiu as escadas e caminhava em direção ao próprio quarto com calma, a costumeira expressão de indiferença. Por dentro, seu coração batia forte; na sua língua o gosto de Ben ainda era forte.

Abriu a porta e se deparou com Evie e a Fada Madrinha num aparente interrogatório que morreu com a abertura da porta.

-Boa tarde, Mal – saudou a diretora; Evie estava atrás da sua máquina de costura e olhava para a amiga confusa, quase pedindo uma explicação com os olhos; ela compreendeu rapidamente que não devia pronunciar mais nenhuma palavra.

-Boa tarde, diretora – disse com o cenho franzido, como se não entendesse a presença da mulher ali no seu quarto – Algum motivo para sua visita? – disse caminhando em direção ao seu lado do quarto, passou pelas prateleiras e chegou à escrivaninha...

-Mal, onde você estava?

-Passei no meu armário para pegar o caderno de matemática, mas parece que eu não o deixei lá... – disse analisando seus desenhos em papéis soltos, colocou o diário de lado sobre o criado mudo e abriu uma gaveta da escrivaninha – Por que? Estava me procurando? Se for porque faltei à educação física...

-Não, Mal. Não é um assunto referente à educação física, embora eu deva te alertar a não matar aulas...

-Perdi a hora desenhando – disse achando o caderno e fechando a gaveta; não se deu ao trabalho de olhar a diretora nos olhos – Não vi o tempo passar – disse de forma verídica.

-E para onde está indo? – continuou a Fada Madrinha. Evie apenas mexia a cabeça, olhando uma para a outra tentando entender o que estava acontecendo ali.

-Encontrar o príncipe encantado – disse com algum deboche, já na porta – Ele prometeu me ajudar com matemática...

-Bom, acho melhor eu te acompanhar. Tenha uma boa tarde, Evie – disse a mulher acenando com a cabeça e fechando a porta – Prefiro continuar o assunto na presença dos dois, Mal, se não se importar – disse adiantando uma pergunta da menina; Mal não falou nada até chegarem ao quarto do encantado.

A Fada Madrinha bateu na porta e esperou o menino mandar entrar. Ela pediu licença, e segurou a porta aberta para que Mal entrasse.

Os olhos da menina imediatamente voaram de encontro ao rapaz, da mesma forma que os dele correram para os seus. Ben estava devidamente vestido, calça e camiseta, estava ainda descalço e com os cabelos úmidos pós banho. Estava muito atraente e...

A porta foi fechada com suavidade.

-Eu gostaria que vocês dois se sentassem – começou a diretora. Ben, muito cavalheiro, conduziu Mal até a sua escrivaninha e segurou a cadeira para que ela sentasse. Ele sentou-se em sua cama – O que exatamente vocês estavam estudando?

-Razões e relações trigonométricas – disse Ben – Mal tem bastante dificuldade nesse assunto.

-E por qual razão escolheram ficar nos dormitórios? – apesar de se dirigir aos dois, queria ouvir as respostas do menino-fera, obviamente porque ele era muito mais confiável do que a menina ali presente.

-Ficamos por uma meia hora, mais ou menos, no salão dos alunos – disse Ben, conseguindo se manter calmo o bastante, dizendo a verdade o que só aumentava a euforia de Mal – Estava muito cheio, e os alunos estavam animados demais. Não estava um ambiente propício aos estudos.

A mulher não tinha argumentos contra isso. Até porque, pela janela aberta, o barulho dos adolescentes e pré-adolescentes ainda chegava, embora num volume bem diminuto.

-O que aconteceu, diretora? – perguntou Mal – Por que todas essas perguntas?

-Recebi uma denúncia anônima de que você, Mal, e o príncipe Ben estariam transgredindo algumas regras do colégio...

-E que regras seriam essas? – a voz profunda e aveludada da menina só dava ainda mais desdém aquela situação.

-Apesar do namoro não ser proibido no colégio, exigimos discrição e, sobretudo, pudor...

-Não somos namorados, diretora – disse com um sorriso tão desdenhoso que convencia inclusive o menino-fera de que eles não haviam vivido aqueles momentos tão prazerosamente ilegais; aquilo fora somente um sonho.

-Mal, não é aconselhável que meninos e meninas fiquem num mesmo quarto a portas fechadas... – Mal ignorou, ou tentou ignorar, que garotos podiam transar entre si; garotas também. Não precisava ser o sexo oposto.

-Por que vocês bonzinhos fazem do sexo um tabu tão grande? – ela resmungou sozinha, mas foi bem ouvida. A diretora ficou com as bochechas coradas; Ben baixou o rosto – Obviamente, essa denúncia anônima era falsa – disse em voz alta com bastante escárnio – Até porque o principezinho é quase um santo e tem uma namorada que, evidentemente, não sou eu.

Aquela última frase doeu no peito de Ben.

-Queriam prejudicá-la – disse Ben quase com raiva, entrando no jogo dela e percebendo a verdade clara que ela não pronunciara, olhando fixamente para o chão, a mente em disparada atrás de um culpado.

-Bom, espero que vocês me perdoem pelo desconforto e que compreendam minhas razões. Bons estudos – disse saindo do quarto deixando a porta fechada; era uma regra do colégio que os dormitórios ficassem com as portas fechadas.

-Mal... – Ben se aproximava devagar, os olhos brilhavam quase raivosos – Você acha que...

-Que armaram para você? Claro... Resta saber se foi ele ou se foi ela – disse com a voz firme sem admitir comentários, abrindo seu caderno esperando que ele desse as instruções de como continuar a estudar.

 

 

Mal ajeitou uma última os convites, procurando algum erro no encantamento. Iriam finalmente começar a distribuir os convites com alguns detalhes da festa. Claro que a escola já ficara em estado de alerta quando na tarde anterior, terça-feira, um carregamento misterioso chegara com destinatário de nome Evie. Os pacotes foram inspecionados pela diretora que aprovou a entrega, mas não comentou com ninguém o que era aquilo ou o significado.

Era quarta-feira e os resultados dos exames já estavam fixados belamente nos murais no salão dos alunos desde o terceiro período. Foram poucos os alunos de recuperação, e esses pegaram apenas uma ou duas matérias; conseguiam passar tranquilamente, sem se preocuparem. Já os quatro amigos foram elogiados pelos professores e pela diretora por receberem notas altíssimas em todas as matérias, além de um comportamento considerado bom – para crianças crescidas na Ilha, claro.

-Tudo pronto? – Jay perguntou ansioso, esperando receber a sua cota de entrega.

Os amigos haviam inclusive combinado – mais ou menos – o estilo de roupas a ser usado no dia da entrega. Era de certa forma um pré-evento como dissera Evie. A predominância era usar preto e calças. Carlos foi proibido de usar vermelho; Evie também. Calça, camiseta e sapatos pretos para os meninos; as luvas eram opcionais para eles, mas os dois escolheram usar coturnos: Jay preferiu o de couro; Carlos, o de vinil. As meninas usavam saltos, calças justas e deixavam, de uma forma ou de outra, o sutiã à mostra: Mal usava uma regata preta cavada, já Evie usava uma camiseta transparente, apenas pequenas partículas de brilho sobre o tecido; as duas mostrando a beleza da parte de cima de suas lingeries.

-Acho que sim – disse Mal conferindo uma última, vez, uma luz roxa saindo da ponta de seus dedos, apagou-se quando ela voltou a falar – Lembrem-se de deixar claro que existe uma diferença nos convites. Esnobem mesmo!

-Vai ser divertido – sorriu Evie segurando sua cesta; estava tão perigosa quanto sua mãe uma vez havia estado carregando uma cesta cheia de maçãs para oferece-las a uma inocente princesinha.

-Então vamos cada um para um lado do salão – disse Carlos já na porta.

Mal e Jay seguiram pela escadaria pouco utilizada, a dos fundos, enquanto Evie e Carlos iam pela escadaria da frente, a que conduzia em direção ao colégio propriamente dito. Já no salão dos alunos cada um deles foi para um ponto diferente. Evie acabou sentada sobre a mesa de bilhar, Jay ficou na escada e Carlos estava no meio do povo... Sobrou para Mal os sofás dispostos em formato meia-lua, a areazinha dos que se consideravam populares, Vips, importantes; mesmo lugar onde Ben havia mamado em seus peitos como criança... E ele estava ali... Muito mal acompanhado por sinal... Claro que as pestes tinham que sobrar para ela... Não que ela achasse ruim, pelo contrário...

-O que é isso? – perguntou Audrey no instante em que Mal se aproximou com sua cesta – O que vocês estão aprontando?

A filha da Malévola fez questão de olhar diretamente para aquele trio medíocre. Colocou-se de costas para os três e acenou para os que a seguiam que deviam se aproximar devagar, sem desespero.

-São convites – respondeu sem interesse, colocando a cesta na mesa circular; Mal havia atraído uma quantidade considerável de alunos e distribuindo flores para os que chegavam ao seu redor, estava ignorando propositalmente o trio da realeza...

-Flores? – perguntou Ben com um sorriso na voz. Foi respondido com um sorriso e um olhar suave... Ele ficou bobo com aquela visão tão leve que Mal mostrava a ele.

Ele tinha um sorriso no rosto; esperava por um olhar de Mal desde segunda à tarde. Os dois não tinham se encarado devidamente desde que a Fada Madrinha fechara a porta do quarto do rapaz; não se olharam, não se falaram de forma mais espontânea, não se esbarravam... Claro, isso tudo era iniciativa de Mal. Ela quem fazia de conta que sua alteza não existia, passava reto, ignorava os longos olhares que ele lançava e por aí ia, continuando sua vidinha seduzente e displicente com os amigos. Ou talvez ocupada demais organizando uma festa...

-Não são flores, são tulipas – sorriu entregando uma tulipa cor de rosa para uma menina mais nova que eles.

-Para que exatamente seria esse convite? – a voz de Chad veio com algum deboche, Mal percebeu que ele olhava ansioso para trás, para uma Evie de pernas cruzadas distribuindo tulipas. A menina sempre cercada e paparicada por meninos, muitos deles eram formandos e isso incluía um dos filhos da Branca de Neve.

-Aniversário do Jay – disse Mal sorrindo para um adolescente mais velho, ele recebeu uma tulipa negra e uma piscadinha de Mal; Ben cerrou os punhos de forma inconsciente vendo a forma lasciva como ele a olhava.

-Flores como convite de uma festa masculina? – debochou Chad com o seu clássico e medíocre complexo de superioridade idealizadamente machista. Tão inocente na visão de Mal... Quase fazia com que ela sentisse pena.

Apesar de não parecer, as flores tinham os nomes dos convidados, tinham destinatários específicos e bem claros apenas para quem os entregava.

-Doug – disse Mal depois do que parecia ser muito tempo entregando flores – Seu convite está com a Evie – o nerd corou e agradeceu conforme se afastava da multidão ao redor de Mal, empurrando seus óculos para perto dos olhos.

Aparentemente, os convidados pré-selecionados já haviam recebido; pelo menos os de Mal já estavam nas últimas... Restavam em sua maioria tulipas brancas que Mal entregava para a galera metidinha que se aproximava tentando debochar daquela situação e saía com um olhar desafiador e desdenhoso de Mal e uma flor angelical...

-Não entendi o que tem demais nessas flores – disse Audrey depois de um tempo fuzilando as costas de Mal inutilmente.

-Suponho que não goste de tulipas – disse Mal entregando uma linda tulipa rosa para Cordélia, a linda morena de cabelos curtos, filha da Rapunzel – Quer levar o convite da Gisele?

-Sim, ela ficou no quarto experimentando brincos novos que nós encomendamos – sorriu a menina – Marcelino ficou chateado por não poder ir, mas entendeu que ainda é muito novo. Obrigada, Mal – disse se afastando com um sorriso no rosto, referindo-se ao irmãozinho.

Aparentemente, os convites de Mal haviam acabado. A multidão havia dispersado; todos entretidos com seus convites. Os três aristocratas continuavam a observá-la.

-Você não me respondeu, Audrey – sorriu de forma sedutora, a linda vilã, virando-se finalmente para a princesinha – Não gosta de tulipas?

-Prefiro rosas – disse de forma esnobe.

-Tão previsível – disse pegando e estendendo a flor elegante de pétalas alvas para a menina.

-O que é isso?

- Não se faça de sonsa – disse Mal com escárnio – Uma tulipa.

-Você me entendeu, Mal. O que vem a ser isso?

-Pegue – disse de forma persuasiva – A flor não morde, Audrey.

A princesa estendeu a mão com medo e, por alguns longos segundos, as duas meninas seguraram o caule verde. Mal recolheu a mão e esperou que acontecesse o mesmo que acontecia com os demais que já tinham pose do convite: a flor assumiu um brilho sutil nas mãos de Audrey, como se a menina segurasse uma bolinha de luz, então não havia mais uma flor ali. Havia um envelope retangular de modelo “fronha”: não possuía abas e envolvia o convite deixando uma abertura em uma das laterais para que o(a) convidado(a) puxe o conteúdo pela horizontal ou diagonal.

-Abra – disse Mal, a voz aveludada, envolvente, paciente; admirando, bebendo a reação da garota ao mágico e elegante convite.

O envelope da menina era branco, o convite era prateado. O nome da menina estava escrito no topo do convite, as letras numa grafia caprichada e em alto relevo, o resto do convite estava em tinta preta e relevo comum.

“Prepare-se para uma experiência incrível e totalmente única em sua vida: Jay celebrará mais um ano de sua vida numa festa longe do tradicional e te convida para viver o inesquecível e o inimaginável por uma noite”

Havia, é claro, uma observação:

“Vá bem vestido!”

-E isso aqui? – perguntou ela mostrando uma pulseirinha branquinha presa junto ao convite.

-Esse é o seu passo-livre para entrar na festa. Senão souber colocar nós colocamos na entrada, é só mostrar o convite – disse calmamente; Mal se inclinou sobre sua cesta quase vazia e pegou outra tulipa branca; essa ela ofereceu ao mimadinho príncipe Chad.

-Jay está nos convidando? – perguntou ele observando a flor brilhar e se transformar num convite idêntico ao de Audrey, com o diferencial de mudar o nome; as cores eram as mesmas.

-Por que não convidaria? – disse com a voz suave, macia... Fingindo que não sabia de nada que aqueles dois aprontavam – Quanto mais gente melhor.

Ele não respondeu.

-E eu não ganho um convite, Mal?

 A voz de Benjamin parecia um carinho aos ouvidos da menina. Sem palavras, ela pegou a última flor da cesta. Uma tulipa negra.

Assim que Mal estendeu a mão, Ben aproveitou aquele momento para tocá-la: apenas a pontinhas dos seus dedos roçando delicadamente nos dedos dela, mas era um toque ainda assim. Ele estava carente da pele de Mal. Os olhares dos dois estavam fixos, brilhantes...

Ficou óbvio que os amantes perceberam aquele contato prolongado e que a flor do príncipe fera era diferente das deles.

No momento em que Mal soltou sua mão da dele, Ben sentiu seus dedos amornarem, a flor de tonalidade rara assumiu um brilho escuro, lindo e hipnótico... E se transformou numa caixa retangular de mesmo tamanho que a flor, uma caixa de material bastante firme, uma caixa negra.

-Mas... – Chad já resmungava, mas nem Mal, nem Ben o ouviam.

-É só abrir... – disse num tom baixo e muito sedutor; Ben lutou contra o arrepio que subiu por sua espinha.

Por dentro a caixa era de veludo dourado, delicadamente brilhante. Havia uma embalagem de vidro muito bem acomodada, cheio de um líquido preto que chamou a atenção do garoto; parecia perfume, mas ele não tinha certeza.  E ao julgar pelo brilho de alerta nos olhos de Mal, ele só deveria abrir aquilo depois. Ao lado, estava a pulseira, o passe-livre como dissera Mal. A pulseira negra como a flor, negra como a caixa.

O convite estava fixado na tampa da caixa. O papel era negro, as letras douradas... Os dizeres do convite eram os mesmos... Mas o príncipe rapidamente percebeu que havia algumas instruções/precauções no verso. Ben voltou a colocar o convite no local onde ele viera fixado, ansioso por ler aquilo com mais atenção, em maior privacidade.

-Por que o convite dele é diferente? – a pergunta num tom petulante veio na voz de Chad.

-Esqueci de explicar – disse a menina pegando seu diário de dentro da cesta; com um gesto de seus dedos, a cesta vazia desapareceu conforme a menina se sentava confortavelmente no sofá de frente para os outros, razoavelmente distante dos mesmos – Eram três modelos de convite, três flores diferentes.

-E então...?

-Digamos que as cores rosa e preta diferenciem o nosso pessoal Vip: rosa para as meninas, preto para os meninos – disse tranquilamente abrindo o diário, passando a pulseira, a esfera verde sobre o mesmo – Um padrão bem babaca, em minha opinião, mas não faz diferença. Chad acabou de manifestar o quanto sua mente é atrasada para que fosse diferente.

-Pessoal Vip, mas...

-Sim, Audrey. Pessoal Vip. Alguns aqui pagaram por privilégios, e infelizmente o tempo para pagar pela informação já se esvaiu.

-E quando foi que o meu namorado te pagou? – Ben ficou grato por ser Audrey a perguntar, porque ele mesmo não se lembrava do ocorrido além de um Carlos pedindo permissão para sair no fim de semana.

Mal olhou fixamente para o príncipe.

-Quarta-feira. Na semana passada. Lembra, Ben? – perguntou com a voz suave.

E como esquecer, ele se perguntava. Mal sentada no colo do rapaz, naquele mesmo lugar, os dois agarrados, o pijama dela puxado para baixo, deixando os seios livres, em evidência... A textura e o sabor da pele de Mal... Seus gemidos, ofegos, suspiros...

-Lembro – disse com a voz profunda, um tom quase sensual, percebido rapidamente pelas duas meninas.

 -Por que não me falou nada, Ben? – Audrey continuou evidentemente chateada.

-Era um privilégio bastante individual e incomunicável – informou Mal segurando o lápis – Jay quis assim – não era mentira; o amigo crescera num mundo extremamente individualista onde favores tinham preços altíssimos e muitas vezes não lucráveis; e ainda usava disso como forma de provocar os demais... Como agora.

-Mal, acabei meu lote – informou Jay se aproximando com um sorriso empolgado, Carlos estava ao seu lado segurando uma única tulipa rosa – O Carlos aqui vai atrás da esquecida – sorriu dando batidinhas no ombro do amigo – Vejo vocês no sábado, não é? – disse sorrindo para os amantes, um sorriso malicioso, de quem esconde segredos... Audrey e Chad não responderam e Jay saiu rindo.

-Quem se esqueceu de vir buscar o convite? – perguntou Mal curiosa; nenhum dos Vips esquecera aquela carta de alforria.

-Vou atrás dela... – disse simplesmente lançando um olhar significativo; Mal pensou compreender, mas não concluiu o pensamento:

-Senhor Charming – era a voz da diretora – Por favor, acompanhe-me.

-Por quê? – disse surpreso.

-Precisamos ter uma conversa séria com a psicóloga – ela tinha no rosto uma expressão gentil, porém desprezível aos olhos de Mal: pena e preocupação. Ridículo!

Sabia, é claro, que aquela intimação ao estepe de consultar a psicóloga era obra de Evie com os deveres de casa do coleguinha... Nada menos do que o merecido... 

Ela voltou sua atenção para o diário, na folha pautada onde estava uma listinha do que fazer. Ela riscou a entrega dos convites; estava feito. O celular vibrou em seu bolso.

-Zephyr – sorriu quando percebeu Ben ficando tenso; o principezinho começou a se afastar dando a entender que ia para seu quarto, mas Mal o deteve – Ben! – ele virou-se para ela em expectativa – Se tiver qualquer dúvida sobre a festa, me chame, ok?

Ele acenou positivamente e Mal voltou a ouvir o relatório do meio-cigano, sabendo dentro de si que o menino-fera estava ardendo de ciúme e ignorando propositalmente a princesinha encantada à sua frente.

Assim que Audrey também decidiu deixa-la só, Mal virou as páginas de seu diário até chegar na folha repleta de flores, aquela que ela começara na aula chata da diretora. Ela mesma não havia entendido o propósito do desenho quando vira os primeiros esboços, mas compreendeu depois: o rosto de Benjamin Florian estava ali, camuflado pelas flores, desenhado através das flores, como se o jardim florido o homenageasse...

-Ridículo... – Mal murmurou para o próprio desenho, mas não o arrancou.

 

Carlos a viu sentada sobre a mesa. Ela estava usando um vestido naquela tarde, um vestido azul claro, simples, com alguns botões no busto. Foi irrefreável se imaginar abrindo aqueles botões; Jane tinha uma bela “comissão de frente”, mas... Tinha a expressão triste, parecia chorar...

-Jane – chamou baixinho.

Estavam na biblioteca como de costume, num corredor bastante isolado por sinal, até porque todos estavam explorando seus convites e as provas haviam acabado...

-Carlos! – ela desceu de cima da mesa, enxugando o rosto apressadamente – Eu...

-Estava chorando – se aproximou – Foram aquelas patricinhas de novo? Sabia que eu tinha visto você saindo do salão dos alunos – rosnou mais para si mesmo.

-Não importa – disse baixinho.

-Isso é uma confirmação para mim.

-Não importa, Carlos – ela insistiu – Eu já devia estar acostumada a ouvir... – sua voz morreu – Não importa... – sussurrou tentando convencer a si mesma.

De Vil fingiu não se importar e se aproximou mais. Quando havia entre eles uma distância equivalente a 30 centímetros, ele estendeu a flor.

-Carlos...?

-Você se esqueceu de ir buscar o seu convite – disse de forma inexpressível; apesar de não encostarem os dedos, ambos sentiram o calor da pele do outro; Carlos se sentiu esquisito, meio enjoado – Eu vim trazer.

-Obrigada – o sussurro se perdeu quando o encanto se mostrou. A tulipa cor-de-rosa transformou-se numa bolinha de luz rosada e então numa caixa retangular do mesmo tamanho e cor que a flor – Carlos, isso é incrível...

-A magia é obra de Mal, não minha.

A menina ignorou o comentário abrindo a caixa. O interior forrado em veludo dourado era tão elegante quanto luxuoso; o convite estava fixado na tampa da caixa, o papel rosa, as letras douradas... Havia um lindo frasco com um líquido rosado, e a princípio, Jane pensou que fosse perfume, mas quando o retirou da caixa...

-Ah! – suspirou encantada observando do líquido se formarem borboletas que mudaram de cor até se tornarem do tom exato dos olhos de Jane, um azul lindo e brilhante – Carlos, isso é...

-Cada um dos convidados Vips recebeu um frasco assim, mas para cada um a reação é diferente – o menino explicou encantado com a expressão da menina – Mas todos podem ser usados como perfume.

-Quem usaria algo tão lindo assim? – murmurou encantada observando as mini borboletinhas voltarem a se tornar rosa e então descansarem em forma de líquido.

-Acho que para você elas funcionam como um globo de neve ou algo assim – disse Carlos.

-É maravilhoso! Obrigada por trazê-lo até mim – disse mostrando a caixa; guardou o frasquinho, olhou a pulseira e retirou o convite, lendo algumas das observações no verso, observações que ela já sabia...

-Te incomoda as observações?

-Não! Eu só... Não sei se consigo dar o que Jay pede de presente – murmurou.

Carlos foi rápido. Percebeu o que ela não dissera. Jane estava incomodada com fato de Jay pedir um beijo. Imaginou que ela nunca tivesse beijado alguém e que as expectativas dela de receber um lindo e magnífico primeiro beijo fossem altas. Apesar de o pensamento ser ridículo na mente do menino, Jane havia sido criada em Auradon.

-O problema é Jay? Você não quer...

-Não, o problema... – ela suspirou – Não sei se você me entenderia, Carlos. No fim das contas é só uma besteira de menina.

-Você sempre sonhou com esse momento, não é? É seu primeiro beijo, não? – Jane corou.

-É, seria o meu primeiro beijo.

-O primeiro normalmente é uma experiência mais esquisita do que boa – riu Carlos se sentando na bancada de frente para ela – até porque é só o primeiro. “A prática leva a perfeição” – ele recitou.

-Como foi o seu primeiro beijo?

-Ah... Era de noite – ele respondeu – Estávamos nós quatro no nosso esconderijo, os quatro fugindo dos pais. Naquela noite Mal e Jay confessaram que haviam se beijado uns dias antes; o primeiro beijo dos dois. Não lembro como, nem porque, estávamos bêbados, mas Mal acabou sendo o meu primeiro beijo e o Jay o primeiro da Evie.

-Vocês tinham quantos anos? – Jane sorria.

-11 anos – disse com firmeza.

-11 anos! – exclamou.

-Não foi tão cedo assim. Ah, mas o fim da noite foi incrível: os quatro vomitando numa ressaca das grandes – ele riu da expressão de Jane – É Jane, não foi nada bonito. Mas o beijo foi bom.

-É tão ruim assim querer um beijo especial?

-Não, não é – ele pensou se falava algo pessoal ou não, decidiu que sim – Meu primeiro beijo foi especial, Jane.

-Você acabou de...

-Dizer que a noite terminou em ressaca? É... O beijo foi bom porque foi um beijo da Mal. Um beijo da minha amiga. Eu sabia que ela iria fazer daquilo algo prazeroso, não tive medo nem expectativas. Procure beijar um amigo, não um amor. Dá menos trabalho.

-Eu não acho que eu tenha tanta intimidade assim com Jay – disse baixinho – Sequer nos cumprimentamos.

-Quer treinar?

-Ah?

-Comigo, Jane – esboçou um sorrisinho – Não sou nenhum príncipe encantado, mas acho que nós já somos amigos.

Jane ficou quieta.

Aquilo era... Aquilo era... Só podia ser brincadeira...

-Não brinca comigo, Carlos – pediu levantando-se e dando a entender que sairia da biblioteca com a cabeça baixa.

-Já não somos amigos, Jane? – ele insistiu segurando-a pela mão – Você é a única garota com quem eu consegui conversar até agora desde que saí da Ilha e sem contar aquelas duas – fez um gesto de descaso com as mãos.

-Somos, mas...

-Você não quer que eu seja o primeiro?

-Não, eu... – o rosto dela estava em chamas – Carlos... Eu não sou como a Mal, nem como a Evie ou... – ela falava compulsivamente, ele se aproximava sem ser notado pela garota. Jane estava tão insegura porque, por mais que desejasse um beijo, achava que sua aparência, que sua personalidade, não eram atrativos suficientes...

-Que bom... – sorriu de forma quase predatória, enlaçando a cintura da moça, puxando-a sutilmente para perto de si – Porque eu não quero beijar ninguém como elas – os olhos de Jane estavam brilhantes e ela estava mole nos braços de Carlos, suas mãos pousadas delicadamente sobre os mesmos.

-Carlos... – suspirou.

-É só relaxar, Jane... – sussurrou, seus lábios pertinho dos dela – Não precisa se comparar a ninguém... Você é única... – tocou o seu nariz ao dela, observando-a fechar os olhos com o carinho – Você é a minha amiga... Minha Jane...

Seus lábios se encaixaram sobre os dela, um pouco mais do que um selinho. Carlos moveu seus lábios sobre os dela devagar, conduzindo-a num beijo lento. Ele afastou sua boca delicadamente, apesar de no mesmo instante estar puxando Jane para mais perto de si. Era uma estratégia. Como o esperado, a menina entreabriu os lábios, suspirando com o afastamento... Carlos aproveitou-se disso para deslizar sua língua pela boca dela. Jane subiu suas mãos agarrando-se ao pescoço do rapaz.

Ela tinha um gosto docinho, parecia baunilha... Carlos segurava-a pela cintura, mas acariciava também aquele lindo rosto, sua mão desceu da bochecha para o pescoço e quase chegou ao colo...

-Demais por hoje? – perguntou sentindo-a se afastar alguns milímetros, ligeiramente tensa.

-É... – suspirou. Carlos voltou a beijá-la, ainda mais suave do que antes, apenas os lábios, para não assustá-la com sua tão incontrolável voracidade.

-Foi ruim? – perguntou abraçando a cintura da menina; as mãos de Jane desceram até estarem em seus braços, o toque leve e delicado como as borboletas que voavam cor-de-rosa no frasquinho de perfume.

-Não... – Jane tinha as bochechas rosadas, um sorrisinho discreto e olhos azuis muito brilhantes.

Um barulho nos corredores ao lado lembrou-os de que a biblioteca era aberta a todos os estudantes e professores. Carlos soltou-a e deu alguns passos para trás.

-Sei que o aniversário é do Jay... Mas eu quero repetir a dose no fim de semana; acha que rola?

-Só se for com um amigo – disse baixinho, afastando uma mecha de cabelo do rosto.

Carlos piscou e foi embora.

O coração da menina batia rápido. Rápido demais. Sim, Jane sempre sonhara com um beijo de amor, de um rapaz encantador como acontecia para todas as lindas mocinhas. E desde a chegada de Carlos, desde o contato que eles vinham tendo por culpa indireta de Mal, o menino dos sonhos, o príncipe encantado dos sonhos de Jane; aquele personagem sem rosto, sem personalidade, aos poucos, ganhara um rosto, ganhara cabelos e roupas modernas, personalidade bipolar... Desde que o olhar de Carlos encontrara o olhar de Jane, a menina sonhava com o momento no qual os dois acabariam trocando um beijo.

O sonho havia se realizado no lugar mais improvável possível, no lugar onde jamais pensou poder ter uma lembrança descente... Carlos havia beijado-a na biblioteca! Jane não conseguia apagar o sorriso do rosto.

Meu sonho ganhou vida!

Ela voltou a se sentar sobre o balcão, fechou a caixa que era aquele incrível convite e então reluzindo delicadamente voltou a ser uma elegante tulipa na mão da moça.


Notas Finais


Um Feliz Natal atrasado para todos vocês!


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